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Oficinas Terapêuticas

As oficinas de atividades oferecidas pela terapia ocupacional buscam


entender o universo do adolescente, oferecendo possibilidades de criar vinculo
e contribuir para uma construção em conjunto de seus planos futuros e projetos
de vida, desenvolvendo ainda potenciais e habilidades dos integrantes.

No Centro de Socioeducação (CENSE) Dom Bosco essas atividades tem


como proposta oferecer ao adolescente a oportunidade de falar um pouco
sobre si, sobre suas crenças, valores e maneiras de ser e estar no mundo.
(juventude, desfiliação e violência/ Lígia). Esse espaço de transformação e
criação, também da desconstrução de velhas formas estabelecidas de
existência torna-se uma estratégia terapêutica produtiva e criadora.

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), as oficinas são caracterizadas


como atividades realizadas em grupos destinadas a maior integração social e
familiar dos usuários, a partir das manifestação de sentimentos e problemas, o
desenvolvimento de habilidades corporais, a realização de atividades
produtivas, o exercício coletivo da cidadania.
O uso da oficina terapêutica como recurso visa facilitar a aproximação e
fortalecimento de vínculos de sujeitos e grupos possibilita o reconhecimento
das necessidades do público e a capacidade de solucionar problemas por meio
da interpretação e apreensão da realidade, contribuindo para a construção de
planos e projetos de vida (BARROS; GHIRARDI; LOPES, 2002).
No processo grupal, quando ocorre a formação de vínculo entre terapeuta
ocupacional e adolescente, ou entre os adolescentes participantes torna-se
favorável a autonomia dos sujeitos criando um ambiente favorável a
intervenções que irão possibilitar o exercício da cidadania, envolvendo
afetividade, respeito e ajuda (MONTEIRO; FIGUEIREDO; MACHADO, 2009).
Os grupos estimulam ainda a participação social, os processos criativos e
comunicacionais que podem contribuir para que os adolescentes envolvidos
criem um sentimento de pertencimento, favorecendo a formação de
identidades, considerando as subjetividades individuais e coletivas (FELIPE,
2007).
Ribeiro (2004) entende as oficinas como catalisadores de produção
psíquica dos sujeitos envolvidos. Rauter (2000) adverte porém que “as oficinas
serão terapêuticas ou funcionarão como vetores de existencialização, caso
consigam estabelecer outras e melhores conexões que habitualmente
existentes entre produção desejante e produção da vida material” (p.269-270).
A autora destaca que as oficinas precisam estabelecer relações com o que ela
chama de “plano de eminência”, no qual é possível gerar arte, política e amor.

De acordo com esse entendimento, somente a existência de uma oficina


não garante o fato dela produzir novas formas de vida, é necessário haver uma
conexão com uma dimensão diferente da que encontramos habitualmente.
Pensar nas oficinas deve nos provocar uma reflexão acerca das conexões
existentes entre a produção desejante e produção da vida material. Conexões
que se referem a um mecanismo de produção subjetiva, partimos da
concepção de Guattari (1992) para concluir essa questão, segundo a qual o
modo de produção capitalista tem como alvo e matéria-prima a produção de
um modo hegemônico de ser sujeito, um tipo de subjetividade determinado por
ele como capitalística com alcance mundial. Trata-se de um modo de estar no
mundo, de sentir, agir e pensar. Enfim são esquemas de sensibilidade,
corporeidade e de desejos, produzidos por fatores conscientes e inconscientes
de ordem molar (relações culturais, familiares, econômicas etc), e de ordem
molecular (mídia, música, espaço urbano, dentre outros).

As oficinas deveriam sustentar um espaço onde é possível o exercício de


novas formas de atuação no mundo, podendo ser várias coisas, menos um
dispositivo disciplinador que tem como função produzir sujeitos que se
comportam de acordo com o desejo da sociedade.

É importante fazer dessas oficinas espaços de discussão e desconstrução


de valores que fundamentam nossas idéias e práticas, abrindo possibilidades
para que cada um estabeleça novas conexões, criando territórios existenciais
atravessados por valores que não somente aprisionam e punem.

As modificações provocadas pelas oficinas tornam-se nítidas nos diálogos


promovidos junto aos adolescentes, onde os mesmos apropriam-se de si, de
suas histórias e do espaço. Ao relatarem suas experiências nota-se um
posicionamento crítico e político.

