Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E S C O L A A RT Í S T I C A D E S OA R E S D O S R E I S
DINÂMICAS | MAGAZINE DE DESIGN DE PRODUTO
PUBLICAÇÃO ANUAL
FICHA TÉCNICA
ALBERTO TEIXEIRA, ARTUR GONÇALVES, FÁTIMA FERNANDES, JOAQUIM FLORES, JORGE JESUS, JOSÉ ANTÓNIO
FUNDO, LAURINDA BRANCO, MARIA DA LUZ ROSMANINHO, MARCO GINOULHIAC, MARIANA RÊGO, MARTA VARZIM,
MICAELA REIS, PAOLO MARCOLIN, RUI ALEXANDRE, RUI TEIXEIRA, RUI PANELO, SARA ALMEIDA, SUSANA MILÃO, VERA
SANTOS E OS ALUNOS ABEL MARTINS, ANA SANTOS, ANA RITA FERREIRA, ANA RITA FONSECA, ANA SOFIA COSTA, ANA
MARTA SILVA, BRUNA TEIXEIRA, DÉBORA SILVA, FÁBIO MOTA, GONÇALO SILVA, INÊS RAMALHÃO, INÊS SILVA, JOANA
RIBEIRO, LUNA FONSECA, MARIANA ALVES, MARIANA CARDOSO, MARTA FREITAS, NUNO MENDES, NUNO SARMENTO,
PATRÍCIA CARVALHO, RAQUEL SILVA, ROSANA SOUSA, SOFIA VIEIRA, TOMÁS ALMEIDA, .
PROPRIEDADE:
ED ITORIAL
Processos.
Processos…
Este é o tema do dinâmicas 3 e eu tenho que fazer o editorial…
Começo por colar na parede uma folha de papel vegetal e sempre que por ela passo, vou
colocando questões, sinónimos e mais questões e pistas.
Caminhos, percursos e inquietações.
Misturo a música e a poesia, acrescento lugares comuns: Vou onde me levam os meus passos,
canto com o José Mário Branco que “há sempre qualquer coisa que está para acontecer e que
eu devia perceber”, e caminho, releio o Cântico Negro de José Régio – “Vem por aqui – dizem-
me alguns com olhos doces (…) e cruzo os braços e nunca vou por ali.”…
E métodos, metodologia, metodologia projectual, Munari, arroz verde ou bacalhau com natas.
Mas também Descarte e o Discurso do Método. Razão? “Penso, logo existo”.
Durante dias passei e parei junto da parede com o papel, à deriva… e falam-me da Teoria da
Deriva de Gui Debord (obrigada Rui) e percebi que saíra da minha zona “geográfica”, não em
busca de uma resposta mas em busca de questões, em mim mesma.
E sigo…
Este é o meu processo.
Não sei onde vou chegar, mas agora experimento ir por aqui.
1
ED I TO RI A L
LAURINDA BRANCO
PROFESSORA DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
3
ÍN DI CE
ÍNDICE
4-5 INDICE
PERCURSOS
12-15 TENHO QUE COMEÇAR POR VOS CONTAR UM SEGREDO - SARA ALMEIDA
REFLEXÃO
30-37 COMO O CONHECIMENTO HUMANO É MOLDADO PELA FIÇÃO - MARTA VARZIM
ATIVIDADES
66-69 FÁBRICAS DIGITAIS - JORGE JESUS
PROJETO
70-71 F-51 | WALTER GROPIUS - DÉBORA SILVA
LIVRO
150-151 “DAS COISAS NASCEM COISAS” - BRUNO MUNARI
5
PRO C ED I M ENTO S
Na língua inglesa distingue a palavra “process” da pala- sos nascem determinados por fatores de ordem social e
vra “procedure”. Não que seja uma distinção exatamen- política e deles resultam novas relações sociais. Como
te clara. Process seria como que um fenómeno susten- exemplo elucidativo tome-se a máquina a vapor que de-
tável constituído por mudanças graduais ao longo duma sencadeou novos processos de produção eles próprios
série de estados; procedure seria por sua vez uma série responsáveis por novas relações sociais. O passo se-
de atos de natureza prática ou mecânicos relacionados guinte talvez tenha sido o aparecimento do conceito de
com uma forma particular de trabalho. Em complemen- design e da produção standartizada, capaz de chegar
to destes dois vocábulos, que em português são tradu- às massas. A massificação foi o resultado natural dos
zidos quase sempre pela mesma palavra – processos processos mecânicos capazes de criar grandes quan-
– são usadas com frequência as palavras: algoritmo e tidades de mercadoria igual (ou semelhante) a baixo
protocolo. Os contextos determinam normalmente o uso custo. Outra consequência deste tipo de produção foi a
de um ou outro vocábulo mas, a raiz, o padrão de pen- implementação subconsciente dum pensamento único,
samento envolvido é o mesmo. Está em causa um con- uma espécie de “homem unidimensional” de Marcuse.
junto de etapas simples, organizadas de forma sequen- Com o aparecimento do computador, numa primeira
cial com um objetivo, uma finalidade. Esta matriz, este fase aliado do engenheiro nos seus cálculos complexos
processo, aplica-se tanto à receita do bolo-rei como ao e morosos, e um seu derivado, o robot, começou a ser
algoritmo que colocou recentemente os professores em possível produzir com intervenção mínima de mão-de-
BCE (um bom exemplo dum processo cheio de boas in- -obra humana. Dir-se-ia que num futuro suficientemente
tenções mas mal organizado ou construído), passando próximo o homem seria dispensável no processo pro-
pela avaliação dum qualquer aluno. dutivo. Aliás a geração de computadores capazes de
Por detrás de qualquer produto ou produção há um pro- aprender parecem apontar nessa direção. Mas só pare-
cesso na forma de algoritmo, organizado em torno de cem! Aquilo que Marx conheceu e esteve na base das
etapas simples (simples no sentido em que não se sub- grandes construções sociais (o proletário escravizado e
dividem noutras etapas). Em termos gráficos será a ima- alienado) desapareceu (ou modificou-se) para dar ori-
gem duma molécula descrita através dos átomos (seres gem a uma classe média alienada ao novo processo de
indivisíveis) que a constituem. produção (operários especializados, designers, progra-
Qualquer sociólogo que se prese dirá que os proces- madores).
ALBERTO MARTINS TEIXEIRA
DIRETOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
Porém, os novos processos de produção trazem em informação científica livre e à disposição de qualquer
si o ovo da serpente. Com a evolução da robótica e o um é inevitável que novas relações sociais apareçam e
salto tecnológico das máquinas/impressoras 3D o pro- a sociedade caminhe para uma nova ordem institucio-
cesso uniforme de produção, a cadeia, a massificação, nal.
tudo isso deixa de fazer sentido. Baixando os custos de Quando todos estes processos atingirem um grau de
produção da peça única é possível recuperar um certo maturação que os torne possíveis o que será da escola?
conceito até aqui reservado ao domínio do artesanato. Se a isto aliarmos o homem biónico feito de código ge-
O novo artesão é o programador/designer que, com os nético e próteses, evoluindo também com um software
mesmos custos e até custos mais baixos produz obje- próprio capaz de lhe prolongar a vida até ao infinito o
tos únicos ou pequenas séries respeitando totalmente a que será o processo de aprendizagem deste novo ser?
vontade, ou até o capricho, do consumidor e com isso Aliás o que será aprender? Haverá o “ir à escola”, ou
levando à “desmassificação” da sociedade. será a escola a vir até nós na forma de plataformas de
Em toda esta dinâmica ganha relevo a palavra algoritmo aprendizagem e tutoriais? Não tarda a ouvirmos uma
associada aos artefactos automáticos. Para já é difícil voz virada para nós em tom de desafio a dizer “ ó kota
perceber de que forma as relações sociais se vão trans- isso que estás a explicar já eu vi num vídeo bué de fixe
formar. Se pensarmos no aparecimento da internet, nas do TED com muito mais pinta”. Quando aí chegarmos
redes sociais e na forma como o processo de comuni- o que vamos fazer? Cairemos na tentação de competir
cação se está a modificar temos uma ideia da imprevi- expositivamente com o youtub?
sibilidade que os meios digitais arrastam. Conceitos e Nesses próximos longínquos tempos teremos que voltar
normas socias estão a mudar a cada dia que passa e ao núcleo central de tudo e ter uma resposta pronta e
mesmo os “espaços” dos sentimentos e o conceito de segura para a eterna questão: o que é e para que serve
“vida” parece ganhar novas dimensões que geram um a escola? Se a isto não conseguirmos responder o cami-
hiperespaço de novas realidades. Já é possível ter uma nho aponta para um admirável mundo novo onde tudo é
vida na dimensão do real clássico e outra no hiperespa- perfeito, saudável e possível.
ço onde nos construímos sem obedecer a um determi-
nismo genético. Se numa realidade os euros são insu- Em si os processos são neutros, incolo-
ficientes para as nossas necessidades na outra as bit
res e inodoros. Quem os vai colorir so-
coins podem-nos permitir os maiores luxos concebíveis.
mos nós e da forma como os colorirmos
Contudo, o paradoxal é que o espaço clássico se trans-
formam num espaço construível graças às impressoras
teremos resultados diferentes. Na essên-
3D. Há um certo grau de autonomia ao nosso alcance. cia o que se deve garantir é o controlo
Podemos construir a nossa casa, a nossa roupa, a nos- dos processos pelo ser humano e não o
sa alimentação, tudo isto através duma máquina e dum contrário. Pode ser que um dia se pegue
algoritmo. Se juntarmos a isto o manancial de informa- numa impressora 3D e se construa uma
ção que a net nos pode fornecer, os vídeos tutoriais, a
escola ou um professor. Quem sabe?
7
JOSÉ ANTÓNIO FUNDO
SUBDIRETOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
Processo
Educativo
A educação é um modo de fazer e não um resultado.
"The stick which drips paint is a toot which acknowledges the nature of the fluidity
of paint. Like any other tool it is still one that controls and transforms matter. But
unlike the brush it is in far greater sympathy with matter because it acknowledges
the inherent tendencies and properties of that matter."
9
Robert Morris, escreveu em 1968 um pequeno ensaio que
viria a cunhar o termo "Process Art" para um movimento
que mais não foi do que um princípio simples de entender
a obra de arte como um processo ao contrário de um
objeto ou um resultado. Para o efeito Morris realçou
o trabalho de Pollock e como os materiais utilizados
funcionam uns em articulação com os outros e no estrito
respeito pela sua natureza. Assim, para Morris, o "pau"
que Pollock utiliza para pingar a tinta sobre a tela está em
harmonia com a fluidez da tinta mais do que o tradicional
pincel que a disciplina. O "fazer" é a obra e não apenas do
ponto de vista performativo. As formas de fazer emergem
nos materiais e a sua manipulação é ritual estático. Ao
despromover o objeto de arte em relação ao processo que
o faz existir Morris está a fazer a mais sincera afirmação.
Não são os resultados que nos movem, são os processos.
A arte de Robert Morris, como a de Pollock, destaca-se de números e resultados e em que os meios são
pela materialidade e profundidade dos modos de fazer condicionados pelas finalidades projetadas, a escola
que implica. Estão lá os materiais de uma forma tão deve separar-se dessa loucura insana e afirmar-se
palpável que os sentimos intimamente ligados ao prazer como um lugar de processos, de caminhos, e não de
que produz a sua manipulação. São trabalhos que metas. Claro que aqui a semântica é importante. O
produzem em nós o desejo de inventar novas soluções que queremos dizer com umas palavras podemos
e processos artísticos. Meter as mãos à obra. Morris dizer com outras. Por isso é importante que fique
realça no seu trabalho e nos seus ensaios algo que claro o seu significado. Os indicadores, os resultados,
os artistas sabem há muito. Mesmo quando o objecto são importantes na educação. Mas são-no apenas
de arte se quer destacar do seu próprio processo e na medida em que podem ensinar-nos algo sobre o
se afirma apenas pelo produto final, por vezes quase processo.
sobre-humano, para o artista o processo é muitas É fácil manipular os resultados. O mediatismo educativo,
vezes um ritual quase mágico e os ateliers autênticos a popularidade de rankings e gráficos que vivemos
santuários do fazer. Há etapas, procedimentos, hoje, promove a visibilidade de apenas uns poucos
sons, espaços e estados de alma que constituem um indicadores ou resultados. Facilmente as políticas
processo nem sempre visível na obra mas fundamental educativas populistas e centradas nos resultados se
à sua construção. deixam levar pela simplificação dos processos e pela
Nas escolas é igualmente importante valorizar os economia de meios para alterar os números naqueles
processos. Numa época em que vivemos rodeados indicadores. Por isso os rankings matam as escolas.
JOSÉ ANTÓNIO FUNDO
SUBDIRETOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
Sobretudo algumas escolas que se deixam escravizar permanente transformação, produzida por todos os
pelos resultados dos exames e que cedem à tentação intervenientes enquanto o espaço social que ocupa se
de manipular os seus resultados, sacrificando o vai transformando. Uma escola que rejeita o facilitismo
processo educativo em favor da ilusão criada por dos resultados imediatos e que opta por viver com
uma mão cheia de notas atingidas em três ou quatro entusiasmo o seu dia-a-dia. Esta escola, atelier do
provas. O treino para os exameWs é isso mesmo, um aluno, é a escola do "fazer". Não a escola técnica mas
treino. Dificilmente se pode confundir com um processo a escola do "fazer" diário. Um "fazer" que ensina, com
educativo. Um processo educativo centrado no aluno e consequências, com espaço de desenvolvimento e
em aprendizagens significativas permite outro tipo de crescimento e com oportunidades de correção e recuo.
resultados, menos mensuráveis no imediato. Porque é Um "fazer" em conjunto e em partilha. Um "fazer" que
centrado nas experiências dos alunos, de cada aluno, promove o conhecimento. A escola não é mais um
e está planeado de modo a produzir conhecimento e horário em que os sapientes fazem a transmissão do
felicidade. A escola é um espaço de felicidade e de saber a indivíduos a quem pouco mais se pede do que
aprendizagem para a felicidade. Mas a felicidade provar, por escrito, que ouviram a lição. É um espaço de
dos alunos, o gosto por tarefas que promovem o seu trabalho onde acontece um processo, multidimensional,
desenvolvimento humano e intelectual, o seu empenho de desenvolvimento de seres humanos. Como Robert
e prazer por frequentar a escola, não é reproduzido nos Morris escrevia sobre Pollock e sobre a harmonia entre
rankings dos resultados imediatos. as ferramentas, os materiais e os suportes numa ação
A implementação, nas escolas de artes, de modelos coerente, na escola os meios, os modos de fazer a
de ensino/aprendizagem baseados em projetos e educação e os alunos devem estar em harmonia.
na resolução criativa de problemas pode e deve ser Se um projecto visa um resultado, um processo, um
um laboratório para a aplicação destes processos processo educativo, visa uma transformação eterna,
educativos noutros contextos. Uma escola que investe uma ação imparável. Um aluno preparado para essa
no caminho e não na meta e que deixa que cada transformação e desenvolvimento permanentes será um
aluno possa contribuir também para metas diferentes. cidadão que faz avançar o mundo e não simplesmente
Estes modelos implicam uma escola humana, reflexiva um que se usa dele para um qualquer objetivo.
e que funciona como coletivo. Uma escola em
11
PER CURS O S
rebentar. Notas de entrada? Listas? Anos comuns? candidatar juntas. Esperei por ela meses e meses a fio.
Escolhas??? AJUDA! Escrevi o email mais aterrorizado Quando percebi que ela afinal gostava muito da ideia,
de sempre (mas sempre com cuidado, porque não sabia mas que nunca iria pôr mãos à obra, decidi candidatar-
se ia ser tido em conta na minha candidatura) e enviei me sozinha. O único problema foi que as candidaturas
para o conselho executivo. Quando acordei tinha uma para o ano lectivo seguinte tinham acabado... nesse dia.
resposta. Não uma resposta qualquer, mas a resposta Eis que quando, recebo um email a informar-me que o
que precisava. prazo tinha sido prolongado porque estava a nevar em
“Ovar não é propriamente na China! Tenha calma.” Inglaterra. Numa semana tratei de tudo. 8 meses depois,
Lembro-me de respirar fundo e ler por entre as linhas estava a aterrar numa nova aventura.
desta mensagem "não há nada que não consigas Logo no meu primeiro ano percebi as diferenças
fazer!" Acho mesmo que foi o início das aventuras da entre mim e os meus colegas. Eles pesquisavam na
Internet. Eu pesquisava na rua, a falar com pessoas.
Sara Almeida (mal sabia eu que o “Alberto” que me
Eles desenhavam cadeiras e mesas. Eu sonhava
respondeu, era O Professor Alberto).
com espaços onde tudo coexistia com as emoções e
sensações dos utilizadores. Eles criavam candeeiros, eu
Muitos dos ensinamentos que trago desta escola só
pensava em como resolver a guerra no Sudão através
foram completamente absorvidos por mim já depois de
do design.
a deixar.
