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07/06/2020 Política da Suécia para coronavírus assusta residentes estrangeiros | Notícias internacionais e análises | DW | 07.06.

2020

NOTÍCIAS / MUNDO

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CORO N AV ÍRUS

Política da Suécia para coronavírus assusta residentes


estrangeiros
Na contramão da Europa, Suécia optou por uma política relaxada em relação à pandemia. Agora um número considerável de
imigrantes críticos à abordagem pretende ir embora do país assim que possível.

Suecos aproveitam um dia de sol em Estocolmo. Estratégia do país contrastou com vizinhos nórdicos

Eva Panarese cresceu na Itália, de mãe sueca, e sempre sonhou ir morar na Suécia. Dois anos atrás, conseguiu fazer a mudança: ela, o marido
e os filhos estavam felizes com sua nova vida. Como para tantos outros, porém, a chegada da pandemia de covid-19 à Europa representou uma
reviravolta.

Após retornarem de uma viagem de trabalho na Itália, em fevereiro, o marido e o filho ficaram doentes. "Fiquei bem chocada pelo modo como
o hospital lidou com a situação: sem máscaras, nada, nós poderíamos ter levado o coronavírus para o hospital", comenta Panarese.

O diagnóstico foi pneumonia, seu filho se recuperou rapidamente, mas o marido continuou doente. Para evitar que ele contraísse covid-19 das
crianças, decidiu mantê-las em casa. Mas a escola se opôs, e a mãe passou a receber diariamente telefonemas e cartas ameaçadoras. "Eles não
se importam se você tem uma pessoa em risco em casa, se o seu filho está saudável, ele tem que ir à escola", queixa-se.

Na Suécia é ilegal deixar de enviar à escola uma criança saudável, e cabe aos diretores decidirem se um aluno pode ficar em casa. A imprensa
tem noticiado sobre diversos casos de escolas e prefeituras ameaçando pais que mantenham seus filhos em casa com multas, denúncias aos
serviços de saúde ou reprovação do aluno.

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07/06/2020 Política da Suécia para coronavírus assusta residentes estrangeiros | Notícias internacionais e análises | DW | 07.06.2020
A solução encontrada por Panarese foi abandonar seu país dos sonhos: "Vou manter meu emprego na Suécia e simplesmente me mudar para
a Dinamarca  que fica só a 30 minutos de carro , onde eles são sensíveis às famílias em risco."

Ameaça de deportação para trabalhadores estrangeiros

Enquanto a maioria dos países adotou medidas de confinamento para evitar o alastramento do vírus, a Suécia optou por outro caminho,
divulgando diretrizes informais sobre distanciamento social, deixando abertas escolas, restaurantes e bares, e pedindo aos cidadãos para
agirem com responsabilidade.

A estratégia suscitou tanto louvor quanto condenação, no país e no exterior. Atualmente, A Suécia, com 10,2 milhões de habitantes apresenta
cerca de 42 mil casos de covid-19, com 4.560 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins.

Na última quarta-feira, era o quinto país do mundo em mortes para cada 100 mil habitantes (43,3). Ainda está abaixo de outros europeus
mais atingidos pela pandemia, como Espanha (58,1), Reino Unido (58,9) e Itália (55,4). Mas supera de longe as vizinhas Dinamarca (9,9),
Finlândia (5,8) e Noruega (4,4), que impuseram bloqueios muito mais duros no início da pandemia.

Assim como Panarese, os cidadãos que se sentem negativamente afetados pela política, ou que prefeririam que o país tivesse agido diferente,
estão fazendo planos para se mudar, assim que a crise global tenha passado.

"A sequência da pandemia verá uma hemorragia de talentos estrangeiros", prevê Emanuelle Floquet, diretora de projetos do think tank sueco
Working for Change Matters, dedicado à diversidade cultural nas empresas. "Muitos estão também perdendo o emprego e cairão para ainda
mais baixo na lista de prioridades, muito atrás dos suecos."

Com base em postagens no Facebook, Floquet detecta duas tendências entre os grupos de imigrantes: os que apoiam fortemente a estratégia
de Estocolmo e os que querem ir embora. Numa enquete informal, 350 estrangeiros indicaram que estão no processo de emigrar ou planejam
fazê-lo.

O governo projeta uma taxa de desemprego de 9% em 2020, a mais alta em mais de 20 anos. Isso significa que 500 mil dos 6,4 milhões de
cidadãos aptos estariam sem trabalho até o fim do ano. Por outro lado, de acordo com a lei sueca, estrangeiros com visto para trabalho têm até
três meses para encontrar um novo emprego.