As oficinas terapêuticas, para além da reinserção psicossocial, funcionam


como instrumento de produção e fortalecimento de vínculos entre os
adolescentes e equipe envolvida no processo de criação e de subjetividade.
Vemos nesse ambiente a transformação de adolescentes que chegam
desconfiados e curiosos, e no decorrer das atividades tornam-se dinâmicos e
ousados apresentando um discurso político e argumentativo com propriedade.
Durante as atividades proposta é permitido aos adolescentes expressar sua
singularidade de modo a resgatar os laços de pertencimento social.

Faz-se necessário refletir sobre os fundamentos teóricos das oficinas


realizadas, articuladas à consciência dos participantes sobre sua condição de
sujeitos sociais, postura que possibilita o avanço na construção de práticas que
visam ampliar a autonomia de todos.
As atividades são realizadas em grupo com presença e orientação do
terapeuta ocupacional que propõe diversas práticas definidas de acordo com o
interesse do adolescente, das suas possibilidades e necessidades, objetivando
maior interação social, manifestação de seus sentimentos e questões a serem
resolvidas, podendo desenvolver suas habilidades corporais e realizando
atividades produtivas, proporcionando não só o aprendizado de determinada
técnica e aspectos relacionados a doenças, como também a mobilização do
diálogo e interação entre aqueles que permanecem desacreditados do
convívio social.
Nessa lógica, o Centro de socioeducação deixaria de ser um local de
repressão, disciplina e reclusão e a partir das oficinas terapêuticas constituiriam
novas formas de acolhimento, de cuidado e de trocas sociais, onde o que se
pretende é proporcionar a melhor convivência e a mediação do diálogo. No
contexto da saúde mental, as oficinas têm sido entendidas como espaços de
produção e manejo de subjetividade, favorecendo a reconstrução de vínculos
entre os sujeitos em sofrimento psíquico e seus grupos sociais. Produzindo
tecnologias sociais que se dedicam a criação de espaços de participação
democrática, ampliando a rede de oportunidades dos adolescentes.
No processo de socioeducação as oficinas são tecnologias valiosas, pois
oportunizam, mediante o trabalho e a expressão artística, espaços de
socialização, interação, construção e inserção social. Nelas, o sujeito, tem
liberdade de se expressar, sendo capaz de lidar com seus medos e
inseguranças, bem como de realizar trocas de experiências.
Os espaços onde ocorrem as oficinas de atividades promovem
aprendizagem compartilhada, com propostas do fazer e da ação humana, e
compreende cada adolescente como um ser ativo no processo de construção
de subjetividade, da ação e da reflexão (SILVA, 2007).
As oficinas terapêuticas devem funcionar como elemento organizador do
cotidiano na unidade de privação de liberdade e serem vistas como estratégias
de cuidado, interação e socialização.
A realização de oficinas com adolescentes em situação de privação de
liberdade tem como objetivo buscar o sentido apresentado por meio de
reflexões e significados, já que o terapeuta ocupacional precisa interpretar e
compreender a realidade na qual ele se propõe a intervir, e cabe a ele ouvir,
discutir, esclarecer e confrontar colocações trazidas pelos adolescentes. As
atividades são vistas como meio de mediação, enquanto as interpretações são
construídas na comunicação, na experiência, nos valores culturais que cada
indivíduo ou grupo realiza de forma particular e nas práticas sociais (BARROS;
GHIRARDI; LOPES, 2005).
Existem possibilidades diversas de enfoque na produção artística das
oficinas terapêuticas no contexto da atenção psicossocial apresentando um
potencial mais complexo do que uma produção de obras ou objetos, torna-se
um espaço onde é possível produzir expectativas de vida, reconstruíndo por
meio de expressão artística. Valadares et al afirma que "as oficinas
terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre pessoas em sofrimento
psíquico, que promovem o exercício da cidadania, a expressão de liberdade e
a convivência dos diferentes através preferencialmente da inclusão pela arte".
É importante entender que o trabalho nas oficinas torna-se positivo para a
assistência em saúde mental, à medida que uma de suas finalidades seja
promover o exercício da cidadania dos sujeitos, não devendo ser
compreendida como forma de tratamento moral, entretenimento e ordenação
do espaço institucional tal qual no modelo médico-asilar. Torna-se um grande
desafio desconstruir esse referencial, consolidando a estruturação de uma rede
relacional onde o adolescente possa se sentir acolhido, cuidado e respeitado
em seus direitos, o que indica a necessidade constante de análise das práticas
e das instituições no atual panorama de atenção à saúde mental. É necessário
também novas estruturas físicas dos serviços para que essa transformação
aconteça. É fundamental que os trabalhadores tenham autonomia e sintam-se
sujeitos ativos no processo de reabilitação e sejam questionadores a respeito
do produto do seu trabalho e do paradigma que o sustenta. Reconhecendo no
usuário a condição de sujeito de sua vida e de seus direitos, com o objetivo de
estabelecer um canal onde a comunicação com valor terapêutico perpasse
pelos campos da solidariedade e do respeito.
Sob o enfoque da atenção psicossocial, a maior conquista deve se dar na
prática do diálogo, no respeito às singularidades e aos direitos dos
adolescentes que se encontram no sistema socioeducativo devendo ser
ouvidos e considerados em sua totalidade biopsicossocial. O que se observa
em oficinas, são práticas que permitam aos usuários exteriorizar suas
vivências e representações.
O cuidado psicossocial é um processo de construção diária e coletiva, que
deve acontecer pelo manejo das situações clínicas, articulado a uma
consciência política do indivíduo e da sociedade, norteada por respeito,
solidariedade e princípios éticos.
O tratamento dispensado aos adolescentes autores de ato infracional,
sempre o coloca em uma condição de não-sujeitos, a partir de um rótulo de
desviantes da norma, permitindo a sociedade, segregá-los em instituições
corretivas, privando-os de sua liberdade. Instituições essas que derivam dos
antigos abrigos religiosos do Brasil colônia que acolhiam crianças
abandonadas e delinquentes. (Conceição, Tomasello & Pereira, 2003), e hoje
aplicam o que o Estatuto da Criança e do Adolescente -ECA em seu artigo 121
descreve como medida socioeducativa de Internação. Medida que deveria ser
aplicada quando o ato cometido pelo adolescente fosse feito através de grave
ameaça, por reiteração no cometimento de outras infrações graves, ou por
descumprimento reiterado e injustificável de uma medida anteriormente
imposta, como prevê o artigo 122 (Schelb, 2005).
Os adolescentes autores de ato infracional, inclusive os que apresentam
demandas de atenção em saúde mental, são considerados desviantes daquilo
que socialmente é aceitável como padrão de comportamento, e para corrigir
esse desvio eles continuam, até hoje, sendo alvos de encarceramentos. Esses
adolescentes entretanto possuem uma demandam particular de atenção e
assistência singularizada. Sendo fundamental a criação de estratégias de
atenção que façam vir a tona sua singularidade, facilitando a escuta de suas
particularidades, dizendo de suas necessidades enquanto sujeito singular de
direitos.

