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Ergonomia e Segurança

do Trabalho
Material Teórico
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.e Cristhiane Eliza dos Santos

Revisão Textual:
Prof.
Ergonomia e Segurança do Trabalho

• Conceito de Ergonomia

• Origem da Ergonomia

• Objetivos básicos da Ergonomia

• Os precursores da Ergonomia

• A ergonomia, do Taylorismo até os dias de


hoje

• A abrangência da Ergonomia

··esta unidade tem por objetivo apresentar e introduzir os


conceitos elementares sobre a ergonomia e segurança do
trabalho situando-as na história e, permitindo que você
possa compreendê-las e localizá-las no amplo contexto da
engenharia.

O conteúdo dessa unidade foi elaborado de maneira a propiciar sua participação efetiva nas
atividades.
Leia o conteúdo sugerido, procure se aprofundar no complementar com artigos, vídeos e
filmes.
Essa dinâmica vai coloca-lo no caminho da construção do seu próprio conhecimento. Esse
é o único caminho no sentido de obter não somente informações “regulamentares”, mais
obter sim, a “ampliação do tamanho do seu mundo” que é verdadeiramente emancipadora.
Participe dos fóruns. O compartilhamento de informações e de pontos de vista é de grande
valia na construção e consolidação do seu conhecimento além de ser, incondicionalmente,
um exercício de cidadania e democracia!

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Como o curso está estruturado:

• Os assuntos abordados nas unidades estão apresentados de forma tão objetiva quanto
possível. Seus tópicos mais importantes estão enfatizados por elementos gráficos.
• Todas as lições apresentam:

• Um texto introdutório dando uma ideia geral da matéria que será enfocada;
• Seções expositivas, dividindo didaticamente a matéria em temas ordenados;
• Exercícios de fixação de aprendizagem.

Como você deve estudar:

• Tenha em mente que vários períodos curtos de estudo são mais producentes que um
único período longo.

Pense

Reserve quatro períodos por semana para trabalhar com o curso.


Passe de 50 min a uma hora estudando de cada vez, ou se preferir, apesar da sugestão, estude as
4h/a em um dos dias da semana com uma pausa de 20 min entre cada 2h/a.

• Cada assunto é cuidadosamente planejado para ordenar as informações necessárias ao


entendimento da matéria – sua capacidade de assimilar um conteúdo depende de quão
bem você aprendeu a precedente.
• O domínio do assunto estudado se dá por meio do estudo repetido. O ideal é sentir-se a
vontade a seu respeito a ponto ser possível reproduzi-lo.
• Responda os exercícios de recapitulação no final de cada unidade.

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Contextualização

Um dos principais objetivos no mundo de hoje é a produção máxima com um custo mínimo.
Isso vale tanto os países subdesenvolvidos que buscam de alguma maneira alternativas que
possam melhorar os seus custos para eventualmente alcançar o crescimento, quanto os países
desenvolvidos que buscam o controle econômico, mas, muitas vezes, esse interesse deixa de
lado o bem estar do ser humano e, para isso é necessário que exista algo que possa tratar da
segurança do mesmo.

Fonte: http://segurancasaude.blogspot.com.br/2011/10/acidentes-de-trabalho-consequencias-e.html

Com isso, podemos pensar nos conceitos de segurança e de ergonomia que podem e devem
atuar em conjunto com um fator imprescindível na redução dos custos: a tecnologia.

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

1 – Conceito de Ergonomia

O conceito de ergonomia está relacionado com a concepção do trabalho e remonta a história


do homem na Terra:

A primeira definição de trabalho conhecida está nas Sagradas Escrituras em Gênesis 3: 17


b, 19:

Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita é a terra por tua
causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Do suor do
rosto comerás teu pão, até que tornes a terra; pois dela foste tomado;
pois és pó, e ao pó tornarás.

É conclusivo que o trabalho está relacionado com a noção geral de sofrimento e pena. (Bíblia,
1995).

Há muitas definições sobre ergonomia. Vamos apresentar algumas delas.

Segundo Falzon (2009), a International Ergonomics Association (IEA), em 2000 adotou uma
definição que é referência internacional. Todavia, vamos apresentar a definição que antecedeu
a definição de 2000 para que o leitor possa compreender a evolução da conceituação entre os
próprios ergonomistas. Assim, ilustramos a premissa de que além de ser uma disciplina “nova”,
em especial no Brasil, o conceito vêm sendo continuamente revisto causando assim, uma
constante ampliação de escopo da citada disciplina.

