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Romantismo: Prosa

DESCREVER O PERÍODO ROMÂNTICO DURANTE O SÉCULO XIX NOS ESTADOS UNIDOS. ESTUDAR OS

PRINCIPAIS AUTORES QUE ESCREVERAM PROSA OU FICÇÃO DURANTE ESTE PERÍODO

AUTOR(A): PROF. ELTON LUIZ ALIANDRO FURLANETTO

O contexto histórico:
 

A literatura norte-americana começa a sofrer mudanças a partir do final do século XVIII e começo do XIX.
Estamos no período pós-independência americana. Por um lado, há um aumento da imigração para os
E.U.A. por conta da onda de prosperidade: pessoas oriundas de diversas partes da Europa, vinham para a

América em busca de novas oportunidades. O país crescia economica e politicamente, o que era
acompanhado por um influxo populacional. É a partir dessa nova configuração social que surgem os
maiores escritores da literatura americana. Nesse ponto, ser apenas escritor era uma possibilidade, uma

profissão que se consolidava. Da mesma forma, a busca de uma identidade nacional, o expasionismo
constante e a tentativa de encontrar uma voz autêntica e local encorajavam os novos escritores.

Legenda: WANDERER ABOVE THE SEA OF FOG, CASPAR DAVID FRIEDRICH, 1818
O Romantismo americano surgiu como uma resposta para a influência dos movimentos românticos na

Europa. Alemanha, França e Inglaterra produziam obras e autores que discutiam novos assuntos antes

considerados irrelevantes ou imorais. Entre eles podemos citar Johann Wolfgang von Goethe, Ludwig Tieck,
Novalis, Heinrich von Kleist e Friedrich Hölderlin na Alemanha; William Wordsworth, Samuel Taylor

Coleridge, John Keats, Lord Byron, Percy Bysshe Shelley e William Blake na Inglaterra; Alexandre Dumas,

Victor Hugo, Alfred de Vigny, Alfred de Musset, Gérard de Nerval, Alphonse de Lamartine e Théophile
Gautier eram alguns dos artistas franceses em todos os gêneros (prosa, poesia e drama).

Esses autores eram lidos e comentados nos Estados Unidos, servindo de inspiração ou de objeto de críticas,

sendo imitados ou rechaçados. E em diversos gêneros, os românticos se tornaram uma geração de escritores
que modificou as letras.

 
Características do Romantismo
Alguns materiais, como Bessa, indicam que o Romantismo começa em 1820. Ele reage ao formalismo

filosófico do período anterior (iluminismo). Os escritores voltavam a trabalhar os temas da fé, o

sobrenatural e a religião, porém, não como um reavivamento das ideias puritanas, por exemplo, mas de uma

maneira diferente: Deus, o universo e a Natureza se tornavam a mesma manifestação. Isso explica a grande

ênfase na natureza, que aparecia nos quadros na pequenez do homem diante da paisagem, que tomava

quase toda a tela.

Legenda: EARLY AUTUMN E TOMAS COLE -1837

Dessa maneira, houve uma inversão: agora seria Emoção em detrimento da Razão, Sentimento em lugar da

Lógica. O movimento encorajava as pessoas a buscarem a liberdade, a não aceitarem restrições. Portanto, a

individualidade passou para primeiro plano. Segundo o Outline of American Literature: 

Um dos gêneros mais comuns da época foi o romance. Escritores em prosa tinham tantos leitores ou até
The  development  of  the  self became  a  major theme;  self-awareness,  a  primary 

method.  If, according to  Romantic  theory,  self  and  nature were one, self-awareness
was not a selfish dead end but a mode of knowledge opening up the universe.  If one’s self

were one with all humanity, then the individual had a moral duty to reform social

inequalities and relieve human suffering. The idea of “self” — which suggested selfishness

to earlier generations — was redefined.

