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UNIDADE TEMÁTICA 1

1. CONCEITO DE FILOSOFIA:

Origem etimológica da palavra FILOSOFIA


A palavra FILO-SOFIA (phylo-sophia = amizade pela sabedoria) vem da língua grega. PHYLO-SOPHOS
(filosofo) (=amigo da sabedoria ou aquele que busca a Sabedoria). SABEDORIA é a arte de saber viver
bem consigo mesmo e com os outros.
Foi o filósofo cientista grego, chamado PITÁGORAS que nos trouxe esta palavra. Foi o mesmo cientista
que, na geometria matemática, inventou o Teorema de Pitágoras, que diz que a hipotenusa ao quadrado é
igual ao cateto adjacente ao quadrado mais o cateto oposto ao quadrado. Assim (c 2=a2+ b2).

A Filosofia é um conhecimento, uma forma de saber que, como as outras formas de conhecimento, tem
uma esfera própria de competência. Ela procura adquirir informações válidas, precisas e ordenadas sobre as
coisas.
1.2. OBJECTO DE ESTUDO DA FILOSOFIA:

O Objecto de estudo de uma Ciência é aquilo que essa ciência estuda ou trata. Exemplo: o Objecto de
estudo da Matemática são os números; o Objecto de estudo da Biologia é a vida; o Objecto de estudo da
Física é a matéria ou os corpos.
a) O filósofo ARISTÓTELES: Segundo ele, o objecto de estudo da Filosofia são as coisas (a realidade) e
as suas causas soluto últimas;
b) O filósofo CÍCERO: afirmava que o objecto de estudo da Filosofia são as causas humanas e divinas das
coisas, isto é, as coisas provocadas por homens e por deuses;
c) O filósofo RENÉ DESCARTES: este dizia que a Filosofia estuda o bom raciocínio
d) O filósofo HEGEL: para ele, a Filosofia é o saber absoluto;
e) O filósofo WHITEHEAD: afirmava que o papel da filosofia é fornecer uma explicação orgânica do
Universo.
Para os vários filósofos, a Filosofia é definida como o estudo do valor do conhecimento; como a indagação
do fim último do Homem. Este estudo inclui o Ser, a História, a Arte, a Cultura, a Política, a Religião, etc.
A Filosofia estuda TUDO, porque:
- Todas as coisas podem ser examinadas ao nível filosófico e científico.
As outras ciências ocupam-se da COMPOSIÇÃO DA MATÉRIA (o Homem, os animais e as coisas).
A Filosofia ocupa-se da EXISTÊNCIA, DO VALOR DA VIDA, E DO CONHECIMENTO HUMANO, A
NATUREZA DO MAL, A ORIGEM E O VALOR DA LEI MORAL.
- A Filosofia estuda o TODO, A TOTALIDADE DA REALIDADE, o Universo tomado globalmente. Ela
estuda toda a realidade. REALIDADE é tudo o que é capaz de ser pensado, isto é, tudo aquilo que passa
pela mente humana.

1.3. MÉTODO DE ESTUDO DA FILOSOFIA

O método usado pela Filosofia é o método da JUSTIFICAÇÃO LÓGICA OU O MÉTODO DA RAZÃO


(método argumentativo ou especulativo).

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As outras ciências usam o método da Experimentação, que consiste na observação dos dados e na
verificação das hipóteses ou leis científicas.

1.4. OBJECTIVO DA FILOSOFIA

O objectivo da Filosofia é o conhecimento da Verdade. A Filosofia não tem em vista fins práticos e não
tem interesses externos como as outras ciências. A Filosofia procura a Verdade pela verdade.

1.5. UTILIDADE DA FILOSOFIA

Há uma questão que muita gente formula de imediato quando ouve falar de Filosofia: qual é a utilidade da
Filosofia?
Não há perspectiva alguma certamente de que a Filosofia para a produção da riqueza material. Mas isto não
implica que não haja sentido prático em filosofar.
A Filosofia tem o seu papel que consiste na busca da Verdade e na contemplação da Realidade.
A Filosofia influencia o âmbito político, ético, antropológico, religioso e cultural. Foi a Filosofia que
mudou muitos regimes políticos e inclusive governos.
O expressivo desenvolvimento da Ciência, com os seus subsequentes benefícios de ordem prática, muito
depende do background filosófico. O desenvolvimento das civilizações humanas como um todo, seria e é
paralelo às mudanças na ideia filosófica.
A própria perspectiva científica, em grande parte, foi introduzida pelos filósofos.
Alguns filósofos modernos dizem que a Filosofia permite a Capacidade de interpretar e de prever o
sentido da importância que anima todo o esforço civilizado.
Portanto, nenhum laboratório pode demonstrar em que sentido, os homens têm uma Alma, se o Universo
tem ou não um propósito (finalidade), se, em que sentido somos livres.
A Filosofia não resolve problemas, mas suscita problemas, tenta descobrir se ao menos podem ser
solucionados.
A Filosofia ajuda o Homem a criticar o rumo da ciência; ajuda na formulação de argumento correcto.
Ainda WHITEHEAD afirma que nenhuma sociedade democrática poderá alcançar êxito, sem que a
educação geral que a inspire, seja de natureza filosófica.
A Filosofia ajuda nos dois planos do Saber que são:
- SABER PENSAR (plano teórico)
- SABER AGIR (plano prático)
SABER PENSAR significa ordenar as ideias de forma coerente; questionar de forma inteligível; ordenar
um discurso argumentativo; tomar consciência da amplitude e complexidade do Real.
Significa também questionar-se sobre a inteligibilidade do seu próprio pensamento e sobre os princípios em
que se baseiam os seus próprios argumentos.
SABER AGIR significa saber aplicar bem o saber pensar.
Há muitas pessoas que sabem pensar bem, mas não sabem agir bem e aplicar bem o que pensam.
A Filosofia proporciona um procedimento crítico em relação ao próprio pensamento, ao pensamento dos
outros, ao s diferentes saberes, valores, opiniões, crenças e poderes.
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A Filosofia ajuda também ao cidadão a ser tolerante perante às opiniões e interesses alheios; ajuda o
Homem a trabalhar pela Paz, para o Bem comum; para a Justiça, para o respeito, para a Ordem pública e
salutar, para a liberdade e autonomia do Homem.
A Filosofia torna o Homem lúcido, livre e autónomo; faz com que ele se torne corajoso no pensar, no agir e
no ser.
A Filosofia é uma ATITUDE e não um conjunto de conhecimentos e teorias que alguém memoriza.
Ela é uma prática de pensar e agir; um aprender a pensar; e um aprender a agir.
A Filosofia é uma atitude de reflexão sobre o Real e uma busca de orientação de orientação para a vida
humana.

1.6. DISCIPLINAS OU RAMOS DA FILOSOFIA

Como uma Ciência, a Filosofia, além de outros ramos, possui os seguintes ramos:
1. A LÓGICA: estuda a exactidão do raciocínio humano
2. A EPISTEMOLOGIA: é a ciência que estuda o valor do conhecimento humano;
3. A METAFÍSICA: é a parte da Filosofia que se dedica ao estudo do fundamento último das coisas em
geral;
4. A COSMOLOGIA: é a ciência que estuda a constituição essencial da matéria e sua origem;
5. ÉTICA: é a parte da Filosofia que estuda a Lei moral, a Virtude, a Felicidade, o Bem e o Mal.
6. A PSICOLOGIA: é a ciência que estuda a natureza do Homem e das suas faculdades;
7. A TEODICEIA: é a parte da Filosofia que estuda a relação do Homem com Deus;
8. A POLÍTICA: estuda a origem e a estrutura do Estado;
9. A ANTROPOLOGIA: estuda as relações entre os homens dentro da sociedade e das suas culturas;
10.ESTÉTICA: estuda o problema do Belo e da natureza e função da Arte.
11.ONTOLOGIA: Estuda o Ser; por que razão existe o Ser em vez do Nada.
12.GNOSIOLOGIA: Estuda o conhecimento humano;
13.AXIOLOGIA: Estuda os valores morais e seus objectivos;
14.FILOSOFIA DA RELIGIAO: estuda o Sagrado e a natureza do sagrado;
15.FILOSOFIA SOCIAL E POLITICA: estuda a vida em sociedade;
16.ANTROPOLOGIA FILOSOFICA: estuda o Homem e a relação entre alma e corpo;
17.FILOSOFIA DA EXISTENCIA: estuda o sentido da existência humana; quem somos, de onde viemos?

1.7. UNIVERSALIDADE E PARTICULARIDADE DA FILOSOFIA

Objectivos deste Sumário:


a) Saber em que sentido a Filosofia é uma ciência dos Porquês;
b) Saber em que sentido a Filosofia é um saber universal;
c) Saber em que sentido a Filosofia é um saber particular
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Nas aulas passadas, vimos que a reflexão sobre a Realidade é a característica essencial da Filosofia.
Através da reflexão, a Filosofia procura responder às inquietações e às questões que a humanidade colocou
e sempre se coloca.
Por exemplo, a Filosofia não procura saber se o Homem é mortal ou COMO MORRE, mas sim, ela procura
saber POR QUE RAZÃO o Homem é mortal. Deste modo, a Filosofia é também entendida como a
CIÊNCIA DOS PORQUÊS, porque ela pretende explicar o porquê de todas as coisas, procurando os
fundamentos últimos (os motivos principais) das coisas; a origem e a explicação da vida humana e do
mundo humano.
A FILOSOFIA É UM SABER UNIVERSAL, porque:
- O seu objecto de estudo é o TODO,
- As suas questões são gerais (englobam a totalidade e dizem respeito a toda a humanidade);
- As suas questões não se relacionam com os aspectos individuais da Realidade;
- É um saber universal, porque todo o Homem pode filosofar e ser filósofo;
- É um Saber universal, porque engloba todas as filosofias particulares, de todos os tempos e lugares.
A FILOSOFIA É UM SABER PARTICULAR, PORQUE:
- É feita por respostas e teorias particulares (isto é, cada filósofo tem a sua Filosofia e teoria particular)
- Todas as várias teorias dos vários filósofos, ao longo da História da filosofia, são resultado de
circunstâncias particulares e das ideias contextualizadas de cada filósofo particular.
- Todas as teorias particulares, reunidas num só saber, formam um único SABER PARTICULAR, que é a
Filosofia.
Portanto, a história da Filosofia mostra que quase todos os filósofos estavam convencidos de que a sua
doutrina (ensinamento) exprimia, de maneira adequada, a essência invariável da Filosofia.
A Palavra ESSÊNCIA designa aquilo que distingue uma coisa da outra, um ser doutro. É por exemplo, o
que distingue João com Maria; um boi com um elefante ....
Resumindo: vimos, até agora que a Filosofia visa primeiramente o Conhecer, o saber.
O Conhecer ou o Saber de que a Filosofia trata é aquela espécie de saber que confere UNIDADE e
organização sistemática a todo o corpo do Saber científico; é aquele saber que resulta de um exame crítico
dos fundamentos ou bases de todas as convicções, de todos os nossos preconceitos e das crenças.
Portanto, a Filosofia é a Ciência mestra de todo o Saber e de todas as ciências.
Ela é como o que o caldo é para o caril. A Filosofia é o caldo com que se temperam as ciências.

1.8. O CARÁCTER PLURALISTA DA FILOSOFIA

O que é preciso saber neste Tema:


a) Em que consiste o carácter pluralista da Filosofia?
b) O que é a EXISTÊNCIA CONSCIENTE DE SI?
c) O que é a ATITUDE EXISTENCIAL?
O que dissemos quando tratávamos da Universalidade e particularidade da Filosofia leva-nos a afirmar
que a Filosofia, como um conhecimento sistemático (ordenado), ela é um conjunto de teorias estruturadas e
sistematizadas.
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A Filosofia é um sistema de pensamento que tem por finalidade ordenar os outros sistemas de
conhecimento.
As suas teorias estão situadas historicamente, estão divididas por áreas, temáticas (assuntos), autores
(pensadores) e em escolas de pensamentos ou correntes filosóficas.
É por causa desta toda pluralidade de áreas e saberes que dizemos que a Filosofia tem um Carácter
pluralista.
A Pluralidade de áreas e saberes deriva da multiplicidade de respostas e questionamentos acerca da
totalidade do mundo e da realidade humana (que é objecto da Filosofia).
A Filosofia, além de ser um saber sobre o mundo, ela é uma forma de estar no mundo; ela torna existência
humana mais consciente de si.
Deste modo, a EXISTÊNCIA CONSCIENTE DE SI é o tipo de existência que cabe ao propriamente dito. É
aquela existência, aquela maneira de ser que é consciente do próprio dever e Direito na sociedade. É
somente o Homem, o ser que possui a consciência do seu Dever e Direito na sociedade e no mundo.
Portanto, a EXISTÊNCIA CONSCIENTE DE SI é a existência do Homem e na sociedade.
De modo que, a ATITUDE EXISTENCIAL é a forma consciente de o Homem viver a sua vida no mundo e
na sociedade.
Assim, podemos afirmar que a Filosofia leva o Homem a uma nova forma de agir, reagir e comportar-se na
vida, face ao mundo que se lhe apresenta.
A Filosofia leva-nos a uma vida consciente da Razão, do por quê da nossa existência, ao mesmo tempo que
ela orienta o nosso agir, como René Descartes afirmou: (...) viver sem filosofar é, na verdade, ter os olhos
fechados …).
A Filosofia é mais necessária para orientar as nossas acções, nesta vida, do que o uso dos nossos olhos para
guiar os nossos passos.
Repetindo, o objectivo da Filosofia consiste em dar forma à estrutura da nossa Alma, em ensinar-nos um
rumo de vida, em orientar os nossos actos, em apontar-nos o que devemos pôr de lado e o que devemos
seguir.

1.9. A ATITUDE FILOSÓFICA E A DEMANDA DA VERDADE

Até agora vimos que a o método da filosofia consistia na Justificação lógico-racional. De modo que o
método da filosofia não é o método científico usado pelas ciências exactas que se baseia na
OBSERVAÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO de dados para a construção do conhecimento.
A forma de construção do conhecimento na filosofia baseia-se no pensamento. Faz-se através colocação
de questões, da argumentação e da produção de ideias, da refutação e da análise dos conceitos.
Portanto, apesar da pluralidade da filosofia de que já falamos atrás, há dois métodos comumente utilizados
na Filosofia, que abrangem os outros:
1. MÉTODO CRÍTICO-ANALÍTICO: é usado para o estudo das realidades sociais. Ele se apoia nos
factos. Faz a análise e a crítica desses factos.
2. MÉTODO LÓGICO-RACIONAL (especulativo): é usado para o estudo das realidades Meta-
empíricas (isto é realidades espirituais: DEUS, ALMA, ESPÍRITO, PENSAMENTO) ou ainda realidade de
ordem teórica, cuja análise requer o uso exclusivo da Razão, sem o recurso aos factos.

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REALIDADES META-EMPÍRICAS: são aquelas realidades que estão além da experiência dos cinco
sentidos (VISÃO, AUDIÇÃO, OLFATO, PALADAR, TACTO). Deus é uma realidade meta-empírica
porque está além do Empirismo ou Experiência.
O termo “DEMANDA” significa busca, procura daquilo que certamente constitui necessidade para o
Homem.
Ao longo da história da Filosofia, vários temas se colocaram e múltiplas respostas foram dadas:
1. NA IDADE ANTIGA: colocou-se o problema da origem da Natureza (physis) pelos FILÓSOFOS
NATURALISTAS OU FILÓSOFOS DA NATUREZA.
Na mesma época, os filósofos Sofistas (sophos=sábio) colocaram o problema do HOMEM
(antropocentrismo).
2. NA IDADE MÉDIA: os filósofos colocaram o problema sobre Deus (Theos=Deus): TEOLOGIA e
TEOCENTRISMO.
3. NA IDADE MODERNA: com o Renascimento, aparece de novo o problema o do HOMEM
(Antropocentrimo).
4. NA ÉPOCA ACTUAL (época contemporânea): com a crise das meta-narrativas (pensamento
generalista do mundo e do Homem) predomina a RAZOABILIDADE=jogar tudo na base da Razão, e o
estabelecimento de fundamentos suficientes e historicamente contextualizados.
O fim último da filosofia é a procura da Verdade contextualizada na História e no tempo.

1.10. A ATITUDE FILOSÓFICA

A Atitude filosófica não é uma atitude natural, porque qualquer indivíduo não começa a examinar
imediatamente uma realidade de forma crítica ou especulativa.
Deste modo, a ATITUDE FILOSÓFICA é despertar nossa curiosidade sobre o PORQUÊ das coisas e
questionar o que nos rodeia.
A ATITUDE FILOSÓFICA caracteriza-se por quatro aspectos, que são:
1. Espanto (admiração): o filósofo Aristóteles da Grécia antiga dizia que a Filosofia tem a sua origem no
Espanto, na Estranheza e perplexidade que os homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É
o Espanto que leva o Homem a formular perguntas e a buscar as respectivas soluções.
2. Dúvida: Descartes, filósofo da França, defendia que é necessário que o filósofo duvide de tudo aquilo
que é assumido como uma verdade adquirida. A reflexão filosófica começa exactamente a partir do exame
e crítica daquilo que se pensa ser verdadeiro.
3. Rigor (seriedade): o conhecimento humano em si funda-se na crítica e no rigor. A crítica filosófica, é,
por isso, feita com rigor. Significa que ela não admite ambiguidades, termos contraditórias, ideias confusas,
ou termos imprecisos.
4. Insatisfação: a Filosofia mostra-se como uma desilusão ou engano para aqueles que, através dela,
querem encontrar respostas fáceis para as suas inquietações. A filosofia preocupa-se em dar uma Receita
que torna a procura do saber, um modo de vida. A Filosofia impele o espírito humano a buscar mais o
saber, a não ficar satisfeito com as mínimas respostas ou conclusões.
O objectivo da ATITUDE FILOSÓFICA é levar o conhecimento do mundo e de nós mesmos, um pouco
mais longe.

1.11. A NATUREZA DAS QUESTÕES FILOSÓFICAS


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Para Marx Plank, o Homem, por maior que seja o progresso do seu conhecimento científico, é sempre uma
criança admirada e sempre pronta para novas surpresas.
Sócrates, Platão e Aristóteles (primeiros filósofos mais importantes da Grécia Antiga), a Filosofia nasce
da Admiração e do Espanto.
Para Descartes, a Filosofia nasce da Dúvida.
De modo que, para existir Filosofia, é necessária a persistência na busca de respostas. o que faz com que
uma Questão seja Filosófica? – para que uma questão seja filosófica, é necessária uma formulação
avaliadora de um princípio que exige justificação. Pois, as questões filosóficas não são simples questões
terminadas com ponto de interrogação.
KARL JASPERS diz que as questões filosóficas são mistérios.
DENIS DIDEROT dizia que a peculiaridade das questões filosóficas pode-se obter através da distinção do
conteúdo de dois termos: “COMO” e “POR QUE”.
Por exemplo: um físico investiga COMO se dá um fenómeno; um filósofo pergunta POR QUE RAZÃO se
dá tal fenómeno.
A filosofia é a única disciplina que pode responder a perguntas do género: - o que é a Verdade? O que é o
Homem e qual é o seu lugar no mundo?
Uma questão é chamada filosófica devido à FORMA como ela é abordada e desenvolvida: é a Atitude
filosófica que faz com que uma questão seja filosófica. Além do MODO como é colocada a questão
filosófica, é o CONTEÚDO que faz com que ela seja filosófica. A questão filosófica compreende quatro
aspetos fundamentais a saber:
1. A UNIVERSALIDADE: porque os problemas filosóficos dizem respeito a todos os homens. A filosofia
pergunta: o que é o Bem? Qual é o sentido da vida humana? São perguntas universais.
2. RADICALIDADE: porque a filosofia procura a origem dos problemas. O que carateriza as questões
filosóficas é o aprofundamento do problema e não a busca de soluções imediatas, ou sem aprofundamento.
3. AUTONOMIA (liberdade): porque a filosofia capacita o Homem a ter liberdade na busca da verdade e
dos seus fundamentos.
4. HISTORICIDADE (carácter histórico): porque cada época coloca questões própria às quais os filósofos
contemporâneos dessa época respondem.
Assim, JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980) dizia: eu penso que nenhuma sociedade pode passar sem
filósofos, porque a filosofia, numa época, é a compreensão do que o Homem é, nessa época.

1.12. DIFERENÇAS ENTRE A FILOSOFIA E AS OUTRAS CIÊNCIAS

A palavra “ciência”, que significa conhecimento, pode ser tomada em dois sentidos:
Sentido mais amplo: a Ciência é o conhecimento das causas;
Sentido menos amplo ou restrito: a Ciência é o conhecimento dos factos adquiridos através dos processos
da Observação, de experiência e da verificação, com a finalidade de estabelecer leis que regem esse
conhecimento.
A filosofia é uma ciência no sentido mais amplo da palavra. Mas ela distingue-se das outras ciências por
estas razões:
a) Pela sua profundidade de investigação:
- A ciência procura as causas mais próximas e imediatas da realidade,
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- A Filosofia procura as causas primeiras e finais das coisas.
b) Pela sua reflexão crítica:
- A ciência pressupõe reflexão e crítica;
- A filosofia põe em questão tudo o que se apresenta ao espírito, para examinar, criticar, avaliar, e descobrir
o seu significado, mesmo o significado da própria Ciência.
c) Pelo seu grau de generalidade e síntese:
- A Ciência limita-se à realidade dos factos; ocupa-se dos fenómenos.
- A Filosofia procura dar unidade total ao Saber; pretende penetrar a realidade global.
d) Pela sua humanidade e valorização: a Ciência ocupa-se em geral da realidade estranha ao Homem.
- A filosofia é essencialmente humana e axiológica (Axiologia é ciência dos valores humanos), isto é, ela
dá valor à ação e existência humanas.
A filosofia fornece às ciências os princípios em que elas se baseiam: ela legitima-as, critica-as e defende-as.
A Ciência oferece dados à Filosofia com os quais ela se eleva a explicações.
As investigações biológicas tornam possível o estudo da vida e sua natureza.
O estudo da fisiologia é necessário para compreender as relações do organismo com o espírito.
A descoberta da física permite melhor conhecimento do problema metafísico e da constituição dos corpos.

1.13. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA FILOSOFIA


1.13.1. Passagem do Mito para a reflexão filosófica

Desde sempre e naturalmente o Ser humano se preocupou em conhecer a razão das coisas. A perguntas
“absurdas” que as crianças colocam aos adultos, como: porque o Céu é azul? Por que é que o chefe é que
manda? De onde vêm os bebés? São prova desta realidade.
Antigamente, os homens ficavam satisfeitos pelas respostas dadas através dos Mitos.
A Palavra mito tem origem no grego, mythos, que para eles, os gregos, significava a própria narração
dirigida a um público que a recebia como verdadeira, pela confiança da qual era depositário o narrador.
O narrador era escolhido pelos deuses para receber e divulgar as verdades sagradas recebidas a respeito
das origens de todas as coisas e de todos os seres.
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das
plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos
instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A filosofia, ao nascer, é uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as
causas das transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos
mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a theogonia? Duas
foram as respostas dadas pelos estudiosos.
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do XX, quando reinava um grande o ptimismo
sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então, que a filosofia nasceu por
uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida
pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e dos
historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os

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mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-
se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a filosofia nasceu,
vagarosa e gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles.
Os Mitos são histórias sagradas que tentaram explicar a origem do mundo, a origem dos objectos e das
comunidades humanas.
A criação de tais mitos era atribuída aos seres sobrenaturais: os deuses.
Os mitos narram o que os deuses fizeram: narram histórias da origem do mundo, origem dos objectos e dos
seres particulares, acidentes (origem das pedras e dos animais, de uma Ilha ou vegetação, origem das
instituições sociais como a família, a chefia, a Educação, a Técnica o castigo e a Recompensa). Os deuses
intervêm nos acontecimentos naturais, sócio-culturais e pessoais do ser humano, estabelecendo o destino
humano segundo suas intenções, conveniências, e relações políticas.
A mitologia é um conhecimento válido, útil e funcional à uma comunidade ou um povo que vive sob seu
domínio. Sendo um sistema fechado não busca fora de seu próprio universo sua validade. É um
conhecimento dinâmico pois se transforma, ainda que lentamente, se adaptando às novas percepções do
mundo natural e cultural.
O mito surge como verdade num processo vivo de compreensão da realidade. Nesse processo, a adesão ao
mito se faz pela crença, enquanto na filosofia o critério racional rigoroso da lógica estabelece
verdades e falsidades segundo o método, submetido à apreciação pública da argumentação e
exigência de provas. A consciência mítica é a do grupo em que está imersa a consciência individual que
não percebe a si mesma plenamente. Sob o mito, toda acção do destino humano está sob a vontade dos
deuses. Sob o conhecimento racional da filosofia o homem se individualiza, trazendo para si mesmo a
responsabilidade de seus próprios actos. O mito encontra suas respostas na relação sentimental com o
mundo, a filosofia parte de um princípio e vai em busca das últimas consequências para conhecer a
integralidade do ser. O mito é inseparável da fantasia; a filosofia, da razão. A fantasia cria os seres
necessários ao sentido da existência, a filosofia busca as razões de existência dos seres conhecidos.
Nas palavras de Maria Lúcia de Arruda Aranha: A Filosofia “não vê apenas como é, mas como deveria
ser. Julga o valor da acção, sai em busca do significado dela. Filosofar é dar sentido à experiência”.