O DEGASE e as Medidas Socioeducativas

O DEGASE, órgão responsável, no Estado do Rio de Janeiro, pela


execução das medidas socioeducativas de Internação e Semiliberdade,
designadas nos arts. 120 a 125 do ECA, foi criado em 1993. Hoje vinculado à
Secretaria de Estado de Educação, foi criado como órgão ligado à Secretaria
de Estado de Justiça e Interior, o que segundo Lopes (2015), acarretou muitas
críticas na época, uma vez que havia o receio de que, ligado a uma instituição
de justiça, diferentemente da proposta socioeducativa para a qual fora criado,
viesse a se tornar uma organização com características estritamente prisionais.

O ECA apresenta medidas protetivas e medidas socioeducativas, estas


últimas direcionadas aos adolescentes autores de ato infracional. A execução
dessas medidas, entretanto, ainda está carregada da antiga concepção
menorista, visto que autoriza a institucionalização desses adolescentes,
através de medidas restritivas e privativas de liberdade, como resposta ao seu
desvio ou conduta antissocial.( Lourdes)

O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei Federal 8.069/90)


inaugurou uma proposta de doutrina da proteção integral. Prevendo aplicação
com relação aos adolescentes que cometem atos infracionais o Estatuto prevê
a aplicação de medidas socioeducativas (ECA- art. 112), que lhes são
aplicadas judicialmente. devendo ser cumpridas em meio aberto, e nesse caso
são de responsabilidade dos municípios, sendo elas: Advertência (ECA- art.
115) que é uma reprimenda verbal executada pelo Juiz, reduzida a termo e
assinada; Obrigação de Reparar o Dano (ECA- art. 116) a qual é aplicada
quando o ato infracional tem reflexos patrimoniais, visando à
reparação/restituição do dano ou por alguma forma que compense o prejuízo
causado; Prestação de Serviços à Comunidade (ECA- art. 117) que consiste
em executar serviços de interesse geral que podem ser realizados junto a
entidades assistenciais, educacionais, de saúde ou outros, e por fim a
Liberdade Assistida (ECA- art. 118) situação em que o adolescente é atendido
pelos CREAS – Centros de Referência Especializados e Assistência Social,
predispondo um conjunto de ações de cunho pedagógico.

