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Fatores causadores de impacto sobre bens arqueológicos na Amazônia 1

Solange Bezerra Caldarelli 2


Introdução
A questäo debatida aqui é como detectar os principais fatores causadores de impacto
sobre os bens arqueológicos da extensa região amazônica, de modo a orientar estratégias
preventivas para a preservação e estudo do patrimônio arqueológico de uma regiäo com
dimensöes continentais, que sustentou uma multiplicidade de culturas, através de processos
e com particularidades que ainda estão sendo desvendados.
Vinte anos atrás, os problemas relativos à arqueologia amazônica, em face dos
projetos desenvolvimentistas planejados, apresentados no simpósio "Arqueologia e
Sociedade", promovido pelo ICAHM - International Comittee of Archaeological Heritage
Management, em Estocolmo (ver Costa, Neves e Caldarelli, 1989), foram considerados,
pelo público participante, que englobava representantes de diversos países, como os de
maior gravidade dentre todos os que foram relatados na ocasião.
Tendo em vista a aceleração dos empreendimentos na região, tal preocupação só
tende a se acentuar, demonstrando o acerto do IPHAN em trazer o tema “desafios da
pesquisa arqueológica face aos grandes empreendimentos previstos para o território
amazônico” para debate no mais que oportuno I Seminário Internacional de Gestão do
Patrimônio Arqueológico Pan-Amazônico.
No presente texto, elaborado a partir da análise de estudos feitos por especialistas de
diversos campos, atuantes na problemática do ecossistema amazônico, salienta-se o
desmatamento como o principal indicador de degradação do solo na Amazônia e, portanto,
de degradação dos bens arqueológicos, uma vez que sua matriz de sustentação privilegiada
é, sem dúvida, o solo. A Amazônia, hoje, possui mais de 50 milhões de hectares de área
desmatada.

1. Desmatamento: principal indicador de área degradada na Amazônia.


Os fatores de desmatamento da Amazônia estão intrinsecamente ligados aos
empreendimentos econômicos que nela ocorrem e ao consequente adensamento
demográfico da região.
Barcellos e Lima (2007) listam as atividades econômicas que predominam na
Amazônia legal brasileira, seguindo a classificação de uso do solo utilizada pelo IBGE:

1
Apresentado no I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO
PAN-AMAZÔNICO, este texto foi atualizado para a presente publicação.
2
Scientia Consultoria Científica – E-mail: solange@scientiaconsultoria.com.br
1
a) Agricultura de subsistência associada a pecuária pouco expressiva; agricultura de
subsistência com a comercialização de excedentes; agricultura comercial baseada nos
cultivos de arroz, milho, feijão, algodão, café, mandioca, soja, cana, pimenta-do-reino,
milho, banana, maracujá, cacau, dendê, melancia, guaraná, juta, malva, citrus; agricultura
comercial com uso intensivo de máquinas e insumos; agricultura em pequenas
propriedades, em grande parte estabelecidas em áreas de colonização e/ou assentamento.
b) Pecuária extensiva, em áreas sujeitas a inundações periódicas; pecuária tradicional
extensiva em pastos naturais associadas à agricultura de subsistência; pecuária extensiva
em pastos plantados e/ou naturais, em médias e pequenas propriedades; pecuária extensiva
modernizada, em médias e grandes propriedades.
c) Extrativismo vegetal: extração de borracha das seringueiras, castanha do-Pará,
açaí, babaçu, dendê, sorva e espécies diversas em áreas de savana.
Segundo os autores acima, o extrativismo é a única das atividades acima listadas que
não oferece prejuízos à floresta.
De acordo com o PRODES – Projeto de Estimativa do Desflorestamento da
Amazônia – o desmatamento se concentra em uma porção limitada e específica da região,
que passou a ser conhecida como Arco do Desflorestamento (figura 1), devido à grande
intensidade dos desmates nos Estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Pará. A evolução
do desmatamento na Amazônia é estimada a partir da análise de imagens dos satélites
Landsat, que permitem inferir algumas características importantes do processo de
ocupação e desflorestamento (Alves, 2001): a maior concentração de áreas desmatadas
ocorre nos municípios localizados próximos à malha viária principal, o que demonstra que
o estabelecimento de eixos e pólos de desenvolvimento acelerou a migração populacional,
fazendo com que milhares de hectares de florestas fossem derrubados para abrigar as
diversas atividades econômicas. Os estados acima mencionados justamente os que mais
receberam incentivos fiscais e creditícios e investimentos em rodovias, associadas aos
grandes projetos de colonização.
Já na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento-
CNUMAD, em 1992, o governo brasileiro ressaltava que o acelerado processo de mudança
na estrutura produtiva, padrão tecnológico e densidade espacial da Amazônia nas últimas
décadas, ocasionou intenso processo migratório, provocando forte pressão ambiental.
Alencar et al. (2004) comentam que a fase recente da ocupação da bacia amazônica
começou na década de 60 do século XX, com a construção de estradas ligando o Centro-
Sul à região Norte. Nas décadas de 70 e 80, o desmatamento foi um reflexo do modelo

2
desenvolvimentista e de integração pensado para a região, pautado por políticas de
ocupação (por motivos geopolíticos) concretizadas por meio da implantação de grandes
projetos de colonização e mineração (Pólo Noroeste, Projeto Carajás e construção de
usinas hidroelétricas e rodovias). Os incentivos fiscais para os grandes projetos
agropecuários tiveram também papel importante, viabilizando a conversão de grandes
áreas florestais em pastagens extensivas (Prates, 2008).
Hoje, segundo Alencar et al. (2004), a Amazônia encontra-se em uma segunda fase
de ocupação, na qual (...) a rentabilidade de atividades extrativistas (extração madeireira) e
agropecuárias está impulsionando a expansão e a transformação da fronteira, com a
conseqüente perda de cobertura florestal. Esse processo está sendo reforçado pelos
programas governamentais de investimento em obras de infra-estrutura (Programa Avança
Brasil e Plano Brasil para Todos), os quais visam, primariamente, a integração da região
amazônica às economias nacional e internacional.
A intensidade da evolução do desmatamento na Amazônia, só no último ano (entre
agosto de 2007 e julho de 2008), pode ser avaliada na figura 2, onde se observa que, em
apenas um ano, foram desmatados 8.905 km². O que, para o que interessa no presente
artigo, representa 8.905 km² onde um número não mensurável de sítios arqueológicos não
conhecidos deve ter aflorado, ficado mais vulnerável e ter sido parcial ou totalmente
destruído.
O IBAMA relaciona a presença dos seguintes tipos vegetacionais na Amazônia:
Campinaranas, Florestas Estacionais Deciduais e Semideciduais, Florestas Ombrófilas
Abertas, Florestas Ombrófilas Densas, Formações Pioneiras, Refúgios Montanos e Savanas
Amazônicas (http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/tipos.htm), com a presença, entre
eles, de formações vegetais de transição, ou de contato.
De acordo com Alencar et al. (2004), são justamente as florestas de transição as mais
atingidas pelo desmatamento, em especial no Estado do Mato Grosso, onde ocupavam
originalmente 41% do território. Ora, a importância das áreas de transição ou contato para
a arqueologia é sensível: trata-se de áreas privilegiadas para o estudo dos contatos entre
sociedades estabelecidas num ambiente com sociedades estabelecidas no outro ambiente;
para o estudo da adaptação de sociedades em transição de um ambiente para outro e para o
estudo de sociedades que exploram ambos os ambientes.
Para Alencar e Moutinho (2005), o desmatamento na Amazônia tem sido
impulsionado principalmente pelo acesso facilitado à terra e seus recursos e pela alta
rentabilidade das atividades econômicas com potencial de exportação, como a pecuária, a

3
extração madeireira e a agroindústria de grãos. Comentam os autores que o desmatamento
decorrente das ações de grilagem de terras também tem ganhado força no contexto atual de
expansão da fronteira, principalmente com o anúncio de melhorias na malha de infra-
estrutura de transportes e pelo caos fundiário existente nestas áreas.
Todos os fatores citados neste item, causadores de desmatamento e,
consequentemente, de degradação dos bens arqueológicos amazônicos, serão brevemente
discutidos a seguir.

