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BOLETIM

#02 da Anaí e Mupoiba- 29/05/2020 - 20hs

Monitoramento da situação das terras e dos povos indígenas na Bahia frente a


pandemia da Covid-19.

Uma ação da Associação Nacional de Ação Indigenista - Anaí e do Movimento Unido dos Povos
e Organizações Indígenas da Bahia – Mupoíba.

Esta semana trouxe a confirmação da chegada da Covid-19 aos territórios e povos indígenas na
Bahia. Até ontem, 28 de maio, eram 17 (dezessete) casos confirmados: 9 (nove) entre os
Tupinambá e 8 (oito) entre os Pataxó, mas,dentre esses úl[mos, cinco são pessoas não
indígenas engajadas em obra estranha à comunidade.


No bole[m anterior, registramos um óbito suspeito, na Terra indígena Tupinambá de Olivença,
que, dias após a nossa publicação, infelizmente foi confirmado como tendo sido causado por
Covid-19. Casos que haviam sido testados, especialmente em função de relações de
proximidade com o indígena falecido, em parte foram também confirmados. De modo que, até
o momento, chegamos aos 17 casos acima indicados, e, em ambas as situações, em territórios
indígenas cortados por rodovias movimentadas e vizinhos a dois grandes centros urbanos
(respec[vamente Ilhéus e Porto Seguro), ambos com registros de contaminação desde o início
da pandemia, e, no caso de Ilhéus, com uma das mais altas taxas de infecção no estado.

O contexto é sensível por dis[ntos mo[vos, inclusive pelo contexto de invasão histórica do
território tupinambá, na região sul do estado. O avanço da fronteira agrícola e do turismo
sobre essa tradicional Terra Indígena tratou de aproximar os índios ao contexto urbano e essa
aproximação, contraditoriamente, gera distanciamento, rejeição e racismo. O sen[mento an[
indígena no sul da Bahia provoca insegurança e medo, agravado pelo es[gma e pelo
desconhecimento sobre a doença. A covid, portanto, transformou-se em mais um mecanismo
no grande genocídio de povos indígenas, mas não apenas pelo seu caráter epidêmico, uma vez
que o racismo contra os indígenas também impede a circulação adequada de informações
fundamentais para a prevenção.

Especialmente no caso do óbito, como já mencionamos em nosso bole[m anterior, a ví[ma,
que apresentou, na comunidade, quadro convulsivo compacvel com AVC, foi encaminhada
para o Hospital Costa do Cacau em Ilhéus, que já apresentava, então, alcssimo índice de
contaminação ainda não devidamente detectado. Como bem afirmou a vice presidente da
ANAI e diretora do Mupoíba, Ru[an Rosário Pataxó, "o coronavírus veio para ser aliado de
Bolsonaro na tenta[va de exterminação dos povos".

Não é de causar estranhamento que os outros oito casos estejam na Terra Indígena de Coroa
Vermelha, do povo Pataxó, igualmente impactada pelo turismo e inserida em forte contexto
urbano, entre as cidades de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro. Contudo, mesmo em meio a
esse preocupante cenário, a Bahia segue com índice de contaminação indígena bem abaixo do
de outros estados, inclusive da região.

Vimos, ao longo da semana, fortalecidas as ações internas de promoção da proteção e do
autocuidado entre os povos. De norte a sul da Bahia, as Terras Indígenas estão com barreiras
sanitárias ou fechamento total dos seus acessos.

Costureiras indígenas de outros povos juntaram-se à ação de fabricação de máscaras e agora,
além das tupinambás, mulheres pataxós hãhãhãi e tuxás estão produzindo. A campanha para
angariar recursos des[nados ao material necessário (tecidos e aviamentos) está em todas as
redes sociais das en[dades que promovem a ação (Anaí, Apoinme, Kunhã Axe, Delas para
Todxs, Mupoíba e Pineb/Uia). Compar[lhem e contribuam!

Por fim, chamamos atenção para o grande desafio que enfrentamos nessa semana: no
levantamento de dados para elaboração deste bole[m, nos deparamos com informações
incompletas e que não dialogavam. Tentando compreender o contexto, conversamos com
lideranças de povos e organizações indígenas sobre a necessidade de informar corretamente às
comunidades sobre a chegada da doença nos territórios indígenas e o desafio de se fazer isso
mesmo sob forte es[gma.

Conhecemos bem o racismo que permeia a vida dos povos indígenas no Brasil, agravado pelo
contexto polí[co atual, e, por isso, finalizamos com destaque para a campanha que iniciamos
ontem: #Diversidade acima de tudo #respeito acima de todxs!


Fontes de informação: Relatório consubstanciado do Dsei-BA (27/05), BoleCns Epidemiológicos
Covid-19 do Polo Base de Ilhéus (25 e 26/05), BoleCm Epidemiológico da Prefeitura de Santa
Cruz Cabrália (27 e 28/05), caciques e lideranças indígenas do Mupoíba.

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