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Fundamentos das propriedades ópticas aplicados na prática odontológica

Article · January 2013

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Vinícius Salgado

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Salgado VE; Cavalcante LMA; Schneider LFJ

Autor para correspondência:


Luis Felipe Jochims Schneider
Av. Jornalista Alberto Francisco
Torres 419/201
Icaraí - Niterói/RJ - Brasil
24230-007
felipefop@gmail.com

368 Revista APCD de Estética 2013;01(4):368-77


Revisão de Literatura

Fundamentos das propriedades


ópticas aplicados na prática
odontológica
Fundamentals of optical properties applied to clinical dentistry

Vinícius Esteves Salgadoa  •  Larissa Maria Assad Cavalcanteb  •  Luis Felipe Jochims Schneiderc

RESUMO Os requisitos para se alcançar uma


aparência natural nas restaurações
ABSTRACT The present article aimed to de-
velop a literature review about the
dentárias incluem um dos maiores desafios na prática res- optical phenomena related to dental elements, such as
tauradora devido à complexidade da estrutura e caracte- color, translucency, opalescence, fluorescence, gloss and
rísticas ópticas da dentição natural. O presente artigo teve texture, as well as those factores that might interfere in
como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre os color selection in the clinical practice. Color selection was
fenômenos ópticos que envolvem os elementos dentários improved with the development of color scales and spe-
como cor, translucidez, opalescência, fluorescência, brilho cific measurement instruments. However, there still exist
e textura, assim como os fatores que interferem na sele- limitations that can impair the aesthetic performance of
ção de cor na prática clínica. A seleção da cor foi aprimo- dental restorations. The combination of methods can re-
rada com o desenvolvimento de novas escalas de cor e sult in more precise color matching.
instrumentos específicos de mensuração. Entretanto, ainda Clinical relevance: Several factors can influence color se-
existem limitações que podem prejudicar o desempenho lection. The knowledge of how the optical properties are de-
estético das restaurações. Uma combinação dos métodos tected by the human vision system can help color selection
pode resultar em uma seleção de cor mais precisa. and optimize the clinical practice.
Relevância clínica: Diversos fatores podem influenciar a se-
leção da cor. O conhecimento de como as propriedades óp- Descriptors: Dental anatomy, optical properties, colori-
ticas são percebidas pelo sistema de visão humano pode metry, dental materials.
auxiliar a seleção da cor e otimizar a prática restauradora.

Descritores: Anatomia dental, propriedades ópticas, co-


lorimetria, materiais dentários.

A - Especialista em Dentística pela Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Mestre em Odontologia pela Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ;
Doutorando em Odontologia pela Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS
B - Mestre em Clínica Odontológica pela Universidade Estadual de Campinas, Piracicaba, SP, Doutora em Clínica Odontológica pela Universidade Estadual
de Campinas, Piracicaba, SP, Pós-Doutorado na área de Biomateriais pela Universidade de Manchester, Inglaterra, Professora Adjunta da Universidade
Federal Fluminense, Niterói, RJ, Professora da Universidade Salgado de Oliveira, Niterói, RJ
C - Mestre em Materiais Dentários pela Universidade Estadual de Campinas, Piracicaba, SP; Doutor em Materiais Dentários pela Universidade Estadual de
Campinas, Piracicaba, SP; Pós-Doutorado na área de Biomateriais pela Universidade de Manchester, Inglaterra; Professor Adjunto da Universidade
Federal Fluminense, Niterói, RJ; Vice-coordenador do Mestrado Profissional em Odontologia da Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, RJ

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Salgado VE; Cavalcante LMA; Schneider LFJ