OUTLINE OF AMERICAN LITERATURE, P. 26

mais que os poetas, e exploravam temas sérios e figuras heróicas, ao mesmo tempo que trágicas. Os

protagonistas eram solitários, pessoas que precisavam se reinventar enquanto lutavam contra uma
sociedade ou comunidade que não os compreendia. São indivíduos atormentados e alienados. Os escritores,

portanto, vão se concentrar na tentativa de mostrar os meandros da alma, e o conflito entre indivíduo e

sociedade. Vejamos os principais autores da época no gênero da prosa:

Nathaniel Hawthorne

(1804-1864)

Nascido em Salem, Massachusetts, filho de um rico comerciante, Hawthorne era descendente de uma
família puritana importante. Alguns de seus antepassados participaram dos julgamentos das mulheres

acusadas de bruxaria em Salem, séculos antes, e outro de seus antepassados foi responsável pela

perseguição aos quacres. Isso explica porque parte da sua obra trata da culpa herdada, da expiação de erros

do passado. Morou um tempo em Brook Farm, uma experiência de comunidade utópica, mas não se

identificava com seus princípios: queria juntar dinheiro para se casar com Sophia Peabody, o que acontece

um ano depois. Eles juntos têm 3 filhos.


Legenda: RETRATO DE NATHANIEL HAWTHORNE, CHARLES OSGOOD, 1841

Suas obras principais, escritas a partir dos anos 1850, são romances como: The Scarlet Letter (1850), The

House of the Seven Gables (1851) e The Blithedale Romance (1852). Alguns de suas coletâneas de contos
datam de um período anterior: Twice-Told Tales (1837), Grandfather's Chair (1840), Mosses from an Old

Manse (1846), A Wonder-Book for Girls and Boys (1851), The Snow-Image, and Other Twice-Told Tales
(1852).

Sua obra mais conhecida é A letra escarlate, e é sobre ela que falaremos.

A letra escarlate

O romance foi escrito em 1850 e fala sobre a história de Herter Prynne. Na abertura do romance o povo a

observa sendo escoltada da prisão até o  pelourinho, com um bebê no colo e com uma letra escarlate "A"

bordada no peito. Ela é interrogada pelas autoridades da cidade, para dizer o nome do homem que é pai do

seu bebê. Hester se recusa e é levada de volta à prisão.

Na prisão, um homem aparece dizendo que é um praticante de medicina e que poderia ajudar Hester a se

acalmar. Eles são deixados a sós e descobre-se que o homem é, na verdade, o marido de Hester, que estava

em uma viagem. Ele também exige saber quem é o pai da criança e ela novamente não diz nada. Ele prefere

que todos pensem que o marido dela está morto, então se apresenta à cidade sob o nome de Roger

Chillingworth.

Hester é libertada da prisão e vai morar numa cabana afastada da cidade, onde costura para toda a gente e
vive uma vida modesta, mas sem dificuldades financeiras. Na verdade, ela até mesmo ajuda as pessoas mais

pobres que ela, as quais normalmente retribuem com escárnio e malícia. A pequena filha de Hester, Pearl,

vai crescendo, isolada das outras crianças. Ela percebe que Pearl é uma garota inteligente.
Legenda: NESSE QUADRO, THE SCARLET LETTER, POR HUGUES MERLE, DE 1861, NO PRIMEIRO PLANO

VEMOS HESTER PRYNNE E PEARL, E NO SEGUNDO PLANO, ARTHUR DIMMESDALE E ROGER

CHILLINGWORTH.

Porém, há rumores de que homens influentes da cidade (incluindo o governador) estavam querendo tirar

Pearl de sua guarda e levá-la para uma espécie de orfanato. Ao buscar uma satisfação, Hester encontra com

um grupo de clérigos da cidade, entre eles, o Sr. Dimmesdale, a quem ela implora e é atendida.

Chillingworth confronta Dimmesdale para dizer o segredo que este último esconde, mas este se nega a dizer

que é o pai de Pearl. Após sete anos carregando a letra escarlate, as pessoas da cidade começam a enxergar

as virtudes de Hester, já que ela ajuda a todos os que necessitam: pobres, doentes, sem nunca pedir nada
em troca.

A saúde do reverendo Dimmesdale está cada vez pior por causa do seu remorso diante do pecado cometido.

Não obstante, tal pecado é bem conhecido por Chillingworth, que o explora como forma de vingança. Hester

revela a Dimmesdale que Chillingworth é seu marido. Dessa forma, ela consegue convencê-lo a partir com

ela e Pearl para a Europa, onde viveriam juntos.