1.13.2. FUNÇÃO DOS MITOS

Os mitos tinham dupla função a saber:


1. FUNÇÃO EXPLICATIVA: os Mitos explicavam o porquê das coisas, acontecimentos ou instituições,
dizendo como é que eles foram criados e como são recriados por deuses.
2. FUNÇÃO NORMATIVA: os Mitos serviam de regra de vida para a acção dos homens, de modelo que
o indivíduo devia imitar. Neste sentido, os Mitos respondiam igualmente a perguntas como: que devemos
fazer? Que fins devemos procurar alcançar? O que é uma vida boa?
Os primeiros pensadores gregos conheciam os Mitos gregos, já escritos por Hesíodo e Homero (a este
personagem é confiada a participação activa na educação grega pois, transmitiam valores da cultura
grega através da narração da história e feitos de seus antepassados nos dois poemas citados), analisaram e
criticaram esses Mitos, tendo sido classificados como Fábulas (contos dos animais).
A filosofia surge do Mito e a ele se opõe, o Mito opera com a representação e a filosofia com o conceito. A
filosofia grega começa a brotar dentro da Mitologia grega, que é a Religião grega. O Cristianismo substitui
a religião pagã e a filosofia tornou-se uma auxiliar do processo de catequese, uma escolástica, um método
de argumentação
Os primeiros filósofos questionaram-se e procuraram, através da Razão, uma explicação racional sobre a
origem da Natureza (physis). Eles estavam convencidos de que “do NADA, nada pode vir”.

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Na filosofia o conceito NADA designa a ausência de existência ou a ausência do Ser, ou falta de
pensamento.
Os filósofos que trataram da origem da Natureza (physis) são chamados FILÓSOFOS NATURALISTAS,
ou filósofos da Natureza (physis).
Estes filósofos deram expressão filosófica ao problema da existência de uma CAUSA SUPREMA, que
estaria na origem do mundo e de todas as coisas.
Estes foram os filósofos da Jónia (Grécia antiga) = filósofos jónios.
São eles: TALES, ANAXIMANDRO e ANAXÍMENES (todos de Mileto, na Ásia Menor, entre os séculos
VII e V a.C). Mais tarde, apareceram outros: Empédocles, Parménides e Heráclito.

1.14. ETAPAS DA FILOSOFIA GREGA CLÁSSICA: períodos cosmológico e antropológico

Os filósofos naturalistas:
1. Tales de Mileto
É conhecido como o pai da filosofia grega e de toda a filosofia ocidental. Foi o primeiro a procurar a
solução racional para o problema da causa primeira de todas as coisas e do Cosmos (Universo).
Tales afirmava que apesar de haver uma pluralidade de coisas, deveria existir algo em comum. Essa coisa é
a água. Tales defendeu a ideia de que a Terra repousava sobre a água, e, por isso, tudo era feito de água.
2. Anaximandro de Mileto
Foi aluno de Tales. Formulou várias teorias sobre o Cosmos (Universo) e pensou também a unidade do
mundo físico. Afirmou que o princípio de todas as coisas, o elemento primordial, não pode ser um
elemento determinado, como a água, o fogo, o Ar, porque o que se pretende explicar é justamente a origem
destas coisas determinadas.
Por isso, a causa primeira de todas as coisas deve ser alguma coisa ou infinita, ou infinita, que o
ÁPEIRON, o infinito. O infinito é o primeiro princípio de todas as coisas existentes: é eterno, sem idade e
contém todos os mundos. Tudo vem dele e para ele retorna
3. Anaxímenes de Mileto
Foi aluno de Anaximandro e terceiro filósofo de Mileto. Ele indica como causa primordial de todas as
coisas, o Ar.
Segundo Anaxímenes, do Ar vêm todas as coisas, porque o Ar é essencial para o Homem e para todos os
seres vivos.
Do céu caem as chuvas (a água, o fogo, os raios, e para o Ar sobem os vapores). O Ar se presta melhor para
todas as variações que qualquer outro elemento. O Ar origina tudo, devido às suas mudanças: rarefação,
condensação…
4. Parménides de Eléia
Depois dos filósofos naturalistas, Parménides fundou uma área filosófica chamada ONTOLOGIA (ciência
do Ser), quando atribuía a criação do mundo ao Ser. O SER É A CAUSA incausada, e CAUSA DE
TODAS AS COISAS.
Parménides distinguiu o caminho da Verdade (alétheia) e o caminho da Opinião (Dóxa).
Parménides defende a ideia de que toda a mutação é ilusória. Ele demonstra a necessidade da existência do
SER, como garantia da unidade do mundo. Este ser é o UNO, eterno, não-gerado, e imutável.

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Portanto, o que muda no mundo são os seres gerados pelo SER.
Parménides afirma que O QUE É, é; e O QUE NÃO É, não é. O não-ser é impensável. O não-ser é pensado
em oposição ao SER, isto é, ele não está fora do SER.
5. Heráclito de Éfeso
Opõe-se à doutrina de Parménides, que dizia que nada se muda. Heráclito defende que tudo é mutável, tudo
sofre a mutação ou o Devir. Ele diz que a Essência de tudo é o Dinamismo ou seja o Movimento.
Em resumo, o Mito é um conjunto fechado de conhecimentos, capaz de explicar a realidade do meio. Tenta
explicar essa realidade pela própria realidade. Trabalha com o conceito, através dos sentidos.
A Filosofia é um Conhecimento objectivo, caracterizado pela razão;
Ela preocupa-se com a essência das coisas.
A essência é algo imutável, é o princípio.
Tales de Mileto - Tinha como essência a água.
Anaximandro - Tem como essência o "APEIRON" o ilimitado, indefinido e indeterminado, gerador de
todos os seres.
Anaxímenes - Tem como essência o AR ou Pneuma.
Pitágoras – para ele, a essência são os números.
Heráclito – diz que a Essência é o dinamismo, o Devir, a passagem.
Parménides – afirma que a Essência é o Ser estático.
Anaxágoras - Supõe dois seres como a Essência: um inato, outro ativo. "a mente que move o mundo".
Demócrito - Atomismo - átomo.

1.15. Da reflexão sobre a natureza ao estudo das questões humanas (da Cosmologia para
a Antropologia)

O esforço iniciado pelos filósofos naturalistas de Mileto no século VI a.C, retomado e desenvolvido por
Pitágoras, Parménides, Heráclito, Anaxágoras e Demócrito, este esforço sofreu uma viragem no século V.
Passou-se da perspetiva da explicação da Natureza (physis), para uma perspetiva da explicação do Homem
(Anthropos). Esta é uma orientação antropológica e antropocêntrica.
Os sofistas (sophos= sábios) estiveram na origem desta mudança.
O seu objetivo era de formar bons cidadãos e daí a sua preocupação em torno do Eu e do Homem. Eles
colocaram em segundo plano os problemas de ordem natural e não humana. Eles começam a pensar no
Homem (Anthropos) e nos seus valores morais.
Protágoras dizia que o Homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto são, e das que não
são, enquanto não são. Esta maneira de pensar conduz-nos ao Relativismo e ao Cepticismo.
O Relativismo, na Filosofia, defende que não existe verdade absoluta e universal, mas apenas uma
diversidade de opiniões.
O Cepticismo, na filosofia, diz que se existe alguma verdade absoluta, não é possível conhecer esta
verdade. Este pensamento é mais defendido por Górgias. Este pensador sofista diz que nada existe, e,
mesmo se existisse, não seria possível ser conhecido.

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Os filósofos sofistas davam maior valor à transmissão de um saber mais elevado e a formação do espírito
humano. Defendiam e ensinavam o uso da palavra como instrumento de persuasão e meio de convencer e
arrastar as pessoas.
Mas em oposição a este método de ensinar os princípios morais, que consistia em exibir a Sabedoria (o
saber), SÓCRATES dizia: só sei que nada sei, mas nisso supero todos os outros que nem isso sabem. O
lema de SÓCRATES era: conhece-te a ti mesmo.
SÓCRATES privilegiava o diálogo como via de indagação para despertar o conhecimento nos ignorantes;
ou para despertar a ignorância naqueles que se exibem como Sábios.
O método de despertar o conhecimento naquele que não sabe chama-se Maiêutica;
O método de despertar a ignorância naquele que se faz de Sábio, chama-se Ironia.
SÓCRATES educava a juventude de Atenas em ordem aos valores universais e eternos, desvalorizando e
desmascarando os valores temporais e relativos que os sofistas defendiam e ensinavam.
As divergências principais entre Sócrates e os sofistas são as seguintes:

 Os sofistas buscavam o sucesso do conhecimento e ensinavam como consegui-lo;

 Sócrates buscava só a Verdade e conduzia os seus alunos a descobri-la.

 Os sofistas diziam que para se ter sucesso, era preciso estudar.

 Sócrates dizia que para se chegar à Verdade, era necessário abandonar as riquezas, as honras, os
prazeres, e conhecer-se a si mesmo.

 Os sofistas se gabavam de saberem tudo e ensinarem a todos;

 Sócrates tem a convicção de que ninguém pode ser mestre dos outros. Sócrates não ensina a Verdade,
mas ensina aos jovens a descobrirem a Verdade em si mesmos.

 Os sofistas diziam que aprender é muito fácil.

 Sócrates dizia que aprender não é coisa tão fácil.

 Os sofistas afirmavam que o valor de qualquer conhecimento e de qualquer Lei moral é relativo,
subjetivo.

 Sócrates afirmava que existe conhecimento e leis de valor absoluto e objetivo e, portanto, universal.
Sócrates, tal como os sofistas, mantém-se mais no campo crítico que no ontológico.
O pensamento filosófico teve sua origem devido `a rejeição da explicação mítica do mundo, tendo-se
começado a pesquisar a sua origem pela via racional.
Os primeiros filósofos foram Tales, Anaximandro e Anaxímenes, todos eles sendo de Mileto.
O problema da pesquisa dos primeiros filósofos foi sobre a Origem e a unidade do mundo físico
(primeiro princípio).
PARMÉNIDES defendia a unidade; a necessidade da existência do Ser como garantia da unidade do
mundo.
Os sofistas foram os primeiros filósofos a tratarem das questões antropológicas (questões dos homens).
A contribuição de SÓCRATES foi importante na filosofia na área da Ética e da Moral.

1.16. A QUESTÃO DA VERDADE FILOSÓFICA

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Objectivos deste tema:
1. Saber o que é a verdade;
2. Conhecer os estados da mente perante a verdade;
3. Evidenciar os critérios da verdade
4. Distinguir as causas do Erro e seus remédios
A Verdade é a correspondência entre o conceito e a Realidade, que pode ser empírica ou meta-empírica
(espiritual). Dizer que algo é verdadeiro implica que há correspondência daquilo que é dito com a realidade
referida.
Estados da mente humana perante a Verdade: são quatro os estados da mente humana perante a
Verdade, que são: a IGNORÂNCIA, DÚVIDA, OPINIÃO e a CERTEZA.
1. A ignorância: é a ausência de todo o conhecimento relativamente a um enunciado. Para uma mente em
estado de Ignorância, a verdade de uma coisa é como se não existisse; não há juízo, não há nada que se
conheça.
A Ignorância pode ser: vencível ou invencível. É vencível, quando há possibilidade de fazê-la
desaparecer; é invencível, quando não [e possível fazer desaparecer esta ignorância; também pode ser
culpável ou inculpável, quando tivermos ou não o dever de dominar essa ignorância.
2. A Dúvida: é o estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação. Na dúvida, a mente humana não
adere ao Sim ou ao Não, porque os motivos para afirmar e negar se equilibram (esta é a dúvida positiva);
ou não tem razão alguma para negar ou para afirmar (esta é a Dúvida negativa, ou Ignorância).
A dúvida pode ser:
a) METÓDICA ou cartesiana (de René Descartes , filósofo francês): esta Dúvida consiste na suspensão
voluntária, fictícia ou real, na aceitação de uma verdade tida por certa, para verificar o seu valor.
b) CÉPTICA ou sistemática: consiste no estado definitivo da mente perante toda a verdade. Esta dúvida
provém do cepticismo, que é aquela maneira de pensar (ou corrente filosófica) que afirma que devemos
considerar as nossas verdades como sempre incertas ou duvidosas.
3. A Opinião: é a adesão receosa do espírito à afirmação ou negação de um enunciado. É o estado
intermediário entre a Dúvida e a Certeza, em que já é emitido um juízo, mas que é inseguro. O valor da
opinião depende do grau de probabilidade e dos motivos em que essa Opinião se baseia.
4. A Certeza: é a adesão firme e inabalável da mente humana a uma verdade conhecida, sem receio de
errar. A Certeza é a manifestação completa da verdade; é a conformidade do enunciado com a realidade.
São estes os quatro estados por onde passa a nossa mente para poder chegar à Verdade. Estes estados fazem
parte do processo de aprendizagem e do conhecimento. Não se chega ao conhecimento, sem passar pela
ignorância.

1.17. CRITÉRIOS DA VERDADE

Critério é o sinal através do qual distinguimos uma coisa da outra; é a norma pela qual distinguimos o
conhecimento verdadeiro do conhecimento falso; o sinal que nos permite reconhecer a Verdade duma
falsidade (critério da Verdade). De modo que o critério fundamental da verdade, na Teoria do
Conhecimento, é a evidência.
A evidência é a clareza com que a verdade se impõe ao nosso espírito. É a luz que ilumina a realidade e
nos permite ver que aquilo que temos na mente está conforme a esta mesma realidade, para depois,
concluirmos que ela é verdadeira. A Evidência ilumina a Verdade.

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Exemplos de Evidência:
a) Fideísmo: considera a fé como o único critério de verdade. O Fideísmo vale só para as verdades
religiosas.
b) O Senso comum: entende que são verdadeiros os conhecimentos comuns a todos os homens.
c) O Pragmatismo: sugere como critério de verdade a ação, a utilidade, o êxito, a verificação.

O ERRO: suas causas e seus remédios.


Em que consiste o erro? A Verdade consiste em dizer o que é. O Erro é a não conformidade da mente com
a realidade ou com a coisa. É a adesão firme àquilo que objectivamente é falso, mas que, subjectivamente,
parece verdadeiro.
O Erro não é Ignorância. A Ignorância consiste em nada saber e em nada afirmar. O Erro é não saber
afirmar ou negar, pensando que se sabe. A Ignorância é a limitação da Verdade. O Erro é a negação da
verdade. Quem erra não sabe, mas pensa que sabe.
As causas do Erro podem ser de duas naturezas: psicológicas e morais.
Causas psicológicas: falta de compenetração ou falta de atenção da nossa mente que interpreta mal os
dados dos sentidos; a paixão, que nos impede de raciocinar corretamente;
Causas morais: a vaidade, que resulta da demasiada confiança na nossa pessoa; o interesse, pelo qual
preferimos aquilo que nos é favorável e que se harmoniza com os nossos objetivos; a preguiça intelectual,
que não nos deixa questionar o valor dos nos nossos motivos. A preguiça intelectual nos leva a aceitar sem
reflexão algumas afirmações negações.
Remédios do Erro: todo o Erro é combatido nas suas causas, procedendo através da reflexão metódica das
coisas. Acautelando-se sobre os apetites das paixões e da imaginação, através da suspensão do juízo, por
meio da dúvida.

UNIDADE TEMÁTICA 2
2. A PESSOA HUMANA COMO SUJEITO MORAL
Objectivos deste sumário:
- Estabelecer a distinção entre Ética e moral;
- Definir e analisar o conceito de “Pessoa”;
- Analisar e compreender os conceitos de consciência moral.
Para o desenvolvimento do tema, começaremos por distinguir entre Ética e Moral; analisaremos o conceito
de Pessoa e outros elementos inerentes `a sua definição.
O objectivo do estudo da Pessoa humana ´e para nos compreendermos a nós próprios e aos outros e regular
nosso agir com bases éticas.

2.1. Diferenças entre Ética e Moral

Do grego Ethos, Ética diz respeito aos comportamentos habituais, aos costumes, àquilo que é habitual aos
seres humanos para fazerem, ou seja, aquilo que deve ou não ser feito.

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A ética e a Moral têm em comum o facto de as duas incidirem sobre o comportamento e a acção
humana.
A ÉTICA PROCURA REFLECTIR SOBRE OS VALORES SOBRE OS QUAIS AVALIAMOS E
SOBRE OS CRITÉRIOS QUE PRESIDEM A UMA TAL AVALIAÇÃO.
A ÉTICA PREOCUPA-SE EM INVESTIGAR AS CONDIÇÕES, A PARTIR DAS QUAIS SE PODE
FALAR OU NÃO, EM ACTO MORAL E EM MORALIDADE.
A ÉTICA TRATA DOS PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA MORAL
A moral tem uma dimensão mais prática.
A ÉTICA ELABORA-SE POR INTERMÉDIO DA REFLEXÃO E DA FORMULAÇÃO TEÓRICA DE
QUESTÕES E DE PRINCÍPIOS GERAIS QUE NORTEIAM A ACÇÃO HUMANA
A moral se encontra ligada à aplicação concreta de princípios morais e a situações concretas do dia-
a-dia.
A ÉTICA PREOCUPA-SE COM A FUNDAMENTAÇÃO RACIONAL DAS NORMAS E COM O AGIR
HUMANO.
- TEM UMA DIMENSÃO MAIS UNIVERSALISTA;
- TRATA SOBRE A HUMANIDADE DA PESSOA ENQUANTO TAL;
- TEM A VER COM O RESPEITO COM A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
A moral tem uma dimensão mais local;
- Está ligada à dimensão convencional e comunitária da vida dos homens.
Portanto, a Moral ocupa-se da avaliação das condutas humanas;
A Ética trata dos princípios que regulam a conduta moral.
A Ética ou filosofia Moral é a parte da Filosofia que se ocupa da reflexão a respeito dos fundamentos da
vida moral.

2.2. A PESSOA HUMANA E AS SUAS CARACTERÍSTICAS


2.2.1. Conceito de Pessoa

A palavra “Pessoa” deriva do grego “Prosopon” e do latim, Personare (que se significa fazer ressoar);
significa “máscara”, ou seja, tudo aquilo que determinado actor punha no seu rosto numa peça teatral.
De uma forma geral, a PESSOA HUMANA é homem nas suas relações com o mundo e consigo mesmo.
Boécio afirmava que a PESSOA HUMANA É UMA SUBSTÂNCIA INDIVIDUAL DE NATUREZA
RACIONAL (persona est rationalis naturae individua substantia)
São Tomas de Aquino considerou a pessoa como um subsistente de natureza racional;
Cícero define a pessoa como sujeito de direitos e deveres.
Estas duas definições sublinham três elementos fundamentais da Pessoa Humana, que são: a
Substancialidade, a Individualidade e a Racionalidade.
Deste modo, a Pessoa Humana é uma Substância, isto é, qualidade permanente e inerente à própria
existência.

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A Individualidade da Pessoa Humana reside no facto de a Pessoa Humana ser algo de distinto,
independente, uno (ou seja, indivisível) e irredutível (ou seja, ninguém pode ser outra coisa, fora daquilo
que ele ee; ninguém pode ser reduzido a uma coisa);
A Racionalidade da Pessoa humana refere-se à capacidade de raciocinar, de reflectir, de compreender,
analisar, interpretar e consciencializar o mundo à sua volta e o mundo intrínseco a si mesmo.
Para Emmanuel Kant, a Pessoa Humana é um fim em si mesmo e não um meio ao serviço dos outros. A
Pessoa Humana é um valor absoluto.
Os filósofos como Martin Buber, Emmanuel Levinas, Emmanuel Mounier, sublinharam, na definição da
Pessoa humana, a afectividade (o amor ao próximo), a relação de uns com os outros e a sua abertura ao
Ser Transcendente (Deus);
Gabriel Marcel, Martin Heidegger e Paul Ricoeur procuraram superar a definição generalista de Pessoa,
sublinhando a sua singularidade e complexidade, dizendo que a pessoa é constituída não apenas de espírito,
mas também de matéria; não só de pensamento, mas também de extensão; não só de Alma, mas também de
Corpo.

2.2.2. CARACTERÍSTICAS DA PESSOA HUMANA

A pessoa Humana é o sujeito e o critério de qualquer apreciação valorativa.


Quer dizer, tudo o que é definido como valor, tem que ser em função da Pessoa Humana.
Por isso, a pessoa é a base da reflexão ética, é o centro e fundamento da ética, o lugar onde os valores
éticos se revelam. Na noção de pessoa estão incluídas as mais dignificantes características do ser humano,
que fazem dele o ser supremo, o sujeito, a fonte e o critério de qualquer apreciação valorativa.
As características da Pessoa Humana são as seguintes:
a) Singularidade / Individualidade - cada ser humano é uma essência individual. O que faz de cada um
de nós um ser único, irrepetível e insubstituível, um “eu”.
b) Unidade - cada ser humano é um micro-cosmos, um centro de decisão, uma totalidade concreta, uma
unidade psicológica e moral.
c) Autonomia/Liberdade - centro de decisão e de acção, o ser humano tem em si o princípio e a causa do
seu agir, apesar de condicionado. Entre as suas manifestações mais elevadas encontra-se a
possibilidade de se auto-determinar.
d) Interioridade/ Subjetividade - em cada ser humano há um espaço de reserva e de intimidade que é
inacessível, inviolável - é a zona da consciência; consciência de si.
e) Abertura - singularidade, unidade e autonomia podem esgotar a noção de indivíduo mas não esgotam a
de pessoa. Só somos verdadeiramente pessoas na relação com os outros e com o mundo.
f) Projeto/Possibilidade - não se nasce pessoa. Ser pessoa não é coisa dada; é uma das possibilidades
humanas que cada um deve realizar.
g) Compromisso - a identidade da pessoa forma-se pelos compromissos que assume. Ao comprometer-se,
a pessoa age recusando a neutralidade, a indiferença
h) Crítica - a pessoa dispõe de uma dimensão crítica com que avalia os diversos aspectos da vida. Esta
capacidade crítica faz com que o homem seja capaz de dizer não ao que lhe parece negativo e se
empenhe na construção de um mundo diferente.
i) Dignidade - a pessoa é um valor incomensurável. Ocupa o lugar cimeiro no conjunto dos seres do
universo. Neste sentido, a pessoa é a mais elevada forma de existência e tem valor absoluto. A
dignidade da pessoa humana é o fundamento de toda vida ética.

