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filosofia da música
19 a 21 de setembro de 2018
UNESP – Instituto de Artes
São Paulo, SP, Brasil
V Encontro Nacional de Pesquisadores em Filosofia da Música
19 a 21 de setembro de 2018
UNESP – Instituto de Artes
São Paulo, SP, Brasil
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Ficha Técnica
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
CHEFE: Ricardo Lobo Kubala
COMISSÃO CIENTÍFICA
Lia Tomás (UNESP)
Mário Videira (USP)
Mónica Vermes (UFES)
Marita Fornaro Bordolli (Universidad de la República, Uruguai)
Roberto Illiano (Centro Studio Opera Omnia Luigi Boccherini, Lucca, Itália)
Fulvia Morabito (Centro Studio Opera Omnia Luigi Boccherini, Lucca, Itália)
Massimiliano Sala (Centro Studio Opera Omnia Luigi Boccherini, Lucca, Itália)
COMISSÃO DE GESTÃO
Lia Tomás
Eder Wilker Borges Pena
Tiago de Lima Castro
APOIO
Programa de Pós-Graduação em Música (UNESP-IA)
Departamento de Música (UNESP-IA)
Centro Studi Opera Omnia Luigi Boccherini (Lucca, Itália)
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)
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Programação
19 Setembro – Quarta-feira / 19 Septiembre – Miércoles / September 19 – Wednesday
09:00-10:00 Credenciamento
10:00-12:30 Abertura
Conferência: "El 'Concurso Nacional de Música' durante el franquismo (1940-1973):
política cultural, orientaciones ideológicas y cambios estéticos en una iniciativa
institucional"
German Gan Quesada (Universidad Autónoma de Barcelona, Espanha)
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20 Setembro – Quinta-feira / 20 Septiembre – Jueves / September 20 – Thursday
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15:00-15:20 "Quo vadis?" and other works by Feliks Nowowiejski in North and South
America. History and the present day
Ilona Dulisz (University of Warmia and Mazury in Olsztyn, Polônia)
15:20-15:40 Las compañías españolas de zarzuela en Uruguay y su labor en la educación
musical informal
María del Coral Morales-Villar (Universidad de Jaén, Espanha); Carolina Gilabert
Sánchez (Universidad Pablo de Olavide de Sevilla, Espanha)
15:40-16:00 En Blanc et noir. The controversy around the music of Oscar Strasnoy at the
French Festival “Présences” 2012.
Martin Liut (Universidad Nacional de Quilmes, Argentina)
16:30-18:30 Mesa redonda: História, sociologia e crítica musical
Tânia Garcia (UNESP-Franca), Márcia Tosta Dias (UNIFESP), Luciana Dadico
(UNESP-IA), Mediador: Lia Tomás
20:00 Confraternização
Comunicações - Auditório
Tema: Estética, Filosofía da Música e Crítica Musical
09:00-09:30 Jacques Derrida y Jean Luc Nancy, un diálogo en la frontera
Mauro Ignacio Rosal (Universidad Nacional de Quilmes, Argentina)
09:30-10:00 Deleuze e Guattari: a potência do ouvinte
Poliana Almeida (Instituto Federal da Bahia)
10:00-10:30 Hegel e a crítica musical
Reginaldo Rodrigues Raposo (USP)
10:30-11:00 A dialética entre expressão e construção nos escritos musicais de Theodor
Adorno sobre Anton Webern
Sofia Andrade Machado (UFOP)
11:00-11:30 A crítica musical em Charles Avison (1709-1770)
Marcus Held (USP)
11:30-12:00 Música, sentido e espectador a partir de Gadamer
Laís Belinski Roman (UFRGS)
Comunicações - Sala
Temas: A recepção da música europeia e norte-americana na América do Sul
As relações Norte-Sul na crítica da música erudita-clássica
09:00-09:30 León J. Simar (1909-1983): un compositor belga en Cali (Colombia) como
ejemplo de los procesos de migración de músicos europeos a Latinoamérica
en el siglo XX
Adriana Carolina Correa (Universidad Nacional de Colombia)
09:30-10:00 Da modinha à polca: aproximações e distanciamentos entre Brasil e Europa
nos gêneros formadores da música urbana brasileira
Luciana Fernandes Rosa (USP)
10:00-10:30 El Grupo de Renovación Musical más allá de los límites insulares: Europa y
Estados Unidos en la construcción de la identidad musical cubana
Belén Vega Pichaco (Universidad de la Rioja, Espanha)
10:30-11:00 A internacionalização da música contemporânea brasileira através dos
festivais
Danilo Pinheiro de Ávila (UNESP-Franca)
11:00-11:30 “Cultura latino-americana: acerca de uma possível noção para a música de
concerto transfronteiriça numa leitura estética a partir de Theodor W.
Adorno e Herbert Marcuse”
Ney Arruda (UFMT)
Comunicações - Sala
Tema: Estética, Filosofía da Música e Crítica Musical
09:00-09:30 A relação entre música instrumental e política: a liberdade interna do objeto
musical na teoria de Lydia Goehr
Caroline Marine de Oliveira (UFRGS)
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09:30-10:00 Homem do mundo ou artista?: uma leitura de John Cage a partir da captura de
Charles Baudelaire
Laryce Rhachel Martins Campos (UFC)
10:00-10:30 A Viola Caipira na academia: Uma análise estético-filosófico-musical
Sidnei de Oliveira (USP)
10:30-11:00 “Reabilitação do Preconceito” e Performance Musical
Fernando Garcia (UFRGS)
11:00-11:30 Noções de Sentido na Escuta-Acontecimento
Pedro de Albuquerque Araujo (UFRJ)
14:30-16:30 Mesa redonda: Tendências das pesquisas em filosofia da música no Brasil
João Paulo Nascimento (UNESP-IA), Gláucio Zangheri (USP-ECA), Eder Wilker
Borges Pena (UNESP-IA), Tiago de Lima Castro(UNESP-IA), Rodrigo Lopes (UNESP-
IA)
16:30 Encerramento
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Resumos
Comunicações - Auditório
Tema: Estética, Filosofía da Música e Crítica Musical
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formas e matérias que estão aí nos signos culturais e expressões de vida em geral. O
aspecto de jogo da criação parece exigir constantemente uma atividade de produzir
relações com o mundo, de materializar de uma ou de outra forma as relações de tempo e
espaço. De Schiller em diálogo com outros autores abrimos a reflexão para um mundo
contemporâneo complexo que envolve infinitos modos de fazer e pensar a música. Nos
desafiamos aqui a pensar a livre criação nesse contexto.
Marcus Mota
Universidade de Brasília (UnB)
Nesta comunicação, são apontados os modos pelos quais tais paralelismos temáticos se
efetivam em suas sobreposições, convergências e divergências.
Cauê Martins
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Theodor Adorno (1903-1969) é conhecido por seu trabalho em sociologia, em geral, e por
sua sociologia da música, em particular. Esses temas estão sistematizados em sua obra, a
exemplo dos livros Introdução à sociologia (1968) e Introdução à sociologia da música
(1962). O surgimento das técnicas de reprodução de obras de arte, no início do século XX –
que mobilizou muitos de seus pares intelectuais, sendo Walter Benjamin o mais célebre –
também foi recorrente em seus estudos. Dos primeiros ensaios de crítica musical nos anos
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1920 à formulação de sua Teoria estética nos anos 1960, passando pelas obras clássicas
sobre dialética e pela criação do conceito de indústria cultural, a música gravada (desde os
fonógrafos e discos de gramofone até a era do long-playing) foi um tema tratado com certa
recorrência e que abre possibilidades de interpretação de sua teoria crítica, sobretudo de
seus aspectos sociológicos. No entanto, como objeto específico de análise, a música
gravada foi tema de quatro ensaios do autor: “Curvas da agulha” (1928), “A forma do disco
fonográfico” (1934) “Orfeu no inferno” (1968) e “Ópera e LP” (1969). Os dois primeiros
trabalhos foram publicados, respectivamente, nas revistas de crítica musical Musikblätter
des Anbruch e 23. Os demais foram editados na revista semanal Der Spiegel.
Nos quatro ensaios, a concepção da fonografia como escrita é central. Portanto, o objetivo
da comunicação é apresentar alguns conceitos abordados nesses ensaios pouco debatidos
da obra adorniana, ressaltando, em todos eles, a relação que se faz entre a música gravada
e a escrita.
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delas, se nós não tivéssemos tido essa música desconhecida, então tampouco teríamos
possuído seus bem conhecido escritos sobre música, assim Adorno comenta Schoenberg. O
presente trabalho tende-se abordar um caminho de mão dupla, ou seja, tentar fazer uma
análise sobre a Teoria e a prática da composição dodecafônica. Tal abordagem, que na
verdade consiste em um modo pouco comum de encarar a crítica de Adorno à técnica
dodecafônica, geralmente tomada unicamente do ponto de vista filosófico, justifica-se na
medida em que parece apontar para um entendimento mais abrangente dela e da ainda
praticamente inexplorada produção composicional do autor. A ideia de que a composição
musical seria o verdadeiro objeto de uma filosofia da nova música não torna-se estranha a
Adorno. No prefácio da filosofia da nova música, o autor é claro ao afirmar que a situação
da composição musical é a única que realmente poderia decidir sobre a situação da
própria música. Portanto, deve-se acreditar que não existe uma violação ao pensamento
do autor ao problematizar a sua crítica à composição que considerava técnica e
esteticamente a mais avançada ao redigir seus escritos musicais da primeira metade do
século passado, levando em conta algumas de suas próprias composições dodecafônicas.
Para Adorno a miséria da Estética aparece imanentemente no fato de ela não poder ser
constituída nem desde cima, nem a partir de baixo, nem desde os conceitos, nem a partir
da experiência aconceitual.