Durante a posse do novo governador, Dimmesdale revela seu pecado à comunidade e morre em seguida,

deixando todos os moradores da cidade (sobretudo Chillingworth) perplexos. Chillingworth, perde sua

vontade de vingar-se, morre algum tempo depois. Deixa para Pearl uma grande soma em dinheiro. É

sugerido que Pearl usa isso para ir para a Europa, e direcionar sua vida.

Podemos observas seguintes estruturas no romance:

A presença do pecado e seus efeitos no indivíduo;


A consequência da alienação devido ao pecado;
A questão das aparências (a letra escarlate) e da essência (a bondade de Hester);
A vingança sendo mostrada como uma potência destruidora;
Presença maior de cenas de diálogos que são interrompidas por cenas de descrição;
 

Uma das melhores cenas do romance é quando Hester sofre a humilhação pública, mas ainda assim, está

radiante e confiante. Isso mostra a força da personalidade do sujeito mediante às pressões sociais. Os

trechos marcados (no original) representam as caracterizações das personagens: mesmo na prisão,

assustada, Hester reage e demonstra sua força:

Em 1995, o livro foi transformado em filme, com a atriz Demi Moore no papel de Hester Prynne.

Herman Melville

Nasceu em 1819 e morreu em 1891 em Nova York. Filho de uma família rica, fica pobre com a morte do pai.

Sem muito estudo, decide buscar emprego como marinheiro. Suas primeiras histórias partiram dessas

experiências como tripulante pelos mares do Sul, em títulos como  Taipi (1846), Omoo (1847) e  White-Jacket

(1850), sobre o convívio com nativos das Ilhas Marquesas, renderam-lhe popularidade no início de carreira.

Em 1851, publicou  Moby Dick, seu sexto livro em apenas cinco anos. E ainda que tenha escrito outros

romances, poesias, e novelas curtas, teve que viver anos de obscuridade, chegando a trabalhar como

inspetor de alfândega, de 1866 a 1885.  Sua última novela,  Billy Budd (1924) (traduzido na coleção Prosa do

Mundo pela Cosac Naify em 2003), só foi publicada postumamente. Já a história de  Bartleby, o

escrivão  (Coleção Particular, Cosac Naify, 2005), publicada anonimamente em 1853, era parte do
volume The Piazza Tales , de 1856, não foi bem recebida pela crítica, ficando sem reedição até os anos 1920,

quando os livros de Melville começaram a ser estudados, seus textos incluídos nas antologias escolares, e

sua obra passou a ser revisitada. É de 1921 a primeira monografia norte-americana sobre sua obra:  H.

Melville, marinheiro e místico, de Raymond Weaver.


Legenda: FAYAWAY, PERSONAGEM DA OBRA TAIPI, DE 1846

Melville sofria em pensar como seria lembrado na posteridade. Em carta ao amigo e escritor Nathaniel

Hawthorne, em 1851, confessou que temia ser apenas lembrado como o homem que viveu entre os canibais

- referindo-se às suas aventura nas Ilhas Marquesas. Num prólogo à tradução de  Bartleby, o escrivão, Jorge

Luis Borges lembra que nos vinte anos da morte de Melville, a Enciclopédia Britânica o considerava apenas

um simples cronista da vida marítima.

Moby Dick é um cachalote enfurecido, de cor branca, que havendo sido ferido várias vezes por baleeiros, e

depois de ser perseguido implacavelmente por eles, conseguiu destruí-los. Originalmente foi publicado em

três fascículos com o título de Moby-Dick ou A Baleia em Londres em 1851, e ainda no mesmo ano em Nova

York em edição integral. O livro foi revolucionário para a época, com descrições extensas e imaginativas

sobre as aventuras do narrador – Ismael, um dos marinheiros – suas reflexões pessoais, e grandes trechos

de não-ficção, sobre variados assuntos, como baleias, métodos de caça a elas, arpões, a cor branca (de Moby
Dick), detalhes sobre as embarcações e funcionamentos, armazenamento de produtos extraídos das baleias.

Um dos personagens mais marcantes e fortes é o Capitão do navio Pequod, Capitão Ahab, que se considera

louco e anuncia o tempo todo que seu maior inimigo e sua obsessão é a destruição de Moby Dick.

