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15/06/2020 De pandemias e pandemônios - JOTA Info

COLUNA JUÍZO DE VALOR

De pandemias e pandemônios
A crise do essencial: mais riscos, menos proteção

GUILHERME GUIMARÃES FELICIANO


ANANDA TOSTES ISONI

15/06/2020 07:07

Foto: PMRJ/Fotos Públicas

“É difícil defender,
só com palavras, a vida
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina”
João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina (1955)

Olá, caro Leitor!

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A coluna deste mês não poderia deixar de se debruçar sobre o tema do momento
(para o mal e para o mal): a pandemia global do Sars-Cov-2, que tão agudamente
atingiu o Brasil, em um contexto improvável de vulnerabilidade sanitária, visão
política obtusa – especialmente nas mais elevadas esferas federais – e crise
econômica concomitante.

Fatos, teses e fakenews acumulam-se no horizonte cognitivo da população e das


autoridades, transformando o ensejo da pandemia num contexto de pandemônio
(com escusas pelo jogo de palavras): na melhor acepção dos léxicos, “mistura
confusa de pessoas ou coisas [ou, acrescente-se, de informação]; confusão”.

E, de fato, assim é. Neste momento (primeira quinzena de junho de 2020),


ultrapassamos já os trinta mil mortos. E, pelas estatísticas mais desfavoráveis,
chegaremos ao nal do segundo semestre com algo entre 100 e 200 mil mortos.

Em tal contexto, dirigiremos essas breves considerações ao aspecto mais relevante


e sensível de toda a nossa atual circunstância: a condição do trabalhador nas
situações mais intensas de risco. A isto.

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Sabe-se que a essencialidade é o critério de nidor das atividades que permanecem


ou não em funcionamento em situações limites, como a da pandemia
desencadeada pelo Sars-Cov-2. Enquanto muitos permanecem resguardados em
seus lares, outros se expõem a situações de risco, em benefício da coletividade.

Por razões óbvias, esses são os trabalhadores e as trabalhadoras sujeitos aos mais
intensos graus de risco de contaminação, como, aliás, tem apontado diversas
agências internacionais e estrangeiras. Tome-se, por todas, a classi cação da
OSHA-USA[1], que dividiu os trabalhadores em geral em quatro grupos de risco:

(a) aqueles que estão sob risco muito alto de exposição ao Sars-Cov-2 (que
designamos como gravíssimo): médicos, enfermeiros, dentistas, paramédicos,
técnicos e auxiliares de enfermagem e demais pro ssionais que mantenham
contato atual ou potencial com pacientes de Covid-19 (diagnosticados ou
suspeitos), como os que realizam exames, coletam amostras ou realizam autópsias;

(b) aqueles que estão sob risco alto de exposição (que designamos como grave):
fornecedores de insumos de saúde e pro ssionais de apoio que entrem nos quartos
ou ambientes onde estejam ou estiveram pacientes de Covid-19 (diagnosticados ou
suspeitos), pro ssionais que realizam o transporte desses pacientes e pro ssionais
que trabalham no respectivo preparo dos corpos para cremação ou enterro, entre
outros similares;

(c) aqueles que estão sob risco médio de exposição: trabalhadores que demandam
contato próximo – i.e., menos de dois metros – com pessoas que possam estar
infectadas com o novo coronavírus (= “prováveis” infectados), mas que não sejam
consideradas casos suspeitos ou con rmados, tais como os que têm contato com
viajantes que retornaram de regiões de transmissão comunitária contínua, ou os que
mantêm contato com o público em geral (escolas, ambientes de grande
concentração de pessoas, grandes lojas de comércio varejista etc.); e

(d) aqueles que estão sob risco baixo de exposição: trabalhadores que não se
sujeitam a contatos com indivíduos diagnosticados, suspeitos ou prováveis de
contaminação viral, e que não têm contato a menos de dois metros com o público.

Pois bem. A compreensão de que os trabalhadores e as trabalhadoras das duas


primeiras faixas – e outros tantos descritos pelo art. 3º, §1º, do Decreto nº 10.282,
de 20 de março de 2020 (alguns, aliás, cuja “essencialidade” pro ssional seria
discutível, ao menos para ns de potencialização do risco pessoal, como aqueles
ativados em salões de beleza, barbearias e academias de esportes) – são

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essenciais se contrapõe à desfaçatez com que são descumpridas medidas de


saúde e segurança de trabalho, nos mais diversos âmbitos da socialidade.

Vejamos.

Entre as atividades essenciais, nos termos do referido decreto, estão as indústrias de


alimentos (art. 3º, §1º, LIII, in ne) e as atividades industriais em geral (art. 3º, §1º,
LV), que, na classi cação da OSHA, estariam entre a terceira e a quarta faixa de
risco.

E, em relação a esses eixos de atividade econômica, o noticiário recente tem sido


farto, especialmente no que atine às (más) condições labor-ambientais em plena
pandemia.

Em 18 de maio, a Subsecretaria de Inspeção do Trabalho relatou haver empregados


com teste positivo para Covid-19 trabalhando em um frigorí co de Ipumirim (Santa
Catarina).

Foram também reportadas a ausência de distanciamento seguro na linha de


produção e a exposição de pessoas que integram grupos de risco, dentre outras
infrações. Havia oitenta e seis casos con rmados da doença quando a unidade foi
interditada.

O estabelecimento pertence à Seara Alimentos, do grupo JBS, que obteve


autorização judicial para reabertura a partir de 1º de junho, por meio de decisão
liminar.

Com crescimento de casos de Covid-19, setor de frigorí cos aguarda protocolo


+JOTA: 

federal

O caso impressiona, mas não é de todo inédito. Dez dias antes, a interdição de outro
frigorí co da JBS em Passo Fundo (Rio Grande do Sul) havia sido determinada pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, depois de constatado surto de
coronavírus entre funcionários.

A Justiça do Trabalho impôs a paralisação das atividades até a comprovação do


atendimento integral das medidas de combate à propagação da doença. Em 20 de
maio, as atividades foram retomadas após autorização do Tribunal Superior do
Trabalho, que deu efeito suspensivo ao recurso interposto pela empresa. A decisão
menciona a alegação de que fatos novos comprovariam a inexistência de risco à
saúde dos trabalhadores.

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“Inexistência de risco” em plena Risikogesellschaft[2], diga-se, chega a ser uma


aporia; e, já por isto, não está no horizonte de possibilidades do Direito “eliminar”
todos os riscos da contemporaneidade.

É dever do Poder Judiciário assegurar, ao revés, o seu mínimo controle, em


ponderação contínua com a segurança psicossomática dos trabalhadores que a
eles se sujeitam.

E, nesse sentido, a estrutura judiciária inclusive legitima o risco, sem qualquer


propensão “anticapitalista”. Mas há que ter limites. No que diz respeito à pandemia
da Covid-19, estarão sendo geralmente observados?

Os dados nos respondem negativamente. Longe de ser uma singularidade de


determinado ramo ou empresa, ou das duas unidades da Federação acima referidas,
o descumprimento de normas relacionadas ao trabalho durante a pandemia foi
alegado em 18.422 denúncias recebidas pelo Ministério Público do Trabalho, pelos
dados disponíveis, até o fechamento deste artigo (maio de 2020).

Dessas, 9.077 estavam relacionadas ao novo coronavírus[3]. Os casos abrangem os


mais diversos setores, notadamente o de saúde. Essa dura realidade re ete-se
também em levantamentos realizados por entidades associativas.

O Conselho Federal de Enfermagem registrou mais de 15 mil casos de adoecimento


por Covid-19 e de 6.200 queixas, em sua maioria relacionadas à falta ou
inadequação de equipamentos de proteção individual.[4] A Associação Médica
Brasileira recebeu outras 3.588 denúncias[5].