Esta maneira de encarar o design foi-me passada na
Depois do 12º ano, ingressei no curso de Design de
Sores dos Reis.
Produto numa Universidade na parte rural de Inglaterra.
Estive envolvida nos projectos para o aeroporto de
Como é que lá fui parar? Algures no 11º ano falei do
Gatwick, as lojas da Primark e algumas habitações
assunto com uma amiga. Decidimos que nos íamos
privadas. Pela primeira vez tive experiência em produzir
13
PER CURS O S
lhe se conhecia alguém pelo país. Disse logo que sim emprego. Eram eles a dizer: queremos te a ti. Um salário
e deu-me o número de um designer Kiwi (pessoa de em condições. Férias pagas. Horas normais. Essas coisas
origem neozelandesa). Toda despachada, liguei lhe logo todas que ensinaram à minha geração que só acontece
e expliquei a história. Ele pareceu apreensivo mas ao fim em sonhos. E eu disse que sim, qual casal a aceitar ser
de 5 minutos de conversa disse "envia-me o teu portfólio". feliz para sempre.
Um dia antes de embarcar no vôo, recebo um email Deixem-me contar-vos como funciona o estúdio MW
de um estúdio a perguntar se podíamos marcar uma Design: somos 2 designers de produto e dois engenheiros
entrevista pelo skype porque alguém lhes tinha enviado designers. Trabalhamos das 9 às 5:30. A essa hora, o
o meu portfólio. Liguei-lhes logo e disse : em 48h posso patrão activa o alarme e temos que correr dali para fora.
aparecer no estúdio. E assim foi. Na entrevista fizeram Ninguém trabalha depois da hora. A não ser quando
me vários testes e exercícios de design. Muitos deles sabemos que é preciso cumprir um prazo e todos
parecidos com os que fiz na Soares dos Reis no início do trabalhamos sem nos queixarmos , de boa vontade. As
ano lectivo nas aulas de projecto. Repensar um objecto. secretárias estão organizadas numa circunferência pelo
Melhorá-lo. Reinventá-lo. No final, perguntaram-me num estúdio. Todos vemos o que os outros estão a fazer e
tom que nunca tinha encontrado "gostaríamos muito que todos contribuímos. Várias vezes ao dia é esperado que
te juntasses á equipa. Achas que estas interessada?" nos levantemos e exponhamos o trabalho que estamos
Percebi depois que o tom foi o mesmo que usamos a desenvolver na parede e que o expliquemos em voz
quando pedimos aos nossos pais para nos emprestarem alta. Com este processo detectamos erros muito mais
o carro para ir sair à noite. Dizemos muitas vezes "diz rápido , recebemos críticas construtivas e dessa forma o
que sim, diz que sim" na nossa cabeça , à espera que design é muito melhor do que se fosse pensado por uma
seja essa a resposta que lhes sai da boca. Eles estavam só pessoa. Somos incentivados a falar de coisas que nos
interessados em mim. Não era eu a implorar por um interessam para que o patrão encontre clientes e projectos
15
R EFLE X Ã O
que vão de encontro ao que gostamos. Trabalho ao Quando digo que cheguei onde cheguei por ter uma
mesmo tempo em mais ou menos 5 projectos que vão grande dose de boa sorte, algumas pessoas tentam-
de coisas altamente tecnológicas como máquinas de me contrariar. Não sei porque nos custa admitir que
diagnóstico de problemas em tubos de extração de gás somos a força por detrás da nossa sorte. Será porque
a objectos de aplicação de dispositivos intra uterino em achamos que muita gente luta tanto ou mais que nós
vacas. Passando por mesas de bilhar, armadilhas para mas não chegou ao mesmo lugar? De verdade não sinto
ratazanas e embalagens para leite de bebé. Nunca há que me possa responsabilizar totalmente pela minha
um momento aborrecido nem a sensação que todos os "sorte". Demorei um pouquinho a perceber porquê, mas
dias são a mesma coisa. Tenho dois patrões que todos cheguei lá: aquilo que eu sou, não sou sozinha. Qualquer
os dias me perguntam no que me podem ajudar. E um pode saber "fazer design". Mas só alguns têm a
sei que estão a falar tanto na parte profissional como "sorte" de terem aprendido a serem pessoas sensíveis
pessoal. Nas primeiras semanas entrei em parafuso aos objectos , às emoções e às necessidades dos
quando me pediam para fazer coisas que nunca seus utilizadores. Para isso é preciso uma combinação
tinha feito. Fui aprendendo à medida que era preciso. especial de bons professores, educadores e amigos
Percebi depois, que até os designers seniores faziam o , tudo numa só pessoa. E quem passou pela Escola
mesmo. Não era só eu que passava a vida a ver vídeos Artística Soares dos Reis recebeu isso tudo. Só espero
no YouTube com tutoriais do SolidWorks ou que ia á que o tenham agarrado.
biblioteca aprender sobre técnicas de fabrico. Estamos Sou tão pequenina para dar conselhos do que quer
todos a aprender à medida que precisamos. E ainda me que seja, mas há uma coisa que aprendi e que tento
marcaram lugar num curso de SolidWorks, para ajudar manter sempre comigo. Nenhum projecto, trabalho ou
mais um bocadinho. Não me posso queixar. Por agora, ideia é pequeno ou insignificante demais. Tudo nos está
parece que encontrei um lugar à minha medida a ajudar a chegar onde temos que chegar. Eu sei que é
SARA ALMEIDA
DESIGNER
EX-ALUNA DA EASR
17
PER CURS O S
A sua vasta e diversificada obra, passa pelo design de incorporados e apropriados no modo de vida dos seus
interiores, design expositivo, design de produto, design utilizadores, que lhes retirou o seu reconhecimento
gráfico, destacando ainda a sua atividade enquanto como objetos de design.
professor de design e pioneiro em Portugal na gestão Assume assim, que o design é antes de mais uma forma
do design. de estar e ser. É uma atitude, um método, que dado
Norteado, segundo Daciano da Costa (cit in Pacheco, as suas características é possível aplicar a numerosas
1984, p.25), por uma ‘inteligência prática e imaginação atividades humanas. Como o próprio define, “Direi que
construtiva’, que se reflete numa vasta obra em vários [o design] é uma forma de comportamento que recusa
domínios, foi no design produto que mais se destacou. o impensado, a solução do acaso ou de inspiração, e
Enquanto no design de interiores, o seu trabalho, se que, pelo contrário procura as informações e métodos
carateriza pela procura de um sentido de unidade, corretos na resolução de um problema, adaptando-o da
gerando uma complementaridade entre o espaço melhor maneira às necessidades dos homens” (Dias,
e o equipamento, através de soluções articuladas, 1984, p. 26). Uma atitude que exterioriza que deve
funcionais e simples, no design de produto, as mais ser adotada por todas as atividades criadoras, desde
de 50 coleções e 400 peças de cutelaria, recipientes, designers a arquitetos, de engenheiros a urbanistas,
faianças e utensílios do dia-a-dia, tornaram-se peças no sentido de melhor sistematizar o processo projetual,
icónicas, que transformaram mentalidades, hábitos e obtendo um produto final mais eficaz.
comportamentos. Os seus produtos foram de tal modo Eduardo Afonso Dias, trabalhou com os maiores nomes
MICAELA REIS
PROFESSORA DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
do design português, como Sena da Silva, Frederico nem poderia aprender na escola (...) O Daciano tinha
George, Daciano da Costa e Conceição Silva – tendo uma prática muito mais refletida e profunda, (...) uma
herdado “destes mestres a prática metodológica e grande preocupação com o desenvolvimento da
concepção do design como atividade globalizante”. profissão e da disciplina de design. Com ele, tive um
(Dias, 2014, p. 115) curso de iniciação artística ou ao design, uma espécie
Embora manifeste a importância de cada um destes de Bauhaus à Portuguesa no seu atelier em Belém.
mestres na sua formação, foi sem dúvida, Daciano da (...) No Frederico, consistia mais em desenhar, ouvir e
Costa, que mais peso teve no seu percurso, tornando-se entender as fases do projeto, assim como as angustias
como o próprio recorda, ‘companheiros’. Quando refere que o mestre tinha. Foi uma formação que considero a
os processos projetuais de cada um e os ensinamentos melhor que poderia ter.” (Dias, A Fénix do design, 2014,
que assimilou e que o formaram e construíram enquanto p. 119).
designer, Afonso Dias rememora:“No Frederico, era o Foi entre o ouvido atento, que escutava o mestre e
‘enegrecer do papel vegetal’ (desenhador copista) e a possibilidade de experienciar todas as fases da
ía ouvindo as poucas conversas que ele tinha sobre a concepção e implementação de um produto, que se
disciplina, mas tudo com sofreguidão: as reflexões, o construiu como designer. Embora reconheça que a
estilo de funcionar e a cultura do mestre. Com Daciano, teoria é muito importante e decisiva, durante o processo
por seu turno, foi meter as ‘mãos na massa’ e aprender, projetual, carateriza-se acima de tudo como um
no dia-a-dia, durante nove anos, aquilo que não aprendi, pragmático. Reconhece-se na frase ‘Design possível’
19
PER CURS O S
@ Luísa Ferreira
e explica-a como a flexibilidade “de poder desenvolver vindouras. “E o olhar continua a sorrir, quase miúdo,
produtos sem ferir os princípios estéticos, comerciais e quando partilha apontamentos de estórias e episódios
industriais, no limite razoável”. (Dias, 2014, p. 131) onde o seu idealismo, alguma ingenuidade, intuição e
Com esta forma de se posicionar, atravessou fronteiras espírito de aventura o guiaram...como aquela vez em
e internacionalizou o seu nome e em conjunto o design que foi sozinho à IKEA, em Almhult, levando unicamente
português, introduzindo noutros mercados, os seus debaixo do braço o protótipo do que viria a ser uma das
objetos. Durante cerca de duas décadas, os seus cutelarias mais vendidas nos anos seguintes pela marca
produtos, foram comercializados em toda a Europa, sueca, a GUME, produzido pela ICEL." (idem, p.24)
destacando o mercado Escandinavo, mas também
atravessaram oceanos e chegaram aos Estado Unidos, O seu posicionamento no e sobre o design
Canadá e Austrália.
Falar de Eduardo Afonso Dias, é em simultâneo falar da Foi um dos pioneiros na prática de gestão do design em
história do design português e como ele hoje se desenha Portugal e encara o designer não como um elemento
no presente. O seu percurso e a sua obra “podem ser isolado na criação de um produto, nem como mero
a metáfora perfeita das potencialidades, vicissitudes e desenhador, mas como um interveniente na gestão,
mal-entendidos do design no nosso país”. (Coutinho, produção e promoção de um produto. Afonso Dias,
2014, p. 24). Portador de um olhar irónico e crítico, não avoca que o grande problema do design de produto
deixa de continuar a acreditar no potencial das gerações é conseguir “viabilizar as ideias (...) comercialmente e
MICAELA REIS
PROFESSORA DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
21
PER CURS O S
e, deste modo, contribuir para a efetiva industrialização um determinado mercado, num determinado contexto.
do país.” (Coutinho, 2014, p. 18) E, é com este propósito e neste sentido que deve ser
Refletindo sobre atividade, reconhece que “o design ensinado o design. “Um pouco à semelhança das
é ainda uma jovem disciplina que tem pouco mais de sessões de esclarecimento que havia no 25 de Abril, no
cem anos [e] 99,9% das pessoas não o entendem âmbito das campanhas de alfabetização, falta fazer a
verdadeiramente. Se um Ministro da Educação foi ‘alfabetização do design’” (Dias, 2014, p. 136)
capaz de afirmar que no produto industrial a intervenção No seu percurso como professor, reconhece que
do design era importante porque ‘alindava’ as peças, é muito ficou por fazer e que é preciso “meter as mãos
porque não entende nada sobre o assunto”. (Dias, 2014, na massa”, se queremos que o design deixe de ser
p. 135) identificado como uma ato insulado e estanque na
Para Afonso Dias, temos ainda um grande caminho a criação de um objeto e passe a ser encarado como uma
percorrer e que parte da solução para o design passa ação proliferadora, que se alimenta e alimenta todas as
por um ensino onde seja visível a relação entre saberes áreas que interseta. Ou seja, é necessário perceber que
e a realidade material. O design não pode ser entendido o design não pode ser visto com um ato dinamizado,
como um elemento isolado, mas sim como uma prática mas deve assumir-se como dinamizador. “Saibamos
inter e transdisciplinar, de possíveis conexões que aprender com o seu percurso e obra” (Coutinho, 2014,
nos levam a conceber um determinado produto, para p. 24)
MICAELA REIS
PROFESSORA DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
Coutinho, B. (2014). Um percurso guiado por "uma inteligência prática e imaginação construtiva". In E. A. Dias,
O design possível - 50 anos de profissão (pp. 15-26). Lisboa: Mude.
Dias, E. A. (2014, Abril). A Fénix do design. 115-138. (R. Carreto, Interviewer)
Dias, E. A. (1984, Maio). Eduardo Afonso Dias, Revista Exportar - ICEP. 25-26.
Pacheco, F. A. (1984). Eduardo Afonso Dias: Faço o design possível... Jornal de Letras , 25-26.
23
PER CURS O S
ISAMU NOGUCHI
TANGÊNCIAS E INTERSEÇÕES
ESCULTURA E DESIGN
ARTUR GONÇALVES
DIRETOR DE CURSO DE DESIGN DE PRODUTO
PROFESSOR DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
Valores da escultura
e do design
“Estou sempre à procura de uma nova maneira
de dizer a mesma coisa” Isamu Noguchi
A atividade criativa na área das artes visuais exerce-se Com base neste pensamento é fácil perceber a
sobre meios e espaços bidimensionais e tridimensionais, intervenção do artista em outras áreas como a
convocando o tempo para poder ser vivenciada. qualificação de espaços públicos através do desenho
Se nos focarmos nos objetos tridimensionais, a começar de jardins, fontes, parques de lazer e, de especial
pelos relevos, até às peças isoladas no espaço, interesse para nós, na área do design.
estamos perante uma categoria a que chamamos A criação e transformação de objetos de que se
escultura. Escultura, como expressão artística, será a ocupa o design não deixa de ter, nos valores estéticos
que recorre a elementos expressivos - a forma, a cor, e simbólicos, no discurso visual que tais valores
o material, a estrutura e a outros elementos conexos, envolvem, uma atenção e uma aposta fundamental. O
articulando-os pela composição e relação de escala que há a que acrescentar a tudo isso são os valores
com o homem, produzindo artefactos que patenteiam do uso, da intervenção prática que os objetos têm na
valores estéticos e valores simbólicos. Efetivamente, é a realização de atividades humanas, e os valores que
ênfase comunicativa e representativa que distingue uma decorrem da necessidade de viabilizar a sua produção
escultura da generalidade dos objetos tridimensionais. e a distribuição para chegarem, de facto, à vida das
A obra de escultura emerge, de uma forma única e pessoas.
assertiva, do poder criativo e do discurso do seu autor. Assim, para Isamu Noguchi, os objetos utilitários são
Para Isamu Noguchi tudo é escultura, ou seja, todos esculturas que facilitam e enriquecem a vida trazendo
os objetos tridimensionais estão marcados por valores o encanto, o refinamento e a expressividade emocional
estéticos e simbólicos. Esta afirmação, algo polémica, para a vida quotidiana.
resulta da ideia de que, numa visão de arte próxima da Isto não significa que defenda da dissolução da
vida, todo o espaço é participante na comunicação e escultura ou preconize o primado de uma arte aplicada.
as criações artísticas não podem ser apenas as que Reconhece apenas que não interessa ter uma visão
se exibem em galerias ou museus, apoiadas sobre acabada do mundo, ou ser senhor da última palavra
pedestais. Advoga, apoiado nestes pressupostos, uma sobre a arte.
escultura sem peanha…
25
PERCURS O S
Ao recorrer a elementos físicos para se manifestar, indivisa que se auto afirma na sua nobreza e significado.
a criação artística acolhe uma infinita variedade de O artista reservava uma parte muito substancial
materiais que transforma e modela. Isamu Noguchi do seu tempo a visitar as pedreiras, as fábricas de
elege o material como um elemento decisivo para transformação de rochas, metais ferrosos e ligas de
concretização da intenção comunicativa, demonstrando fundição, as olarias e as oficinas de preparação das
um respeito extremo pelas propriedades gerais e pastas cerâmicas, assim como se interessava pelas
específicas que este apresenta e, dessa forma, uma propriedades dos novos materiais tais como o vidro e
sensibilidade, cara à cultura japonesa, de observação o aço inoxidável, retirando daí um conhecimento mais
e de deleite para com o que natureza nos dá. Esta profundo sobre a essência de cada um, parecendo que,
atenção ao cerne físico e simbólico do material, num de uma forma autêntica, a ideia a comunicar já estava
certo contexto histórico e civilizacional, conduz a uma no material.
cuidadosa formulação de intervenções cujo objetivo é Mas nada de medos e de interdições face ao material – a
o de mobilizar a matéria para se definir o que se diz e “força” e a visão do artista revelam-se verdadeiramente
como se diz. face às interrogações e incertezas que enfrenta,
O material não pode ser um mero suporte ou veículo acreditando que o seu discurso vai juntar-se, como um
de algo externo. Tem que ser uma parte fundadora e só, à afirmação primordial da matéria.
