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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DOS MATERIAIS

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA – IME

Disciplina: CM: 255600 - Materiais Compósitos Reforçados com Fibras Naturais – 1/P - 2019
Prof. Maj. Lucio Fabio Cassiano Nascimento

Aluno: Clarissa Dias de Sousa Data: 08/04/2019

1. Modificações da superficie das Fibras naturais Lignocelulósicas (FNLs):


Os componentes das fibras naturais, principalmente a celulose, possuem um caráter hidrofílico
resultando numa incompatibilidade com a matriz (hidrofóbicas), tal incompatibilidade gera uma fraca
interface fibra /matriz, baixa resistência a absorção de umidade reduzindo assim o potencial das fibras
como reforço [1].
Desta forma, se torna necessário tratamentos físicos e/ou químicos para melhorar o desempenho
dos compósitos. Nos tratamentos físicos a composição química das fibras não é alterada, atuam na
superficie das fibras resultando em mudanças apenas nas propriedades estruturais e superficiais,
tratamentos como descarga elétrica (corona, plasma), tratamento térmico e produção de tecidos tramados
de fibras têm sido muito usado como tratamentos fisicos para compósitos [2].
Os tratamentos químicos atuam na superfície das fibras e também causam modificações
quimicas,nesse processo temos a introdução de um agente reativo que atua eliminando camadas
superficiais fracas, e desenvolvendo uma região altamente reticulada que interagirá com a matriz
polimérica, promovendo uma maior molhabilidade, formando ligações covalentes e alterando a acidez
da superfície das fibras. Diversos tratamentos são descritos como quimicos tais como tratamento
alcalino, tratamento com isocianeto, acetilação, mercerização etc [2].
Os ciclos de molhagem e secagem dos tratamento produzem um fenômeno chamado de
hornificação, onde ocorre a redução do volume interno das paredes devido ao fechamento parcial dos
poros e lúmen, são as alterações irreversíveis que ocorre nas fibras aumentando a resistência à absorção
de água (figura 1). A cada ciclo a fibra continua a entrar em colapso,embora o efeito seja mais
significativo nos primeiros ciclos, as mesmas perdem a capacidade de absorção de água e se tornam mais
rígidas e menos conformáveis [3]

Figura 1 –Mudanças ocorridas no ciclo de secagem e molhagem das fibras [3]


Os tratamento mais utilizados devido ao seu cuto e simples aplicação são a mercerização
alcalinação e acetilação, os mesmos promovem a remoção parcial da lignina, ceras e óleos na superfície
das fibras, proporcionando aumento da rugosidade na superfície e melhorando a aderência mecânica
entre fibra/matriz, o desempenho à tração e resistência térmica. Tratamentos com ionização de gases,
descargas elétricas por corona e plasma a frio são mais utilizados para mudança das propriedades
estruturais e superficiais das fibras em temperaturas mais baixas, evitando assim a decomposição e perda
de massa da fibra. [1-2]. Portanto vale retificar, que os tratamentos tantos químico como físicos
influenciam em propriedades mecânicas como adesão, molhabilidade, hidrofobicidade e hidrofilicidade
[1-4].
A adesão pode ser conceituada como a propriedade da matéria pela qual se unem duas superfícies
de substâncias iguais ou diferentes quando entram em contacto, e se mantém juntas por forças
intermoleculares. Compósitos com fibra requerem uma adesão moderada, a alta adesão confia boa
resistência mecânica porém o material se torna frágil, por outro lado, uma baixa adesão resulta em baixa
resistência e aumento na fratura por dissipação durante o processo de deslocamento da fibra [4].
Outra propriedade importante a resaltar é a molhabilidade que consiste no resultado das forças de
adesão do líquido sobre a superficie sólida, possibilitando o líquido um maior ou menor espalhamento,
quando depositada na superfície, resultando num ângulo de contato que diminui quando a molhabilidade
aumenta (figura 2) [5].

Figura 2 – Comportamento da molhabilidade atraves de medidas de angulo de contato [5-6].