Comunicações - Sala
Tema: Nacionalismos a adaptação/rejeição de modelos estrangeiros
da crítica musical
Como es fácil comprender, el desarrollo musical peruano, junto con los demás aspectos de
la cultura en el país, se ha visto constantemente bombardeado por algunos de estos
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discursos de reconstrucción ancestral en los que el mundo occidental es mitologizado y
congelado en el tiempo como símbolo de una otredad invasora e imperial. Dentro de las
culturas musicales peruanas, uno de los mundos donde esta dicotomía entre las
comunidades imaginadas de ‘imperio occidental’ y ‘nación ancestral’ ha encontrado un
espacio de confrontación, es el de la música académica, representada bajo el modelo de
Conservatorio y del compositor culto de herencia europea. Es dentro de este mundo
académico tradicional, que un desarrollo musical especifico, el de la música electrónica y
electroacústica, ha encontrado resistencia desde un doble frente: el de una tradición
musical milenaria indigenista por recuperar y mantener, y el de una tradición defensora
de la música culta europea detenida en la ‘practica común’ europea. Estos dos mundos, si
bien han sido escenario de sus propias disputas con respecto al contenido y función de las
artes musicales, tienen en común la defensa de dos conceptos de tradición y por lo tanto se
sienten ajenas a la visión de cambio como un aspecto positivo del desarrollo musical.
Este artigo tem por objetivo discutir o impacto causado por estrangeirismos musicais em
dois movimentos de fundamental importância para a vanguarda musical brasileira erudita
e popular. Tanto o manisfesto Música Nova de 1963, como o Movimento da Tropicália de
1967-68 vislumbraram a possibilidade da geração de uma identidade nacional carregada
de modernismos e estrangeirismos em sua concepção poética de composição. O enlace
entre ambos os movimentos se deu por meio dos inovadores arranjos de maestros como
Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Damiano Cozzela que, uniram o popular, o pop e o
experimentalismo estético às idéias tropicalistas, impulsionando a modernização não só
da música popular, mas da própria cultura nacional. Para a discussão deste artigo
partimos da leitura crítica da historiografia que trata dos manifestos, seus protagonistas,
estruturas políticas e suas poéticas musicais, para em seguida evidenciar sua identidade
nacional de influências estrangeiras. Para tal, nos apoiaremos nas discussões de Canclini
sobre modernidade e modernização, de Coelho sobre a contracultura, Contier sobre o
nacional internacionalizado, Garcia sobre o nacional popular, assim como Neves da
musicologia histórica. Acreditamos corroborar com a hipótese de que os nacionalismos
identitários na música brasileira seja erudita seja popular, estão nos misticismos, misturas
e cambios tão presentes na cultura nacional.
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Harry Partch e Walter Smetak: música experimental em perspectiva
Por volta de meados do século XX, a partir de considerações teóricas sobre sistemas de
afinação alternativos ao tonalismo e insatisfeito com o meio instrumental disponível, o
compositor estadunidense Harry Partch deu início a construção de diversos instrumentos
musicais incomuns contendo seu próprio sistema de afinação a fim de evitar as escalas
temperadas maiores e menores. Contudo, a pesquisa de Partch ia além de apenas novos
sistemas de afinação: consistia em uma abordagem completamente nova em relação a
música, colocando em prática seu conceito de “música corpórea” (corporeal music). Essa
atitude levou-o a enfrentar muitas dificuldades para divulgar sua música nas salas de
concerto, permanecendo nos círculos de música experimental. Poucos anos mais tarde, o
compositor suíço Walter Smetak trouxe ao Brasil uma abordagem semelhante, misturando
tendências microtonais com a música folclórica brasileira. Os conceitos de material sonoro
e “plásticas sonoras” de Smetak influenciaram vários músicos de vanguarda em busca de
novos meios expressivos, notadamente o movimento da Tropicália na Bahia, que desafiou
vários paradigmas da música, da arte e da política, tornando-se um movimento cultural
que mesclava elementos de música folclórica, música popular urbana e rock americano. No
caso de Smetak, os instrumentos musicais eram concebidos como “esculturas sonoras”,
gerando qualidades sonoras muito específicas, com abundância de ocorrências
microtonais. Apesar de sua educação clássica em violoncelo, seu hibridismo cultural
superou as dicotomias entre música clássica e popular no Brasil e abriu as possibilidades
para novas fontes sonoras e artísticas. Apesar da importância de Partch e Smetak na
música experimental do século XX, apenas recentemente os dois compositores receberam
atenção no meio acadêmico e tiveram seu trabalho colocado em programas de concertos.
Devido a predileção por fontes sonoras incomuns, escritas musicais alternativas e, acima
de tudo, sistemas de afinação não-temperados, a maior parte da música destes
compositores é quase desconhecida atualmente, sendo mantida principalmente por
pesquisadores e alguns dos seus próprios discípulos. Como ambos compositores refletem
tendências semelhantes em relação às experiências sonoras, essa comunicação visa
colocar em perspectiva parte do seu trabalho, destacando semelhanças e diferenças
estéticas. Assim, a avaliação desses conceitos pode contribuir para uma discussão mais
ampla sobre a música experimental nos EUA e no Brasil do século passado.
“Primavera nos Dentes”: uma relação atlântica entre Brasil e Portugal (1955-1973)
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conscientizadora no seio do sistema é inventar “contra a mola que resiste”. Devido ao seu
posicionamento, Apolinário sofreu perseguição política e em 1963 se exila no Brasil, junto
com seus filhos. Em solo tropical, João Ricardo, filho de Apolinário, retomou “Primavera
nos Dentes” e musicalizou o poema, a canção foi interpretada pelo seu conjunto, o Secos &
Molhados, no contexto da ditadura militar. Assim, observando nosso objeto, apontamos
para um caminho que ignora as fronteiras nacionais. Objetivamos compreender a
circulação de ideias entre Brasil e Portugal e suas conexões com outras regiões do globo,
dessa forma, podemos melhor analisar os sentidos de leitura e escuta dessa obra.
Comunicações - Sala
Tema: A recepção da música europeia e norte-americana na América do Sul
O presente trabalho tem como finalidade discutir sobre os aspectos que cercam as tensões
geradas no Brasil pela incorporação de elementos musicais e extramusicais desenvolvidos
pelos músicos de rock nos Estados Unidos e Europa na segunda metade da década de
1960. Nesse período, o Brasil estava atravessando um momento de repressão e censura
ocasionado pela ditadura militar. Dessa forma, uma identidade cultural nacional foi
determinada pela esquerda engajada na luta contra o governo ditador. O discurso de
enfrentamento esquerdista prezava por uma cultura puramente brasileira, onde os
músicos deveriam se unir contra o regime, compondo musicas com letras que
denunciassem os problemas sociais nacionais e, eminentemente, deveriam ser executadas
através de ritmos e instrumentos “genuinamente” brasileiros. Porém, a atitude do
movimento tropicalista a partir de 1967 e consequentemente dos artistas do rock
brasileiro da década de 1970, no sentido de introduzir o rock juntamente com a música
popular brasileira, geraram conflitos tanto com a direita conservadora, quanto com a
esquerda engajada que não admitia a cultura estrangeira no país.
Fernando Magre
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Em 1974, Mauricio Kagel (1931-2008) esteve no Rio de Janeiro com seu ensemble para
duas apresentações na Sala Cecília Meireles. Kagel, compositor argentino radicado na
Alemanha desde 1957, já era naquele momento reconhecido como uma importante figura
no campo da música contemporânea europeia, sobretudo por seu inovador repertório de
música-teatro (ou teatro instrumental, como preferia chamar).
Música-teatro é um gênero surgido no início dos anos 60 que consiste, em linhas gerais, na
criação cênica ou cênico-musical a partir de técnicas composicionais musicais. Nesta
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prática, os elementos da linguagem teatral (tais como movimentação, iluminação,
cenografia, etc.), são tratados como materiais passíveis de serem manipulados
composicionalmente, da mesma maneira que os sons. Mauricio Kagel é frequentemente
reconhecido como o pai deste gênero, não apenas por ter sido um dos primeiros a definir
suas formas, mas também por seu amplo e variado conjunto de obras.
Este trabalho busca lançar luz à recepção da música-teatro no Brasil, quando da passagem
de um de seus mais importantes representantes pelo país. Para tanto, analisaremos três
críticas publicadas em jornais cariocas, duas delas do compositor Ronaldo Miranda. A
primeira, escrita antes do concerto, apresenta comentários superficiais sobre as obras,
provavelmente extraídos de algum material de divulgação. Nela, Miranda demonstra certa
expectativa, exaltando que o público carioca viveria experiências incomuns. Na segunda
crítica, intitulada “Kagel: conceitos sem música”, Miranda aparece decepcionado, fazendo
apontamentos severos sobre as obras e a personalidade de Kagel enquanto compositor.
Em sua concepção, a obra do argentino estaria mais relacionada à arte conceitual, em que
predomina a ideia sobre o resultado. Quanto a isso, Miranda é assertivo: “No nosso
entender, Kagel seria mais coerente com sua arte se abolisse a palavra ‘música’ do rótulo
de suas apresentações” (MIRANDA, 1974).
A outra crítica encontrada é de autoria de Paulo Dantas. Feroz, o autor começa apontando
que o destino das vanguardas é a comunicação apenas entre iniciados, indicando esta
como uma forma de distinção de castas. Compara as obras de Kagel com o Dadaísmo,
utilizando adjetivos como “elitista” e “intelectualizado” de modo negativo para reforçar
sua crítica, para, por fim, afirmar que foi uma apresentação entediante.
Estas críticas demonstram uma aversão à música experimental. O fato das obras
apresentadas não trabalharem majoritariamente com melodias, mas sim com ruídos e
explorações sonoras diversas, pode ter sido um fator para sua rejeição. Contudo,
certamente foi o caráter cênico pós-dramático e de comunicação não-imediata, beirando o
grotesco, que provocaram tal reação agressiva, sobretudo em Paulo Dantas.