ARTUR GONÇALVES
DIRETOR DE CURSO DE DESIGN DE PRODUTO
PROFESSOR DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
O experimentalismo
"Pode-se descobrir como se faz algo e depois
fazê-lo, ou fazer qualquer coisa e depois
descobrir como se faz"
Isamu Noguchi
27
PER CURS O S
nota
biográfica:
29
REFLE X Ã O
como o
conhecimento
humano
é moldado
pela ficção
Imagem 1 - http://adsoftheworld.com/media/print/levis_audience
MARTA VARZIM
PROFESSORA | ARTES DIGITAIS E MULTIMÉDIA
ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN | MATOSINHOS
introdução
A nossa noção de realidade é limitada e por essa razão, a
mente humana cede, impotente, à sucção das histórias. Além
disso, constata-se com facilidade que por muito que lutemos
em manter a lucidez ou a ligação à realidade, a verdade é que
não sabemos resistir à generosidade dos pensamentos e dos
seus mundos alternativos. Enquanto o nosso corpo está preso
a um aqui e a um agora, a nossa mente liberta-se e põe-nos
a divagar sem qualquer restrição por terras do faz-de-conta.
A nossa imersão pelas narrativas ficcionais vai muito além
dos sonhos e das fantasias, das canções, da literatura e dos
filmes. Há muito mais na vida humana que nos mostra que
esta está impregnada por histórias ficcionais.
31
REFLE X Ã O
real é, portanto, construída, é artificial. E nesse sentido, sentido. Do exposto não admira então que se diga que
todas as histórias tendem a ser estórias. os seres humanos são “criaturas de histórias de ficção”
Ao não sermos capazes de ter uma consciência (Morin, 1972; Metz, 1980; Bachelard, 2001; Boyd,
total sobre a realidade, a imersão pelas narrativas 2009; Damásio, 2010; Gottschall, 2013). Delas parece
ficcionais sobrevém como alternativa, tornando-se parte dependermos para conseguirmos significar o mundo e
integrante dos processos cognitivos de produção de todos os elementos que o constituem.
a ficção
Os seres humanos são então criaturas de histórias e não palavras, perdemos um terço das nossas vidas
obstante, estas tocam quase todos os aspetos das suas afundados em fantasias. Sonhamos com o passado,
vidas. com as nossas vitórias e fracassos e com as coisas
Jonathan Gottschall, especialista em literatura e de deveríamos ter dito mas não dissemos. Sonhamos
evolução humana, acredita que temos uma grande com coisas perfeitamente mundanas, nomeadamente
tendência para contarmos algumas dessa melhores imaginando como lidar com um conflito na escola ou
histórias a nós próprios e acredita que as memórias que no trabalho. E sonhamos ainda duma outra forma mais
usamos para as formar são ficcionadas pelo corpo, ora intensa: internamente, realizamos filmes onde todos os
em forma de pensamentos, ora em forma de sonhos. nossos desejos – mais realistas ou mais efabulados –
Segundo estudos descritos por Gottschall, em média, vão sendo testados e realizados.
os sonhos têm uma duração de catorze segundos e O imperativo humano para fazer e consumir histórias é
surgem cerca de duzentas vezes ao dia. Por outras então algo muito profundo. Mas porque estaremos nós
MARTA VARZIM
PROFESSORA | ARTES DIGITAIS E MULTIMÉDIA
ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN | MATOSINHOS
impregnados de narrativas ficcionais? os simuladores de voo permitem aos pilotos treinar o voo
Segundo Thomas Hobbes a ficção liberta-nos em segurança, as ficções treinam-nos – em segurança
temporariamente dos nossos problemas. Porém, ao – a enfrentarmos os maiores desafios do mundo real,
fazê-lo, enreda-nos num outro conjunto de perturbações, projetando-nos para intensas simulações de problemas
nomeadamente em cenários imaginários de luta e paralelos àqueles que temos de enfrentar na realidade
stresse, de confrontos mas também de superações. do dia-a-dia. Assim como os simuladores, a maior
Há, portanto, um paradoxo na ficção e este já havia virtude da ficção é poder oferecer uma fértil e intensa
sido notado por Aristóteles na sua obra “Poetics” (350 experiência sem nos magoarmos ou morrermos no final.
a.C): nós somos atraídos pela ficção porque ela dá-nos No concreto, procuramos e produzimos histórias por
prazer. Efetivamente, a ficção é aonde as pessoas vão gostamos das experiências que estas nos proporcionam
praticar as principais habilidades da vida humana e a e porque, de alguma forma, beneficiamos com a sua
experiência emocional é o principal benefício da ficção. prática. Além disso, o potencial destas produções, leva-
Esta oferece-nos sensações pelas quais não temos que nos, no limiar, a estar bem próximos de um demiurgo,
temer, na medida em que, com ela, podemos amar, capaz de tudo criar e tudo transfigurar, simplesmente
matar, condenar, desculpar, ter esperança, ter pavor através de uma vontade ou de uma crença. Assim, a
ou horror sem o prejuízo real de passarmos pelos ficção, para além de nos libertar dos constrangimentos
constrangimentos que estas experiências normalmente do tempo e do espaço e de estar mais em conformidade
envolvem na realidade. Este argumento que não é novo com as nossas vontades e sonhos, realiza o profundo
para a psicologia evolucionista, mostra que as ficções desejo humano de transcendência.
são como simuladores para a vida humana: assim como
os neurónios espelho
e a teoria da simulação
Os neurónios espelho e a teoria da simulação que que alguns estados mentais são transferidos
Entre as décadas de 1980 e 1990, um grupo de por contagio, levou os referidos cientistas a afirmar
neurocientistas italianos descobriu acidentalmente que que os neurónios espelho estão na base da nossa
temos neurónios espelho. Deste então, tem havido uma capacidade de gerar simulações ficcionais, dentro
corrida ao estudo desses neurónios com o intuito de das nossas mentes.
se medir a eficácia do seu alcance e de testar a sua
capacidade de “contágio”. Mais recentemente, o psiquiatra e especialista
em ciências comportamentais, Marco Iacoboni
De um conjunto de experiências realizadas resultou a veio explicar porque é que as representações
convicção de que temos redes neurais especializadas que cinemáticas nos dizem tanto e nos parecem ser tão
se ativam especificamente quando executamos uma ação autênticas. Segundo este, esta simbiose acontece
ou experienciamos uma emoção e, de igual forma, quando “because mirror neurons in our brain
observamos alguém a executar uma ação ou a vivenciar re-create for us the distress we see on
uma emoção. Esta revelação que veio mostrar porque é
the screen. We have empathy for the
fictional characters – we know how
they’re feeling – because we literally
experience the same feelings ourselves.
And when we watch the movie star kiss
on screen? Some of the cell firing in our
brain are the same ones that fire when
we kiss our lovers. “Vicarious” is not
a strong enough word to describe the
effect of these mirror neurons”
(Iacoboni, 2008: 4).
http://www.replicatedtypo.com/sticking-the-tongue-out-early-
imitation-in-infants/6082.html
MARTA VARZIM
PROFESSORA | ARTES DIGITAIS E MULTIMÉDIA
ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN | MATOSINHOS
Numa breve análise aos dois polos da ficção, constata- Sobre o assunto, o designer de vídeo jogos James Wallis
se que a ficção hiper-realista tende a apresentar a vida salienta que: “Human beings like stories. Our brains
como nós realmente a experimentamos. Nessa medida, have a natural affinity not only for enjoying narratives
o hiper-realismo tem interesse como experiência no and learning from them but also for creating them. In the
sentido em que, fielmente nos ajuda a ver o que é ficção, same way that our mind sees an abstract pattern and
mostrando-nos o que ela não é. Todavia, a ficção hiper- resolves it into a face, our imagination sees a pattern of
realista falha pelas mesmas razões que falham as outras events and resolves it into a story”. (Wallis, 2007: 69).
ficções mais extravagantes, subjetivas ou abstratas, Esta afirmação de Wallis mostra que extraímos
na medida em que todas elas apresentam o mesmo automaticamente histórias das informações que
ingrediente-chave: o enredo artificial de problemas. recebemos e, no caso de não haver nenhuma história
Na verdade, não importa o quão próximos estamos em concreto, a tendência é a de inventarmos uma.
da representação da realidade, pois saberemos Muitos são os exemplos e as experiências deste
sempre que esta é uma representação. O que nos vai fenómeno que mostram o quão indispostos estamos a
fazer aceitá-la não é a afinidade perante a qualidade ficar sem histórias e o quão avidamente trabalhamos
ou regime de representação mas sim o interesse ou a para impor uma estrutura numa história que tem por
vontade que temos em usufruir dessa experiência. base uma referência sem sentido. Com isto, queremos
Quanto à ficção abstrata, constata-se que a evolução dizer que, independentemente do grau ou regime de
da literacia visual, nomeadamente a capacidade de realidade dessas histórias, há no ser humano uma
interpretar representações simbólicas abstratas, tem- inequívoca tendência para imbricar o relato presenciado
nos possibilitado discernir com algum à-vontade a com o contexto vivencial (experiência pessoal). É o que
essência de muitas figurações. Segundo a psicologia, afirma Morin (1972: 114) e Damásio (2000: 366; 2010:
isto acontece porque a mente humana esteve sempre 264): afim de podermos assimilar, (re)interpretamos o
predisposta para detetar padrões mesmo no seio do relato - abstracto ou concreto - fazendo pontes entre
caos. O “software mental” que nos põe em alerta quando a conjunção e a disjunção das nossas memórias e
vemos um rosto humano ou uma figura, é o mesmo conhecimentos armazenados.
que nos permite ver ou associar formas familiares em
elementos com figurações abstratas como as nuvens,
a pintura ou a escultura. Para esta ciência, esta
capacidade humana é uma parte do “design da mente”
que nos ajuda a perceber os padrões mais significativos
do nosso ambiente. Isto explica que a nossa apetência
por dar um significado aos padrões que vemos, traduz
na verdade a nossa ânsia por histórias.
MARTA VARZIM
PROFESSORAS DIGITAIS E MULTIMÉDIA
ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN | MATOSINHOS
conclusão
Em geral, todas estas pesquisas mostram que somos dá-nos terreno seguro para treinarmos inseguranças e
obras-primas das nossas próprias construções mentais incertezas e tudo aquilo que necessitarmos. Além disso,
e fragmentos da nossa imaginação. Pensamos que as histórias resultantes da ficção - ou se preferirmos do
somos muito estáveis e “reais” e temos a ideia de que as onirismo intelectual (Bachelard, 2001), são condição de
nossas memórias restringem a nossa autocriação, mas integridade do conhecimento e a “cola” da vida social
na verdade são os nossos sonhos e as nossas crenças humana. São elas que definem grupos culturais e são
que as modelam. Nós somos fruto das nossas histórias as mesmas que os mantêm coesos. Nós vivemos no
pessoais. E essas são para nós, mais verdadeiras do mundo do “faz de conta” porque não podemos viver fora
que a própria realidade. dele. O mundo do “faz de conta” é o lugar de regulação
A ficção é, então, a nossa maior e melhor habilidade que nos garante algum equilíbrio homeostático. Ao
enquanto seres. Ela é um dos elementos essenciais do serem inventadas formas de consolo e de recompensa
nosso nicho evolucionário. E se a ela estamos ligados é – e como vimos não importa o grau de verosimilhança
porque, na sua essência, a ficção é benéfica para nós: com a realidade – o ser humano cumpre, dentro das
alimenta a nossa imaginação, reforça hábitos morais, suas possibilidades, a sua reconciliação com o mundo.
Referências bibliográficas
Arnheim, R. (1980). Arte & Percepção visual. Uma Psicologia da Visão Criadora. S. Paulo: Thomson.
Bachelard, G. (2001). O Ar e os Sonhos. São Paulo: Martins Fontes.
Boyd, B. (2009). On the Origin of Stories: Evolution, Cognition, Fiction. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Damásio, A. (1995). O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano. Mem Martins: Europa-América.
Damásio, A. (2000). O Sentimento de Si: O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência. Mem Martins: Europa- América.
Damásio, A. (2010). O livro da Consciência. A construção do cérebro consciente. Maia: Circulo de Leitores.
Gottschall, J., (2013). The Storytelling Animal, How Stories Make Us Human. New York: Houghton Mifflin Harcourt.
Iacoboni, M. (2008). Mirroring People: The Science of Empathy and How We Connect with Others. New York: Picador.
Metz, C. (1980). O Significante Imaginário. Psicanálise e Cinema. Lisboa: Livros Horizonte.
Morin, E., (1972). El cine o el hombre imaginario, Barcelona: Seix Barral.
Reeves B., & Nass C. (2003). The Media Equation: How People Treat Computers, Television, and New Media Like Real People and Places Stanford
University: Center for the Study of Language and Information.
Wallis, J. (2007). Making Games that Make Stories. Cambridge, MA: MIT Press.
Textos em linha
Hobbes, T. (1681), Animation / Fiction. http://csmt. uchicago.edu/ glossary2004/animation.htm. Acedido em 19 Abril de 2014.
37
R EFLE X Ã O
Construction Toys
Make Better Boys1
Se tivesse que escolher uma Outros objectos não possuem nenhum valor funcional
permanecendo, contudo, o seu valor simbólico, como
categoria de objectos que reflicta
acontece com os objectos religiosos ou com as obras
todas as relações sociais e
de arte. Neste caso não existe uma “utilidade”, pois a
económicas, artísticas e culturais do
função da obra de arte está exclusivamente ancorada
passado e do presente, escolheria no seu valor simbólico. Os objectos simbólicos
certamente os brinquedos. existem alimentados pela sua capacidade em veicular
Ao procurarmos analisar o significados e não pela sua utilidade enquanto
funcionamento desta parte central ferramentas.
das diversas culturas materiais Através do estudo destas duas categorias, função e
1
Este frase encontra-se numa caixa de construções The Constructioneer da Urbana Manufacturing Company, Urbana, Ohio de 1947
2
Brougère, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 2000.
3
Bathers, Roland. Mythologies. Paris: Seuil, 1957
4
Brougère, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 2000
MARCO GINOULHIAC
ARQUITETO
PROFESSOR FAUP
Quando o brinquedo é um artefacto feito 1920 reproduzindo os veículos reais que iam circulando,
para ser brinquedo (ou seja quando não é um cada vez mais numerosos, pelas ruas da Europa e dos
EUA; ou, ainda, todos os brinquedos que repetiam, em
objecto vulgar adaptado, pelo contexto da
miniatura, a cultura doméstica do pós-guerra com os
brincadeira, a brinquedo), é algo pensado e
seus numerosos eletrodomésticos e as suas rotinas,
produzido pelos adultos para as crianças e deixando claras as suas configurações sociais e
inserido numa narrativa educativa que visa familiares; e, em geral, todos aqueles que permitiam
a reprodução daquilo que é considerada a às crianças brincar com instituições do universo adulto
como a polícia, os bombeiros, os correios ou a escola.
parte mais importante ou significativa de cada
sociedade.