INTRODUÇÃO tre 360 e 780nm.4 Quando a luz atinge um objeto, uma


Realizar uma restauração de aspecto natural é um gama de interações acontece como reflexão, refração,
dos maiores desafios na odontologia restauradora. A re- absorção, espalhamento, e/ou transmissão. Uma parte
produção das características ópticas e da forma anatô- da luz sempre é refletida pela superfície, no contato entre
mica apropriada é uma tarefa difícil de ser alcançada.1 objeto e o ar, por causa da mudança no índice de refra-
Para o sucesso, é importante que o clínico compreen- ção, que é a relação entre a velocidade da luz no vácuo
da as características do material e dos dentes a serem e a velocidade da luz no material. A luz que não é refleti-
restaurados. A aparência visual dos dentes e dos mate- da pela superfície, penetra no corpo e sofre outros tipos
riais restauradores é considerada um fenômeno comple- de interações com as moléculas do material. A maioria
xo, influenciado por vários fatores como a condição de dos objetos é colorida porque o processo de absorção é
iluminação, o espalhamento e a transmissão da luz, a maior em certos comprimentos de onda que em outros,
translucidez, a opalescência, a fluorescência, o brilho, a dependendo das propriedades das moléculas.5 Ou seja,
textura, o tamanho da restauração e a percepção da luz os comprimentos de onda que são refletidos compõem
pelo observador.1,2 a cor que é percebida. Em teoria, um objeto que reflete
A cor é uma sensação psicofísica que resulta da res- todas as cores deve ser percebido como branco assim
posta do sistema de visão humano à luz refletida pelos como o que absorve todas as cores, preto.
objetos. A cor dos dentes é determinada por uma combi-
nação de efeitos de coloração intrínsecos e extrínsecos. Cor
Enquanto os efeitos intrínsecos são associados com a A luz que é refletida pelas superfícies ou emitida por
interação da luz com os tecidos dentários, os quais so- uma fonte de luz, é captada pelo olho humano, onde é
frem diferentes comportamentos com o envelhecimento absorvida por pigmentos visuais nos fotorreceptores da
fisiológico, os efeitos extrínsecos são associados com retina. Os comprimentos de onda que atingem os olhos
a absorção, deposição sobre a superfície do esmalte e são recebidos pelas células sensoriais da retina, os co-
agregação à película adiquirida, de pigmentos prove- nes e bastonetes. Os cones percebem o matiz ou a cor
nientes de soluções corantes como café, chá, vinho, clo- propriamente dita. Os bastonetes percebem o valor, ou
rexidina, íons metálicos entre outros.3 seja, a intensidade dos raios que atingem a retina. São
Existem vários fatores que podem influenciar a se- os mais numerosos entre os dois fotorreceptores, supe-
leção da cor. Quando utilizadas técnicas de seleção rando os cones em uma proporção de 18 para 1, res-
convencional, existem variáveis que o cirurgião-dentista ponsáveis pela quantidade de preto e branco em uma
deve levar em consideração, como mudanças na ilumi- imagem, como ilustra a Figura 1. A percepção de cor
nação operatória, fadiga visual e efeitos de contraste, para os humanos é tridimensional, um fato que deriva da
que podem criar ilusões ópticas. Embora seja possível existência, na retina, de três diferentes classes de co-
uma adequada visualiação da cor em um consultório nes, que possuem fotopigmentos diferentes, que sofrem
odontológico devidamente equipado, uma compreensão uma transformação química quando um determinado
dos fatores que afetam potencialmente a percepção da comprimento de onda é absorvido, como ilustra a Figura
cor permite ao profissional compensá-los da maneira 2. Contudo, a percepção da cor é compreendida em um
necessária para obtenção de uma harmonia maior entre processo, que toma lugar no sistema nervoso, no lobo
dentes e materiais restauradores. O conhecimento base- occipital do córtex cerebral.6
ado em como as propriedades ópticas são percebidas Qualquer cor pode ser comunicada e reproduzida ba-
pelo sistema de visão humano irá auxiliar a seleção da seada na especificação de cor por meio da utilização de
cor na prática restauradora. Com base nisso, o presente números e letras.7 Um sistema de ordenação de cor é um
artigo tem por objetivo realizar uma revisão da literatura caminho sistemático de se organizar as cores em um es-
sobre os fenômenos ópticos e sobre os fatores que inter- paço de três dimensões. Pode ser considerado como um
ferem na seleção de cor na prática restauradora. método racional ou um plano de ordenar e especificar
todas as cores de um objeto com um domínio limitado,
Fenômenos ópticos por um conjunto de padronizações de materiais selecio-
A luz é uma forma de radiação eletromagnética, que nados e dispostos, sobre objeto em consideração. Eles
se encontra dentro do espectro ao qual o olho huma- foram desenvolvidos baseados em vários princípios. En-
no é sensível. Ondas de rádio e raios-X, assim como as tretanto, nenhum deles apresenta aceitação universal,
radiações ultravioleta e infravermelha são consideradas apesar de forte impacto de alguns na educação de cor e
formas de radiação eletromagnética, mas o sistema de aplicação industrial, como o sistema de Munsell, criado
visão humana é capaz de perceber somente uma faixa em 1905.8 Albert Munsell estabeleceu um sistema para
estreita do comprimento de onda, aproximadamente en- identificação precisa das diferentes cores. A chamada