Há que se ressaltar que a recepção mais enviesada é uma constante no campo da música-
teatro, não somente no Brasil. Para nós que investigamos a história da música-teatro
brasileira, é de fundamental importância compreender como se deu a recepção de sua
expressão europeia aqui, a fim de que possamos traçar paralelos e, com isso, identificar os
caminhos que o gênero percorreu no cenário brasileiro.
[14]
nuestra música (1891). El viaje a la Argentina, iniciado desde Barcelona el dos de agosto de
1910, ha recibido del compositor un capítulo en sus memorias y la presentación de su
ópera ha causado la discusión en la crítica argentina que el compositor gustaría que
hubiera pasado en su país.
El viaje era un proyecto del maestro Juan Goula que había tenido la idea de llevar hasta
Argentina, en el Teatro Colón de Buenos Aires, una muestra de la creación operística
española con la presentación de obras de los compositores Tomás Bretón, Emilio Serrano
y Felip Pedrell, que fueron invitados para el viaje. La ópera elegida para iniciar la
temporada de la compañía española fue Els Pirineus con estreno en el 10 de septiembre.
Los críticos locales se asomaron a las presentaciones de las obras ejecutadas por la
compañía española y estamparon en los periódicos de la ciudad sus comentarios y juicios.
Pedrell tenía una gran expectativa con la recepción y con la crítica, pues se trataba de una
posible ejecución más minuciosa y en mejores condiciones que las del estreno en el 1902
en el Gran Teatre del Liceu de Barcelona.
Nuestro trabajo, basado en las críticas musicales realizadas en los periódicos de la capital
argentina y en las memorias del compositor Felip Pedrell en el libro Jornadas Postreras,
buscará comprender las dimensiones de la recepción de la ópera Els Pirineus en
Latinoamérica y los reflejos en el pensamiento estético de Pedrell como un compositor que
buscaba refuerzos de aprobación para sus propuestas de un lenguaje musical de carácter
nacional.
Katharina Doring
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
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metodológicos e epistemologias aplicados ao ensino, a teoria e performance das musicas
afro-latinas numa perspectiva decolonial.
Comunicações - Auditório
Tema: História da Crítica Musical
Carmen Noheda
Universidad Complutense de Madrid (UCM, Espanha)
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Una de las óperas con mayor repercusión es El Público. Ópera bajo la arena en cinco
cuadros y un prólogo (2015), creada por el compositor Mauricio Sotelo, junto al libretista
Andrés Ibáñez y el escenógrafo Alexander Polzin. El Público se basa en la obra homónima
de Federico García Lorca (1898-1936), escrita en Cuba hacia 1930 tras su viaje a Nueva
York en uno de los periodos más convulsos de su vida. Sus páginas son un enigma del
teatro español moderno y, por ello, el desaparecido director artístico Gérard Mortier las
escogió para convertirlas en una ópera que representara a su vez al mundo
hispanohablante moderno. Esta pieza insondable dentro de la producción lorquiana forma
parte de lo que el autor denominaba como su Teatro imposible. Este Teatro imposible
confronta en El Público la manera de comprender el género entre el Teatro al Aire Libre y
Bajo la Arena, una pulsión entre la violencia del deseo creativo y los convencionalismos.
El estudio analiza los conflictos de la dramaturgia musical y la escena teatral para concebir
una ópera bajo la arena a partir del tema de la homosexualidad y la máscara en el teatro,
elementos que ahondan en la ambigüedad identitaria. Su proyecto como arte en/de
transformación trasciende a la creación para alcanzar el plano de la realidad a nivel
político y social, cuestión que nos ha llevado a seleccionar varias escenas que destacan por
la integración del flamenco como planteamiento alterflamenco. Esta apuesta experimental
se compromete con la memoria oral en sus cualidades estéticas e ideológicas desde una
visión no folclórica alejada de esencialismos. La investigación considera el tratamiento
espectral de la voz y la corporalidad del baile flamenco en la transfiguración de una danza
de caballos que tensionan la identidad sexual en la tercera escena del primer cuadro, ‘El
biombo’. Asimismo, se ha escogido el cuadro cuarto, ‘La revolución’, por su importancia
escenográfica. Alexander Polzin da sentido a la temática al instalar gigantes espejos que
invaden la totalidad del escenario del Real para reflejar sala y público, el verdadero
protagonista enfrentado a sus miedos, deseos y prejuicios. El análisis también incluye la
concepción multicultural del surrealismo lorquiano que propone el mexicano Roberto
Castro, director de escena, a través de la exploración del saludo maya In lak’ech, yo soy
otro tú; hala ken, tú eres otro yo. La creación de El Público lucha con las contradicciones de
representación hasta revelar el teatro oculto y auténtico, y convertirse así en una ópera
bajo la arena.
[17]
transiciones que tienen que ver con valores identitarios locales siempre puestos en
tensión con modelos y proyectos extranjeros, preponderantemente europeos. Así, en el
contexto cosmopolita decimonónico de consolidación del Estado-Nación, en la
modernización consolidada durante la primera mitad del siglo XX y con la idealización que
de ambos períodos se hizo en los imaginarios culturales posteriores, se definen tanto el
canon como los repertorios (Corrado, 2005) que han marcado el gusto musical en
Uruguay.
Marcos Mesquita
Universidade Estadual Paulista – Instituto de Artes (UNESP-IA)
Segundo Jacques Barzun, quando Berlioz nasceu, em 1803, Mozart ainda era considerado
um inovador perigoso e pouco tocado na França; Haydn, embora vivo, era quase
desconhecido neste país, enquanto a música de Ludwig van Beethoven era um “sinônimo
de cacofonia e loucura” (1982, 28). Ou seja, o estilo musical clássico ainda estava se
consolidando frente ao público francês. Ainda na juventude de Berlioz, raramente uma
sinfonia de Beethoven era apresentada integralmente em Paris. Os movimentos que eram
eventualmente tocados, eram corrigidos naquelas que eram consideradas ousadias
harmônicas inaceitáveis e tinha seções cortadas. Somente em 1828, a Société des Concerts
du Conservatoire apresentou integralmente, em Paris, a Sinfonia nº 3, Eroica, obra com um
nível de exigência auditiva tão alto como o daquele de suas obras mais intimistas e
arrojadas, como as sonatas de piano ou os quartetos de cordas do compositor alemão.
[18]
Devido ao sucesso de público alcançado por esta sinfonia, várias outras obras de
Beethoven foram apresentadas nos concertos subsequentes desta sociedade.
Sendo um profissional liberal dos novos tempos, Berlioz era obrigado a se dedicar a várias
atividades para garantir sua subsistência, incluindo a escrita de artigos e críticas musicais.
Em 1838, ele publicou, na Revue et Gazette Musicale, vários artigos sobre as sinfonias de
Beethoven que, agrupados mais tarde, receberiam o título de Étude critique des
symphonies de Beethoven, o qual foi publicado, em 1844, em seu livro Voyage musicale en
Allemagne et en Italie e, em 1862, em seu livro À travers chants: études musicales,
adorations, boutades et critiques. Beethoven havia morrido há dez anos quando da
publicação dos artigos na revista citada acima. Seu legado começava a ser discutido mais
aprofundadamente fora das regiões europeias de fala alemã, sua música começava a ser
apresentada com maior frequência pela Europa e seu nome se tornava conhecido por um
público mais amplo. Neste instante, a voz de Berlioz se ergue na França para proclamar o
compositor alemão como um dos representantes máximos da arte musical de um novo
tempo – romântico e idealista, alternadamente republicano e monarquista e, malgré tout,
um pouco mais democrático.
[19]
deseja enxergar a Musicologia, levantando os pontos de intersecção encontrados no artigo
e concordando com a abordagem de Myriam Chimènes, estreitando as relações entre a
Disciplina e as Ciências Humanas, sugerindo também que a responsabilidade de estreitar
esses laços deve ser partilhada com a Historiografia, onde a Música poderia estar mais
presente enquanto objeto de estudo.
René Descartes escreve o Compendium Musicæ em 1618, sendo esta sua primeira obra. O
autor propõe que a finalidade da música seja deleitar e movimentar paixões, ou afetos, no
ouvinte, de maneira a romper com o pensamento boeciano, vigente em sua época, na qual
a música instrumental, aquela produzida pelos indivíduos, deveria ser um reflexo da
música mundana, ou seja, da própria ordem do cosmo. Por mais que a teoria exponha uma
teoria claramente renascentista, Descartes a expõe através de uma metodologia diferente
e repensando a finalidade da música. Compreender essa proposição passa por analisar
tanto a inserção desse texto na obra cartesiana, como o diálogo que sua concepção sobre
música realiza com autores contemporâneos, ainda mais tendo em conta que por ser uma
obra de juventude, de maneira a não cometer anacronismos. Além de Isaac Beeckman,
para o qual o texto é dedicado, e Gioseffo Zarlino, citado no texto, pode-se perceber um
diálogo com Aristoxeno, Francisco de Salinas, Giulio Caccini, Jean e Murs, Pontus de Tyard
e Vicenzo Galilei.
Rodrigo Lopes
Universidade Estadual Paulista – Instituto de Artes (UNESP-IA) /CAPES
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registro das mudanças que a cultura musical na França e na Inglaterra estava sofrendo, e
por isso o interesse estético relacionado à sua discussão.
Comunicações - Sala
Tema: Estética, Filosofía da Música e Crítica Musical
[21]
quando o compositor se engaja de forma consequente na presença desses conteúdos
problemáticos.
O trabalho que será aqui apresentado tem o objetivo de pensar a temporalidade das obras
de arte de música eletrônica de pista com base no conceito de pós-produção na obra de
Nicolas Bourriaud e nos conceitos de temporalidade estética e simultaneidade da obra de
arte em Verdade e Método I, de Hans Georg Gadamer.
