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DEVRY UNIFAVIP

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO VALE DO IPOJUCA


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Neila Patrícia Lins da Silva

ALTERAÇÕES COGNITIVAS DECORRENTES DO TRATAMENTO DO


CÂNCER CEREBRAL INFANTO-JUVENIL: REVISÃO SISTEMÁTICA

Caruaru
2017
Neila Patrícia Lins da Silva

ALTERAÇÕES COGNITIVAS DECORRENTES DO TRATAMENTO DO


CÂNCER CEREBRAL INFANTO-JUVENIL: REVISÃO SISTEMÁTICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Centro Universitário do Vale do Ipojuca, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Psicologia. Orientadora: Profª.
Ms. Mirela Ricarte.

Caruaru
2017
Neila Patrícia Lins da Silva

ALTERAÇÕES COGNITIVAS DECORRENTES DO TRATAMENTO DO


CÂNCER CEREBRAL INFANTO-JUVENIL: REVISÃO SISTEMÁTICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Centro Universitário do Vale do Ipojuca, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Psicologia. Orientadora: Profª.
Ms. Mirela Ricarte.

Aprovado em:___ /___/___

__________________________________________________
Profª. Ms. Mirela Ricarte
Orientador (a)

__________________________________________________
Profª. Ms. Juliana Barros
Avaliador (a)

__________________________________________________
Profª. Ms. Camila Stor
Avaliador (a)

Caruaru
2017
3

Resumo

O câncer cerebral e um dos tipos que vem sendo apresentado como uma das doenças
que mais matas crianças, no entanto o avanço tecnológico da neurocirurgia vem
proporcionando um maior quantitativo em sobrevidas. A literatura apresenta números
que trazem um alarmante dado, no qual lançam a hipótese de implicações
neuropsicológicas provenientes dos tratamentos oncológicos recebidos pelas crianças.
Neste sentido, o objetivo deste estudo foi identificar as alterações decorrentes dos
tratamentos oncológicos de cirurgia, radioterapia e quimioterapia em crianças e
adolescentes com até 19 anos de idade. Para tanto, foi conduzida uma revisão de artigos
publicados entre 2006 e 2016 nas bases de dados eletrônicas SciELO, PubMed,
PsycINFO e Ebsco. Dentre os seis artigos analisados, cinco deles apontaram que o
aumento de sobrevida vem acompanhado de alterações cognitivas, tais como déficits na
atenção, em funções executivas, na velocidade de processamento, na memória de
trabalho e na aprendizagem. E um dos artigos não apresentavam relação. Considerando
a relevância da identificação dos déficits cognitivos decorrentes do tratamento do câncer
para a melhoria da qualidade de vida do sujeito, acredita-se que é essencial que estudos
sobre essa relação sejam conduzidos no país.

Palavras-chave: Câncer. Tratamento. Alterações cognitivas.


4

Introdução

O câncer é atualmente considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS,


2013) como sendo o crescimento desordenado de células que podem afetar toda parte do
corpo. Do mesmo modo, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) define como o nome
dado a um conjunto de mais de 100 doenças que tem em comum o crescimento de
células malignas que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástases)
para outras regiões do corpo (INCA, 2010).

É importante evidenciar que o câncer apresenta características diferentes em


crianças comparadas ao adulto. Os fatores mais apontados para as causas de tumores em
adultos são: tabagismo, exposição ao sol, estilo de vida, em alguns casos heranças
genéticas, já na criança é mais difícil achar um determinante comum, mesmo entre os
tumores vistos com mais frequências entre as faixas etárias. Para os adultos os tumores
mais vistos são câncer de pele, próstata, colón e reto. Em crianças são as leucemias,
linfomas, e tumores do Sistema Nervoso Central (SNC) (PETRILLI; CARNEIRO,
LEITE; CYPRIANO; ANGEL; TOLEDO, 1997).