Primeira definição de ergonomia proposta pelo IEA:

A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus


meios, métodos e ambientes de trabalho. Seu objetivo é elaborar, com
a colaboração de diversas disciplinas científicas que a compõem, um
corpo de conhecimentos que, numa perspectiva de aplicação, deve
ter como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios
tecnológicos de produção e dos ambientes do trabalho e da vida.

A segunda definição de ergonomia proposta pelo IEA em 2000:

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A ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica que visa a
compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e
outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios
teóricos, dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem estar das
pessoas e o desempenho global dos sistemas.
Os profissionais que praticam a ergonomia, os ergonomistas,
contribuem para planificação, concepção e avaliação das tarefas,
empregos, produtos, organizações, meios ambientes e sistemas, tendo
em vista torna-los compatíveis com as necessidades, capacidades e
limites das pessoas.

Note que, conforme apontado anteriormente, é evidente a ampliação do escopo da ergonomia.


Se compararmos atentamente as duas definições do IEA notaremos que há uma evolução
significativa na percepção do conceito de trabalho e de quem o executa vindo ao encontro com a
“Escola das relações humanas” e em oposição á “Escola da Administração Científica de Taylor”,
especificamente, no reconhecimento da força de trabalhador (homem) como ser humano. Nota-
se também uma “preocupação” no sentido de adequar harmonicamente a interação da força de
trabalho humana com os sistemas, de maneira que a especificação do trabalho laboral não venha
prejudicar a saúde do homem e nem tão pouco venha a comprometer sua força de trabalho futura.
Ainda na segunda definição do IEA, o universo da ergonomia é dividido em três dimensões:

• Ergonomia física: está relacionada com as características da


anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica
e sua relação à atividade física. Os tópicos relevantes incluem o
estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos
repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho,
projeto de posto de trabalho, segurança e saúde. 
• Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como
percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as
interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Os
tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho,
tomada de decisão, desempenho especializado, interação
homem computador, stress e treinamento conforme esses se
relacionem a projetos envolvendo seres humanos e sistemas.
• Ergonomia organizacional: refere-se à otimização dos sistemas
sóciotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas
e processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações,
gerenciamento de recursos de tripulações (CRM - domínio
aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do
trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos
paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura
organizacional, organizações em rede, tele-trabalho e gestão
da qualidade.

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

As “áreas de especialização da ergonomia” proposta pelo IEA, segundo Falzon (2009), são
citadas por autores em todo mundo e, assim, adotada como referência internacional.

E, segundo Falzon (2009), ainda na segunda definição proposta pelo IEA em 2000 esclarece-
se que:

A palavra Ergonomia deriva do grego Ergon [trabalho] e nomos [normas, regras, leis]. Trata-
se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade
humana.

Para darem conta da amplitude dessa dimensão e poderem intervir nas atividades do
trabalho é preciso que os ergonomistas tenham uma abordagem multidisciplinar de todo o
campo de ação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos, como sociais,
organizacionais, ambientais, etc.

Contudo, pode dizer que ergonomia está apoiada em dois pilares fundamentais:

De um lado o objetivo centrado nas organizações e sua busca incansável pela eficiência,
produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade, etc. a fim de serem mais competitivas
reduzindo custos. De outro, o objetivo centrado no ser humano considerando-se segurança,
saúde, conforto, facilidade de uso, motivação, etc.

Sob o enfoque de projeto do trabalho, a ergonomia é definida por Barnes (2008) como
o meio de encontrar a mais eficiente combinação entre homem e máquinas equipamentos e
materiais no ambiente de trabalho e cita que o objetivo da ergonomia é a adaptação das tarefas
ao ambiente de trabalho às características sensoriais, perceptivas, mentais e físicas das pessoas, e,
como resultado, obtém-se então melhores projetos de equipamentos, sistemas homem-máquina,
de produtos de consumo, métodos e ambiente de trabalho.

No Brasil, contamos com a ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia1 que é uma


associação sem fins lucrativos que tem como finalidade o estudo, a prática e a divulgação das
interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente considerando as suas
necessidades, habilidades e limitações.

2 – Origem da Ergonomia

A ergonomia surgiu em meados da Segunda Guerra Mundial em virtude da complexidade


de manuseio de armamento e dispositivos de ataque. Todo planejamento e investimento feito
no desenvolvimento de materiais bélicos seria inútil se o “operador” (soldado) não soubesse
como fazê-lo. E ainda, frente aos horrores da guerra muitos soldados desenvolviam doenças
psiquiátricas. Para amenizar o impacto, tanto de manuseio como da saúde mental dos soldados
e procurar “manter a produtividade”, grupos multidisciplinares foram mobilizados para entrar
como “suporte” no cenário da guerra.