Pensamos, por exemplo, nos soldadinhos de chumbo O poder educativo dos brinquedos não é, contudo,
que participaram nas brincadeiras de imensas crianças exclusivo do século XX; desde o século XVIII vários
entre o século XVIII e XX, representando a cultura pensadores, entre os quais o filósofo inglês John Locke
militar de cada época; ou os carrinhos em metal que (1632 – 1704), a escritora irlandesa Maria Edgeworth
começaram a ser produzidos na Alemanha na década de (1768 –1849)5 , ou ainda, um pouco mais tarde, já no
39
R EFLE X Ã O
Construction Toys
Make Better Boys
(continuação)
século XIX, o suíço Johann Pestalozzi (1746-1827) ou permitiram um sustancial aumento da produção e do
o alemão Friedrich Fröebel (1782–1852), defenderam a consumo dos brinquedos. Os brinquedos da segunda
importância do uso de artefactos específicos utilizados metade do século XIX e de todo o século XX foram
em brincadeiras com as crianças de forma a facilitar a considerados como uma oportunidade para satisfazer
aprendizagem. Entre esses Fröebel, que ficou conhecido uma das inquietações mais antigas e universais que o
pela invenção do Kindergarten (jardim de infância), ser humano possui: a sua reprodução intelectual.
chegou a desenvolver dois conjuntos de objectos: os
primeiros, que chamou de gift, tinham a função de Uma das disciplinas que manteve uma maior ligação às
educar à descoberta através do entretenimento; os rotinas e aos brinquedos dos programas Froebelianos
segundos, chamados de actividade (occupations), foi a Arquitectura. O próprio Fröebel, que chegou a
serviam para treinar a criação através do exercício do frequentar um curso de Arquitectura, reforçou esta
poder. Ainda hoje se encontram estes conjuntos em ligação tanto nos seus textos como nos manuais de
muitas escolas infantis do mundo inteiro, estando na apoio aos artefactos. O reconhecimento das formas
base dos programas educativos e, em geral, de muitos e a composição tridimensional são competências
brinquedos para a primeira infância. claramente ligadas aos gifts e não é por acaso que o
Os brinquedos de Fröebel, faziam parte integrante de próprio arquitecto Frank Lloyd Wright (filho de uma
um programa de ensino inspirado na mineralogia que educadora de infância com formação froebeliana), teve
procurava desenvolver na criança capacidades de na sua autobiografia o cuidado de relembrar que em
compreensão e de criação de formas geométricas bi criança brincou muito com os gifts e que este brincar
e tridimensionais, além de competências técnicas e teve um efeito considerável na sua vida profissional.
manuais. A partir do momento em que foi homologada
uma teoria pedagógica que integrava os brinquedos A ligação entre a Arquitectura e os brinquedos, além
como ferramentas educativas, todos os sectores do de ser uma das que mais cedo se encontra no instinto
saber procuraram encontrar a melhor forma de serem constructivo das crianças (que se manifesta de cada vez
representados e reproduzidos para que existisse, já na que estas empilham cubos, caixas ou peças de Lego) é,
infância, uma reprodução disciplinar. também, uma das mais antigas e que, de certa forma,
Além das alterações sociais, económicas (nos acompanha e representa as várias fases da própria
próprios meios e técnicas de produção), esta vontade disciplina da Arquitectura. Assim, os gift de Fröebel
“educativa” foi uma das razões que, desde o século XIX, serviram de modelo para uma grande quantidade de
5
“We have recommended the use of plain, regular solids, cubes, globes, etc. Made of wood, as playthings for children, instead of uncouth figures
of men, women and animals. For teaching arithmetic, half inch cubes, which can be easily grasped by infant fingers, mat be employed with
great advantage; they can be easily arranged in various combinations (…)” Practical Education. Vol II. Chap. XVI. Geometry. Maria Edgeworth e
Richard Lovell Edgeworth. p 40. 1798
MARCO GINOULHIAC
ARQUITETO
PROFESSOR FAUP
caixas de construção que, desde o século XIX, invadiram formais da Arquitectura. Se nas primeiras décadas do
o mercado prometendo a renovação da educação em século XX a Anker produziu conjuntos inspirados nas
Arquitectura. Por vezes inspiradas na simplicidade de fortalezas da primeira guerra mundial, mais tarde, a sua
sólidos básicos e auxiliadas por livretes de instruções produção inspirar-se-á no revivalismo, no eclectismo
com modelos mais complexos, outras, reproduzindo nas linguagens da arquitectura industrial que se iam
edifícios inteiros ou, ainda, tecnologias construtivas. alastrando por toda a Europa.
41
R EFLE X Ã O
Construction Toys
Make Better Boys
(continuação)
educaram, de forma muito idêntica, milhares de crianças às vanguardas artísticas alastraram-se ao desenho
durante praticamente todo o século através das suas de brinquedos, como na escola Bauhaus em Dessaut
peças metálicas perfuradas com as quais era possível (1919-1933). Os brinquedos além de representar
construir uma enorme panóplia de máquinas e veículos, frequentemente um tema para os exercícios nas várias
edifícios ou outras criações mais ou menos complexas. artes, eram objecto de produção e venda por parte da
instituição. Ainda hoje, a firma de brinquedos suíça Naef
Os dois brinquedos ficaram também conhecidos pelo tem no seu catálogo brinquedos desenhados por Alma
esforço dos seus produtores em divulgar a cultura Siedhoff‐Buscher, em 1923, ou por Ludwig Hirschfeld‐
técnica e científica da época através da publicação Mack, em 1924.
de revistas e concursos. A Meccano Magazine, por
exemplo, foi publicada entre 1916 e 1963 com um As cores primárias e os sólidos
grande sucesso de venda junto de várias camadas
elementares procuravam quebrar a
etárias e sociais.
tradicional ligação entre o mundo
imaginário dos brinquedos e o real partindo
da ideia que o primeiro era, normalmente,
uma imagem reduzida do segundo. Havia
subjacente uma clara vontade em transmitir
às novas gerações novos valores artísticos
criando uma ruptura com o anterior
formalismo. Tanto no campo da arte como
no da educação, a psicologia cognitiva
começou a ganhar um lugar de destaque
na abordagem ao desenvolvimento da
1923 - Bauspiele de Alma Siedhoff‐Buscher criança, consagrando o manuseamento
6
Chudacoff, Howard P. Children at play: an American history. New York: New York University Press, 2007.
MARCO GINOULHIAC
ARQUITETO
PROFESSOR FAUP
pelo arquitecto alemão Bruno Taut. No seu desenho são A mesma Arquitectura industrial foi evocada de forma
introduzidos dois temas do trabalho de Taut enquanto mais sintetizada e abstracta nos blocos Build the Town
arquitecto: o vidro e a cor. Os blocos, com formas do designer checo Ladislav Sutnar que, em 1940. Três
simples, eram feitos em cristal colorido apelando à sólidos: um paralelepípedo, um prisma triangular e um
tecnologia que o arquitecto tinha utilizado cinco anos tronco de cone, pintados com cores vividas e padrões
antes no projecto do pavilhão para a indústria vidreira elementares, permitem várias combinações de edifícios
em Colonia. Cores e transparências remetiam para o que resultam facilmente reconhecíveis, por mais simples
universo teórico que Taut tinha construído ao redor da que fossem. Na mesma época nos Estados Unidos,
uma Arquitectura a partrir dos contactos com o filósofo John Loyd Wright, filho do famoso arquitecto Frank
alemão Paul Scheerbart, autor do livro Glasarchitektur. 7
Lloyd Wright, desenou um brinquedo que representava
Em 1920, o conjunto Fabrik do arquitecto austríaco Josef o espirito doméstico de uma nação8. Ainda hoje à venda,
Hoffman representa uma abordagem mais explícita o Lincoln Log é um sistema de construções que permite
à Arquitectura numa escala urbana. Com pequenos construir cabanas em madeira e que deve o seu nome a
blocos em madeira pintada a criança podia construir Abraham Lincoln, 16º presidente dos EUA.
uma cidade caracterizada por prédios de grandes O mesmo autor desenhou outros sistemas de construção
dimensões e edifícios industriais com a linguagem claramente inspirados na arquitectura do pai e, de
severa da cidade moderna. alguma forma, na época histórica.
7
Em 1920 Taut chega a fazer uma referência ao brinquedo Dandanah na Crystal Chain, uma troca de correspondência entre um pequeno grupo
de arquitectos alemães entre Novembro de 1919 e Dezembro de 1920. Neste ano Taut escreve: “but there is an ever-changing life in it. It’s simply
fantastic what effects the light produced, and yet within a fixed form. The vessel of the new spirit that we are preparing will be like this”. Taut,
Bruno. Letter to the Crystal Chain, April 15, 1920. In Whyte, Iain B., and Bruno Taut. The Crystal Chain letters: architectural fantasies by Bruno Taut
and his circle. Cambridge, Mass: MIT Press, 1985 p. 84.
8
Kinchin, Juliet, et al. Century of the child: growing by design, 1900-2000. New York: Museum of Modern Art, 2012.
43
R EFLE X Ã O
Construction Toys
Make Better Boys
(continuação)
9
Colomina, Beatriz, Annmarie Brennan, and Jeannie Kim. Cold war hothouses : inventing postwar culture, from cockpit to playboy. New York:
Princeton Architectural Press, 2004.
MARCO GINOULHIAC
ARQUITETO
PROFESSOR FAUP
XX. O inglês Betta Bilda, da Airfix, ou o norte-americano Balancing Block ou Geemo são dois exemplos norte-
Supercity são dois exemplos entre muitos sistemas americanos que bem exemplificam estas dinâmicas.
que abrangiam quer a produção de pequenos tijolos, O primeiro é um sistema de construções em madeira
quer estruturas complexas ou verdadeiros sistemas de pintada cujas formas facetadas irregulares, com um
prefabricação, como era o caso do alemão Baukasten, acabamento propositadamente “retrô”, evocam edifícios
ou do Girder and Panel, ambos de 1960. contemporâneos como a Casa da Musica do Porto ou a
Libraria de Seattle, ambos do arquitecto holandês Rem
Nas últimas duas décadas do século XX Koolhaas. Enquanto Geemo, um sistema de elementos
com formas orgânicas baseado em junções magnéticas,
assistiu-se a um eclipse dos brinquedos
remete para as formas de algumas arquitecturas
de Arquitectura e, em geral, de todos os
orgânicas como as de Peter Cook, de Zaha Hadid ou de
brinquedos ligados a alguma manualidade Frank Gehry’s.
e manipulação directa dos materiais em
favor dos jogos electrónicos. Todos estes exemplos representam ligações explícitas
entre o universo lúdico/educativo dos brinquedos e o
Este entusiasmo quase arruinou firmas como a Lego universo disciplinar da Arquitectura. Ligações com dois
á falência e o computador ganhou um protagonismo sentidos de leitura: dos brinquedos, enquanto objectos
absoluto tanto como objecto lúdico como, e sobretudo, educativos, para a Arquitectura e da Arquitectura,
Recentemente assistiu-se a um retorno aos “velhos parte da disciplina é conservada e transmitida para as
tempo” veiculado por uma certa nostalgia do tempo gerações futuras, pois como o sociólogo francês Gilles
passado mas também pelas novas tendências ligadas Brougère afirma: “os brinquedos são a materialização
ao gosto pelo artesanato e pelos trabalhos manuais. de um projecto dos adultos para as crianças”10. Neste
Tanto do lado do desenho e produção, como do lado sentido eles são, certamente, os objectos com o maior
do utilizador, isto permitiu o aparecimento de novos potencial cultural e intelectual para compreender o
brinquedos, alguns deles inspirados em linguagens e passado, mas também o presente que queremos
10
Brougère, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 2000. p. 63.
45
REFLE X Ã O
DAS FONTAINHAS
NO PORTO.
DESAFIOS E CONTRIBUTOS DO ENSINO DA ARQUITETURA
PARA A QUALIFICAÇÃO DA CIDADE CONTEMPORÂNEA
“Saber ver a arquitetura”1 , será, talvez, o primeiro realizada em setembro de 2014 e publicada com o
passo e requisito essencial para saber fazer projetos de apoio do Departamento de Arquitetura. Esta exposição
arquitetura e, em última análise, para saber concretizá- sintetiza o percurso projetual do MIA, que se inicia com
los. Três saberes sobre e para a arquitetura que a elaboração de exercícios mais abstratos, introduzindo
exigem um método de ensino estruturado; um método a problemática do espaço arquitetónico e do lugar
que, para além da observação e compreensão do numa estreita articulação com a disciplina de Desenho;
espaço, da realização de exercícios de projeto, impõe prossegue gradualmente para o desenvolvimento de
uma reflexão, periódica e atenta, sobre os resultados temas e programas sobre a habitação, os equipamentos
que decorrem da sua aplicação. Em linha com este e o desenho urbano; e acaba com a concepção de
entendimento, o Mestrado Integrado em Arquitetura projetos finais de maior complexidade programática
(MIA) da Escola Superior Artística do Porto (ESAP) tem e conceptual, onde se exige a aplicação e integração
vindo a realizar com maior frequência exposições sobre estruturada dos saberes adquiridos e amadurecidos
trabalhos desenvolvidos pelos discentes no âmbito das ao longo dos anteriores anos curriculares. Neste
disciplinas de projeto, a última das quais, a Coletiva, percurso proporcionam-se desafios e, ao mesmo
1
Zevi, B., (1996), Saber ver a Arquitetura, 5ª ed., São Paulo: Martins Fontes.
PAOLO MARCOLIN
SUSANA MILÃO
FÁTIMA FERNANDES
JOAQUIM FLORES
ARQUITETOS
ESCOLA SUPERIOR ARTÍSTICA DO PORTO
tempo, oportunidades para discentes e docentes se neste dois últimos anos letivos destacam-se os que
confrontarem com as questões da transformação urbana, incidiram na Zona das Fontainhas, um território urbano
e do projeto de arquitetura como principal instrumento que se distingue pelas suas caraterísticas físicas,
de intervenção e de qualificação do tecido urbano, como sejam a geomorfologia da escarpa e a suas
produzindo soluções que, além de constituírem etapas diversas situações panorâmicas, e pela persistência
fundamentais no processo de aprendizagem, procuram de carências estruturais que se prendem com a falta
contribuir para enriquecer o debate e a reflexão sobre a de acessibilidades, infraestruturas e espaços públicos
maneira de entender a cidade contemporânea e o papel qualificados, e com a necessidade de uma ação mais
da arquitetura. De entre os desafios de projeto lançados consistente em matéria de habitação.
47
REFLE X Ã O
De facto, apesar de ter sido alvo de várias propostas, caráter sociocultural e espacial, desenvolvidos nas áreas
a última das quais o projeto para a requalificação da disciplinares da Antropologia, Sociologia e Desenho,
Avenida Gustavo Eiffel na marginal entre as pontes D. os discentes do segundo e quinto ano do MIA foram
Luiz I e D. Maria Pia, da autoria do Arquiteto Manuel convidados a desenvolver, individualmente, propostas
Fernandes de Sá, que prevê a passagem de uma de projeto de escalas e complexidade programática
ciclovia e a criação de varandas para uma melhor fruição distintas.
da paisagem ribeirinha, esta zona continua a necessitar
de uma intervenção de regeneração e de reabilitação No âmbito do segundo ano, as propostas de projeto
urbana mais profunda e abrangente, que permita criar centraram-se na requalificação do espaço público
condições para uma efetiva utilização e habitabilidade Largo Baltazar Guedes, vulgarmente designado por
dos seus espaços. Assim sendo, e aproveitando Largo Colégio dos Órfãos, e na criação de um Conjunto
ainda das informações de diversos estudos realizados Habitacional para a Comunidade Salesiana que,
na ESAP ao longo dos últimos anos sobre esta zona, atualmente, tem as suas instalações escolares no Largo
nomeadamente os que privilegiaram um enfoque de Padre Baltazar Guedes. Em relação ao Largo Baltazar
PAOLO MARCOLIN
SUSANA MILÃO
FÁTIMA FERNANDES
JOAQUIM FLORES
ARQUITETOS
ESCOLA SUPERIOR ARTÍSTICA DO PORTO
Guedes, partiu-se do princípio de que, para assegurar (distante). Quanto ao Conjunto Habitacional, definiu-
a sua melhor integração na cidade, este espaço público se como fundamento e princípio de projeto integrar o
assumiria um carácter de utilização pedonal e de lazer, construído e o não construído. Nesse sentido, o habitar
tendo como premissas fundamentais o estabelecimento havia de ser projetado tendo em consideração a relação
da ligação pedonal à ponte D. Maria e Fontainhas, entre interior e exterior (colectivo ao individual), nas suas
e o acesso pontual automóvel (cargas/descargas, diferentes gradações, e na correspondente definição
emergência, mobilidade condicionada, etc.) ao cemitério e hierarquização do espaço exterior. Assim, a área de
e à zona desportiva do Colégio dos Salesianos. Outro intervenção situada no terreno com frente para o Largo
aspeto relacionado com o programa, foi a colocação Padre Baltazar Guedes, confrontante a Poente com a Rua
de um pavilhão/escultura, da autoria de Dan Graham, Gomes Freire, a Nascente com o Colégio dos Salesianos
associado à área de permanência do Largo. A proposta e a sul com a escarpa do Rio Douro, deveria assegurar
arquitetónica havia de procurar estabelecer relações a relação física entre as duas plataformas existente à
com o edificado e a comunidade local, bem como cota do Largo, definindo a “entrada pública” e o acesso
a valorização das relações visuais com a paisagem interior do terreno na conjugação com um equipamento
49
REFLE X Ã O
de apoio ao conjunto habitacional e área envolvente, índole cultural, mas também como oportunidade para
constituído por balneários e lavadouros públicos. Das a extensão social e espacial da cidade através da
premissas conceptuais e programáticas destes desafios inserção de um novo nível de interatividade entre funções
resultaram experiências distintas, sobretudo na maneira artísticas que desempenham um papel fundamental
de organizar formas e materialidades ordenadoras do para o desenvolvimento das práticas culturais e das
espaço urbano, mas unanimemente preocupadas com interseções sociais. As condições básicas para a
a questão das relação entre as partes e a paisagem, organização arquitetónica deste edifício impõem a
perseguindo o mais possível um sistema de equilíbrio distinção de três blocos de espaços para diferentes
entre a afirmação plástica e identitária dos elementos tipos de funcionalidades e utilizadores: um destinado
arquitetónicos, e o resultado global do projeto, restituindo ao público em geral, que reúne funções de recepção,
deste modo um contributo que, de certo modo, reitera a comércio, restauração, lazer, exposição, educação
importância da arquitetura do espaço urbano. e formação; outro para a recepção dos funcionários
Já no que respeita ao quinto ano e último ano do MIA, e os serviços auxiliares relativos aos escritórios e às
as propostas dos discentes no âmbito da unidade indústrias criativas; e outro ainda, estritamente limitado
curricular de Trabalho de Projeto, ainda em fase de a pessoal autorizado, especificamente concebido
elaboração, preveem dois programas distintos. Um para a recepção, preparação e armazenamento das
deles prende-se com a realização de um projeto para um obras de arte. A formalização do espaço arquitetónico
Centro de Produção de Arte e Ofícios, a localizar numa do edifício será ainda pretexto para uma operação de
área próxima da Praça da Batalha, caraterizada por reconversão funcional do referido terminal rodoviário e
um intenso movimento, tanto pedonal como rodoviário, para a inserção de espaços públicos qualificados em
que abrange a Encosta dos Guindais e o Terminal articulação com as intervenções de qualificação urbana
Rodoviário do Parque das Camélias. Trata-se, neste desenvolvidas no âmbito da iniciativa Porto 2001.
caso, de implantar um edifício de caráter multifuncional O outro programa tem a ver com a Reabilitação Urbana
que deverá constituir-se não só como uma alternativa da Escarpa das Fontainhas, e deverá ser desenvolvido
às tipologias mais tradicionais dos equipamentos de a uma escala de maior abrangência espacial,
PAOLO MARCOLIN
SUSANA MILÃO
FÁTIMA FERNANDES
JOAQUIM FLORES
ARQUITETOS
ESCOLA SUPERIOR ARTÍSTICA DO PORTO
compreendendo a totalidade da encosta escarpada desafio lançado aos discentes é o de entender o valor
situada junto à margem do Rio Douro entre as Pontes que a escarpa tem hoje em dia no contexto geral da
de D. Luís I e de D. Maria, com vista a desencadear cidade, e no contexto específico da frente ribeirinha
uma reflexão sobre a vocação desta área no contexto que brevemente será requalificada neste troço entre as
global da cidade. Tal implicará percebê-la nas suas duas pontes representativas da tecnologia construtiva
diversas dimensões (física, social, estética, funcional, do ferro no Porto. A complexidade deste desafio deverá
etc.) e integrá-la nas diversas escalas da abordagem estimular o desenvolvimento do conceito e a descoberta
ao projeto de escala intermédia. Neste caso, o principal da solução projetual.