No Brasil, o INCA (2017) apresenta o câncer como a doença que mais mata
crianças e adolescentes. Essa afirmação se baseia em dados levantados no período de
2009 a 2013 em que mostra a mortalidade entre as faixas etárias, sendo: 12% dos casos
de óbitos entre 1 e 14 anos, 8% entre 1 e 19 anos e tendo 2.724 casos de óbitos em
2014. Dados atuais do Instituto apontam que no ano de 2017 estima-se o número de
12.600 novos casos de câncer infanto-juvenil, apresentando a leucemia com percentual
de 26%, os linfomas 14% e os tumores do SNC 13%.

O câncer infanto-juvenil se apresenta de forma mais agressiva que nos adultos,


pois a reprodução parte de células embrionárias primitivas, o que dificulta o diagnóstico
e permite o rápido crescimento do tumor (SANTOS, 2013). Além disso, o diagnóstico
ganha um grau maior de dificuldade, uma vez que os sinais e sintomas apresentados
inicialmente (febre, ínguas, dores de barrigas, nos membros e ronchas) pela doença, em
crianças, são muito parecidos com patologias rotineiras, necessitando cautela por parte
dos profissionais da área pediátrica. No câncer a febre aparece em qualquer horário, de
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forma normal ou progressiva, podendo apresentar oscilação de temperatura. Manchas


roxas podem aparecer sem ligação a traumas, inchaços de fígado e baço, dores ósseas e
aumento do volume da barriga são características da doença (PETRILLI, et. al., 1997).

Para a confirmação do diagnóstico é feita uma investigação da patologia


realizando exames de imagens para observação do tamanho, tipo e localização, além de
exames sanguíneos. Em alguns casos é necessário a realização de biópsia e, com a
obtenção de tais resultados, se estuda o melhor tratamento para cada caso. Os
tratamentos mais utilizados são: procedimentos cirúrgicos para a extração do tumor,
quimioterapia (QT) e radioterapia (RT), que tem como objetivo matar células
cancerígenas (WALCH; AHTLES; SAYKIN, 1998)

Apesar do aumento da incidência da doença, o Ministério da Saúde (MS) e o


INCA mostram um avanço em casos de sobrevida para tal enfermidade na faixa etária
de 1 a 19 anos, com estimativa de 64% dos casos. Estes dados mostram que o
procedimento ao combate tem revelado resultados positivos. No entanto, é de suma
importância assinalar que diversos estudos sobre câncer cerebral (DUFFNER, 2010;
MABBOTTT; PENKMAN; WITOL; STROTHER; BOUFFET, 2008; NOOGLE;
DEAN, 2013) apontam que este aumento de sobrevida vem acompanhado de alterações
cognitivas, tais como déficits na atenção, em funções executivas, na velocidade de
processamento, na memória de trabalho e na aprendizagem.

O declínio do Quociente de Inteligência (QI) é mais um fator apresentado como


parte dessas alterações cognitivas proveniente dos tratamentos de quimioterapia e
radioterapia, impossibilitando e/ou diminuindo a capacidade da criança de adquirir e
desenvolver novos conhecimentos (MASSIMINO; GIANGASPERO; GARRÈ;
GANDOLA; POGGI; BIASSONI; RUTKOWSKI, 2011; MULHERN; MERCHANT;
GAJJAR; REDDICK; KUN, 2004).

Tendo em vista os impactos que esses déficits cognitivos trazem para a vida das
crianças, a neuropsicologia busca métodos para minimizar esses danos, uma vez que a
mesma possui ferramentas que mostram essas interferências de modo isolado ou em
conjunto. Tais ferramentas (por exemplo, aplicação de testes de rastreio e processo de
reabilitação) possibilitam avaliar e desenvolver estratégias de intervenções eficazes para
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o não avanço dos déficits, além de propiciar melhora qualidade de vida do sujeito
(LEZAK; HOWIESON; LORING, 2004).

Essa área da psicologia relaciona dois grandes aspectos do estudo sobre o câncer
infantil: o primeiro leva em consideração a imaturidade do cérebro, apontando para a
maior vulnerabilidade às neurotoxinas do tratamento (DUFFENER, 2010); o segundo
leva em consideração os tumores do SNC, pois um evento nessa área pode levar a uma
nova reorganização dos processos naturais de maturação, tendo perdas significativas no
desenvolvimento cognitivo (MELLO; MIRANDA; FELDMAN; SINNES; BARBOSA;
BELTRAMI, 2006).