1
Disponível em:< http://www.abergo.org.br>. Acessado em: jul / 12.

10
Figura 1.1 – http://www.portalplanetasedna.com.ar/images/guerra2_05.jpg

Mais especificamente, a ergonomia nasceu em 12 de junho de 1949, data em que se reuniu,


pela primeira vez na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores motivados em discutir
essa “nova disciplina” interessada em discutir e formalizar esse novo campo de pesquisa
multidisciplinar da ciência que propunha uma interação harmônica entre homens e sistemas.
Todavia, já em meados de 1857 um polonês, Wojciech Jastrzebowski já havia publicado um
artigo sob o título “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da
ciência sobre a natureza”. Entretanto, a ergonomia só veio adquirir status de disciplina mais
organizada em na primeira metade de 1950 com a fundação da Ergonomics Research Society,
na Inglaterra. Os membros dessa organização, muitos deles pesquisadores, disseminavam seus
conhecimentos e propunham a aplicação da ergonomia na indústria e não somente na área
militar como era difundido até então.

3 – Objetivos básicos da Ergonomia

Conforme citado anteriormente, o objetivo da ergonomia é estudar a interação entre o homem


e os sistemas considerando fatores físicos e psicológicos a fim de obter ganhos em eficiência
para os sistemas (empresas) bem como a manutenção da saúde por parte dos colaboradores
procurando reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes. Nesse cenário, a eficiência produtiva
bem como motivação é consequência direta da assertividade dessas ações.
Para o “exercício e aplicação da ergonomia” conforme discutido até agora é preciso deixar
claro que não é o empenho de apenas um colaborador, ou ainda, a contribuição de uma
área específica de conhecimento que vai obter resultados esperados. É preciso contar com
grupo multidisciplinar com representantes de várias áreas da organização, como: médico do
trabalho, psicólogos dos recursos humanos, técnicos da segurança do trabalho, representantes
da operação, engenheiros da produção, engenheiros do desenvolvimento do produto ou serviço
e do processo, profissionais da manutenção e demais áreas que possa se fazer necessário.
E ainda, além do grupo multidisciplinar é preciso ter o conhecimento de que, se necessário,
profissionais de outros campos de conhecimento devem ser convidados a participar dos projetos
de ergonomia tais como: Psicologia, Anatomia e Fisiologia, Organização do Trabalho,
Design e Métodos de Avaliação, Tecnologia da informação, entre outros.

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

4 – Os precursores da Ergonomia

Discorrendo sobre a ergonomia é imprescindível citar as definições, a origem, mas, para


um completo entendimento da aplicação da ergonomia nos dias de hoje, não podemos deixar
passar despercebido os precursores da ergonomia.
Vamos a eles!
Já foi mencionado, nessa seção, que identificamos nas escrituras da Bíblia a noção de trabalho
dedicado ao homem para a sua sobrevivência. Vimos também que a noção de ergonomia
acompanha a necessidade de trabalho que homem tem a partir da mais básica, que é caçar
para comer. Ainda na pré-história quando o homem era nômade precisava caçar para comer e,
quando a comida começava faltar em uma determinada região, migravam pra outra. E, quando
saiam para a caça, procuravam uma pedra que melhor se encaixasse á sua mão a fim de usá-la
como arma e auxiliar na caçada.
Nota-se que desde a pré-história, ainda que intuitivamente, o homem procura por dispositivos
que o auxiliem no trabalho.
Essa ideia também esteve presente na era da produção artesanal que antecedeu a revolução
industrial onde os artesãos procuravam adaptar as tarefas às necessidades humanas.
A Inglaterra foi “arrastada” para a Revolução Industrial a partir da formação de uma classe
burguesa ávida por consumir bens, pelo êxodo dos ingleses do campo para a cidade e, ainda,
o domínio da tecnologia da máquina a vapor.
Essa união de fatores promoveu a Revolução Industrial na Inglaterra, evento esse que mudou
a face do mundo. A onda da “produção de bens” em escala industrial (larga escala) invadiu
a Europa rapidamente por uma questão de proximidade geográfica e subsequentemente, a
América. As primeiras fábricas que surgiram nesse cenário eram sujas, escuras, barulhentas e
perigosas; era o ambiente de trabalho de milhares de pessoas. As fábricas dessa época em nada
parecem com o ambiente industrial nos moldes que conhecemos hoje em dia. Naquela época o
trabalho era realizado por homens, mulheres e crianças que tinham jornadas de trabalho de até
18 horas por dia e, constantemente, submetidos à castigos físicos, sem férias, sem indenizações
de qualquer espécie e o pagamento pelo trabalho era feito diariamente.