2. Adensamento demográfico
De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia-SUDAM, a
Amazônia Legal, com uma extensão de 5.109.812 km², corresponde a cerca de 60% do
território nacional, abrigando, no entanto, apenas 12,4% da população nacional 3.
A dinâmica demográfica da Amazônia acompanhou, historicamente, períodos de
prosperidade e decadência, conhecidos de todos, acompanhados de fluxos e refluxos de
população, em decorrência de uma base econômica essencialmente extrativista.
As políticas desenvolvimentistas, planejadas no final da década de 60 do século XX e
implantadas a partir de 1970, passaram a imprimir uma nova configuração ao processo de
ocupação econômica e demográfica da região. O padrão de povoamento tradicional,
baseado na circulação fluvial, foi sendo substituído por um padrão de povoamento baseado
nas rodovias, que atraíram o povoamento para a terra firme, abrindo grandes clareiras na
floresta e promovendo a urbanização e a industrialização da região (figura 3).
Sempre de acordo com a SUDAM, a população amazônica quase triplicou entre 1970
e 2000, evoluindo de aproximadamente 7,3 para 21 milhões de habitantes, concentrando-se
este crescimento nas zonas urbanas, em detrimento das zonas rurais, o que vem produzindo
profundas mudanças na estrutura do povoamento regional. Destaca-se, ainda, no
povoamento da Amazônia, o componente migração, que teve papel relevante na
conformação do atual perfil demográfico da Região, inicialmente com uma natureza inter-
regional, dominando, atualmente, a natureza intra-regional.
O adensamento populacional dos centros urbanos obriga à adaptação desses centros à
nova situação demográfica, através de obras de melhoramento das cidades, acarretando
eventos sintomáticos, no que concerne ao patrimônio arqueológico, como as descobertas,
amplamente divulgadas pela mídia, no ano de 2003, de urnas funerárias em plena praça
Dom Pedro II, no centro de Manaus.

3
Dados de 2002, disponíveis em http://www.ada.gov.br/; acesso em setembro/2008.
4
A urbanização observada na região amazônica, no entanto, encontra-se
funcionalmente ligada ao desenvolvimento das áreas rurais, com rodovias incrementando
as interconexões entre as colônias e propriedades rurais e os núcleos urbanos. Estes últimos
processam e distribuem os produtos agrários e abastecem o meio rural de produtos
industrializados. Em virtude dessa característica, Becker (2005), desde a década de 1980,
chama a Amazônia de uma “floresta urbanizada”. A Amazônia teve a maior taxa de
crescimento urbano no país nas últimas décadas.
Duas características marcam a ocupação do espaço regional amazônico, segundo a
SUDAM 4:
a) o padrão linear, onde a integração terrestre e fluvial do território tendeu a formar
eixos de transporte e infra-estrutura, ao longo e em torno dos quais se concentram
investimentos públicos e privados, a população, os migrantes e os núcleos urbanos, com
forte pressão sobre o meio ambiente.
b) o grande arco de povoamento, causado adensamento de estradas no leste do Pará,
Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia formando uma faixa que acompanha a
borda da floresta, justamente onde se implantaram as estradas e onde se situa o cerne da
economia regional, à exceção da Zona Franca de Manaus e alguns projetos minerais.
Depreende-se das informações acima que, no que concerne ao desmatamento
ocasionado pelo adensamento geográfico da Amazônia, os sítios arqueológicos se tornam
mais vulneráveis ao longo dos eixos que atraem o povoamento (laterais das rodovias e
margens dos rios), em especial no grande arco de povoamento (correspondente ao “arco de
desflorestamento” atrás mencionado), no Pará, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e
Rondônia.
A migração do crescimento populacional da Amazônia, de uma progressão aritmética
para uma progressão geométrica, nos últimos decênios, pode ser vista na figura 4, onde
Ferreira e Salati (2005) comparam quase 200 anos de crescimento demográfico da região.

3. Assentamentos rurais
Os assentamentos de reforma agrária cobrem cerca de 5% do bioma Amazônia, dos
quais aproximadamente metade está em áreas florestadas, sem sinais anteriores de pressão
humana. De acordo com o Incra, o número de famílias em assentamentos de reforma
agrária na Amazônia Legal mais do que triplicou entre 1994 e 2002 – passando de 161.500
para 528.571. O Pará concentra o maior número de assentamentos, especialmente no sul e

4
Fonte: http://www.ada.gov.br/, acesso em setembro/2008.
5
oeste do Estado, embora os demais estados também abriguem assentamentos em regiões
florestadas.
Segundo Santos (1985, apud Barcellos e Lima, 2007), “a colonização agrícola foi
uma das formas recorrentes da ação estatal para efetivar a ocupação de novas terras, o
que, bem entendido, supôs outras medidas econômicas de maior amplitude, ligadas aos
sucessivos modelos econômicos políticos que tiveram vigência no País nas últimas
décadas”.
Os 1.354 assentamentos criados na Amazônia entre 1970 e 2002, cuja área soma
230.858 quilômetros quadrados, estão concentrados ao longo das principais rodovias e do
Arco do Desmatamento (Figura 1). A perda de floresta nos assentamentos representou 15%
do desmatamento total da Amazônia até 2004 (aproximadamente 696 mil quilômetros
quadrados).
Assim, em 2004, já somavam 696.000 km² as áreas com alta probabilidade de terem
sido expostos sítios arqueológicos, com maior ou menor grau de degradação decorrente do
tipo e do tempo da atividade econômica vigente nessas terras.
Analisando as imagens de satélite captadas entre agosto de 2007 e julho de 2008, o
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia-Imazon concluiu que os
assentamentos de reforma agrária foram responsáveis pela derrubada de aproximadamente
uma a cada dez árvores cortadas na floresta nos últimos 12 meses, ou seja, por cerca de
10% do desmatamento da região neste período (http://www.imazon.org.br/; acesso em
setembro/2008).
Estudos demonstram que, embora os impactos ambientais decorrentes das desconformidades
de uso da terra estejam presentes em todos os assentamentos, foram mais expressivos nos
assentamentos com predominância de população tradicional, com menor taxa de escolaridade,
concluindo que “a questão cultural pode ser um fator determinante da capacidade do homem
ocupar a terra de modo mais sustentável” (Lira et al, 2006: 323). Os autores confirmam, assim,
as conclusões de Sawyer (2001), ao ressaltar que a questão cultural tem um papel chave
nos problemas ambientais relacionados à ocupação da Amazônia e que o desenvolvimento
intelectual e aperfeiçoamento pessoal do ser humano devem ser considerados de grande
relevância para a tomada de decisão 5.

4. Sistemas de transporte terrestre

5
Impossível não pensar, aqui, no acerto das políticas do IPHAN de implementação de atividades de Educação
Patrimonial em todos os projetos arqueológicos ligados ao licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente
causadores de danos ao patrimônio arqueológico nacional.
6
4.1. Estradas e rodovias
Existe uma associação comprovada entre a pressão humana sobre a floresta
amazônica e as estradas. Cerca de 80% da área total desmatada, dos centros urbanos e dos
assentamentos de reforma agrária localizam-se a até 30 quilômetros das estradas oficiais
(figura 5).
De acordo com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes- DNIT, a
Amazônia possui, hoje, 15.579km de rodovias federais, que ocasionam problemas
ambientais e sociais que, para Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia-INPA, podem dificultar as tentativas de controlar o desmatamento, pois
permitem a abertura de áreas da Amazônia que estão inacessíveis hoje e promovem uma
migração dos focos de desmatamento, que podem se espalhar por estradas laterais, de
acesso, sem nenhum controle (www.amazonia.org.br, março/2008). Anteriormente,
Fearnside (2005) já alertara para o fato de que a infra-estrutura de transporte acelera a
migração para áreas remotas e aumenta o desmatamento de propriedades já estabelecidas.
Brandão Jr. et al. (2007) ressaltam a predominância de dois tipos de estradas,
principais vetores de ocupação da Amazônia, na região: as oficiais e as não oficiais. As
primeiras, construídas pelo governo federal, conectam a região Norte ao resto do Brasil,
enquanto as não-oficiais, deabrangência local, não aparecem nos mapas oficiais do
Departamento Nacional de Infra-estrutura e Transporte (DNIT) e do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Em geral essas estradas foram construídas pela iniciativa
privada, sem incentivos governamentais, para facilitar a exploração e o acesso aos recursos
naturais e terras da Amazônia” (Brandão Jr. et al., 2007).
As estradas não oficiais, ou endógenas, que se interligam às estradas oficiais, são em
geral construídas em terras públicas, por agentes privados. Souza Jr. et al. (2005) alertam
para o fato de que milhares de quilômetros de estradas endógenas estão sendo abertos em
áreas florestais, em geral sem planejamento e sem as autorizações exigidas por lei e sem
informações precisas sobre sua localização, extensão e ritmo de expansão. Só no Centro-
Oeste do Pará, as estradas endógenas, que em 1990 tinham 5.042km de extensão, passaram
para 20.769 km em 2001; ou seja, um crescimento de mais de 400% em dez anos!
Em debate promovido pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável
do Amazonas-IDESAM a respeito da pavimentação da rodovia BR-319, que liga Manaus a
Porto Velho, o secretário executivo do IDESAM, Mariano Colini Cenamo, alertou para o
fato de que as rodovias criam o fenômeno da "espinha de peixe": criam-se pequenas
estradas que saem da rodovia principal, as quais, ao entrar na mata, expandem o

