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Uma das grandes diferenças entre a televisão clássica e linear e esta acessível pelo digital e
que a primeira era caduca e mortal e a pós-televisão e imortal […]. Depois do vídeo que per-
mite o diferido, da cor, do telecomando, do satélite, da alta definição, do cabo, a tecnologia
voltou a mudar a televisão, retirando-a do exclusivo do televisor e disponibilizando-a para
5 sempre. Cada um poderá ver o que lhe apetecer. Só que nesta frenética apologia da liberdade
do espectador, que agora vê o que quer, onde quer e quando quer, não se fala do peso bastante
concreto que a televisão ritualizada tem para as pessoas ou da importância e relevância que os
programas têm como assunto comum, ou sequer dessa estranha particularidade da espécie
humana que é a aversão à escolha quando a escolha é demasiada. Nesta nova ordem, e porque
10 se diz que a televisão está condenada, ninguém explica onde iremos ver notícias, o jornalismo
de qualidade, a transmissão de cerimónias e eventos. Ou onde encontrar uma televisão do
meio, com boas novelas, séries mais fáceis de seguir e que não exigem tanto compromisso e
atenção […].
Antes da televisão, as pessoas reuniam-se junto do rádio para ouvir os folhetins, as notí-
15 cias, histórias […]. A televisão, que também começou por se uma proeza de tecnologia, apren-
deu muito depressa que também teria de contar a sua história e encontrar o seu modelo e foi
mais rápida a consegui-lo.
MENDES, Pedro Boucherie, 2016. “Na era da pós-televisão”.
E (Expresso), n.º 2305, 30 dezembro 2016 (p. 49)