Você está na página 1de 5

A CULTURA DEMOCRÁTICA ou A DEMOCRACIA CULTURAL

JUSSEMAR WEISS GONÇALVES'

RESUMO
O artigo busca mostrar a relação entre cultura e democracia na Atenas do
século V a.C. e propõe pensar, através da utilização de alguns conceitos de
M. Foucault, essa relação na atualidade.

A experiência política inaugurada pela modernidade, principalmente


aquela sintetizada pelo pensamento liberal, sempre fez questão de
contrapor-se à democracia antiga. Isto fica claro ao observarmos o texto de
B. Constant escrito em 1818, cujo título é Da liberdade dos antigos comparada
à dos modernos. Diz ele: "O objetivo dos antigos era a distribuição do poder
político entre todos os cidadãos de uma mesma pátria (cidade), era isso que
eles chamavam de liberdade"'. O objetivo dos modernos é a segurança nas
funções privadas: "eles chamam de liberdade as garantias acordadas pelas
instituições para aquelas funções'". Notamos que, para os modernos, a
liberdade constitui-se no reino do privado, sendo que as decisões coletivas a
partir deste privado terminam por submeter o indivíduo à autoridade num
todo. "Hoje, diz B. Constant, o que o cidadão exige do poder é a função
pacífica da independência privada". O liberalismo dos modernos e a
democracia dos antigos para muitos são considerados antiéticos", pois a
concepção política dos anti.gos, como bem expressa Aristóteles, era
orgânica: "O todo precede necessariamente a parte, com o que, quebrado o
todo, não haverá mais nem pés nem mãos, pois a cidade é por natureza
anterior ao indivlduo'". Já a modernidade constrói a sua concepção política a
partir dos indivíduos. O estado é resultado da atividade deles e das relações
por eles estabelecidas. Isto leva necessariamente à representatividade,
forma nova de os cidadãos exercerem seus direitos políticos .

• Professor de História Antiga do Dep. de Biblioteconomia e História - FURG;


Especialista em História Antiga.
1 ARISTÓTElES. Política. Paris: Belles Lettres, 1971. L. I, p. 1253.
2 B08810, Norberto. Liberalismo e d~mocracia. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 8.
3 Op. cit., p. 31.
P 4 CASTORIADIS, C. A Pólis grega e a criação da democracia. In: Filosofia Política 3,
orto Alegre: L&PM, 1986. v. 3. p. 56.
sOp. cit.

BIBLOS. Rio Grande. 10:63-71. 1998.