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desmatamento. "Não tem exemplo de governança que prove ser possível construir uma
estrada sem esse tipo de impacto" (http://www.amazonia.org.br/, 18/08/2008).
4.2. Ferrovias
Os anos de 2007 e de 2008 testemunharam defesas veementes do transporte
ferroviário na Amazônia como uma alternativa menos impactante ao meio ambiente do que
o transporte rodoviário.
Na abertura da 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência-SBPC, em julho/2007, em Belém (PA), o presidente da SBPC, Prof. Dr. Ennio
Candotti, afirmou que "as ferrovias têm a vantagem de viabilizar melhor o ordenamento
territorial e de causar menos impactos que as estradas. Estradas podem surgir ao lado das
ferrovias, mas como vias auxiliares. Tecnologicamente não é simples, mas as ferrovias
podem ser construídas na região, como ocorreu em Carajás, que é uma das mais
modernas do mundo".
Em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável da Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2008, sobre “Modais de
transporte terrestre na Amazônia e os impactos ambientais decorrentes da pavimentação
da BR-163”, o Dr. Mário José Gisi, sub-procurador geral da República e representante do
Ministério Público Federal no Conselho Nacional de Meio Ambiente, defendeu
categoricamente a necessidade de estudos de alternativas para as rodovias previstas no
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) (http://www.agenciaamazonia.com.br/,
29/04/2008).
Durante a III Conferência Nacional de Meio Ambiente, realizada em Brasília, em
maio/2008, o Movimento Preserve a Amazônia soltou abaixo-assinado requerendo que o
Governo Federal priorize o modal ferroviário para a promoção do desenvolvimento
sustentável em áreas com elevado risco de degradação ambiental nos biomas brasileiros e e
paralise e reavalie a construção e reconstrução das rodovias previstas no Plano de
Aceleração do Crescimento (PAC) para a Amazônia (http://www.preserveamazonia.org/,
acesso em setembro/2008):
Em junho/2008, durante o seminário promovido pelo Senado Federal sobre “As
Ferrovias e o Meio Ambiente”, foi lançado o Movimento Pró-Ferrovias na Amazônia.
O principal argumento dos defensores das ferrovias em relação às rodovias é o de
que, contrariamente ao modal rodoviário, que permite o acesso livre e indiscriminado em
todo o trecho da via, o modal ferroviário restringe o acesso apenas às estações,

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estrategicamente posicionadas em locais pré-determinados, ou seja, os pontos de embarque
e desembarque de pessoas e produtos.
Pelo argumento acima, o risco e a probabilidade real de desmatamento seriam
reduzidos significativamente no caso do transporte ferroviário, uma vez que a facilidade de
acesso é, sem dúvida, o principal fator que contribui para o aumento do desmatamento, no
caso dos modais terrestres de transporte. O acesso livre, característico das rodovias, acaba
incentivando a abertura de estradas vicinais clandestinas, que viabilizam os desmatamentos
e a retirada ilegal de madeira.
Nesse sentido, pode-se também considerar que, devido aos impactos indiretos
ocasionados pelas rodovias, sua pressão sobre os bens arqueológicos também é mais ampla
e menos controlável, embora os impactos diretos sejam similares.

5. Empreendimentos de geração e transmissão de energia


5.1. Hidroeletricidade
Nas décadas de 60 e 70 do século XX, o Brasil definiu seu modelo para geração de
energia, priorizando a hidroeletricidade como principal fonte geradora, o que desencadeou
a construção de vários aproveitamento hidrelétricos e deu ao País uma matriz com cerca de
91% de energia hidráulica. Com o investimento em outras fontes de energia, esta
proporção diminuiu, mas continuou representando a grande matriz energética brasileira
(figura 6).
Para a Amazônia, em razão do grande potencial representado pela maior bacia hidrográfica
da Terra, foram projetados inúmeros reservatórios, mas apenas cinco estão atualmente em
operação, sendo um de grande porte (Tucuruí) e os demais de média e pequena capacidade
geradora (Curuá-Una, Coaraci Nunes, Samuel e Balbina). Em 1968, foi criado o Comitê
Organizador dos Estudos Energéticos da Amazônia, vinculado ao Ministério das Minas e Energia,
tendo como função supervisionar estudos referentes ao aproveitamento do potencial energético na
região amazônica (Garcia, 2004). Segundo Melloni (2008), “o esgotamento dos projetos de
geração hidráulica no Centro-Sul e a crescente demanda por energia elétrica transformaram a
Amazônia, um território considerado impenetrável para o setor elétrico no final dos anos 80 e
começo dos 90, na nova fronteira elétrica do Brasil”.
A partir de meados da década de 90 do século XX, os planos plurianuais do Governo Federal
passaram a dar grande ênfase aos projetos de geração e transmissão de energia hidroelétrica na
Amazônia
No PPA 2008-2011, ainda não publicado em sua versão final, o Governo Federal tem
perto de R$ 390 bilhões destinados à infra-estrutura, dos quais 75% à geração e

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transmissão de energia 6, sendo parcela expressiva deste montante destinada à região
amazônica.
No discurso presidencial de apresentação do PPA 2008-2011, consta que, “em
consonância com a expansão da capacidade de geração, serão implantados sistemas de
transmissão de energia elétrica, que acrescerão até 2010 cerca de 14.000 km de novas
linhas, atingindo-se após aquele ano mais 5.000 km, integrando os Estados de Rondônia,
Acre, Amazonas e Amapá ao Sistema Elétrico Nacional” (Ministério do Planejamento,
2008).
5.1.1. Geração de energia elétrica
Aos cinco aproveitamentos hidrelétricos atualmente em operação na região, atrás
citados, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal encarregada do planejamento
energético no Brasil, informou que outras sete hidrelétricas, com capacidade de geração de
energia conjunta de quase 27 mil MW, deverão ser licitadas até 2011. Melloni (2008)
ressalta, no entanto, que esse volume de energia não é tudo o que a Amazônia tem a
oferecer: calcula-se, com base nos estudos já realizados, que os rios da região comportem
aproveitamentos hidráulicos que poderiam proporcionar à matriz elétrica nacional até 40
mil MW – o correspondente a 40% da capacidade total de geração do Brasil.
Na tabela 1, pode ser visto o estado dos leilões de energia nova na Amazônia, feitos e
programados, do ano de 2007 ao ano de 2009.

TABELA 1
Aproveitamentos hidrelétricos da Amazônia objeto de leilões pela EPE entre 2007 e 2009.
AHE Bacia Data Leilão Status
Santo Antônio Madeira Dez/2007 Ocorrido
Jirau Madeira Mai/2008 Ocorrido
Belo Monte Xingu Out/2009 Previsto
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (www.epe.gov.br).

Considerando-se apenas os aproveitamentos hidrelétricos já em funcionamento na


Amazônia e os já leiloados (em implantação), temos um território inundado de mais de
5.800 km².
Somando-se à área de inundação (representada pelos reservatórios) as áreas ocupadas
pelos canteiros de obras, barragens, casas de força, canais, áreas de empréstimo, áreas de
deposição de material excedente e vias de acesso, são certamente mais de 6.000 km² de
áreas onde bens arqueológicos fatalmente foram/serão impactados pelos empreendimentos.

6
Lembrar que esse montante também se destina ao financiamento da bioenergia.
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No entanto, é preciso lembrar que a maioria desses empreendimentos contou/conta
com estudos arqueológicos, com exceção dos dois empreendimentos pioneiros, Curuá-Una
e Coaracy Nunes (Simões e Araújo Costa, 1987; Miller, 1992; Viana, 2006; Scientia,
2007).
É importante lembrar, também, o investimento do Governo Federal em estudos de
inventário, onde se caracterizam os componentes-sínteses a serem considerados na
avaliação da sensibilidade ambiental das bacias hidrográficas para receberem
aproveitamentos hidrelétricos, e as avaliações ambientais integradas (AAI), onde se
avaliam os impactos cumulativos e sinérgicos de aproveitamentos hidrelétricos em estudo
para bacias hidrográficas.
A tabela 2 apresenta as bacias hidrográficas da região amazônica que estão sendo
objetos de estudos de inventários, de avaliações ambientais integradas ou de ambos.