[22]
da repetição se dá pela presença de elementos sonoros, rítmicos e estilísticos conhecidos e
reconhecíveis na obra musical. Sobre esse aspecto, vale ressaltar que a dançabilidade,
dada por células e compassos rítmicos típicos de gêneros musicais específicos da história
da música eletrônica de pista, é um dos principais elementos que devem ser representados
para que a obra seja entendida como tal, ou seja, uma música eletrônica de pista, e não
outra categoria de música eletrônica.
O fato de ser uma linguagem musical que se utiliza bastante da combinação, reelaboração
e na interferência de material gravado fornece uma parte importante, mas não absoluta,
da originalidade dessa forma de arte. A apropriação concreta de objetos culturais pré-
existentes ora nos remete ao passado, ora ao presente, ou ainda uma série de lugares e
representações que variam de acordo com a subjetividade de cada um. Assim, através da
reprodução, se consegue criar uma série de obras e gêneros musicais conhecidos como
música eletrônica de pista.
Mauricio de Bonis
Universidade Estadual Paulista – Instituto de Artes (UNESP-IA)
Ainda que não tenham se constituído como um grupo de compositores e intérpretes com
uma unidade consistente, tanto no que diz respeito à continuidade da produção quanto a
seu alinhamento estético, os signatários do Manifesto Música Nova (publicado em 1963 na
Revista Invenção) foram responsáveis pela divulgação no Brasil da música de vanguarda
europeia das décadas de 1950 e 1960 e das discussões e questionamentos suscitados em
seu entorno. Abriram com essa iniciativa um amplo horizonte de novas influências,
materiais e procedimentos composicionais, em oposição às tendências até então
hegemônicas. Tanto em suas posições pessoais quanto em seu programa de ação musical,
esses compositores e intérpretes reivindicam um alinhamento entre o estado da arte das
últimas experiências artísticas e seu significado progressista ou até revolucionário, vendo
a composição e a crítica musical um campo de relevo no combate às forças reacionárias na
sociedade. Essa prerrogativa, exposta de forma provocativa e bastante irônica em uma
entrevista de membros do grupo na grande mídia (Música não-música antimúsica,
publicada n’O Estado de S. Paulo em 1967), é questionada no ano seguinte por Roberto
Schwarz, em seu texto Nota sobre vanguarda e conformismo. Por um lado, a entrevista ao
Estado, realizada por Júlio Medaglia com os compositores Damiano Cozzella, Rogério
Duprat, Willy Corrêa de Oliveira e Gilberto Mendes, pode hoje ser avaliada tanto em
relação ao Manifesto Música Nova (e ao Plano Piloto para a Poesia Concreta, do qual é
diretamente reminiscente) quanto às trajetórias ulteriores, marcadamente contrastantes,
de seus protagonistas. Ao mesmo tempo, uma vez colocada em perspectiva a crítica de
Schwarz, é possível verificar sua pertinência em relação aos posicionamentos políticos
posteriores e à evolução do pensamento musical de cada um desses compositores. Se as
contradições no tom geral de seu discurso nessa entrevista são bem apontadas por
Schwarz, que inclusive faz uso do mesmo teor irônico daqueles que critica, faz-se
necessário precisar uma diferenciação ausente em sua crítica, entre o pensamento, os
posicionamentos e as contradições de cada um dos compositores entrevistados, o que é
possível de se propor com mais clareza observando sua trajetória em retrospecto.
[23]
Instantiating the infinite: palindrome, philosophy, and the music of Arvo Pärt
Nicholas Johnson
Butler University (USA)
Arvo Pärt’s compositions often sound as if they are momentary glances at infinite musical
processes. Once a musical pattern is set in motion, it is bounded only by the limits of
instruments, text, or the human voice. This is especially true in the early tintinnabuli
works, which seem to instantiate a specific moment of a far larger piece, creating the sense
of spirituality and otherness that attracts a diverse audience, as Peter Bouteneff and Paul
Hillier have revealed.
Palindrome is among the many devices of Pärt’s compositional language that helps to
create this illusion. Examples of this technique appear throughout his career, such as in
Perpetuum Mobile and Credo from his serial era, Trivium für Orgel and Sarah was Ninety
Years Old from his early tintinnabuli phase, and Magnificat Antiphons and Triodion from
his mature tintinnabuli works. Scholars have long observed these palindromes; however,
few have explored their origins or effect. Building upon the studies of his compositional
methods by Anna Shvets and Leopold Brauneiss, this essay offers an examination of Pärt’s
palindromes from analytical and philosophical positions, as well as an exploration of
reception in the North and South regarding post-modern philosophy and new spirituality.
These palindromes did not originate from Pärt’s well-known study of early music, as they
appear rarely in the Middle Ages, with exceptions such as Machaut’s secular “Ma fin est
mon commencement,” and only slightly more often in the Renaissance; nor are they
afforded a special place in Orthodox theology. Instead, Pärt’s use of palindrome most
closely relates to other composers of the twentieth century who explored spirituality in
their music, such as Messiaen, Górecki, and Tavener.
Palindrome in the music of Pärt creates a suspension of time, a tangible expression of the
past and future meeting, even as that significance is communicated only physically on the
score and rarely noticed by the listener. I argue that his frequent use of palindrome
stemmed from a devotion to the textuality of the written score. As Derrida argued in
Writing and Difference regarding meaning in the postmodern age, “to be is to-be-in-the-
book.” Palindrome provides textual devotion and an instance of an otherwise ethereal
experience, aiding a text-obsessed culture in contemplation of the textless divine.
[24]
julgamentos de valor exercidos sobre a arte em Paris eram delegados, principalmente, à
imprensa e ao papel dos críticos, os quais possuíam grande influência e poder deliberativo.
Porém, isso resultou em uma série de atitudes não profissionais por parte dos críticos, ao
mesmo tempo em que, os compositores, os quais se tornavam cada vez mais ativos na
publicação de textos sobre música e arte, ao lado de fortes figuras institucionais, atacavam
a prática crítica. Como a maioria do repertório das salas de concerto era constituído de
obras já consagradas pelo cânone, as críticas eram frequentemente superficiais sem
nenhuma discussão real ou análise musical e se focavam em grande parte em comentários
acerca das interpretações.
Assim, era comum que críticas fossem escritas com semanas de antecedência do concerto
em análise, críticos fossem comprados para emitir determinada opinião e uma espécie de
farsa crítica se criava através da manutenção de interesses mútuos, dos financiadores e
dos críticos que lucravam e mantinham sua posição. A publicação de um comentário
antecipado servia como um mecanismo de estabelecer antecedência crítica, aquele quem
fornece a notícia em primeira-mão, no entanto, esta prática se tornava completamente
absurda quando, em certos casos, a crítica de um concerto era publicada antes mesmo de
seu acontecimento. Essa condição era preocupante, uma vez que estes críticos eram
responsáveis por julgar a legitimidade das obras musicais.
Desta forma, O trabalho se propõe a apresentar uma breve análise da situação do cânone,
no período de 1911 – 1925, buscando compreender as raízes de um dos maiores
mecanismos de distinção e disciplina. O aspecto do silêncio é abordado neste contexto, e
em contraste ao exemplo da obra de Erik Satie, por representar um dos primeiros embates
musicais ao mesmo, em virtude do riso proporcionado pela obra humorística. O trabalho
também se propõe a relatar o status quo do cânone e fazer uma descrição de seu modus
operandi, relatando suas práticas arbitrárias, muitas vezes, fradulentas, suas estratégias de
controle do produto final histórico e repressão de compositores indesejados, no caso, Erik
Satie.
[25]
humanistas e as práticas musicais da Renascença, em seus diálogos com a música da
Antiguidade. Quando Palisca publica o estudo Humanism in Italian Renaissance musical
thought, em 1985, o alcance da obra dos compositores e críticos da Renascença havia sido
pouco investigado. O estudo dos escritos dos principais nomes responsáveis pela
transmissão do pensamento musical grego – Pietro d’Abano, Giorgio Valla, Carlo Valgulio,
Antonio Gogava, Francesco Burana e Nicolò Leoniceno – elucida questões centrais que, na
tradução inglesa do original italiano feita por Palisca (1985), demonstram sua relevância
histórica. A presente pesquisa se atém, pois, à consideração das fontes historiográficas
sobre as relações entre a música e o pensamento da Antiguidade (conhecido graças aos
registros escritos dos críticos e músicos da Renascença). Concederemos especial atenção
ao Dialogo della musica antica et della moderna, de Vicenzo Galilei, atentando para a forma
como o compositor elabora suas reflexões na forma de um diálogo entre a música da
Antiguidade e a do século XVI. A mirada que os humanistas italianos, tais como Gioseffo
Zarlino e Galilei, lançaram para o passado musical grego reflete uma procura por
arquétipos composicionais e por um entendimento mais vasto das relações e funções
musicais possíveis, o que representaria, do ponto de vista radical e empírico de Galilei,
uma reinvenção da prática musical moderna, inspirada na prática antiga. Testemunho
central que repercutiu nas especulações renascentistas é o de Aristóxeno (séc. IV a.C.), que
proveu, em seus “Princípios harmônicos”, motivos para séculos de reflexões sobre
questões musicológicas e estéticas em sentido lato. Ao enfatizar o uso da faculdade de
percepção do som, Aristóxeno entende que o músico deve exercitar sua capacidade crítica
e conhecer as diversas matérias musicais, tanto teóricas quanto performáticas. O filósofo
propõe uma metodologia que propiciasse independência aos estudos da música com
relação a outras ciências da Antiguidade tais como a acústica. Seus escritos perpassam a
definição de vasto léxico musicológico e conceitos fundamentais que serão retomados
criticamente por diversos autores dos primórdios da cristandade e medievais, ressoando
fortemente nas concepções renascentistas. Não obstante a antiguidade dessas reflexões,
sua substância interpretada revela uma pluralidade de significados possíveis para a
poética musical contemporânea.