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Revisão de Literatura

FIGURA 1 | Imagem em preto e branco ilustrando a composição visual realizada pelos bastonetes

FIGURA 2 | Mesma imagem da Figura 1, porém em cores, ilustrando a composição visual formada pelos bastonetes e cones

esfera (ou círculo ou mesmo roda) de cores inclui as di- Translucidez


mensões da cor: matiz, ou o tom propriamente dito da A translucidez é um fenômeno óptico que ocorre em
cor (exemplo: amarelo, azul), o valor (grau de escureci- um objeto que permite a passagem de luz em seu interior,
mento ou claridade da cor) e o croma, ou a saturação/ ocorrendo espalhamento da mesma pelo corpo do mate-
pureza da mesma. A essas dimensões pode ser adicio- rial e uma parte emergindo pelo outro lado. A translucidez
nado à translucidez, que não estava presente na análise pode ser descrita como um estado entre a opacidade total
de cor de Munsell, já que esse é o fator mais crítico em e a transparência completa.6
restaurações dentárias.8,9 Em casos de extensas restaurações em dentes an-

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teriores, como por exemplo, Classe III ou Classe IV, é opaca, que varia em espessura, contorno e extensão
frequentemente observado um aspecto acinzentado das proximal de dente para dente. Este efeito é conhecido
restaurações quando esta camada é comparada com o como halo opaco e ocorre porque o ângulo de incidência
tecido dentário remanescente. Isso ocorre quando com- luminosa nessa área é maior do que o ângulo limite do
pósitos odontológicos translúcidos são afetados pelo esmalte, devido à sua inclinação, e como consequência
fundo escuro presente na cavidade oral,9 como ilustram ocorre a reflexão total da energia luminosa. Quando os
as Figuras 3 e 4. Sendo assim, o domínio do grau de prismas possuem um arranjo específico, algumas vezes
translucidez e opacidade é fundamental para obtenção a luz azulada ainda é transmitida na borda, resultando
de estética em restaurações, já que são indicadoras da num aspecto alaranjado deste halo.16
qualidade e da quantidade de reflexão de luz.10,11 Para
tornar uma restauração imperceptível, são necessários Fluorescência
materiais com níveis apropriados de translucidez,12 como Algumas substâncias têm a capacidade de absor-
ilustra a Figura 5. ver energia de uma luz não vísivel (Ultravioleta) e emitir
comprimentos de onda de luz visível, ou seja, com maior
Opalescência comprimento de onda que a radiação incidente.3 Este fe-
O esmalte dentário permite a passagem de luz até a nômeno, conhecido como fluorescência, é observado no
dentina, mas proporciona a dispersão da luz por seus dente natural que, quando exposto à radiação ultraviole-
cristais de hidroxiapatita. Com isso, possui a capacidade ta, apresenta uma coloração que varia do branco ao azul
de funcionar como um filtro e refletir a luz em comprimen- intenso.7 A dentina possui uma capacidade fluorescente
tos de onda curtos, associados à cor azul, e transmitir três vezes maios do que à do esmalte devido à presença
os comprimentos de onda longos, associados à cor ala- de maior quantidade de moléculas orgânicas fotossensí-
ranjada. Este fenômeno é descrito como opalescência e veis aos raios ultravioletas.15
é baseado no comportamento da translucidez do dente Tanto a opalescência quanto a fluorescência são res-
natural. Apesar do esmalte dentário ser opalescente em ponsáveis pelo brilho intrínseco dos dentes naturais que
toda sua extensão, este efeito é mais evidente na região os cirurgiões-dentistas e ceramistas devem mimetizar
do terço incisal, onde há máxima espessura desse te- quando realizam as restaurações.7 Uma aparência mais
cido.13,14 Outro efeito, chamado de contra-opalescência natural é obtida através da translucidez apropriada. Ex-
ocorre quando as ondas longas, transmitidas após a re- cesso de opacidade pode resultar em uma restauração
fração inicial, incidem sobre a dentina e são refletidas artificial, assim como o excesso de translucidez, uma
de volta, conferindo ao esmalte uma coloração alaran- restauração escurecida ou acinzentada.6
jada. Esse fenômeno é freqüentemente observado nas
pontas dos mamelos dentinários, que são brancas e re- Brilho e textura
fletem esta luz alaranjada,15 conforme ilustra a Figura 6. Além dos fenômenos já discutidos, aspectos rela-
Também pode ser observado no limite incisal, uma linha cionados à superfície também influenciam a aparência