TABELA 2 – Bacias hidrográficas da região amazônica que estão sendo objeto de


estudos de inventário e/ou de avaliações ambientais integradas.
Bacia Status
Araguaia Em andamento
Aripuanã Em andamento
Itacaiúnas Em andamento
Jari Em andamento
Juruena Em andamento
Sucunduri Em andamento
Tapajós Encerrado
Teles Pires Em andamento
Tocantins Encerrado
Trombetas Em andamento
Fonte: Brasil Energia, Outubro/2008 (in: www.brasilenergia.com.br)

A construção de hidrelétricas de grande porte na Amazônia tem sido objeto de muitas


críticas, em um momento onde o desmatamento da região amazônica é um dos temas
centrais da agenda ambiental mundial, em virtude dos efeitos climáticos desse
desmatamento. No entanto, conta também com expressivo número de defensores. A
respeito, diz Dantas (2008), que “a visão da Amazônia como um santuário natural a ser
preservado não irá obter êxito no combate ao desmatamento. A preservação da Amazônia
necessita da emissão de sinais econômicos que tornem mais lucrativa a preservação da
floresta do que sua exploração desordenada. (...) O número de exigências ambientais a
serem cumpridas pelos empreendimentos hidrelétricos na Região Amazônica é tamanho
que o impacto ambiental é muito menor daquele que ocorrerá caso não haja a exploração
da Região Amazônica”. O autor termina defendendo que o debate ambiental brasileiro

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busque mecanismos de promoção do desenvolvimento sustentável e não o conflito entre
desenvolvimento e preservação ambiental.
Não nos cabe, aqui, entrar no mérito dessa discussão, mas apenas focar a questão dos
impactos dos aproveitamentos hidrelétricos sobre o patrimônio arqueológico nacional
contido na região amazônica e as maneiras de controlá-los, de modo a evitar que este
patrimônio se perca antes mesmo de ser identificado, estudado e incorporado à Memória
Nacional.
5.1.2. Transmissão de energia elétrica
Analisando o sistema de transmissão de energia elétrica como vetor de ocupação de
territórios, Garcia (2004) os aborda como empreendimentos lineares (similares às estradas)
e, portanto, eixos facilitadores de penetração/ocupação. As linhas de transmissão, que têm
a característica de cortar centenas de quilômetros de territórios, leiloadas na região
amazônica pela Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL, nos anos de 2006, 2007 e
2008, são apresentadas na tabela 3.
TABELA 3
Linhas de Transmissão leiloadas pela ANEEL na Amazônia, no triênio 2006/2007/2008.
LEILÃO LOTE EXTENSÃO/KM
01/2006 A 949
04/2007 C 402
A 527
B 713
01/2008
C 586
D 775
TOTAL 3.952

Considerando-se que os empreendimentos mais recentes evitam os desmatamentos


totais das faixas de domínio dessas linhas de transmissão (que giram entre 40 e 60 metros
de largura) 7, optando pelo corte das árvores mais altas nas faixas entre torres e
promovendo o desmatamento total apenas nas praças das torres (com áreas que variam em
geral entre 900 e 2.000 m²), tais empreendimentos podem ser vistos, no que concerne à
arqueologia, como grandes transects, que a espaços regulares abrem áreas passíveis de
investigação arqueológica.
De uns anos para cá, todas as linhas de transmissão têm sido acompanhadas de
estudos arqueológicos, os quais compreendem duas medidas principais, apresentadas, na
tabela 4, conforme nossa percepção de sua eficiência.

7
Existem LTs com faixas menores, de 30m ou menos de largura, mas representam a minoria dos casos na
Amazônia.
12
TABELA 4 – Medidas mais empregadas nos estudos arqueológicos associados ao
licenciamento ambiental de Linhas de Transmissão.
Medidas mais empregadas Eficiência Justificativas
• Permite identificar os sítios arqueológicos em
risco antes da deflagração dos fatores que podem
afetá-los.
• Permite que o empreendedor tente evitar os sítios
Levantamento preventivo Alta identificados, mudando a localização das torres
que podem afetá-los;
• Permite isolar a área dos sítios identificados e
proceder ao seu resgate, sem que as obras nos
demais trechos da LT sejam comprometidas.
• Identifica os sítios enquanto as obras estão
ocorrendo, e muitas vezes já interferindo nos
sítios.
Monitoramento Baixa
• Obriga à realização de resgates expeditos e
compromete o cronograma das obras de
implantação do empreendimento.

Embora as medidas apresentadas não sejam as únicas adotadas pelos arqueólogos,


elas correspondem à grande maioria dos projetos apresentados ao IPHAN, conforme se vê
nas portarias de permissão/autorização de pesquisa publicadas no Diário Oficial da União.
5.2. Combustíveis fósseis
As primeiras tentativas de encontrar tipos de combustíveis na Amazônia datam do
início do século. O primeiro poço foi perfurado em 1917, pelo Serviço Mineralógico do
Brasil (SMG). Em 1925, o SMG inaugurou na cidade de Itaituba, no Pará, a primeira
cidade com iluminação pública a gás natural (www.petrobras.com.br; acesso em
setembro/2008).
No entanto, foi apenas em 1948 que se fizeram os primeiros levantamentos sísmicos
na Amazônia, com o objetivo de encontrar especificamente gás natural e petróleo.
Descobertas realmente significativas, entretanto, ocorreram apenas na segunda metade da
década de 70 do século XX, durante pesquisas na Bacia do rio Solimões. Apenas em 1986,
no entanto, foram descobertas reservas de óleo e gás em níveis comerciais, nas
proximidades do rio Urucu. Dois anos depois, em 1988, começava a produção comercial
na Província Petrolífera de Urucu. O transporte, inicialmente feito por meio de pequenas
balsas, pelos rios Urucu e Solimões, está sendo aos poucos sendo substituído pelo poliduto
que liga Urucu a Porto Velho e Urucu a Manaus, onde existem atualmente 740 quilômetros
de dutos (600 quilômetros terrestres e 140 quilômetros submersos), os quais ligam os
poços até o Pólo Arara, onde é realizado o processamento do petróleo, gás natural e GLP
(gás de cozinha).

13
O petróleo e o GLP seguem da área de produção em Urucu ao Terminal de Solimões
por cerca de 285 quilômetros de extensão de dutos. A construção do gasoduto Urucu-
Manaus irá permitir que o gás natural chegue até a capital do Amazonas, permitindo que,
em sua capacidade máxima, as termelétricas a ele interligadas cheguem a produzir até
1.500 MW.
Pesquisas arqueológicas têm precedido e acompanhado todo o processo de
implantação do poliduto. O trecho Urucu-Coari (prospecções e resgates arqueológicos) foi
pesquisado pela Scientia (Caldarelli, 1998 e 1999) e o trecho Coari-Manaus está sendo
pesquisado pelo MAE-Museu de Arqueologia e Etnologia/USP, em parceria com a
Universidade Federal do Amazonas-UFAM (Neves, 2005). Dezenas de sítios
arqueológicos têm sido descobertos e estudados no decorrer dessas pesquisas.
Conforme mencionado em Caldarelli (2007), os dutos têm algumas características
interessantes do ponto de vista da pesquisa e da preservação arqueológica:
a) Atravessam, em especial na Amazônia, áreas que dificilmente seriam acessíveis à
pesquisa, como na caso mencionado dos dutos que partem de Coari, funcionando como
transects que cortam áreas de terra firme, os quais permitem a localização de sítios
arqueológicos em áreas desconhecidas da arqueologia 8;
b) Permitem que o empreendedor estude a possibilidade de desviar os dutos dos sítios
arqueológicos, ou de passá-los abaixo deles, através de perfuração bidirecional,
preservando os sítios para pesquisas futuras;
c) Como não atraem ocupação lindeira, permitem que as escavações se concentrem
nas áreas afetadas e se espacem no restante do espaço dos sítios, preservando porções
expressivas destes para pesquisas posteriores.
Quanto às perspectivas de novos poços exploratórios na Bacia do Solimões, estão
previstos 23 novos poços nos pólos Urucu e Juruá, para o período 2008-2012
(www.petrobras.com.br; acesso em setembro/2008), os quais certamente levarão à
construção futura de novos dutos.