Comunicações - Sala
Temas: A recepção da música europeia e norte-americana na América do Sul
A recepção da música sul-americana na Europa e América do Norte
[26]
Santos Football Music (1969, para orquestra e fita magnética), de Gilberto Mendes. Nessa
peça, o compositor santista se utiliza de diversos processos tradutórios entre a música e
universo do futebol, esporte-signo da cultura latino-americana, que traz consigo a
meandricidade identitária desses locais. Além disso, Mendes propõe nessa peça uma visão
sincrônica da história (como visto em Julio Plaza) da música ocidental: faz clusters
coexistirem com os arquétipos de acordes tonais; escritura gráfica com tradicional;
orquestra com fita magnética; entre outros exemplos. Entre a complexidade de uma
proposta de tradução lúdica somada a uma acumulação/sobreposição de técnicas
composicionais, a peça de Mendes propõe também uma interação com o público,
convidando-o a “torcer” durante a música. Investigamos então qual o lugar do dessa
música no contexto na qual ela se insere - as salas de concerto - discutindo de que forma
ela respeita e/ou subverte esse ambiente e suas convenções. Assim, procuramos entender
como se dá, em Santos Football Music, o choque entre uma cultura latino-americana pós-
colonial e signos europeus herdados nesse ambiente musical (sala de concerto, orquestra,
convenções de escuta, etc).
Siegwart Reichwald
Converse College (EUA)
Piazzolla was one of the most inimitable musicians of the twentieth century with his
Tango Nuevo style, which relied heavily on his personality as bandoneon virtuoso. Having
created his own musical space—apart from yet influenced by tango, classical, jazz, and
[27]
popular styles—his music seemed doomed to recede into the background after his death.
Yet Piazzolla’s name has been on the rise. Interestingly, the success of Piazzolla’s music is
found primarily in arrangements for the concert hall, posing fundamental questions about
authenticity: Have these arrangements distorted or even lost the essence of Piazzolla’s
Tango Nuevo? What is the content and meaning of Piazzolla’s music? Can it be captured
without the bandoneon and Piazzolla’s personality?
These questions about Piazzolla’s music are seemingly magnified in “Verano Porteño.” As a
mainstay throughout Piazzolla’s long career with a variety of different ensembles, the
work exists in two distinct versions—a shorter, simpler version for his quintets and a
longer nonet version—extending the essence of the work beyond an authoritative score.
My chosen arrangements offer three very different perspectives, based on both versions:
Leonid Desyatnikov’s showpiece for Gidon Kremer based on the quintet version; José
Bragato’s piano trio arrangement of the nonet version; and Tobias Kassung’s edgy re-
envisioning of the quintet version for the Cologne Classical Ensemble. All three
arrangements are unmistakably Piazzolla, yet their recontextualizations have created
three highly personalized versions with similar content.
As the assessor for the Argentine popular archives of music, Bragato presumably realized
Piazzolla’s music would gain broader exposure within the framework of a conventional
chamber concert. Kassung offers a more radical arrangement, creating a postmodern
version with minimalist tendencies. Yet my analysis shows that Kassung stays actually
closest to Piazzolla’s score. But his masterful re-orchestration emphasizes different
musical ideas. The most fascinating moment happens in the returning A section where the
seeming piano “doodeling” of the original becomes the primary material, creating very
minimalist sound. Kassung does not change a single note; he only reinterprets the score in
a new way.
My analysis of the score and its recontextualizations shows the arrangements to be just
further translations of Piazzolla’s own distinct but parallel iterations of “Verano Porteño,”
offering the work’s clear content and meaning created in the image of the
arranger/performers.
"Quo vadis?" and other works by Feliks Nowowiejski in North and South America.
History and the present day
Ilona Dulisz
[28]
University of Warmia and Mazury in Olsztyn (Polônia)
Feliks Nowowiejski (1877-1946) belongs to the group of the most important Polish
composers of the first half of the 20th century. He also became famous as a conductor, a
concerting organist, educator and social activist. Especially in recent years, his work has
gained importance, primarily thanks to the "Year of Feliks Nowowiejski" in 2016,
announced by the Sejm of the Republic of Poland. He is an extremely prolific composer,
creator of oratorios, operas, masses, symphonies, concerts, solo and choral songs as well
as organ pieces, including symphonies and concertos for solo organs.
He was educated, among others in Berlin at the Stern Conservatory and the Royal
Academy of Arts, College of Catholic Church Music and Musical Education in Regensburg,
Bavaria. He achieved his first successes as a student of Max Bruch, when the world was
enchanted by his oratory "Quo vadis?". Until the outbreak of the Second World War
(1939), the work was staged over 200 times in many countries of Europe, Russia and also
in North America (Baltimore, Cincinnati, Boston, New York, Indianapolis, Philadelphia, San
Francisco, St. Louis, Toronto and South (Alastrigt, Buenos Aires, Rio de Janeiro.) The
reception of this work during the life of the composer is a peculiar phenomenon.
The subject of the speech will be the presence of Feliks Nowowiejski's music in North and
South America during the composer's life, his contacts with the Polish Diaspora and the
contemporary performances and reception of the composer's works on both continents.
[29]
convirtió en una familia dedicada a la zarzuela creando toda una tradición del teatro lírico
español en el Río de la Plata. Otras iniciativas empresariales partieron de músicos como
Rogelio Juárez y el caso de las tiples Matilde Petrel, Julia Fons, o la figura de Fidela
Campiña, cantante y maestra de canto reconocida, que llegó a crear su propia compañía en
Argentina.
En Blanc et noir. The controversy around the music of Oscar Strasnoy at the French
Festival “Présences” 2012.
Martin Liut
Universidad Nacional de Quilmes (Argentina)
The decision of the 22nd edition of the French Festival "Présences" to have as guest of
honor the composer Oscar Strasnoy was marked by controversy. The Festival, organized
by Radio France in 2012, featured a 41-year-old composer from Argentina, who had
graduated from the National Conservatory of Paris (Le "célèbre CNSM"). But Strasnoy was
developing a heterodox career, with a group of successful operas, with an aesthetic mainly
oriented toward the intertextuality and hybridization, followed by a belligerent attitude to
the mainstream of “la Musique contemporaine française”.
In this context, I will focus on the opposing responses regarding Strasnoy's music I found
between two outstanding musical critics from France and Argentina. Both were the main
critics of their respective journals: Pierre Gervasoni, from Le Monde and Federico Monjeau
from Diario Clarín (the main newspaper of Argentina).
Strasnoy was invited to presented different symphonic and chamber music and to choose
the repertory of the other composers to be played together with his own works.
For the Argentine critic Mr Monjeau it was a "captivating experience"; for his French
colleague, Mr. Gervasoni, it represented a “plaisir absente".
Pierre Gervasoni had questioned the decision of the director of the Festival, Jean-Pierre Le
Pavec, to invite Oscar Strasnoy, as the composer “portrait” because he had a lesser
notoriety than the great names of international contemporary music programmed
previously: Du temps de sa splendeur, à la fin des années 1990, le festival Présences de Radio
France offrait un large panorama de la création contemporaine. En passant commande à de
nombreux compositeurs de divers horizons et en diffusant massivement la musique d'une tête
d'affiche de prestige (Berio, Ligeti, Kagel). Rien de tel aujourd'hui. Cette manifestation, qui
n'est plus que l'ombre d'elle-même, réduit son intérêt à un seul nom, celui d'un invité
d'honneur de moindre notoriété (Gervasoni : 2012).
This paper is the continuity of a Ph.D. thesis (in co-supervision between the EHESS, France
and the UNQ of Argentina) about the music of a group of composers of Argentine origin
that are currently based in Paris. Here, I will analyze the writings of both musical critics, as
well as the previous statements of Strasnoy and the director of the Festival. These para-
[30]
texts will be put in dialogue with Strasnoy’s works that were listened to during the
Festival of 2012.
Comunicações - Auditório
Tema: Estética, Filosofía da Música e Crítica Musical
El texto preparado para esta ponencia busca poner en relación las tesis que sostiene
Jacques Derrida en El monolingüismo del otro referidas a la lengua con problemas
asociados al lenguaje musical y, en especial, al tópico de este Congreso: los vínculos entre
el norte y el sur. En el libro mencionado, el filósofo sostiene dos posiciones
contradictorias: nadie habla más que una lengua y nadie habla una sola o única lengua. En
este sentido, lo que se pone en juego es tanto el monolingüismo como las políticas de
colonización. Por otra parte, tomaremos y haremos dialogar estas tesis derrideanas con lo
que dice Jean Luc Nancy en El arte hoy. Allí, nos propone la idea de artes individuales en
lugar de un arte totalizante y, con especial relevancia, la idea de verdad relacionada con el
mundo. Esto es que las artes sólo pueden encontrar la verdad en el mundo, que es su
condicionante, pero que por otra parte son el espacio del sujeto. Así, el mundo sólo puede
ser percibido desde el interior, sólo hay mundo en nuestro mundo, y no hay posibilidad de
contemplarlo más que de modo fragmentado. Pero, por otra parte, esa parcialización de la
mirada no refiere a una perspectiva particular sino a la afirmación del sujeto, de un yo. Es
1Proyecto dirigido por el Dr. Martín Liut y radicado en la Escuela Universitaria de Artes de la Universidad
Nacional de Quilmes, Argentina.
[31]
en estos puntos, donde el diálogo con las tesis de Derrida cobran importancia: mi lengua,
que es sólo una pero no es única, ¿puede (de)mostrar mi posición frente al mundo?; la
apropiación que se hace de lo que no nos pertenece ¿puede condicionar la unicidad de mi
yo?; mi yo ¿pertenece a una comunidad? Todos estos interrogantes pueden ser aplicados
sobre la relación entre el lenguaje musical y el sujeto de la música. Y, a su vez, las
respuestas que puedan darse intentarán sostener la hipótesis principal de este trabajo: no
hay norte sin sur, ni sur sin norte; todo lo que tenemos que ver es cómo se deconstruyen
uno a otro a través de una alternancia impostergable de diferencias, un juego irreductible
a la oposición de partida.