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3.2. A CONSCIÊNCIA MORAL: etapas do seu desenvolvimento (Jean Piaget e Lawrence Kohlberg)
Consciência moral é a faculdade ou capacidade de alerta que nos permite perceber o mundo extrínseco
(mundo exterior) e intrínseco (mundo interior) a nós mesmos e fazer juízos de valor sobre eles.
A Consciência Moral é a capacidade que o Homem tem de distinguir o bem do Mal; o certo do errado; o
justo do injusto.
O termo consciência, em seu sentido moral, é uma habilidade, capacidade, intuição, ou julgamento do
intelecto (mente) que distingue o certo do errado. Juízos morais desse tipo podem reflectir valores ou
normas sociais (princípios e regras).
Cada homem leva em seu coração uma lei. Por isto, com a sua inteligência e vontade pode distinguir o bem
e o mal, o justo e o injusto, o permitido e o proibido.
Para ajudar a esta luz interior da consciência, que às vezes é escurecida pelo pecado e as paixões, Deus deu
os Dez Mandamentos, que servem para todos e para sempre, e são norma de felicidade e do bom
andamento de cada pessoa e da sociedade.
É necessário formar a consciência moral para que seja boa e segura.
O que é a consciência moral? A consciência moral é um juízo da razão pelo qual a pessoa humana
reconhece a qualidade moral de um acto concreto.
Como o homem sabe se um acto concreto é bom ou mau? O homem sabe que um acto concreto é bom ou
mau mediante sua consciência moral.
Pode-se dizer que a consciência moral é a voz interior que anuncia um dever ou uma obrigação ( não devo
roubar, nem devo desrespeitar os outros); é o sentimento que antecede ou acompanha e sucede as nossas
decisões e acções.
Ela manifesta-se como sentimento de satisfação e aplauso (quando se trata de uma acção praticada
conforme as normas morais), ou remorso, culpa, censura e vergonha (quando a acção pratica é reprovada).
A Consciência Moral é o juiz interior que condena ou aprova os nossos actos.
A consciência Moral é a capacidade que a pessoa tem para avaliar os princípios básicos dos seus actos.

2.3. Formação e desenvolvimento da consciência moral

Para os filósofos antigos, a consciência moral era uma coisa inata, que pertencia ao próprio Homem. Os
filósofos modernos afirmam que a consciência moral adquire-se pela socialização, pela aprendizagem (na
família, escola …).
Jean Piaget (1896-1980, psicólogo suíço) concluiu que a moralidade se desenvolve à medida que a
inteligência humana se vai desenvolvendo, seguindo três etapas:

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Primeira etapa (entre 2 aos 6 anos): infância: na criança, predomina a moralidade de obrigação e/ou
heteronomia: há uma atitude de respeito absoluto às normas e aos mais velhos. As normas são exteriores a
si mesma;
Segunda etapa (entre 7-11 anos): Adolescência: verifica-se no adolescente a moral de solidariedade entre
iguais. Não há respeito unilateral; desenvolve-se a noção de igualdade entre todos; as normas de conduta
humana são aplicadas de forma rigorosa pelos pais.
Terceira etapa (dos 12 anos em diante): no jovem e no adulto, predomina a moral de equidade ou
autonomia; aparece o altruísmo, o interesse pelo outro;
Lawrence Kohlberg, psicólogo americano, considera que a Consciência moral se forma num processo de
conhecimento que decorre de fases de aprendizagem social.
Kohlberg diz que existem três etapas ou níveis de desenvolvimento moral de acordo com a noção que cada
pessoa tem da Justiça. Para Kohlberg, cada pessoa está numa determinada etapa de Desenvolvimento moral
dependendo das respostas que dá aos dilemas morais.
Os níveis são estes:
a) Nível pré-convencional: consiste no respeito pelas normas sociais, motivado pelo receio do castigo, ou
pela recompensa;
b) Nível convencional: neste nível, as pessoas respeitam as normas sociais porque consideram importante
que cada um desempenhe seu papel, numa sociedade moralmente organizada.
c) Nível pós-convencional: caracteriza-se pelo facto de que as pessoas se preocupam com um juízo
autónomo e com o estabelecimento de princípios morais universais.
Jean Piaget defendeu que o desenvolvimento da consciência moral tem a ver com o desenvolvimento das
nossas capacidades cognitivas
Kohlberg dizia que a consciência moral desenvolve-se num processo de aprendizagem que atravessa três
estágios de desenvolvimento: pré-convencional, convencional e pós-convencional.

2.2. A ACÇÃO HUMANA E OS VALORES: actos voluntários e actos involuntários

Objetivos deste tema:


Distinguir a acção humana da acção do homem;
Conhecer os elementos de uma acção humana
Conceito de valor e sua tipologia
Características da acção humana (liberdade e Responsabilidade)

O Homem pratica dois tipos de actos: aqueles que são comuns a outros animais (actos instintivos) e aqueles
que só ele como homem realiza (actos racionais). Existem quatro grandes tipos de instintos, segundo
Konrad Lorenz: instinto de AGRESSÃO, NUTRIÇÃO, REPRODUÇÃO e FUGA.
No caso dos homens, ao invés do instinto, existe a REFLEXÃO.
Por isso, agir para o Homem implica pensar antes de executar as acções (analisar as situações, definir os
objectivos, escolher as respostas mais adequadas e ponderar as suas consequências).
Os homens são livres de agir ou não, de escolher um ou outro caminho. Os actos dos homens possuem uma
dimensão moral que se fundamenta na LIBERDADE E NA CONSCIÊNCIA DA ACÇÃO.

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Mas, mesmo assim, os homens praticam actos inumanos, actos que não se enquadram no âmbito na
consideração de actos humanos, mas actos puramente animalescos.

 ACÇÕES INVOLUNTÁRIAS (actos do homem): são acções que não implicam qualquer intenção da
parte do sujeito. São resultado do reflexo dos instintos; fazemo-los sem pensar ( actos resultantes das
paixões, auto-defesa, estímulos sensitivos, actos inconscientes e indesejados).

 ACÇÕES VOLUNTÁRIAS (actos humanos): são aquelas que implicam em uma decisão deliberada
(Liberdade, consciência ou vontade/recta intenção) do sujeito; são acções reflectidas, estudadas,
premeditadas, ou até projectadas a longo prazo, com vista a atingir certos objectivos. São actos
caracterizados pela intenção deliberada.

2.3. Elementos duma acção humana:

 AGENTE: é o sujeito da acção, capaz de se reconhecer como autor da acção e que age com consciência
e responsabilidade; que é capaz de optar e tomar decisões.
 MOTIVO: é o que leva o sujeito a agir ou a fazer algo; é o objectivo ou a finalidade que justifica a
acção.
 INTENÇÃO: a intenção diz respeito ao que o sujeito pretende fazer ou ser, mediante a sua acção. A
intenção é o desejo. A intenção consiste naquilo que o sujeito quer fazer ou ser.
 FIM: a finalidade duma acção difere do fim da acção. Por exemplo: a finalidade do estudo da Filosofia
é o conhecimento da Verdade. Mas o Fim da Filosofia é de formar filósofos. Portanto, o FIM da acção é
a posse daquilo que leva o Homem a agir. O FIM da acção é o objecto da acção.

FAZER E AGIR
Têm sentidos diferentes.
Fazer: aplica-se a todas as acções em que está em vista a produção de determinados efeitos. Exemplo:
Dois pedreiros fizeram duzentos blocos de cimentos, em um dia.
Agir: aplica-se a todas as outras intenções que realizamos livremente e em que somos capazes de
identificar facilmente os motivos pelos quais fazemos o que fazemos. Exemplo: Quando o patrão soube
que aqueles dois pedreiros só tinham feito duzentos blocos em um dia, insultou-lhes e os ofendeu. Eles
disseram: Patrão, está a agir mal connosco.
Fazer trata-se de uma actividade baseada em objectos e em conhecimentos técnicos;
Agir trata-se de acções em que nos sentimos directamente responsáveis pelas consequências dos nossos
actos e em que estamos implicados nas escolhas que fazemos.
Ambos casos são acções humanas, porque nos dois, existe uma liberdade, um agir pensado,
intencional, consciente e uma reflexão sobre o valor e o sentido da própria acção. O valor moral é
que é diferente. No AGIR humano, o valor moral é tanto maior porque está associado à Responsabilidade
e a intencionalidade. Exemplo: (fazer): numa Clínica abortista, uma parteira pode ser aconselhada a fazer
aborto, por motivos de serviço.
Na guerra, o soldado deve matar o inimigo, por motivos de serviço.
Em tudo isso, o valor da acção é diferente daqueles casos em que um sujeito se decide livremente a fazer
um acto idêntico.

2.4. ACÇÃO MORAL E VALORES MORAIS

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Valor moral é tudo aquilo que dá ao homem o motivo para agir. Valores morais são os critérios segundo
os quais, damos ou não importância às coisas; são as razões que justificam ou motivam as nossas acções,
tornando-as preferíveis às outras. Por isso, a acção humana está ligada aos valores explícita ou
implicitamente.

2.4.1. Tipologia de valores morais

Os valores morais não são coisas ou simples ideias que adquirimos. Eles são conceitos que traduzem as
nossas preferências. Os valores morais têm sempre referência à avaliação do sujeito. São importantes na
medida em que constituem os critérios e padrões que orientam a acção e lhe dão sentido.
2.4.2. Valores espirituais

Religiosos: dizem respeito à relação do Homem com a Transcendência (o sagrado ou o divino, pureza,
santidade, perfeição, castidade, humildade.)
Valores estéticos: são valores de expressão (beleza, harmonia, graciosidade, elegância, feio, sublime,
trágico);
Valores éticos: referem-se às normas ou critérios de conduta moral (lealdade, verdade, solidariedade,
honestidade, sinceridade, bem, bondade, altruísmo, amizade, liberdade). Afectam todas as áreas da nossa
actividade moral.
Valores políticos: dizem respeito ao Homem na sua qualidade de cidadão (Justiça, igualdade, liberdade,
cidadania, imparcialidade, direito, dever, dignidade, respeito).

2.4.3. Valores materiais ou sensíveis:

Valores do agradável e do prazer: exprimem as sensações do prazer e de satisfação (comida, bebida,


vestuário).
Valores vitais: referem-se ao estado físico (saúde, força, resistência física, vigor, robustez, êxito,
Felicidade, amor).
Valores económicos: referem-se à actividade económica (habitação, dinheiro, meios de comunicação,
meios de transporte, meios de produção, vestuário, alimentos).
Em todos os valores, existe:
BIPOLARIDADE DOS VALORES. Significa que eles se apresentam em pares opostos:
negativo/positivo; mau/bom, belo/feio; útil/inútil;
HIERARQUIA DOS VALORES: entre os valores, há uma superioridade e prioridade de uns sobre os
outros. Exemplo: a verdade vale mais do que a beleza.
HISTORICIDADE DOS VALORES: a selecção, a hierarquização, o conteúdo dos valores sofrem
condicionalismos do tempo, de sociedade em sociedade e de época para época.

2.5. OBJECTIVIDADE E SUBJECTIVIDADE DOS VALORES MORAIS

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Há duas maneiras de entender a natureza dos valores. Para uns, os valores têm duas vertentes: objectiva e
subjectiva. Para outros, os valores só têm natureza objectiva ou ainda para outros, os valores só são
subjectivos.
Os subjectivistas dizem que a concepção do que é valor passa de convenções que variam de sociedade
para sociedade, de indivíduo para indivíduo e de cultura para cultura. Defendem esta teoria os sofistas.
Jean-Paul Sartre, filósofo moderno, ao defender a liberdade, enuncia que cabe ao homem a invenção dos
seus próprios valores.

Os objectivistas defendem que os valores designam padrões de comportamento colectivamente


reconhecidos e adaptados por um grupo ou por uma comunidade mais ou menos vasta. Os valores são
considerados absolutos e inquestionáveis. O filósofo Sócrates, na antiguidade, contra os sofistas, foi o
primeiro a sustentar que os valores morais são objectivos Defendem também esta posição as religiões,
apoiadas na Bíblia, no Corão e em outros textos sagrados. Dizem que os valores não dependem das
sociedades e nem dos indivíduos, porque corresponde à vontade divina.
Platão dizia que o Belo, o Bem e o Justo são entidades ideais, imutáveis e incondicionadas.
A Declaração dos Direitos do Homem defende que a Liberdade, a Igualdade, a Paz, e a Solidariedade são
direitos e valores universais e absolutos. Outros são considerados mais relativos e menos obrigatórios.

3. A NOÇÃO DE LIBERDADE MORAL


3.1. Conceito de Liberdade moral

A palavra Liberdade tem uma origem latina (libertas) e significa independência. Etimologicamente, a
palavra responsabilidade também vem do latim (respondere) e significa ser capaz de comprometer-se.
A liberdade moral diz respeito a uma capacidade humana para escolher ou decidir racionalmente quais os
actos a praticar e praticá-los sem coacções externas
Liberdade, em filosofia, pode ser compreendida, tanto negativa, quanto positivamente. Sob a primeira
perspectiva, denota a ausência de submissão, servidão e de determinação; isto é, qualifica a independência
do ser humano. Na segunda, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional; elemento
qualificador e constituidor da condição dos comportamentos humanos voluntários.
O termo Liberdade designa a capacidade que todo o ser humano possui de agir de acordo com a sua
própria decisão: é a capacidade de autodeterminação.
Como condição do agir humano, a Liberdade pressupõe:
a) AUTONOMIA DO SUJEITO: para que uma acção humana seja livre, é necessário que o Homem seja a
causa dos seus actos, ou seja, que o Homem tenha uma conduta livre.
b) CONSCIÊNCIA DA ACÇÃO: este requisito implica que o sujeito não ignore a intenção, os motivos e
as circunstâncias, assim como as consequências da própria acção.
c) ESCOLHAS FUNDAMENTADAS EM VALORES: significa que a acção humana deve ser resultado
de uma preferência, uma escolha ou opção.

3.2. Formas e tipos de Liberdade

A Liberdade pode ser Interior ou Exterior.


a) A Liberdade interior inclui:

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- LIBERDADE PSICOLÓGICA: é a capacidade que o Homem tem de fazer ou não determinada coisa. É
a isenção de impulsos internos sobre a nossa vontade de agir de uma determinada forma; é a capacidade de
decidir por si mesmo.
- LIBERDADE MORAL: é a ausência de qualquer constrangimento de ordem moral. Por exemplo: medo
de punições, medo de infringir leis, ameaças. Exemplo: ser capaz de denunciar um crime, no bairro.
b) A Liberdade Exterior inclui:

- LIBERDADE SOCIOLÓGICA: é a autonomia da pessoa diante dos constrangimentos impostos pela


sociedade. Exemplo: decisão de um moçambicano ao casar com uma mulher norte-americana.
- LIBERDADE FÍSICA: é a ausência de qualquer constrangimento físico. Por exemplo: acesso de um
tipo de desporto aos portadores de deficiência física.
- LIBERDADE POLÍTICA: é a ausência de qualquer impedimento de natureza política. Por exemplo:
acesso ao voto para os cidadãos prisioneiros.

3.3. LIBERDADE MORAL E RESPONSABILIDADE MORAL

O Homem pode escolher agir de acordo com as normas impostas pelas regras morais exteriores, ou de
acordo com as normas internas e os valores interiorizados da sua consciência.
A RESPONSABILIDADE MORAL é a capacidade que faz com que a pessoa possa responder pelos seus
actos, reconhecendo-os como seus, assumindo as suas consequências perante si e perante os outros.
A responsabilidade moral é, por sua vez, uma capacidade, e ao mesmo tempo uma obrigação moral, de
assumirmos os nossos actos
A Liberdade e a Responsabilidade são duas características de uma acção moral.
Todo o acto moral responsável exige as seguintes condições:
a) Imputabilidade moral: diz que só é responsável por um determinado acto, aquele a quem esse mesmo
acto é imputado, aquele a quem sua autoria é atribuída.
b) Consciência moral: é o conhecimento das normas morais pela educação e aprendizagem, ou pela
socialização e contacto familiar. Quanto maior for esse conhecimento, maior é a responsabilidade
moral. Se a pessoa age por ignorância inculpável ou por inadvertência ao Bem e ao Mal, a sua
responsabilidade moral será atenuada ou suprimida. Exemplo: uma criança de cinco anos que parte
vidro de carro de alguém, não pode ser responsabilizada, intimada ou notificada, na Esquadra.
c) Intencionalidade: diz-se que o acto realizado é intencional, quando deriva de uma decisão consciente,
voluntária e livre da Pessoa, não sendo esta forçada a agir por de uma determinada forma, por normas
exteriores a si ou impostas.

Portanto, é responsável por uma acção moral quem comete esta acção livremente, conscientemente,
intencionalmente e sem obrigação.
Daí que a Liberdade moral determina a Responsabilidade moral.
Também um acto é imputável a alguma pessoa, quando esta o comete conscientemente, livremente,
intencionalmente e com conhecimento de causa e dos efeitos. Exemplo: um menor de idade não se lhe pode
imputar um crime de ter baleado alguém com pistola, porque não conhece a Lei, nem é capaz de responder
em Tribunal.
“… Actos propriamente morais são aqueles nos quais podemos atribuir ao agente uma responsabilidade
não só pelo que se propôs a fazer, mas também pelos resultados ou consequências da sua acção. Mas o
problema da responsabilidade moral está estreitamente relacionado, por sua vez com o de necessidade e

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liberdade humanas, pois somente admitindo que o agente tenha certa liberdade de opção e decisão é que
se poder responsabilizá-lo pelos seus actos”.

4. A JUSTIÇA E O DEVER MORAL

Objectivos desta lição:


1º Saber o que é Justiça;
2º Saber o que é Dever moral;
3º Saber a tipologia de Justiça.

4.1. Conceito de JUSTIÇA

Segundo Aristóteles, JUSTIÇA é uma virtude ou qualidade humana que consiste na vontade firme e
constante de dar a cada um o que lhe é devido. A Justiça implica a existência de uma pessoa que tem o
direito a uma coisa ou objecto, e outra pessoa que tem dever correlativo de o respeitar.
Carlos Dias Hernandez dividiu a noção de Justiça e três dimensões.

4.1.1. Dimensões da Justiça


a) Dimensão ético-pessoal: é a virtude pessoal do homem justo, que consiste na imparcialidade e na
capacidade de priorizar exigências morais diante dos interesses subjectivos. Exemplo: faz parte de
justiça ético-pessoal que o senhor Chagwatika pague a divida ao senhor Thimanimoto.
b) Dimensão ético-social: diz respeito à sociedade ou ao sistema político. Ela tem a ver com as relações
sociais institucionalizadas, ordenadas e coerentes. Refere-se aos deveres do Estado e da Política para
com os seus cidadãos. Exemplo: faz parte da justiça ético-social que o Governo moçambicano respeite
os direitos moçambicano, referentes a educação, saúde, segurança social e justiça social.
c) Dimensão jurídico-legal: é o sistema de leis que estabelecem de modo positivo o que é de cada um. A
Justiça é aplicada quando a Lei é cumprida. Exemplo: faz parte da justiça jurídico-legal que a lei seja
igual para todos.

4.2. O DEVER MORAL


4.2.1. Conceito de DEVER MORAL

O Dever moral é um princípio que está ligado à dimensão ético pessoal da pessoa. O Dever moral é aquilo
que define ou determina o fim da acção e a sua moralidade. É aquilo que leva a vontade humana a agir de
uma determinada maneira, como cumprimento e respeito pela Lei moral.
DEONTOLOGIA: é a ciência dos deveres dos profissionais, dos funcionários. As teorias deontológicas
dizem que as acções são morais, se são realizadas segundo os princípios racionais ou segundo o Dever.
Ao contrário, as teorias consequencialistas defendem que a moralidade ou NÃO MORALIDADE de uma
acção depende das suas consequências. Quer dizer, uma acção é moralmente BOA, SE traz boas
consequências.
O principal filósofo defensor do agir moral ou agir conforme a Deontologia, é Emmanuel Kant (1724-
1804).
Entretanto, é necessário distinguir entre ACÇÃO POR LEGALIDADE, e LEGALIDADE DA ACÇÃO
MORAL. Cumprir as normas morais por serem boas, por serem legais e por estarem de acordo com os
23
meus interesses, é AGIR POR LEGALIDADE; cumprir as leis e as normas morais por serem boas e por
causa do DEVER MORAL, é AGIR POR MORALIDADE.
Portanto, são acções morais, aquelas que são realizadas de acordo com a norma e por Dever moral.
Segundo Emmanuel Kant, o DEVER é IMPERATIVO CATEGÓRICO e NÃO IMPERATIVO
HIPOTÉTICO. Quer dizer, o Dever moral é uma obrigação que impera incondicionalmente. É Imperativo
obrigatório, porque vem da escolha da vontade, ou seja, a pessoa é livre de escolher as suas acções. Mas
nem sempre escolher uma acção por dever.
O enunciado do Imperativo categórico é: “AGE, TU, APENAS SEGUNDO UMA MÁXIMA QUE
POSSAS, AO MESMO TEMPO, QUERER QUE ESSA MÁXIMA SE TORNE LEI UNIVERSAL”.
Assim, para Kant, a acção moral é aquela que é praticada por Dever, que, em liberdade, a vontade escolheu
seguir.
A lei moral ou o dever não diz o que se deve fazer nesta ou naquela situação, mas indica ao ser humano
como se deverá comportar em todas as situações. Por isso, a Liberdade é a condição importante do Dever.
O Dever só se exige ao Homem e não animal ou a uma coisa. Os animais ou as coisas estão submetidos ao
Determinismo. Mas o Homem submete-se a um conjunto de regras ou leis que pode aceitar ou recusar. É
ao aceitar ou ao recusar que se manifesta a sua Liberdade.

6.2.2. TENDÊNCIAS DO DEVER MORAL


O Dever miral encontra a sua fundamentação em tendências que podem ser resumidas assim:
a) Tendência teísta: defende que o Verdadeiro fundamento do Dever é Deus, Criador e Legislador
Supremo da Natureza e do Homem. Só Deus, Ser Absoluto e autoridade Suprema é que pode explicar o
carácter absoluto, categórico e universal do Dever.
b) Tendência positivista: defende o Dever como algo resultado da expressão exercida pela sociedade
sobre os indivíduos. Os positivistas negam a transcendência do Dever, baseando-o na própria Razão
humana ou na sociedade.
c) Tendência racionalista: defende como fundamento do Dever, a própria Razão humana, autora de todas
as Leis. Afirma-se que é a Razão que cria o Dever.

5. A SANÇÃO E O MÉRITO

Sanção é o prémio ou o castigo infligidos pelo cumprimento ou violação de uma Lei. Por isso, quanto à
Lei, sancionar um Acto, é sublinhar o seu valor, reconhecendo-o como bom, (através de elogios ou
recompensa), ou tomando-o como mau (por meio de castigos ou censura). A Sanção não se limita ao
castigo.
O mérito de uma acção são as suas boas qualidades capazes de causar admiração. Assim, os MÉRITOS
MORAIS incluem virtudes como temperança, benevolência, misericórdia, Justiça, etc.
A virtude é uma disposição habitual que uma pessoa tem para cumprir o Dever. A virtude é uma força
moral para fazer o bem, e adquire-se pela prática de actos bons.
Para que um acto seja meritório, é necessário que seja bom, ou seja, conforme à Lei moral. Kant diz
que o mérito moral consiste no respeito pelo Dever de conduzir a acção segundo o imperativo
categórico.

6. A PESSOA HUMANA COMO UM SER DE RELAÇÕES

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Objetivos deste sumário:
A) Conhecer as três formas de relações da pessoa humana;
B) Saber como é que o Homem transforma a natureza.

Já se afirmou antes, nas aulas passadas, que a Pessoa humana é um ser de Relações com o mundo e consigo
mesmo. Na sua relação consigo própria, a Consciência é a base da Pessoa moral. A Consciência moral,
sempre ligada à Razão, é a capacidade que permite ao Ser humano conhecer-se a si próprio.
A pessoa humana é um ser nas suas relações com o mundo e consigo próprio. As relações que estabelece
são as seguintes: as relações com os outros (na família, nos grupos); as relações com o mundo que o
rodeia (Instituições humanas: o Estado, a Religião, as Instituições comerciais).

 A RELAÇÃO CONSIGO PRÓPRIO


Esta relação tem a ver com a questão moral do ser humano, na forma como a pessoa olha para si e se vê
enquanto pessoa. É a forma como a pessoa julga as suas ações e finalidades de vida. Nisso, a consciência
é a base do indivíduo moral. Ela tem a função de ordenar, avaliar e criticar todos os actos humanos; ela
faz com que as acções de cada ser humano sejam ações morais e que as suas decisões tenham sempre
base ética.
A consciência moral sempre está ligada à Razão, que é a capacidade que permite ao ser humano conhecer-
se a si próprio.
Pela sua capacidade racional e ética, a Pessoa humana, nas suas relações consigo mesma é chamada a
cultivar bons e nobres sentimentos (amor, solidariedade, justiça, amizade altruísmo), a respeitar-se como
homem ou mulher e a reconhecer a sua dignidade.