6. Exploração mineral
As principais substâncias mineradas na Amazônia, segundo Barcellos e Lima (2007),
são ferro, bauxita, manganês, estanho, ouro, mesmo levando em conta que em alguns
projetos estejam consorciadas a outras substâncias. A figura 7 indica os tipos de minerais

8
Esta é uma característica compartilhada também com as linhas de transmissão de energia elétrica.
14
de interesse comercial existentes na região amazônica e os locais onde se encontram as
principais jazidas conhecidas.
Dois tipos de exploração mineral ocorrem há décadas na região: o garimpo e a
mineração propriamente dita.
6.1. Garimpo de ouro
Embora o ouro não seja o único minério garimpado na região amazônica (no Mato
Grosso, são comuns também os garimpos de diamante), o ouro é o metal precioso que mais
ocorre no território amazônico (figura 8), sendo, por isso, privilegiado neste item.
Segundo Veiga e Veiga (2000), o garimpo de ouro na Amazônia tem sido praticado
de modo descontrolado e itinerante, promovendo a degradação ambiental, gerando
conflitos nas comunidades locais e a invasão de terras indígenas, além de deixar rastros de
decadência econômica e social.
A grande extensão do território amazônico dificulta o acesso aos garimpos e a
fiscalização da atividade garimpeira, que ocorre simultaneamente em uma multiplicidade
de locais. Como conseqüência, os impactos causados pelo garimpo acabam não sendo
controlados ou corrigidos. Ao se esgotarem os garimpos, as áreas degradadas são
simplesmente abandonadas (www.amazoniabrasil.org.br/base/grandesTemasGarimpo
Mineracao.asp; acesso em setembro/2008).
No que concerne ao patrimônio arqueológico, os bens mais afetados são os situados
nas proximidades das aluviões. Raramente a atividade garimpeira desorganizada atinge o
minério nas rochas, devido ao alto custo da mecanização.
A mais notável exceção refere-se ao famoso garimpo de Serra Pelada, o maior
garimpo a céu aberto do mundo, descoberto em 1980 e explorado ininterruptamente até
1992, no Sudeste do Pará. A população garimpeira na área chegou a atingir 30.000
pessoas, direta ou indiretamente envolvidas com o garimpo. Face às características de
Serra Pelada, uma ocorrência de ouro na superfície da terra, a transformação paisagística
foi drástica, e a topografia, de morro, passou para um enorme buraco (que, em 1984, já
atingira a profundidade de 200 metros), que atingiu o lencol freático e onde
desmoronamentos eram freqüentes (figura 9). A região de Serra Pelada alcançou sua maior
produção de ouro no ano de sua descoberta, em 1980, quando foram retiradas cerca de 7
toneladas de ouro. A exploração predatória levou ao rápido declínio da produção, de modo
que em 1990 somente 600 quilos de ouro foram retirados.

15
Num caso como o de Serra Pelada, a grande extensão garimpada provavelmente
atingiu bens arqueológicos, o que não dá mais para verificar, devido ao extremo grau de
degradação provocado pelas atividades.
No entanto, é importante lembrar que as atividades de garimpo provocam
importantes impactos associados, relacionados à infra-estrutura criada intempestivamente,
sem controle, para permitir o escoamento do minério extraído, o que acaba causando
impactos sobre o patrimônio arqueológico local.
A lendária Província Mineral do Tapajós, por exemplo, uma das maiores áreas de
mineração do mundo, com cerca de 100 mil km² de área, também considerada um
verdadeiro Eldorado, na mesma década de 1980 chegou a ter, em seu auge, mais de 100
mil garimpeiros, em cerca de 2 mil pontos de garimpagem, que invadiram as cidades de
Itaituba e Santarém, revirando rios e floresta da região, praticamente sem nenhum controle
por parte do Estado. “Ao ponto de, num determinado momento, terem sido identificadas
cerca de 500 pistas ativas de pouso cortando a mata nativa. Diariamente, centenas de
pequenos aviões se dedicavam ao transporte de garimpeiros, víveres e, é claro, do ouro
encontrado, cuja produção média anual atingiu, ao final dos anos 1980, a marca recorde
de 14 t.” (Revista Minérios & Minerales, 302, 11-03-2008).
O ouro descoberto na bacia do rio Calçoene (AP), no final do século XIX, também
causou uma corrida sem precedentes, com a invasão da região por aventureiros de todas as
nacionalidades, provocando ali um crescimento desordenado (www4.ap.gov.br/
Portal_Gea/historia/dadosestado-c-ouro.htm; acesso em setembro/2008).
Em Mato Grosso, onde as atividades garimpeiras têm representado uma atividade
produtiva responsável pela expansão e criação de muitos núcleos urbanos desde o período
colonial, com novos focos de descoberta de ouro na década de 70 do século XX (com pico
de produção em 1988), o garimpo ilegal e predatório também grassa, com dificuldades do
Estado para seu controle, apesar das inúmeras ações da Polícia Federal
(www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u62274.shtml; www.amazoniabrasil.org.br/base/
grandesTemasGarimpoMineracao.asp; acesso em outubro/2008).
Recentemente, um garimpo de ouro localizado em uma região de difícil acesso no
Sul do Amazonas, em 2007, atraiu, em pouco tempo, cerca de 4.000 pessoas, que atuam
não apenas na extração de ouro, mas também nas atividades indiretas. O Garimpo do Juma,
assim denominado por situar-se na margem do rio homônimo (bacia do rio Madeira),
abrange uma área de menos de um quilômetro, nas proximidades dos municípios de Apuí e
Nova Aripuanã, a 453 quilômetros de Manaus. Para impedir a exploração predatória, uma

16
comissão criada pelo governo federal e coordenada pela Casa Civil e pelo Ministério de
Minas e Energia determinou que os garimpeiros se organizassem em uma cooperativa e
criou normas para a exploração da jazida (g1_globo_com-arimpoManaus_jpg_arquivos;
18/01/2007; www.agenciaamazonia.com.br; 05/03/2007). Nenhuma delas, ao que se saiba,
voltada à pesquisa arqueológica preventiva da área.
O grau de destruição da área do garimpo, após poucos meses de atividade de extração
do minério, pode ser observado na figura 10.
Atualmente, está sendo estudada a viabilidade da retomada da extração de ouro em
vários desses locais, não mais por garimpo manual, mas por máquinas. Existem estimativas
geológicas de que, nos 100 hectares de Serra Pelada que devem ser cedidos para
exploração, existam cerca de 20 toneladas de ouro ainda não exploradas
(www.parasitologia.org.br/ default.asp?MENU=22&EDITORIA=459; acesso em
setembro/2008).
Segundo o “Diário do Pará´”, pelo menos dez empresas estrangeiras de mineração
estão realizando pesquisas na região do rio Tapajós, no oeste do Pará, que deverá voltar a
ser uma grande produtora de ouro (www.diariodopara.com.br; “Ouro volta a brilhar no
oeste”, 19/12/2004).
Para Veiga e Veiga (2000), a retomada de áreas garimpadas não é uma ação simples
ou corriqueira, mas uma empreitada tecnicamente ousada, cuja implementação deve estar
pautada no conhecimento das peculiaridades do ouro amazônico, no aproveitamento
sustentável dos recursos auríferos remanescentes, em tecnologias apropriadas e na
compatibilização da garimpagem com a proteção ambiental.
6.2. Mineração industrial
A mineração na Amazônia começou na década de 1940 com a exploração das
reservas de manganês na Serra do Navio (AP). Na década de 1970, instalaram-se os pólos
minerais de Carajás e Trombetas, no Pará. Atualmente, a maior empresa de mineração da
Amazônia é a Companhia Vale do Rio Doce- Vale, embora haja outras empresas de
mineração de grande porte investindo em pesquisa e exploração minerais na região, como a
Mineração Rio do Norte e a Alcoa (Celentano e Veríssimo, 2007).
A importância mineral da Amazônia pode ser avaliada pelo fato de nela se encontrar
a maior mina de ferro do mundo (na Serra dos Carajás, PA) e reservas de alumínio em grau
tal que faz do Brasil o 3º país com maiores reservas deste metal. Possui ainda importantes
reservas de manganês, cobre, estanho, níquel, caulim, sal-gema, potássio, calcário,
tungstênio, titânio, zinco, molibdênio e gás natural (ver figura 7).