Poliana Almeida
Instituto Federal da Bahia (IFBA)
Já não se faz música como antigamente, já não se ouve música como antigamente. Fato é
que os ouvintes contemporâneos têm mais acesso a música que nos tempos em que
Adorno e Horkheimer alertavam-nos sobre os perigos dos agenciamentos da Indústria
cultural. Mas ainda hoje vemos surgir questões relativas a qualidade musical pertinentes a
teorias e estéticas elaboradas no início da era da radiodifusão que nos levam a duvidar da
capacidade de elaboração de julgamento musical válido por parte dos ouvintes
contemporâneos. Há um abismo entre a Estética Clássica e os paradigmas
contemporâneos da música, agora também sob a influência das novas tecnologias que
regulam não somente a produção musical como os meios de difusão e as formas de
recepção. Sob essa perspectiva contemporânea, faz-se necessário repensar o papel da
Filosofia, sendo que não cabe mais a ela, neste contexto, o papel de elaboradora de um
juízo sintético, ao contrário, a visão de multiplicidade que impera requer da Filosofia o
papel do sintetizador sonoro, que reúne em si inúmeras possibilidades de sons,
misturando-os, amplificando-os, contextualizando-os ou desterritorializando-os. Assim ao
invés de um movimento de deslegitimação de determinados gostos musicais seria
importante buscar compreender o potencial que cada ouvinte traz em si de construir
sentidos para a música. Sentidos esses que não são apenas o resultado da análise dos
elementos musicais. Independente das qualidades, do material, da forma, o que de fato
interessa na
elaboração do juízo musical é o estado de força do ouvinte. Esse estado de força, que
também chamo potência do ouvinte é capaz de ressignificar a obra de arte musical a cada
vez que é reproduzida. Sendo assim apresento nesse trabalho alguns aspectos do
pensamento de Deleuze e Guattari que são importantes para a construção de um
pensamento estético mais próximo do mundo contemporâneo. Diferente de Adorno,
Deleuze e Guattari, mesmo não desprezando o poder do agenciamento das mídias e da
música pop, não negam a possibilidade de ação das massas frente a esse agenciamento ou
mesmo nesse contexto massificador nasça um novo tipo de povo, tão mais adaptado às
novas tecnologias que se torne imune a elas; “singularmente indiferente às ordens do
rádio, aos controles dos computadores” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p. 143). Esse novo
ouvinte deixa-se invadir pelo som, elaborando seu julgamento musical, não a partir do
material escutado, mas de acordo com seu estado de escuta, sua potência de ouvinte.
[32]
Hegel e a crítica musical
Se Hegel, nos cursos de estética (tanto na edição Hotho quanto nos cadernos de alunos),
mais de uma vez sublinhou na música um caráter problemático quanto a sua relação com
um conteúdo capaz de alçá-la à dignidade artística das demais artes particulares,
buscando a determinação desse conteúdo em elementos forâneos ao domínio mais
propriamente (ou puramente) musical, não raramente se lê em comentários musicológicos
a respeito de uma “preferência filosófica” pela música vocal, que, complementada pela
objetividade (para ele, interior) de um texto poético, se torna capaz de elaborar mais
adequadamente sua própria unidade. Isso se justificaria “pois o elemento musical é algo
tão abstrato, que, se se deve prosseguir na indicação do específico, ele somente pode ser
tratado através de designações técnicas” (HEGEL, G. W. F. Vorlesungen zur Ästhetik:
Vorlesungsmitschrift Adolf Heimann 1828/29. Edição de Alain Patrick Olivier e Annemarie
Gethmann-Siefert. Munique: Wilhelm Fink, 2017, pp. 149, traduções nossas). No entanto, a
questão não é assim tão simples. Ao que parece, ao revelar que “em tempo mais recente a
música (...) se volta para um lado da arte, ao mero interesse, a saber, para o que é apenas
questão para o especialista” (HEGEL, G. W. F. Cursos de estética. Tradução de Marco
Aurélio Werle e Oliver Tolle. São Paulo: Edusp, 2014, v. III, pp. 286 e 287), Hegel manifesta
a natureza de uma oposição que não é somente filosófica, mas é antes de tudo histórico
filosófica. Nesse sentido, quatro eventos musicais importantes marcaram a década de
1820, quando Hegel ministrou os cursos de estética em Berlim: o ‘frenesi por Rossini’, a
recepção de Beethoven, a première de O Franco-Atirador e a redescoberta da Paixão
Segundo São Mateus. Hegel, no entanto, só se refere a três deles, optando por deixar de
lado a recepção de Beethoven, que não é sequer citado pelo filósofo – em um “silêncio
eloquente”, como diversas vezes colocou o musicólogo alemão do século XX Carl Dahlhaus.
Pretendemos, assim, discutir a peculiaridade desse “silêncio” e mais detidamente a
respeito da questão da “música autônoma”, como subtítudo presente nos textos da estética
hegeliana, e também a “autonomia na música” como um elemento em jogo no debate
histórico mais amplo da época.
[33]
concepção romântica da expressão para a concepção da arte moderna, onde a construção,
em lugar do estilo, ganha maior importância. A ênfase na construção como a contraparte
necessária da expressão transforma a concepção do sujeito, que antes enfatizava o talento
do artista criador, o gênio excessivamente subjetivo, para o artista que se entrega
completamente ao trabalho com o material, à procura da configuração da forma. O artista
não procura mais, como o gênio de Kant, as regras que a natureza confere à arte. A
expressão do humano, do sofrimento, daquilo que não encontra lugar na realidade social, é
encontrada onde ela não é procurada, onde ela inevitavelmente transparece. A construção,
como contraparte do aspecto expressivo, enfatiza a importância da mobilização da
racionalidade nas obras de arte, pois é a partir do trabalho racional que se pode evitar
incorrer naquilo que se tornou natureza dominada. Adorno menciona o ascetismo da
expressão, ligado ao trabalho racional que é mobilizado na complexidade da construção,
em alguns segmentos mais radicais da arte moderna. Adorno enfatiza o ascetismo da
expressão na música de Webern, ressaltando a ideia do compositor como o sujeito
completamente entregue ao material. Webern atingiu a plena complexidade da
construção, tanto ao utilizar a escrita atonal livre quanto posteriormente, ao explorar as
possibilidades de utilização da série dodecafônica. No ensaio Anton von Webern (1959),
Adorno define a ideia musical de Webern como “a ideia da lírica absoluta: a tentativa de
dissolver toda a materialidade musical, incluindo todos os momentos objetivos da forma
musical, no puro som do sujeito, sem resto que se oponha alheio, resistente, inassimilável”.
Assim como a expressão tem como sua contraparte necessária a construção, o sujeito se
mantém dialeticamente complementar ao objeto, não se sobrepondo ao material, mas
buscando extrair dele suas possibilidades expressivas. Adorno afirma que, na música de
Webern, ocorre o equilíbrio entre construção e expressão, de forma que a expressão
advém do rigor construtivo. As afirmações a respeito do caráter subjetivo da composição
de Webern não são contraditórias ao conceito do primado do objeto, exposto na Teoria
estética. Adorno menciona o “puro som do sujeito” se referindo a um sujeito-obra, à
consistência com que Webern trabalha a construção, abdicando, em nome desta, de tudo o
que não for essencial perante sua estrutura.
Marcus Held
Universidade de São Paulo (USP)
O século XVIII foi cenário de uma pluralidade estilística musical, pautada na consolidação,
recepção e emulação dos dois grandes estilos italiano e francês. Os gostos estabelecidos
por Arcangelo Corelli (1653-1713) e Jean-Baptiste Lully (1632-1687) e propagados por
seus discípulos e admiradores tiveram interpretações e influências variadas nas demais
nações do continente europeu, tendo sido alvo de análises, estudos e críticas naquela
mesma época. Na Inglaterra, conhecida por seu culto à autoridade italiana durante o
século XVIII, pensadores como Shafetsbury (1671-1713), Hutcheson (1694-1746) e Hume
(1711-1776) dedicaram suas obras ao entendimento da construção moral e estética do
indivíduo, tendo as expressões artísticas – nacionais e estrangeiras – como suas
ferramentas de argumentação. Além deles, o filósofo e músico britânico Charles Avison
(1709-1710), aluno de Francesco Geminiani (1687-1762), violinista italiano radicado em
[34]
Londres, empregou esforços à compreensão do discurso musical em An Essay on Musical
Expression (1752). Essa obra, objeto de estudo da presente comunicação de pesquisa,
oferece um claro panorama musical britânico de meados do século XVIII, e discute vários
de seus aspectos – gostos, estilos, performance – e a relação das influências estrangeiras
no métier musical daquele país. Com esta pesquisa, observaremos as visões inglesas –
comparando esta com outras preceptivas filosóficas (Shafetsbury e Hume) e musicais
(Geminiani) setecentistas – do conceito de imitação, de emulação, do efeito da
performance (pronuntiatio) ao caráter e às paixões da alma e poderemos observar as
posições de Avison em relação aos gostos musicais italiano e francês (com grande
resistência ao estilo veneziano), além de entender como esses influenciaram o estilo de
composição britânico.
O espectador, enquanto participa, é momento da essência do ser estético, e por sua vez,
tem a sua essência constituída pela simultaneidade, pois está fora de si e é ao mesmo
tempo. Para falar sobre a estrutura do espectador, e o seu envolvimento no jogo da obra
[35]
de arte, Gadamer toma como exemplo o que dizia Aristóteles em sua Poética a respeito da
tragédia. O objetivo não é entrar em detalhes sobre essa definição de tragédia, mas
observar o modo de ser do espectador enquanto alguém afetado pela tragédia. A relação
de sentimentos e significados que o espetáculo trágico incita no espectador exigem a
continuidade de sentido e a mediação consigo mesmo para que o espectador alcance a
obra. Ele encontra a si na situação trágica.