63
de ordenação social, pois, depois da destruição da democracia ateniense
Apesar das diferenças, o povo - entendido como o conjunto dos até as revoluções americana e francesa, ficaram praticamente eliminadas do
cidadãos - manteve-se na modernidade como titular do poder político, pensamento político ocidental duas idéias tão caras aos atenienses:
cabendo-lhe, em última instância, o direito de tomar as decisões coletivas. "I) Que os homens são capazes de reger-se por um autogoverno
Desta forma, apesar das discussões que atravessam séculos buscando popular;
traçar as diferenças entre os antigos e os modernos a respeito da democracia, 11) Que a política é uma atividade legítima e necessária na qual todos
o certo é que "o seu significado descritivo se não alterou, segundo o qual o os membros da sociedade devem tomar parte e dividir responsabilidades"10.
governo do povo pode ser preferível ao governo de uns ou de POUCOS"6. Para isto observaremos como a democracia se constituiu, de que
Dialogando com a antigüidade, a prática política moderna instala-se forma se desenvolveu a cidadania total e como se concretizou um espaço
trazendo marcas indeléveis desse diálogo. Foram os gregos que, pela público entre os gregos. Também veremos o surgimento de uma cultura
primeira vez, construíram a prática política, como afirma M. Finley. "Toda democrática responsável pela qualificação dos cidadãos, e por fim
sociedade de alguma complexidade necessita de um aparato que proporemos algumas interpretações relacionando essa experiência com a
estabeleça leis e as faça cumprir, que disponha os serviços comunitários, urgência, mencionada acima.
militares e civis, e que resolva as polêmicas. A toda a sociedade faz falta
uma fonte de autoridade para as normas e a justiça. Os gregos deram um
passo singular e duplo. Primeiro situaram a fonte da autoridade na Pólis, na 1 DEMOCRACIA
comunidade mesma, e cimentaram os negócios políticos com discussões
públicas que finalizavam com votações mediante a contagem dos A prática política, que é uma atividade coletiva cujo objetivo é a
indivíduos"? (Para eles isto era política); segundo, ao passarem a deliberação sobre leis, sua aplicabilidade, sua justiça, adquire uma
possibilidade da prática política, pensaram a possibilidade da escolha, da especificidade com a democracia. Esta surgiu como síntese de uma crise
opinião, do julgamento. Quer dizer, "esta atividade de julgar e escolher e a que absorveu o mundo grego de forma geral. Nas relações econômicas
idéia mesma dela é uma atividade e uma idéia greco-ocidental, criada no havia conflito entre aristocratas e camponeses; a cidade, como diz
interior desse mundo e em nenhum outro luqar'". O juizo e a escolha, no Aristóteles na Constituição dos atenienses, encontrava-se dividida. A cidade
sentido radical, foram criados na Grécia, e estes são alguns dos significados corria perigo de vida. Desenvolvia-se, também, o comércio e a indústria,
da criação grega da política. No entanto, esta possibilidade se explica pela possibilitando o nascimento de novas categorias sociais. As novas
visão que o grego tinha de si e do mundo, e que o mito da Pandora instituições que se inscreveram seguindo o movimento começado por Sólon
expressava. A esperança está encerrada para sempre; nada é permitido sofreram o abalo de lutas violentas entre esses dois campos nos quais as
esperar, não há esperanças para a vida pós-morte. estruturas e as aspirações se precisaram em dois séculos de enfrentamento
"O homem para o grego estava liberado para agir e pensar neste mais ou menos violentos. Estes enfrentamentos desenharam, a partir do
rnundo'". Partindo dessa visão, o homem grego constrói a ordem em um século VI a.C., cada vez mais, uma figura democrática que a partir de então,
mundo não totalmente ordenado. Por isso a escolha se faz possível e ele salvo alguns breves períodos, não foi mais contestada.
cria por si mesmo a ordem, estabelecendo as leis e determinando o justo. É Democracia assim é uma palavra grega, e como noção ela nasceu em
por isso que afirmamos acima que a Grécia é o locus sócio-histórico onde foi Atenas, que, a partir do século VI até o século IV a.C., viveu intensamente.
criada a política e depois a democracia. É por essas razões que o A existência mesma da democracia deveu-se à noção, que os gregos
pensamento político ocidental nasceu na Grécia e a democracia e os atenienses em particular desenvolveram, de que a cidade não é apenas
especificamente em Atenas. Composta pelos ricos ou pelos pobres, mas que, apesar das diferenças, ela
Tentaremos desenvolver agora a inventiva ateniense e sua relação Comporta uma unidade interna. Como diz Aristóteles: "a cidade existe
com a urgência da contemporaneidade na busca de formas mais pluralistas ~egundo a natureza". Os gregos acreditavam que viver em cidade era a
unlca forma possível de se viver. "Na Grécia e em toda a antigüidade
clássica um homem não contava nada fora de sua cidade"!'. Somente na
6 DE ROMILL Y, Jaqueline. La Grece antique à Ia decouverte de Ia liberté. Paris:
Fallois, 1988. p. 34.
--------------------------
7 Op. cit., p. 35.
10 FrNLEY, M. Aspectos de Ia Antigüedad. Barcelona: Ariel, 1975.
8 Op. cit., p. 43.
11 FINLEY, M. Ellegado de Grecia. Barcelona: Grijalbo, 1983. p.34.
9 Op. cit., p. 122.