17
Devido a esta importância econômica das jazidas minerais amazônica, participantes
da audiência pública sobre política governamental de mineração na Amazônia, realizada
rpela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional da
Câmara dos Deputados, em março/2007, disseram que o Brasil não pode abrir mão das
atividades mineradoras na região, que respondem por 21% das exportações e por 10,9% do
PIB nacional (www.reframa.com.br/noticias/especialistas-defendem-mineracao-na-
amazonia; 07/06/2007).
Marini (2007) comenta que a mineração empresarial organizada, por seu caráter
pontual e submissão à legislação mineral e ambiental brasileiras, constitui-se na melhor
alternativa de interiorização do desenvolvimento com ocupação pioneira e ordenada dos
espaços vazios da Amazônia.
Segundo o autor, o processo minerador, em virtude da rigidez locacional dos
depósitos minerais, dá-se com a criação em regiões ínvias de pólos (minas) de alta
capacitação tecnológica, com toda a infra-estrutura necessária (aeroportos, estações
geradoras de energia, portos, hospitais, corredores de transporte, escolas, oficinas e outras
benfeitorias) implantada com recursos essencialmente das empresas concessionárias dos
direitos minerários.
O autor cita as regiões de Carajás, Barcarena e Pitinga como exemplos de
contribuição à preservação das florestas. Para ele, a mineração empresarial atua
sinergicamente com os governos e com as comunidades locais, desempenhando importante
papel na ocupação ambientalmente correta e sustentável da Amazônia, visto que provoca
dano ambiental apenas pontual e de fácil controle pelo Estado.
Barcelos e Lima (2007) defendem que a atividade econômica da mineração não tem
relação direta com o desflorestamento da região amazônica, uma vez que o desmatamento
relacionado à mineração é geograficamente concentrado, atingindo apenas a área próxima
a atividade de extração mineral (figura 11). Admitem, no entanto, que ocorrem efeitos
indiretos, na medida em que os grandes projetos de mineração atuaram como pólos de
atração demográfica, estimulando as demais atividades, principalmente a expansão de
áreas agrícolas (que será tratada adiante, neste artigo).
No que concerne ao patrimônio arqueológico, a devastação causada pela mineração
industrial é de grande intensidade (figura 12), mas localizada, sempre sujeita ao
licenciamento ambiental, e, por isso, controlada.
Os principais projetos de arqueologia em andamento, relacionados aos projetos de
mineração, listados na tabela 5, testemunham este fato:

18
TABELA 5 – Principais projetos de arqueologia em andamento, associados a
empreendimentos de exploração mineral.
Empreendedor
Empreendimento Projeto Executor
/Financiador
Mina de Cobre do Prospecção e Salvamento arqueológicos;
Vale Museu Goeldi
Salobo- PA Educação Patrimonial.
Mina de Cobre do Prospecção e Salvamento arqueológicos;
Vale Museu Goeldi
Sossego- PA Educação Patrimonial.
Mina de Bauxita de Prospecção e Salvamento arqueológicos;
MRN Museu Goeldi
Porto Trombetas- PA Educação Patrimonial.
Minas de ferro de
Carajás (serras Norte e Prospecção e Salvamento arqueológicos. Vale Scientia
Sul) - PA
Mina de Níquel do
Prospecção e Salvamento arqueológicos. Vale Scientia
Vermelho- PA
Mina de Níquel Onça Prospecção e Salvamento arqueológicos;
Vale Scientia
Puma- PA Educação Patrimonial.
Mina de Manganês do
Prospecção e Salvamento arqueológicos. Vale Scientia
Azul- PA
Mina de Bauxita de Prospecção e Salvamento arqueológicos;
Alcoa Scientia
Juruti - PA Educação Patrimonial.
Mina de Ouro de
Salvamento arqueológico. MMX UNIFAP
Amapari - AP
Fontes: MPEG (www.museu-goeldi.br) / Scientia / UNIFAP (www2.unifap.br/).

7. Exploração madeireira
Segundo Barros e Veríssimo (2002), a explosão da atividade madeireira na Amazônia
teve início com a vinda de madeireiros de outras partes do Brasil, em busca da nova
fronteira madeireira. Essa migração ocorreu devido à abertura das estradas na região pela
iniciativa governamental, a partir da década de 60 do século XX, e à exaustão dos recursos
madeireiros das regiões Sul e Sudeste do País.
O Pará concentra a maior atividade madeireira da região amazônica. Segundo os
autores, em 1996 já havia mais de duas mil serrarias produzindo mais da metade da
madeira em tora do Brasil. O maior pólo madeireiro do Brasil se localiza no município de
Paragominas. O ambiente mais explorado pelos madeireiros é a terra firme, com impactos
indiretos importantes, como a tendência das estradas madeireiras de servirem como vias de
acesso para os migrantes sem terra e para os pecuaristas.
Ao lado da mineração industrial e da agropecuária, a exploração e o processamento
industrial de madeira estão entre as principais atividades econômicas da Amazônia
(segunda maior produtora de madeira tropical do mundo, atrás apenas da Indonésia).
Apenas em 2004, o setor madeireiro extraiu 24,5 milhões de metros cúbicos de madeira em
tora, o equivalente a cerca de 6,2 milhões de árvores, processados em 82 pólos madeireiros
situados principalmente no Pará, Mato Grosso e Rondônia (figura 13).

19
Lentini et al. (2005) comentam que a industrialização de madeira ocorre ao longo dos
principais eixos de transporte da Amazônia, como se pode observar na figura 19.
Nepstadt et al. (1999) alertam para um outro grande problema, associado à
exploração madeireira: o que os autores denominam de “desmatamento oculto”. “Além do
desmatamento propriamente dito (“corte raso” da floresta), registrado pelas imagens de
satélite, o incêndio florestal e a exploração madeireira representam formas de
“desmatamento oculto” que deixam várias árvores ainda em pé e são, portanto, mais
difíceis de detectar” (Nepstad et al., 1999).
Comentam esses últimos autores que a extração de árvores torna a mata mais
suscetível ao fogo. As aberturas de clareiras provocadas pela queda das árvores e por
tratores permitem a penetração de radiação solar no interior da floresta, aumentando a
inflamabilidade da vegetação. Além disso, o empobrecimento “oculto”, resultante da
exploração madeireira, também provoca indiretamente o corte raso das florestas nas
regiões de fronteira, uma vez que grande parte das estradas clandestinas, construídas para a
extração e o escoamento da madeira no coração da floresta Amazônica, tornam-se novos
eixos de colonização espontânea.
Alencar et al. (2004) concordam com a afirmação dos autores, reafirmando que, na
Amazônia, a relação entre o desmatamento (corte raso), a exploração madeireira e o
incêndio florestal é íntima e deve ser considerada em qualquer ação de controle e
ordenamento da fronteira na região.
Lentini et al. (2005) fazem uma análise comparativa dos dados da exploração
madeireira na Amazônia entre os anos de 1998 e 2004, que mostrando que, neste intervalo
de tempo, houve uma queda no consumo de matéria-prima em tora de 28,3 milhões de
metros cúbicos para 24,5 milhões de metros cúbicos. Eles associam esta queda ao
acirramento da fiscalização por parte do IBAMA contra a exploração ilegal e à melhoria no
rendimento industrial, com o aumento da eficiência na conversão de toras brutas em
madeira processada.
No que concerne ao patrimônio arqueológico, no entanto, as ações governamentais
no sentido de combate à ilegalidade não se têm refletido em medidas de proteção aos bens
arqueológicos da ampla área de exploração madeireira.
Segundo Higuchi (2000), a Amazônia já acumulou uma área desmatada de mais de
50 milhões de hectares (figura 15). Menos conhecidos que os impactos ambientais, os
impactos sociais e culturais são, porém, segundo o autor, igualmente importantes. E entre
os aspectos afetados por esses impactos, lembramos nós, se encontra o rico patrimônio

20
arqueológico amazônico, que precisa ser considerado em qualquer política governamental
voltada a uma prática menos depredadora de exploração madeireira.

8. Atividade agropecuária
A pesquisa agropecuária foi iniciada na Amazônia há 69 anos, com a criação do
Instituto Agronômico do Norte. No entanto, a real expansão das atividades agropecuárias
na região ocorreu a partir dos anos 70 do século XX, com os incentivos fiscais
governamentais para os grandes projetos agropecuários.
Atualmente, tanto a agricultura quanto a pecuária ocupam uma grande extensão na
região amazônica, com expectativa de crescimento futuro expressivo para ambas as
atividades, o que, além de levar à aceleração da degradação ambiental nas áreas já
ocupadas, levará esta degradação para novas áreas.
Dentre os instrumentos de desmatamento empregados pelos proprietários rurais, o
mais comum é o fogo, amplamente usado para limpar o terreno e prepará-lo para as
atividades agropecuárias e para controle do desenvolvimento de plantas invasoras.
Nepstad et al. (1999) apontam três tipos principais de queimadas na Amazônia: a) as
“queimadas para desmatamento”, intencionais e associadas à derrubada e à queima da
floresta; b) os “incêndios florestais rasteiros”, provenientes de queimadas que escapam ao
controle e invadem florestas primárias ou previamente exploradas para madeira; c) as
"queimadas e os incêndios em áreas já desmatadas", resultantes do fogo intencional ou
acidental em pastagens, lavouras e capoeiras.
Uma vez desmatadas, as áreas são transformadas em pastagens, com a conseqüente
degradação do solo pelo plantio das gramíneas e pelo pisoteio constante do gado,
desestruturando as camadas superficiais dos sítios arqueológicos e em áreas agrícolas, em
geral plantadas com maquinário pesado, desestruturando profundamente espessas camadas
arqueológicas.
8.1. Pecuária
A causa principal do desmatamento é a pecuária extensiva e de baixa produtividade.
A conversão de florestas em pastagens nas fazendas de tamanhos médio e grande é a forma
de desmatamento mais comum na Amazônia Brasileira (Margulis, 2003; Mertens et al,
2002) e, muitas vezes, a menos produtiva. A redução do desmatamento para o
estabelecimento de pastagens de baixa produtividade, geralmente motivada pela posse e
especulação com a terra, talvez seja, segundo os autores, o alvo mais importante de uma
política para evitar o desmatamento “ilegal ou inapropriado”.

