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Grandes Epidemias Retratadas Pela Literatura PDF
Grandes Epidemias Retratadas Pela Literatura PDF
RETRATADAS PELA
LITERATURA
De Boccaccio a Camus e García Márquez, muitas obras oferecem uma
viagem a outros tempos em que homens e mulheres enfrentaram o
medo e o sofrimento com surtos biológicos
Jerônimo Teixeira
Albert Camus, que escreveu “A peste” em 1947, descreveu um bacilo que dizimou
uma cidade argelina — e que jamais foi exterminado. Foto: Loomis Dean / The LIFE
Picture Collection / Getty Images
No século XVII, a Grande Praga eliminou o que se estima ser quase 20% da
população de Londres. Foto: Museum of London / Heritage Images / Getty Images
Nos anos 80 do século passado, a epidemia de HIV parecia
barrar o ímpeto da revolução sexual da década de 1960, e a aids
se impôs como a peste pós-moderna. Entre outras obras, a
peça Anjos na América, de Tony Kushner, e o romance As horas,
de Michael Cunningham, dedicaram-se ao tema. No século XXI,
veríamos um grande escritor sair de cena com uma história
centrada sobre a já um tanto esquecida epidemia de
poliomielite. A ação de Nêmesis, do americano Philip Roth,
transcorre em Newark, cidade natal do autor, em 1944 — a
primeira vacina contra a pólio só seria desenvolvida por Jonas
Salk 11 anos depois; e a vacina de Albert Sabin, mais eficiente,
começaria a ser empregada em 1961. O herói do livro é o
professor de educação física Eugene “Bucky” Cantor. Impedido
de servir às Forças Armadas na Segunda Guerra Mundial por
problemas de visão, Bucky resigna-se a treinar as crianças na
escola do bairro judaico onde sempre viveu. Quando um surto
de poliomielite começa a afligir seus alunos, ele toma uma
decisão cujas consequências evocarão as ideias trágicas de
destino e predestinação que tais doenças carregam desde que
Apolo alvejou soldados gregos com as setas da peste. O livro foi
publicado em 2010, e dois anos depois Roth anunciava sua
aposentadoria: não escreveria mais ficção. Morreu em 2018, aos
85 anos. Nêmesis não tem a estatura de obras anteriores como O
teatro de Sabbath ou A marca humana, mas representa um belo
ponto final para a obra do escritor.