Como protagonistas da pandemia (riscos gravíssimos e graves, como visto acima),


os pro ssionais de saúde expõem, em boa medida, a vulnerabilidade de muitos
outros homens e mulheres que trabalham durante a pandemia.

O temor da dispensa não apenas os inibe de se negar à exposição ao risco


desmedido, como também os constrange a atuar como vetor de transmissão do
vírus. Avilta-se, a um só tempo, sua integridade física e moral.

Esse cenário distópico não é mera fatalidade. É


consequência de uma cultura econômica global em

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que o sucesso de um país é medido pela taxa de


crescimento de seu Produto Interno Bruto (PIB).

E, para abrir caminho aos grandes e poucos vencedores, parece valer tudo; inclusive
o menoscabo à vida e à dignidade de trabalhadores e trabalhadoras ditos essenciais.

A eles cabe lidar com a contradição de serem “pessoas”, na perspectiva do Direito,


mas “recursos” (humanos) disponíveis em mercado (de trabalho), na perspectiva da
Economia; e, ante o predomínio recorrente da linguagem econômica nos foros de
deliberação política, terminam “coisi cados” – quando não descartados – como
“mercadorias”, em agrante agressão ao primeiro imperativo categórico kantiano[6]
(aliás, nada mais liberal que isto, a demonstrar a incoerência do modelo à luz de
seus próprios pressupostos) e à máxima ética maior da Declaração de Filadé a, de
10.5.1944.[7]

Mesma abordagem, aliás, per lha-se e reconhece-se quando os pacientes


infectados com o Sars-Cov-2 são identi cados, no discurso, como “clientes Covid”.[8]

Para mais, os riscos a trabalhadores e trabalhadoras se agravam em razão da parca


estrutura administrativa disponível à inspeção do trabalho no Brasil. Historicamente,
a atividade era atribuída ao Ministério do Trabalho, extinto em 2019, após 88 anos de
existência.

Desde então, a atividade passou a ser realizada pelo Ministério da Economia (ainda
aos cuidados da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho – até então secretaria –,
vinculada que está à Secretaria das Relações de Trabalho e da Previdência Social).

O dé cit de auditores scais do trabalho é sintomático da incapacidade do órgão de


atender à demanda: são 3.644 cargos existentes, dos quais menos de 60% estão
providos[9].

A obrigatoriedade de que o número de inspetores do trabalho seja su ciente ao


exercício e caz de suas funções está prevista no art. 10 da Convenção nº 81 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A norma, que trata da Inspeção do Trabalho na Indústria e Comércio, foi rati cada
em 1957 pelo Brasil. Durante a ditadura militar, o país a denunciou, por meio de nota
encaminhada à OIT (1971), sob os auspícios do então presidente da República,
General Emílio Garrastazu Médici.
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Há relatos de que o estopim para a decisão teria sido a denúncia formalizada pelo
inspetor do trabalho Humberto Talaricco, informando à OIT o descumprimento de
artigos da convenção[10]. Apenas em 1987, após a redemocratização, a convenção
voltou a vigorar no direito interno.

Nada obstante, a quantidade de cargos de auditores scais do trabalho permaneceu


inalterada desde 1984 e o contingente efetivo atual é o menor dos últimos 20
anos[11].

A omissão também comunica: a scalização do trabalho jamais foi prioridade no


elenco das políticas públicas nacionais, independentemente das cores ideológicas
que estiveram à frente das pastas ministeriais federais (apesar do texto
constitucional em vigor).

O quadro atual, porém, é mais crítico do que os quadros consolidados nos governos
anteriores. Na lei orçamentária de 2020, a destinação de recursos à scalização
trabalhista teve queda de 49% em relação ao ano anterior. É o menor patamar da
série histórica, corrigida pela in ação.[12]

Nem o rompimento das barragens de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019,


foram capazes de deter a sanha da contenção de gastos em nome do
desenvolvimento econômico. Premissa que, a propósito, opõe-se a evidências de
que o Estado deve exercer papel central na construção de caminhos para o
crescimento sustentável[13].

Nesse país em que se tornou lugar comum vociferar contra o “excesso de proteção
a empregados”, um acidente de trabalho acontece em média a cada 49 segundos. A
cada 3 horas e 3 minutos, um desses acidentes resulta em morte[14].

No panorama mundial, em 2018, dentre duzentos países, o Brasil ocupou o quarto


lugar no ranking das nações que mais registram mortes durante atividades laborais
(perdendo apenas para Estados Unidos, Tailândia e China); e, em números totais de
acidentes de trabalho, ocupou o quinto lugar, depois de Colômbia, França, Alemanha
e Estados Unidos.[15]

Estima-se que o cenário seja ainda mais grave que as estatísticas. Estudos com
abordagem epidemiológica apontam elevado índice de subnoti cação de
afastamentos relacionados ao trabalho[16].

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Com o novo coronavírus, essa tendência deve se acentuar. Uma estimativa realizada
por pesquisadores brasileiros indica que a quantidade de casos reais de contágio
supera em mais de 13 vezes os registros o ciais[17].

Essa discrepância afetará, por consequência, o


levantamento dos casos caracterizados como
doença ocupacional e o adequado encaminhamento
desses trabalhadores e trabalhadoras adoecidos.

Não fosse a recente decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito dos artigos 29
e 31 da Medida Provisória 927/2020, essa compreensão da realidade seria ainda
mais distorcida e precarizante.

O primeiro não considerava casos de contaminação por coronavírus como doença


ocupacional, exceto mediante comprovação do nexo causal; criava-se, portanto,
uma presunção legal contrária à indenidade do trabalhador, ao arrepio do art. 7º, XXII,
da CRFB, e à própria lógica que há décadas têm informado o Direito da Seguridade
Social (v., e.g., os artigos 20, §1º, “d”, e 21-A da Lei 8.213/1991).

O último restringia, pelo período de 180 dias a partir da entrada em vigor da MP


927/2020, a atuação de auditores scais à atividade de orientação, como regra (i.e.,
obstava a autuação administrativa, inclusive em casos envolvendo a própria
contaminação comunitária intramuros pelo Sars-Cov-2, solapando qualquer noção
de prioridade sanitária).

Ao apreciar liminares de sete Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs), o


Plenário suspendeu a e cácia dos dois dispositivos. Por maioria, diga-se.

Prevaleceu, com efeito, o voto divergente do ministro Alexandre de Moraes, para


quem os dispositivos em questão destoariam do próprio objetivo declarado da MP,
na medida em que não conciliam os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa,
não promovem o enfrentamento da pandemia e tampouco observam os requisitos
de relevância e urgência exigidos pelo artigo 62 da Constituição. ]

O ministro ponderou que o artigo 29 agravaria a condição de inúmeros


trabalhadores de atividades essenciais expostos a riscos; e não apenas médicos e
enfermeiros (= riscos gravíssimos e graves), mas também “motoboys” que prestam
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serviços de entrega, a quem o Brasil teria passado a dar muito mais “valor” depois da
pandemia.

Quanto ao artigo 30, disse ser a atividade scalizatória essencial, sobretudo no atual
contexto de relativização de vários direitos trabalhistas.

Cumpre ver, todavia, que esses mesmos motoristas e motociclistas, cujo valor
essencial a sociedade supostamente reconheceu, não têm acesso a direitos
mínimos em contratos que os classi cam como “empreendedores independentes”.

Expostos ao risco de atividades desprotegidas, são privados de rendimentos


mínimos em situação de doença ou desemprego. E, nesse passo, formas de
trabalho precarizantes são toleradas sob a alcunha de “disruptivas”, “inovadoras” e,
agora, “heroicas”.