A B C D

FIGURA 3 (A, B, C e D) | Discos de resina composta com 1 mm de espessura posicionados sobre fundo cinza 18% e sobre fundos branco e preto, onde é observado os
diferentes níveis de opacidade e translucidez. A - IPS Empress Direct Enamel A2 (direita) e Dentin A2 (esquerda). B - Estelite Sigma Quick A2 (direita) e OPA2(esquerda).
C - IPS Empress Direct Enamel A2 (direita) e Estelite Sigma Quick A2 (esquerda). D - IPS Empress Direct Dentin A2 (direita) e Estelite Sigma Quick OPA2 (esquerda)

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Revisão de Literatura

visual dos objetos. O brilho se origina da distribuição A


geométrica da luz refletida por uma superfície17 e é di-
retamente influenciado pela rugosidade desta.18 Tem
sido relatado que o brilho seria capaz de afetar a cor e
a aparência estética de restaurações com compósitos
odontológicos.18,19 A qualidade da lisura de superfície
de uma restauração é um dos fatores importantes que
determinam o seu sucesso clínico, pois uma superfície
polida pode aumentar a longevidade e a estética por
reduzir o acúmulo de placa e permitir menor pigmenta-
ção.18 Já uma superfície rugosa é propensa ao acúmulo
de placa e pigmentos, que podem tornar uma diferença
de cor mais óbvia. Entretanto, o brilho é influenciado não
só pela rugosidade da superfície, mas por outros fatores
como, por exemplo, diferenças nos índices de refração B
da matriz resinosa e partículas de carga nos compósitos
resinosos. Além disso, o desgaste da superfície de uma
restauração, resultante de processos como abrasão,
atrição gerada pelo contato entre duas superfícies, fadi-
ga e corrosão, provoca mudanças no brilho.18
A textura de superfície nos dentes naturais influencia
enormemente a sua interação com a luz, onde o esmalte
cria uma dinâmica reflexão e dispersão luminosa que in-
terfere na expressão e na percepção da cor dental como
um todo, principalmente em relação ao valor, transluci-
dez e brilho, conforme ilustra a Figura 7. A macrotextura,
relacionada às depressões e elevações da superfície do
esmalte, é responsável pelas grandes áreas de reflexão
FIGURA 4 (A e B) | Discos de resina composta Estelite Sigma Quick A2, com
da luz. O impacto visual e a percepção das dimensões diferentes níveis de espessura, 1 mm (direita) e 2 mm (esquerda), demonstrando
de largura e comprimento provêm dessas grandes áreas que a espessura do material influencia a translucidez do material
de reflexão. Já a microtextura é relacionada às perique-
máceas, ou seja, sulcos de orientação horizontal resul-
tantes do processo de deposição dos cristais de hidro- e treinamento do clínico, da qualidade da escala de cor
xiapatita realizada pelos ameloblastos.20 Uma superfície utilizada, do método de avaliação e condições da sele-
de esmalte rica em periquemáceas também é responsá- ção. O desenvolvimento de materiais com propriedades
vel pela criação de áreas de reflexão luminosa, afetando físicas e ópticas aprimoradas aumenta a necessidade de
diretamente a aparência visual.15 métodos avançados para a seleção de cor por meio de
novas escalas de cor.
Seleção e comunicação de cor na odontologia As escalas de cor são úteis como guias visuais. Ape-
O protocolo da seleção de cor irá variar de acordo com sar de existir uma variedade de escalas disponíveis no
o tipo técnica restauradora a ser realizada. No entanto, a mercado, a maioria não é confeccionada com o mate-
observação e a identificação de todas as características e rial em questão, como resinas compostas e cerâmicas,
efeitos ópticos relevantes devem ser registradas e reprodu- o que facilita erros metaméricos na seleção de cor.7 O
zidas, independente do tipo de restauração. metamerismo é um fenômeno em que dois objetos com
diferentes propriedades espectrais parecem combinar
Método convencional em uma série de condições luminosas, mas não em ou-
O método convencional representa a abordagem tras. Em odontologia, essas diferenças são frequentes
mais corriqueira na seleção da cor. Envolve um alto grau entre os tecidos dentários e os materiais restauradores.
de subjetividade, o que pode levar à insucessos e re- Um guia de cores simplificado foi desenvolvido na
duzir a produtividade. É baseado na comparação visual década de 1960 (Vita Zahnfabrik, Alemanha), hoje cha-
entre dentes e outros objetos, como escalas de cor ou mada de “Vita Classical”. Com esta escala, ainda usada
incrementos de material, como ilustram as Figuras 8 e 9. nos dias atuais por muitos profissionais, o clínico tem 16
O valor do método convencional depende da educação opções de paletas que variam no matiz e croma, mas