 A RELAÇÃO COM O OUTRO


Esta relação pode ser entendida em dois âmbitos diferentes:
Por um lado, o Outro pode ser entendido como um TU semelhante a MIM, pois, ele é um EU, mas não é
EU. O Outro é definido sempre em função do EU e o EU só se reconhece bem e encontra plena
complementaridade diante de um outro EU: eu sou eu na minha relação com o Outro. No Outro, eu me
reconheço e me projecto como uma Pessoa. O Outro é um Valor absoluto; merece ser aceite tal como ele é.
Por outro lado, o Outro pode ser visto sob contrato. Significa que a relação com o Outro é estabelecida
mediante um contrato que estabelece regras que unem um ao outro. Aí, cada um tem responsabilidade pelo
bem do Outro e pelo mútuo benefício. Ex: no contrato matrimonial.

 A RELAÇÃO COM O TRABALHO


Trabalho é uma actividade material ou espiritual, com vista a um resultado útil. Para que uma actividade
seja considerada como Trabalho, é necessário que seja:
- Uma acção transitória: tem que chegar a um resultado concreto;
- Uma acção que requeira Energia;
- Uma acção que implique esforço e perseverança.
Na sua relação com o trabalho, o Homem não é só chamado a transformar o mundo em mundo para si, mas
fundamentalmente a humanizá-lo, a tornar o mundo mais habitável, hospitaleiro e confortável. Pelo
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trabalho, o Homem dignifica-se; aperfeiçoa a natureza e a enriquece. O Homem deve trabalhar para ser
verdadeiramente Homem. Aquele que não trabalha e vive, pelo contrário, às custas do trabalho dos outros,
tem uma humanidade que não lhe pertence, quer dizer, que ele não não contribuiu para a conquistar e
enriquecer. Uma sociedade vale moralmente o que nela vale o trabalho como actividade propriamente
humana.

 A RELAÇÃO COM A NATUREZA


O habitat do Homem é a Natureza. A relação que o Homem mantem com a Natureza é fundamental na sua
origem, e é condição necessária para a sua sobrevivência.
Os filósofos Francis Bacon (1551-1626), Galileu Galilei (1564-1642) René Descartes (1596-1650) e Isaac
Newton (1642-1727) preconizaram um tecnicismo na relação do Homem com a natureza. Viram, no
conhecimento, um meio de dominar a natureza. Assim, com a Revolução Industrial, assistiu-se a uma
vontade de dominar e transformar o mundo, cujo lema era: o Homem transforma a Natureza.
O progresso técnico científico alterou radicalmente a relação do homem com o seu habitat. A poluição
industrial provocou a destruição da camada de ozono, rios foram transformados em esgotos; fenómenos
catastróficos a que assistimos hoje um pouco por todos os continentes (tempestades, terramotos, tsunamis,
secas, incêndios devastadores) são factos concretos que nos fazem repensar a forma como tratamos o nosso
planeta.
As questões ambientais, o respeito pela vida de todos os seres que habitam o planeta, bem como a
responsabilidade perante as gerações vindouras impõem-se de modo claro. Uma ética actual será, então
comprometida com estas questões.
Em Moatize, é visível a poluição do ar e da água, a degradação do nível da vida das populações, a
desresponsabilização das empresas e o silêncio cúmplice do governo.
O Governo não tem métodos de medir, de forma precisa, o efeito de exposição à poeira, proveniente das
detonações e outras actividades mineiras na Vila municipal de Moatize. Enquanto isso, milhares de famílias
são submetidas à inalação de ar impróprio que contamina até a água. As explosões da Mineradora da Vale,
já provocam por si poeiras escuras que acabam caindo nos imóveis, rios, solos, vegetação e nos pulmões,
com impactos fatais para as futuras gerações.

7. ASPECTOS DA BIOÉTICA
Objectivos deste sumário:
A) Saber o que é Bioética, sua função e os seus grandes temas;
B) Conhecer a avaliação moral dos problemas da Bioética

7.1. Conceitualização

David J. Roy define a Bioética como o estudo sistemático das dimensões morais das ciências da vida. A
Bioética é uma prática racionalizada e conjugada de um saber, uma experiência e uma competência
normativa no contexto do agir humano.
Surgimento da Bioética: (Bio=vida; ethos = Ética). Bioética é uma ciência da ética da vida.
Este termo foi introduzido pela primeira vez pelo biólogo e médico oncologista VAN RENSSLAER
POTTER, em 1971. A Bioética trata do estudo sistemático da conduta humana, enquanto esta
conduta é examinada à luz dos princípios morais e valores.

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A Bioética visa o respeito pela vida do ser humano; prescreve que nenhuma experiência científica pode ser
realizada em seres humanos sem o consentimento dos mesmos;
A Bioética, como ramo da Filosofia, tem como objecto de estudo o esclarecimento e a resolução das
questões éticas que advêm dos progressivos avanços e aplicações das tecnologias biomédicas. A Bioética
tem três funções que são:
FUNÇÃO DESCRITIVA: consiste em descrever e analisar os conflitos que surgem nas sociedades,
provocados pelos progressos da técnica e da ciência na área da Medicina;
FUNÇÃO NORMATIVA: estabelece normas em relação a estes conflitos; proíbe os comportamentos
reprováveis e promove comportamentos moralmente aceitáveis.
FUNÇÃO PROTECCIONISTA: consiste em proteger as pessoas envolvidas em conflitos de natureza
axiológica, dando prioridade às pessoas mais fracas.
Entre os temas mais debatidos da Bioética, figuram a EUTANÁSIA, A DISTANÁSIA, A CLONAGEM E
O ABORTO.

9.2. A EUTANÁSIA E A DISTANÁSIA


Etimologicamente, Eutanásia provém do grego “Eu = bem, boa, certo”; “thanatós = morte”. O termo
Eutanásia significa boa morte, isto é, morte apropriada e tranquila.
Como uma morte deliberada ou decidida, a Eutanásia visa aliviar o doente que se encontra no estado
terminal; tem por finalidade acabar com a Dor e a indignidade na doença crónica e no morrer,
eliminando o portador da dor.

7.2. A DISTANÁSIA

Ao contrário da Eutanásia, a DISTANÁSIA consiste no uso da tecnologia médica para prolongar a vida
do doente que se encontra em fase terminal. A EUTANÁSIA E A DISTANÁSIA têm em comum a
preocupação com a morte do doente. A Eutanásia aproxima a morte como amiga; a Distanásia prolonga a
vida, combatendo a morte como inimigo.

7.3. O ABORTO

É a interrupção da gravidez, quando o feto ainda não pode sobreviver fora da barriga da mãe. O Aborto
divide-se em três tipos:

 Aborto espontâneo: ocorre devido a causas naturais, sem a vontade das pessoas. Não se trata de crime.

 Aborto provocado: é motivado por causas económicas (falta de condições para sustentar e criar um
filho); ou por causa de condições socio-psíquicas (o desejo de não ser mãe solteira, por ter sido vítima de
violação sexual, e por ter tido uma fecundação não consentida). Este tipo de Aborto é Crime.

 Aborto terapêutico: é uma forma de salvar a vida da mãe, seriamente ameaçada. Dependendo das
causas e finalidades, este tipo de Aborto não é crime.


7.4. A CLONAGEM OU CLONAÇÃO

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É a produção de indivíduos geneticamente iguais. É um processo de reprodução assexuada que resulta
na obtenção de cópias geneticamente idênticas de um mesmo ser vivo – micro-organismo, vegetal ou
animal.
A reprodução assexuada é um método próprio dos organismos constituídos por uma única ou por um
escasso número de células, por via de regra absolutamente dependentes do meio onde vivem e muito
vulneráveis às suas modificações.
Clonagem, em biologia, é o processo de produção das populações de indivíduos geneticamente idênticos,
que ocorre na natureza quando organismos, tais como bactérias, insetos e plantas reproduzirem
assexuadamente. Clonagem em biotecnologia refere-se aos processos usados para criar cópias de
fragmentos de DNA (Clonagem molecular), células (Clonagem Celular), ou organismos. Mais
genericamente, o termo refere-se à produção de várias cópias de um produto, tais como os meios digitais ou
de software.
Clonagem Terapêutica é um procedimento cujos estágios iniciais são idênticos à clonagem para fins
reprodutivos mas que difere no fato da blástula (segundo estado de desenvolvimento do embrião) não ser
introduzida no útero: esta é utilizada em laboratório para a produção de células estaminais a fim de
produzir tecidos ou órgãos para transplante.
Esta técnica tem como objetivo produzir uma cópia saudável do tecido ou do órgão de uma pessoa doente
para transplante. As Células embrionária/células-tronco embrionárias são particularmente importantes
porque são multifuncionais, isto é, podem ser usadas em diferentes tipos de células. Podem ser utilizadas
no intuito de restaurar a função de um órgão ou tecido, transplantando novas células para substituir as
células perdidas pela doença, ou substituir células que não funcionam adequadamente devido a defeito
gene/genético (ex: neurônio/doenças neurológicas, diabetes, coração/problemas cardíacos, Acidente
vascular cerebral, lesões da coluna cervical e sangue/doenças sanguíneas etc…).

7.5. HIV/SIDA EM MOÇAMBIQUE

A situação do HIV/Sida em Moçambique vai de mal a pior, porque as projecções perturbam e incomodam.
A taxa de prevalência está a aumentar. Dados dramáticos registam-se. O vírus está a propagar-se, porque,
para replicar, explora uma das áreas mais complexas da vida humana: as relações sexuais. Estas são
moldadas por conhecimentos adquiridos, práticas e atitudes. A transmissão do HIV na Africa subsaariana
ocorre principalmente por contacto heterossexual com indivíduos infectados, sendo que a transmissão
vertical mãe/filho, através da placenta, e durante o parto, nas mães infectadas, representa a segunda causa
da transmissão.
É o momento de ampliar o debate sobre as politicas publicas baseadas em evidencias cientificas para
reversão da situação do HIV/Sida. Crianças e mulheres são o grupo populacional mais alvo. Os esforços
dos programas actuais para a prevenção do HIV/Sida enfatizam a mais que bem conhecida fórmula mágica
do ABC: Abstinence, Be faithful or use a Condom. Esta fórmula tem como foco primário, a mudança de
comportamento, baseada na crença de que pessoas informadas controlam a situação onde se encontram.
Há necessidade de enfrentar as verdades que perturbam e incomodam com medidas de prevenção ao nível
do comportamento, do tratamento por meio da maior disponibilização e utilização de medicamentos anti-
retrovirais e por meio da investigação científica.
Dado veiculados mostram que as fragilidades das diversas estratégias de prevenção do HIV/Sida, apesar de
muita coisa ser aprendida em relação a como controlar melhor a propagação desta doença, dando uma base
segura e crescente de conhecimento, não é aproveitada ao nível nacional. Isto compromete as metas de
prevenção estabelecidas pelos Governos na Declaração do Compromisso sobre o HIV/Sida da sessão
especial das Nações Unidas, em 2001. É preciso referir que o sucesso na reversão do cenário actual
requer uma série sustentada, especifica e concreta orientada para as necessidades de prevenção do
HIV/Sida, nos principais grupos afectados da população moçambicana.

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UNIDADE TEMÁTICA 3
TEORIA DO CONHECIMENTO HUMANO
Objectivos deste tema:
1. Saber o que é Conhecimento;
2. Saber a origem do Conhecimento;
3. Saber o Valor do conhecimento
A teoria do conhecimento ou Gnosiologia é parte ou Disciplina da Filosofia, que tem precisamente por
objecto o estudo do problema da possibilidade e impossibilidade do conhecimento, da origem do
Conhecimento, da natureza ou essência do Conhecimento, do valor e limites do Conhecimento humano, o
problema dos níveis do Conhecimento e, ainda, do problema da verdade.
A teoria do conhecimento ou gnosiologia, como disciplina própria, só apareceu na Idade Moderna, a partir
do filósofo John Locke, que, no seu livro "Ensaio sobre o entendimento humano", tratou directamente da
origem, natureza e valor do conhecimento humano.
Aqui faremos a análise da actividade cognitiva em duas áreas: a das teorias científicas e a da perspectiva
filosófica; analisaremos o problema da origem do conhecimento, através destas correntes filosóficas:
Empirismo, Racionalismo, Apriorismo e Construtivismo.
CONHECIMENTO, em latim Cognocere = conhecer; é saber algo. É a apreensão pela mente de alguma
Realidade ou objectivo.
O verbo conhecer é aplicado em dois sentidos diferentes: em sentido mais amplo: significa reconhecer e
organizar informações sobre o meio envolvente, tendo em vista a constante adaptação do organismo ao
meio e à sua sobrevivência. Em sentido menos amplo: conhecer é apenas aplicado aos seres humanos.
Significa a construção de representações mentais que o sujeito organiza ao longo da vida, na sua relação
com a realidade, quer interior, quer exterior.

3.1. CONCEITO E REALIDADE

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Conhecer é construir representações mentais acerca da realidade.
CONCEITO é o termo que designa aquilo que se constrói mentalmente, quando dizemos que sabemos ou
conhecemos algo; o Conceito refere-se à ideia sobre alguma coisa; é a forma abstracta de alguma
realidade. O CONCEITO É A IMAGEM QUE O NOSSO ENTENDIMENTO RETÉM DE UM
OBJECTO CONHECIDO.
A REALIDADE é o elemento apreendido, cuja imagem, na nossa mente, se chama CONCEITO. A
realidade é o que há; tudo aquilo que pode ser conhecido e representado por nós. São os objectos ou coisas;
tudo aquilo que pode ser pensado por nós.
3.2. ELEMENTOS OU AGENTES DO CONHECIMENTO

No acto do conhecimento, estão envolvidos três elementos fundamentais: o sujeito que conhece (sujeito
cognoscente), o objecto conhecido e a relação sujeito - objeto. Este objecto pode ser exterior ao sujeito. O
conhecimento é resultado da correlação destes três elementos. O objecto é tudo aquilo que pode ser
percebido pelo sujeito cognoscente.

3.3. FACULDADES DO CONHECIMENTO HUMANO

A Mente é a faculdade humana que permite o Conhecimento. É através da Mente que o ser humano
percebe a Realidade exterior e interior e a explica racionalmente.
Os cinco sentidos (visão, olfato, paladar, audição e tacto) permitem ao ser humano experimentar o mundo,
retirar informações acerca do que o rodeia, através da vista, olfato, paladar, audição e tacto. Este trabalho
de selecção, organização e enquadramento das nossas sensações chamamos percepção do mundo ou da
Realidade. As sensações não são uma cópia passiva e exacta daquilo que elas captam.
As sensações e a Percepção são construídas pelo próprio ser humano, na mente.

3.4. PERSPECTIVAS CIENTÍFICAS DA ANÁLISE DO CONHECIMENTO

São três as teorias da perspectiva científica da análise do Conhecimento humano:


a) Teoria Filogenética
b) Teoria Ontogenética
c) Teoria Fenomenológica do conhecimento

 Teoria filogenética (filo-génese, do Grego, significa origem da tribo). A teoria filogenética é o estudo
da evolução de uma dada espécie. Segundo a Paleontologia humana, o ser humano sofreu transformações
significativas, desde a sua origem, até aos dias de hoje, e a sua capacidade cognitiva foi evoluindo.
O desenvolvimento cognitivo deu-se graças à correlação do desenvolvimento das faculdades cognitivas do
Homem com as suas capacidades técnicas. A acção técnica (o trabalho) provoca conhecimento e o
conhecimento provoca a possibilidade de novas e melhores acções. Esta perspectiva analisa a evolução dos
processos cognitivos, na Espécie humana em geral.
 Perspectiva ontogenética (do Grego, Ontos = Ser; Génesis = origem). A teoria ontogenética estuda a
evolução do conhecimento humano na perspectiva individual, partindo da análise das estruturas cognitivas
do ser humano, desde o nascimento até ao seu pleno e completo desenvolvimento. Esta perspectiva aborda

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sobre o modo como evoluem as capacidades cognitivas em um individuo, enquanto ser humano, em relação
ao meio ambiente em que está inserido.
De modo que, na origem do desenvolvimento das capacidades cognitivas da criança, há um relacionamento
necessário entre o indivíduo (a própria criança) e o meio ambiente.
O psicólogo Jean Piaget (1896-1980) defende que a pessoa humana passa por várias etapas de
desenvolvimento ao longo da sua vida.
Piaget demonstrou que a inteligência é anterior ao pensamento e que o pensamento se desenvolve em
etapas que são resultado de uma adaptação gradual ao meio ambiente físico e social.
Assim, segundo este psicólogo e filósofo, a Assimilação e a Acomodação são dois processos que
concorrem na formação das capacidades cognitivas de uma Criança e estão presentes em todos os estágios
de desenvolvimento.
A Assimilação é o processo mental através do qual a Criança incorpora, nela, novos dados resultados da
relação com o meio ambiente;
A Acomodação é o processo mental pelo qual os mecanismos mentais da Criança são alterados por causa
das novas experiências provenientes da Assimilação da Criança ao meio ambiente.

Estágios de Desenvolvimento cognitivo segundo Jean Piaget

Estágios Descrição
Estágio sensório-motor A criança, através de uma interacção física com o seu meio,
(dos 0 aos 2 anos) Constrói um conjunto de esquemas de acção que lhe permitem
compreender a realidade e a forma como funciona
Estágio pré-operatório A criança é competente ao nível de pensamento representativo,
(dos 2 aos 7 anos) mas não realiza ainda operações mentais ordeiras.
Estágio das operações concretas A criança começa a acumular experiências físicas
(dos 7 aos 12 anos) e concretas e cria conceitos e estruturas de pensamento
Estágio das operações formais A criança atinge o raciocínio abstracto e conceptual e
(dos 12 aos 16 anos) pensa cientificamente.

3.5. A Perspectiva da sociologia do conhecimento

A sociologia é uma ciência que estuda o modo de relacionamento dos indivíduos na sociedade.
O filósofo Karl Marx (1818-1883) defendeu que as ideias e o conhecimento dependem das circunstâncias
histórico-sociais do sujeito. Para Karl Marx, o conhecimento humano é condicionado pelo meio social que
molda o sujeito cognoscente. Quer dizer, a sociedade é que faz com que nós possamos saber o que sabemos
e que possamos ser o que somos. É a sociedade que nos permite conhecer as coisas.
Karl Mannheim (1893-1947) dizia que o pensamento de uma pessoa é condicionado pelo pensamento dos
outros seres humanos. Quer dizer, ninguém pensa isolado dos outros. São os outros seres humanos que nos
oferecem categorias para podermos pensar individualmente.
 Teoria Fenomenológica do Conhecimento
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Já dissemos que são três os elementos que intervêm no acto do conhecimento: o sujeito cognoscente, o
objecto conhecido e a relação sujeito-objecto.
No processo do Conhecimento, algumas correntes filosóficas atribuem maior primazia ao objecto
(REALISMO do conhecimento); outras correntes atribuem maior valor ao Sujeito (IDEALISMO do
conhecimento); outras correntes atribuem valor ao nível equilibrado entre os dois (FENOMENOLOGIA,
isto é, acentua-se a relação sujeito-objecto).
A Fenomenologia do Conhecimento diz que só existem fenómenos puros, isto é, não interessa a área de
conhecimento e como se conhece. Para a Fenomenologia do Conhecimento, existe alguém que conhece
(que é o SUJEITO COGNOSCENTE), e algo que pode ser conhecido (que é o OBJECTO CONHECIDO).
O conhecimento é esta relação de captação do OBJECTO pelo SUJEITO.
A fenomenologia do conhecimento diz que o conhecimento é acto pelo qual o SUJEITO apreende e
representa o OBJECTO na sua mente.
1. Em todo conhecimento, um cognoscente e um “conhecido”, um sujeito e um objecto, encontram-se
frente a frente. A relação que existe entre os dois é o próprio conhecimento;
2. O sujeito não é sujeito, senão em relação a um objecto e o objecto não é objecto senão em relação a um
sujeito; cada um é o que é em relação ao outro. A sua Relação é um Correlação.
3. A relação constitutiva do pensamento é dupla, mas não é reversível. No interior da Correlação,
SUJEITO e OBJECTO não são permutáveis. A sua função é essencialmente diferente.
4. O sujeito tem a função de captar e apreender as determinações do OBJECTO. Introduz e faz entrar essas
determinações na sua própria esfera.
5. O OBJECTO, mesmo quando é apreendido pelo SUJEITO, permanece, para o Sujeito, algo de exterior.
O Sujeito não pode captar o Objecto sem sair de Si.
Assim, o conhecimento realiza-se em três tempos: o sujeito sai de si; está fora de si; regressa a si.

3.6. PROBLEMAS E CORRENTES FILOSÓFICAS DA TEORIA DO CONHECIMENTO

3.6.1. O Problema da Possibilidade e Impossibilidade do Conhecimento humano

OBJECTIVOS DESTE SUMÁRIO


1) Saber o que é Dogmatismo e espécies de Dogmatismo;
2) Conhecer o Cepticismo e seus argumentos ou fundamentos.
3) Saber o Criticismo de Emmanuel Kant
Neste Problema, as questões fundamentais que aqui se colocam são:
Pode ou não pode o sujeito apreender o objecto? (Problema da Possibilidade e Impossibilidade do
Conhecimento). Na Possibilidade e Impossibilidade do conhecimento questiona-se: É possível conhecer
a verdade e possuir a certeza? Ou, ao contrário não podemos passar a dúvida? Pode o sujeito ou não pode
atingir a verdade, a essência das coisas, ou só conhece as várias aparências do Objecto?
As Correntes filosóficas que respondem a estas questões são: o Dogmatismo, o Cepticismo e o
Criticismo.

A) DOGMATISMO: a certeza da verdade


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A palavra Dogma significa uma verdade indiscutível, muitas vezes, defendida pelas religiões. O
Dogmatismo admite a possibilidade de a mente humana conhecer com plena certeza as coisas.
Dogmatismo é a atitude daquele que acredita que Homem tem meios para atingir a Verdade absoluta. O
Dogmatismo não admite a possibilidade de que o conhecimento possa ser posto em causa. O Dogmatismo
não se confronta com a Dúvida. É uma verdade que não se pode discutir. Ele defende a existência do
Objecto de conhecimento em si, como algo real e inquestionável. Dentro do dogmatismo, podemos
distinguir duas variantes básicas:

Espécies de Dogmatismo
 Dogmatismo ingênuo ou espontâneo - confia plenamente nas possibilidades do nosso conhecimento.
Não vê problemas na relação sujeito conhecedor e objecto conhecido. Crê que, sem grandes dificuldades,
percebemos o mundo tal qual ele é; é a atitude daquele que afirma que o ser humano tem meios para atingir
a Verdade absoluta. É uma crença que não admite reflexão ou crítica.
 Dogmatismo crítico ou moderado – surge com Sócrates, quando os sofistas assumiram uma posição
céptica acerca do valor do conhecimento; defende a nossa capacidade de conhecer a verdade mediante um
esforço conjugado de nossos sentidos e de nossa inteligência. Confia que, através de um trabalho metódico,
racional e científico, o ser humano se torna capaz de conhecer a realidade do mundo. O Dogmatismo crítico
coloca o conhecimento intelectual acima do conhecimento sensível. O conhecimento intelectual ou racional
dá-nos a essência ou a natureza íntima da realidade. Esta essência é imutável, por isso, o seu conhecimento
é absoluto. O Dogmatismo espontâneo admite o conhecimento absoluto das coisas; mas o Dogmatismo
crítico admite a possibilidade de conhecimentos certos das coisas.
René Descartes (1596-1650), filósofo da época moderna, requeria o uso do método da Dúvida para se
chegar ao conhecimento seguro (a Dúvida metódica). Para Descartes, o conhecimento seria evidente e
seguro após uma análise anterior que colocasse tudo em dúvida.
Descartes dizia que a certeza e verdade de toda ciência dependem unicamente do conhecimento do Deus
verdadeiro, a tal ponto que, sem primeiro conhecer Deus, não podemos conhecer nada de modo perfeito.