81BLOS.
Rio Grande. 10:
63-71.1998. BIBlas. Rio Grande, 10:63-;'1,
1998.
64 65
das reservas feitas à democracia ateniense de que nem todos eram
cidadãos, ela constituiu verdadeiramente uma democracia. Como diz Teseu
cidade se poderia ter responsabilidade política. Eurípedes, na sua tragédia em As Suplicantes, "aqui o povo reina, isto é liberdade".
Os Fenícios, diz que "é duro no exílio depender de outros para viver e não
poder falar livremente"'2 Fora da cidade o grego se fazia estrangeiro. A
cidade era o referencial fundamental para ele. Esta singularidade marcou de 2 A CIDADANIA TOTAL
forma indelével a própria noção de cidadania em Atenas. A arché
democrática instalava a autoridade de todos e não de grupos (a Podemos notar que o cidadão era o sujeito desta erctié coletiva (o
universidade do Plethos). O nome democracia poderia sugerir a autoridade
adulto masculino). Era óbvia a exclusão de mulheres, estrangeiros e
de uma parte da população sobre o resto, mas não é o que acontecia, pois o
escravos de cidadania (a pólis são os homens). Igualdade entre os cidadãos
que colocava sobre o mesmo plano o rico e o pobre no demos não era o
era igualdade perante a lei, antes de tudo, atividade, ação. Os cidadãos se
poder de um grupo, mas a igualdade assegurada sobre todos os politaí. Mas
responsabilizavam pelos negócios públicos. Essa participação não era
em que se assentava a universidade da arehé democrática? Assentava-se
deixada ao acaso, mas era ativamente promovida através de regras pela
sobre a noção de polites como iguais, e isto perante a lei. É essa igualdade
educação geral da pólis. Todos podiam falar, mais do que isso, tinham a
que possibilitava a universidade da arehé democrática. Quando se falava de
I
obrigação moral de fazê-Io para explicitar as suas intenções.
igualdade entre pobres e ricos era do ponto de vista da intervenção na
A fala, a oralidade era o instrumento fundamental nessa democracia
assembléia, portanto a democracia ateniense não era igualitária. O
!\11 direta. A palavra era a forma privilegiada de poder na cidade, através dela o
pensamento grego do século V não cessou de fazer reservas, distinguindo
cidadão se fazia ouvir, ganhava distinção, mérito. A preeminência da palavra
Ili entre a igualdade aritmética, que dá a todos as mesmas coisas, e a
denota o caráter de intensa publicidade na prática política da democracia
igualdade geométrica, que dá a cada um segundo seus méritos. O ser igual
antiga. Os atenienses desenvolveram um discurso racional argumentado e
perante a lei acabou fundando a democracia ateniense. Para os gregos, os
democrático, no interior do qual a cidadania instaurou um espaço de
diferentes podiam construir uma representação de igualdade, criando um
liberdade máxima que se opunha ao espaço do escravo como negação total
espaço interseccional no interior do qual os homens são cidadãos iguais,
de liberdade. É participando da politéia que o homem grego se fazia homem,
que participam do debate público tomando as decisões. Essa igualdade
pois é ali que ele exercia uma ação cujos fins eram ele próprio, ou seja, a
tornou-se mais clara quando se estabeleceu a pergunta: quem, na
ação política. O reino da ação era o reino do cidadão. O cidadão militante, o
assembléia do demos, poderia tomar a palavra? Todos. Isto é isegoria,
cidadão 24 horas por dia era expressão clara dessa democracia direta que
:\1\\1 igualdade de direito à palavra. Esse direito, junto a isonomia, designava a
se compreendia como coletiva, como um todo idêntico que prescrevia um
liberdade democrática. O povo governava graças às funções anuais
I' espaço de convívio direto e quase íntimo entre os que a integravam. Por
exercidas sem atribuições pelos ricos e pelos pobres, que tinham os
isso a atividade política, a participação interessada e permanente nas
mesmos direitos. O que dominava a igualdade eram os direitos políticos, e
questões da cidade era o desdobramento natural da vida dos homens livres.
isso se mostrava pela intervenção na assembléia pelo direito de intervir,
Dedicavam todo seu tempo e energia à Pólis. Isto não significava dizer que
direito que, aos olhos dos atenienses de então, fazia com que não tivessem
na antigüidade não houvesse um domínio privado, apenas que este, quer se
senhor e que fossem livres. Existia portanto uma paixão por esse tipo de
entenda como equivalente à vida doméstica, quer como espaço de atividades
soberania de todos, concebida como essencial. que hoje diríamos sociais ou econômicas, encontrava-se inteiramente
É perfeitamente verdadeiro, então, que todos os cidadãos podiam
subordinado à vida política (diferentemente da democracia liberal). A vida
participar nas assembléias, votar e mesmo tomar a palavra. É certo também
política era a forma nobre por excelência da vida e da realização pessoal.
que, de forma geral, eles podiam exercer as archai, aquelas que eram
tiradas à sorte e que eram exercidas por um ano sem que fossem
renováveis. Outras funções eram atribuídas por um sorteio entre candidatos 3 ESPAÇO PÚBLICO
previamente eleitos. Todos podiam ser eleitos para as magistraturas,
acrescentando a isso que o demo (o povo) participava dos tribunais de
Tudo o que era decisivo era público, e a publicidade se materializava
justiça com várias centenas de juizes sorteados. Observa-se que, apesar
no discurso do povo livremente falando uns com os outros sobre tudo o que