As medidas socioeducativas no entanto podem ser mais severas, com


determinação de serem cumpridas em restrição ou total privação de liberdade
sendo de responsabilidade dos estados nesse caso. São elas: Inserção em
regime de Semiliberdade, aplicada como forma de transição para o meio aberto
(ECA- art. 120) e Internação em estabelecimento educacional (ECA- art. 121).
Esta medida apresenta forte caráter sancionatório, ela retira o adolescente do
convívio sociofamiliar e o colocando-o em situação de institucionalizado.
Apresenta severo caráter correcional repressivo, indo na contramão da defesa
dos direitos de crianças e adolescentes, tendo em vista ser prioritariamente
aplicada a jovens que vivem na pobreza e em condições socioeconômicas
precárias. Por ser considerado sujeito perigoso, a privação de liberdade do
adolescente autor de ato infracional é vista, historicamente na sociedade, como
a melhor alternativa para proteger os indivíduos dos atos de violência capaz de
cometer. A sua institucionalização surge, então, como medida satisfatória para
atender tanto a esse apelo da sociedade, como à alegação da necessidade de
correção e recuperação desses sujeitos.

O que observamos porém quanto a medida de internação é frequente a


sua aplicação, essa teoria é facilmente observada pela superlotação das
unidades socioeducativas, onde encontram-se não somente privados de
liberdade, mas também de qualquer outros direitos que lhe deveria ser
assegurados. Apesar de haver o ECA como novo marco legal e ainda
propostas do SINASE, apontando para evoluções nas questões jurídicas,
esses avanços não se desdobram como garantia de direitos aos adolescentes
privados de liberdade, menos ainda aos que apresentam necessidades de
cuidado em saúde mental. (lourdes). Nesse contexto, os adolescentes em
conflito com a lei, não encontram eco para defesa e garantia de seus direitos,
pela condição da pratica do ato infracional, são desqualificados enquanto
adolescentes. (Mario Volpi).

Contudo, as garantias necessárias a justa aplicação das medidas


socioeducativas não devem prescindir da proibição de detenções ilegais ou
arbitrárias (ECA, art. 106) como forma de contraposição a cultura que
predomina entre agentes ¨socioeducadores¨, que orientados por princípios
subjetivos e preconceituosos, criminalizando em particular negros e pobres.
(Mario Volpi).

O caráter pedagógico proposto nas medidas socioeducativas torna-se


inconciliável com o contexto da privação de liberdade, visto que o adolescente
permanece totalmente apartado da vida em sociedade, sem possibilidade de
conviver em família e privado de estar ou transitar em seu território.
Acrescente-se a isso que, em tais circunstâncias, estão em constante vigilância
e submetidos a sucessivas avaliações psicológicas, psiquiátricas, sociais e
jurídicas que vão julgar, a partir dos componentes que apresentem, quando
estarão aptos a retornarem ao convívio social. (GONÇALVES, 2011)

Historicamente o adolescente autor de ato infracional, é considerado pela


sociedade um indivíduo perigoso, e conforme essa sociedade, a melhor forma
de mantê-la protegida desses sujeitos é a partir da privação de liberdade, a
institucionalização, aparece como uma medida satisfatória que atende ao apelo
da sociedade, que alega a necessidade de correção e recuperação desses
adolescentes.

Estabelecer vínculos de mútuo respeito e construir novas relações sociais


com a sociedade, ultrapassando a ideia de que o adolescente autor de ato
infracional deve ser punido e distanciado de seu convívio seria uma teoria
proposta pelo ECA, porém o que prevalece, é a manutenção das contradições
existentes entre a proposta socioeducativa e as práticas correcionais
repressivas correntes.
Ao ingressar em uma unidade de internação, o adolescente encontra-se
fragilizado de alguma forma. Sente desamparo, é envolvido por um sentimento
de medo e angustia, sentindo-se culpado ou injustiçado, demostrando por
vezes revolta com os acontecimentos e pela perda da liberdade, está distante
da família, dos amigos e de todos os pares que completam sua existência, ele
perde sua singularidade através de uso de uniformes, passa a ser identificado
por um número e assim compõe um outro grupo.