Legenda: A BALEIA MOBY DICK

O romance foi inspirado no naufrágio do navio Essex, comandado pelo capitão George Pollard, quando este

foi atingido por uma baleia e afundou.

Perceba o estilo dramático da luta final entre o baleeiro e o animal, uma das cenas mais marcantes e

famosas do romance: 

‘I turn my body from the sun. What ho, Tashtego! let me hear thy hammer. Oh! ye three
unsurrendered spires of mine; thou uncracked keel; and only god-bullied hull; thou firm

deck, and haughty helm, and Pole-pointed prow,—death-glorious ship! must ye then

perish, and without me? Am I cut off from the last fond pride of meanest shipwrecked

captains? Oh, lonely death on lonely life! Oh, now I feel my topmost greatness lies in my
topmost grief. Ho, ho! from all your furthest bounds, pour ye now in, ye bold billows of

my whole foregone life, and top this one piled comber of my death! Towards thee I roll,

thou all-destroying but unconquering whale; to the last I grapple with thee; from hell’s

heart I stab at thee; for hate’s sake I spit my last breath at thee. Sink all coffins and all

hearses to one common pool! and since neither can be mine, let me then tow to pieces,
while still chasing thee, though tied to thee, thou damned whale! THUS, I give up the

spear!’

The harpoon was darted; the stricken whale flew forward; with igniting velocity the line

ran through the grooves;—ran foul. Ahab stooped to clear it; he did clear it; but the flying

turn caught him round the neck, and voicelessly as Turkish mutes bowstring their victim,

he was shot out of the boat, ere the crew knew he was gone. Next instant, the heavy eye-

splice in the rope’s final end flew out of the stark-empty tub, knocked down an oarsman,

and smiting the sea, disappeared in its depths.

TRECHO FINAL DO ROMANCE MOBY DICK

Edgar Allan Poe

Nascido em 19 de janeiro de 1809, filho de um casal sem recursos. O pai, David, desapareceu quando Poe

tinha pouco mais de um ano. A mãe, Elizabeth, atriz e vítima de tuberculose, deixava o jovem órfão antes

mesmo de fazer três anos. O casal John e Francis Allan, ricos comerciantes locais, assume a guarda do

menino e tentam dar ao futuro artista talvez as únicas oportunidades de sucesso. Apesar do amor de

Francis, John e Edgar viviam em conflito: o pai queria que fosse advogado, político ou mesmo comerciante.

Poe só pensava na literatura e, desde a tenra juventude, escondia-se para escrever. Conheceu Elmira

Royster, uma das suas grandes paixões, nesta época.


Legenda: RETRATO DE EDGAR ALLAN POE

Seguindo as sugestões do pai adotivo, torna-se aluno de direito na Universidade da Virgínia, aos dezessete

anos. Lá, Poe dividia-se entre as leituras, a escrita e os vícios: o álcool, e a compulsão pelo jogo. Em apenas

um ano longe da família, ele adquiriu uma dívida de milhares de dólares que, se nunca chegou a ser

liquidada, foi o sufuciente para solidificar os conflitos entre pai e filho. Foge de casa e se alista no exército

sob identidade falsa. Fugia, assim, dos pais, dos credores, do amor não-correspondido (Elmira havia de

casado) e encontrava na caserna o tempo para escrever. Recebeu uma promoção para a academia militar de

West Point, mas Poe só queria se dedicar à literatura: durou lá menos de oito meses.

Durante as fases sem dinheiro (elas foram praticamente constantes), Poe se refugiava na casa da tia Maria

Clemm, com a avó, o irmão, a jovem prima e o primo doente. Nada o impedia de escrever. Ao abandonar a

academia, reuniu o que dinheiro e integridade física restantes, somou-os à criatividade e investiu na

carreira jornalística.

Conseguiu emprego e era rapidamente demitido de periódicos em Baltimore, Richmond e Nova York. O

escritor iniciou sua fase de maior sucesso como contista e crítico. Fez a tiragem de certos periódico mais do

que triplicar. Sempre recebendo muito pouco, escrevia os seus clássicos como  "O Relato de Arthur Gordon

Pym" e "Manuscrito Encontrado Numa Garrafa" nas páginas dos jornais para os quais trabalhava. Escreveu"A
Queda da Casa de Usher",  "A Conversa de Eiros e Charmion"  e o dito autobiográfico  "Willian Wilson"  na
década de 1830 até meados da década de 1840. Porém, seu alcoolismo sempre o colocava numa situação

ruim, e o fazia ser demitido.