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FIGURA 5 (A e B) | Restauração com resina composta nos elementos 11 e 21 com níveis apropriados de opacidade e translucidez

FIGURA 6 | Ilustração dos efeitos opalescente, contra-opalescente e halo opaco, FIGURA 7 | Ilustração sobre a interação da luz com a superfície dentária. Observe
no bordo incisal dos elementos 11 e 21 a textura e a distribuição do brilho

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Revisão de Literatura

nenhum método eficaz para diferenciar o valor. Em 1998 te tanto pelo clínico quanto pelo ceramista.26
foi inserida no mercado pelo mesmo fabricante, uma Entre os diversos fatores críticos para uma adequa-
escala de cor chamada Vita 3D-Master, que segmenta da seleção da cor, a distância de observação influencia
as dimensões da cor e possui uma sequencia lógica de na percepção visual. Deve-se primeiramente realizar a
avaliação iniciada pela seleção do valor, seguido pela observação à nível dental, com o posicionamento da
seleção do croma e a do matiz respectivamente.21 As es- paleta da escala de cor sobre o fundo da cavidade oral,
calas de cor Vita Cassical, Ivoclar Chromascop, Vita 3D- de forma espelhada ao do dente em questão. Um car-
-Master e Vita Linearguide 3D-Master são atualmente as tão cinza 18%, disponível em lojas de materiais fotográ-
escalas mais comuns e populares.22 ficos, ou afastador específico de cor cinza neutro, deve
Atualmente, as escalas de cor utilizam uma varie- ser utilizado como fundo para evitar a influência da cor
dade de métodos para quantificar a cor. Independente escura (Della Bona, 2009), conforme ilustra a Figura
do tipo da escala e organização das paletas de acordo 11. Em relação ao posicionamento, deve-se visualizar
com o matiz, valor e croma, o sistema de visão humano os dentes e paleta com pelo menos duas incidências. A
não consegue visualizar estes parâmetros isoladamen- primeira a 0 grau e a segunda em 45 graus ou difuso,7
te, mas sim as diferenças resultantes da união dessas como ilustrado na Figura 12. A posição mais comum
três dimensões de cor. Por exemplo, um aumento no cro- para a seleção da cor dentária é manter o paciente sen-
ma pode ser confundido com uma diminuição no valor. tado verticalmente para que a observação possa ser
Desse ponto de vista, a melhor abordagem é selecionar feita diretamente a nível dental. Se a iluminação está
a cor mais próxima da parte dentária em questão,23 ou vindo do teto, a sombra que vem do nariz não deve
o emprego de escalas que segmentam as dimensões interferir na área da seleção. As paletas de cor devem
como a escala Vita 3D-Master.6 ser posicionadas próximas ao dente a ser observado
A anatomia e polimorfismo dental influenciam dire- e alinhadas de modo que a luz possa ser refletida na
tamente as propriedades ópticas, aumentando a com- paleta de forma similar ao dente natural.23
plexidade da seleção da cor. Os elementos dentários A seleção de cor deve ser iniciada no início do proce-
apresentam transições coloridas das faces cervical para dimento, com o objetivo de evitar a fadiga visual. Além
incisal/oclusal, mesial para distal e vestibular para lin- disso, a desidratação dentária leva a um aumento do
gual.7 Essas transições se originam das diferenças nas valor. Os dentes tornam-se mais claros e precisam de
espessuras de esmalte e dentina, que além da cor, in- tempo para retornar à sua coloração normal. Caso ne-
fluenciam outras propriedades como translucidez e opa- cessário, os dentes devem ser limpos para remover a
lescência. Determinar uma cor para toda dimensão den- placa e pigmentos e mantidos úmidos durante a seleção
tária não é suficiente para um sucesso clínico. Deve ser de cor. A retina exibe uma adaptação se o objeto é vi-
observada cada terço dentário, cervial, médio e incisal. sualizado continuamente por um período maior que 15
O primeiro passo deve ser a determinação do nível de segundos, levando o observador a enxergar cores dife-
opacidade e translucidez. Em seguida, o valor de cada rentes quando olha para uma mesma região. Para evitar
terço. Após, a determinação do matiz e croma.24,25 este fato, períodos de observação por 5 segundos pro-
Para alcaçar bons resultados, a seleção de cor deve longados são recomendados.7 A visualização do cartão
ser feita sob luz natural ou com o auxílio de luz correti- cinza neutro para períodos de descanso é recomendada
va com temperatura entre 5.500K a 6.500K, e com uma entre uma tomada de cor e outra.
boa intensidade luminosa. Uma iluminação com 1000lux
é considerada ótima para avaliarmos visualmente a Método baseado na espectrofotometria
cor.26 Em muitos consultórios odontológicos são utiliza- A cor dentária pode ser mensurada também por ins-
das lâmpadas fluorescentes. É importante substituí-las trumentos específicos como espectofotômetros. Embora a
por lâmpadas fluorescentes corretivas, também conhe- mensuração instrumental forneca valores quantitativos da
cidas como “lâmpadas solares”. Dispositivos portáteis cor, eles variam de acordo com o método de medição em-
com emissão de luz ideal também podem ser aplicados, pregado, tipo e configuração do aparelho, superfície dental,
e reduzem a influência da iluminação inapropriada do condições do fundo.28 Os espectofotômetros devem ser utili-
ambiente, conforme ilustra a Figura 10. zados como complemento das escalas de cor atuais. Forne-
Em restaurações indiretas, na comunicação com os téc- cem informações precisas sobre a cor dental, sendo possí-
nicos de laboratório, fotografias de referência são neces- vel enviar os resultados para o ceramista, conforme ilustra a
sárias. É importante regular a temperatura do flash entre Figura 13. Alguns tipos de espectrofotômetros são: Easysha-
5.500K e 6.500K para evitarmos distorções.7 A comunica- de Compact (Vita Zahnfabrik, Alemanha); Shade-X (X-Rite,
ção de cor detalhada é essencial para um sucesso clínico. EUA); SpectroShade Micro (MHT Optic Research, Suíça).
Na seleção convencional, a escolha é realizada visualmen- Os espectrofotômetros estão entre os instrumentos de