Figura 1.2 – Máquina a vapor. Figura 1.3 – Cena do Filme Tempos Modernos - “Não sois
Fonte: http://www.viaki.net/wp-content/ máquinas; Homens é o que sois” – Charlie Chaplin
uploads/2012/06/maquinas-a-vapor-antiga.jpg - Fonte: http://guia.uol.com.br/album/2012/08/09/confira-filmes-de-
Acessado em julho 2012. charles-chaplin-em-mostra-de-belo-horizonte.htm#fotoNav=2 –
Acessado em julho 2012.

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No final do século XVIII e início do século XIX, surge nos Estados
Unidos da América um simples operário que revolucionaria a maneira de
se produzir bens industrialmente (em larga escala), seu nome é Frederick
Winslow Taylor. Taylor estudou e tornou-se Engenheiro Mecânico e,
no ambiente que conhecia, foi de simples operário à gerente industrial
promovendo estudos sistêmicos acerca de como organizar a produção e
melhorar a sua eficiência. Esses estudos transformaram-se em publicações
que preconizavam uma maneira sistêmica, científica de analisar o
trabalho buscando redução de movimentos e aumento de eficiência. A
essa “maneira científica” de “organizar o trabalho” deu-se o nome de Figura 1.4 – Frederick
Wisnlow Taylor (1856 – 1915)
Administração Científica ou Taylorismo. Fonte: upload.wikimedia.
org/wikipedia/commons/9/90/
Na Europa, mais especificamente na Alemanha e França e países Frederick_Winslow_Taylor_
crop.jpg
escandinavos em meados de 1900, surgiram estudos sobre a fisiologia
humana voltada ao trabalho (fisiologia do trabalho) e gastos energéticos
na tentativa de migrar os conhecimentos sobre fisiologia desenvolvidos em laboratório para
ambientes extremos tais como: minas de carvão, fundições e outras situações onde a energia
gasta para realizar o trabalho humano era máxima e o ambiente extremante agressivo à saúde
humana.
Ao redor do mundo, muitos esforços foram mobilizados para realização de estudos
relacionados sobre os movimentos do corpo como: fadiga muscular, fadiga psicológica, aptidão
física, postura no trabalho, desenvolvimento de mobiliário, iluminação, ventilação, temperatura,
ruído, umidade, vibração, etc.
Todos esses conhecimentos que foram acerca da combinação harmônica entre homens
e sistemas acumulados em todas as partes do planeta foram de grande valor na ocasião da
Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) com a finalidade de desenvolver projetos e promover
a construção de materiais bélicos sofisticados tais como submarinos, tanques, radares, navios,
aviões, sistemas contra incêndio, etc. Além do alto custo de cada um desses produtos, o operador
(soldado) no manuseio dessas “máquinas” era exposto a condições de extrema fadiga física e
psicológica. Assim, estudos foram promovidos por equipes multidisciplinares a fim de melhorar a
adaptação do homem ao sistema, ou seja, do soldado às máquinas bélicas no campo de batalha.
A ergonomia do pós-guerra, em tempos de paz, era frequentemente ridicularizada por sua
“falta de credibilidade” que perdurou até o Departamento de Defesa dos EUA desenvolver
pesquisas em Universidades e Centros de Pesquisa Especializados.

5 – A Ergonomia, do Taylorismo até os dias de hoje

Conforme citado anteriormente, o ícone da Administração Científica é o Engenheiro


americano, Frederick Winslow Taylor (1856 – 1915), todavia, devido à importância de seus
métodos, vamos conhecê-lo melhor.
Retomando, Taylor começou sua vida profissional como simples funcionário de uma empresa
metalúrgica americana e chegou, como engenheiro mecânico ao nível, do que se conhece de
estrutura organizacional nos dias de hoje, diretoria industrial tendo passado também pelo nível
gerencial.