Em 1835, ele se casa em segredo com a prima Virgínia, na época com apenas 13 anos. No cartório, ele tem

que mentir a idade para poder se casar. Porém, Virgina adoece e fica vários anos convalescendo, até morrer

em 1846. Poe nunca se recuperou da morte da esposa e inspiração para tantas figuras femininas dos seus

poemas e contos (Annabel Lee, Ligéia, Berenice, Madeline).

Poe desenvolve uma teoriazação sobre as obras que escrevia. Ele pensava em modelos e regras, nem sempre

seguindo àquelas mais comuns da época. No seu conhecido ensaio sobre o trabalho poético “Filosofia da

Composição” (1846) ele vai estabelecer os seguintes critérios:

O poema deve ter uma função única e apenas estética: deve criar um momento de beleza para o leitor.
Para Poe toda poesia que se prestasse a uma ideologia não seria mais poesia. Não deve, portanto, ser
didático. Poema não é sermão;
O poema deveria ser curto e funcionar como um momento de êxtase do espírito. Assim, meia hora seria o
máximo de tempo que alguém deveria passar lendo um poema, uma vez que esse êxtase não se
prolongaria por um período maior. Poemas longos, como “Paradise Lost” são, na verdade, uma série de
pequenos poemas separados por pausas no efeito proposto de êxtase. Essas pausas não devem acontecer
Preocupação com a musicalidade do poema. Métrica, ritmo e rima ajudam a produzir esse efeito musical. O
objetivo do poeta deve, então, ser o de emocionar e promover um momento de deleite ao leitor através
dessa musicalidade;
O poeta deve ter um cuidado absoluto com a forma e levou isso às ultimas consequências, fazia inclusive
ensaios na recitação de seus poemas para criar sensações auditivas. Foi o primeiro poeta a ter atitude
nova, tratando a palavra não como mero significante;
Poe despreza a inspiração dos poetas românticos e, por isso, afasta-se muito de sua própria época. Ele não
admitia sentar e apenas escrever por empolgação (ou dinheiro ou fama) e sim sentar, pensar e trabalhar a
palavra, ele o fazia por paixão e acha que isso deveria ser o único combustível dos poetas;

TEMAS PREDILETOS NAS POESIAS DE POE


Os mistérios da vida;
A beleza de uma mulher;

A morte de uma mulher.

Trecho inicial de “The Raven” e sua tradução, feita por Fernando Pessoa:
THE RAVEN

 
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary

Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,


While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,

As some one gently rapping at my chamber door.


'Tis some visitor,' I muttered, ‘tapping at my chamber door—

Only this, and nothing more.’


 
Ah, distinctly I remember it was in the Bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.

Eagerly I wished the morrow; —vainly I had sought to borrow


From my books surcease of sorrow—sorrow for the lost Lenore—

For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore—
Nameless here for evermore

(...)

Legenda: ÁUDIO DO POEMA

O CORVO *

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,

Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,


E já quase adormecia, ouvi o que parecia

O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.


"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.

É só isto, e nada mais."


Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,

E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.


Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada

P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -


Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,

Mas sem nome aqui jamais! 


(...)
Legenda: ILUSTRAçãO DE GUSTAVE DORé PARA AL úLTIMAS LINHAS DO POEMA:

Sobre os contos, Poe falou sobre eles em diversos ensaios. Para o escritor:

Os contos devem ter uma totalidade de efeito. Assim, o autor do conto deve escolher exatamente qual
efeito emocional pretende criar no leitor e, assim, trabalhar que evento, personagem ou palavra o ajudará
a atingi-lo;
Os contos devem almejar a verdade e ser curtos, ao ponto de serem lidos sem pausas e produzir um efeito
emocional único no leitor (segundo Poe, se o leitor para a leitura para retomá-la mais tarde esse efeito se
perde...);
Não ter pontas soltas;
Cada palavra ou incidente da história é escolhido propositalmente para atingir o efeito emocional
desejado pelo autor.
Vale lembrar que hoje Poe é estudado muito mais por sua prosa, principalmente seus contos do que por sua

poesia. Os contos falam de temas diversos, mas alguns estudiosos o dividem em:
Contos de terror:

Message found in a bottle (Mensagem encontrada numa garrafa);


The fall of the house of Usher (A queda da casa de usher);
The tell-tale heart (O coração delator);
The black cat (O gato preto).
The Cask of Amontillado (O barril de amontilhado)
Legenda: THE CASK OF AMONTILLADO, POR HARRY CLARKE, DE 1919

Contos de beleza:

Shadows (sombras);
Eleanora;
The domain of Arnheim (O domínio de Arnheim).
 