Assim, a neuropsicológica vem mostrando interesse nesse estudo e busca uma


melhor compreensão ao relacionar os dados entre a localização neuroanatômica das
lesões e os déficits provenientes do tumor e tratamento (MULHERN; CRISCO; KUN,
1983). Considerando, portanto, esse cenário e a relevância da identificação de alterações
provenientes da quimioterapia e radioterapia, este estudo tem como objetivo apresentar
os domínios cognitivos prejudicados em decorrência dos tratamentos do câncer, em uma
revisão sistêmica. Espera-se com isso poder agregar evidências de pesquisas no campo
da neuropsicológica e estimular pesquisadores da área a avaliar e identificar os danos
cognitivos presentes nessas crianças.

Método

Material

O material selecionado para o presente estudo consiste em artigos científicos que


tiveram como objetivo investigar e identificar as alterações cognitivas ocasionadas a
curto, médio e longo prazo, decorrentes de tratamentos do câncer em crianças e
adolescentes com até 19 anos de idade. Como fonte de análise, foram utilizados os
artigos empíricos publicados na íntegra em português, inglês ou espanhol nos últimos
10 anos (2006 a 2016), nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (Scielo),
Us Nacional Library of Medicine National Institute of Healt (Pubmed), American
Psychological Association (PsycINFO), e EBSCO. As bases de dados foram definidas
devido ao enfoque teórico e metodológico das investigações sobre os efeitos do
tratamento, alvo desta pesquisa.
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Procedimento

Após a seleção das bases de dados, foram definidos os descritores. Para isso,
uma busca prévia foi realizada nas bases selecionadas para confirmar a presença ou
ausência de resultados para cada um dos descritores. Foram utilizados nesta revisão
sistemática quatro eixos com os seguintes descritores: (1) “tumor cerebral” (“brain
tumor”) AND (2) déficit cognitivo (“cognitive déficit”) OR “neurocognitivo”
(“neurocognitive”) AND (3) “efeitos tardios” (“late effects”) AND (4) “infância”
(“childhood”).

Os critérios de inclusão dos artigos foram: (a) apresentar estudos empíricos, (b)
ter como população crianças e adolescentes com até 19 anos de idade, (c) estar
publicado nos idiomas português, inglês ou espanhol, (d) estar disponível na íntegra na
base de dados na modalidade de artigo científico e (e) ter sido publicado no período de
01/01/2006 até 31/12/2016. Foram excluídos os artigos que se tratavam de estudos
teóricos e revisões sistemáticas. Dissertações e teses também não foram consideradas.

Inicialmente foram encontrados 381 artigos (SciELO = 52; PubMed = 42;


PsycINFO = 45; Ebsco = 242). Todos esses foram exportados para um banco de dados
por meio de ferramentas disponíveis nas bases de dados eletrônicas e do programa de
planilhas eletrônicas Microsoft Excel. Os artigos em duplicidade foram mecanicamente
eliminados (n = 38), restando 343 artigos, cujos resumos foram lidos para selecionar
apenas os que respeitassem os critérios de inclusão descritos anteriormente. Um total de
337 artigos foram removidos após a leitura dos resumos, restando seis artigos finais que
foram lidos na íntegra. A Figura 1 mostra um fluxograma desse processo.
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Figura 1. Fluxograma

Análise dos Dados

Atendendo aos objetivos do estudo e visando à identificação e sistematização


dos dados obtidos, foram propostas as seguintes categorias de análise: (i) Aspectos
gerais do estudo e; (ii) Alterações cognitivas decorrentes do tratamento do câncer no
SNC. A primeira categoria auxiliará na identificação das características gerais das
intervenções, como o tempo de tratamento, quantidade de sessões e, instrumentos e
técnicas utilizados na avaliação cognitiva direcionada às crianças. Na segunda categoria,
será realizada uma discussão sobre os critérios de avaliação da efetividade das
alterações cognitivas, incluindo os instrumentos utilizados nas avaliações pré e pós-
intervenção, impactos e limites mencionados pelos autores durante e depois do
tratamento. A análise e interpretação dos dados são apresentadas nos resultados e
discussão deste trabalho.

