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ISSN 1983-392X
/ Migalhas de Peso / Desencarceramento em meio à pandemia: medidas de mitigação do contágio pela covid-19 no...
Conquanto a discussão sobre o isolamento do cidadão em atenção às recomendações de saúde reflitam na forma como estes utilizam
sua liberdade de ir e vir, há uma parcela da população brasileira contra quem a liberdade foi retirada - aqueles que encontram-se à
guarda do Estado nos estabelecimentos prisionais -, mas que, em vez de menos suscetíveis ao contágio, enfrentam uma espécie de
isolamento que torna-os ainda mais expostos à doença.
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Migalhas nº 4.867
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Ocorre que o sistema prisional brasileiro sofre com mazelas estruturais, das quais a
superlotação é apenas a mais conhecida. Doenças graves e contagiosas, como a
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06/06/2020 Desencarceramento em meio à pandemia: medidas de mitigação do contágio pela covid-19 no sistema prisional e a recomendaçã…
Nas palavras no Excelentíssimo Ministro Marco Aurélio, no voto da ADPF 347, “no sistema
prisional brasileiro, ocorre violação generalizada de direitos fundamentais dos presos no
tocante à dignidade, higidez física e integridade psíquica. A superlotação carcerária e a
precariedade das instalações das delegacias e presídios, mais do que inobservância, pelo
Estado, da ordem jurídica correspondente, configuram tratamento degradante, ultrajante e
indigno a pessoas que se encontram sob custódia. As penas privativas de liberdade
aplicadas em nossos presídios convertem-se em penas cruéis e desumanas. Os presos
tornam-se ‘lixo digno do pior tratamento possível’, sendo-lhes negado todo e qualquer direito
à existência minimamente segura e salubre. Daí o acerto do Ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, na comparação com as ‘masmorras medievais’”1.
Norberto Avena nos ensina que reinserção social do condenado ou internado “traduz a ideia
de ofertar, durante a execução, os meios necessários a que os apenados e os sujeitos a
medida de segurança possam alcançar a reintegração social”2.
Diante deste cenário, o CNJ editou, de maneira muito bem acertada a nosso ver, a
recomendação 623, em que o ministro Dias Toffoli, do STF, considerou a situação de
pandemia, compatibilizando a necessidade de enfrentamento da emergência de saúde
pública com a realidade do sistema prisional e socioeducativo.
A recomendação do CNJ parte das premissas de que o Estado é garantidor da saúde das
pessoas privadas de liberdade, que o coronavírus se propaga rapidamente em espaços de
confinamentos, e de que o alto índice de transmissibilidade da doença denota um
significativo risco de contágio nos estabelecimentos prisionais. Fatores estes que colocam
em perigo a vida e a saúde dos custodiados e internados, bem como de todos os agentes
públicos e visitantes dos estabelecimentos prisionais.
Das várias instruções que expostas pelo CNJ, chama a atenção a recomendação de que os
magistrados, com vistas à redução dos riscos no contexto de disseminação do vírus,
consideram a reavaliação das prisões provisórias. Isto é, na prática, deverá o juiz reavaliar a
situação do preso para analisar a com novos olhos a possibilidade de retirá-lo do sistema
prisional, ainda que com imposição de outras restrições diversas da prisão.
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06/06/2020 Desencarceramento em meio à pandemia: medidas de mitigação do contágio pela covid-19 no sistema prisional e a recomendaçã…
Importa frisar que as medidas visam proteger mais do que aquelas pessoas presas ou
internadas, mas protegem os trabalhadores do sistema prisional, os profissionais de saúde, e
todos os envolvidos nas atividades envolvendo unidades prisionais.
Por certo que tal recomendação foi alvo de críticas, a exemplo daquela tecida pelo Ministro
da Justiça e Segurança Pública, que afirmou em sua conta no Twitter que “não podemos
enfrentar junto com a epidemia do coronavírus uma crise na segurança pública. É preciso,
com todo o respeito, que os magistrados examinem os casos individuais e limitem as
solturas a necessidades demonstradas”4.
Ao que parece, em seu discurso, o ministro da Justiça prefere sustentar um imaginado risco
à segurança pública, sustentando em seu exercício de imaginação que a segurança deve
prevalecer sob o direito à vida. Contudo, a segurança pública deveria ser garantida pelo
próprio Estado, através de medidas que vão muito além do encarceramento em massa,
sobretudo em razão da já apresentada finalidade da pena de prisão.
Ocorre que inobstante o dever estatal de garantir saúde aos reclusos, a já mencionada
ADPF 347 fez constar que o Estado efetivamente é falho neste dever.
___________________
1 ADPF 347 MC, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/09/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-031 DIVULG 18-02-2016 PUBLIC 19-02-2016
2 AVENA, Norberto. Execução Pena, 5ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2018.
Edição Digital, p. 25
5 Autos n. 20.1058-72.2020.8.26.0000
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7 RE 841.526, Relator(a): Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, julgado em 30/03/2016, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159 DIVULG 29-07-2016 PUBLIC 01-08-
2016
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