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ESTADO DA PARAÍBA

TRIBUNAL DE CONTAS
MINISTÉRIO PÚBLICO ESPECIAL

PROCESSO TC Nº: 04226/05


PARECER N.º: 00359/12
NATUREZA: LICITAÇÃO (ANÁLISE DE TERMOS ADITIVOS)
ORIGEM: SUPERINTENDÊNCIA DE OBRAS DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO
GESTOR: RAIMUNDO GILSON VIEIRA FRADE (EX- SUPERINTENDENTE) E ORLANDO SOARES
DE OLIVEIRA FILHO (SUPERINTENDENTE SUCESSOR)

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO.


ANÁLISE DE ADITIVOS. SUPLAN. CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL DE
EMERGÊNCIA E TRAUMA DE CAMPINA GRANDE. IRREGULARIDADE
VERIFICADA NO ADITIVO N.º 09. ULTRAPASSAGEM DO LIMITE DE 25%
DO VALOR INICIAL DO AJUSTE. NÃO COMPROVAÇÃO DE ACRÉSCIMO
QUALITATIVO PELO DEFENDENTE. AUSÊNCIA DE PLANEJAMENTO E
FALHA NA ELABORAÇÃO DO PROJETO BÁSICO. PELA
IRREGULARIDADE DO TERMO ADITIVO N.º 09. REGULARIDADE DOS
ADITIVOS Nº 10 A 19, POSTO QUE RELATIVOS À PRORROGAÇÃO DE
PRAZO CONTRATUAL. APLICAÇÃO DE MULTA AO RESPONSÁVEL,
RECOMENDAÇÕES E REPRESENTAÇÃO AO MP COMUM.
1. Em sede de análise de Termos Aditivos, foi detectado naquele de n.º 09
acréscimo quantitativo em valor superior aos 25%, previstos no art. 65, § 1º da
Lei nº 8.666/93.
2. A necessidade de acrescentarem-se serviços ao projeto inicial acima do
limite legal caracteriza burla ao Princípio da Licitação e ausência de
planejamento, ensejando aplicação de multa ao responsável.
3. Pela regularidade dos termos aditivos que prorrogaram o contrato e
irregularidade daquele que majorou o valor inicial acima do limite de 25%, sem
elementos suficientes para comprovar aumento qualitativo, com cominação de
multa pessoal ao gestor responsável, além de representação ao MP Comum
acerca das condutas incompatíveis com as prescrições da Lei n.º 8.666/93.

P A R E C E R

I – DO RELATÓRIO
Trata-se da análise dos Termos Aditivos n.º 09 a 19 ao Contrato n.º 11/2006,
decorrente da Concorrência n.º 03/05, cujo objeto é a execução das obras de construção do
Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande.

Por força dos princípios da economia processual e da celeridade, foi tomado como
parte do Relatório o resumo do trâmite processual presente no despacho do Relator às fls.
4285/4287, quando, ao final, os autos foram encaminhados ao MPjTC para pronunciamento
acerca dos aspectos formais do Termos Aditivos n.º 09 a 17.

Retorno do processo ao relator sem pronunciamento do Ministério Público especial


em razão do protocolo do Termo Aditivo n.º 18.

Relatório da DILIC, fl. 4311, concluindo pela regularidade do Termo Aditivo n.º 18.

Anexação do Termo Aditivo n.º 19, fls. 4312/4511, que foi considerado regular pela
Unidade de Instrução, fl. 4319.

Em 14/02/2012, o álbum processual veio a este Parquet de Contas, com vistas à


emissão de parecer, tendo me sido distribuído em 15/02/2012.

II - DA ANÁLISE
Infere-se dos autos haver a Auditoria concluído pela regularidade de todos os
termos aditivos em análise, com exceção daquele de n.º 09, cujo objeto foi o acréscimo de
R$ 7.618.203,72, perfazendo, assim, um aumento de 61,29% do contratado inicialmente (R$
20.889.997,97), já que o 1.º aditivo aumentou em R$ 773.700,05 o valor ajustado e o 5.º
aditivo em R$ 4.411.794,46, razão por que a DICOP realizou diligência in loco e constatou
acréscimo significativo em alguns itens do contrato e, ainda, a inclusão de 40 novos serviços
sem realização de prévia e obrigatória licitação. Foi constatado, ademais, pagamento
excessivo no serviço de tapume em chapa galvanizada n.º 22, no valor de R$ 12.909,60.