Resultados
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Foram encontrados seis artigos, sendo quatro sobre alterações cognitivas


decorrentes das formas de tratamento do câncer e dois que não apresentavam relação. O
Canadá e o Brasil concentram o maior número de publicações. A Neuropsicologia
aparece como a área que mais publica. Dessa forma, parece haver um campo de
pesquisa que está sendo explorado por parte dos psicólogos no Brasil. Também se
considera oportuno salientar que os artigos foram em sua maioria publicados em
revistas especializadas na área (Tabela 1).

Tabela 1. Categorização geral dos artigos


Autores (ano) País Área Periódico Tipo de estudo
Garcia (2014) Brasil Psicologia Interação em Transversal
Psicologia
Leah (2009) Canadá Neuropsicologia Neuropsycholog Longitudinal
y
Mabbott Canadá Neuropsicologia Neuropsycholog Transversal
(2008) y
Lopes (2013) Brasil Neuropsicologia Trends Longitudinal
Psychiatry
Psychotherapy
Santos (2013) Brasil Avaliação Avaliação Transversal
Psicológica Psicologica
Armstrong Canadá Pediatria European Journal Transversal
of Pediatric
(2010)
Neurology 

Alguns estudos apontaram a possibilidade de danos cognitivos em crianças e


adultos que quando criança passaram por tratamentos oncológicos (cirurgias,
radioterapia e quimioterapia) por apresentarem neoplasias cerebrais (GARCIA et. al.,
2014; LEAH et. al. 2009; ARMSTROG, 2010; SANTOS et. al., 2013; MABBOTT, et.
al., 2008, LOPES et. al., 2013).

A presente pesquisa buscou investigar as alterações cognitivas provenientes dos


tratamentos apresentados tanto na remoção cirúrgica como nos tratamentos
neurotóxicos de radioterapia e quimioterapia. A tabela 2 apresenta estudos empíricos
que evidenciam as alterações cognitivas após a cirurgia, mesmo não havendo a
necessidade de tratamento complementar, uns apresentam relação entre as formas de
10

tratamento e alterações cognitivas (GARCIA et. al., 2014; LEAH et. al., 2009;
ARMSTROG, 2010; LOPES, et, al., 2013; MABBOTT, et, al., 2008) outro não
apresentou ligações acima citada (SANTOS et al., 2013).

No que diz respeito aos grupos clínicos, todos os artigos analisados levaram em
consideração a idade que receberam o diagnóstico, tempo entre diagnóstico e a avalição
neuropsicológica, diagnóstico e tratamento recebido, localização do tumor e tipos de
testes realizados.

Tabela 2. Categorização dos instrumentos e resultados


Artigo Instrumento (s) População-alvo Resultados
Garcia Escala Wechsler 21 crianças com 7-15 As crianças com
(2014) de Inteligência anos de idade meduloblastoma
WISC- III apresentaram baixo
desempenho no QI de
Execução e no Índice Fatorial
Velocidade de
Processamento, prejuízo na
velocidade psicomotora e
mental no processamento de
informações.
Crianças com Astrocitoma,
apresentaram o QI verbal e
no Índice Fatorial
Compreensão verbal mais
preservados.
Lopes Escala Wechsler 1 criança A Criança foi analisada antes
(2013) de Inteligência e depois dos tratamentos,
WISC III, apresentando declínio no QI
subprogramas em relação ao teste anterior.
de projeto de
bloco e
montagem de
objetos, TAVIS-
314
Armstrong Questionário 1877 sobreviventes Grupo 1: comprometimento
(2010) Neurocognitivo de tumor no SNC na de atenção, velocidade de
CCSS (NCQ) infância. Analisados processamento.
em grupos: um que Grupo 2, comprometimento
teve apenas o de atenção, velocidade de
procedimento processamento e memória,
cirúrgico e outro que
foi submetido aos
tratamentos
neurotóxicos.
11