21
Segundo Alencar et al. (2004), entre 1990 e 2003, o rebanho bovino da Amazônia
brasileira cresceu 140%, passando de 26,6 milhões para 64 milhões de cabeças. A
conversão da floresta em pastagens tem sido a principal causa do desmatamento e uma das
principais formas de “desmatamento ilegal”, especialmente quando utilizado de forma
especulativa. Estima-se que a criação extensiva de gado, especialmente em grandes
propriedades, seja responsável por aproximadamente 75% das florestas desmatadas na
região. E a pecuária de corte tende a crescer na Amazônia (figura 16), devido à adoção de
procedimentos, como o controle da aftosa, que possibilitam a exportação de carne da
região, aumentando o desmatamento e fazendo aflorar sítios arqueológicos, de maneira
descontrolada.
8.2. Agricultura
Barcellos e Lima (2007) dizem que a agricultura na Amazônia pode, a grosso modo,
ser dividida em dois segmentos: a agricultura familiar ou de subsistência e a agricultura
empresarial. Esta última vem sendo beneficiada com incentivos públicos e inovações
tecnológicas baseadas em capital privado. A agricultura familiar é a atividade que vem
sendo desenvolvida na região por pequenos produtores, estimando-se que, hoje, cerca de
650 mil famílias utilizem em média 2 hectares por ano (IBGE, 1996). Para aumentar a área
arável, ambas praticam a derrubada e queima da vegetação.
Para Alencar et al. (2004), a agricultura itinerante, na região amazônica, permanece
ainda como um dos sistemas de uso da terra mais importante, tanto sob o ponto de vista
econômico - responsável por pelo menos, 80% da produção de alimento total da região -
como também pela quantidade de pessoas que dela dependem direta ou indiretamente. É
um sistema tradicional de agricultura desenvolvida e praticada em quase toda a região por,
pelo menos, 600 mil pequenos agricultores, produzindo principalmente, feijão, mandioca,
arroz, milho, malva, juta, frutas, algodão entre outros produtos.
Grandes áreas de florestas na Amazônia têm sido desmatadas para a prática da
agricultura migratória. Estudos realizados pela Embrapa na Amazônia Oriental
demonstram que, apesar das pequenas áreas individuais usadas na prática desta atividade
(entre 10 e 50 ha), os 600 mil produtores, cultivando em média 2 ha por dois anos
consecutivos, e deixando esses 2 ha em pousio por cerca de 10 anos, provavelmente
tenham provocado no mínimo o desmatamento de 1/5 do total desmatado na Amazônia,
num processo que pode ser chamado de "desmatamento silencioso".
Apesar da sua importância na economia regional, a expansão da agricultura familiar
tende a declinar, com a diminuição da expansão da fronteira agrícola, devido às restrições

22
aos desmatamentos, ao processo de consolidação dos pólos de desenvolvimento e à
elevação de preços da terra, esta última decorrente do aumento da densidade demográfica e
do conseqüente aumento de demanda por alimento. Segundo os autores, nessas
circunstâncias, os longos períodos de pousio - a condição necessária para a manutenção da
sustentabilidade agronômica do sistema - já não serão mais tão estáveis como antes e, a
longo prazo, a agricultura migratória será substituída por sistemas de uso da terra mais
intensivos.
Alencar et al. (2004) ressaltam, ainda, que a recente expansão do plantio mecanizado
de grãos na região amazônica está assumindo uma posição de destaque na dinâmica do
desmatamento. De 2001 para 2003, a área agrícola de soja no Estado de Mato Grosso
aumentou em cerca de 11.000 km², a maioria em áreas de cerrado, ameaçando esse
ecossistema reconhecidamente rico em biodiversidade. Em áreas de floresta amazônica, o
plantio de soja tem se concentrado em áreas de pastagens. O que poderia ser visto com
uma menor expansão de áreas impactadas acaba não ocorrendo, uma vez que a ocupação
de áreas de pastagens está deslocando a pecuária para novas áreas de floresta, o que
representa um estímulo indireto ao desmatamento.
No que concerne ao patrimônio arqueológico ameaçado nas áreas ocupadas pela
agricultura, vale, aqui, o que consta no item 14 da Carta de Santos, redigida ao final do II
Encontro Nacional do Ministério Público na Defesa do Patrimônio Cultural, ocorrido em
Santos, nos dias 23 a 25 de setembro de 2004: “14 - Há necessidade urgente de adoção de
medidas para a proteção do patrimônio arqueológico que vem sendo devastado por obras
ou atividades não sujeitas ao licenciamento ambiental, inclusive de natureza agrária ou
urbana”.

9. Considerações finais
9.1. O futuro do patrimônio arqueológico amazônico
Da análise de todos os fatores de degradação do patrimônio arqueológico amazônico
acima sumarizados, fica claro que, uma vez tomado o desmatamento como indicador, os
mais graves, em termos de quantidade (já que a qualidade é incomensurável, devido à
riqueza científica da arqueologia amazônica, que não cansa de nos surpreender), são os que
promovem o desmatamento em maior escala: as atividades agropecuárias, justamente uma
das atividades para as quais o controle através do licenciamento ambiental tem sido falho.
A respeito, Fearnside (2005) comenta que a floresta amazônica brasileira permaneceu
completamente intacta até o início da era “moderna” do desmatamento, com a inauguração

23
da rodovia Transamazônica, em 1970. Os índices de desmatamento na Amazônia vêm
aumentando desde então, num ritmo variável, mas rápido, por inúmeras razões, mas
predominantemente pela criação de gado, responsável por cerca de 70% das atividades de
desmatamento.
Barcelos e Lima (2002) reafirmam essa conclusão, mencionado que o
desflorestamento da região amazônica tem sido causado basicamente pelas atividades
agropecuárias, as quais possuem a expectativa de crescimento futuro, o que trará uma
pressão maior nas áreas ainda não incorporadas. Observam eles que não existe uma
correlação direta das áreas de mineração com as áreas mais afetadas pelo desflorestamento,
reafirmando que os impactos ambientais e o desflorestamento relacionados à mineração
são geograficamente concentrados e atingem a área próxima à atividade de extração
mineral. Efeitos existem, mas, segundo eles, não podem ser considerados diretos e sim
indiretos, uma vez que a implantação de um pólo minerador pode propiciar um
crescimento populacional na região, que necessitará de novas áreas para o cultivo. “É
nesse processo de incorporação de novas áreas que irão se efetivar os impactos indiretos,
que são bem mais difíceis de serem analisados e que devem ser objeto de novos e futuros
estudos” (Barcelos e Lima, 2002: 65).
A existência de atividades não submetidas ao licenciamento ambiental e de controle
governamental difícil, por ocorrerem à margem da legalidade, num território muito amplo
e com acessos complicados, também estão entre aquelas que degradam de “modo
escondido”, afetando o patrimônio arqueológico de forma constante e contínua.
Nesse sentido, a melhor situação que se apresenta para o patrimônio arqueológico
amazônico ainda é a da legalidade: os projetos que passam por licenciamento ambiental
são aqueles onde o controle das interferências sobre os bens arqueológicos se faz possível.
Devido aos problemas que assolam o ambiente amazônico (no qual estão inseridos os
bens arqueológicos), Alencar et al. (2004) fazem as seguintes propostas (aqui endossadas)
para diminuir a degradação do ecossistema amazônico (e, consequentemente, do
patrimônio arqueológico):
a) Instrumentos de Ordenamento da Paisagem: o Zoneamento Econômico-
Ecológico (ZEE), que representa uma política de ordenamento territorial; o Código
Florestal, que possui categorias jurídicas que limitam o uso dos recursos naturais; e a
Lei de Recursos Hídricos, que cria mecanismos para o ordenamento a partir das bacias
hidrográficas.