51
REFLE X Ã O
2
Solà-Morales, I., (2002),Territórios. Barcelona: Editorial Gustavo Gili.
3
Davies, C., (2011), Thinking about Architecture. An Introduction to Architectural Theory, London: Laurence King Publishing Ldt.
PAOLO MARCOLIN
SUSANA MILÃO
FÁTIMA FERNANDES
JOAQUIM FLORES
ARQUITETOS
ESCOLA SUPERIOR ARTÍSTICA DO PORTO
Escarpa das Fontainhas e ramais ferroviários da Alfândega e de São Bento, Fonte: Nuno Mourão, 2010.
O Processo Criativo:
do transcendente ao design thinking
Criatividade
Apesar de, há uns anos a este parte, se falar muito de esteve imbuída de uma enorme carga filosófica e
criatividade e do seu enorme potencial para as mais religiosa, que dificultou uma definição coerente e
diversas áreas do conhecimento humano, o interesse racional do seu termo. Assim, e apesar do conceito
por esta temática não é recente. de criatividade existir desde a antiguidade, é apenas
Sendo, atualmente, reconhecida como uma capacidade em 1950, com o artigo do psicólogo J. P. Guilford,
humana, foi apontada durante longos séculos como algo intitulado “Creativity” - investigação centrada sobretudo
que nos transcende, resultado de magia, proveniente na questão da personalidade criativa e sua importância
de forças divinas ou demoníacas. Um fenómeno para a industria, a ciência, as artes e no ensino – que se
complexo que englobou as mais diversas atividades e abre o caminho para um maior e fundamentado estudo
acontecimentos, como o encantamento e pinturas do científico sobre o tema.
homem primitivo, o aparecimento de novas formas na Contudo, apesar do enorme quantidade e variedade
natureza e, até mesmo, o génio malévolo de Fausto. de publicações que vêm sendo lançadas sobre esta
Etimologicamente, o termo criatividade provem do temática, verificamos a ausência de uma definição
verbo latim “creare”, que significa originar, gerar, que seja cabal, precisa e objectiva. Confirmando
formar, remetendo-o para raízes de dimensão criadora a criatividade como “um fenómeno multifacetado e
e transformadora. Mas por muitos anos a sua noção complexo”.
RUI TEIXEIRA
PROFESSOR DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
Processo criativo
Embora inicialmente o fenómeno da novas ideias decorrentes dos seus próprios processos
criatividade tenha sido estudado sobretudo por de trabalho.
psicólogos e pedagogos, foram os cientistas Apesar de aparentemente Poincaré não ter aprofundado
das ciências naturais quem procurou, pela mais a sua explicação sobre processos criativos, os
primeira vez, explicar os mecanismos e seus apontamentos sobre este tema tiveram uma
estruturas do processo criativo. grande influência em diversos estudiosos da área da
Assim, seguindo um ponto de vista processual, criatividade.
propuseram uma aproximação ao ato criativo, Dessa forma, em 1926, impulsionado pelos relatos
desmontando-o em fases e etapas criativas na tentativa de Poincaré, Graham Wallas, desenvolve um modelo
de perceber o caminho percorrido até o alcance do composto por fases, que publicou em “The art of
“produto criativo”. thought”.
As primeiras referências à existência de uma estrutura Este modelo que, segundo Katja Tschimmel (2010),
do processo criativo composta por múltiplas fases é a base das atuais teorias sobre a estrutura fásica
surgiram em 1924, por Henri Poincaré, na sua obra do pensamento criativo, bem como das numerosas
“The foundation of science”, resultado da reflexão deste descrições de processos de resolução de problemas e
cientista, matemático e filósofo, sobre a formação de de processos de design, é composto por quatro fases:
55
REFLE X Ã O
1.Preparação: recolha das informações necessárias Martínez (1999) chama atenção para o facto deste
sobre o problema e análise preliminar usando os seus modelo se apoiar no mito da criatividade entendida como
conhecimentos e capacidades analíticas; “iluminação”, como surgimento súbito e espontâneo de
2.Incubação: fase de preparação do caminho para ideias provenientes do subconsciente e que o próprio
a solução do problema, aparentemente, não é uma sujeito não sabe como explicar. No entanto, e apesar de
atividade consciente e supõe-se que nela trabalhem os recorrer à intervenção de mecanismos não controláveis,
processos subconscientes na formação de combinações e sem uma explicação operacional da sua forma de
conceptuais; atuação, trata-se de um dos modelos de obteve maior
3.Iluminação: Aparecimento súbito da solução repercussão.
criativa; Mais recentemente, alguns modelos abriram essa
4.Verificação: refinamento e comprovação da “caixa negra”, e analisam os diversos componentes
validade das ideias. específicos e fases do seus processos criativos.
Porquanto, é um modelo que se foca no desenvolvimento Tais modelos apresentam as ligações lógicas entre os
de soluções criativas através de momentos de resultados de uma das fases da resolução criativa de
inspiração, considerados , pelo autor, nucleares no problemas e as fases subsequentes, examinando a
processo criativo. forma como esses elementos se relacionam e, em última
instância, geram um “produto criativo”.
RUI TEIXEIRA
PROFESSOR DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
Entre as numerosas e diferentes abordagens que inúmeras vezes, enquanto se exploram problemas e
expandem este modelo por etapas de Wallas, Tschimmel tentam desenvolver uma solução criativa efetiva (Fink,
(2010) aponta o modelo fásico concebido por Guntern, Ward & Smith, 1992).
por o considerar mais completo. Também, nas estruturas que suportam a atividade
Neste modelo o autor subdivide o processo criativo em projetual de design ou, mais recentemente, nos modelos
sete momentos: 1.º a germinação, 2.º a inspiração, 3.º do chamado design thinking podemos encontrar
a preparação, 4.º a incubação, 5.º a iluminação, 6.º a um grande alinhamento com as considerações
elaboração e, por fim, 7.º a verificação. anteriormente apresentadas.
Guntern refere que estas sete fases são delimitáveis mas Apesar destes terem especificações orientadas para a
que não ocorrem numa sequência linear simples: podem- ação e para processos técnicos, o que distingue design
se repetir, acontecer em simultâneo ou ser omitidas; de uma atividade puramente artística, percebe-se entre
podem decorrer consciente ou inconscientemente; as fases que os constituem um processo iterativo,
podem decorrer com intensidades e velocidades muito onde o conceito da não linearidade está presente e
diversas. ocorre repetidas vezes para se chegar a um resultado
Por conseguinte, o processo criativo pode agora ser “desejável”, podendo gerar outros resultados parciais
definido como uma série de iterações sucessivas, que serão novamente reutilizados para geração de
onde as ideias são concebidas, analisadas, e revistas novas soluções criativas.
57
De uma forma mais específica, podemos afirmar que Para Brown, não existe uma “melhor forma”
no design thinking, o mesmo processo acontece de de percorrer o processo. Há pontos de
forma sistemática, todas as suas etapas são definidas partida e pontos de referência úteis ao longo
e moldadas pelo pensamento do designer que constrói do caminho, mas o continuum da inovação
uma lógica de raciocínio de inovação criativa e viável, pode ser visto mais como um sistema de
baseada na sua experiência e conhecimentos e espaços que se sobrepõem, do que como uma
delineados pelo pensamento analítico e intuitivo. sequencia de passos ordenados.
O modelo concebido por Tim Brown, CEO e Presidente
da empresa de design IDEO, evidência a lógica No entanto reconhece alguns princípios e ferramentas
apresentada, através da sistematização dos seus que facilitam esse percurso processual, bem como a
processos de design, numa estrutura composta por, o obtenção de bons resultados, estes são:
que apelidou de, três "espaços" da criação: - Insights obtidos pela observação do comportamento
a) Inspiração, o problema ou oportunidade que motiva real de pessoas, especialmente pela forma como se
a busca de soluções; relacionam entre elas;
b) Ideação, o processo de gerar , desenvolver e testar - Observação daquilo que as pessoas fazem e não
ideias; fazem, ouvindo o que eles dizem e não dizem;
c) Implementação, o caminho que leva da sala de - Empatia, sentindo as pessoas reais pois elas não são
projeto para o mercado. objetos, mas indivíduos com seu próprio mundo;
- Prototipagem ajuda a gerar resultados mais rápidos, Estamos perante um processo
é mais fácil de avaliar ideias que se tornam tangíveis -
centrado no ser humano, que se
também se podem prototipar organizações;
pretende eticamente correto, e
- Experiências, através da sua simulação e projeção
integrador de todo o espectro de
(voos, restaurantes, etc.);
- Storytelling, contar histórias abre uma nova dimensão
atividades que visam a inovação.
para a concepção do tempo, das memórias, dos Se é verdade que sem criatividade
cenários, abrindo novos pontos de vista sobre as coisas, não há evolução, também não é
atribuindo-lhes novos significados. menos verosímil que o aprofundar
Assim, segundo Brown (2010), a missão do design do estudo dos processos criativos
thinking é traduzir observações em insights, e estes contribuiu de forma muito
em produtos e serviços capazes de melhorar a vida da
significativa para estes evoluíssem
espécie humana. Construções suportadas pela empatia,
no sentido de melhor servirem o bem
numa tentativa de ver o mundo através dos olhos dos
outros, de o compreender por meio das experiências e
estar humano.
emoções alheias.
59
REFLE X Ã O
Evolução do Concurso Educacional Sqédio ao longo dos anos (Poster de divulgação, estatísticas)
61
R EFLE X Ã O
Esta mini-escavadora ganhou o Concurso Educacional em 2003. o ISEL, o IPL entre muitas outras começaram a dar os
Foi desenhada pelo Nuno Pires e pelo Marco Moreira, estudantes na
seus primeiros passos com SolidWorks, substituindo no
Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de
Leiria processo ferramentas tecnologicamente ultrapassadas.
RUI ALEXANDRE
DIRETOR PRÉ-VENDA, MARKETING E EDUCAÇÃO
SQÉDIO, SA
A título de referência, a Sqédio conta hoje como clientes Concurso da Sqédio decorreu em 1998, acompanhando
educacionais praticamente todas as instituições públicas a muito recente instalação na Universidade de Aveiro
de ensino na área da mecânica e do design industrial, e os primeiros projectos criados por estudantes desta
bem como muitas das escolas privadas, centros de Universidade. Mas foi a partir de 2002 que o Concurso
formação e escolas militares. Outra tendência, mais ganhou um novo fôlego, potenciado pelas instalações
recente, é a crescente adopção do SolidWorks por parte em muitas outras Universidades. Seguiram-se as edições
de escolas secundárias e vocacionais, em particular as de 2003, 2004 e 2005-2006. Após um interregno, o
de ensino artístico, de que a Escola Artistica de Soares concurso foi retomado em 2012, e teve a sua mais recente
dos Reis no Porto é um excelente exemplo. edição neste ano de 2014. A edição de 2012 introduziu
A ideia de um Concurso Educacional, de tema algumas inovações ao nível do regulamento, em
aberto, destinado a premiar projectos de qualidade particular no que diz respeito aos prémios. Inicialmente
desenhados em SolidWorks por estudantes nacionais, prevendo apenas três prémios monetários para os três
reconhecendo o seu mérito técnico e criatividade primeiros lugares, a edição de 2012 introduziu um maior
também não é exactamente nova. A primeira edição do número de prémios para os estudantes (Grande Prémio
63
27
R EFLE X Ã O
Habitualmente prolífica na apresentação de projectos a concurso, a Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (IPL) participou, sob
a orientação do Prof. João Mateus, com 15 projectos na última edição
RUI ALEXANDRE
DIRETOR PRÉ-VENDA, MARKETING E EDUCAÇÃO
SQÉDIO, SA
Projecto, Criatividade, Modelação, Simulação, Imagem melhor talento de engenharia de Portugal.” Palavras
e Animação), bem como distinções para a Instituição e que gostamos de ouvir, naturalmente. Contribuímos
o Professor responsável. Foi criado também o Prémio do para mostrar publicamente o esforço e dedicação
Público, atribuído ao projecto com maior votação online colocados nos trabalhos que recebemos, que vai muitas
na plataforma Facebook. vezes e sem qualquer margem de dúvida muito para
Desde 2002 a Sqédio recebeu ao seu cuidado como além do que poderia ser exigido pelos professores
participantes no concurso 163 projectos criados por numa determinada cadeira ou projecto académico.
278 alunos. No total mais de 30.000 ficheiros, ocupando Professores que naturalmente desempenham um papel
mais de 25GB de informação. Outra tendência, que essencial na divulgação do Concurso junto dos seus
verificamos com agrado, é a crescente participação estudantes, posicionando-o frequentemente como um
de estudantes do sexo feminino. Analisar a temática motivador adicional para a procura de elevados padrões
dos projectos recebidos torna-se no entanto um de qualidade nos trabalhos prácticos apresentados.
exercício de difícil validade estatística, dada a enorme Em jeito de conclusão, diria o seguinte: o Concurso
variedade do que nos chega todos os anos: de pentes educacional da Sqédio é um projecto vivo, vibrante,
de cabelo a escavadoras, passando por candeeiros, com história e com futuro. Como interveniente na sua
motores, bicicletas, canivetes e máquinas de café, organização desde a primeira hora, sinto um orgulho
brinquedos diversos, carros e aviões, parques infantis especial por contribuir para a sua melhoria contínua. Mais
e microscópios, lagares de azeite e naves espacias, do que suportado em intenções comerciais, o Concurso
recebemos efectivamente um pouco de tudo aquilo foi pensado e executado desde o princípio para ser uma
que constitui o imaginário criativo dos estudantes, montra daquilo que os nossos estudantes decidirem
representado em 3D com o auxílio do SolidWorks. criar em 3D. Para estimular o seu empreendorismo
O concurso é também aplaudido pela SolidWorks a criativo, para os ajudar a transferir ideias da cabeça
nível mundial – Marie Planchard, Directora Mundial para o palpável, resolvendo pelo caminho os problemas
da SolidWorks para a área da Educação afirmou inerentes a esta mudança básica de paradigma. E, pelo
por exemplo em 2007, que “o calibre de projeto que que temos visto até agora, estamos muito optimistas no
verificamos nos estudantes deste concurso exige um que o seu trabalho e as suas capacidades conseguirão
reconhecimento especial”; e mais recentemente em criar daqui para a frente.
2012, que “o Concurso da Sqédio apresenta algum do
65
ATIVI DA DE
fábricas
digitais
A “Fábricas digitais” é uma atividade onde se coloca em
prática o Ciclo Industrial de um produto. Recorre a noções de
CNC, Prototipagem, Desenho CAD, Marketing e Planeamento
de produção. Fornece aos alunos a possibilidade de
impressão dos vários protótipos de produtos usando a mais
recente tecnologia de impressão 3D.