Quanto ao acréscimo de R$ 7.618.203,72 ao valor inicialmente contratado,


decorrente do Aditivo n.º 09, concorda-se com a DILIC que houve erro quanto a elaboração
dos projetos iniciais, motivo por que houve a necessidade de contratarem-se novos serviços,
não ficando comprovada a alteração qualitativa dos serviços, apesar das alterações
ocorridas no lay-out e adequações para atendimento a novas legislações.

Destarte, pela ausência de planejamento da Administração, o Aditivo n.º 09 deve


ser considerado irregular por, juntamente com outros aditivos, acrescentar valor acima dos
25% permitidos pelo art. 65, § 1.º da Lei n.º 8.666/93 para obras, in verbis:

§ 1.º O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos
ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por
cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso particular de reforma de edifício ou
de equipamento, até o limite de 50% (cinqüenta por cento) para os seus acréscimos.

Deve-se ter em mente que o valor permitido para acréscimo quantitativo é uma
previsão da Lei nº 8.666/93, que tem como objetivo realizar ajustes de possíveis imprecisões
ocorridas durante a elaboração do projeto básico, assim a quantia superior ao limite previsto
na Lei de Licitações deve ser considerada como despesa não licitada.

Observe-se a jurisprudência do Tribunal de Contas da União:


22. Ademais, o fato de o legislador ordinário facultar à Administração exigir do contratado
que suporte acréscimos e supressões em até 25% do valor inicial atualizado do contrato não
lhe autoriza agir contrariamente aos princípios que regem a licitação pública, essencialmente
o que busca preservar a execução contratual de acordo com as características da proposta
vencedora do certame, sob pena de se ferir o princípio constitucional da isonomia. Tal
previsão normativa teve como finalidade viabilizar correções quantitativas do
objeto licitado, conferindo certa flexibilidade ao contrato, mormente em função de
eventuais erros advindos dos levantamentos de quantitativos do projeto básico.
(Acórdão nº 1981/2009, Plenário, rel. Min. Valmir Campelo) (grifo nosso)

Conforme os aditivos aviados demonstra-se burla ao art. 65, § 1º da Lei nº


8.666/93, vez o conjunto de aditivos ter majorado o contrato inicial em 61,29%, e ainda,
houve burla ao Princípio da Licitação, motivos pelos qual deve ser aplicada multa prevista
no art. 52, da LOTCE/PB.

No tangente ao excesso verificado no serviço de tapume em chapa galvanizada nº


22, a Unidade de Instrução, às fls. 4175, sugeriu análise em conjunto do presente processo
e o de nº 01475/06, por este tratar da análise do Convênio nº 001/06, firmado entre a
SUPLAN e a Secretaria de Saúde para execução de obras de construção do Hospital de
Trauma, e o mesmo excesso de R$ 12.909,60 também ter sido apontado.

Com o fito de não haver bis in idem ou decisões discrepantes sobre a referida eiva,
entende-se pelo apensamente dos presentes autos ao Processo TC nº 01475/06.

III - DA CONCLUSÃO
ANTE O EXPOSTO, opina esta representante do Parquet Especial pela
REGULARIDADE dos Aditivos n.º 10 a 19 ao Contrato n.º 11/2006, realizados pela
Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado - SUPLAN, entretanto,
pela IRREGULARIDADE do Termo Aditivo n.º 09 amo citado Contrato, que majorou o ajuste
em valor superior ao previsto no art. 65, § 1º, da Lei nº 8.666/93, devendo ser aplicada multa
pessoal ao Sr. Raimundo Gilson Vieira Frade, ex-Diretor Superintendente da SUPLAN,
responsável por este Aditivo, pelas razões acima explanadas, sem impedimento de
recomendação ao atual gestor da SUPLAN para não incorrer na mesma infração.
Represente-se ao Ministério Público comum, a fim de se investigarem indícios de
cometimento de crime licitatório pelo mencionado ex-gestor.

Outrossim, sugere-se o apensamento dos presentes autos ao Processo TC nº


01475/06, com o fito de não haver bis in idem ou decisões discrepantes, em relação ao
excesso de R$ 12.909,60 no pagamento no serviço de tapume em chapa galvanizada n.º
22, também verificado neste caderno processual.

João Pessoa (PB), 30 de março de 2012.

SHEYLA BARRETO BRAGA DE QUEIROZ


Procuradora do Ministério Público junto ao TC-PB

mce

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