B) O CEPTICISMO

A palavra “cepticismo” deriva do grego Skêpsis, que significa indagação. A indagação céptica não
reconhece as condições e os princípios que a tornam possível.
O CEPTICISMO é uma corrente filosófica que defende que a mente humana é incapaz de atingir o
conhecimento ou a Verdade com certeza absoluta.
O cepticismo começou com os filósofos sofistas (século V a.C), que concluíram de forma pessimista que a
Verdade absoluta era inacessível.
A isto, o filósofo Pirron, grande expoente do Cepticismo (século IV-III), dizia categoricamente que não
devemos confiar nos nossos cinco sentidos e na nossa Razão, mas devemos duvidar de tudo e de nada, e
duvidar da própria dúvida.
Fundamentos do Cepticismo
a) Erros dos cinco sentidos: os cépticos dizem que os nossos cinco sentidos estão sempre sujeitos a
ilusões e alucinações. Os cinco sentidos são fonte de erros. São testemunhas falíveis da verdade.
b) Relatividade do conhecimento sensorial: as percepções dos cinco sentidos sobre o mesmo objecto
diferem de pessoa para pessoa. No mesmo indivíduo, podem variar de acordo com as circunstâncias em que
elas são percebidas. O que para uns é quente, para outros é frio e vice-versa.

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c) A impossibilidade de demonstração: para o Cepticismo, cada prova exige uma outra prova, e esta
outra ainda, até ao infinito. Nunca, para uma pessoa céptica se poderá chegar a um conhecimento que seja
devidamente demonstrado, porque cada coisa tem uma infinidade de relações com outras. Por exemplo: os
moçambicanos são pacíficos. É preciso demonstrar esta afirmação, para ver se de facto todos os
moçambicanos são pacíficos. É preciso provar essa prova, para verificar se a prova demonstrativa é
provável.
O Cepticismo, como doutrina filosófica, na sua forma radical, duvida de tudo, e sustenta que nada é seguro
ou verdadeiro.
MAS, COMO? Se tudo é duvidoso, como o céptico chega a acreditar que tudo é duvidoso, se não há
nada que se pode acreditar?
O Filósofo cristão, Santo Agostinho (século IV-V a.C), afirma que se a verdade não existe, é verdade que
a verdade não existe (isto, segundo o cepticismo). Logo, existe a verdade, que é essa de que a verdade não
existe. Ou: se é verdade que nada existe que seja seguro, logo, é verdade que nada é seguro. Por isso,
existe algo que é seguro, isto é, a verdade de que nada é seguro.
Portanto, a Dúvida céptica é definitiva, ela é destrutiva e opõe-se à dúvida metódica defendida por René
Descartes
O Cepticismo metódico: defende que o Sujeito cognoscente não pode apreender o Objecto do
conhecimento. O conhecimento é impossível para o Sujeito cognoscente. Não devemos, por isso, formular
qualquer juízo, mas sim, abster-nos totalmente de julgar.
Em resumo, o Dogmatismo não reconhece, de certo modo, o Sujeito cognoscente; o Cepticismo ignora o
Objecto do conhecimento.

C) O Criticismo de Emmanuel Kant

Esta corrente filosófica, no Problema da Possibilidade e Impossibilidade do Conhecimento, resulta da


distinção entre a realidade tal como ela é (o Númeno) e a realidade tal como nós a vemos, como ela se nos
mostra e se manifesta, ou como ela aparece (o Fenómeno). Kant diz que o nosso intelecto não está
estruturado para captar as propriedades do Númeno, que é o mundo das coisas em si.
Nós podemos conhecer as coisas do mundo das coisas materiais, mas nunca podemos conhecer as coisas do
mundo das realidades espirituais. O nosso conhecimento produz verdades não absolutas, porque depende
da experiência vivida pelo sujeito cognoscente.
O Criticismo de Emmanuel Kant surge como uma crítica ou exame, ao mesmo tempo, aos exageros do
Dogmatismo e do Cepticismo. Trata-se de uma Corrente filosófica que tenta estabelecer um meio-termo
entre o Dogmatismo e o Cepticismo.

3.7. O PROBLEMA DA ORIGEM OU FONTE DO CONHECIMENTO

Neste Problema, as questões que se colocam são:


Qual é a fonte que nos dá o conhecimento? - A sensibilidade (os cinco sentidos, a experiência) ou a Razão
do sujeito (o intelecto)? O nosso conhecimento procede apenas da experiência? Ou só procede da razão que
usa certos dados chamados apriorísticos para organizar a experiência? Ou ainda procederá o conhecimento
da experiência e da razão? A estas questões respondem as seguintes correntes filosóficas: o Empirismo,
Racionalismo e Empírico-racionalismo
O conhecimento é constituído por ideias (conceitos), juízos e raciocínios. Os juízos e raciocínios são
obtidos a partir das ideias. Por isso, o problema da origem do conhecimento consiste em determinar como
se adquirem as ideias e os princípios que normalizam o conhecimento humano. Ora, vejamos:
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3.7.1. O Empirismo

Surgiu com os filósofos John Locke e David Hume, na Inglaterra, no século XVIII.
É uma corrente filosófica que defende a primazia da Experiência na aquisição do conhecimento. Para
esta corrente, conhece-se aquilo de que se tem experiência.
Locke dizia que, no início do processo cognitivo (processo de produção de ideias), a mente é como uma
tábula rasa, ou um papel em branco, em que a experiência vai preenchendo de conhecimentos resultantes de
factos vividos. Assim, a experiência é a fonte do processo cognitivo por dois modos:
A SENSAÇÃO, através dela, chegam até nós as ideias das coisas exteriores;
A REFLEXÃO, através dela, conhecemos o que se passa em nós.
Portanto, da Experiência, mediante a SENSAÇÃO, originam-se as ideias simples (a ideia do azul, doce,
macio, etc).
Pela REFLEXÃO, origina-se a ideia de percepção, de dúvida, de desejo, e todas as operações da mente.
As ideias complexas nascem das ideias simples, por causa da operação do sujeito que as une, separa,
analisa e sintectiza.
O filósofo David Hume diz que todos os nossos conhecimentos se reduzem a impressões e a ideias (por
exemplo: ver uma árvore e recordá-la).

3.7.2. O Racionalismo

É uma corrente filosófica que baseia a origem do nosso Conhecimento na Razão ou no intelecto. É
contrário ao Empirismo que afirma que o nosso Conhecimento tem sua origem na Experiência dos cinco
sentidos.
Há três tipos de Racionalismo:
Platonismo: conforme pensava o filósofo Platão, as nossas ideias são imitações ou sombras dos
arquétipos (modelos ou essências) do mundo das ideias, mundo inteligível, constituído por realidades
abstractas e universais que a Alma vai recordando (teoria da Reminiscência). Segundo Platão, quando o
Homem nasce, já traz consigo as ideias. Para Platão, o conhecimento que temos é uma Reminiscência,
uma recordação daquilo que já temos na mente, desde o nosso nascimento.
Platonismo augustiniano: Santo Agostinho, Bispo de Hipona, parte da filosofia de Platão. Ele diz que
as nossas ideias vêm da inteligência, mas não são elaboradas por ela. Para Santo Agostinho, as ideias
vêm da Iluminação divina. Quer dizer, é Deus que ilumina a Inteligência humana para gerar as ideias.
Inatismo: o mestre do Inatismo foi o filósofo René Descartes. Para ele, existem vários tipos de ideias:
a) IDEIAS ADVENTÍCIAS: vêm da experiência dos cinco sentidos (Ex.: a ideia de que o açúcar é doce);
b) IDEIAS FACTÍCIAS: resultam das ideias adventícias. São ideias imaginárias (Ex.: a ideia de fantasma;
a ideia de uma montanha no meio do mar).
c) IDEIAS INATAS: são co-naturais à própria Inteligência. Provêm da Razão; não estão sujeitas a erros
(Ex.: saber que eu existo e logo penso; a ideia que me faz ver que eu sou ser pensante).

Leibniz admite um INATISMO VIRTUAL. Para ele, as ideias existem no nosso espírito como percepções
inconscientes, que se vão revelando através da Experiência dos cinco sentidos.

3.7.3. O Apriorismo ou Intelectualismo de Emmanuel Kant


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É uma corrente filosófica de Emmanuel Kant, que surge como crítica ou exame ao mesmo tempo em
relação aos exageros do Racionalismo e aos exageros do Empirismo.
Kant viu que o Racionalismo tinha o perigo de defender apenas os princípios metafísicos e estava
desenraizado na experiência, e, portanto, dogmático.
O Empirismo, por sua vez, estava enraizado na Experiência, e incapaz de levar o Homem além da
Experiência. Conduzia o Homem ao Cepticismo. Kant via o Empirismo como a negação da Validade
Universal e necessária do conhecimento científico, porque a Experiência nunca é universal.
Assim, Kant associa o que há de positivo no Racionalismo e no Empirismo, através de uma análise
crítica das três principais operações da mente. CONHECIMENTO, VONTADE E SENTIMENTOS
(sensações). Esta análise originou as três Críticas de Kant: Crítica da Razão pura; Crítica da Razão
prática; Crítica do Juízo. Kant diz que à Verdade e ao conhecimento só se chega através do Juízo. O
Juízo é a combinação que é feita do Sujeito cognoscente e do Objecto conhecido.
Kant distingue dois tipos de conhecimento: CONHECIMENTO PURO (proveniente da Razão);
CONHECIMENTO EMPÍRICO (proveniente da Experiência). O conhecimento Empírico é sempre
subjectivo. Depende de como o Sujeito sofre a influência do Objecto.
O CONHECIMENTO PURO, também chamado inteligível, é a faculdade que a nossa Razão tem, de
representar as determinações das coisas. O CONHECIMENTO PURO ocupa-se do Númeno, que pertence
aos objectos enquanto pensados; o Númeno é a essência das coisas.
O conhecimento propriamente dito, que engloba os conhecimentos provenientes da Experiência
sensível e da Razão, vem dos juízos que estabelecem ligação entre o Sujeito cognoscente e o Objecto.

a) Tipos de juízos em Emmanuel Kant

Há dois tipos principais de Juízos, segundo Kant: Juízo analítico e Juízo sintéctico.
Juízo analítico: quando o predicado B pertence ao Sujeito A. Neste caso, o predicado B está implícito
em A, e B não acrescenta nenhum conhecimento novo em A; é um juízo explicativo, não aumenta
conhecimento do sujeito acerca do Objecto (Exemplo: um Triângulo é um polígono de três lados; o
Corpo é extensivo; a Esfera é redonda);
Juízo Sintéctico: é um juízo em que o predicado ou atributo dá mais informações sobre o Sujeito
(Exemplo: o corpo é pesado). Kant fala também de:
- Juízos sintécticos a posteriori: são juízos muito particulares que precisam de uma explicação particular;
são juízos muito concretos; dão mais particularidades ao objecto. (Ex: a batata-doce da minha machamba
é alaranjada). Para provar a verdade deste juízo, é preciso ir ver a batata, se, na verdade, ela é alaranjada.
- Juízos sintécticos a priori: são juízos que constituem o conhecimento verdadeiro. Vem da experiência
sensível, mas elaboramo-los na mente e podem funcionar para qualquer realidade. A partir da experiência
elaboramos juízos sintécticos a priori, universais e necessários e aplicáveis a todas as realidades. Ex: o
Juízo: 2+3=5 é juízo sintéctico a priori, porque parte da experiência sensível e é elaborado na nossa
mente
Segundo Kant, o nosso conhecimento provém das duas fontes do espírito: a primeira consiste em
receber as representações (imaginações e intuições) dos objectos sensíveis. A segunda fonte é a capacidade
de conhecer um objecto mediante estas representações (conceitos puros). Assim, a intuição e o conceito
constituem os elementos de todo o nosso conhecimento, de modo que, nem os conceitos sem intuições
que lhes correspondam, nem intuições sem conceitos podem resultar no conhecimento.
Sem a sensibilidade, que é a capacidade de o nosso receber representações (impressões e intuições),
nenhum objecto nos seria dado. Sem o entendimento, que é a capacidade de produzir representações ou

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ideias ou conceitos, nada seria pensado. Pensamentos sem conteúdos são vazios, e intuições sem
conceitos são cegas.

b) O CONSTRUTIVISMO

É uma corrente filosófica que pretende explicar como a inteligência humana se desenvolve, afirmando que
o desenvolvimento da inteligência humana é determinado pelas acções mútuas entre o indivíduo e o meio
ambiente.
Acredita-se que o homem não nasce inteligente, mas também não é um simples receptor das influências do
meio. O conhecimento é construído por cada um dos indivíduos. O nosso conhecimento não atinge a
verdade absoluta (representação do real tal como ele é). O organismo apenas se adapta ao seu meio,
compreende o ambiente onde estiver inserido. O sujeito do conhecimento orienta as suas acções e
pensamentos com base nas suas experiências através da assimilação e acomodação (segundo Jean Piaget,
como já vimos antes).

c) O PRAGMATISMO

O Pragmatismo é uma corrente filosófica que faz depender o conhecimento de um fim prático. Diz que a
verdade de um conhecimento mede-se pela utilidade e eficácia do mesmo. O conhecimento verdadeiro,
segundo esta Corrente filosófica, é aquele que é útil para o Homem. O Pragmatismo surgiu no século XX,
nos EUA, com os pensadores William James, Charles Pierce e John Dewey. Estes filósofos privilegiavam a
dimensão prática do Homem.

3.8. O PROBLEMA DA NATUREZA OU ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO HUMANO

As questões que se pretendem reflectir e responder neste Problema da Teoria do Conhecimento humano
são: O QUE É QUE NÓS CONHECEMOS? - (os próprios objectos ou as representações (as ideias) em
nós, dos mesmos?) De onde nasce o nosso conhecimento?
Há duas principais correntes filosóficas que pretendem responder a este problema: o REALISMO e o
IDEALISMO.

3.8.1. O REALISMO

É uma corrente filosófica da Teoria do Conhecimento que defende que nós conhecemos as coisas e
não as ideias sobre estas coisas. O que o Homem conhece são as coisas, quer na forma de universais (as
coisas em si, a universalidade perante as coisas = universais ante rem, Platão); quer na forma imanente,
encontrados nas coisas individuais (universalidade in re, = universalidade nas coisas, Aristóteles).
O Realismo é uma doutrina filosófica que afirma que, por meio do conhecimento, atingimos uma
realidade distinta da nossa representação (ou ideia mental) e independente dela, mas que lhe corresponde.
Por outras palavras, o Realismo admite a existência da realidade exterior (ou do mundo externo) como
sendo coisa distinta do pensamento ou das nossas representações, o que significa que, para o Realismo, o
nosso conhecimento atinge a própria Realidade (a coisa em si) e não apenas as representações subjectivas -
atinge o que é, e não o que pensamos que seja.

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3.8.2. O IDEALISMO

O filósofo Jorge Berkeley, inglês, dizia que a única existência dos objectos é a ideia que se tem
deles. «Existir é ser percebido», portanto, existir é ser ideia. As coisas só existem como objectos na
consciência. Para o Idealismo, o conhecimento tem valor puramente subjectivo e relativo, limitando-se o
homem a conhecer apenas as suas modificações subjectivas, às quais nada de material corresponde na
realidade (segundo o filósofo Berkeley), ou a conhecer as aparências da realidade - os fenómenos - e não a
realidade em si - os númenos (Kant).
O Idealismo é uma doutrina filosófica que afirma que o objecto do conhecimento é produto do espírito ou
da Ideia. O que significa que o nosso conhecimento é produto do sujeito e que as coisas não são mais do
que conteúdos de consciência. O filósofo Berkeley, por exemplo, pensava que o mundo exterior que
percebemos só existe na nossa percepção. Daí a expressão latina: esse = percipi, isto é, há uma identidade
entre o ser de algo (Esse) e o ser apercebido (percepi). Quer dizer, existir é ser percebido. O que não é
percebido não existe.
Hegel, grande idealista, afirmava que «todo o real é ideal e todo o ideal é real». Quer dizer, tal como
o existir implica ser percebido, logo, tudo o que existe na realidade, existe como como ideal; existe na
ideia. Não pode existir algo real-mente que não possa ser pensado ideal-mente. Tudo o que existe é
pensado; tudo o que existe, existe em idea.
3.9. O PROBLEMA DO VALOR DO CONHECIMENTO

Neste problema da Teoria do Conhecimento, a questão que se coloca é: o nosso conhecimento intelectual
terá valor objectivo e absoluto, ou apenas valor subjectivo e relativo?
Há duas correntes filosóficas que procuram responder a este problema, que são: o Objectivismo e o
Subjectivismo. De modo que, o nosso conhecimento:
- Terá valor objectivo se atingir o real, a essência das coisas, os objectos, tendo também, assim, um valor
absoluto, pois sendo imutável a realidade essencial, também o respectivo conhecimento terá carácter
absoluto. Defende esta ideia o Objectivismo.
- O nosso Conhecimento terá carácter subjectivo, se apenas atingir as modificações subjectivas, a maneira
como pensamos a realidade, o que as coisas são para nós e não a própria realidade em si e, por isto, também
terá valor relativo, porque vale só para nós e para todos os seres constituídos como nós defende esta visão
o o Subjectivismo ou Relativismo.

3.10. O PROBLEMA DOS NÍVEIS DO CONHECIMENTO

Aqui, neste Problema da Teoria do Conhecimento humano, a questão que se coloca é: quais são os níveis
do conhecimento humano? Existem dois níveis de Conhecimento humano, que são:
3.10.1. O SENSO COMUM

É também chamado conhecimento popular. É o que resulta da experiência quotidiana do ser humano e
caracteriza-se por ser: superficial, sensitivo, subjectivo, assistemático e acrítico. Por exemplo: o
conhecimento de que é na época das chuvas que se deve preparar as machambas e semear.

3.10.2. O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O que é a ciência? Qual é o objectivo da Ciência? O que possibilita a existência da ciência? A Ciência é
um sistema de conhecimentos aceites universalmente. São verificados e obedecem a um método. Tem
objectivo de compreender e orientar as actividades humanas.
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O Conhecimento científico carateriza-se por ser: REAL (factual), CONTINGENTE, SISTEMÁTICO,
VERIFICÁVEL e FALÍVEL.
Segundo o cientista Einstein, a Ciência é uma criação do espírito humano, com ideias e conceitos e
livremente inventados; é um processo de apreensão da realidade por meio das nossas construções teóricas.
- A ciência precisa de instrumentos e teorias organizadas e aperfeiçoadas para atingir verdades
universalmente válidas.
- A Ciência procura alcançar um quadro ordenado e explicativo dos fenómenos do mundo físico e do
mundo humano (interpretação e previsão).
- A Ciência visa criar um equilíbrio entre a Razão e as coisas;
- A Ciência é particularista, precisa, ordenada, objectiva e rigorosa;
- A Ciência não se interessa com os sentimentos pessoais;
- A ciência investiga a natureza das coisas ou as suas condições de existência;
- A ciência baseia-se na investigação metódica das leis dos fenómenos,
- A Ciência pretende ser verdadeira, universal e capaz de sofrer experimentações;
- A Ciência só aceita como verdadeiro o que logicamente é demonstrado e o que é verificado.
A ciência sistematizada surge por volta do século XVI, com o cientista Galileu Galilei (inventor do
telescópio e da luneta óptica).

3.10.3. O CONHECIMENTO FILOSÓFICO:

Pretende aumentar incessantemente a capacidade de compreensão da realidade na sua totalidade; deseja dar
explicações acerca da existência humana. É um conhecimento valorativo, racional, sistemático e não
verificável.
3.10.4. CONHECIMENTO RELIGIOSO OU TEOLÓGICO

É o conhecimento que tem sua fonte em Deus ou no Ser sobrenatural. É um conhecimento valorativo,
inspiracional, sistemático, não é verificável, infalível e exacto. É o conhecimento característico das
Religiões.

3.10.5. O CONHECIMENTO MITOLÓGICO:

Mito é um conjunto de narrativas de carácter simbólico, transmitidas de geração em geração. São


consideradas verdadeiras e autênticas dentro de um determinado grupo social. Trata dos fenómenos e das
instituições. Formula explicações de carácter natural sobre os fenómenos. É um conhecimento imediato e
difícil de se fundamentar. Não é crítico e nem é racional. Não é verificável.

3.11. A QUESTÃO DA VERDADE FILOSÓFICA

Objectivos deste tema:


1. Saber o que é a verdade;
2. Conhecer os estados da mente perante a verdade;
3. Evidenciar os critérios da verdade
4. Distinguir as causas do Erro e seus remédios

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A Verdade é a correspondência entre o conceito e a Realidade, que pode ser empírica ou meta-empírica
(espiritual). Dizer que algo é verdadeiro implica que há correspondência daquilo que é dito com a realidade
referida.
Estados da mente humana perante a Verdade: são quatro os estados da mente humana perante a
Verdade, que são: a IGNORÂNCIA, DÚVIDA, OPINIÃO CERTEZA.
1. A ignorância: é a ausência de todo o conhecimento relativamente a um enunciado. Para uma mente
eme estado de Ignorância, a verdade de uma coisa é como se não existisse; não há juízo, não há nada
que se conheça. A Ignorância pode ser: vencível ou invencível. É vencível, quando há possibilidade
de fazê-la desaparecer; é invencível, quando não possível fazer desaparecer esta ignorância; também
pode ser culpável ou inculpável, quando tivermos ou não o dever de dominar essa ignorância.
2. A Dúvida: é o estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação. Na dúvida, a mente humana não
adere ao Sim ou Não, porque os motivos para afirmar e negar se equilibram (esta é dúvida positiva); ou
não tem razão alguma para negar ou para afirmar (esta é a Dúvida negativa, ou Ignorância). A dúvida
pode ser:
a) METÓDICA ou cartesiana (de René Descartes): esta consiste na suspensão voluntária, fictícia ou
real, na aceitação de uma verdade tida por certa, para verificar o seu valor.
b) CÉPTICA ou sistemática: consiste no estado definitivo da mente perante toda a verdade. Esta dúvida
provém do ceticismo, que devemos considerar as nossas verdades como sempre incertas.

3. A Opinião: é a adesão receosa do espírito à afirmação ou negação de um enunciado. É o estado


intermediário entre a Dúvida e a Certeza, em que já é emitido um juízo, mas que é inseguro. O valor da
opinião depende do grau de probabilidade e dos motivos em que essa Opinião se baseia.
4. A Certeza: é a adesão firme e inabalável da mente humana a uma verdade conhecida, sem receio de
errar. A Certeza é a manifestação completa da verdade; é a conformidade do enunciado com a realidade.

3.11.1. CRITÉRIOS DA VERDADE

Critério é o sinal através do qual distinguimos uma coisa da outra; é a norma pela qual distinguimos o
conhecimento verdadeiro do conhecimento falso; o sinal que nos permite reconhecer a Verdade duma
falsidade (critério da Verdade). De modo que o critério fundamental da verdade, na Teoria do
Conhecimento, é a evidência.
A evidência é a clareza com que a verdade se impõe ao nosso espírito. É a luz que ilumina a realidade e
nos permite ver que aquilo que temos na mente está conforme a esta mesma realidade, para depois,
concluirmos que ela é verdadeira. A Evidência ilumina a Verdade.
Exemplos de Evidência:
Fideísmo: considera a fé como o único critério de verdade. O Fideísmo vale só para as verdades religiosas.
O Senso comum: entende que são verdadeiros os conhecimentos comuns a todos os homens.
O Pragmatismo: sugere como critério de verdade a ação, a utilidade, o êxito, a verificação.
O ERRO: suas causas e seus remédios.
Em que consiste o erro? A Verdade consiste em dizer o que é. O Erro é a não conformidade da mente com
a realidade ou com a coisa. É a adesão firme àquilo que objetivamente é falso, mas que, subjetivamente,
parece verdadeiro.
O Erro não é Ignorância. A Ignorância consiste em nada saber e em nada afirmar. O Erro é não saber
afirmar ou negar, pensando que se sabe. A Ignorância é a limitação da Verdade. O Erro é a negação da
verdade. Quem erra não sabe, mas pensa que sabe.