JORGE JESUS
PROFESSOR DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
COORDENADOR EASR DA ATIVIDADE FÁBRICAS DIGITAIS
A Escola Artística Soares dos Reis associou-se a este replicável”, ou seja, qualquer um pode construir tendo
projeto, através do Curso de Design de Produto e o elo os materiais necessários e tempo! É uma extensão mais
de ligação foi o CATIM - Centro de apoio tecnológico tecnológica e técnica da cultura “Faça Você Mesmo”
à indústria metalomecânica. Os alunos voluntários que (DIY - Do It Yourself).
participaram nesta atividade extra curricular foram: a
Raquel Jesus, a Inês Fernandes, a Luísa Prieto, o Bruno A Impressão 3D também conhecida como prototipagem
Filipe, o Bruno Silva e a Joana Silva, construíram uma rápida, é uma forma de tecnologia de fabricação aditiva
impressora 3D durante o 1º período do atual ano letivo onde um modelo tridimensional é criado por sucessivas
2014/15. camadas de material. Trata-se de uma tecnologia
Esta impressora 3D é um hardware eletrônico projetado e de impressão avançada que permite imitar com
oferecido da mesma maneira que um software de código precisão quase exata a aparência e funcionalidades
livre (open source), composta por uma placa “Arduino” dos protótipos dos produtos. Convém realçar que se
(plataforma de prototipagem electrónica de hardware o utilizador não souber modelar os seus produtos, a
livre e de placa única, com suporte de entrada e saída impressora 3D não servirá para nada...
embutido que utiliza uma linguagem de programação
padrão) e uma série de componentes, onde a grande A atividade “Fábricas Digitais” correu como
generalidade poderá ser comprada na Rua do Almada programada e o seu resultado é sem dúvida uma
– Porto. Como a maioria das peças da Impressora 3D mais valia para os nossos alunos, que têm agora
são feitas de plástico e a própria impressora pode a possibilidade de poder usufruir desta tecnologia
imprimir essas peças, então temos uma máquina “auto- “revolucionária” na sua metodologia de trabalho.
67
ATIVI DA DE
da atividade
um Produto
2. Recorre a Noções de CNC e Prototipagem
3. Utiliza Software CAD
4. Elabora o teu plano de Marketing
5. Planeia a tua produção
6. Aprende a modelar em 3D
7. Imprime o teu Protótipo
O projeto Pense Indústria Nova Geração tinha como objetivo conseguir envolver 11.000 jovens
até Dezembro de 2014. Promovido pelos Centros Tecnológicos de Portugal, o Pense Indústria
Nova Geração tem como parceiros, para além do CATIM, o CITEVE, o CENTINFE, o CTIC,
CTVC, CTCP e CEVALOR.
JORGE JESUS
PROFESSOR DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
COORDENADOR EASR DA ATIVIDADE FÁBRICAS DIGITAIS
ESTRUTURA MODELAÇÃO 3D
Conceção do Produto Introdução à modelação 3D.
Orientar a conceção dos produtos para as necessidades Preparação e análise virtual do produto concebido.
do mercado.
Orientar a ideias dos jovens para produtos que sejam IMPRESSÃO 3D
funcionais no fim do processo de impressão. Introdução à Impressão 3D e suas capacidades no
auxilio à conceção de novos produtos.
PLANEAMENTO DE PRODUÇÃO Materialização e finalização do protótipo.
Explicar o futuro do produto, que matérias primas Teste de funcionamento.
comprar, em que máquina o produto desse ser
produzido, que pessoas devemos alocar à produção, em MARKETING
que quantidades produzir e preço a ser comercializado. Desenvolver uma estratégia de marketing para o
produto.
Abordagem a soluções de promoção digital e on-line.
69
PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2013.14
F-51
WALTER GROPIUS
Walter Adolph Gropius nasceu na Alemanha, principal colaborador, Adolf Meyer, do qual dependia
em Berlim, no ano de 1883. para executar as suas ideias, isto porque Walter Gropius
Estudou arquitetura no Politécnico em Munique e em apresentava dificuldades no campo do desenho.
Berlim, mas abandonou os estudos para prestar serviço Em 1911, Walter Gropius e Adolf Meyer receberam a
militar. primeira proposta, a de construer uma fábrica, a fábrica
Através de Karl-Ernest Osthaus, artista alemão, Gropius da Fagus em Alfed. Em 1913 começou a fazer design
conseguiu um lugar como assistente no atelier de Peter de equipamento.
Behrens, famoso arquiteto e designer (1º designer Após o fim da 1ª Guerra, em 1918, tornou‐se membro
industrial com a empresa AEG), com a ajuda do qual fundador do Arbeitsrat fur Kunst, o Conselho de Trabalho
Walter Gropius adquire aprendizagens acerca da para a Arte em Berlim.
arquitetura. No ano seguinte foi nomeado director da Hochschule
Em 1910 abre o seu próprio atelier, tendo como fur Bildende Kunst, Academia de Belas-Artes e da
DÉBORA SILVA
anel
embalagem
Embalagem/ Expositor F511
Dimensões: 8.7cm/ 8.7cm/ 8.7cm
Materiais: Folhas de madeira e madeira
73
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2013.14
moce
USA E RE-USA
E CO D ESIGN E DESI G N SUSTENTÁV E L
p asse p ar t out
O objeto consiste num passepartout.
Este projeto pretende reaproveitar um objeto
em fim de vida (prensa para confecionar
sanduíches), dando-lhe um outro fim (expor
fotografias). Desta forma, as potencialidades
dos materiais não são desperdiçadas.
Os materiais utilizados foram os próprios
constituintes do objeto inicial (o Alumínio), o
MDF, fio de algodão e algumas ferramentas
que ajudaram na sua construção.
INÊS RAMALHÃO
75
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2013.14
FINITO
USA E RE -U S A
E C O D ESI GN E D ESI G N S US T E NT Á V E L
O nome, “Finito”, relaciona-se com a sua marcada topo da vareta fixou-se a “cabeça” inclinável do “Finito”,
altimetria e finura e é consequência do seu objectivo, composta pela peça de canalização de alumínio que
isto é, o som que produz não é perfeito, abrangente e antecede o abat-jour branco também ele de alumínio.
ilimitado e é, pelo contrário, imperfeito e finito. O circuito eléctrico viaja desde o topo da estrutura até
O “Finito” parte de uma tábua de madeira de mogno, à cavidade na base onde foi resguardado e de onde
uma placa, uma vareta e um abat-jour de alumínio, duas apenas emerge o pequeno interruptor prateado e uma
peças de canalização (uma de plástico e outra de a- entrada usb onde se pode ligar qualquer reprodutor de
lumínio) e um circuito elétrico. As várias partes deste música.
objecto são todas elas reutili- zadas à excepção do Para o acabamento final do objecto optou-se por lixar a
pequeno interruptor que controla o circuito. placa de alumínio tor- nando-a fosca e menos agressiva,
O objecto começou com a base de mogno brasileiro, e em brunir o mogno de modo a torná-lo mais macio e
coberta até metade por uma placa de alumínio fosco, de agradável, tanto ao toque como ao aparelho portátil nele
onde emerge a vareta brilhante de alumínio que define pousado.
e salienta a altimetria e delicadeza da estrutura. No
77
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2013.14
MoMita
MER CA DO D E R U A A O S Á B ADO DE M ANHÃ
O individual idealizado será composto por duas partes: da mochila em algodão e a parte inferior da mochila
a primeira é uma mochila-lancheira (onde o aluno coloca algodão no seu exterior e tela térmica na parte inferior.
os livros e a “marmita”) e a segunda um recipiente para Estas duas partes são unidas com um zipper.
transporte de alimentos sólidos (onde coloca o almoço). Esta tem duas alças que permite a sua colocação nas
A mochila-lancheira é, por sua vez, formada por uma costas da pessoa.
mochila para o transporte de livros, na parte superior, O recipiente para transporte de alimentos sólidos é em
e, na parte inferior, por uma lancheira onde se pode latão. Tem a forma paralelepípeda, com uma tampa
colocar o recipiente para transporte da merenda. É deslizante.
confecionado nos seguintes tecidos - parte superior
79
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2013.14
HIPÉRBOLE
MERCADO DE RUA AO SÁBADO D E M A N H Ã
Esta fase referente à proposta procedeu a inicial deveriam contemplar leveza e custos maioritariamente
definição do conceito. Sendo assim, foi necessário reduzidos, reunindo equilíbrio de relação entre função e
estabelecer a refeição selecionada, sendo que se optou estética. Ainda, destacaram-se a questões ecológicas e
pelo pequeno-almoço. No entanto, foi tida em conta a de durabilidade, reduzindo ao máximo a quantidade de
possibilidade do conjunto, (limitado ao máximo de três matérias-primas para a sua execução..
peças), poder abarcar outros géneros que não só a À partida, quando se fala em tabuleiro parte-se do
refeição escolhida. Para além disso, foram ponderadas princípio que seja necessário o uso do habitual prato,
outras questões que não a tentativa de aplicar, direta colocado sobre este, que contenha alimentos sólidos e
e evidentemente, os detalhes do Mercado, a destacar ao mesmo tempo líquidos. No entanto, pensou-se em
a necessidade de se projetar um conjunto de objetos reunir, numa só peça, no tabuleiro, duas funções: a de
acima de tudo funcional, prático e adaptável a diferentes transporte fácil de vários componentes e a dispensa
necessidades e utilizadores, desmontável (para fins de um prato. Esta última apontava para a colocação
de arrumação e transporte fáceis), cujos materiais de alimentos sólidos diretamente sobre o tabuleiro,
FÁBIO MOTA
arrumação do mesmo, sendo que depois de retiradas material (madeira) que impedem a deslocação dos
as extremidades (uma com a parte do H referente ao objetos para os quais foram projetados, tentando dar
macho, a outra com a fêmea) podem ser fixas uma à resposta ao problema da deslocação dos recipientes e
outra e colocadas sobre a central, reduzindo o tabuleiro objetos durante a deslocação.
de 52 cm a metade do seu comprimento. Quanto a questões de movimentação e estabilidade
O tabuleiro, como anteriormente enunciado, é composto do tabuleiro, aplicaram-se duas peças semicirculares
por três partes: A extremidade esquerda comtempla por debaixo das extremidades laterais de modo a que
o local para os talheres, onde se aplicou uma forma quando sobrepostas à parte central a ela se fixassem,
retangular, com os cantos arredondados, como e que ao mesmo tempo servem de elevação e base
referência à planta do Mercado do Bolhão; A central, um ao corpo do tabuleiro, facilitando o modo de pega ao
local circular para permitir a colocação da base de um utilizador.
prato ou servir como tal. Por fim, a extremidade lateral A Ergonomia e Antropometria delimitaram as dimensões
direita, possui um local também circular, de referência do tabuleiro, sendo que, genericamente, este possui
às cúpulas do Bolhão, para a colocação de um copo. 52cm de comprimento, 27cm de largura e 2.5cm de
Em todos estes locais referidos existem rebaixos do altura. As componentes para a colocação dos objetos
FÁBIO MOTA
MERCA DO DE R U A A O S Á B A D O D E M A N H Ã
Este trabalho foi inspirado no objeto da unidade 2:
a cadeira Follia de Giuseppe Terragni.
85
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
Ao entender o processo tradicional que as escovas a escova. Conjuga-se através do nascer de pequenos
na Escovaria de Belomonte têm e ao constatar a seres vivos (sementes de trigo) que anexados ao corpo
potencialidade dos produtos, pensase em promover os da escova mostram a essência da vida que todas as
objetos que são lá vendidos. É a pensar em algo que escovas com este tipo de cozimento têm.
promova toda a entidade e não apenas um objeto só O nome escolhido para o efeito Escova Videira pretende
que surge uma resposta para este problema. Os objetos simbolizar a existência de vida na escova. Ao fazer a
vendidos são de extrema qualidade com durabilidade e associação a árvores de fruto, que por norma tendem a
resistência, sendo capazes de durar anos sem quebrar receber o sufixo –eira após o nome do fruto
qualquer traço de funcionalidade. Escovas com tal tipo (exemplo o fruto pera provém da pereira), relato que
de cozimento duram bastantes anos e assumem assim este nome videira surge não como a trepadeira cujo o
um contrato vitalício com o usuário. Estes objetos irão fruto é a uva mas como algo de que resulta vida. Ao
acompanhar a vida de um cliente e irão durar uma vida considerar a vida como o fruto e ao se combinar
– aqui percebe-se que a vida que todas as escovas com o sufixo ‘–eira’ obtem-se este nome videira do qual
têm é algo de procura – questões da durabilidade originam vidas que neste caso são mostradas pela
e resistência. No entanto do modo em que todas as existência das sementes de trigo.
escovas se encontram, nenhuma delas apresenta ter
realmente vida - processo do qual os seres vivos são
uma parte. É desta forma que se chega ao núcleo do
conceito. É com a semântica desta palavra – vida – que
se associa ao sentido de estar vivo. Ao espaço de tempo
entre a nascença e a morte de um organismo, é com
estas palavras que se pretende conjugar a vida com
87
59
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
A Escova Videira é constituída por 5 peças. A primeira de uma outra placa quadrada com 36 mm de lado conta
peça, o corpo da escova, é composta por quatro placas com 10 mm de espessura. Para a execução dos 36 tufos
de madeira (idealizadas em mogno ou castanho). Estas é necessário furar esta peça pelos dois lados.
placas quadradas 40x40 mm tem 5 mm de espessura Um lado consta com buracos de 4 mm de diâmetro e 6
e na parte inferior há uma redução da parede para 2 mm de profundidade.
mm a uma profundidade de 13 mm. Para que estas O outro lado tem furos mais pequenos com apenas 2 mm
quatro placas formem uma caixa cúbica as peças são de diâmetro e 4 mm de profundidade. Após a realização
chanfradas a 45 graus para de seguida serem coladas dos furos, esta peça juntamente com as outras deveram
com cola branca. A parede divisória interior que divide a ser levemente lixadas para
escova tem 3 mm de espessura e contempla um furo no receber tapa poros celuloso. Estando o tapa poros seco
seu centro com 20 mm de diâmetro. Este furo é vazado procede-se ao enchimento do bloco de escova com
de um lado ao outro. O bloco de escova é feito a partir tufos de cerda (branca ou preta).
ABEL MARTINS
91
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
SIGMA
BANCO / MESA PARA PARQUES E JARDINS
Neste projeto foi desenvolvida uma peça de mobiliário urbano para locais
públicos de exterior, de acordo com o desafio lançado pela empresa
parceira, a ERESERV, Mobiliário Urbano.
Chegou-se assim à definição de uma peça única que assume as funções
de banco e mesa, opção que tem sido pouco explorada pelo setor mas
que tem um grande potencial de uso e de atração de utilizadores no
contexto informal e lúdico dos espaços livres das cidades.
DIMENSÕES:
Comprimento – 890 mm
Largura – 840 mm
Altura – 900 mm
GONÇALO SILVA
Formalmente a peça foi inspirada no origami – arte de Como o objeto é para um único utilizador, foram criados
dobrar papel, e por isso assemelha-se a uma folha modelos similares que se conjugam de forma a serem
dobrada que cria os vários planos. disponibilizados para várias pessoas. Assim, podemos
A forma da peça, vista de frente assemelha-se a um “G”, ter duas peças dispostas uma em frente à outra, ou
vista de lado parece um “V”, e vista de cima quase que lado a lado, ou seja, as duas pessoas podem estar do
só vemos dois planos desnivelados, os que assumem mesmo lado ou em lados opostos.
as funções de mesa e banco. Esta peça em betão, material robusto e durável,
Este objeto pode ser dividido em cinco partes ou enquadra-se bem em qualquer tipo de ambiente de
paralelepípedos interligados obliquamente: o que se exterior e oferece uma maior comodidade à população.
encontra mais longe do chão, que desempenha a função Nesta peça podemos lanchar ou almoçar ao ar livre,
de mesa, é um paralelepípedo truncado precisamente podemos estudar, ler um livro ou o jornal, ou até mesmo,
por um plano oblíquo. trabalhar e utilizar o computador portátil.
Esta peça foi desenvolvida para um ambiente exterior
público, como por exemplo, praças, jardins, parques,
largos, ou outros espaços urbanos.
93
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
BANGA
O convívio à volta de uma mesa de centro num hotel de Angola
O desafio para a realização deste projeto foi lançando pela empresa TECNAREA
que desenvolve a sua atividade no setor da decoração e do mobiliário para
a indústria de hotelaria. No caso concreto o cliente era uma cadeia de hotéis
angolana e a obra em questão era um hotel da região de Benguela.