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

Pelo fato de Taylor iniciar sua vida profissional como simples operário, nessa função, teve a
oportunidade de vivenciar o que a sociologia do trabalho chama de código de trabalho. Código
de trabalho é quando os funcionários de um determinado setor de uma empresa definem regras
próprias quanto ao ritmo de trabalho e, muitas vezes, regras próprias para o método de trabalho
também. Por isso, mais tarde, Taylor definiu os funcionários de “indolentes”; oportunamente
retornaremos a essa afirmação.
Ao receber sua primeira promoção, Taylor, como qualquer líder, inclusive nos dias de hoje,
passou a ser cobrado por resultados. Como era conhecedor de como o trabalho era realizado
em sua empresa, sabia que era vital para seu sucesso profissional organizar a parte feia, suja e
desorganizada da empresa chamada de produção.
Como não havia nenhum histórico anterior relacionado a estudos específicos sobre
organização da produção ou eficiência do processo produtivo, Taylor pode realizar, sem nenhum
tipo de cobrança ou expectativa, seus experimentos acerca do que ele, Taylor, imaginava ser uma
empresa organizada e eficiente. Fez muitos testes tipo tentativa e erro. O resultado desses testes e
observações fez com que Taylor publicasse sua teoria de organização do trabalho conhecido como
“Princípios da Administração Científica” que consistia primeiramente na divisão do trabalho.
Taylor pregava que para se obter ganhos de eficiência na produção de todo trabalho a ser
realizado, esse “trabalho todo” deveria ser dividido em tarefas simples e repetitivas e que o
funcionário deveria ser treinado nas suas tarefas seguindo rigorosamente a “prescrição da
tarefa”. Naquela época o funcionário recebia por dia e não havia um vínculo formal de trabalho
na forma de “emprego” como conhecemos hoje. Antes de seu método, não havia nenhuma
recomendação da sequência de atividades que deveriam ser feitas ou como essas atividades
deveriam ser feitas. Cada um fazia, mais ou menos, o que queria da forma que queria e com
a “carga de trabalho” que achava justa pelo seu ganho diário. Ou seja, um funcionário que
trabalhava muito ganhava o mesmo dinheiro que um funcionário que trabalhava pouco; logo,
a realização do trabalho era nivelada por baixo. E Taylor sabia disso, sabia que havia uma boa
parcela de ineficiência aceita pelo formato de trabalho da época. Foi nesse cenário que Taylor,
ao dividir o trabalho, impôs uma sequência de trabalho, posto a posto de trabalho. Definiu que,
em cada posto de trabalho as tarefas deveriam ser feitas de maneira simples e repetitivas. Foi
uma maneira inteligente de definir um fluxo contínuo de produção além de tentar garantir que
o trabalho fosse feito, sempre, da mesma maneira e, como consequência distribuiu a carga de
trabalho uniformemente entre os operários em cada um dos seus postos der trabalho.
Na prescrição da tarefa dos postos de trabalho, Taylor procurava pensar na tarefa e rever os
movimentos de maneira a eliminar os movimentos desnecessários a fim de economizar tempo
e energia. A fim de tornar o trabalho mais eficiente e menos exaustivo ao operário, começou a
medir o trabalho no tempo, o que mais tarde seria chamado de cronoanálise. Além de dividir
o trabalho, passou a definir a sequência e fazer a prescrição da tarefa, Taylor também imprimiu
um ritmo de trabalho na produção com as esteiras móveis. A esteira móvel a que nos referimos,
nesse momento, não é a esteira móvel de Ford que foi a precursora da produção em massa. A
esteira móvel de Ford veio mais tarde.
Além de todas as preocupações de Taylor relativas à organização da fábrica bem como
sua eficiência, preocupou-se também em organizar o espaço fabril ordenando os elementos
(máquinas) de maneira eficiente no meio (fábrica).
Após as publicações de Taylor “Princípios da Administração Científica” muitas empresas
adotaram seus métodos.

