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Diario de Pernambuco destaca novos


movimentos sociais organizados pela
internet
Publicado por eduardoamorim78
9-13 minutos

Ativistas pró-Recife saem do sofá

Cidade assiste a um novo fenômeno de parte da classe média que


se articula pelas redes sociais para ir às ruas lutar por direitos

Juliana Colares
julianacolares.pe@dabr.com.br

Publicação: 30/09/2012 03:00


Eles são de classe média, utilizam a internet como plataforma de
discussão, divulgação e articulação, mas não se limitam ao
ativismo de sofá. Vão às ruas e aos órgãos públicos expor seus
pontos de vista e dizer que cidade querem. Não têm vínculo
partidário e se organizam horizontalmente, sem um núcleo de
liderança formalmente constituído. Não se definem como
movimentos sociais e ainda não conseguem interferir nas agendas
públicas e nas relações de poder da forma que gostariam, mas
vêm crescendo em força e adesão. No Brasil e no mundo. São
grupos de pessoas interessadas em melhorar a qualidade de vida
das cidades e discutir políticas públicas, da mobilidade ao
urbanismo. Coletiva e interativamente.

No Recife, o fenômeno é novo e vem chamando a atenção de


políticos, da imprensa, do restante da sociedade civil e da

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academia – na Universidade Federal de Pernambuco, por


exemplo, o ato público que ganhou o nome de Ocupe Estelita (e
publicizou ainda mais as ações e os anseios dessa parcela da
sociedade) virou tema de dissertação no departamento de
sociologia. Os grupos são diversos e, não raro, difíceis de definir e
contabilizar. São estudantes, arquitetos, engenheiros, cineastas,
funcionários públicos… Gente com formação e trajetória de vida
das mais diversas, unidas em coletivos de cicloativistas ou grupos
de internet que discutem um espectro de assuntos mais amplo, do
meio ambiente à estética da cidade.

“As ações podem surgir de membros isoladamente ou do grupo, de


forma democrática”, disse o engenheiro de parques eólicos Daniel
Valença, a respeito do grupo de cicloativismo Cicloação, do qual
faz parte – nesse coletivo, cerca de 30 pessoas têm participação
ativa. “Até pela educação que tivemos, não podemos discutir as
coisas só na universidade. É nossa responsabilidade”, disse o
professor de filosofia e integrante do grupo Direitos Urbanos,
Leonardo Cisneiros.

Articulação

Ao longo deste ano, já foram levantadas inúmeras bandeiras –


valorização do transporte por bicicletas, melhoria do transporte
público, rediscussão do projeto urbanístico para o Cais José
Estelita, alternativas à construção dos viadutos da Agamenon
Magalhães, entre outros. Fomentaram audiências públicas,
programaram atos batizados de “ocupes” e cutucaram
representantes das esferas de poder pública e privada.

“Eles estão colocando o dedo na ferida, mas, historicamente, não


se articularam com setores excluídos”, ponderou Adelmo Araújo,
que tem 30 anos de participação em movimentos sociais, coordena
a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
(Fase) e vê essas novas manifestações de forma positiva. Para

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ele, a classe média, no Recife e no Brasil, é extremamente


conservadora.

“Por que as políticas públicas não avançam no Brasil? Porque ela


procura alternativas particulares para os problemas – se a escola
pública está ruim, coloca os filhos em escolas particulares; se o
transporte público não funciona, compra um carro. Isso enfraquece
a luta para criar políticas públicas. A classe média se mobilizando é
um fenômeno novo no Recife. O movimento do Cais José Estelita
(contra o projeto de construção de 12 prédios com até 40 andares)
foi extremamente inovador”, complementou.

Compromisso ou oba-oba?

O primeiro Ocupe Estelita, ato simbólico que fez parte da


discussão (ainda atual) sobre o destino do cais, foi um momento
relevante dessa nova história que começa a ser escrita. Mas para
a socióloga e integrante do grupo Direitos Urbanos, Ana Paula
Portella, o momento político mais importante ocorreu no dia 22 de
março, antes do Ocupe: a audiência pública realizada na Câmara
de Vereadores. Os 90 assentos do plenarinho não foram
suficientes para tanta gente. Foi a audiência com maior público da
Câmara, em 2012. Nós a solicitamos ao Ministério Público e ao
vereador Múcio Magalhães, disse Ana Paula Portella, doutoranda
em sociologia da UFPE. A construção dos novos edifícios na área
ainda não foi iniciada.

O que eu acho mais bonito é que as pessoas estão se ajudando e


dando o que podem para melhorar a convivência, disse Ana Paula,
que construiu uma história de luta dentro dos movimentos sociais.
É um outro tipo de movimentação política. São pessoas querendo
participar, dizer o que pensam sobre a cidade. Dizer o que querem,
disse a socióloga Teresa Oliveira, mestranda da UFPE que está
estudando novas mobilizações organizadas pela internet.

As ações desses novos grupos estão bem longe da unanimidade.

