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1.
Os infames nos legaram seus rastros a partir dos documentos gerados pelas
instâncias da ordem e da normatização quando – em momentos de captura e inquirição
sob a força da lei e da obrigação de falar – são punidos no grande confinamento do
século XIX. O que aí se obtém são confissões e comentários clivados pelas ordens
discursivas dos campos institucionais e pelos seus funcionários, na banalidade repetitiva
do gesto, colhem, recortam, enquadram e adéquam a fala desses infelizes. Esses
procedimentos marcam para sempre pela infâmia de não pertencerem – ou pertencerem
apenas como ameaça – ao mundo daqueles que os confinam.
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Jorge Luiz Borges, nos anos 30, escreveu uma coletânea de contos temáticos sob o nome de História
Mundial da Infâmia, nos quais narra a trajetória de vários personagens, de épocas e lugares diversos, que
através de façanhas infames (roubos, assassinatos e golpes) se irmanam e legam para a posteridade o traço
fugaz de suas vidas. As narrativas misturam fatos reais com a fabulação literária e deve ter servido de
inspiração pra o texto de Foucault.
recontarem, entre memória e ficção, suas desditas – emaranhadas nas redes discursivas
institucionais – os infames persistem oriundos de um mundo distante. Do contrário suas
vidas se extinguiriam para nós, sem nenhum rastro ou sinal de suas existências.
3. Arquivo e performance
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Optamos por utilizar o conceito de aparelho definido pelo filósofo Vilém Flusser, como objetos pós-
industriais, ainda sem categorias adequadas de análise, mas que produzem e armazenam símbolos através
dos programas que os alimentam. Cf.FLUSSER, V. Filosofia da Caixa Preta. RJ: Relume Dumará,2002.
aparelhos móveis e pelo imperativo da comunicabilidade instantânea e ininterrupta
(contanto que a entendamos como experiência de conectividade multiforme/
multiplataforma). Dessa maneira, os aparelhos contemporâneos tornam-se híbridos que
funcionam na gestão e difusão das formas expressivas e se há bem pouco tempo
constrangiam os indivíduos a falar, agora, mais sofisticados, incitam à produção, ao
registro, à expressividade como gozosa espetacularização efêmera da vida. Não nos
surpreende, portanto, o uso crescente, dispostos em amplas faixas etárias e sociais, das
redes sociais, blogs, sites e recursos interativos, pois as demandas do consumo
confundem-se com as exigências de interatividade, performance e presença digital.7
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA