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RESUMO ABSTRACT
Discute-se neste artigo uma das We discuss in this article one of the
tendências modernas do direito administrativo modern trends of administrative Law over the
face ao novo perfil do Estado: a new profile of the state: the agencificação.
agencificação. Questiona-se, assim, qual o One may wonder, well, what the actual role of
efetivo papel das agências reguladoras no regulators in Brazilian law, taking into
direito brasileiro, levando-se em conta suas account its main features, different legal
principais características, regime jurídico regime in relation to other existing authorities
diferenciado em relação às demais autarquias of these entities and relationships with the
existentes e relacionamento destas entidades three state powers.
com os três poderes estatais.
*
Professora de Direito Administrativo das FMU- Faculdades Metropolitanas Unidas. Advogada graduada
pela FMU. Especialista em Direito Constitucional pela ESDC - Escola Superior de Direito Constitucional e
Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela UNIMES – Universidade Metropolitana de Santos.
TENDÊNCIAS MODERNAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO E O PAPEL DAS AGÊNCIAS REGULADORAS Cintia B. L. Morano
Revista FMU Direito. São Paulo, ano 25, n. 36, p.22-28, 2011. ISSN: 2316-1515. 23
TENDÊNCIAS MODERNAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO E O PAPEL DAS AGÊNCIAS REGULADORAS Cintia B. L. Morano
Revista FMU Direito. São Paulo, ano 25, n. 36, p.22-28, 2011. ISSN: 2316-1515. 24
TENDÊNCIAS MODERNAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO E O PAPEL DAS AGÊNCIAS REGULADORAS Cintia B. L. Morano
para algumas falhas preocupantes no que tange A questão quanto ao poder normativo
à atuação dessas agências ditas independentes. das agências reguladoras também já havia sido
Uma delas é a preocupação de que a dita apreciada pela Suprema Corte no julgamento
autonomia concedida às agências reguladoras de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade
poderá gerar um sacrifício do princípio da proposta para discutir a respeito da
legalidade, previsto no artigo 37, caput, da constitucionalidade de alguns dispositivos da
CF/88. Lei n° 9.472/97, legislação que instituiu a
É sabido que as agências reguladoras ANATEL e concedeu-lhe os poderes
gozam de autonomia normativa, podendo normativos em debate.7
definir conceitos jurídicos indeterminados e A solução dada pelo Supremo Tribunal
ligados ao âmbito de sua atuação. Decorrência Federal deixa claro que a atividade normativa
do princípio da especialidade a que estão das agências limita-se a especificar a matéria
sujeitas. O receio é que, sob o pretexto desta por meio de resoluções dentro dos espaços
autonomia, as agências passem por cima da deixados por Decretos Regulamentares
própria lei, o que não poderia ser admitido. baixados pelo Chefe do Executivo Federal ao
Por conta disso, o Tribunal Regional da dar fiel cumprimento à lei, uma vez que a
3ª Região 6 , consagrando o entendimento edição de decretos regulamentares no Brasil é
doutrinário sobre o tema, proferiu acórdão de competência privativa do Presidente da
acolhendo a tese de que o poder normativo das República, nos exatos termos do art. 84,
agências reguladoras é meramente incisos IV, da CF.
regulamentar e de complementação, Assim, é fácil perceber que o poder
encontrando-se dentro da classificação de atos normativo a elas atribuído não pode
normativos derivados e infralegais, devendo ultrapassar os limites da competência
obediência à lei e dela não podendo se desviar. legislativa. Com efeito, as normas editadas
Confira-se, nestes termos, o v. acórdão: pelas agências reguladoras devem ter um
caráter estritamente técnico, sem dispor de
AGRAVO DE INSTRUMENTO.
matéria não prevista em lei, nem muito menos
ADMINISTRATIVO. EDIÇÃO ultrapassando os limites legais.
DE RESOLUÇÃO POR
AGÊNCIA REGULADORA. 3. As Agências e seu Relacionamento
NÃO OBSERVÂNCIA DOS
LIMITES DA COMPETÊNCIA
com os Três Poderes Estatais
NORMATIVA. ALTERAÇÃO
INDEVIDA DO CONTEÚDO E Outra questão importante que se discute
QUALIDADE DE CONTRATOS a respeito da atuação dessas agências
DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS reguladoras é que a dita autonomia de que
PACTUADOS ENTRE
gozam e que lhes é relevante não pode servir
CONSUMIDORES E
OPERADORAS. de desculpa para a falta de cumprimento de
A parcela de poder estatal diretrizes públicas impostas a todos os
conferido por lei às agências administradores, nem mesmo de ausência de
reguladoras destina-se à controle pelos demais poderes, como
consecução dos objetivos e
conseqüência do regime de freios e
funções a elas atribuídos. A
adequação e conformidade entre contrapesos adotado constitucionalmente (art.
meio e fim legitima o exercício do 2º da CF).
poder outorgado. Assim, quanto ao controle dessas
Os atos normativos expedidos entidades munidas de certa margem de
pelas agências, de natureza
independência em relação aos Poderes
regulamentar, não podem
modificar, suspender, suprimir ou Estatais, cabem algumas observações
revogar disposição legal, nem importantes.
tampouco inovar. No que tange ao Poder Judiciário
brasileiro, não se pode dizer que as agências
6 7
Agravo de Instrumento nº 129.949, 6ª Turma, Rel. Juiz Vide julgamento em 20/06/98 pelo Supremo Tribunal
Mairan Maia, j. 24-4-2002, DJU 14-6-2002. Federal, na Adin 1688.
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no entanto, não quer dizer que, quanto às esperada em alguns setores sociais, em
matérias de competência das agências, a especial àqueles diretamente ligados aos
Administração Direta deva necessariamente consumidores nacionais que são os que mais
intervir.”10 sofrem com as imperfeições desse recente
sistema.
4. Conclusões Sobre o Papel das
Agências Reguladoras nos Setores de
Regulação
Enfim, o movimento de agencificação
no Brasil foi iniciado em um momento em que
a economia do país se encontrava em
constante crescimento e exigia do Estado uma
atuação mais eficaz para a solução de
problemas sociais de conhecida carência e de
longa data pela comunidade brasileira, ainda
mais em termos de prestação de serviços
públicos.
De fato, a desburocratização, a
eficiência, transparências das ações
governamentais e valorização do cidadão tido
como principal mecanismo de controle social
demonstram que o surgimento dessas
entidades cada vez mais é realmente
inevitável.
Atualmente, existem diversas agências
reguladoras no Brasil responsáveis pelo
controle e coordenação de serviços públicos
delegados a concessionários e permissionários
responsáveis por setores diretamente ligados
aos consumidores nacionais.
Normas instituidoras de algumas
agências (como a Lei n° 9.472/97 – Lei Geral
das Telecomunicações) e referentes à criação
de mecanismos de participação social no
controle de atuação dessas entidades, tais
como audiências públicas, “disque-denúncia”,
oitiva de opinião dos interessados, coleta de
opiniões e outras, também merecem aplausos,
vez que compatíveis com um Estado
democrático de direito.
Infelizmente, várias questões ainda não
foram respondidas pelas agências reguladoras
de forma convincente. Espera-se, assim, que
tais entidades possam de fato se adaptar por
completo às regras do direito brasileiro e que o
canal de comunicação entre elas e o Poder
Executivo Federal realmente se estabeleça, a
fim de que produzam, na prática, a eficácia
10
Introdução às Agências Reguladoras.In: Sundfeld,
Carlos Ari (Coord.). Direito Administrativo Econômico,
p. 26-27.
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REFERÊNCIAS
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