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Capítulo 1
Introdução
Embora a data de seu nascimento seja por volta do ano 69, próximo da
data do martírio de Paulo em Roma, Policarpo não nasceu num lar
cristão. Na verdade, o seu local de nascimento é desconhecido, porque ele
apareceu em cena na história da igreja de uma forma estranha e
intrigante, um modo que é uma evidência dos caminhos misteriosos da
providência de Deus.
Logo depois do menino vir para a casa de Callisto ele deu evidências da
obra do Espírito de Cristo em seu coração. Ele era sério e reservado,
gentil para com aqueles com quem ele se associava, muito dado ao estudo
das Escrituras, e diligente em testemunhar a outros de sua fé. Uma
característica marcante de sua conduta foi a sua abnegação, algo que,
sem dúvida, foi usado pelo Senhor para prepará-lo para o martírio
futuro. É difícil ver como pessoas auto-indulgentes, excessivamente
mimadas, que têm muito demais de bens deste mundo e que sempre
anseiam por mais, podem enfrentar o martírio, se for exigido deles.
Inácio, bispo de Antioquia, uma cidade muito distante para o leste, onde
Paulo havia começado seus trabalhos na Ásia Menor, em sua primeira
viagem missionária, veio por Smirna a caminho de Roma e seu martírio
lá. Eles passaram uns dias agradáveis juntos em Smirna, recordando o
seu passado de amizade quando Inácio vivia também em Smirna e os
tempos em que ambos haviam estudado sob o apóstolo João.
Algum tempo depois, Policarpo também viajou para Roma. Uma disputa
sobre a data da comemoração da morte e ressurreição do nosso Senhor,
havia ameaçado dividir a Igreja. As igrejas da Ásia Menor
comemoravam estes eventos na mesma altura do ano que tiveram lugar,
ou seja, a comemoração começou no dia 14 de Nisan, o dia da Páscoa,
quando o Senhor comeu a última ceia com seus discípulos. Isso
significava, naturalmente, que estes acontecimentos da vida do Senhor
eram observados a cada ano num dia diferente da semana, e a
ressurreição não era celebrada no primeiro dia da semana todos os
anos. Esta tradição, de acordo com Policarpo, foi apostólica, por Paulo e
João haverem ensinado nessas igrejas esta prática. Mas as outras igrejas,
lideradas por Roma, desejavam a ressurreição do Senhor celebrada no
primeiro dia da semana, e assim haviam instituído a prática de a celebrar
no primeiro Dia do Senhor após o primeiro dia da Primavera. A questão
era sem grande importância, é claro, mas ameaçou dividir a igreja
primitiva em duas facções.
Policarpo, no interesse de resolver a questão, viajou para Roma para
conversar com Aniceto, o ministro da congregação lá. Eles discutiram o
assunto durante um tempo, mas nenhum podia convencer o outro. O
resultado foi que decidiram permitir às igrejas a liberdade de celebrar
esses acontecimentos da vida do Senhor, na data que escolhessem, sem
rancor, amargura, nem contendas. Como um gesto de sua separação
amigável, Aniceto pediu a Policarpo para presidir à administração da
Ceia do Senhor na igreja de Roma, que Policarpo assim fez.
O Martírio de Policarpo
Quando Policarpo era um homem velho, com pelo menos 85 anos, uma
onda de perseguição irrompeu em Smirna, provocada pela multidão que
estava sedenta de sangue dos cristãos. Catorze cristãos foram presos e
arrastados para a arena pública, onde foram dados a comer à
feras. Todos menos um morreram gloriosamente, um até mesmo
esbofeteou um animal selvagem que parecia ser muito preguiçoso para
atacar o cristão que era suposto ser seu jantar.
"Eu servi-O por 86 anos e Ele nunca me fez nada de mal. Por que então
eu deveria blasfemar contra meu Rei e meu Salvador?"
"Dê suas ordens. Quanto a nós, cristãos, quando nós mudamos, não é de
bom a ruim: é esplêndido passar pelo mal para a justiça de Deus."
É uma lição permanente para nós que aqueles que morreram por sua fé
com orações e cânticos de louvor em seus lábios eram aqueles que sabiam
o que acreditavam, amavam a verdade, e estavam dispostos a morrer por
ela. Policarpo tornou o seu amor pela verdade claro numa carta que
escreveu à igreja em Filipos, na qual ele os advertiu contra as heresias
que já apareciam na igreja. Ele disse:
Quem não confessar que Jesus Cristo veio em carne, é anticristo, e quem
não confessar o mistério da cruz, é do diabo, e aquele, que arranca as
palavras do Senhor, segundo o seu próprio prazer, e diz: não há
ressurreição e julgamento, é o primogénito de Satanás. Portanto,
podemos abandonar o balbucio vazio desta multidão e seus falsos ensinos,
e voltar à palavra que nos foi dada desde o início. . . .
(Traduzido por Nuno Pinheiro do livro “Portraits of Faithful Saints” de Herman Hanko.)