Você está na página 1de 2

FILOSOFIA CRSI – Prof.

Sérgio Carvalho
2. Argumento Cosmológico
 O Argumento cosmológico é também conhecido como argumento da causa primeira.
 A ideia geral dos argumentos cosmológicos é defender que sem pressupor que Deus existe não se consegue
explicar adequadamente a existência do Universo, ou seja, do Cosmos – daí o nome
 Argumento cosmológico – Deus existe porque de outro modo não se consegue explicar a existência do universo.
 Tomás de Aquino (1225-1274) procurou demonstrar a existência de Deus através das cinco vias (também vistas
como cinco provas): do movimento/primeiro motor; da causa eficiente/ primeira; do contingente/ possível e
necessário; dos graus de perfeição; do governo do mundo/ finalidade (iremos trabalhar a segunda via).
 Este argumento é a posteriori partindo, por isso, do mundo/matéria e sendo, assim, empírico.
 Tudo o que existe no mundo tem de ter uma causa (a posteriori) e uma ordem de causas
eficientes, não podendo ser a causa eficiente de si mesma.
 Se tudo tem uma causa então segue-se que o universo também tem de ter uma causa, dado
que o universo é algo que existe.
 Não poderemos recuar até ao infinito, pois isso significaria a inexistência de uma causa
primeira. Se houvesse uma regressão infinita na cadeia de causas, não haveria uma primeira
causa, logo, não poderia haver também um primeiro efeito.
 Numa cadeia causal o primeiro efeito é uma segunda causa. Assim, não havendo uma primeira
causa não poderia haver uma segunda causa, e por aí em diante (Tomás de Aquino inviabiliza
assim, por redução ao absurdo, a regressão ao infinito).
O Argumento  Por isso, e visto não haver efeitos sem causas, deve existir uma causa eficiente primeira, uma
Cosmológico causa incausada ou sem causa. Essa causa eficiente primeira é Deus.
 Assim, Deus é causa incausada.
 Ao constatarmos que o Universo existe, podemos seguir retrospetivamente a série de causas e
efeitos que estão na base da sua existência atual. Deparamo-nos assim com a necessidade da
existência de uma causa primeira, a causa que está na origem de todas as causas e de todos os
efeitos posteriores. Essa causa primeira, que é uma causa necessária e incausada, é Deus.
Logo, Deus existe.
 Este argumento baseia-se em dados empíricos, é a posteriori. Por isso parte da experiência para
provar a existência de Deus: a existência do universo é a sua justificação.

 Parte-se da constatação empírica da existência do Universo e do facto de haver nele coisas que
foram causadas por outras, sendo que todos os efeitos têm as suas causas e nada surgiu sem que
uma causa o originasse.
 O argumento parece ser autocontraditório:
 Defende, ao mesmo tempo, que todas as coisas foram causadas por outra coisa, não havendo
Críticas causa que não tenha sido causada, e que existe uma causa que não foi causada: Deus.
 Podemos perguntar, então: qual a causa de Deus? Há filósofos que respondem dizendo que
Deus é causa de si mesmo (causa sui).
FILOSOFIA CRSI – Prof. Sérgio Carvalho
 O argumento baseia-se na ideia de que tudo tem uma causa, mas aceita a existência de uma
causa incausada.
 O argumento não adianta muito no tocante à natureza divina:
 Uma causa originária incausada é certamente muito poderosa, mas não nos diz se se identifica
com o Deus perfeito teísta dotado de atributos de omnisciência, omnipotência e suma
bondade.
 Essa causa originária pode, inclusive, consistir numa equipa de seres.
 A existência do mal:
 O argumento não responde ao problema de saber como pode Deus perfeito, omnisciente,
omnipotente e sumamente bom tolerar o mal que existe no mundo.

«A segunda via é a partir da natureza das causas eficientes. Com efeito, verificamos que há uma ordem de causas
eficientes entre as coisas sensíveis. Mas não encontramos coisa alguma (nem tal é possível) que seja causa eficiente
de si mesma, porque então ela seria anterior a si própria, o que é impossível. Ora, não é possível avançar
infinitamente entre as causas eficientes. Isto porque, em qualquer série ordenada de causas eficientes, a primeira é
a causa da intermédia, e esta é causa da última, quer a causa intermédia seja muitas ou apenas uma. Porém, se se
suprime a causa, suprime-se o efeito. Daí que, se não existisse uma causa eficiente primeira, então não existiria uma
causa intermédia nem uma causa última. Mas, se as séries das causas eficientes se prolongassem infinitamente,
então não haveria uma causa eficiente primeira e, portanto, nem efeito último nem causas eficientes intermédias, o
que é obviamente falso. Por conseguinte, é necessário pressupor a existência de uma causa eficiente primeira, a que
todos chamam Deus».
S. Tomás de Aquino, Philosophy in the Middle Ages. p. 468-469.

«É mais promissor começar com a premissa de que todas as coisas espácio-temporais têm causa — Deus não tem
causa precisamente porque não é uma entidade espácio-temporal. Porém, porque o Big Bang é a origem do próprio
tempo, é incoerente imaginar que algo o causou, porque as causas dão-se no tempo. Talvez uma entidade
sobrenatural, como Deus, tenha criado o Big Bang, mas essa criação não foi um processo causal».
Desidério, A existência de Deus. Plátano Editora, 2020

«Um eminente defensor do argumento cosmológico kalam, William Lane Craig, reparou que vários filósofos
admitiram a causalidade simultânea. A ideia é que o tempo começa com o começo do universo. A causa do universo,
qualquer que seja, não é em si temporal, uma vez que se requer a sua existência para que o universo (e o tempo)
comecem a existir. Que propriedades tem uma entidade intemporal de ter para causar intemporalmente a existência
de um universo temporal, partindo do princípio de que a razão nos exige que suponhamos que o Big Bang tem de ter
uma causa? Craig pensa que tal entidade teria as propriedades que constituem o Deus do teísmo tradicional:
perfeita bondade, omnisciência e omnipotência.»
W. L. Rowe, Introdução à Filosofia da Religião. Verbo, 2011, p. 59

Esta ficha tem em conta: 1) Manual Novos Contextos, da Porto Editora. 2) MURCHO, Desidério: A existência de Deus. Plátano
Editora, 2020. 3) ROWE, W. L.: Introdução à Filosofia da Religião. Verbo, 2011. 4) MOREIRA, L.; DIAS, I. Preparar o Exame
Nacional de Filosofia 11. Areal Editores, 2020. 5) WARBURTON, N. Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 2007.

Você também pode gostar