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As causas do Erro podem ser de duas naturezas: psicológicas e morais.
Causas psicológicas: falta de compenetração ou falta de atenção da nossa mente que interpreta mal os
dados dos sentidos; a paixão, que nos impede de raciocinar corretamente;
Causas morais: a vaidade, que resulta da demasiada confiança na nossa pessoa; o interesse, pelo qual
preferimos aquilo que nos é favorável e que se harmoniza com os nossos objetivos; a preguiça intelectual,
que não nos deixa questionar o valor dos nos nossos motivos. A preguiça intelectual nos leva a aceitar sem
reflexão algumas afirmações negações.
Remédios do Erro: todo o Erro é combatido nas suas causas, procedendo através da reflexão metódica das
coisas. Acautelando-se sobre os apetites das paixões e da imaginação, através da suspensão do juízo, por
meio da dúvida.

3.12. A EPISTEMOLOGIA CONTEMPORÂNEA

3.11.1. CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS SEGUNDO AUGUSTO COMTE

Augusto Comte (1798-1857) foi filósofo francês e fundador da Sociologia (estudo das sociedades). Na
Psicologia, Comte fundou a Lei dos três estados.
Comparou o desenvolvimento do Psiquismo humano com o crescimento do Homem.
Augusto Comte dizia que o Psiquismo humano atravessa três estados que são: estado teológico, estado
metafísico e estado positivo. Estes três estados correspondem às três fases do desenvolvimento da vida
humana: Infância, Juventude e Maturidade, respetivamente.
No Estado positivo: não se admite a justificação nem teológica, nem metafísica da Realidade, mas sim a
justificação científica.
A fase positiva é a fase da supremacia das proposições observáveis.
A visão positiva dos factos pretende compreender a Lei que os rege, ou seja, as relações constantes entre
os fenómenos observáveis.
O POSITIVISMO não se preocupa com o problema da causalidade. Somente quer estabelecer os
procedimentos metodológicos para a produção de proposições válidas, de acordo com o próprio
sistema.
O positivismo não se preocupa com a questão de CAUSA-EFEITO, EFEITO-CAUSA. Somente quer
saber como acontecem os factos, e não O QUE CAUSA OS FACTOS.

3.11.2. CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS SEGUNDO AUGUSTO COMTE

Augusto Comte classificou as Ciências em sete categorias ou grupos, começando das ciências mais
simples para as mais complexas:

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1ª) A MATEMÁTICA;
2ª) A ASTRONOMIA;
3ª) A FÍSICA;
4ª) A QUÍMICA;
5ª) A BIOLOGIA;
6ª) A SOCIOLOGIA;
7ª) A MORAL

Objectivos deste tema


1. Conceituar o termo Epistemologia;
2. Qualificar o desenvolvimento da Ciência;
3. Conhecer as teorias de Thomas Kuhn e Karl Popper
Nas aulas passadas, falamos dos ramos ou disciplinas da Filosofia. Uma delas era justamente a
Epistemologia. EPISTEMOLOGIA vem do grego Episteme = ciência. Portanto, Epistemologia é a ciência
da Ciência, ou seja, o tratado das ciências.
Evolução da Ciência: continuidade e descontinuidade ou Ruptura.
Alguns pensadores acreditam que o desenvolvimento da Ciência é linear e cumulativo. Outros pensadores
defendem que a Ciência é revolucionária.
a) O CONTINUISMO: nesta corrente, existem duas linhas de pensamento:
Continuismo radical: defende que a Ciência evolui de forma linear e cumulativa, porque evolui
sempre na mesma direcção. Quer dizer, os conhecimentos, uma vez estabelecidos, jamais serão
postos em causa. É uma evolução cumulativa, porque os novos conhecimentos se juntam aos
conhecimentos anteriores.

Esta concepção da evolução da Ciência deve-se às seguintes razões gnosiológicas:


A associação do conhecimento com o método de verificação;
O conhecimento é tomado como resultado de uma entidade fidedigna (a Razão) que acumula os
conhecimentos;
A ciência obedece a um processo evolutivo;
O Homem aprende a Ciência de forma gradual;
Continuismo moderado: considera que esta visão da Ciência é irrealista e ingênua.

Duhem, historiador e filósofo da Ciência, não nega que a Ciência seja construída de forma continuista, mas
ele reconhece que, ao longo do processo da sua construção, houve erros e correcções desses erros.
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Ele diz que as descobertas científicas de uma época baseiam-se nas investigações e debates de épocas
precedentes, em que os erros registados são examinados e corrigidos.
b) O DESCONTINUÍSMO OU RUPTURA: alguns filósofos da Ciência, como
Bachelard, A. Koyré, Karl Popper e Thomas Kuhn defendem que o desenvolvimento da Ciência conhece
momentos de descontinuidade, isto é, rupturas que se separam claramente uma fase da outra. Esta ruptura
de fases afecta a legitimidade dos princípios gerais. E quando é que estes princípios perdem legitimidade?

Antes, na Ciência, uma teoria ou conjunto de teorias funcionam sempre ligadas a um princípio geral que se
chama paradigma. Quando o Paradigma não consegue enquadrar em si as novas descobertas, quando
revela contradições e lacunas irreparáveis, a Comunidade científica é obrigada a abandonar o antigo
Paradigma e a pensar num outro que enquadre as novas descobertas e que abra caminho para as novas
pesquisas.

i. A TEORIA DE KARL POPPER


Popper (1902-1994) foi filósofo austríaco das ciências exactas e humanas. Ele nega o progresso científico,
e considera-o como acumulação de conhecimentos. Ele defende o Descontinuísmo da Ciência.
Afirma que a Ciência analisa e critica as teorias anteriores, corrigindo-as ou até substituindo-as. A Ciência
não progride por acumulação de teorias, mas através de críticas às teorias anteriores e à inovação das
mesmas, ou até banindo as anteriores para dar lugar às novas teorias que entrem em consonância com a
nova realidade científica.
Para Karl Popper, o progresso científico não é cumulativo, porque é feito através de revoluções intelectuais
e científicas. A Verdade não é dada pelos factos, mas pelas teorias que correspondem aos factos.

ii. A TEORIA DE THOMAS KUHN


Este pensador faz uma análise fenomenológica das rupturas epistemológicas que foram defendidas pelos
outros pensadores. Para isso, ele usa expressões como um CIÊNCIA NORMAL, ANOMALIA e CIÊNCIA
EXTRAORDINÁRIA, além da questão do PARADIGMA.
a) Paradigma: é um princípio que regula as pesquisas de uma determinada época. É uma teoria científica
dominante, na qual todas as outras se integram.
O paradigma define especificamente a metodologia apropriada para o desenvolvimento da Ciência. A
Ciência é o resultado do acordo das Comunidades científicas.
O paradigma determina tanto o método de solução de problemas, como os problemas que devem ser
resolvidos.
b) A Ciência normal e a Anomalia: é o momento em que a Comunidade científica desenvolve com
sucesso as suas pesquisas, mediante o paradigma em vigor. Aqui a atividade fundamental é explicar os
fenómenos ainda não esclarecidos, enquadrando-os na teoria dominante. O cientista desenvolve as suas
pesquisas dentro dos limites estabelecidos pelo Paradigma.
c) A Anomalia aparece quando acontecem problemas que escapam aos limites do Paradigma; quando não
se enquadram na Ciência normal. É Anomalia um problema cujo Paradigma não capta.

d) Ciência extraordinária: surge devido à acumulação de Anomalias, no momento em que se entra num
período de crise, porque os fundamentos do Paradigma são postos em causa. A Acumulação de Anomalias
abala o Paradigma e o comportamento dos cientistas é o de procurar outras teorias e fundamentos que
substituam o Paradigma que se mostra ultrapassado. Este período da procura de novo Paradigma, Thomas
Kuhn o denomina CIÊNCIA EXTRAORDINÁRIA.

43
e) Revolução científica: acontece quando se descobre um novo Paradigma. É uma nova visão do mundo e
de adopção de novos critérios para a interpretação dos fenómenos.
A Revolução científica significa a superação da Crise. É deixar de crer no antigo Paradigma que se mostrou
ultrapassado.
Segundo Thomas Kuhn, o que determina a vitória de um novo Paradigma são os seguintes factores:
- A sua capacidade para explicar factos polémicos persistentes;
- A sua utilidade na resolução de problemas e realização de previsões adequadas.
Para que uma nova teoria se imponha, o seu inventor deve ter uma posição relativamente elevada na
hierarquia universitária e facilidade no acesso a financiamento para a investigação. Ex.: a chegada da
Movitel em Moçambique.
Michel Foucault, no livro Microfísica do Poder, diz que o poder determina, muitas vezes, o que é
verdadeiro e o que é falso.

UNIDADE TEMÁTICA 4
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA LÓGICA 1
4.1. O conceito de Lógica

No seu sentido etimológico, ela é a ciência do Logos. O termo Logos, de origem grega, significa palavra,
discurso, pensamento, razão. A Lógica tem por objecto de estudo o pensamento humano, preocupando-se
com a sua correcção.
A Lógica tem várias definições, a saber:

 É a Ciência das formas válidas de pensamento;

 É o estudo sistemático das formas ou procedimentos com os quais a Razão elabora o saber;

 É a ciência das operações da inteligência, orientadas para a conquista da verdade;

 É a ciência das condições do pensamento correcto e do pensamento verdadeiro;

 É a ciência da dimensão racional do discurso;

 É a arte que orienta todo o acto racional, de uma maneira ordenada e isenta de erro;

 A Lógica é a disciplina filosófica que se dedica ao estudo das leis, princípios e regras a que devem
obedecer o pensamento e o discurso para serem para serem coerentes.
Em resumo, a Lógica é a ciência que estuda as regras das operações válidas e os processos utilizados pelas
ciências em busca da verdade.
Ela estuda as condições do pensamento válido.
Regula o perfeito discurso da Razão e oferece o caminho para o correcto exercício da Linguagem, e do
pensamento na procura da verdade.

44
4.2. O objecto de estudo da Lógica

O objecto de estudo da Lógica divide-se em duas partes: OBJECTO FORMAL e OBJECTO MATERIAL.
NO OBJECTO FORMAL, a Lógica preocupa-se com a análise da relação dos elementos envolvidos no
enunciado. Analisa se esses elementos são coerentes e se eles não têm nenhuma contradição interna. Por
exemplo: Maria e José é alunos da Escola Secundária de Chingodzi. Tu e eu sou cristãos católico. Estes
discursos ou enunciados estão gramaticalmente errados. Por isso, apresentam contradição lógica interna.
Não são discursos lógicos.
NO OBJECTO MATERIAL, a Lógica analisa não só a coerência do pensamento ou do enunciado, mas
também a sua concordância com a realidade. Exemplo: Joãozinho é mais velho em relação ao seu pai. Este
é discurso sem Lógica, porque ninguém que pode ser mais velho do que o seu pai. O filho sempre será mais
novo em relação ao seu pai. É um discurso materialmente inválido, porque é falso.
VALIDADE FORMAL E VALIDADE MATERIAL OU VERDADE
A Lógica tem como preocupação determinar a validade de um pensamento; a concordância do enunciado
consigo mesmo.
A Forma diz respeito à estrutura do raciocínio ou do pensamento, que pode ser válida ou não válida. A
validade formal tem a ver com as regras gramaticais a que o discurso deve obedecer;
A Matéria refere-se ao conteúdo do raciocínio, que pode ser verdadeiro ou falso.
Na Lógica, a validade formal é a estrutura ou a articulação dos elementos de um raciocínio ou argumento.
É a estrutura formal de um pensamento.
A Validade material é adequação do conteúdo do nosso pensamento ou raciocínio com a realidade
pensada. A validade material chama-se também Verdade.
Assim, um enunciado será formalmente e materialmente válido, se os elementos que o constituem
formarem um todo coerente e se o seu conteúdo estiver em conformidade com a realidade expressa por ele.
Por exemplo: às zero horas do dia 25 de Junho, de 1975, em Maputo, o Presidente Samora Moisés
Machel, proclamou solenemente a Independência Nacional de Moçambique. Este enunciado é formalmente
válido, porque não apresenta erros gramaticais; mas também é materialmente válido, porque corresponde
ao facto histórico que ele expressa.

4.3. Lógica espontânea e Lógica como Ciência

A Lógica é a concatenação do pensamento ou do discurso humano.


A Lógica Espontânea é a capacidade conatural do Homem que lhe permite elaborar pensamentos com
ordem e coerência. É a ordem que a Razão segue naturalmente nos seus processos de conhecer e nomear as
coisas.
A Lógica como Ciência aparece a partir do momento em que o Homem toma os seus processos cognitivos
como objecto de estudo.
4.4. Utilidade da Lógica
Ajuda-nos a adquirir competências que nos permitem avaliar a validade dos argumentos que nos
são apresentados;
Contribui para o desenvolvimento da autonomia do espírito crítico;
Proporciona-nos meios que nos possibilitam a organização coerente dos argumentos;
Ajuda-nos a desenvolver competências argumentativas e demonstrativas para podermos comunicar
com rigor, coerência e inteligibilidade;

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Permite-nos analisar diversos tipos de discursos (discursos científicos, políticos), para podermos
verificar a sua validade formal;
Oferece-nos os recursos necessários para pensarmos a realidade e a podermos conhecer.

4.5. A Linguagem e a Comunicação

Linguagem é o conjunto de sinais, signos, gestos, imagens, figuras e símbolos que se usam na
comunicação.
Comunicação ee o contacto ou interacção entre dois ou mais sujeitos (Emissor e Receptor), por meio de
uma mensagem.
A Linguagem faz parte essencial do quotidiano e da forma intrínseca de ser e existir do ser humano. Em
todas as suas actividades, o ser humano usa a Linguagem para se comunicar com os outros.
O Homem não é somente uma realidade biológica, natural. Ele apresenta uma realidade cultural. Não há
humanidade sem aprendizagem cultural, sem aquilo que é a base de toda a cultura e fundamento da nossa
humanidade, que é a Linguagem. O mundo em que vivemos é um mundo linguístico, uma realidade de
símbolos e leis sem a qual, não seriamos capazes de nos comunicar, mas também não seriamos capazes de
aprender a significação daquilo que nos rodeia.
A Linguagem é a capacidade fundamental do ser humano para se expressar, transmitir ideias, valores ou
sentimentos.
Há vários tipos de Linguagem, que são: gestual, corporal, verbal, consoante o tipo de signos.
F. Savater, no seu livro Ética para um jovem, defende que a Linguagem humana é a base de toda a cultura e
o fundamento da humanidade. Por isso, a aprendizagem da Linguagem visa responder à necessidade
humana de comunicação com o mundo e com os homens.
4.5.1. Modelos de Comunicação

Roman Jakobson (1896-1982), linguista americano de origem russa, propôs um modelo de comunicação
que, além daqueles modelos que só consideravam o EMISSOR, MENSAGEM e RECEPTOR como
factores da comunicação, acrescenta três elementos da mesma importância. São eles:

 O CONTEXTO: é a situação ou circunstância em que se dá a comunicação. Tem a função referencial


ou informativa.

 O CÓDIGO: conjunto de sinais partilhados entre os interlocutores. Tem a função metalinguística.

 CONTACTO: é a relação entre o emissor e o receptor. O contacto ou canal de comunicação


desempenha a função fática.

4.5.2. Descrição das funções da Linguagem, segundo Roman Jakobson

 FUNÇÃO REFERENCIAL ou informativa: aqui o emissor centra a sua mensagem no contexto ou


referente. É o tipo de discurso caracterizado pela neutralidade, imparcialidade e objectividade. Nele, o
emissor pretende só transmitir informações (ex.: jornais, informações técnicas e científicas). Exemplo: O
Papa Francisco visitou a Capital de Moçambique, entre os dias 4 e 6 de Setembro de 2019.
 FUNÇÃO EXPRESSIVA ou emotiva: está centrada no emissor da mensagem. Produz uma apreciação
subjectiva; usa adjectivos e interjeições. Pretende convencer, ridicularizar, instruir, demonstrar, etc.
exemplo: Olá, meu amor! Doces são os teus lábios! Tu és charmosa como um jardim cheio de rosas.
 FUNÇÃO PERSUASIVA (apelativa ou imperativa): está centrada no receptor da mensagem. Este
discurso pretende procura influenciar, seduzir, convencer ou mandar no receptor, provocando nele uma

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dada reacção. É um discurso carregado de imperativos e vocativos. Ex.: vota em mim! Votar em mim é
votar no progresso.
 FUNÇÃO ESTÉTICA ou poética: está centrada na mensagem. Tem especial evidência na poesia;
empenha-se em embelezar e melhorar a mensagem que se pretende transmitir. Usa figuras de estilo e
adjectivos. Exemplos: “O amor é um fogo que arde sem ver”; “A juventude é a seiva da nação”; “As
crianças são flores que nunca murcham”; “Você é o meu doce de mel”.
 FUNÇÃO FÁTICA: está centrada no contacto ou no canal da mensagem. Permite aos interlocutores
assegurar, prolongar ou interromper a comunicação, ou mesmo verificar se o meio usado funciona. Ex.:
Que tal, estás a me ouvir?; Aló, Aló, Microfone em experiência! Um dois! Um dois!
 FUNÇÃO METALINGUÍSTICA: está centrada no código. Permite aos interlocutores definir ou
clarificar o sentido dos signos para que sejam compreendidos entre si. Ex: compreendes-me? – Não. Por
favor, diz-me em outras palavras mais simples. Talvez posso-te compreender.
Na Lógica, as funções REFERENCIAL (ou informativa) e a função PERSUASIVA (apelativa ou
argumentativa), são muito importantes, porque:
A função referencial ou informativa permite representar ou descrever factos, estados ou relações entre as
coisas. Os seus enunciados são susceptíveis de serem verdadeiros ou falsos, de acordo ou não com a
adequação com a realidade.
A função persuasiva ou apelativa permite-nos combinar enunciados, frases ou proposições e seus
argumentos justificativos, que podem ser válidos ou inválidos, isto é, se são coerentes entre si ou não.
Portanto, a função da Lógica é de averiguar a validade e invalidade dos discursos; a verdade e a falsidade
dos mesmos.

Linguagem, Pensamento e Discurso (relação triádica)


Na Filosofia, o termo discurso designa um conjunto de proposições que, articuladas entre si, formam um
todo coerente.
Mediante a Linguagem, os seres humanos comunicam entre si os seus pensamentos, em forma de discurso
oral, escrito ou gestual. Por isso, há uma relação estreita e indissociável entre estes três elementos, porque:
A Linguagem é o instrumento e meio ao serviço do pensamento; a Linguagem é o suporte do
pensamento. Os dois não se podem separar;
A Linguagem regula o pensamento. O Homem recorre à Linguagem para formular conceitos, juízos e
raciocínios;
A Linguagem expressa o pensamento em forma de discurso. Este é uma manifestação do pensamento, e
é um acontecimento da Linguagem;
Não é possível conceber o pensamento sem a linguagem. O pensamento só pode desenvolver-se pela e
na linguagem; não há pensamento sem a linguagem; a linguagem sem o pensamento de nada nos serviria; a
linguagem só ganha sentido e só se concretiza mediante o pensamento.
A Linguagem está directamente implicada no processo de conhecimento do mundo, da reflexão sobre o
conhecimento e da comunicação dos seus resultados. A linguagem é condição da natureza humana. A
linguagem é o único modo do ser do pensamento, a sua realidade e realização.

4.5.3. Dimensões fundamentais do discurso: funções sintáctica, semântica e pragmática

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Discurso é o conjunto de ideias produzidas pelo pensamento e organizadas pela Linguagem, para serem
transmitidas a alguém. O Discurso pode ter diversos usos, consoante os objectivos a atingir.
Charles Morris (1901-1979), filósofo americano, destacou a importância destas três dimensões do discurso.
Procurando estabelecer uma teoria geral dos sinais ou SEMIÓTICA (disciplina que se ocupa do estudo dos
signos), afirmou que são três as dimensões de análise dos processos de comunicação, a saber: dimensão
sintáctica, semântica e pragmática. Estas dimensões do Discurso garantem a coerência e a concretização
do Discurso, evitando possíveis ambiguidades.
a) DIMENSÃO SINTÁCTICA: a sintaxe trata da dimensão interlinguística dos signos entre si. Estuda as
relações que os signos mantêm entre si. A dimensão sintáctica do Discurso ocupa-se da forma gramatical
da linguagem. Por isso, as letras colocadas de qualquer maneira não formam Palavra; e, palavras colocadas
de qualquer maneira não formam frase; e, frases colocadas de qualquer maneira não fazem discurso ou
texto.
b) DIMENSÃO SEMÂNTICA: do grego semantiké, a Semântica trata da arte da significação, ou da arte
do significado. A Semântica é a dimensão do Discurso que se refere às relações dos signos com os objectos
que designam. Preocupa-se pelo significado das palavras e pelos enunciados que apresentamos no discurso.
A Semântica pretende saber se os signos designam correctamente os objectos que eles reportam. A
Semântica analisa a correspondência existente entre o enunciado e a realidade.
Michel Bréal (1832-1915) e Michel Meyer dizem que a Semântica trata das relações dos signos (palavras
ou frases) com seus significados (significação) e destes com a realidade a que dizem respeito (referência).
c) DIMENSÃO PRAGMÁTICA: do grego pragma, o adjectivo Pragmática designa algo prático ou
típico de uma Acção.
A Dimensão Pragmática trata das relações entre os signos e os usos que os diferentes sujeitos podem fazer
deles.
Von Humboldt (1767-1835) afirma que a Essência da Linguagem é a Acção.
Michel Meyer define a Pragmática como a disciplina que estuda os signos na sua relação com os
utilizadores.
O fundador da Pragmática foi Charles Morris. Ele considerou a Pragmática como o complemento da
Sintaxe e da Semântica.
Segundo Morris, na Comunicação, há uma tríplice relação entre o SIGNO, o SIGNIFICADO e o
INTÉRPRETE.
A Pragmática estuda o uso das proposições da Linguagem, procurando a adaptação das expressões
simbólicas aos contextos referenciais, situacionais, de acção e interpessoal (contextos, costumes e regras
sociais).
Quer dizer, um texto oral ou escrito apresenta fundamentalmente a realização de um acto, que não é
apenas locutório (produção de um enunciado de acordo com as regras gramaticais), mas representa
igualmente um acto ilocutório (o que faz, dizendo) e um acto perlocutório (efeitos resultantes da Acção
de dizer).
Pragmaticamente, nos interessam os aspectos ilocutório e perlocutório.
As três dimensões do discurso são intrinsecamente indissociáveis, porque:

 A SINTAXE preocupa-se com a forma gramatical da Linguagem;

 A SEMÂNTICA coloca o problema do significado das palavras que constituem os nossos discursos.
Diz respeito à relação que a Linguagem estabelece entre o mundo e os objectos (referência).

 A PRAGMÁTICA refere-se à utilização que fazemos da Linguagem num dado contexto.

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4.5.4. Dimensões acessórias do discurso

Tendo em conta os diversos usos e objectivos do discurso, apresentam-se outras dimensões do discurso,
que são:
Dimensão linguística: porque o emissor enuncia algo numa determinada língua. Esta dimensão tem a ver
com os recursos estilísticos e linguísticos, aos tipos de textos e a sua interpretação ou hermenêutica;
Dimensão textual: porque o discurso é sempre um texto oral ou escrito;
Dimensão lógico-racional: porque o enunciado é uma sequência ordenada de proposições. Trata-se da
coerência lógica, solidez e validade dos argumentos que o discurso apresenta.
Dimensão expressiva/subjectiva: porque o discurso expressa um pensamento de um dado sujeito. O
discurso apresenta a possibilidade de um Eu se manifestar a um Tu e com ele comunicar. O discurso é a
expressão de alguém, na sua forma particular de estar e pensar as coisas e de apresentar os argumentos.
Dimensão intersubjectiva/comunicacional: diz respeito à comunicação de um sujeito com os outros;
Dimensão argumentativa: porque visa apresentar argumentos e provas justificativas de uma posição;
Dimensão apofântica: porque sempre diz respeito à verdade ou falsidade de uma realidade;
Dimensão comunitária e institucional: porque refere-se à língua de uma dada comunidade ou cultura;
Dimensão ética: porque o discurso deve respeitar o Código da ética discursiva, argumentativa e a ética da
comunicação.