12 MOSSÉ, Claude. Le Procés de Socrate. Bruxelles: Complexe, 1987. p. 34.


BIBLas. Rio Grande. 10: 63-71.1998.
BIBlOS. Rio Grande. 10' 63-71. 1998 67
66
Também a historiografia, surgida em meados do século V em Atenas
os preocupava, na ágora, antes de deliberarem. Nas assembléias os serviu para ratificar a cultura democrática. Heródoto desenvolveu essa nova
deliberantes acreditavam na eficácia relativa da palavra de cada um sobre a narrativa como forma de a coletividade poder inspecionar o seu passado
ação de todos, assim como na eficácia de nossa ação sobre o mundo. como resultado de suas ações, e tendo no futuro um domínio aberto para
Aristóteles diz na Etice a Nicômaco: "Nós deliberamos sobre as coisas que suas atividades. A historiografia, com suas reflexões, revisitava as ações
dependem de nós e que são possíveis". Havia, portanto, o estabelecimento dos homens do passado para qualificar a ação dos cidadãos no presente.
de um lógos político, de uma razão enquanto circulação do discurso e A sofística foi também outro movimento intelectual que propiciou à
pensamento no interior da comunidade. A vontade de demos publicamente democracia um novo patamar mental de ordenação da realidade, pois os
revelada cimentando a identidade da pólis. Isso demonstra claramente que a sofistas acreditavam-se portadores de uma techné, passível de ser
democracia antiga, mais do que qualquer outra forma de governo, apelava ensinada. Isto significou uma quebra com o mundo aristocrático baseado na
para a expansão e intensificação do político. É lógico, o homem é visto como paidéia homérica, isto é, na educação homérica, ligada aos costumes e
politikon zoon, como animal político, conforme afirma Aristóteles na sua tradições. Com eles o ensinar tornou-se o desenvolvimento das capacidades
Política, livro I. Talvez tenha sido M. Bakhtine, em seu livro Esthétique et intelectuais através de técnicas específicas voltadas à participação do
théorie du roman, que melhor tenha compreendido a preponderância do cidadão na assembléia. Distinguiam, ao nível da língua, o discurso do
público na sociedade clássica - "o homem interior por ele mesmo" (eu visto cidadão, o falar melhor como também o falar com estilo. Isto necessitava
por mim), isto é, o homem olhando-se a si mesmo, não existia um trabalho de conhecimento da própria língua grega, o que os sofistas
absolutamente. Sua consciência era plenamente pública, tudo era realizaram de tal forma que tornaram possível a existência da filosofia no
exterioridade, no sentido literal da expressão. Mas essa exterioridade era de século IV a.C. Estes pensadores convergiram, a partir da segunda metade
todos, viver a exterioridade era viver pelos outros, para sua comunidade, do século V, para Atenas. Conforme nos diz J. de Romilly, "o que levou os
pelo seu povo". Na democracia antiga o espaço público era político em sua sofistas para Atenas foi a conjunção de três variáveis: primeiro porque havia