Leah (2009) Questionário 9308 sobreviventes Os pacientes com tumores


Neurocognitivo de tumores e 2951 malignos no SNC
CCSS (NCQ) irmãos. Os apresentaram disfunção
sobreviventes foram neurocognitivas, na
separados por organização, memória,
grupos, 1 grupo de eficiência tarefa quando
indivíduos de comparados com os outros
tumores variados, 2 grupos.
grupos com 785 dos
sobreviventes de
tumores malignos do
SNC.
E um 3º grupo com
os irmãos.
Santos Desenho da 6 crianças com 7 e As crianças estavam
(2013) figura humana 12 anos recebendo tratamento
(DHF III) ambulatorial em média 8
meses. Não foram
apresentados dados
significativos de danos
neuropsicológicos em relação
ao tratamento.
Mabbott Prova de blocos, 64 crianças com Comprometimento no QI e na
(2008) semelhanças e tumores no SNC velocidade de processamento
códigos do separados por tipo de de informação. Não
WISC-III, tratamento e apresentou alterações
escala de comparadas com um significativas na memória e
Connors e testes grupo de 10 crianças na atenção.
verbais da com tumores
bateria de diversos.
Woodcock-
Johnson

Nos estudos de Garcia et. al. (2014); Leah et. al. (2009); Armstrong, (2010),
Lopes, et. al., (2013); Mabbott (2008) foram apresentados várias faixas etárias nos
testes o que dificulta uma ligação exata entre idade e as alterações neuropsicológicas
provenientes dos tratamentos. Porém, foi observado que quanto mais recente estiver o
processo Maturacional do SNC expostas as neurotoxinas, maiores serão os riscos, de
forma que é pertinente ressaltar que, ainda, em relação aos danos relacionados à idade
existem os critérios associados como, a natureza da lesão, tratamento adotado e
intensidade dos mesmos.
Garcia et. al. (2014) em seu estudo apresentou um grupo de crianças que
passaram por remoção de tumor sem a necessidade de RT e QT coaduna com a
literatura observando que nem a idade nem o tamanho do tumor tiveram relevância
12

sobre as lesões neuropsicológicas encontradas, sendo a localização do tumor o fator


mais relevante. Quando localizado no lado esquerdo do cérebro (responsável pelo
pensamento lógico, controle da fala e memórias), aparentou danos mais severos –
conforme os resultados dos testes aplicados nesse estudo. E, ainda, foi possível observar
que a intervenção cirúrgica causa menos sequelas que a radioterapia craniana.

Nas análises correspondentes ao tratamento e diagnósticos, foram avaliados os


seguintes dados: danos neuropsicológicos, tipo de câncer e procedimentos adotados.
Nas neoplasias benignas do SNC é visto que as crianças que passaram por cirurgia de
remoção desses tumores apresentaram alterações que comprometeram a atenção, a
velocidade de processamento, a fluência verbal e a interferência viso construtiva,
mesmo sem terem a necessidades de tratamentos neurotóxicos (GARCIA et.al.,2014).

Já nos casos em que o diagnóstico apresenta malignidade no tumor e passa a ser


exigido tratamentos pós-cirúrgicos como RT e QT, os estudos apontaram grandes lesões
no cérebro por meio da morte de tecidos neurais e perda da massa branca. Como
consequências são apresentados os seguintes déficits cognitivos: os atribuídos ao baixo
rendimento no QI de execução (QIE), índice de velocidade de processamento (IVP),
prejuízo na velocidade psicomotora, no processamento de informações,
comprometimento significativo na atenção, memória de longo prazo e de trabalho
(GARCIA et, al., 2014; LEAH, et. al., 2010; ARMSTRONG, 2010).

Em Estudos de Mabbott et. al (2008) ele apresenta dados que aponta


comprometimento no desempenho cognitivo, porem apresenta a preservação da atenção
e da memória. No estudo de Santos et. al. (2013) tem como dados aspectos negativos
para os danos cognitivos no que diz respeito à atenção, memória, Santos et.al. ainda
aponta preservação dos desenvolvimentos cognitivos das crianças.