Ao custo de direitos trabalhistas, práticas de preços predatórios somadas ao efeito


de rede concentram o poder econômico em um número cada vez menor de grandes
corporações[18].

Quanto aos empregos formais, a relativização de direitos por meio da desregulação


foi aprofundada com o artigo 2º da MP 927, cuja e cácia foi preservada pelo
Supremo.

O dispositivo estabelece a preponderância de acordos individuais sobre os demais


instrumentos normativos, legais e negociais. E, ainda no campo da saúde e
segurança do trabalho – especialmente relevante no atual estágio da crise sanitária
–, foram igualmente preservados os periclitantes artigos 15 a 17. A situação já
fragilizada de trabalhadores e trabalhadoras durante a pandemia tornou-se ainda
mais insegura e desprotegida.

Enquanto a OIT conclama o mundo a fortalecer os sistemas protetivos e a construir


soluções por meio do diálogo social[19], caminhamos em sentido inverso. Fiando-
nos na lógica perversa de que a única alternativa ao desemprego é o trabalho
precário e os “contratos-lixo”, assistimos passivos a vida sucumbir ao lucro.

Em meio a cortinas de fumaça, renovam-se promessas de mais empregos por


menos direitos. Fórmulas antigas para o “novo normal”. O que desautoriza, século e
meio depois, William James (um genuíno pragmático, vejam só): “A ciência, como a
vida, se alimenta de sua própria decadência. Fatos novos estouram regras antigas”.

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Assim haveria de ser, também, para a Ciência do Direito. Onde, porém, o novo? O que
temos visto, até aqui, são odres velhos a acomodar vinhos ainda mais velhos.

Que os olhos se abram para o óbvio, porque o tempo já não é o mesmo de outrora.
Vidas agora se perdem, diariamente, à base do milhar, pela nossa incompetência
sistêmica.

***

Seguimos na escuta, caríssimo Leitor, no e-mail dunkel2015@gmail.com. Entre em


contato. Comente. Critique. Sugira. O sentido maior da coluna é a interlocução com os
seus leitores. Como sempre, é bom lembrar: você é réu do seu juízo.

[1] Cfr. OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION. Diretrizes para a preparação

dos locais de trabalho para o COVID-19. Trad. Sinait. Brasília: Sinait, 2020. pp. 9 e ss. V. também
OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION. “Coronavirus Resources”, disponível
em: <https://www.osha.gov/SLTC/covid-19/>, acesso em 8 de junho de 2020.

[2] Cfr., por todos, BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Trad. Jorge

Navarro, Daniel Jiménez, Maria Rosa Borrás. Barcelona/Buenos Aires/México: Paidós, 1998,
passim.

[3] PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO, MPT já instaurou mais de 1700 inquéritos civis para

apurar irregularidades trabalhistas relativas à Covid, 22 de abril de 2020. Disponível em:


<https://mpt.mp.br/pgt/noticias/mpt-ja-instaurou-mais-de-1700-inqueritos-civis-para-apurar-
irregularidades-trabalhistas-relativas-a-covid-19 >. Acesso em 22 de maio de 2020.

[4] CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, É hora de cuidar do essencial, 20/5/2020. Disponível

em: <http://www.cofen.gov.br/cofen-atualiza-em-nota-tecnica-recomendacao-sobre-uso-de-
epis_79615.html> e Brasil tem 30 mortes na Enfermagem por Covid-19. Acesso em 22 de maio de
2020.

[5] ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA, Faltam EPIs em todo o país, 22 de maio de 2020.

Disponível em: <https://amb.org.br/epi/>. Acesso em 22 de maio de 2020.