totalidade. Isto já não aconteceu a partir do mundo moderno, após o liberdade política na igualdade entre os deliberantes; segundo porque havia
iluminismo. O político já não é mais a ágora, a assembléia, mas a livre riquezas suficientes para pagar os altos preços; e terceiro porque Atenas era
comunicação de idéias através, principalmente, da imprensa e dos cafés do uma cidade hospitaleira"'3. Essa conjunção que propiciou aos sofistas o
século XIX. pleno desenvolvimento de sua Paidéia: uma educação voltada para a
retórica. "Um saber que eles eram capazes de comunicar a seus ouvintes,
um saber que devia permitir a estes enfrentar todas as questões"!". Foi,
4 A CULTURA DEMOCRÁTICA portanto, a isonomia e a isegoria existentes em Atenas que permitiram sem
sombra de dúvidas um terreno fértil à prática sofística. Na cidade
A produção dessa publicidade, dessa vida para os outros gerava em democrática a palavra era o instrumento privilegiado da participação. Em
Atenas uma mentalidade própria, uma forma de ver o mundo, de função disto Protágoras buscava capacitar os cidadãos como políticos
compreendê-Io - uma cultura participativa em que o referencial era a falantes, diferentemente do político sábio (platão), cuja competência é
democracia enquanto prática. A educação democrática surgia no próprio avaliada qualitativamente em suas relações com as coisas. O político falante
exercício cotidiano da democracia. Isto está claro em Atenas com o só encontrava oposição dos outros em uma relação igual, onde todos se
surgimento da tragédia discutindo problemas como (em Antígona, de equívaliam: o melhor político era o melhor falante.
Sófocles) a questão da temperança e a questão da confiabilidade dos "Depois dos séculos religiosos, depois da filosofia do Cosmos, os
sentidos como construtores da verdade, que aparece em ~dipo Rei. sofistas inauguraram um relativismo total que nada deixava subsistir de
Também em As Suplicantes, de Eurípides, o sistema democrático é descrito transcendente e certo'l". Trabalhando com a verossimilhança (tioxe),
e defendido. A tragédia colocou a democracia emergindo como liberdade transmitindo conhecimentos úteis, eles forneciam a chave da ação eficaz.
dentro da lei: a cidade é livre, o povo reina, nenhum privilégio ou fortuna, PrOdutores e produtos dessa cultura democrática, eles participaram da
pois o rico e o pobre têm direitos iguais na cidade. Em O Prometeu, de
Ésquilo o coro diz: "em nome de leis novas Zeus exerce um poder sem 13 Op. cit., p. 8.
14 Op. cit.
regras". A tragédia ateniense tem inegavelmente uma motivação pedagógica 15 Op. cit., p. 37.
política sem, no entanto, negar outros níveis de significação.

BIBlOS. Rio Grande. 10: 63-71.1998. BIBlQS. Rio Grande. 10: 63.71.1998.
68 69
GLOSSÁRIO
criação de um ser humano particular, mergulhado na ação (práxis), o
Cidadão Ateniense.
ARCHÉ - princípio de uma ação; autoridade. No plural "AI ARCHAI" adquire
o significado de cargo, função.