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FIGURA 8 | Ilustração da comparação visual pelo método convencional utilizando uma escala de cor

FIGURA 9 | Ilustração da comparação visual pelo método convencional utilizando incrementos de material

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A A

B B

FIGURA 10 (A, B e C) | Ilustração do uso de lâmpada portátil FIGURA 11 (A e B) | Ilustração do uso de afastador na cor cinza 18% para utilização na seleção de
com emissão de luz ideal para seleção de cor cor. Observe a eliminação da influência do fundo escuro da cavidade oral sobre a cor dentária

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A A

FIGURA 12 (A e B) | Ilustração da incidência visual na seleção de cor, a 0 grau


(acima) e a 45 graus (abaixo)

medição de cores, mais flexíveis e precisos para a corres-


pondência de cores em geral. Medem a quantidade de luz
e energia refletida por um objeto em intervalos de 1-25 nm
ao longo do espetro visível. Os dados são manipulados e
traduzidos de forma padronizada para o clínico. Foi verifi-
cado um acréscimo de 33% na precisão em 93,3% dos ca-
sos em comparação com as observações feitas pelo olho
humano ou de técnicas convencionais.27 C
Como os dentes são compostos de diferentes cores e FIGURA 13 (A, B e C) | Ilustração da seleção de cor com o uso de espectrofotômetro
tonalidades além de efeitos ópticos é conveniente, e ne- (Easyshade Compact®). Observe a leitura em três pontos: cervical, médio e incisal

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cessário, identificar a cor predominante que fica no 1/3 CONCLUSÕES


médio, assim como s áreas que diferem desta (1/3 cervical Quando a seleção da cor é realizada pelo método con-
e 1/3 incisal), além da presença de regiões translúcidas vencional o conhecimento dos fatores que influenciam
e efeitos opalescentes. A criação de mapas cromáticos, a percepção visual e o treinamento do operador são de
que consistem em desenhos e planejamento de cores fundamental importância para uma adequada avaliação.
específicas para toda extensão dentária, é importante na Atualmente a utilização de instrumentos tecnológicos para
comunicação com o ceramista que irá confeccionar uma mensuração da cor diminui a subjetividade em restaura-
restauração cerâmica, e até mesmo para facilitar a técni- ções indiretas. Uma combinação dos métodos pode resul-
ca restauradora direta com resina composta.28,29,30 tar em uma seleção de cor mais precisa.

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