Nos artigos analisados também se pode perceber a importância da temporalidade


entre o diagnóstico e as avaliações. Esses dados apontam que os danos
neuropsicológicos causados pelos tratamentos de câncer têm impactos de médio e longo
prazo. Em análises relativas aos tratamentos de curto prazo com temporalidade variável
de dois a doze meses não foram apresentados danos significativos nas crianças
(SANTOS, et. al., 2013). Já nos estudos que avaliaram casos com mais tempo de
tratamento e maiores intervalos entre diagnóstico e avaliação (crianças de 5 a 16 anos
até a fase adulta), foram observados os seguintes danos: significativo comprometimento
13

no QI de execução, QI total, índice fatorial de resistência à distração e índice fatorial


velocidade de processamento. Outras patologias causadas pela radiação como, por
exemplo, as disfunções endógenas, distúrbios alimentares, químicas e fobias, também
puderam ser observadas (GARCIA et. al., 2014; LEAH, et. al., 2010; ARMSTRONG,
2010; MABBOTT et.al., 2008).

Cabe ainda dizer que os impactos apresentados na literatura foram observados


em crianças e em adultos que tiveram tumores cerebrais na infância (GARCIA et. al.,
2014; LEAH, et. al., 2010; ARMSTRONG, 2010; MABBOTT et. al., 2008). Nesses
estudos, os grupos foram submetidos a testes neuropsicológicos como: Escala Wechsler
de Inteligência para crianças (WISC), questionário Neurocognitivo de sobrevivente do
câncer infantil CCSS (NCQ), Stroop test, Figuras Complexas de Rey, Words With
F\S\GBL and Animals, Five-Point e Token Test.

Nestes estudos os resultados apontados pelos testes apresentaram dados relativos


às funções neurocognitivas de atenção, velocidade de processamento de memória,
velocidade de processamento de atenção, planejamento, funcionamento executivo,
velocidade psicomotora, bem como baixos rendimentos no QI, distúrbios alimentares
(por exemplo anorexia), dependências químicas e alcoólicas, agressividades e alguns
tipos de fobias. Já nos testes de desenho da figura humana (DFH-III), prova de cubos
subteste do WISC III, semelhanças e códigos do WISC-III, escala de Connors e testes
verbais da bateria de Woodcock Johnson que foram aplicados nos estudos de Santos et.
al. (2013) e Mabbott et. al. (2008) não foram obtidos dados significativos para as
alterações neuropsicológicas de comprometimento cognitivo relacionados a atenção e
memória.

Discussão

A literatura aponta diversas alterações neuropsicológicas na vida de crianças,


jovens e até adultos que tiveram tumores cerebrais na infância, sendo necessário,
portanto, o estudo científico da ligação entre os métodos utilizados para o tratamento de
tal enfermidade e suas possíveis consequências. Os estudos analisados, nesse trabalho,
tiveram como requisitos investigar os dados que apresentavam alterações desde o
momento da cirurgia até o uso de radioterapia e quimioterapia, nos casos em que foram
necessárias. No entanto, não foi encontrada uma padronização de rastreio nas
14

avaliações, apresentando uma vasta gama de testes e deixando sugestões para novas
investigações.

Alguns dos estudos analisados não mostraram dados que associassem as


alterações relacionadas aos tratamentos oncológicos (SANTOS, et al., 2013;
MABBOTT, et al., 2008), porém em outros estudos são apresentadas as hipóteses da
existência de prejuízos cognitivos proveniente da cirurgia, QT e RT (ARMSTRONG,
2010; GARCIA et, al., 2014). Quando a criança recebe o diagnóstico de um tumor
maligno é verificado o impacto que todos os tratamentos poderão apresentar sobre o seu
desenvolvimento, pois quanto menos maturado estiver o estado evolutivo cognitivo da
criança, maiores serão os comprometimentos.