DIMENSÕES:
Comprimento - 800 mm
Largura - 800 mm
Altura - 415 mm
Dentro das tipologias de equipamentos previstas para o geométrica associa o valor estético e simbólico de
hotel foi selecionada a mesa de centro, equipamento a raízes locais com a sobriedade e a racionalidade
aplicar tanto em espaços sociais como em espaços de contemporâneas, num conjunto em que não pode faltar,
quartos de hóspedes. dado o nível de serviço oferecido pela cadeia de hotéis,
Foi a tradição e a arte angolana que esteve na base a elegância e o requinte.
da solução proposta, nomeadamente através da À função base de mesa foi associada de forma subtil e
exploração de padrões geométricos presentes nos pertinente a arrumação de revistas num espaço criado
têxteis de manufatura artesanal. Desta forma a natureza no interior de um apoio e face lateral da mesa.
SOFIA VIEIRA
95
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA _EASR | 2013.2014
PORTUGAL
em quatro linhas
Como cliente da nossa FCT, contámos com a colaboração da Empresa Eugénio Campos,
que nos apresentou uma proposta de trabalho, resumida numa frase: “identificar Portugal
com as técnicas da joalharia tradicional portuguesa”.
Em resposta ao objetivo desta proposta, o foco inicial foi tentar deduzir a forma como
Portugal é visto e encarado e o que o identifica. Ainda que cliché, o sentimento
patriotista e aventureiro acaba por ser sempre, inevitavelmente, associado a esse grande
acontecimento histórico que foram os Descobrimentos. É sem dúvida, um aspeto que
reconhecem nos Portugueses enquanto povo.
Até os contemporâneos dos dias de hoje que não após reflexão, me fez senti-lo mais meu e por isso,
viram caravelas partir sem rumo certo, sentem que já algo que sinto vontade de honrar optando por fazê-
conquistaram o mundo. Acredito que tenha sido esse lo desta forma: tentando materializar algo incorpóreo
reconhecimento e até vaidade que levou por todo que, apesar de longínquo merece continuar a ser
este mundo que os Portugueses ajudaram a descobrir enaltecido simplesmente porque assim como amanhã
a ideia de que estes são persistentes e capazes de se descobrirão mais aprofundadamente novas galáxias,
coisas incríveis que, de tal forma magistrais, continuam assim como hoje se descobrem novos planetas e como
presentes atualmente, repare-se que se diz: “nós ontem se pisaram satélites, há seis séculos as cortinas
portugueses navegámos por mares nunca dantes do mundo abriram-se, ou melhor, a valentia lusitana
navegados” mas este nós não é um nós individual, abriu as cortinas do mundo ao mundo.
não individualiza seres, individualiza um povo que,
ANA MARTA SILVA
Com os Descobrimentos, estabeleceram-se novas rotas porque houve determinados espaços físicos que foram
comerciais intercontinentais que fizeram chegar novos percorridos pelos nossos navegadores. Estes espaços
produtos e permitiram estabelecer novos costumes no foram as Rotas dos Descobrimentos que, precisamente
quotidiano das populações. pelo que permitiram, servirão de mote a este trabalho.
Distinguem-se então dois méritos nos Descobrimentos: Das várias rotas existentes do período dos
o mudar hábitos pelos produtos trazidos e o alargar do Descobrimentos, houve quatro que, pelas consequências
conhecimento do mundo. que trouxeram e pelos diferentes locais que “uniram”, se
Ambos os feitos apenas conseguiram ser concretizados revestem de maior destaque.
São elas:
A rota de passagem do cabo da Boa Esperança, com Bartolomeu Dias em 1488
A rota da descoberta das Antilhas (América Central), por Cristóvão Colombo em 1492
A rota da chegada à Índia, por Vasco da Gama em 1498
A rota de descoberta do Brasil, por Pedro Álvares Cabral em 1500
De uma união mais “fiel” destes pontos, a forma evoluiu e planas passam a ser apresentadas numa estrutura
no sentido de ser estilizada e simplificada. Porém, em tridimensional que confere uma maior fluidez à peça e
termos práticos, esta nova forma poderia não ser a que pode ser associada à volumetria do globo terrestre.
mais apropriada para uma peça de joalharia visto que A fim de se realçarem as linhas das rotas, estes espaços
os diversos vértices seriam um obstáculo por poderem serão preenchidos por zircónias.
prender na roupa, no cabelo… Encontrada a estrutura, proponho (por razões
Assim, a unir as linhas das rotas, passam a existir outras meramente estéticas) que a peça surja na posição
linhas que simbolicamente remetem para a unificação inversa: os pontos das Antilhas e do Brasil passam a ser
do mundo para que contribuíram os Descobrimentos, pontos mais à direita da peça.
ligando distantes pontos do globo.
As novas linhas, começam a evoluir para faces (o que Nasceu assim “Portugal em quatro linhas”.
resolve o problema dos vértices) que, de bidimensionais
ANA MARTA SILVA
99
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO TÊXTEIS _EASR | 2013.2014
COLEÇÃO DE TECIDOS
PARA CAMISARIA DE HOMEM
Vestir bem reunindo estilos e sensações
Cada vez mais os homens têm vindo a preferir um nesta tendência com cores tão distintas, para poder
look elegante mas descontraído, com acessórios que juntá-las de modo a criar algo agradável e apetecível ao
contribuam para isso mesmo, bem como os motivos mais público masculino, completando o conceito com mais
irreverentes. Claro que tudo isto varia de público-alvo imagens que também me remetem para a reunião de
para público-alvo, até porque mesmo a nível geográfico cores, de sabores, de estilos.
a moda difere muito de país para país. Assim, a coleção oferece um conjunto diversificado de
As camisas, porém, são uma peça de vestuário comum tecidos pensados para situações diversas mas sempre
e constante a quase todas as culturas. Os homens modernas e elegantes, que se agrupam de acordo com
preferem-nas por serem uma peça versátil, elegante e valores funcionais, estéticos e simbólicos, explorando o
que lhes assenta bem. As tendências dizem-nos que imaginário associado à denominação de cada grupo:
a moda aponta cada vez mais para padrões de riscas • Descontraído
horizontais, xadrez, animal prints e efeitos óticos. • Divertido
Dentro dos “painéis-ambiente” fornecidos foi selecionado • Ilusão ótica
o Assemble quer dizer juntar, reunir. Daí ter pegado • Formal
PAINEL DE INSPIRAÇÃO
101
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12ºANO _ EASR | 2013.14
SÉRIE
CANVA, ONDA
E PIÃO
INTRODUÇÃO Aquaglass, uma empresa localizada em Campo de
A Forma o em Contexto de Trabalho visa aperfeiçoar as Valongo, destinada à venda de produtos de cariz sanitário
competências técnico-artísticas dos alunos e para tal, a e artigos de decoração.
escola propõe que em parceria com uma empresa, estes Trata-se de uma empresa de venda de produtos
realizem uma proposta de trabalho, simulando que tenha fabricados em série
características semelhantes .s propostas de trabalho sendo quase que excluído o cariz artesanal dos artigos
reais. comercializados. Vende, entre outros, ferragens para vidro
Esta proposta de trabalho foi feita pela empresa temperado para cabines de duche com portas de correr,
Aquaglass a alguns dos alunos tanto de Cerâmica como resguardos de banheira, toalheiros, cabides e piaçabas.
de Equipamento. Destina-se a um mercado de elevada qualidade onde se
Neste caso, a proposta seria a cria..o de uma série pode observar preocupações relacionadas tanto com
de três artefactos e os alunos de Equipamento o design como com a relação entre os vários materiais
poderiam optar por três dos seguintes: toalheiro, aplicados nos produtos.
prateleira, suporte de piaçaba, porta rolos ou cabide. Os materiais utilizados são o latão cromado com brilho
PATRÍCIA CARVALHO
103
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12ºANO _ EASR | 2013.14
O movimento artístico que serviu de inspiração para a O processo criativo iniciou-se de uma forma arbitrária,
série final foi o simbolismo. explorando a relação das várias linhas em cada objeto:
Esta série deveria ser diretamente inspirada na água - o recurso a linhas retas, conjugação destas com linhas
elemento natural presente no quarto de banho e com o curvas e por fim, utilização predominante da linha
qual se interage na maioria do tempo. curva que transmite sensação visual de organicismo e
Após essa consciencialização passou-se à exploração consequentemente, simbolistas.
dos seus movimentos, das suas características e
particularidades.
O movimento que suscitou mais interesse, e
consequentemente foi a base da inspiração para toda a
série final, foi a ondulação da água.
PATRÍCIA CARVALHO
SÉRIE CANVA
SÉRIE ONDA
Tal como o nome indica, a série onda é inspirada pelas A série de objetos, constituída por um toalheiro de chão,
ondas do mar. O movimento destas, quando o mar um toalheiro de parede, um piaçaba e um porta rolos.
se encontra calmo, sugere tranquilidade, uma certa Para além do cumprimento da função, nesta série
delicadeza e sofisticação e, por isso, leveza. a estética, também muito valorizada, sendo um dos
Estas características foram as “palavras-chave” de toda objetivos principais na criação da série, a coesão de
uma série que se seguiria, tentando nela ser transmitido todos os objetos constituintes desta mesma.
o movimento, a serenidade e sofisticação adequadas.
105
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12ºANO _ EASR | 2013.14
SÉRIE PIÃO
A forma da linha de objetos foi evoluindo, podendo polímero de modo a que os líquidos corrosivos não
observar-se algumas alterações tanto no toalheiro de danifiquem o metal.
chão como no porta piaçaba. A primeira solução encontrada seria a colocação,
O toalheiro de chão sofreu alterações na sua base. Esta através da base superior de um copo de polímero
começou por ser retangular mas, dado que toda a série moldável que seria facilmente retirado e colocado,
se carateriza pela utilização de linhas curvas, optou- moldando-se às curvas da base. No entanto, esta
se por uma base elíptica. Para além desta alteração, solução seria impossível porque, até aos dias de hoje,
foi alterado também o tamanho desta pois inicialmente não existe nenhum polímero moldável e resistente à
aparentava estar demasiado comprida, sendo assim corrosão simultaneamente.
reduzido o tamanho desta. A solução encontrada passa pela colocação de um copo
Já o porta piaçaba começou por ter uma forma um pouco de ABS, que encaixa na parte inferior base do suporte.
bruta e grosseira, destoando do que era pretendido.
Para chegar à forma final foi então adelgada a forma MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA
como se pode observar. Tendo como ponto de partida a proposta de cria..o
Para além desse apontamento, o cabo do suporte de de uma série de três artefactos feita pela empresa
piaçaba sofreu um aumento de diâmetro por questões Aquaglass, o trabalho desenvolvido foi inspirado no
antropométricas. Dado que era extremamente fino movimento da água - mais concretamente ondulação
poderia prejudicar a sua função, tal como foi referido na desta. Neste projeto tentou transportar-se para a série
avaliação intermedia. características típicas das ondas, tais como a leveza,
Sendo a base do suporte de piaçaba irregular foi sofisticação e tranquilidade.
necessário encontrar uma solução para o copo onde o O conjunto de artefactos criado, constituído por um
cabo deste iria ficar seguro. toalheiro (onde tanto foi explorada a hipótese de
Geralmente, necessária a colocação de um copo de toalheiro de parede como de toalheiro de chão), por um
PATRÍCIA CARVALHO
suporte de piaçaba e por um porta-rolos. relativamente simples sendo facilitada a sua produção
Trata-se de um conjunto de objeto projetados em latão em série.
cromado devido às suas características principais e por
ser um dos materiais explorados pela empresa. Para al.m CONCLUSÃO
do metal, existe um objeto em ABS - o copo interior da Tendo em conta que a Formação em Contexto de
base do piaçaba, que tem como função evitar a oxida..o Trabalho foi uma simulação do que será a interação do
e corrosão deste metal, dado que este está em contacto “futuro designer” com a empresa produtora, penso que
direto com líquidos corrosivos. esta resultou bastante bem.
No que diz respeito ao processo de ligação entre as Houve desde o começo até ao final, grande cooperação
varias partes constituintes: tanto por parte da empresa como dos alunos o que
- nos toalheiros, as várias partes ligam-se através de levou a um grande empenho e dedicação na idealização
enroscamentos ou pelo recurso a rebites em certos daquilo que seria a série de objetos.
casos; Apesar do receio inicial dado que uma linha de objetos
- no porta-rolos e no cabo do piaçaba, as peças são sanitários nunca tinha sido abordada ou pensada por
fixadas através de enroscamento de uma peça principal mim, com o desenvolver deste trabalho comecei a
.s restantes. interessar-me pelo tema e a querer aprofundar cada vez
Por fim, o processo de fixação à parede do toalheiro de mais aquilo que seria uma possível linha.
parede e do porta-rolos é semelhante. Na parede é fixada Terminada a Formação em Contexto de Trabalho, penso
uma peça que é nela enroscada e, na parte visível desta que foi uma experiência positiva e cativante.
peça existe uma cavilha com um furo roscado. Esta entra
no interior do tubo correspondente, também com um furo
roscado, e são fixados um ao outro com um parafuso.
Apesar das formas curvas da série, a sua conceção é
107
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
QUADRA
M ER C A D OS D O POR TO
CO NTENTO R DE APERI T I V O S
Design Modular
A Aplicação do conceito modular no design de produto Dimensões: Contentor-1 80x1 80; Tabuleiro-385x385
traduz-se pela divisão do produto e permite que ele Materiais: Porcelana e Madeira
execute a sua função principal. Uso público e uso doméstico: Este objeto pode ser
Estes módulos, quando interligados, contribuem para utilizado tanto no mercado como em casa.
que o produto execute a sua função principal. Funcionamento/Modo de uso: O Contentor - unidade
As relações que estabelecem entre os utilizadores e o modular - dispõe de um tabuleiro de base no qual
produto modelar, são de facto de cumplicidade em que se podem agrupar várias unidades da mesma peça,
um modifica e o outro se deixa modificar. possibilitando deste modo diversas geometrias/padrões
e funcionalidades - versatilidade.
Quadra - Conjunto ou série de quatro coisas. O elemento modular geométrico - forma/metáfora
- remete para a tipologia de formas; elementos
Compartimento, recinto ou terreno em forma de quadrado. arquitetónicos e decorativos (ferro /cerâmica) intregantes
Cada um dos lados de um quadrado. Quadra poética e caracterizadores da tipologia do mercado.
(popular) formada por uma estrofe de quatro versos. Vantagens: Devido à forma explorada é possivel
Figurado: estação do ano; tempo; época; ocasião; idade. formar vários conjuntos, utilizando módulos simples ou
O objeto Quadra é um contentor de aperitivos, que foi associados ao tabuleiro de madeira.
projetado incidindo nos conceitos de funcionalidade,
modularidade, versatilidade e simbolismo.
ANA SOFIA COSTA
111
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
113
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
[des]construído
Modularidade.
Versatilidade.
Multi-funcionalidade,
aliados a sensações.
A pesquisa traduziu-se numa procura conceptual e portáveis e dinâmicos. Além disso, recorreu-se à obra
visual. Surgiram palavras e expressões que definem do designer Joe Colombo “Boby Trolley” de 1970 e
o projecto e que de alguma forma foram recriadas e recuou-se no tempo com o mobiliário mecânico de
reconstruídas com o mesmo. Termos cujo significado se Thomas Sheraton “Night Bason Stand” publicado
defendeu visualmente - um dicionário visual. Observou- no livro “The Cabinet Dictionary” de 1803. Colombo
se o mercado. O primeiro, renovado e embelezado mas contribuiu com a sua visão futurista, que se proliferou
carente de tradição. O outro, desgastado e cansado por peças modulares e versáteis, e por estruturas uni-
porém persistente em prosperar com o seu encanto bloco que possuíam mais que uma função num só
tradicional. Este último foi a musa do trabalho. Precisa- espaço. Sheraton foi também um dos grandes designers
se de dinâmica, inovação, organização. De integrar de mobiliário do século XVIII, se assim lhe pudermos
flexibilidade e multi-funcionalidade nas formas de chamar. A época e os ideais destes dois grandes nomes
expor. Mas também se precisa de arrumação. Assim, são completamente afastados.
segundo esta linha de pensamento, emergiram imagens No entanto, ambos se encontram aliados numa pequena
de produtos versáteis, articuláveis, multi-funcionais, grande coisa: o génio multifuncional.
115
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
[DES]CONSTRUÍDO.
Constrói-se e desconstrói-se. Um desenrolar de módulos
que se combinam e transformam. Um organismo. Que se
personaliza, podemos até dizer, “à vontade do freguês”.
Que dá suporte aos artistas da cena, as frutas, as flores, as
especiarias. Povoado por cores. Que vive e mexe, ao som
dos ritmos do mercado. Que substitui modelos estáticos e
preconcebidos. Que possibilita um espaço em constante
mudança. Que depois de utilizado se arruma e dá lugar a
outras actividades e eventos que possam convidar turistas
e curiosos ao mercado. Não se pretende raptar a essência
tradicional do mercado. Apenas semear-lhe nova vida, nova
dinâmica.