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Taylor foi muito criticado em sua obra, pois afirmava-se que ele rebaixava o homem a
condição de animal. Taylor dizia que o estudo do método de trabalho deveria ser executado
por uma parte da empresa composta por pessoas que deveriam ser estudadas e devidamente
preparadas para isso. Não deveria, jamais, ser dado ao simples funcionário a autonomia de
decidir o que, como e quando fazer. Falava-se, com essa afirmação, que Taylor definia o simples
funcionário como “acéfalo”, ou, pouco dotado de inteligência e incapaz de tomar decisões
racionais. Taylor dizia também que o trabalho deveria ter um método definido com ritmo a fim
de “impedir” que funcionário “burlasse intencionalmente” os índices de eficiência esperados,
hoje em dia poderíamos dizer que Taylor não queria que o simples funcionário “encostasse o
corpo”, e, com essa situação, afirmava-se que Taylor havia rotulado o simples funcionário de
indolente, ou se preferir, vagabundo.
Taylor, para “motivar” seus funcionários, oferecia prêmios para ganhos em produtividade;
quem produzisse mais, ganhava mais.
Todavia, nem sempre os princípios de Taylor eram devidamente empregados. Muitas vezes
o tempo definido para execução da tarefa e, muitas vezes o próprio método eram definidos por
quem sequer conhecia a fábrica e, muitas vezes, impossíveis de ser cumpridos. Os funcionários
sentiam-se oprimidos pela gerência da fábrica e, muitas vezes, reagiam descumprindo as
normas (prescrição da tarefa) e danificando, intencionalmente, os equipamentos além de não
se sentirem minimamente comprometidos com a qualidade.
Por sentirem-se vítimas de um ambiente absolutamente coercitivo, houveram reclamações
generalizadas por todo país (EUA), envolvendo inclusive os sindicatos. O descontentamento
era tão grande que Taylor foi chamado a se explicar no Congresso Nacional Americano sob o
argumento de que, nesse “novo método de trabalho”, trabalhava-se mais (produzia-se mais) e
ganhava-se a mesma quantidade em dinheiro além de ser coercitivo.
Taylor defendeu-se dizendo que, na Administração Científica, o trabalhador não trabalhava
mais, trabalhava melhor. Como havia uma grande preocupação com a economia de energia do
trabalhador através da racionalização dos movimentos, ele trabalhava menos, produzia mais e
ainda tinha prêmio relativo ao seu desempenho.
Segundo a física, toda ação requer uma reação, e, como reação à Administração Científica
de Taylor, ou Taylorismo, surge a Escola das Relações Humanas onde seu ícone é Elton Mayo.

Figura 1.5 – Georges Elton Mayo (1880 – 1949), psiólogo australiano precursor da sociologia industrial.
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-cWf6oh1eyps/T5f_oI8sBZI/AAAAAAAAAOE/WwRSPdRuHeY/s1600/Elton%2BMayo%2B6.jpg
Acessado em: Ago/2012

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

Até Mayo a noção de trabalho era relacionada à pena bem como na Bíblia. E a imagem de
operário era relacionada a quem não tem vontade, direitos ou, sequer, dores.
Meados da década de 1920, Mayo promoveu uma pesquisa que revolucionou a relação
homem x trabalho na empresa Western Electric em Hawtorne, EUA.
Mayo pretendia estudar os efeitos da iluminação na eficiência da fábrica. Separou um grupo
de trabalhadores da produção e colcou-os num ambiente isolado da produção. Nesse espaço,
não havia a presença do “capataz”, encarregado ou supervisor de produção nos dias de hoje.
Muitas vezes o capataz era coercitivo a ponto de castigar fisicamente o operário.
Mayo forneceu iluminação adequada e a produção aumentou. Em um segundo momento
Mayo reduziu a iluminação e a produção continuou a subir. Esse foi chamado o efeito
Hawtorne onde Mayo concluiu que a eficiencia na produção não era explicada ou justificada
apenas fatores físicos, havia o componente humano que deveria ser identificado, reconhecido e
valorizado. Os operários escolhidos para essse estudo receberam atenção especial e, ao saberem
que estavam sendo filmados, sentiram-se valorizados.
Ao contrário da proposta de Taylor onde o operário era analisado isoladamente, Mayo
propôs, a partir do efeito Hawtorne, a humanização da produção criando incentivos morais e
psicológicos. Afinal, posto que o trabalho é um meio de vida e não de morte, não precisa der
“penoso”. A partir do efeito Hawtorne, surge um novo campo de pesquisa conhecido como
sociologia industrial e, com ela, os grupos autônomos com tarefas mais integradas nos moldes
da organização do trabalho como conhecemos nos dias de hoje.