Contudo encontrar trabalho dentro desse prazo também pode não bastar para garantir a permanência. Uma especialista em TI nigeriana  que
não quer seu nome publicado, por medo de represálias  relata ter recebido recentemente um aviso de deportação, apesar de ter encontrado
emprego no prazo estipulado.

A justificativa das autoridades de imigração foi que a vaga não fora divulgada pela Agência Sueca de Emprego Público, mas só listada no
Linkedin, onde a especialista a encontrou. Agora ela está insegura quando  ou se poderá partir, já que o espaço aéreo nigeriano está fechado.

O preço de uma voz crítica

Em abril, diretor do departamento de imigração sueco declarou que assalariados e requerentes de asilo estrangeiros que perderam o emprego
poderiam perder também seu visto para trabalho, sem uma nova legislação. Outros países da União Europeia, como a França, prorrogaram
automaticamente todos os vistos por mais seis meses.

"Não sei se os talentos irão embora por causa da política da Suécia para o coronavírus", comenta Matt Kritteman, especialista em migração da
Fundação Diversify, engajada pelos direitos dos trabalhadores estrangeiros. "Mas sabemos, sim, que as autoridades disseram muito
claramente a todos o que vai acontecer seu uma legislação."

Para a epidemiologista belga Nele Brusselaers, é tarde demais: após oito anos na Suécia, ela pretende emigrar. Funcionária do prestigioso
Instituto Karolinska, ela tem sido uma das opositoras mais veementes da estratégia nacional para a epidemia, e descobriu que se pronunciar
criticamente pode ter um alto custo.

"Sou vítima de trolls e insultada porque me preocupo pela segurança dos meus alunos, amigos, colegas e suas famílias", comentou em e-mail à
DW. Em sua opinião, a confiança que muitos residentes estrangeiros tinha na Suécia está abalada, possivelmente para sempre.

"Toda escola, por todo o mundo, se preocupa com a segurança dos seus professores e alunos  menos na Suécia. Todo hospital ou
estabelecimento de cuidados se preocupa com a saúde e segurança dos seus empregados, pacientes e residentes  menos na Suécia. Ninguém
assume responsabilidade, ninguém assume a culpa. Ninguém parece se importar."

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07/06/2020 Política da Suécia para coronavírus assusta residentes estrangeiros | Notícias internacionais e análises | DW | 07.06.2020

A EV O L U ÇÃO DA PANDEMIA DE CORON AV Í R U S

Tudo começou em Wuhan


A China notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre uma misteriosa pneumonia em Wuhan, de
cerca de 11 milhões de habitantes. Especialistas de todo o mundo começaram a tentar identificar o agente
causador. Supõe-se que ele tenha se originado num mercado de frutos do mar na cidade, que logo foi
fechado. Inicialmente foi comunicado que havia cerca de 40 pessoas infectadas. (31/12/2019)

LEIA M A I S

Suécia começa a questionar sua estratégia contra pandemia


Na contramão dos vizinhos europeus, país aplicou poucas restrições de movimento. Mas números sugerem que plano pode ter custado vidas, sem salvar a
economia. Epidemiologista-chefe faz mea-culpa. (03.06.2020)  

Número de mortes por mês bate recorde na Suécia


Citada como "modelo" por populistas de direita, país que evitou impor medidas mais rígidas de isolamento do que os vizinhos registrou o maior número de
óbitos em um mês desde dezembro de 1993. (18.05.2020)  

Suécia pouco alterou seu cotidiano por causa do coronavírus


Governo evitou proibições e fechamentos e se concentrou em recomendações aos cidadãos – até agora, pois muitos suecos estão se perguntando se o país
está mesmo no caminho certo e questionando as autoridades. (26.03.2020)  

Suécia abre investigação sobre resposta à covid-19


País nórdico decide acelerar averiguação sobre gestão de crise durante pandemia do coronavírus em meio à crescente pressão de partidos oposicionistas.
Alto número de mortes foi registrado em lares para idosos. (02.06.2020)  

Data 07.06.2020

Autoria Heba Habib (av)

Assuntos relacionados Vacina, Coronavírus, covid-19, Saúde, Meio Ambiente, Migração, Síndrome Takotsubo, Xenofobia

Palavras-chave Suécia, coronavírus, covid-19, pandemia, imigração, saúde, política de trabalho

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