Gadamer estabelece uma relação entre o que se passa na tragédia e um âmbito maior. Em
outras configurações, como na poesia, nas artes plásticas e na música, não há algo externo,
um mundo mágico. Ao contrário, há resquícios da mimesis, há a posição do artista que se
dirige a um público e promete causar-lhes efeito. “Nesse sentido, como indivíduo, como
consciência pensante, ele não precisa saber expressamente o que faz e o que expressa sua
obra.” (GADAMER, 2015, p. 193). Não se trata de um mundo estranho, o significado
sempre dialoga com a individualidade e é alcançado através da continuidade de sentido
que permanece e une a obra de arte ao mundo da existência.
Comunicações - Sala
Temas: A recepção da música europeia e norte-americana na América do Sul
As relações Norte-Sul na crítica da música erudita-clássica
León Jean Simar (1909-1983) fue un músico nacido en Bélgica que migró a Colombia en
1957 como producto de las dificultades sociales y económicas dejadas por la Segunda
Guerra Mundial. Su vinculación con el periódico belga La Légia, para el cual escribía la
crónica musical semanal, lo llevó a hacer parte de un grupo de artistas belgas acusados de
colaborar con la ocupación durante la guerra. Este hecho desencadenó una latente
persecución que llevó Simar a trasladarse hacía tierras latinoamericanas con el fin de
desarrollar su labor musical en un entorno menos conflictivo. A través del análisis de la
migración como vía de incorporación de las tradiciones académicas europeas en el
contexto de la ciudad de Cali (Colombia) durante los años 50´s, pretendo documentar los
aportes de este compositor a la formación de músicos caleños y su efecto en la
transformación del entorno musical académico de la época.
[36]
estándares de la tradición musical europea, ya que fue el creador de la Escuela de Música
de la Universidad del Valle, institución que se convirtió en un referente de formación
musical en el país entre 1960 y 1970. Este hecho hace parte de la consolidación de la
formación profesional para los músicos colombianos en la segunda mitad del siglo XX bajo
los estándares europeos promovidos tanto por músicos migrantes, como por los músicos
colombianos formados en el exterior. Gracias a esta investigación es posible entender las
implicaciones que conlleva la migración no sólo del compositor, sino de su música, su
formación académica y su concepción del arte y de la sociedad.
La relevancia del trabajo de Simar se puede evidenciar en tres aspectos concretos: una
labor pedagógica materializada en la fundación de la Escuela de Música de la Universidad
del Valle, un legado musical amplio (obra constituida por cerca de 900 composiciones y
arreglos que incluye repertorio para orquesta, instrumentos solistas y coros, colecciones
de canciones religiosas y material pedagógico) y un activismo para el entendimiento de la
música europea en diferentes esferas de la sociedad caleña.
Este trabajo busca reconocer la obra y legado de León Simar, así como documentar su
historia como un caso concreto de migración musical transcontinental, el cual permitirá
visualiza el papel de un músico europeo en la transformación del contexto musical de un
país latinoamericano. Además, esta investigación da cuenta de una de las formas en que el
entorno musical Colombiano reaccionó ante este fenómeno migratorio, abriendo o
negando oportunidades concretas a músicos extranjeros.
A modinha, gênero muito comum em meados do século XVIII no Brasil, teve no mestiço
Domingos Caldas Barbosa (1740-1800), filho de um português e de uma escrava
alforriada, seu maior expoente. Caldas Barbosa, não obstante tenha sido criado e se
desenvolvido musicalmente no Brasil, foi o responsável pela introdução da modinha em
Portugal. Neste movimento de expropriação do gênero da colônia para a sede em Portugal,
observa-se um processo dicotômico de aceitação deste gênero brasileiro - entoado por um
mestiço e aceito pela elite da corte lisboeta - inclusive pela própria D. Maria I, que
admirava aquele tipo de música diferente da que se ouvia em Portugal. No entanto, alguns
setores da aristocracia portuguesa foram refratários ao sucesso de Caldas Barbosa e sua
[37]
influência naquela sociedade, por considerarem sua música cheia de arroubos românticos
- uma influência ruim à juventude portuguesa (SEVERIANO, 2008, p.15).
Com a chegada da família real em 1808 no Brasil o panorama musical e social passa por
transformações profundas que irão surtir efeitos também nas práticas musicais e culturais
como um todo, principalmente no Rio de Janeiro, que se tornou capital do Império. Junto
com a corte vieram muitos membros da aristocracia portuguesa, inclusive músicos,
criando dessa forma, a continuação das práticas musicais de Lisboa e suas influências
europeias na nova sede do Império. A música instrumental e os novos gêneros de dança,
em voga na Europa, como a valsa, a quadrilha, o schottisch, a polca, a mazurca, a habanera
e o tango foram ganhando espaço nas composições e nas salas de concerto cariocas.
Compositores como Henrique Alves de Mesquita, Joaquim Callado, Anacleto de Medeiros,
Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth absorveram e recriaram estes gêneros europeus,
incorporando também traços de música que se ouvia no Brasil de procedência africana e
indígena, como o lundu e o cateretê, dando origem a gêneros híbridos que se tornaram
populares dentro e fora do Brasil.
Este trabalho busca, desta maneira, analisar estes processos que culminaram na formação
e consolidação de gêneros brasileiros como o a polca, maxixe e o choro, assim como a
aceitação de compositores e música popular brasileira na Europa neste período.
El Grupo de Renovación Musical más allá de los límites insulares: Europa y Estados
Unidos en la construcción de la identidad musical cubana
Sin otra frontera que el Atlántico, Cuba, lejos de encontrarse aislada por su condición
insular, representó a lo largo de la primera mitad del siglo XX un punto de encuentro e
intercambio tanto con la cultura musical europea como con la estadounidense. En el caso
de Europa, hubo diversos agentes que contribuyeron de manera especial a la circulación
de ideas y debates en uno y otro sentido, entre los que destacaron: el matrimonio español
formado por María Muñoz y Antonio Quevedo, activos en el ámbito musical habanero a
partir de los años 20; Alejo Carpentier, desde su exilio parisino (1928-1939); y dos de los
integrantes del Grupo de Renovación Musical (GRM), José Ardévol y Julián Orbón. A ellos
se sumaron, tras la Guerra Civil española, intelectuales como Juan Ramón Jiménez o María
Zambrano, quienes animaron los debates acerca de la identidad cubana y los pretendidos
vínculos con —y la autonomía respecto de— la antigua metrópoli, desde el foro literario y
artístico generado en torno a Lezama Lima: el Grupo Orígenes.
Todos estos agentes, pertenecientes a la órbita del GRM, fueron clave, asimismo, en la
importación de estéticas procedentes de Europa; tal fue el caso del Neoclasicismo musical,
impuesto de manera férrea por el líder del grupo, José Ardévol, a partir del modelo
ofrecido por el compositor ruso Igor Stravinsky y el español Manuel de Falla. En el
presente trabajo se muestra cómo la construcción de una modernidad musical cubana
durante los años treinta y cuarenta bajo el signo neoclásico supuso un enfrentamiento
directo con el Afrocubanismo, estética que había triunfado en la isla y en el extranjero
durante los años veinte y que, si bien se nutría de elementos locales (como el ritmo y la
[38]
percusión afrocubana), respondía en buena medida a las demandas primitivistas europeas
y estadounidenses.
Por su parte, Estados Unidos también estuvo presente en los debates estéticos e
identitarios del GRM tras el estallido de la II Guerra Mundial. La conflagración propició la
visión de la cultura del “Viejo Continente” como una gloria caduca (los escritos de
Carpentier reunidos bajo el título «El ocaso de Europa» son muy elocuentes en este
sentido). Por el contrario, América fue considerada como una «nueva morada» cultural
(Edgardo Martín) y Cuba, en particular, desempeñó un papel sustancial a través de
iniciativas como la creación del Grupo Musical Cubano-Norteamericano, la presentación
de Aaron Copland en La Habana (1941) o la concesión de becas de estudio a diversos
miembros del GRM en Estados Unidos, muestras de un protagonismo cubano en los
intercambios panamericanos que apenas recibe atención en la reciente monografía de
Carol Hess Representing the Good Neighbor: Music, Difference and the Pan American Dream
(2013).
Desde a aventura de Hans Joachim Koellreutter junto à seus alunos no Festival de Música
Contemporânea que acontece no interior da Bienal de Veneza (1949), a música
contemporânea brasileira começa um interessante intercâmbio com o seu respectivo
cenário internacional. Essa caravana é fruto dos esforços da Sociedade Internacional de
Música Contemporânea que havia sido criada no ano passado e tinha Renato de Almeida
como seu presidente. A partir daí, até a realização dos Festivais da Guanabara, se dá uma
progressiva integração de uma determinada ala da música contemporânea brasileira no
cenário internacional. Se a caravana de Koellreutter foi um momento em que o Brasil foi
representar a produção nacional no cenário internacional da música contemporânea, a II
Semana de Música de Vanguarda (1966) organizada por Eleazar de Carvalho trouxe o
cenário até nós sem nos representar. Houveram obras apresentadas de Bruno Maderna,
John Cage, Karlheinz Stockhausen e Iannis Xenakis, com a presença deste último, o único
compositor brasileiro convidado foi Claúdio Santoro, em um momento que residia na
Alemanha. Três anos à frente, o compositor Edino Krieger viabiliza a organização dos
Festivais da Guanabara com forte conexão interamericana – que inclui compositores
estadunidenses -, trazendo apenas compositores que residiam no continente. No entanto,
o júri é composto por, entre outros notáveis, figuras do quilate de Kryzstof Penderecki, o
que chama a atenção da crítica, pois, a vinda de um compositor dessa estirpe deveria ser
transformada em uma encomenda ou estreia nacional. O Festival Música Nova e os Cursos
Latino-Americanos de Música ganham força e estabilidade no inicio da década de 1970 e
também mostram o esforço em travar essa conexão inter e extra-americana. Uma guinada
endógena surge com a estratégia institucional também levada a cabo por Krieger de
[39]
organizar as Bienais de Música Contemporânea Brasileira, porém, ao mesmo tempo em
que só compositores brasileiros podem participar, possui uma organização institucional
que visa promover compositores da chamada “música contemporânea brasileira” em
ambiente internacional a partir do convênio com o Departamento de Cooperação Cultural
do Itamaraty.