Em Mabbott et. al. (2008) não foram apresentados dados entre idade e
alterações, nem tamanho do tumor, o que foi apresentado é que a localização do tumor
mostra o quanto de devastação pode-se observar, leva em consideração que quando o
tumor é apresentado do lado esquerdo (hemisfério responsável por toda parte lógica) os
déficits são mais severos. Outra variável que também não influenciou nos resultados dos
estudos foi o sexo. Em relação a variável tempo de tratamento, Santos et. al. (2013)
apresenta que com um curto período de tratamento não foram notadas alterações no
desenvolvimento cognitivos das crianças. Já para as alterações de médio e longo prazo
Armstrong et. al. (2010) e Leah et. al (2009) apresentam dados positivos nos adultos
que tiveram câncer na infância e foram avaliados.

Conforme a vasta literatura na área médica, existe um aumento da expectativa de


vida dos pacientes devido os novos modelos de tratamentos de câncer, porém junto com
esse avanço são apresentados dados que mostram o sofrimento na qualidade de vida
pós-tratamento. Com isso, surgiu a necessidade de se estudar a ligação entre alterações
cognitivas e tratamentos oncológicos, pois os mesmos apresentam comprometimento no
desenvolvimento neurocognitivo das crianças e adolescentes nos campos de QI de
execução (QIE), índice de velocidade de processamento (IVP), prejuízo na velocidade
psicomotora, no processamento de informações, comprometimento significativo na
atenção, memória de longo prazo e de trabalho, apontando até mesmo para algumas
alterações psiquiátricas, tais como, depressão, transtorno de personalidade e transtornos
alimentares.
15

Desse modo é visto a importância de estudar as ligações entre esses


procedimentos cirúrgicos, os tratamentos neurotóxicos e as possíveis alterações
cognitivas. O interesse de novos estudos vem para a obtenção de dados mais recentes
que tragam uma nova identificação, qualificação e categorização, dando fundamentos
para formatação de meios que possam trazer menos efeitos negativos e possibilite a
neuropsicologia desenvolver métodos de intervenção e reabilitação.

A proposta para uma nova vertente de estudo é centrada na padronização dos


testes de avaliação, bem como no desenvolvimento de questionários específicos em
alterações cognitivas, levando em consideração a existência de ligação de determinadas
drogas e maiores danos, e a avaliação de novos modelos de neurocirurgias e métodos de
radiação. De maneira geral, buscamos contribuir na melhoria da qualidade de vida das
crianças e jovens e na diminuição dos sofrimentos na vida adulta daquelas pessoas que
tiveram câncer cerebral e precisaram ou de cirurgia ou de QT e/ou RT.

Considerações finais

O presente estudo buscou identificar evidências acerca da associação entre


alterações cognitivas em crianças que tiveram neoplasias cerebrais e passaram pelos
tratamentos oncológicos existentes para essa doença. Observou-se a existência de uma
gama de métodos de avaliações neuropsicológicas, em que foi apresentado em sua
grande maioria danos de médio e curto prazo na vida desses sujeitos.

Foi verificado também uma ausência na padronização dos estudos analisados,


entretanto todos eles apresentam algumas variáveis em comum, o que permite
considerar os resultados apresentados como consistentes. A principal conclusão que os
estudos apontam é que existe uma ligação entre as alterações do SNC com o processo
cirúrgico, porém com a existência da necessidade dos tratamentos de radioterapia e
quimioterapia eles se tornam mais agressivos sendo considerado como fator propulsor
das alterações neurocognitivas, a morte de tecidos neurais e a redução da massa branca.

Partindo dos estudos analisados pode-se concluir que as funções cognitivas


apresentaram alterações em vários domínios, como: QI de execução (QIE), índice de
velocidade de processamento (IVP), prejuízo na velocidade psicomotora, no
processamento de informações, comprometimento significativo na atenção, memória de
16

longo prazo e de trabalho, entre outros danos psiquiátricos, tais como, depressão,
transtorno de personalidade e transtornos alimentares. Esta pesquisa objetivou
desenvolver uma revisão do diálogo entre o vasto campo da neuropsicologia e oncologia
pediátrica, o que nos aguça o interesse de novos estudos na área para a obtenção de
dados que possibilite traçar um método em que a neuropsicologia possa agregar aos
tratamentos oncológicos com suas baterias de avaliações e seu processo de reabilitação.

Referências

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Referências

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