24
O Zoneamento Econômico-Ecológico (ZEE), cujo objetivo é definir a distribuição
espacial de uso da terra na Amazônia, busca a “racionalização” da expansão da fronteira,
procurando maximizar os benefícios dessa expansão para a sociedade como um todo e
defender os recursos naturais da região (Mahar, 2002; apud Alencar et al., 2004). Este
instrumento é defendido também por Lentini, Veríssimo e Pereira (2005) para conter o
caráter migratório da exploração madeireira. Em 1992, durante o SIMDAMAZÔNIA 9, já
defendíamos a participação de arqueólogos e etnohistoriadores no Zoneamento Ecológico e
Econômico da Amazônia (Caldarelli, 1992).
b) Licenciamento de atividades de modificação da cobertura vegetal -nessa
categoria, os autores (Alencar et al., 2004) incluem o licenciamento de três tipos de
atividades que afetam a cobertura vegetal e o uso do solo: desmatamento, uso do fogo e
extração madeireira. Esses instrumentos constituem-se nos principais mecanismos
legais para controlar o ritmo da conversão da floresta e o impacto ambiental dessas
atividades (incluindo, aqui, o impacto sobre os bens arqueológicos).
3) Sistemas de monitoramente e fiscalização - segundo os autores, a principal
limitação no ordenamento da ocupação da Amazônia e da exploração de seus recursos
naturais é a capacidade institucional de fiscalização da legislação ambiental vigente. O
sistema brasileiro de monitoramento do desmatamento, das queimadas e dos incêndios
florestais, bem como da exploração madeireira é o mais sofisticado do mundo e está
sendo aprimorado ainda mais (Asner et al., no prelo, apud Alencar et al., 2004).
Devem, portanto, ser pensados mecanismos para seu uso também para o controle e a
fiscalização da degradação do patrimônio arqueológico.
Fearnside (2005) cita, como estratégias para desacelerar o desmatamento, a repressão
através de procedimentos de licenciamento, monitoramento e multas.
A gravidade da situação pode ser avaliada por vários aspectos, dos quais salientamos
dois:
1º) as demandas existentes atualmente sobre a região amazônica, consolidadas por
Ferreira e Salati (2005) na figura 23, que exigem que medidas como as acima mencionadas
sejam efetivamente colocadas em prática.
2º) as expectativas para a devastação do meio ambiente amazônico, a partir de
cenários simulados pelo Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de

9
Simpósio para o Desenvolvimento da Amazônia, preparatório à CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO 92), promovido pelo MPEG/CNPq, com apoio da ONU / Ministério das
Relações Exteriores do Brasil e do Governo do Estado do Pará/SECTAM-Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio
Ambiente,
25
Minas gerais (CSR/UFMG) para o ano de 2050. O cenário otimista considera políticas
públicas de maior controle da devastação; o cenário pessimista as mesmas condições
Gostaríamos, aqui, de propor também uma ação positiva de incentivo às empresas
sérias que investem na Amazônia, de modo a não ficar apenas nas ações punitivas ou
repressivas, a saber: a criação de um selo de “Responsabilidade Patrimonial” ou de
“Responsabilidade Cultural”, a ser concedido aos empreendedores que tomarem atitudes
exemplares em relação ao patrimônio arqueológico.
Os certificados de qualidade têm sido, no mundo globalizado, um importante meio de
qualificação de empresas para reconhecimento ambiental e social e, nesse sentido,
reforçando seu acesso aos financiamentos internacionais.
Finalmente, gostaríamos de finalizar com as sábias palavras de Ferreira e Salati
(2005):
“Nesse sentido, fica aqui colocado o questionamento que deve estar presente em
qualquer fórum de discussão e em todo pesquisador e tomador de decisão que se dedique
ao estudo da Amazônia: qual é a concepção de desenvolvimento que desejamos e
propomos para a Amazônia e qual a estratégia produtiva, de conservação e de melhoria
de qualidade de vida que, integradas, tornam sustentável esse patrimônio nacional?”.
Aplicando-as a este importante Seminário Internacional, que visa contribuir para o
estabelecimento de políticas e práticas eficientes de Gestão do Patrimônio Arqueológico
Pan-Amazônico, pergunto, para reflexão conjunta: que passado desejamos que se conserve
no futuro da Amazônia? Que estratégias de preservação e de estudo desejamos
implementar para incorporar este rico patrimônio arqueológico, testemunho de um passado
extremamente complexo e ainda nebuloso, à Memória Nacional?

26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VIANA, S. A. (Org.). Pré-história no Vale do Rio Manso. Goiânia: Universidade Católica de
Goiás, 2006.

28
FIGURAS

Figura 1 – Extensão do desmatamento na Amazônia Legal Brasileira, em 2005 (no destaque, o “arco
do desmatamento”. Fonte: http://static.hsw.com.br/gif/amazonia-desmatamento.gif

1200 1.123
1.096

1050 966
932
870
900
756
724
750
639
603
600
498

450
323
300 230
145
150

0
AGO/2007 SET OUT NOV DEZ JAN/2008 FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO/2008

Figura 2 – Evolução do desmatamento na Amazônia (ago/2007 a jul/2008).


Fonte: INPE-Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

29
Figura 3 – Eixos de povoamento da Amazônia brasileira, do século XVI ao XXI.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100003#fig8; acesso em
outubro/2008.

Figura 4 – Crescimento demográfico da região amazônica, entre 1.808 e 2.000.


Fonte: Ferreira e Salati, 2005.

Figura 5 – Proporção do desmatamento em função da distância das estradas na Amazônia Legal.


Fonte: Ferreira, 2001.

30
4% 3% 2% 2%
4% Hidro
8% Importação
Gás natural
Biomassa
Derivados de petróleo
Nuclear
77% Carvão

Figura 6 – Matriz Energética Brasileira em 2005.


Fonte: Ministério de Minas e Energia, 2006.

Figura 7 – Distribuição espacial das principais jazidas minerais da Amazônia.


Fonte: www.estadao.com.br/amazonia/inf_mapa.htm?mclip=mp_min.

Figura 8 – Principais ocorrências de ouro na Amazônia Legal brasileira.


Fonte: www.amazoniabrasil.org.br/base/grandesTemasGarimpoMineracao.asp (acesso em
novembro/2007).

31
Figura 9 – Situação atual do Garimpo de Serra Pelada.
http://gruppen.greenpeace.de/aachen/wald-fotos-goldmine.jpg

Figura 10 – Situação do Garimpo do Juma, AM, após poucos meses de exploração.


Foto: José Luís da Conceição/AE. (http://www.estadao.com.br/amazonia/destruicao_chaga_dourada.htm;
25/11/2007)

32
Figura 11 – Mineração e Desflorestamento na Amazônia.
Fonte: Barcellos e Lima, 2007.

Figura 12 – Exploração de minério de ferro em Carajás, PA.


Fonte: www.vale.com/saladeimprensa/_bancoimagens/81.jpg

Outros
7% Pará
Rondônia
45%
15%

Mato Grosso
33%

Figura 13 – Distribuição percentual, por Estado, da exploração de madeira na


Amazônia Legal brasileira, em 2004. Fonte: Lentini et al., 2005.

33
Figura 14 – Eixos de transporte e de produção de madeira na Amazônia.
Fonte: Lentini, Veríssimo e Pereira, 2005.

Figura 15 – Áreas deexploração madeireira na Amazônia Legal Brasileira.


Fonte: IBGE (2000) e Garrido Filha (2002).

34
70,0

60,0 Acre
Amapá
50,0
Amazonas
Maranhão
40,0
Mato Grosso
30,0
Pará
Rondônia
20,0 Roraima
Tocantins
10,0 Total Amazônia

0,0
1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003

Figura 16 – Evolução do rebanho bovino nos estados da Amazônia Legal brasileira (em milhões de
cabeças), entre 1991 e 2003. Fonte: Barreto et al., 2005.

Figura 17 – Demandas atuais sobre a Amazônia, em escala nacional e local.


Fonte: Ferreira e Salati, 2005.

35
Figura 18 – Cenários da devastação da Amazônia, na atualidade e nos anos de 2050 (cenários otimista
e pessimista).
Fonte: www.estadao.com.br/amazonia/inf_mapa.htm?mclip=mp_min, a partir de dados fornecidos pelo
Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (CSR/UFMG).

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