4.6. Os novos domínios da aplicação da Lógica


4.6.1. A Cibernética
Como já dissemos, a Lógica é o conjunto de condições que garantem a coerência do pensamento e
do discurso.
A Cibernética, a Informática e a Inteligência Artificial são exemplos de ciências e tecnologias que
aplicam os conhecimentos da Lógica, tornando-a uma disciplina, não só teórica, mas aplicada.

A) A Cibernética, a Informática e a Inteligência artificial são os novos domínios da aplicação da Lógica.


A palavra Cibernética vem do grego ‘Kibernéties’ ou “Kubernesis” = arte de pilotar navios (segundo o
filósofo Platão).
Como Ciência, a Cibernética surge no século XX, com A. Osenbluth, especialista em fisiologia nervosa e
com Norbert Wiener, matemático. Os dois construíram máquinas electrónicas.
Norbert Wiener, cientista matemático, norte-americano, pensava que os sistemas de comunicação dos
animais eram semelhantes aos de uma máquina. Segundo este cientista, a Cibernética é a ciência da
comunicação e do controlo de homens e máquinas. A Cibernética é muito aplicada no ramo industrial. As
máquinas cibernéticas são chamadas máquinas pensantes, por serem capazes de realizar operações lógico-
dedutivas.
Para desenvolver mecanismos de comando, capazes de terem em conta variações determinadas de
parâmetros, tais como, a temperatura, a orientação e a pressão, os investigadores (matemáticos e
electrónicos) interessaram-se muito pelos mecanismos neurofisiológicos análogos que intervêm na
regulação do corpo humano. De modo que, a Cibernética é Ciência da comunicação e do controlo de
homens e máquinas (computadores, robôs “inteligência artificial”).

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B) A Informática (Informação automática) é o resultado do desenvolvimento dos computadores. É
definida como a a Ciência do tratamento racional da informação, por meio de máquinas automáticas. A
Informática usa o modelo cibernético de tratamento de dados para realizar o processamento automático da
informação. Os principais objectivos da Informática são a redução de erros, o armazenamento e
ordenamento de grandes quantidades de dados e a realização de cálculos em grande número. A Informática
é aplicada na Economia, na Medicina, nas Telecomunicações, na Engenharia, no Ensino, na Física.
Esta palavra foi inventada por Philippe Dreyfus, em 1962.
Esta ciência trata do estudo do tratamento automático da Informação dada a uma máquina a partir do meio
exterior. É um processamento racional da Informação através das máquinas automáticas.
C) A Inteligência Artificial: surge nos anos nos meados do século XX (anos 40 e 50, nos Estados Unidos)
com o desenvolvimento dos computadores. Aparece na encruzilhada da cognição, das neurociências e da
Informática. Ela procura compreender o pensamento e o comportamento humanos, de modo a poder
reproduzi-los artificialmente. Quer dizer, a Inteligência Artificial tem como objectivo reproduzir a
inteligência dos seres humanos, podendo substituir o Homem em tarefas que ele não pode executar, por
exemplo: reparar sistemas electrónicos em condições ambientais que o Homem não conseguiria suportar.
A Inteligência Artificial é um ramo da Ciência dos computadores, preocupada com o estudo e com a
criação de sistemas que exibam alguma forma de Inteligência: capazes de aprender novos conceitos e
tarefas; aptos a raciocinar e tirar conclusões úteis sobre o mundo à nossa volta, que consigam entender a
linguagem natural e que executem outro tipo de tarefas que requerem inteligência do tipo humano. Na
Inteligência Artificial, o objectivo é desenvolver sistemas computacionais que funcionem e que sejam
efectivamente capazes de desempenhar tarefas que exijam altos níveis de inteligência.
Estuda a construção de máquinas capazes de simular actividades mentais. Por exemplo: a aprendizagem
por experiência, resolução de problemas, tomada de decisões e a compreensão da Linguagem.

4.7. PRINCÍPIOS DA RAZÃO OU PRINCÍPIOS LÓGICOS DO PENSAMENTO

Os Princípios lógicos são regras que garantem a coerência do nosso pensamento e determinam todo o
nosso exercício racional. São pressupostos em todo o pensamento e discurso consistentes. Sem eles,
nenhuma verdade pode ser pensada. Fazem com que o nosso pensamento tenha rigor e coerência.
Os princípios lógicos são fundamentalmente dois: Princípio de identidade e Princípio da razão suficiente.
O primeiro regula o pensamento formal ou abstracto, isto é, desligado da realidade a que se possa aplicar;
este princípio traduz o acordo do pensamento com ele próprio e desdobra-se em: Princípio de não-
contradição e Princípio do terceiro excluído.
O princípio da razão suficiente orienta o pensamento concreto, integrado na realidade, tendo por fim a sua
interpretação.
1. O Princípio da identidade enuncia-se: o que é, é - A é A - uma coisa é idêntica a si mesma - uma coisa
é o que é, tal qual é. O verdadeiro é o verdadeiro; o falso é o falso.
Segundo este Principio, uma proposição é equivalente a si mesma. Por exemplo: dizer que António vive em
Maputo, equivale dizer que António vive em Maputo. Esta formulação refere-se a proposições. Por isso, na
dimensão lógica, se diz: se p, então p. (Se António vive em Maputo, então, António vive em Maputo).
Na Dimensão ontológica, se diz: uma coisa é igual a si mesma; ou uma coisa é o que é. Por exemplo:
Água é Agua. O princípio de Identidade exige que em qualquer procedimento argumentativo se mantenha o
mesmo significado dos termos e das expressões.
2. O Princípio de razão suficiente é um princípio filosófico, segundo o qual, tudo o que acontece tem
uma razão suficiente para ser assim e não de outra forma. Em outras palavras, tudo tem uma explicação

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suficiente. Exemplo: Para cada entidade X, se X existe, então há uma explicação suficiente do porquê X
existe. Para cada evento Y, se Y ocorrer, então há uma explicação suficiente para Y ocorrer;
Para cada proposição p, se p for verdadeira, então há uma razão suficiente para p ser verdadeira. O
Princípio da Razão suficiente é um complemento do princípio da não-contradição, mas aplica-se
essencialmente aos enunciados de facto.

3. O Princípio da não-contradição: exprime o princípio da identidade sob forma negativa e formula-se:


uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. A não pode ser A e não A. O
verdadeiro não pode ser falso sob o mesmo aspecto. Segundo este Princípio, é impossível aceitar uma
proposição afirmativa e ao mesmo tempo a sua negação.
Na dimensão lógica, diz-se: é impossível que a afirmação e a negação sejam verdadeiras ao mesmo
tempo. Se uma for verdadeira, a outra é necessariamente falsa. Por exemplo: é verdade que António vive
em Maputo. Então, é falso que António não vive em Maputo.
Na dimensão ontológica, este Princípio diz-nos que é impossível que o mesmo atributo pertença e não
pertença ao mesmo tempo, ao mesmo sujeito, segundo a mesma relação. Por exemplo, há uma contradição
lógica ao dizermos que o macaco é mamífero e não é mamífero ao mesmo tempo, sob a mesma perpectiva e
relação.
4. Princípio do terceiro excluído (em latim, é resumido na expressão tertium non datur), é um princípio
cujo enunciado consiste no seguinte: "ou A é X ou A não é X e não há terceira possibilidade". Exemplo:
Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates.
O Princípio do terceiro excluído resulta da expressão disjuntiva do Princípio de identidade e enuncia-se:
uma coisa é ou não é - entre o ser e o não ser não há meio-termo. A é A ou não é A.
Na dimensão lógica, diz-se: Uma proposição só pode ser verdadeira se não for falsa e só pode ser falsa se
não for verdadeira, porque o terceiro valor é excluído. Não é possível que haja qualquer intermediário
entre enunciados contraditórios. Exemplo: Ou as plantas são vegetais ou as plantas não são vegetais.
Na dimensão ontológica, diz-se que uma coisa deve ser ou não ser; existir ou não existir. Não há uma
terceira possibilidade. Este princípio só é válido em lógicas bivalentes, isto é, em lógicas que admitem o
verdadeiro e o falso, como valores de verdade.

4.8. LÓGICA DO CONCEITO

A Matéria e a Forma dos enunciados são os dois aspectos fundamentais que constituem um pensamento,
raciocínio ou argumento. Por isso, a Lógica se divide em Lógica formal e Lógica material.
A Lógica Formal inclui os domínios do CONCEITO, JUÍZO e ARGUMENTO. Os conceitos formam
juízos; os juízos coerentes formam raciocínios.
O CONCEITO é o acto mental pelo qual se confere uma certa qualidade a uma certa classe de objectos
com características comuns. O conceito é a apreensão da essência pela mente, isto é, das características
determinantes de um objecto. Pensar um animal não é ver um animal. No conceito, temos apenas a
essência; na realidade, temos os acidentes. O Conceito é instrumento mental que serve para pensar as
diversas realidades. É ele que nos oferece a representação dessas realidades.
O conceito resulta de uma construção mental. O conceito Cão é a unidade mental que sintetiza as
propriedades que definem todos os cães, quer sejam grandes, pequenos, desta ou daquela cor, pertencentes
a esta ou àquela raça.
Formação de conceitos
A formação mental dos conceitos ou conceitualização obedece aos seguintes processos:

51
a) Dados empíricos: são elementos que obtemos através da observação e da experiência. Por exemplo,
observando diferentes cães de diferentes raças, formamos o conceito CÃO, na nossa mente.
b) Comparação: é exercida entre os diferentes objectos ou seres, procurando o que eles têm em comum
(características essenciais) e o que é próprio deste ou daquele (características acidentais). Depois
comparamos entre si os diversos cães, procurando encontrar o que eles têm em comum (serem todos
vertebrados, quadrúpedes, ladradores, mamíferos, carnívoros, domésticos, etc.) e o que eles têm de
diferente: cor, tamanho, raça, etc.
c) Abstracção: consiste em separar mentalmente as características do objecto, retendo apenas aquelas que
são comuns, e pondo de lado aquelas que são individuais. Características comuns aos cães são:
vertebrados, quadrúpedes, ladradores, mamíferos, carnívoros, domésticos.
d) Generalização: Consiste em aplicar as características comuns aos elementos pertencentes a toda a
classe. Assim, para formar o conceito CÃO, aplicam-se a todos os cães as características comuns a eles.

O Conceito é o elemento básico essencial do pensamento. O Conceito é a representação mental, abstracta e


geral da essência de um conjunto de seres. Em si mesmo, nada afirma ou nega. É uma síntese que reúne as
características comuns de uma classe de seres, objectos, coisas ou acontecimentos.
Os conceitos que se referem a objectos chamam-se conceitos objectivos. Por exemplo: os conceitos carro,
rua, boneca, árvore. Nem todos resultam do processo de abstracção sensível. Existem também conceitos
que não correspondem a seres materiais e visíveis, mas a seres ideais, metafísicos ou axiológicos. Por
exemplo: os conceitos Felicidade, Bondade, Amor, Justiça, Paz, Deus, Alma, Espírito.
Os Conceitos funcionais são aqueles que estabelecem relações entre os conceitos objectivos. Por exemplo:
os verbos, as conjunções, os advérbios.
O conceito não deve reunir em si elementos contraditórios. Não se pode dizer um círculo quadrado; uma
brancura negra; um vertebrado invertebrado; morto vivo. São conceitos que representam seres
impossíveis. O conceito deve restringir-se ao campo da possibilidade lógica.
TERMO é a expressão verbal de um conceito. O Termo é a roupagem convencional e simbólica do
conceito, pelo qual este se fixa e se delimita.
O mesmo conceito pode ser expresso por termos diferentes. O mesmo Termo pode também expressar
diferentes conceitos. Por exemplo: o Termo COMPASSO pode expressar um instrumento de desenho, visita
pascal, divisão de tempo na música. O Termo pode ser constituído por uma ou várias palavras. Quando os
Termos são constituídos por mais do que uma palavra, designam-se Expressões conceptuais. Exemplo: Ser
vivo, animal doméstico, homens que habitam o Hemisfério norte.

4.8.1. EXTENSÃO E COMPREENSÃO DOS CONCEITOS

A EXTENSÃO (ou Denotação) de um conceito: é o conjunto de indivíduos ou objectos designados por


ele; conjunto dos objectos com mesmo nome. Ex: HOMEM: refere-se a Pedro, Ana, Mariazinha, José,
Kunamizana. Ex: METAL: refere-se ao ferro, ouro, bronze, prata, alumínio, etc.
A COMPREENSÃO de um conceito: é o conjunto das qualidades que ele designa. É a soma de mesmas
qualidades de um certo conjunto de objetos. Por ex: para que Pedro, Mariazinha, José, Kunamizana, sejam
chamados HOMEM, devem possuir mesmas qualidades: vida, animalidade, racionalidade, ser vertebrados,
bípedes, mamíferos, falar, etc.

 A extensão ou Denotação de um conceito: é o conjunto de seres ou objectos abrangidos pelo conceito;

 A compreensão ou Conotação ou intensão de um conceito: é o conjunto de qualidades comuns que


caraterizam os seres ou objectos que formam a sua Extensão.

52
4.8.2. RELAÇÃO ENTRE EXTENSÃO E COMPREENSÃO DOS CONCEITOS

Entre a Extensão e a Compreensão de um conceito, há uma relação qualitativa. Esta relação varia na razão
inversa: quanto maior for a Extensão de um Conceito, menor é a sua Compreensão; quanto menor
for a Extensão, maior é a Compreensão. Quer dizer, quanto maior é o número de elementos a que o
conceito se aplica (extensão), menor é a quantidade de características comuns (Compreensão).
Por exemplo: o Conceito “ser vivo” tem maior extensão. A sua extensão abrange todas as plantas e todos
os animais. Logo, a sua compreensão é menor.
Por exemplo: a Extensão do Conceito “Homem” é muito menor do que a do conceito “ser vivo”. Por isso,
a Compreensão do conceito “Homem” é maior do que aquela do conceito “ser vivo”. Portanto, quanto
mais geral for o Conceito, tanto mais vazio de significado será. Tanto mais vazio de significado será aquele
conceito que for mais geral.
Por exemplo: maior extensão (menor compreensão): - SER; SER VIVO; ANIMAL; HOMEM;
AFRICANA; MOÇAMBICANA; MAPUTENSE; LURDES MUTOLA.
Maior compreensão (menor extensão): LURDES MUTOLA; MAPUTENSE; MOÇAMBICANA;
AFRICANA; HOMEM; ANIMAL; SER VIVO; SER.
Nestes exemplos, temos a ordem decrescente de Extensão, no primeiro caso. Temos a ordem crescente
de Compreensão, no segundo caso.

4.8.3. GÉNERO E ESPÉCIE

O conceito de maior Extensão, em relação ao conceito de menor Extensão, chama-se Género.


O conceito de menor Extensão, comparativamente ao conceito de maior Extensão, denomina-se Espécie.
Exemplo: o conceito “Ser” é Género relativamente ao conceito “Ser vivo”. O conceito “Ser vivo” é
Espécie em relação ao conceito “Ser”.
O mesmo conceito “Ser vivo” é género em relação ao conceito “animal”.
Os Géneros são conceitos cuja Extensão constitui grandes ou menores conjuntos, sendo que, nesses
conjuntos se agrupam outros conceitos ainda de menor Extensão com as mesmas características, mas cada
um com a sua diferença específica.

4.8.4. Classificação dos Conceitos e dos termos

1. Quanto à Compreensão:
A) Termos simples: - não têm e nem podem ter partes. Ex: a ideia do Ser
B) Termos compostos: - são divisíveis e têm partes. Ex: Homem, animal, planta.
C) Termos concretos: - são aplicáveis às realidades tangíveis, aos sujeitos ou aos objectos. Ex: gato,
cadeira, livro.
D) Termos abstractos: usam-se para as qualidades, acções, pensamentos, sentimentos ou estados. Ex: amor,
paixão, ódio, amizade, alegria, tristeza, Paz.
2. Quanto à Extensão:
A) Conceitos universais: - aplicam-se a todos os elementos de um conjunto ou classe. Ex: homem, caderno,
lápis, Metal.

53
B) Conceitos particulares: - aplicam-se apenas à parte de um todo, ou de uma classe. Ex: certos alunos;
alguns pais; estes cadernos.
C) Conceitos singulares: - são aplicáveis apenas a um indivíduo ou a uma coisa. Ex: Ana; Pedro; este
caderno
3. Quanto à relação mútua:
A) Termos contraditórios: opõem-se e se excluem mutuamente. Ex: alto/não alto; ser/não ser, branco/não
branco.
B) Termos contrários: opõem-se, mas não se excluem. Ex: branco/preto; alto/baixo.
C) Termos relativos: são aqueles que se implicam mutuamente. Um não é sem o outro. Ex: pai/filho;
direita/esquerda; esposo/esposa.
4. Quanto ao modo de significação:
A) Conceitos Unívocos: usam-se de um modo idêntico nos diferentes objectos. Ex: o conceito Planta
aplica-se para uma laranjeira; para – Mtsanya, para pau-preto, as algas.
B) Conceitos equívocos: são aqueles que se aplicam a sujeitos diversos, mas em sentido completamente
diferente. Ex: canto (de duas paredes); canto (de um grupo coral); canto (do galo).
C) Conceitos análogos: usam-se para as realidades comparáveis, isto é, não completamente idênticas, mas
também não completamente diferentes. Ex: Maria é uma linda moça; Songo é uma linda zona.
5. Quanto à perfeição:
A) Termos adequados: representam com perfeição o objecto. Ex: o Cão é carnívoro.
B) Termo inadequados: representam de forma imperfeita o objecto. Ex: a Rã é um animal aquático.
C) Termos claros: levam ao conhecimento do objecto.
D) Termos obscuros: são insuficientes para fazer conhecer o objecto;
E) Termos distintos: distinguem claramente um objecto do outro.
F) Termos confusos: não ajudam a distinção clara de um objecto no meio dos outros.

4.9. A DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS

A palavra Definição vem do Latim Definire, que significa delimitar ou colocar limites.
Definir um conceito é indicar os seus limites, para que não se confunda com os outros conceitos.
A definição é a operação lógica que consiste em determinar com rigor a compreensão exata de um
conceito.
A Definição é a explicitação e a especificação do significado de um conceito.
A definição de um conceito faz-se enumerando as suas qualidades essenciais, para que a sua noção seja tão
clara e precisa, para que o distingamos com a clareza do que esse conceito não é.
Para definirmos um conceito, temos de indicar o seu género mais próximo (aquilo que há de comum) e
estabelecer a diferença específica (aquilo que é próprio), ou seja, o que distingue uma determinada espécie
das outras, que são do mesmo género.
Por exemplo:

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O Homem é um animal racional
(termo definido) (género mais próximo) (diferença específica)
(Espécie)

4.9.1. Tipos ou espécies de Definições

A Definição de um conceito, como uma operação lógica, obriga-nos a fazer uma selecção de predicados e
uma abstracção de certos atributos ou qualidades dos objectos.
Há dois tipos de Definições: definição Real e Definição Nominal.
1. DEFINIÇÃO REAL: pode ter os seguintes subtipos:
A) Essencial ou metafísica: faz-se indicando as notas essenciais do género mais próximo e a diferença
específica. Ex. O Triângulo é um polígono de três lados.
B) Descritiva: faz-se pela enumeração das caraterísticas físicas relevantes e significativas. Ex: o Núcleo é
a região central do átomo, muito pequena, onde está concentrada a massa do átomo e onde se encontram
partículas elementares da carga positiva.
C) Final: define-se o objecto mediante a sua finalidade. Ex: A balança é um aparelho que serve para
medir a massa de um corpo.
D) Operacional: consiste em definir um conceito procedendo à sua avaliação e classificação. Ex: A idade
mental é a medida da inteligência calculada por testes.

2. DEFINIÇÃO NOMINAL: pode ser:


A) Etimológica: esclarece o sentido da palavra a definir, recorrendo ao étimo ou à origem dessa palavra.
Ex: a Philo-sophia é o amor pelo saber; Bio-logia é a ciência (logia) que estuda a vida (Bio).
B) Sinonímica: esta definição se faz recorrendo à outra palavra com o mesmo significado. Ex: Um cárcere
é uma prisão.
C) Estipulativa: esta define o significado que se atribuiu convencionalmente à palavra. Ex: A força é o
produto da massa pela aceleração; A Velocidade é o quociente da distância pelo tempo (V = s/t).

4.9.2. Regras de Definição

Para que uma definição seja considerada logicamente correcta, ela deve obedecer incondicionalmente às
seguintes regras:
1ª) Ela deve aplicar-se a todo o definido e só ao definido. Quer dizer, uma definição é válida, quando
aquilo que se atribui ao sujeito pertence só e só a ele, ou seja, quando se cumpre a exigência da
reciprocidade. Ex: o gato é um animal que mia. É o mesmo que dizer: o animal que mia é o gato.
2ª) A Definição não deve ser circular, isto é, o termo a definir não deve estar na definição (regra da não
circularidade). A não circularidade da definição permite que ela seja mais clara do que o termo definido. A
Definição não deve conter o termo a definir, nem termos da mesma família, para evitar o círculo vicioso.
Por exemplo: o Homem é um ser humano; o cilindro é uma figura cilíndrica; saboroso é aquilo que tem
sabor.

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3ª) A Definição não deve ser negativa enquanto puder ser afirmativa. Esta regra exceptua conceitos ou
termos que são, na essência, negativos, conceitos ou termos esses que designam privação. Nesses casos, a
Definição poderá ser necessariamente negativa. Ex: órfão é o ser humano que não tem pai nem mãe.
4ª) A Definição não deve ser expressa em termos figurativos ou metafóricos: se definir uma coisa é
explicar o seu sentido, dizendo o que ela é, então, não devemos, de forma alguma, numa definição, recorrer
à linguagem figurativa. Pois, a linguagem figurada ou metafórica não nos dá com precisão e clareza o
significado do termo a definir. Temos que evitar definições como as que se seguem: O Amor é fogo que
arde sem se ver; o Atletismo é a vitória do povo moçambicano.

4.9.3. Os conceitos e termos indefiníveis

Em geral, a Definição se faz indicando o género mais próximo e a sua diferença específica. Mas nem
sempre isso é possível. Por outras palavras, nem todos os conceitos são definíveis. Assim, os conceitos
indefiníveis são agrupados em três espécies:
 Géneros supremos: os géneros supremos são indefiníveis por excesso de extensão. Daí, eles possuem
os seus géneros mais próximos por onde se podem incluir. Ex: o conceito de Ser.
 Indivíduos: os indivíduos são indefiníveis por excesso de compreensão. Por isso, torna-se muito difícil
e até impossível descobrir num indivíduo uma caraterística (a diferença específica) que seja suficiente para
se distinguir dos outros conhecidos ou por conhecer. Deste modo, os indivíduos só podem ser nomeados ou
descritos. Por ex: Marcelina; António, Calambacua; nomeados: Marcelina é baixinha; António é alto; …
 Dados imediatos da experiência: os dados imediatos da Experiência sensível são por si só claríssimos,
não havendo, por isso, nenhuma definição que possa clarificá-los ainda mais. Não é possível obter dos
dados imediatos da Experiência que os torne mais claros ainda, a não ser a própria Experiência. Por ex:
nenhuma definição do prazer ou dor, amargura ou doçura, nos tornaria mais claro o que a experiência
nos diz sobre eles. Por isso, compreende melhor o que é doce, amargo, salgado, aquele que experimentou o
doce, o amargo, o salgado.