6 – A abrangência da Ergonomia

Conforme já citado anteriormente, a amplitude do conceito de ergonomia vem sendo


ampliado dia após dia. Quanto maior o conhecimento das pessoas em geral sobre o que vem a
ser ergonomia e suas respectivas aplicações, não só o conceito fundamental se consolida como
também se aperfeiçoa de acordo com a resposta da sociedade.
No Brasil não há cursos de graduação que forme ergonomistas, todavia, há uma grande
variedade de cursos de pós-graduação nessa área para os mais diversos profissionais que vão
desde a engenharia até disciplinas ligadas à saúde e psicologia e sociologia.
A maioria das empresas que aplica a ergonomia não possui uma àrea composta de
ergonomistas, mas, possui um grupo de profissionais ligados, direta ou indiretamente, à execução
do trabalho e suas derivações.
Na organização moderna, em um ambiente cada vez mais competitivo, não é raro as empresas
“incorporarem” a preocupação com a ergonomia e segurança do trabalho até porque existem
normas brasileiras que regulamentam a relação empregador x empregado. Mais adiante, em uma
unidade próxima, veremos as NR’r, normas regulamentadoras brasileiras que regulamentam a
aplicação da ergonomia, NR 17, de trabalhos salubres, NR 15 e de máquinas eletromotrizes, NR 11.
Sempre quando há um acidente de trabalho dentro da empresa ou no percurso de ida e
vinda do trabalho, a empresa responde legalmente por esse acidente.

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Em havendo um acidente, a empresa preenche um formulário chamado de CAT, comunicação
de acidente no trabalho.

A Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT foi prevista inicialmente


na Lei nº 5.316/67, com todas as alterações ocorridas posteriormente
até a Lei nº 9.032/95, regulamentada pelo Decreto nº 2.172/97.
A Lei nº 8.213/91 determina no seu artigo 22 que todo acidente do
trabalho ou doença profissional deverá ser comunicado pela empresa
ao INSS, sob pena de multa em caso de omissão.
Cabe ressaltar a importância da comunicação, principalmente o
completo e exato preenchimento do formulário, tendo em vista as
informações nele contidas, não apenas do ponto de vista previdenciário,
estatístico e epidemiológico, mas também trabalhista e social.
(fragmento de um texto extraído do site do Ministério da Previdência
Social em 10/7/2012) - http://www.mpas.gov.br/conteudoDinamico.
php?id=297

Esse formulário é enviado ao Ministério do Trabalho e será revertido no FAP, fator previdenciário
que abordaremos detalhadamente em uma próxima unidade bem como a abordagem “legal”
da ergonomia e suas devidas regulamentações.
A fim de aplicar a devidamente ergonomia em toda sua amplitude, muitas empresas criam
e mantém o “COMITÊ DE ERGONOMIA”, que é um grupo de profissionais multidisciplinar
a fim de “garantir” que, nessa organização, as interações entre homens e sistemas acontecem
harmonicamente. Esse grupo deve-se reunir periodicamente e planejar a aplicação de ações
imediatas além de planejar eventos futuros guardando a premissa de “Melhoria Contínua”.
De acordo com IIda (2005), há profissionais ligados à saúdo do trabalhador, à organização
do trabalho, ao projeto de máquinas e equipamentos. Trazem consigo sua contribuição em
conhecimentos úteis que devem ser considerados na solução de problemas ergonômicos, dentre
os quais destacam-se:

Médicos do trabalho: podem ajudar na identificação dos locais que provocam acidentes
ou doenças ocupacionais a realizar acompanhamentos de saúde e ainda, criar um dossiê de
“histórico de dor” por setor. Essa prática vai servir para orientar o “Comitê de ergonomia” na
revisão de processos de trabalho atuais e no projeto de novos processos de trabalho.
Engenheiros de projeto: contribuem nos aspectos técnicos procurando adequar máquinas
e ambiente de trabalho.
Engenheiros de produção: procuram distribuir o trabalho sem sobrecarga estabelecendo
um fluxo racional de materiais e postos de trabalho, devem estudar os métodos de trabalho,
tempos e postos de trabalho.

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

Engenheiros de segurança e manutenção: identificam áreas, máquinas e processos de


trabalho que podem oferecer risco ao trabalhador.
Desenhistas industriais: ajudam na adaptação de máquinas e equipamentos, projeto do
posto de trabalho e sistemas de comunicação.
Psicólogos: são comumente envolvidos na análise dos processos cognitivos, relacionamentos
humanos, seleção e treinamento de pessoal e podem dar sua contribuição no estabelecimento
de novos métodos.
Enfermeiros e fisioterapeutas: devem procurar agir preventivamente no histórico de
dor e lesões ocupacionais. Quando a prevenção não tiver sido possível, atuam na recuperação
desses trabalhadores.
Programadores de produção: podem contribuir definindo, na medida do possível, um
fluxo contínuo de produção e evitando trabalhos noturnos.
Administradores: podem atuar na elaboração de cargos e salários mais justos melhorando
a autoestima do trabalhador.
Compradores: devem ser conhecedores dos princípios de ergonomia a fim de procurarem
adquirir máquinas, equipamentos e materiais mais limpos, seguros, confortáveis e menos tóxicos.