Ney Arruda
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
Como fator de práxis concreta buscar-se-á identificar ações desenvolvidas que revelem
situações pioneiras, no sentido de apontar para um amplo conhecimento de aspectos
culturais de nossos povos irmãos da denominada América “Hispana”, nem sempre visíveis.
A ideia é procurar constatar um eixo de práticas inauguradas que colimem romper com o
paradigma de: a) raias, b) linhas, c) limites, d) bordas extremas de culturas coirmãs, porém
nem sempre comunicativas, quando a Fronteira Cultural Hispano-Brasileira poderia ser
interpretada como uma comunidade interativa de espaços socioeconômicos
compartilhados. Tendo como um de seus veículos, a Música de Concerto, pois, esta poderá
ser uma das funções de um grupamento musical: criar novas identidades culturais
regionalizadas ou mesmo fortalecê-las, via do publicizar na execução de obras artístico-
musicais. Isso em busca de, inclusive revigorar ações já existentes e desenvolver táticas
dialógicas inovadoras para incentivar o colóquio cultural entre as nações de nosso entorno
na América Latina.
Uma proposta conceitual com fundamento na estética de Adorno e Marcuse para este
trabalho é a Música de Concerto Transfronteiriça. Fazemos referência à música que supera
[40]
os valores culturais territorializados de uma determinada nação. Trata-se de música que
desperta sentimentos culturais universalizantes para além das raias limítrofes de um
Estado Nacional. Pois, pode concretizar-se como melodias que rompem as bordas
psíquicas de um único povo, dos limites de um país e é capaz de sensibilizar o gosto
musical de outras culturas nacionais. Em nosso entender, seria a produção artística de
compositores que consagram melodias, temas, canções, ritmos e tradições folclóricas para
“continentalizar” o sentimento latino na região da América Hispano-Brasileira. Esses
autores constroem situações comunicativas no entorno da formação da ideia de favorecer
uma fórmula produtiva das coincidências culturais, em um amplo e complexo processo de
identificação transnacional.
Comunicações - Sala
Tema: Estética, Filosofía da Música e Crítica Musical
O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre música e política a partir das ideias
propostas pela filósofa Lydia Goehr em Political Music and the Politics of Music. A música
instrumental, ou “de arte”, pode ter significado para além de si mesma, posto que é lida
como não referencial, não discursiva, não representativa e não conceitual? Ao determinar
o significado e natureza da obra musical, até que ponto, ou de acordo com quais princípios
de seleção, podemos levar em consideração fatores extramusicais?
[41]
objetividade, moralidade e verdade. Delineiam-se, assim, dois extremos: a redução da
música ao seu aspecto político, e a preservação da pureza da arte.
Nesse sentido, tudo o que a música engloba seria a música em si. O que consideramos que
a música é traz consigo o viés político, social e cultural dos indivíduos envolvidos, e fala
sobre os mesmos. Ao ter sua existência atrelada ao sujeito político, a música se politiza
mesmo sem declarar-se como tal, podendo então subverter, esconder ou modificar
significados.
Ao mesmo tempo em que estava inserido sob a perspectiva estética das rupturas, a
postura de John Cage (1912 – 1992) como artista modifica a ideia do especialista ou dos
demais compositores focados nas novas tecnologias e nas possibilidades
predominantemente musicais. Neste sentido, com o intuito de responder a questão de
quem é este artista na modernidade, esta proposta de estudo se propõe a apresentar uma
breve análise da trajetória de Cage, com cerne entre as décadas de 1940 e 1950, buscando
compreender quem é este artista na modernidade, capturado na aproximação com a
percepção do poeta francês, Charles Baudelaire (1996).
Sidnei de Oliveira
[42]
Universidade de São Paulo (USP)
Culturas populares em várias regiões do Brasil estão diretamente atreladas aos gêneros da
viola caipira, cuja origem das mais primordiais remonta ao interior paulista. Como
instrumento importante para se traçar panoramas das culturas caipiras, a viola caipira, a
partir do final da década de vinte do século passado, passou a ser incorporada também em
empreendimentos fonográficos desde os primórdios da indústria da cultura no Brasil. Em
meio à discussão sobre o possível processo de afastamento gradativo da indústria da
cultura em relação à arte, trabalhamos com a hipótese de trabalho de que passado já quase
um século, a indústria da cultura desenvolveu gêneros industriais próprios, planejados por
produtores e profissionais de marketing, prescindindo sempre cada vez mais de elementos
elaborados por artistas ou oriundos de oralidades/sonoridades populares. No contexto da
viola caipira, sua incorporação pela indústria da cultura pode também ser avaliada por
conta das possibilidades de representação do homem caipira e suas respectivas recepções
junto ao público em geral, mesmo de outras partes do Brasil. Numa perspectiva da teoria
crítica, a introdução da viola caipira em empreendimentos fonográficos (gravações) pode
ser analisada, portanto, por conta dos processos de produção da indústria da cultura, ou
ainda, de modo bem diverso, em suas relações artísticas e/ou culturais, incluindo-se as
discussões em torno de sua essência. Por esta razão, conceitos como cultura, arte, indústria
da cultura e essência devem ser rediscutidos com base em alguns nomes da filosofia, assim
como de críticos musicais e de musicólogos. Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche,
Mário de Andrade e Theodor Adorno, entre outros, serão alguns dos autores referenciais
para esta comunicação. Com intuito de abordar alguns temas atuais sobre a viola caipira,
por exemplo, a viola caipira como curso superior em um universidade brasileira,
apresentarei o processo de descolonização do instrumento na história da música brasileira
e realizarei uma reflexão sobre a real importância deste instrumento na academia. Para
esta reflexão e crítica utilizarei a filosofia de Arthur Schopenhauer, mais especificamente,
sua obra Über die Universitätsphilosophie (Sobre a filosofia universitária). Com a primeira
obra publicada de Friedrich Nietzsche, a saber, Die Geburt der Tragödie (O nascimento da
tragédia), me apropriarei do conceito de cultura, essência e tragédia para o diálogo com a
cultura popular. Adorno e sua filosofia apresentada em conjunto com Max Horkheimer na
obra Dialektik der Aufklärung (Dialética do esclarecimento) será o ponto de partida para a
discussão sobre cultura de massa, indústria da cultura, fomentos e demais termos que
ainda hoje são utilizados para discorrer sobre cultura popular. Sobre Mário de Andrade
não há necessidade de apresentações, pois este importante historiador brasileiro será à
base de fundamentação sobre a cultura popular brasileira em interlocução com os demais
pensadores já citados.
Fernando Garcia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
[43]
Gadamer em Verdade e Método I (1960) para investigar essa questão. Gadamer é um
filósofo da tradição hermenêutica, tradição que tem como objeto de estudo a forma de
interpretação de escritos, ações humanas e obras de arte.
No âmbito musical, o preconceito tem influência direta na interpretação das obras. Nos
limitaremos, aqui, ao âmbito do estudo e preparação de um repertório de música de
concerto. Ao deparar-se com um novo repertório, o intérprete terá de fazer escolhas para
direcionar seu estudo, tanto na perspectivaartística, ou seja, nas coisas não
necessariamente grafadas, no sentido que o intérprete dará às peças, e na perspectiva
técnica, na qual o intérprete trabalhará no seu instrumento para expressar suas escolhas e
o sentido que se desvela na obra. Nesse momento, toda a bagagem de conhecimento do
intérprete se choca com o novo repertório, e é nesse momento que apontamos para
questão do preconceito, que quando ignorado, pode limitar as possibilidades de
expressões levadas em consideração quando se pensa o sentido das peças, como por
exemplo, quando o intérprete tem a prática de se apoiar muito na tradição histórica e tem
a tendência de sempre ressaltar aspectos com base na performance histórica em qualquer
música; ou quando o intérprete tem a inclinação a ignorar a tradição histórica do estilo ou
compositor em suas interpretações. Não temos a intenção de ditar o que deve ou nãoser
expresso, apenas apontar para a percepção e compreensão dos preconceitos como algo
propositivo para a expressão musical, pois são os preconceitos não percebidos que nos
tornam surdos para a diversidade de expressões musicais.
[44]
Aqui tentaremos definir o que é uma Escuta-Acontecimento, outro modo de Escuta;
tentaremos buscar o Sentido de tal expressão “já que o sentido não é nunca apenas um dos
dois termos de uma dualidade” Percebe-se aqui uma diferença sutil, mas significativa,
entre Escuta (substantivo) e o verbo ato-efeito do Escutar; e entre Acontecimento
(substantivo ) e o verbo Acontecer, ato-efeito de Acontecer.
Presumimos, então que, esta Escuta-Acontecimento, este outro modo de escuta, esta escuta
poética, pode vir a significar o pensar/fazer música e filosofia de um “lugar particular”,
sendo este o agenciamento que investigamos. Esse “lugar particular”, nós identificamos, de
modo exacerbado, como constituintes da Improvisação Livre. Uma vertente musical, outra
maneira de pensar o som, multiplicidades sonoras – técnicas, intensidades, timbres. “...um
bloco de espaço-tempo indefinível (...) O plano é que possibilita o movimento da
performance. Ela se dá no interior do plano mas não se confunde com ele. Uma
performance depende da existência deste plano que deve ser agenciado a partir do desejo,
da disponibilidade e da necessidade” (COSTA, 2001, p. 53). Assim, a Improvisação Livre se
torna chave à reflexão proposta relativa ao que denominamos outros modos de escuta, e,
como quero demonstrar, uma Escuta-Acontecimento.
[45]