OS SILOGISMOS
Silogismo é o raciocínio formalmente estruturado que supõe certas premissas colocadas previamente para
que haja uma conclusão necessária.
O silogismo parte do universal para o particular; dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a
conclusão, logicamente, também o será.
A indução, ao contrário, parte do particular para o universal.
A Dedução parte do universal para o particular

Quadrado das oposições

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No sistema da lógica aristotélica, o quadrado das oposições, também conhecido como quadrado lógico
ou tábua das oposições, é um diagrama representando as diferentes formas que cada uma das quatro
proposições do sistema, está logicamente relacionado (isto é, do lado oposto) as outras três.
Formas lógicas
Toda proposição categórica (proposições da forma sujeito-predicado prefixada por um quantificador) pode
ser reduzida a alguma das seguintes quatro formas lógicas.
 Proposição 'A', a afirmação universal ("universalis affirmativa"), cuja forma em latim é "omne
S est P", normalmente traduzido como "todo S é P".
 Proposição 'E', a negação universal ("universalis negativa"), cuja forma em latim é "nullum S
est P", normalmente traduzido como "nenhum S é P".
 Proposição 'I', a afirmação particular ("particularis affirmativa"), cuja forma em latim é
"quoddam S est P", normalmente traduzido como "algum S é P".
 Proposição 'O', a negação particular ("particularis negativa"), cuja forma em latim é
"quoddam S non est P", normalmente traduzido como "algum S não é P".
Vértices do quadrado lógico em uma tabela

Nome Símbolo Latin Português Significado

A
Afirmação Universal Omne S est P Todo S é P Todo S é P

E
Negação Universal Nullum S est P Não S é P Nenhum S é P

Afirmação existencial Quoddam S est P Algum S é P Algum S é P

Negação existencial Quoddam S non est P Algum S não é P Algum S é não P

Relações entre as proposições


Através das proposições e das setas do quadrado, podemos ver as várias relações que se podem estabelecer
entre 'A', 'E', 'I' e 'O'.
Proposições contrárias (A ↔ E): São proposições universais que diferem só pela qualidade (negação ou
afirmação).
Exemplo: Todos os homens são brancos (A) e Nenhum homem é branco (E).
Proposições subcontrárias (I ↔ O): São proposições particulares que diferem só pela qualidade.
Exemplo: Alguns homens são brancos (I) e Alguns homens não são brancos (O).
57
Proposições subalternas ( A → I e E → O ): São proposições que só diferem pela quantidade. (número de
indivíduos que estão sendo relacionados)
Exemplo: Todos os homens são racionais (A) e Alguns homens são racionais (I);
Nenhum homem é branco (E) e Alguns homens não são brancos (O).
Proposições contraditórias (A ↔ O e E ↔ I): São proposições que diferem quanto à quantidade e
qualidade.
Exemplo: Todos os homens são brancos (A) e Alguns homens não são brancos (O);
Nenhum homem é branco (E) e Alguns homens são brancos (I).
Algumas leis do quadrado lógico
1. Regra das contrárias: Duas proposições contrárias não podem ser ambas verdadeiras ao
mesmo tempo.
2. Regra das contraditórias: Duas proposições contraditórias não podem ser nem verdadeiras
nem falsas ao mesmo tempo.
3. Regra das subcontrárias: Duas proposições subcontrárias não podem ser ambas falsas ao
mesmo tempo.
Aristóteles declarou no capítulo 6 e 7 de Periermeneias. Traduzido do original: Organon que há certas
relações lógicas entre estes quatro tipos de proposição. Ele alegou que toda afirmação tem exatamente uma
negação correspondente, e que toda afirmação e sua negação são opostas de tal forma que sempre uma
delas é verdadeira e a outra é falsa. Um par formado por uma afirmação e sua negação é chamado de
"contradição"(em latim: contradictio). Um exemplo de contradição é "todo homem é branco" e "nem todo
homem é branco", "nenhum homem é branco" e "algum homem é branco". Contrarias (latin: Contrariae),
são declarações tais que ambas não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Um exemplo disto é a
afirmação universal "todo homem é branco" e a negação do universal "nenhum homem é branco". Estas
afirmações não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, porém, elas não são contraditórias, pois pode ser
que as duas sejam falsas ao mesmo tempo. Por exemplo, é falso que todo homem é honesto, desde que
exista algum homem que não seja honesto. Então, não é verdade que nenhum homem seja honesto, desde
que haja algum homem honesto.
Uma vez que toda afirmação tem um oposto contraditório, e que toda contradição é verdade quando seu
oposto é falso, segue que os opostos dos contrários (que os medievais chamaram de subcontrárias, ou
subcontrariae) podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, mas não falsos ao mesmo tempo. Uma vez que as
subcontrárias são negações das afirmações universais, elas foram chamadas de afirmações "particulares"
pelos lógicos medievais.
Uma outra relação lógica que segue disso, não mencionada explicitamente por Aristóteles é a relação de
subalternação (subalternatio). Esta é uma relação entre uma afirmação universal e uma afirmação particular
tal que a particular é implicada pelo universal. Por exemplo: se "todo homem é branco" é verdadeira, então
a contrária "nenhum homem é branco" é falsa. Logo, a contraditória "algum homem é branco" é verdadeira.
Similarmente, a universal "nenhum homem é branco" implica na particular "nem todo homem é branco".
O problema da importação existencial
As subcontrárias, que os lógicos medievais representavam na forma "existe algum A que é B" e "existe
algum A que não é B" não podem ser ambas falsas, já que suas contraditórias universais "todo A é B" e
"nenhum A é B" não podem ser ambas verdadeiras ao mesmo tempo. Isso nos leva a um problema que foi
primeiramente identificado por Pedro Abelardo: "Algum A é B" parece implicar em "alguma coisa é A".
Por exemplo: "Algum homem é branco" parece implicar que, pelo menos, "alguma coisa é um homem", a
saber, homem que tem que ser branco se "algum homem é branco" for verdadeira. Mas "algum homem não
é branco" também parece implicar que "alguma coisa é um homem" a saber, homem que não é branco se

58
"algum homem não é branco" for verdadeira. Mas a lógica aristotélica exige que necessariamente uma
destas afirmações seja verdadeira. Então (dado que ambas implicam que algo é um homem), segue que,
necessariamente, algo é um homem, isto é, um homem de fato existe. Mas (como aponta Abelardon na
Dialética), não pode ser o caso que homens não existissem?
Mas se absolutamente nenhum homem existir, então não é verdade nem que "todo homem é um homem" e
nem que "algum homem não é um homem".
Abelardo também assinala que subcontrárias contendo termos de sujeito com denotação vazia, como "um
homem que é uma pedra" são ambas falsas.
Se "todo homem que é uma pedra, é uma pedra" for verdade, sua conversão 'per accidens(ou por acidente)
para "certa pedra é um homem que é uma pedra" também será verdade. Mas nenhuma pedra é um homem
que é uma pedra porque, nem este homem, nem aquele homem, nem nenhum outro, são uma pedra. Mas
também temos que "certo homem que é uma pedra, não é uma pedra" é falso por necessidade, já que é
impossível supor que isso seja verdade.
Assim sendo, temos que ambas as afirmações são falsas.
Conversão de preposições
A conversão de uma proposição consiste em tirar de uma proposição uma outra pela transposição dos seus
termos, de modo que o sujeito se torne predicado e o predicado sujeito. A proposição que se obtém por
processo de conversão não deve afirmar ou negar nada mais do que a proposição convertida.

ESCOLA SECUNDÁRIA E PRÉ-UNIVERSITÁRIA DE TETE

59
DISCIPLINA DE FILOSOFIA

11ª CLASSE

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO EM GRUPOS À ESCOLHA

PRIMEIRO TEMA:
a) A LINGUAGEM COMO FUNDAMENTO DA HUMANIDADE
b) Relação entre a Linguagem, o pensamento e o Discurso,
c) Relação entre a Linguagem e a comunicação;
d) As dimensões do discurso humano: dimensão sintáctica, semântica e pragmática;

SEGUNDO TEMA:
e) OS PRINCÍPIOS DA RAZÃO
1. O princípio de Identidade;
2. Princípio de contradição (ou de não contradição) e da negação das proposições;
3. O princípio do Terceiro excluído (ou do Meio termo excluído) e da negação dos conceitos.

TERCEIRO TEMA:
f) LÓGICA FORMAL: LÓGICA DO CONCEITO
1. O conceito e o Termo e a sua relação;
2. Compreensão e Extensão dos conceitos;
3. Classificação dos conceitos e termos;
4. Regras de definição dos conceitos e Termos

QUARTO TEMA:
g) LÓGICA DO JUÍZO
1. O Juízo e a proposição;
2. Juízos predicativos;
3. Classificação dos juízos;
4. Classificação das proposições;

QUINTO TEMA:
h) LÓGICA DO RACIOCÍNIO

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1. Noção de Raciocínio e sua divisão;
2. Noção de Inferência e suas espécies;
3. Oposição das proposições;
4. Lei das proposições;
5. Conversão das proposições.

NOTEM BEM:

1. A FORMAÇÃO DOS GRUPOS NÃO OBEDECE A NENHUM CRITÉRIO;


2. NÃO SE DETERMINA O NÚMERO DE PÁGINAS DO TRABALHO;
3. O TRABALHO TERÁ QUE SER DIGITALIZADO NO COMPUTADOR, COM CAPA, ÍNDICE,
INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO, CONCLUSÃO, BIBLIOGRAFIA;
4. O TRABALHO SERÁ ENTREGUE DIA 30 DE SETEMBRO DE 2015.
5. AS DEFESAS PELOS GRUPOS COMEÇARÃO UMA SEMANA DEPOIS DA ENTREGA DO
TRABALHO. TODOS OS MEMBROS DO GRUPO DEFENDERÃO O SEU TRABALHO E A TURMA
COLOCARÁ QUESTÕES E TOMARÁ NOTAS DURANTE AS EXPOSIÇÕES DOS GRUPOS
6. CADA GRUPO DEFENDERÁ O SEU TRABALHO NUMA SEMANA, ISTO É, EM TRÊS AULAS.
7. OS MEMBROS QUE NÃO ESTIVEREM PRESENTES NA ELABORAÇÃO E NA DEFESA DO
TRABALHO TERÃO NOTA ZERO.
8. A DEFESA VALERÁ 10 VALORES E A COMPOSIÇÃO DO TRABALHO VALERÁ 10 VALORES
TAMBÉM.

Bom Trabalho Professor Rosário

Escola Secundária de Chingodzi


EXERCÍCIOS ESCRITOS DE FILOSOFIA 11ª CLASSE, 6/9/2019
NOME ……………………........…………………………………………… No ……,Turma ……CURSO …..

1. Identifique, no trecho seguinte, o Princípio da Razão usado: “ quer se deva comer, quer não se deva
comer, é muito necessário comer. Mas, porque entre comer e não comer não há alternativa, logo, tem
que se comer”.
61
A) Princípio do terceiro excluído; B) Princípio de identidade; C) Princípio da Não contradição;
D) Princípio da Razão suficiente.

2. Chama-se VALIDADE FORMAL … A) A concordância do pensamento com o pensamento; B) o acordo


do pensamento com aquilo a que se refere; C) a correspondência do pensamento com a realidade; D) a
relação do enunciado com aquele que o enuncia.
3. Designa-se VALIDADE MATERIAL ou VERDADE … A) A adequação do conteúdo do nosso raciocínio
ou argumento à realidade pensada ou ao mundo real ou ao facto; B) a forma do nosso pensamento; C) a
matéria do nosso pensamento; D) a falsidade e a verdade do nosso discurso.
4. CONCEITO designa: A) acto mental pelo qual se confere uma certa qualidade a uma determinada classe
de objectos com características comuns; B) características comuns de certos objectos ou seres; C)
qualquer Palavra que se usa na expressão; D) qualquer forma de pensamento.
5. A Lógica do Conceito compreende a análise… A) dos conceitos, dos Termos, da Extensão e
Compreensão dos conceitos; B) do Conceito, da Palavra, do Termo e da Frase; C) do Juízo, das
proposições, dos Princípios da Razão suficiente; D) do Princípio de Identidade, da Não contradição e da
Negação das Proposições.
6. TERMO designa: A) A expressão verbal do Conceito; B) a evocação ou a fixação do Conceito na
linguagem; C) o acto mental com que classificamos uma classe de objectos; D) a roupagem verbal e
simbólica do Conceito.
7. Considere o seguinte enunciado: Samora Moisés Machel proferiu um discurso político por ocasião do
Acordo Geral da Paz, em 1992, em Roma.
É um enunciado formalmente válido, porque … A) está correctamente formulado, mas não está em
conformidade com a realidade que expressa.
É um discurso materialmente inválido, porque: B) não está em conformidade com a realidade que expressa,
embora não esteja correctamente formulado.
8. Os novos domínios da Aplicação da Lógica (a Cibernética, a Informática e a Inteligência Artificial)
surgem para … A) transferir as capacidades mentais do Homem para a máquina, com o fim de facilitar e
prolongar a actividade mental do ser humano; B) des-empregar o Homem ao empregar a máquina
inteligente em seu lugar; C) substituir o Homem pela máquina inteligente; D) simular as funções
superiores da inteligência humana.
9. Enquanto a Sintaxe preocupa-se com a ordem das palavras no discurso humano, a Semântica ocupa-
se do significado das palavras e a Pragmática preocupa-se com o aspecto prático do discurso. Este
enunciado é … A) Verdadeiro; B) Absurdo; C) Falso; D) Nenhuma das opções anteriores
As(os) três são: A) Dimensões fundamentais do discurso; B) Funções fundamentais da Linguagem; C)
Princípios fundamentais da Razão; D) Dimensões acessórias do discurso.
10. Há uma proporcionalidade entre a Extensão e a Compreensão dos conceitos: A) ela varia na ordem
inversa: maior compreensão implica menor Extensão e vice-versa; B) Ela é linear e cumulativa; C) é
contínua e descontínua; D) a menor extensão corresponde à pequena compreensão.
11. Indique a Compreensão crescente dos seguintes Conceitos: A) Lurdes Mutola, Maputense,
moçambicana, Africana, Ser vivo, ser humano, Ser.
B) Ser, ser vivo, ser humano, africana, moçambicana, maputense, Lurdes Mutola.
12. Indique a Extensão crescente dos seguintes conceitos: A) Ser, ser vivo, ser humano, africana,
moçambicana, maputense, Lurdes Mutola.
B) Lurdes Mutola, Maputense, Moçambicana, Africana, Ser vivo, ser humano, Ser.

62
13. Designa-se Género o Conceito de … A) pequena extensão em relação ao de grande extensão; B) de
maior extensão e maior compreensão; C) o conceito de maior Extensão comparativamente ao conceito de
menor Extensão; D) o conceito de maior compreensão relativamente ao de menor compreensão.
14. Chama-se Espécie ao conceito de … A) menor compreensão relativamente ao de maior compreensão;
B) pequena extensão em relação ao de grande extensão, C) maior compreensão relativamente ao de menor
compreensão; D) nenhuma das afirmações está certa.
15. Quanto à extensão, os conceitos classificam-se em: A) substantivos, pronomes, adjetivos verbos; B)
universais, particulares e singulares C) simples e compostos; D) gerais e particulares.
16. Falar do Conceito é … A) falar do Termo ou palavra B) falar de Ideia ou noção; C) falar de nomes ou
substantivos coletivos; D) nenhuma das opções é certa.
17. Leia com atenção a seguinte afirmação:
“A Semântica, como uma dimensão fundamental do discurso, trata da questão do sentido do discurso”,
Porque: quando uma pessoa usa uma certa palavra, a palavra significa aquilo que essa pessoa quer que a
palavra signifique.
a) A afirmação e a sua justificação são verdadeiras;
b) A afirmação é verdadeira, mas a justificação é falsa
c) A afirmação e a sua justificação são falsas;
d) A afirmação é falsa, mas a justificação é verdadeira;

18. Sublinhe os conceitos que são Género em relação aos conceitos que são Espécie: Loiça e Prato;
Material académico e Livros; Metal e Zinco; Pomar e Laranjeira; Meio de transporte e bicicleta.
19. Sublinhe todos os conceitos que são Espécie em relação aos conceitos que são Género: Manada e Vaca;
Planta e Algas; Rosário e Ser humano; Moçambique e Continente Africano; Equipa dos Mambas e
Ticotico; Ácido sulfúrico e Sustância química; Roupa feminina e blusa de alças; Triângulo rectângulo e
figura geométrica.
20. Veja bem: os seguintes conceitos sublinhados: “Números” e “Números pares”; “Exército português” e
“soldado”; “Matilha” e “Cachorro”; “Animais mamíferos” e “bovinos”. Em relação aos outros, são …
A) Espécie; B) Género; C) De grande compreensão; D) De boa extensão
21. Veja bem: os seguintes conceitos sublinhados: “Substantivos comuns” e “dinheiro”; “Província de
Tete” e “Distrito de Tete”; “Raça humana” e “Negros africanos”; “Açúcar” e “Alimentos energéticos”;
“Filósofos naturalistas” e “Tales de Mileto”; “Turma BG2” e “Aluna Atija”; “Sais minerais” e “Cloreto de
sódio”. Em relação aos outros, são …
A) Espécie; B) Género; C) De grande compreensão; D) De boa extensão

BOM TRABALHO

Padre Rosário Francisco


Escola Secundária de Chingodzi
EXERCÍCIOS ESCRITOS DE FILOSOFIA 11ª CLASSE, 6/9/2019

Respondam às seguintes questões entre colegas de mesma carteira. NINGUÉM RESPONDA COM ALGUÉM QUE NÃO É DE SUA CARTEIRA
NOME ……………………........………………………………………………… No ……,Turma ……CURSO …..
NOME ……………………………………………………………………….….......Nº….....,Turma …..... CURSO …..
NOME ……………………………………………………………………….….......Nº….....,Turma …..... CURSO …..

1. Identifiquem, no trecho seguinte, o Princípio da Razão usado:

63
“ Quer se deva comer, quer não se deva comer, é muito necessário comer. Mas, porque entre comer e não comer não há
alternativa, logo, tem que se comer”.
B) Princípio de identidade
C) Princípio do terceiro excluído;
D) Princípio da Não contradição;
E) Princípio da Razão suficiente.

2. Qual é a Relação que existe entre a Linguagem e a comunicação, na Lógica?


……………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………
…………………………………………………………………………………………………………………….......................

3. Qual é a Relação que existe entre o Pensamento, Linguagem e Discurso?


……………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………………………...............................

4. Na Dimensão Pragmática do discurso, qual é a Relação que existe entre Acto locutório, Ilocutório e
Perlocutório?
……………………………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………………………
…………………………………………………………………………………………………………………………………………………..
5. Na Lógica da Linguagem e da Comunicação, as Funções Referencial e Persuasiva assumem grande
importância. Por quê?
.........................................................................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................................
6. As dimensões Sintáctica, Semântica e Pragmática são indispensáveis no discurso e na nossa Comunicação.
Porque
……………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………
…………......................................................................................................................................................................................

7. As dimensões acessórias são dispensáveis no nosso discurso e na nossa comunicação. Porque


……………………………………………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………………………………………………………………
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8. Apresentem a importância dos princípios lógicos do Pensamento
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9. Expliquem o Princípio da não-contradição, do ponto de vista ontológico
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10. Expliquem em que consiste o princípio da Razão suficiente
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11. Designa-se VALIDADE MATERIAL ou VERDADE … A) a adequação do conteúdo do nosso raciocínio ou
argumento à realidade pensada ou ao mundo real ou ao facto; B) a forma do nosso pensamento; C) a matéria do nosso
pensamento; D) a falsidade e a verdade do nosso discurso.

12. CONCEITO designa: A) acto mental pelo qual se confere uma certa qualidade a uma determinada classe de
objectos com características comuns; B) características comuns de certos objectos ou seres; C) qualquer Palavra que se usa
na expressão; D) qualquer forma de pensamento.

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13. TERMO designa: A) a evocação ou a fixação do Conceito na linguagem; B) a expressão verbal do Conceito; C) o
ato mental com que classificamos uma classe de objectos; D) a roupagem convencional e simbólica do Conceito.

14. Considerem o seguinte enunciado:


“Samora Moisés Machel proferiu um discurso político por ocasião do Acordo Geral da Paz, no ano de 2017, em Roma”.
É um enunciado formalmente válido, porque … A) está correctamente formulado; B) não está em conformidade com o facto
que expressa.
É um discurso materialmente inválido, porque: A) não está em conformidade com a realidade que expressa; B) está
correctamente formulado.

15. Leiam com atenção a seguinte afirmação:


“A Semântica, como uma dimensão fundamental do discurso, trata da questão do sentido do discurso”.
Porque: quando uma pessoa usa uma certa palavra, a palavra significa aquilo que essa pessoa quer que a palavra
signifique.
A) A afirmação e a sua justificação são verdadeiras;
B) A afirmação e a sua justificação são falsas;
C) A afirmação é falsa, mas a justificação é verdadeira;
D) A afirmação é verdadeira, mas a justificação é falsa.

16. Indiquem qual é Função da Linguagem presente no seguinte enunciado: Doces são os teus lábios!
Morenos são os teus cabelos! És o Oceano do meu Amor. Peço-te que sejas minha e só para mim. Função
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17. Qual é o Contexto ou o Referente da seguinte Linguagem: Irmãos, oremos a Deus todo-poderoso,
para que, por meio do Espírito Santo, nos dê a sua inteligência e a sua Sabedoria, de modo que possamos
conduzir a nossa vida conforme Ele quer. Contexto
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18. Indique qual é Função da Linguagem presente no seguinte enunciado: votem no meu partido!
Haverá muitos hospitais, serão reabilitadas todas as estradas do Rovuma ao Maputo; o Ensino Superior será
gratuito, e os moçambicanos nunca mais ouvirão os tiros das armas. Função
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19. Qual é o Contexto ou o Referente da seguinte Linguagem: Irmãos, oremos a Deus todo-poderoso,
para que, por meio do Espírito Santo, nos dê a sua inteligência e a sua Sabedoria, de modo que possamos
conduzir a nossa vida conforme Ele quer.
A) Contexto académico; B) Contexto eclesial C) Contexto político D) Contexto rural.

20. Assinale a opção que melhor traduz a ordem crescente de compreensão dos seguintes conceitos:
A) PLANETA, ÁFRICA, MOÇAMBIQUE, PROVÍNCIA DE TETE, DISTRITO DE ANGÓNIA;
B) DISTRITO DE ANGÓNIA, PROVÍNCIA DE TETE, MOÇAMBIQUE, ÁFRICA, PLANETA

21. Assinale a opção que melhor traduz a ordem crescente da Extensão dos seguintes conceitos:
C) PLANETA, ÁFRICA, MOÇAMBIQUE, PROVÍNCIA DE TETE, DISTRITO DE ANGÓNIA;
D) DISTRITO DE ANGÓNIA, PROVÍNCIA DE TETE, MOÇAMBIQUE, ÁFRICA, PLANETA.

22. A) Ser; Ser vivo; animal; Vertebrado; Herbívoro; Mamífero; Elefante


B) Elefante; Mamífero; Herbívoro; Vertebrado; Animal; Ser vivo; Ser.

BOM TRABALHO
Padre Rosário Francisco
Escola Secundária de Chingodzi
EXERCÍCIOS ESCRITOS DE FILOSOFIA 11ª CLASSE, 6/9/2019

NOME ……………………........…………………………………………… No ……,Turma ……CURSO …..

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1. O que é a
Lógica?----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
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2. Em quantas partes se divide o Objecto de estudo da Lógica?


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3. Em que consiste o Objecto Formal ou Validade Formal?
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4. Em que consiste o Objecto Material ou Validade Material ou Verdade?
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5. Quando é que se diz que um discurso é materialmente válido?


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6. Qual é a Lógica que trata de Falso e Verdadeiro?
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7. Qual é a Lógica que trata dos Discursos formalmente válido e Inválido? --------------------
8. Para que serve o estudo da Lógica?
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9. O que é a Comunicação?
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10. O que é a Linguagem?
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11. O que é a Língua?
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12. Qual é a Relação que existe entre a Linguagem e a Comunicação?


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13. Quais são as Funções da Linguagem segundo Roman Jakobson?


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14. Em que consiste a Função Referencial ou Informativa da Linguagem?
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15. Em que consiste a Função Metalinguística da Linguagem?
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16. Em que consiste a Função Fática?
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17. Em que consiste a Função Emotiva ou Expressiva?
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18. Em que consiste a Função Estética?
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19. Em que consiste a Função Persuasiva ou apelativa?
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20. Por que é que se diz que as funções Referencial e Persuasiva são as mais
importantes na lógica?
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21. Qual é a dependência ou relação que existe entre a Linguagem, o pensamento e o
discurso?
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22. Quais são as três Dimensões fundamentais do Discurso?
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23. Quais as são as Dimensões acessórias do Discurso.
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24. Estabeleça a dependência ou relação que existe entre as três dimensões
fundamentais do Discurso.
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25. Como é que Michel Meyer define a Pragmática?
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BOM TRABALHO

Padre Rosário Francisco

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