Quando não existe um grupo multidisciplinar, que aqui chamamos de “Comitê de ergonomia”,
apoiado incondicionalmente pela alta administração, ou, quando a organização dá os primeiros
passos dentro do universo da ergonomia, muitas vezes a ergonomia é aplicada de acordo com
a ocasião que é feita e, segundo IIda (2005) apud Wisner (1987), essa “ergonomia de ocasião”
é classificada em concepção, correção, conscientização e participação.

Ergonomia de concepção: quando a abordagem ergonômica nasce com a ideia inicial


sobre uma máquina, equipamento, mobiliário e processo de fabricação e/ou prestação de
serviços. O projetista já pensa na aplicação final de seu produto e/ou serviço dentro dos preceitos
da ergonomia.
Ergonomia de correção: quando o problema já existe, seja histórico de dor física ou alguma
patologia psíquica desenvolvida pela natureza do trabalho feito, é necessário a mobilização de
profissionais capacitados nessas áreas específicas a fim de corrigir esse histórica já existente.
Ergonomia de conscientização: ainda que a empresa forneça EPI’s (equipamentos de
proteção individual), ainda que haja palestras de integração quando o trabalhador inicia seu
trabalho na empresa, ainda que a empresa disponibilize equipamentos ergonômicos para os
funcionários e os engenheiros e fisioterapeutas promovam treinamentos sobre os movimentos
corretos em novos processos, o trabalhador PRECISA entender que toda essa mobilização de
recursos é para ele, todavia, depende dele o trabalho correto. É preciso preparar devidamente
o trabalhador por meio de palestras de informação e conscientização da sua própria
responsabilidade para manutenção da sua própria saúde e motivação no ambiente de trabalho.
Altos investimentos são feitos por parte das organizações e, sem a devida participação do
trabalhador, todos esses esforços bem como os investimentos mobilizados por parte da empresa
de NADA valem. A dor vai existir, o assédio moral vai existir, o afastamento e o aumento

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nos custos bem como a perda de eficiência vai persistir. Por mais que seja oneroso “parar” a
operação para palestras, ainda é bem mais barato do que perder os investimentos de energia,
tempo e dinheiro para “aplicar devidamente a ergonomia”.
Ergonomia de participação: é quando o trabalhador ou usuário participam do processo
de desenvolvimento de máquinas, equipamentos, mobiliário e processo de fabricação e/ou
prestação de serviços. A ergonomia de participação é efetiva quando o trabalhador ou usuário
já possui conhecimentos prévios sobre o que vem a ser ergonomia.
Traçando um paralelo entre o conceito de ergonomia e o conceito de qualidade, igualmente
atuais em constante ampliação de escopo, sabemos que, quando o conceito de qualidade
invade toda organização podemos entender que a organização ampliou o escopo de tal forma
que tomou, invadiu toda organização. Para essa situação é possível afirmar que a empresa
chegou ao estágio de QUALIDADE TOTAL.
Bem como a empresa que invade toda a organização com os conceitos de qualidade e chega
ao estágio de qualidade total, a organização seja de natureza manufatureira ou de prestação de
serviços, quando “invade” toda empresa com os conceitos de ergonomia, podemos afirmar que
a organização aplicou a MACROERGONOMIA.
Sempre onde há trabalho humano, em qualquer segmento de mercado, inclusive em nossa
vida quotidiana, deve haver ergonomia. No ato de um estudante levar uma mochila para escola,
deve haver ergonomia de correção na ou conscientização sobre como carregar a mochila, as
duas alças devem ser usadas, uma em cada ombro. Caso seja possível, as mochilas com rodinhas
devem ser escolhidas.

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

Material Complementar

Com o objetivo de consolidar as informações obtidas nesse ambiente, sugiro que façam uso
do seguinte material:

Explore

Vídeo sobre Revolução Industrial - I


http://www.youtube.com/watch?v=meSQG6bNvOM

Administração Científica de Taylor


http://www.youtube.com/watch?v=JZq9a_r4C3M

Fábrica da Ford e o Modelo – T


http://www.youtube.com/watch?v=8caU8gvD6Dc

Toyota – Produção enxuta parte I e II


http://www.youtube.com/watch?v=hj-FvgCf0VQ
http://www.youtube.com/watch?v=nGS0av1MC7I

Elton Mayo e a Escola das Relações Humanas


http://www.youtube.com/watch?v=KOGrcLx5W-g

Filme: Tempos Modernos – Charles Chaplin


http://www.youtube.com/watch?v=XolZOPk533w

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Referências

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Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho

Anotações

22
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000

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