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[6] “[…] O homem, e, duma maneira geral, todo o ser racional, existe como m em si mesmo, não
só como meio” (KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Paulo
Quintela. Lisboa: Edições 70, 2007, p. 68).  Daí que, “[…] se o m natural de todos os homens é a
realização de sua própria felicidade, não basta agir de modo a não prejudicar ninguém. Isto seria
uma máxima meramente negativa. Tratar a humanidade como um m em si implica do dever de
favorecer, tanto quanto possível, o m de outrem. Pois, sendo o sujeito um m em si mesmo, é
preciso que os ns de outrem sejam por mim considerados também como meus” (COMPARATO,
Fábio K. A a rmação histórica dos direitos humanos. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 23 e ss.).

[7] “A Conferência a rma novamente os princípios fundamentais sobre os quais se funda a


Organização, isto é: a) o trabalho não é uma mercadoria; […] ”.

[8] A expressão foi utilizada na defesa do m do isolamento e do lucro de hospitais que perderam
faturamento com cirurgias eletivas, acidentes de trânsito e não têm “clientes Covid” para ocupar
os leitos disponíveis.

[9]MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO DO BRASIL. Dados

disponíveis em:  <http://painel.pep.planejamento.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?


document=painelpep.qvw&lang=en-US&host=Local&anonymous=true>.  Acesso em 22 de maio
de 2020.

[10] MENDONÇA JÚNIOR, Antônio Alves, Inspeção do Trabalho: uma questão de ideal ao longo de

120 anos, 2011.

[11] Decreto nº 41.721/1957; Decreto nº 68.796/1971; e Decreto nº 95.461/1987, revogado pelo

Decreto nº 10.088/2019.

[12] RESENDE, Thiago; BRANT, Danielle. Bolsonaro faz cortes nas áreas social, cultural e

trabalhista, 25/12/2019. Disponível em:


<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/12/bolsonaro-faz-cortes-nas-areas-social-
cultural-e-trabalhista.shtml>. Acesso em 22 de maio de 2020.

[13] Nesse sentido, obras de ganhadores do Prêmio Nobel de Economia: STIGLITZ, Joseph E.

People, Power, and Pro ts, Progressive Capitalism for an Age of Discontent. New York:
W.W.NORTON & COMPANY, 2019; KRUGMAN, Paul. Arguing with Zombies. Economics, Politics,
and the Fight for a Bettter Future. New York: W.W.NORTON & COMPANY, 2020.

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[14] As informações consideram o período de 2012 e 2019 e são disponibilizadas pelo

Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho, mantido pelo MPT em parceria com a


Organização Internacional do Trabalho. Disponível em: <https://smartlabbr.org/sst>. Acesso em
22 de maio de 2020.

[15] V. CESTEH, Brasil é um dos países com maior número de mortes e acidentes de trabalho no

mundo. Será o trabalhador brasileiro superprotegido? 23 de janeiro de 2019. Disponível em:


<http://www.cesteh.ensp. ocruz.br/noticias/brasil-e-um-dos-paises-com-maior-numero-de-
mortes-e-acidentes-de-trabalho-no-mundo-sera-o>, acesso em 8 de junho de 2020.

[16] MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Doenças

Relacionadas ao Trabalho. Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. Brasília/DF,


2001.

[17] ALVES,.D; et. al. Estimativa de Casos de Covid-19. Disponível em:

<https://ciis.fmrp.usp.br/covid19-subnoti cacao/>. Acesso em 22 de maio de 2020.

[18] UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. Trade and Development.

Report 2018. Power, Platforms and The Free Trade Delusion. United Nations, 2018.

[19] INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION. ILO Monitor: Covid-19 and the world of work.

Second edition. Updated amd analysis, 2020.

GUILHERME GUIMARÃES FELICIANO – Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de Taubaté/SP. Professor


Associado II do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (USP). Livre-Docente em Direito do Trabalho e Doutor em Direito Penal pela
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutor em Direito Processual pela Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa. Presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
(ANAMATRA), gestão 2017-2019. E-mail: diluvius@icloud.com
ANANDA TOSTES ISONI – Juíza do Trabalho no TRT da 15ª Região desde 2016 e atuou no Tribunal
Superior do Trabalho de 2012 até o ingresso na magistratura.

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