117
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
DIMENSÕES:
Pequeno
Comprimento – 150 mm
Diâmetro – 75 mm
Grande
Comprimento – 250 mm
Diâmetro – 85 mm
O projeto teve como ponto de partida o conceito Esta tipologia foi pensada como forma de auxílio ao
“reflorescer tradições” com o qual se pretende recuperar cliente na realização das suas compras, apontando
para os dias de hoje algo com grande significado para um objeto simples e pequeno, prático e resistente,
histórico. O objetivo era desenvolver um produto que economicamente acessível, que pudesse satisfazer
respondesse a necessidades funcionais existentes todas as faixas etárias.
nos mercados como também promovesse a venda e a O material escolhido para a parte exterior da tampa
tradicional oferta de flores, sem nunca esquecer o seu superior e dos tubos foi o pvc, visto ser um material
carácter simples e prático. reutilizável e bastante económico para ser vendido nos
Foram observados os problemas de funcionamento do mercados tradicionais.
mercado de flores, e foi definida a tipologia do produto, É um produto simples e transparente, sendo que a
ao destacar-se a falta de um objeto de transporte e única cor que exalta o objeto é a membrana em silicone.
suporte de flores, que proporcionasse ao comprador As duas cores escolhidas para as membranas foram
conforto e segurança no manuseamento dos pequenos baseadas nas cores mais presentes no mercado de
e grandes molhos de flores, sem recorrer aos típicos flores – o verde e o cor-de-rosa.
arranjos florais com fitas e fios.
BRUNA TEIXEIRA
119
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA _EASR | 2013.2014
Mercado
s.m. Lugar público, ao ar livre ou em recinto fechado, onde
se vendem e onde se compram mercadorias. Referência
convencional em relação à compra e à venda. Designação
que se dá à oferta e à procura de mercadorias. Conjunto
de consumidores, encarados como futuros compradores de
uma mercadoria ou beneficiários de um serviço.
O produto “ConTEM” vida baseia-se na minha visão sonhos e de vidas, que são materializados de uma
do que é um mercado. Uma visão que dá uma grande forma simbólica através de plantas, flores, ou o que a
importância àquilo que o torna especial e diferente de pessoa achar que faz
outros espaços comerciais: as interações. sentido colocar lá.
121
PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA _EASR | 2013.2014
O Contem vida é sem dúvida um produto que tem uma vertente lúdica,
interativa e emocional, que fará com que o utilizador permaneça em
harmonia com a natureza e com a vida. É um produto sobretudo
ecológico, visto que a embalagem foi feita através de caixas de
garrafas de vinho já usadas. A embalagem teve como inspiração as
caixas de madeira existentes nos mercados tradicionais, conferindo
ao produto um ar rústico, mas ao mesmo tempo contemporâneo. Na
embalagem tive o desejo de fazer algo simples mas com influências
do passado pois acredito que o passado é uma forma de repensar
o futuro O saquinho com pequenas seedbombs vem dar um toque
lúdico, divertido, e invulgar ao produto.
INÊS SILVA
Este tem como finalidade uma permanente interação O Contem Vida tem de alguma forma uma ligação
com o utilizador. Considero também que tem um cariz com o meu percurso na Escola Artística Soares dos
pedagógico, e pretendo que surja a vontade de fazer Reis. O “nascer” de uma vida, pode ser comparado
mais seedbombs e até quem sabe encher a casa e o ao desenvolvimento das minhas experiências e
jardim de plantas! Por fim temos o folheto que explica de conhecimentos. Quando aqui entrei não parei de crescer
uma forma muito sucinta o conceito do produto, formas em cultura, conhecimentos, vivências que levo para o
de utilização e uma pequena abordagem do que são futuro. Quando cá cheguei era apenas uma semente
as seedbombs. O folheto acaba com um pequeno texto com imenso gosto e vontade de aprender mais sobre
de reflexão sobre a importância da natureza na vida o mundo das artes, que era e continua a ser algo que
dos homens e os seus benefícios, tentando desta forma tanto me fascina. O “nascer da vida” é materializado
conferir um caracter reflexivo à peça. pelas plantas que surgem a partir das seedbombs.
123
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA _EASR | 2013.2014
125
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO TÊXTEIS _EASR | 2013.2014
Com a meta de chamar novos e mais compradores Quando aberto e utilizado como avental, observa-
aos mercados, foi desenvolvido um objeto com se um padrão sobre o mesmo elemento, cuja
dupla função: um saco-avental, dois símbolos composição se revela, mais uma vez, importante
deste tipo de comércio. “UPA mercado” abrange para “remar” a mente do observador até ao
um vasto público-alvo, desde o adolescente até mercado em questão.
ao idoso, pois é um produto que pode cativar Os materiais utilizados foram: tafetá preto (pois
facilmente o gosto visual próprio de cada é uma cor elegante e que disfarça a sujidade,
pessoa. Com a aplicação dos estampados e do respeitando a forma-função), velcro preto e
tecido neste objeto, é pretendida a divulgação molas de pressão (como sistemas de fecho).
da vida dos mercados, trazendo, de novo, o As cores usadas, mais uma vez, remetem para
próprio mercado para os portuenses e visitantes o mercado em questão e foram retiradas de
da cidade. imagens de um tipo de mercadoria que se vende
Os elementos estampados são desenhos nos mercados: fruta.
originais provenientes de ícones representativos Por fim, o nome “UPA mercado” surgiu da ideia da
de três dos maiores e mais conhecidos mercados força para se reerguer, utilizando a onomatopeia
do Porto. Quando o objeto está a ser usado como “upa” como incentivo para os mercados do Porto
saco, pode ver-se um elemento estampado com renascerem.
o nome do mercado que representa.
JOANA RIBEIRO
MERCADO DO BOLHÃO
127
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
129
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
131
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
VEM
M ER C A D OS D O POR TO
133
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
simbólico que remete para a História do Vinho do Porto. A peça tem 56cm de comprimento, 23cm de largura e 15
O objetivo foi conseguir que a peça “falasse” por si de altura. A curva que faz tem aproximadamente 60cm
só e que cada detalhe surgerisse alguma parte dessa e divide-se longitudinalmente em 2 partes distintas. A
história, quer das vinhas, quer das pipas, quer dos parte anterior tem 6 buracos côncavos que fazem o
toneis. perfil ex¬terior do cálice de vinho do Porto, sendo o
“Vem” tem duas funções principais: suporte de cálices, cen¬tro de cada um a 4cm da extremidade anterior.
cheios ou vazios, e expositor/suporte da garrafa. A fusão Como há inúmeros cálices diferentes, foi escolhido o
destas duas funções é concretizada com harmonia na desenhado pelo Siza Vieira como modelo, visto que
peça. esse é o cálice oficial para o Vinho do Porto. Entre esta
A forma foi concebida curvada para sugerir as curvas concavidade e a extremidade anterior existe um rasgo de
das pipas, tendo um corte a meio para reforçar a ideia aproximadamente 2cm para que o pé do cálice entre e o
das aduelas, podendo ser também interpretado como cálice se possa pousar e segurar. Exatamente a meio da
os montes onde são plantadas as vinhas. O suporte da curvatura, entre as duas partes, existe um furo elipsoidal
garrafa consiste no entrelaçamento de duas gavilhas que faz uma inclinação de 50º para que a garrafa entre.
metálicas que sugerem as gavinhas presentes nas Foi feita uma forma elipsoidal pois ao sofrer a inclinação
videiras. Este conjunto simbólico sugere duas partes transforma-se num círculo, grande o suficiente para
fundamentais da produção do vinho do Porto, a recolha caber qualquer garrafa de Porto dos últimos 40 anos
das uvas e o repouso do vinho. A inclinação está feita para a parte posterior da peça
NUNO SARMENTO
ligação com a extremidade, são feitos com uma fresa, O nome escolhido para esta peça foi
construída através de um molde do cálice. A entrada para
”VEM”. Este nome reflete o intuito da
a garrafa é também realizada com uma fresa, tal como a
sua criação, que é juntar e aproximar
pega lateral. Estando todos os recortes feitos na madeira,
as suas arestas são boleadas para que não haja o risco
mais as pessoas no momento do Porto
de corte e para dar à peça um aspeto mais uniforme e de Honra. “VEM” chama as pessoas,
homogéneo. Finalmente a madeira é envernizada com convida-as a aproximarem-se, a
verniz marítimo mate, que tem maior resistência a líquidos, pegarem num cálice e a saborearem-
essencial numa peça que pode sofrer derrames de vinho
no, celebrando uma atividade comercial
e ao ser mate permite que a cor sobressaia.
bem-sucedida. Além disso, este nome
Os entrelaçamentos metálicos serão feitos de forma
industrial, através do torno mecâni¬co, e a chapa resulta também da junção do tema e
metálica será recortada a lazer. Ambas serão polidas subtema: “VEM: Vinhos E Mercados”
para realçar o brilho e tornar a peça mais elegante. A cor VEM
será a da madeira de Carvalho francês, que é um tom “À NOSSA!”
castanho acinzentado.
137
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
O M ER C A D O D O B OL HÃO
EXPOSITOR
MÓVEL
[ UM OBJETO FUNCIO N A L E SIMB Ó L IC O ]
A Prova de Aptidão Artística do ano letivo 2013/2014 tem Decidido o subtema, pretendeu-se criar um objeto de
como tema geral “Os Mercados do Porto”. A partir deste design que resultasse da interação do Homem com as
tema foi-nos proposta a escolha de um subtema que se suas vivências e com o espaço dos mercados.
delineasse dentro dos campos conceptuais, artísticos e
tecnológicos ligados ao âmbito do tema geral. DE UMA BANCA A UM EXPOSITOR MÓVEL
Dentro da cidade do Porto, optei por definir o Mercado do O conceito original consistia numa banca portátil que
Bolhão como o subtema do meu trabalho. Esta escolha poderia ser utilizada por toda a cidade. Estaria abastecida
deve-se à importância que o mercado desempenha na de produtos do mercado do Bolhão e seguiria a imagem
cidade, sendo o mercado mais característico e rico em de um vendedor ambulante, podendo deslocar-se entre
termos de vivências e tradições. Esta ligação ao passado diferentes feiras no mesmo dia. Deste modo, os produtos
é algo cativante e bastante próprio da cidade do Porto, do Bolhão teriam dois locais de venda: o próprio edifício
onde os hábitos mais peculiares parecem permanecer e a banca transportável.
139
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
141
PR O JE TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
CONCLUSÃO
Acabada a Prova de Aptidão Artística e o curso de De-
sign de Produto, penso que não poderia ter frequentado
um outro curso que me desse tanto júbilo e tantos desa-
fios como este me proporcionou nos últimos dois anos.
Ao rever todo o processo criativo desde as pesquisas
até aos renders finais, sinto que o meu método de trab-
alho foi evoluindo de módulo para módulo, assim como
a conceção, organização e estruturação de todo o tra-
balho.
De facto, estes anos permitiram-me aprofundar os meus
conhecimentos sobre os vários movimentos de design
que existem, e ajudaram-me a perceber o que distingue
o bom design do mau design. Todos estes conceitos
vão ser uma mais-valia no meu futuro, pois formaram
uma base de conhecimento que virá a estender-se com
muito mais facilidade.
143
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _EASR | 2013.2014
Esta é uma banca dobrável, caracterizada pela sua A facilidade de transporte e arrumação deste objeto é
transportabilidade e versatilidade com uma estrutura conseguida com a ajuda de uma alça central em couro
essencialmente em madeira de formas retilíneas. que envolve todos os elementos. A alça emerge da
Relativamente ao tampo, o plano de trabalho, optou-se orla do tampo atravessando uma ranhura ai prevista
por uma placa de 1.30 m x 0.50 m, medidas standard possibilitando um manuseamento ergonómico.
de uma bancada, tendo-se em consideração o
atravancamento do espaço de mercado a que se destina A construção do objeto em pinho nórdico
o objeto – um espaço muito movimentado. Dispõe ainda garante a necessária leveza e economia
de uma prateleira sob o tampo que desempenha um de custos. O tampo é revestido por uma
papel estabilizador da estrutura e que, simultaneamente, folha de polímero resistente a cortes e
disponibiliza uma área de prateleira de grande utilidade à humidade. As superfícies de madeira
para a arrumação de utensílios. expostas ao exterior são envernizadas com
verniz de poliuretano aquoso.
DIMENSÕES:
Comprimento – 1300 mm
Largura – 500 mm
Altura – 850 mm
145
PR O J E TO
CURSO PROFISSIONAL DE DESIGN DE MODA _ 2013.14
Lendas
2013.14
& mitos
ANA RITA FONSECA
147
PR O J E TO
CURSO PROFISSIONAL DE DESIGN DE MODA _ 2013.14
O Desejado
a lenda de D. Sebastião MARIANA CARDOSO
Cantar do galo
a lenda do Galo de Barcelos
LUNA FONSECA
Recentemente li a transcrição das intervenções de definição abrangente proposta por Sennett, “craftsman”
Jonathan Ive , vice-presidente para o design da Apple,
1
– cuja tradução para português pode ser artesão,
numa conversa aberta entre este e o diretor do Museu artífice ou artista (retomando uma designação usada na
do Design de Londres ocorrida em novembro de nossa tradição para quem domina um ofício). Sennett
2014, e em que Ive expressou a dificuldade que tem é violoncelista e Crawford é mecânico e tem uma
em contratar jovens designers. E porquê? Porque, pequena oficina de reparação de motas. É recorrendo
segundo ele, “os designers que entrevista não sabem muitas vezes à sua experiência pessoal que os autores
fazer coisas, porque as oficinas nas escolas de design perseguem o objetivo último destes ensaios que é o de
são caras e os computadores são baratos” e continuou demonstrar, tal como Sennett refere na primeira página
dizendo que “é trágico que possas passar quatro anos do seu livro, que fazer é pensar.
da tua vida a estudar design de objetos tridimensionais Na perspetiva dos autores, a vontade e a capacidade
e que nunca faças um”. Ive esclareceu que não defende de construir objetos, seja qual for a sua função, é inata
o abandono das ferramentas digitais, mas questiona a na espécie humana. Somos os únicos seres no planeta
dependência total delas que põe em causa o instinto de com a destreza física e mental para isso. No entanto, em
fazer e experimentar. muitas das culturas ocidentais o valor do fazer e o do
Refiro aqui esta conversa porque ela faz, na minha fazer com as mãos tem vindo a diminuir, não obstante, em
opinião, a ligação entre o Design de Produto, âmbito meu entender, alguns sinais recentes de ressurgimento.
desta revista, os Processos, tema deste número, e os As oficinas quase desapareceram das cidades, das
dois livros que sugiro. Apesar de convocarem muitas escolas, da vida das pessoas. Com isto foi-se perdendo
reflexões, apresento-os dando ênfase ao contributo que um espaço de transmissão de um conhecimento que só
dão sobre o “poder do fazer”2. se pode concretizar de forma tácita, materializado em
Nenhum dos autores é designer, Matthew Crawford sons, cheiros, gestos, movimentos e hábitos – que não
é filósofo e Richard Sennett é sociólogo, mas ambos, se podem transmitir de outra forma que não na rotina da
tal como Jonathan Ive, atribuem uma importância oficina.
determinante ao trabalho manual, ao seu espaço É nesta prática continuada da construção de objetos
– a oficina – e ao seu ensino. O que os dois autores com as nossas próprias mãos que, para os autores,
também têm em comum é o facto de serem, segundo a existe uma grande valia formativa. Este tipo de prática,
RUI PANELO
PROFESSOR DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
@ Rui Panelo
à mercê de ferramentas e materiais ‘desobedientes’, No trabalho oficinal a repetição existe como um meio
mobiliza todos os nossos sentidos e confronta-nos, para o aperfeiçoamento e para a interiorização do ciclo
constantemente, com questões imediatas, concretas e ‘encontrar problema/encontrar solução’.
incontornáveis. É, portanto, obrigatória a experimentação Contudo, ter uma oficina não é suficiente. É preciso lutar
contínua, cujos resultados – erros ou avanços – têm uma pela valorização permanente desta cultura. A prática
existência própria, palpável, que deixa rasto e que não oficinal é, para estes autores, uma forma de promover
pode desaparecer instantaneamente com um ctrl+z. A um tipo de pensamento que traria melhorias para o
repetição, inerente a este processo, não é mecânica nem indivíduo e para as sociedades em que se insere, e
desinteressada, tal como alguns pensam, influenciados seria também, de uma forma mais concreta e voltando
por uma ideia de executante herdada de tempos em às declarações de Jonathan Ive, uma ajuda para que se
que se forçou a separação entre o pensar e o fazer. criassem melhores objetos.
1
Disponível em http://www.dezeen.com/2014/11/13/design-education-tragic-says-jonathan-ive-apple/
2
Expressão tomada de empréstimo do título da exposição "The Power of Making" do Victoria and Albert Museum em 2011.
Nota: traduções da responsabilidade do autor.
151
dinamicas @ essr.net
E SC O LA ART Í S T I C A D E S OA R E S D O S R E I S