Contos de raciocínio (nos quais estabelece a técnica do conto moderno de detetive de Conan Doyle):

The gold bug (O escaravelho dourado);


The murders of the Rue Morgue (Os assassinatos na Rua Morgue);
The mystery of Marie Roget (O mistério de Marie Roget);
The purloined letter (A carta furtada).
 
Contos científicos

A Descent into the Maelström (Descida ao Maelstrom)


Hans Phaall, A Tale (As aventuras de Hans Phaall)
 
Para uma lista dos contos completos do autor, disponíveis gratuitamente online, pode acessar:
http://www.eapoe.org/works/tales/index.htm (http://www.eapoe.org/works/tales/index.htm)

POE NA TELONA E NA TELINHA


Os contos de Poe foram inspiradores para muitos artistas europeus e abundam (mais de uma

centena) os filmes e séries baseados na sua história. Além disso, suas obras são citadas em séries e
filmes de terror, até mesmo em episódios dos Simpsons. Confira a lista completa de obras aqui:

https://en.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe_in_television_and_film
(https://en.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe_in_television_and_film)

Sobre seus contos de detetive, podemos citar a estudiosa brasileira de Poe, Fabiana Vilaço que afirma que:

Edgar  Allan  Poe  foi  um  contista,  poeta  e  ensaísta  norte-americano  que  viveu  na

primeira metade do século XIX (1809-1849). É considerado o criador do conto de detetive


na literatura,  bem  como  do  próprio  conto  moderno.  Ele escreveu  três  contos  do 

gênero:  “The Murders in the rue Morgue”, publicado em 1841; “The Mystery of Marie
Rogêt”, em 1842; e “The Purloined Letter”, em 1844. Os três contos foram publicados em

revistas norte-americanas da época — Graham’s Magazine, Snowden's Ladies' Companion 


e The Gift for 1845,  respectivamente.  São  todos ambientados em Paris. Têm um

narrador sem nome, que observa e descreve as investigações do detetive C. Auguste


Dupin, que é mostrado nos contos como um personagem possuidor de uma capacidade de

raciocínio e uma intuição surpreendentes.  Importantes  diferenças  formais  são 


encontradas  entre  os  três  contos.  Mais  do  que simples  mudanças,  elas  representam 

verdadeiras  experimentações  formais,  que  revelam  as tentativas  do  autor  de  lidar 
com  o  conteúdo  que  se apresentava  diante  de  seus  olhos.

VILAçO, 2012, P. 2

REFERÊNCIA
BESSA, Maria Cristina. Panorama da Literatura Americana. São Paulo: Alexa Cultural, 2008.

HAWTHORNE, Nathaniel. The Scarlet Letter and Selected Tales . New York, London: Penguin, 1984.
__________. A letra escarlate. Trad. Christian Schwartz. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

MELVILLE, Herman. Moby Dick. Disponível em: http://www.gasl.org/refbib/Melville__Moby_Dick.pdf


(http://www.gasl.org/refbib/Melville__Moby_Dick.pdf )

ROYOT, Daniel. A Literatura Americana. Série Essência. Tradução Maria Helena Vieira de Araújo. Revisão
técnica Marcos César de Paula Soares. São Paulo: Ática, 2009.

VANSPANCKEREN, Kathryn. Outline of American Literature. Washington, D.C.: U.S. Information Agency,
1994.
VILAÇO, Fabiana. A figuração da história em um conto de Edgar Allan Poe. (Dissertação). São Paulo: USP,
2012. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-31082012-111118/pt-br.php

(http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-31082012-111118/pt-br.php)

http://www.eapoe.org/works/tales/index.htm

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