5 PENSANDO A EXPERIÊNCIA DEMOS - primeira idéia de lugar: país; terra habitada por um povo. É
também ligado à idéia de pessoa:
1) no sentido étnico - população de um país.
Finalizando, diríamos que nosso objetivo apenas foi o de ressaltar
uma variável da experiência grega, talvez a mais importante para a nossa 2) no sentido 'Político ou hierárquico - povo por oposição às leis ou ao
chefe. .
contemporaneidade, a cultura democrática e a democracia. Não como
valor exemplar, nem como algo a retroceder, mas entendoque, entre as Na democracia o conjunto dos cidadãos livres; o povo; por isso
democracia.
invenções culturais da humanidade, há as que constituem, ob ajudam a
constituir, um certo ponto de vista que pode ser muito útil como uma /SEGOR/A: liberdade de falar igual para todos de onde no genitivo igualdade
de direitos na democracia.
ferramenta para analisar o que está acontecendo agora e modificá-Ia. A
/SONOM/A: repartição igual no particular; igualdade de direitos na
cultura democrática grega é uma erupção singular, única e aguda no lugar e
democracia.
no momento de sua produção, e portanto inesquecível. A herança da
ISO: igualdade em número e força.
democracia cultural não se configura como um passado dado, mas ela é
TAíSA: parte igual, em Atenas igualdade de direitos.
reativada desde a Revolução Francesa. O que faz com que o sentido desse
ESTRA TÉGO: em seu primeiro sentido significa chefe militar. Em Atenas era
acontecimento seja mantido no presente como aquilo que deve ser pensado
uma espécie de ministro da guerra com jurisdição em todas as questões
é a prática cultural, com sua noção de ação capacitando o homem à
relacionadas à administração da guerra e à segurança do país. Os
cidadania construindo o saber de domínio público necessário ao
estratégos eram escolhidos todos os anos entre os cidadãos gregos.
conhecimento das relações sociais. Nesse sentido, o que é reativado da
problemática grega pela interrogação do questionamento da cultura na
atualidade é a relação entre cultura e democracia, que determina como o
indivíduo se constitui enquanto sujeito moral de suas ações.

BIBLIOGRAFIA

ARISTOTE. Constitution d'Athénes. Paris: Les Belles Lettres, 1985.


=-=~...,...,..._.
La Politique. Paris: Les Belles Lettres, 1976.
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 1988.
BRUM TORRES, João Carlos. Figuras do Estado modemo : representação política no

l
ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1989.
CASTORIADIS, C. Filosofia política. Porto Alegre: L&PM, 1986. v. 3.
FINLEY, M. Aspectos de Ia Antigüedad. Barcelona: Ariel, 1975.
---- ---~---- .

~n!ltH)TECA
Ellegado de Grecia. Barcelona: Grijalbo, 1983.
r.:"
____ o

,I'. n,. /.....'~I &i'"<"'


.•••
____ A política no mundo antigo. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
o
.'.~<" ~J)._'l~.".~ .

:~'-:o,. ' I
=-:--__ . Democracia antiga e moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
FOUCAUL T, Michel. Dossier últimas entrevistas. São Paulo: Taurus, 1984. \
MOSSÉ, Claude. Le Preces de Socrate. Bruxelles: Complexe, 1987.
DE ROMILL Y, J. Les grands sophistes dans /'Athénes de Péricles. Paris: Fallois, 1988.
L'~..
:-c-:c=---' La Grece Antique à Ia découverte de Ia Iiberté. Paris, 1989.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. São Paulo: DIFEL, 1981.

BIBlOS, Rio Grande, 10: 63-71, 1998.


70 BIBLOS, Rio Grande, 10: 63-71. 1998.
71

Você também pode gostar