A polaridade das susbstâncias é um outro fator que influência na hidrofobicidade e
hidrofilicidade das substâncias. As substâncias hidrofóbica são aquela cuja superfície é essencialmente
não-polar, tendo maior afinidade com o ar que com a água por exemplo. Por outro lado, substância
hidrofílica é aquela cuja superfície é polar, indicando maior afinidade com a água [6].
Segundo Santos (2013), fibras de cânhamo tratadas por meio da acetilação e alcalinização, após
o tratamento apresentaram remoção de impurezas e lignina, levando a um aumento das propriedades
resistência mecânicas das fibras. O mesmo também relata que as fibras de madeira (Cordia goeldiana)
tratadas com NaOH a 5% (2 e 0,5 horas) resultou em remoção de alguns extratos, hemicelulose e notável
remoção de lignina, melhorando a adesão e algumas propriedades mecânicas das fibras [7].
As fibras de cana de açúcar modificadas quimicamente por mercerização com hidróxido de sódio
e em seguida acetilado, segundo Paula (2011), apresentaram aumento na compatibilidade entre a matriz
e reforço. A mesma fibra também foi tratada com uma solução alcalina verificando o comportamento
térmico, constatando que o tratamento com solução alcalina de NaOH modificou a temperatura de
degradação das fibras, e que a estabilidade térmica das fibras tratadas aumentou cerca de 5,5%
comparada às fibras In natura [1].
SANTOS (2015) submeteu as fibras de sisal, na forma de fios, à diferentes ciclos de molhagem e
secagem, As fibras tratadas com 6 ciclos mostraram um fechamento parcial dos lúmens, enquanto as que
passaram por 10 e 20 ciclos continuaram a ter seus lúmens fechados, embora apresente inicio de
desfibrilamento. As fibras com 30 ciclos apresentaram fechamento completo dos lúmens e um aumento
na espessura das paredes. O tratamento de acetilação realizados por Lopes (2010) nas fibras de sisal,
promoveu redução da hidrofilicidade nas fibras, apresentando reduções mais acentuadas na resistência
mecânica, principalmente quanto à força e alongamento máximos suportados até a ruptura,
demonstrando enrijecimento na estrutura das fibras [8].
O tratamento alcalino em fibras de bananeira levou a um melhor desempenho dos compósitos em
relação as fibras não tratadas. Nas fibras de bananeira tratadas com NaOH ocorreu uma redução na
absorção de umidade e um aumento na resistência à tração do compósito em relação as não tratadas [2].
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] DE PAULA, PAULA GOMES. Formulação e caracterização de compósitos com fibras
vegetais e matriz termoplástica.2011 . Universidade Estadual do Norte Fluminense.
[2] MERLINI, Claudia et al. Análise experimental de compósitos de poliuretano derivado de óleo
de mamona e fibras de bananeira. 2012.
[3] Santos.M.R. Efeito do tratamento com ciclos de molhagem e secagem na composição química
das fibras vegetais de sisal e juta com perspectiva para utilização como reforço em compósitos
cimentícios. 2015. Dissertação de Mestrado. Universidade federal do rio de janeiro.
[4] Teklal, Fatiha et al. A review of analytical models to describe pull-out behavior–Fiber/matrix
adhesion. Composite Structures, 2018.
[5] NASCIMENTO, André Ezequiel Gomes do. Estudo da molhabilidade de superfícies de
parafina e aço inoxidável por soluções de tensoativos não iônicos. 2015.
[6] RAMANATHAN, Rajajeyaganthan. Modificação da superfície de materiais para super-
hidrofobicidade e hidrofilicidade. 2012.
[7] SANTOS, R. J. Aderência fibra-matriz e comportamento mecânico de compósitos reforçados
com resíduos de sisal. 2013. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Feira de Santana.
[8] LOPES, Fernanda FM et al. Estudo dos efeitos da acetilação em fibras de sisal. Revista
Brasileira de Engenharia Agricola e Ambiental-Agriambi, v. 14, n. 7, 2010

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