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Tem gente que acha que é só oba-oba, tentativa de chamar


atenção ou modinha. Eles já foram criticados por não terem se
organizado antes e até por serem de classe média. É esperar para
ver se essa mobilização perdura e consegue mais adesão. Ou se
acaba se perdendo no modismo.

Novos problemas, novas demandas

Recife tem tradição de luta. Luta pelo direito à cidade, como diz
Adelmo Araújo, da Federação de Órgãos para Assistência Social e
Educacional. Boa parte dessa história se pautou pelo acesso ao
solo urbano – terra, unidade habitacional e infraestrutura. Pautas
das camadas mais pobres da população. Avanços foram
conseguidos, ainda que os problemas perdurem. Hoje uma nova
conjuntura está imposta e, com ela, novos problemas e novas
demandas. É aí que a classe média está entrando. Mas os
tradicionais movimentos sociais ainda não a enxergam como sólida
aliada nas lutas pela melhoria da qualidade de vida na cidade.

“É uma coisa nova e os movimentos sociais clássicos ainda olham


meio atravessado”, disse Adelmo Araújo. “Os movimentos têm o
desafio de enxergar a cidade de forma mais estrutural. A cidade
não é só o bairro pobre onde eu moro. É muito mais do que isso e
o que acontece nos outros bairros tem muito impacto sobre mim”,
complementou.

“Essa discussão sobre o modelo de cidade é uma discussão nova.


Ela sempre foi teórica, acadêmica. Mas esse fenômeno que
estamos vivendo é novo e importantíssimo”, defendeu Raquel
Rolnik, que é arquiteta, urbanista, professora da USP, ex-diretora
de Planejamento da Cidade de São Paulo e relatora especial do
Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Direito à Moradia
Adequada.

Para ela, o modelo de crescimento atual com a “submissão do


estado ao capital”, inflamou a crítica por parte desses novos

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movimentos. “A insatisfação é muito grande. Ninguém aguenta


viver nessa cidade desse jeito. Tem um monte de gente destruindo
o Recife”, disse a socióloga Ana Paula Portella. Vive-se um
momeno de crise. Dos modelos de representação política e de
desenvolvimento urbano. E crises, historicamente, são importantes
momentos de mobilização social.

Mas e a eficácia dessas ações? Qual a real força desses


indivíduos reunidos em coletivos que nem sempre conseguem o
apoio da outra parte da sociedade civil ou dos tradicionais poderes
constituídos? “Essa é uma resposta que só a história pode dar”,
opinou a professora de Sociologia da UFPE Maria Eduarda Rocha.

Para Raquel Rolnik, esses movimentos ainda são minoritários, mas


estão crescendo. “Quando eles vão ter força suficiente para incidir
na agenda política real, veremos”, disse, sem dourar a pílula. “A
gente está atuando em um momento desastroso, em que tudo deu
errado, em que se construiu uma sociabilidade totalmente
segregadora. Fazer isso voltar é tarefa hercúlea. A gente tem o
poder de produzir modificações imediatas, mas não tem ilusão de
que elas alterem as relações de poder na cidade”, afirmou. Os
Direitos Urbanos têm quase 7 mil integrantes na rede social
Facebook e já serviram de inspiração para criação de grupos de
mesmo nome no Rio de Janeiro e na Bahia.

Força no Facebook

19 de setembro, 9h15, Helena Castelo Branco, integrante do


Direitos Urbanos, posta no grupo do Facebook: “Os lenhadores
acabaram de chegar e vão derrubar a Acácia centenária. Em
detrimento da recomendação do Ministério Público de PE- Belize
Câmara. Socorro! Chamem a imprensa e todos pra evitar essa
atrocidade! (Sic)”. Às 12h07, a própria Belize Câmara, promotora
de meio ambiente, responde via celular: “Estive lá agora de manhã.
A derrubada está suspensa!!!”. Mais que instrumentos de ativistas

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de sofá, a internet virou ferramenta fundamental para as novas


manifestações sociais.

“Eu fui avisada sobre a árvore pelas redes sociais. Muitas vezes eu
tomo conhecimento de denúncias pelo Facebook e já instauro o
procedimento. Depois de algum tempo é que chegam as denúncias
à promotoria. As redes sociais fazem com que eu me adiante”,
disse Belize Câmara. No grupo dos Direitos Urbanos, ela já chegou
a pedir adesão à luta pela preservação de imóveis de relevância
histórico-cultural e arquitetônica e já solicitou que, ao fazerem uma
denúncia, os internautas marquem o nome dela na publicação para
que ela tome conhecimento do fato mais rapidamente.

Segundo Ana Paula Portella, o Facebook não serve apenas como


instrumento de divulgação das ações, mas como plataforma de
trabalho. Lá, são levantados debates, divulgadas notícias,
documentos, postados vídeos das ações e criados seminários. “É
uma ferramenta de trabalho importantíssima. Fazemos reuniões
que duram três, quatro, cinco dias pelo inbox (mensagem interna),
divulgamos cartazes, música, vídeos…”, disse, enfatizando que
foram justamente as redes sociais que deram visibilidade ao
movimento.

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