Durante o cumprimento da medida socioeducativa de internação, o


adolescente conduz o duplo estigma de perigoso: primeiro por ser autor de ato
infracional e segundo por ter demandas de saúde mental. Observamos assim
que o adolescente privado de liberdade, que precisa dos cuidados da saúde
mental, fica entre o poder da lei e o saber psiquiátrico, fazendo-se necessário
problematizar a posição onde foi colocado. Quanto a ideia dessa
psiquiatrização estigmatizante Vincentin (2006), formulou sua ideia:

Quando formulamos a ideia de que estamos diante


de uma psiquiatrização estigmatizante, é no sentido
de que esta: - pode encobrir ou desconsiderar as
múltiplas causalidades em jogo na deriva
infracional, impedindo a leitura dos fenômenos
sociais de exclusão, de vulnerabilidade social e
subjetiva que lhes são também determinantes; -
pode favorecer a desresponsabilização do
adolescente, bem como a do sistema
socioeducativo: a colocação do sujeito como
portador de “transtorno de personalidade”, “quase
incurável”, dificulta que ele se reconheça com suas
determinações psíquicas e sócio-históricas e
impede que ele faça laço social, que supere as
circunstâncias em que está inserido. Trata-se de
um modo de exercício de poder que despoja o
jovem da possibilidade de decisão e escolha e,
nessa medida, também da dimensão de
responsabilidade. (VINCENTIN, 2006, p.161)
A partir do ECA, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo –
SINASE (Lei Federal 12.595/2012) é a política pública que organiza e orienta o
Sistema Socioeducativo tendo como objetivo articular, em território nacional, as
políticas setoriais básicas, bem como assegurar a efetividade e a eficácia na
execução das Medidas Socioeducativas aplicadas ao adolescente autor de ato
infracional. Interessa-nos, em particular, o que diz o art.60°, inciso III do
SINASE:

Art. 60. A atenção integral à saúde do


adolescente no Sistema de Atendimento
Socioeducativo seguirá as seguintes diretrizes: III –
cuidados especiais em saúde mental, incluindo os
relacionados ao uso de álcool e outras substâncias
psicoativas, e atenção aos adolescentes com
deficiências;

Quanto a assistência em saúde mental no DEGASE, visando atender a


necessidade preconizada no SINASE, em 2008, os Núcleos de Saúde Mental,
foram criados, passando a desenvolver ações de atenção a saúde mental nas
unidades de privação de liberdade, com a proposta inicial de atuação
interdisciplinar, a equipe era composta por psicólogo, musicoterapeuta,
assistente social, terapeuta ocupacional e agente redutor de danos, conta nos
dias atuais apenas com uma terapeuta ocupacional. No que diz respeito as
unidades de privação de liberdade, os Núcleos de Saúde Mental, tinham seu
foco voltado para ações internas, passando a atuar como Equipe de Referencia
em Saúde Mental, priorizando o trabalho em rede, visando tornar acessível a
esses adolescentes o seu ingresso na rede de serviços de atenção em saúde
mental com base no território. O que trouxe a necessidade de novos arranjos
institucionais, trazendo um novo conceito no modo de lidar com o adolescente
que necessita de atenção em saúde mental.
Desenvolvido a partir do reconhecimento do sofrimento psíquico, muitas
vezes causado pela privação de liberdade, pelo afastamento dos familiares, do
convívio social, da violência institucional, bem como padrões de extrema
rigidez das normas que lhes são impostas pela instituição, acarretam ou
agravam as necessidades do cuidado em saúde mental.
Torna-se de extrema necessidade que o Estado passe a assumir as
responsabilidades referentes a exclusão social, e promova educação de
qualidade políticas publicas que ofereçam oportunidades aos adolescentes e
suas respectivas famílias, tendo acesso a direitos sociais que são primordiais
na garantia de uma vida digna de fato.
Para a autora cabe buscar que o sujeito se implique na situação que está vivenciando,
bem como na sua história de vida, onde através da cadeia de significantes e da linguagem faça
surgir possibilidades de simbolizar conteúdos que aparecem através dos atos de violência. É
importante recuperar sua participação no ato infracional para que possa responsabilizar-se e
retificar sua posição subjetiva perante a vida.
O trabalho socioeducativo propõe que o adolescente possa se tornar protagonista de sua
própria história de vida e se responsabilize por seus atos e suas escolhas. Entretanto é
importante diferenciar responsabilização - que é posição constituidora e possibilitadora do
surgimento de demandas - de culpabilização - como um conceito que advém de uma lógica
puramente punitiva e que nada produz. (ZEITOUNE, 2010)

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