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O efeito da padronização da beleza na sociedade contemporânea

Texto I:

Mídia e o culto à beleza do corpo

Há nas sociedades contemporâneas uma intensificação do culto ao corpo, onde


os indivíduos experimentam uma crescente preocupação com a imagem e a estética.
Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo coloca-se hoje
como preocupação geral, que perpassa todas as classes sociais e faixas etárias, apoiada
num discurso que ora lança mão da questão estética, ora da preocupação com a saúde.
Segundo Pierre Bourdieu, sociólogo francês, a linguagem corporal é marcadora
pela distinção social, que coloca o consumo alimentar, cultural e forma de apresentação
– como o vestuário, higiene, cuidados com a beleza etc. – como os mais importantes
modos de se distinguir dos demais indivíduos.
Nas sociedades modernas há uma crescente preocupação com o corpo, com a
dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados basicamente pelo
processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, onde o corpo ganha mais
espaço, principalmente nos meios midiáticos. Não por acaso que foi nesse período que
surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltados para o tema: “Boa Forma” (1984)
e “Corpo a Corpo” (1987).
Contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de
aparência e beleza, difundindo novos valores da cultura de consumo e projetando
imagens de estilos de vida glamorosos para o mundo inteiro.
Da mesma forma, podemos pensar em relação à televisão, que veicula imagens
de corpos perfeitos através dos mais variados formatos de programas, peças
publicitárias, novelas, filmes etc. Isso nos leva a pensar que a imagem da “eterna”
juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, atravessa todas as faixas etárias e classes
sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de vida. Nesse sentido, as
fábricas de imagens como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm
contribuído para isso.
Os programas de televisão, revistas e jornais têm dedicado espaços em suas
programações cada vez maiores para apresentar novidades em setores de cosméticos, de
alimentação e vestuário. Propagandas veiculadas nessas mídias estão o tempo todo
tentando vender o que não está disponível nas prateleiras: sucesso e felicidade.
O consumismo desenfreado gerado pela mídia em geral foca principalmente
adolescentes como alvos principais para as vendas, desenvolvendo modelos de roupas
estereotipados, a indústria de cosméticos lançando a cada dia novos cremes e géis
redutores para eliminar as “formas indesejáveis” do corpo e a indústria farmacêutica
faturando alto com medicamentos que inibem o apetite.
Preocupados com a busca desenfreada da “beleza perfeita” e pela vaidade
excessiva, sob influência dos mais variados meios de comunicação, a Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica apresenta uma estimativa de que cerca de 130 mil
crianças e adolescentes submeteram-se no ano de 2009 a operações plásticas.
Evidentemente que a existência de cuidados com o corpo não é exclusividade
das sociedades contemporâneas e que devemos ter uma especial atenção para uma boa
saúde. No entanto, os cuidados com o corpo não devem ser de forma tão intensa e
ditatorial como se tem apresentado nas últimas décadas. Devemos sempre respeitar os
limites do nosso corpo e a nós a mesmos.

Texto II:

Pesquisa mostra que brasileiras não se veem nas propagandas de TV

Quem só mostra mulheres ricas, loiras, jovens, magras em comerciais de TV


pode não estar no melhor caminho para convencer os consumidores a comprarem seus
produtos. Uma pesquisa apontou que 56% dos entrevistados não acredita que as
propagandas mostrem a mulher da vida real e 64% gostaria de ver mais mulheres de
classe popular em comerciais. Pedi a Jacira Melo e Marisa Sanematsu, do Instituto
Patrícia Galvão, que atua em defesa dos direitos da mulher e é responsável pela
pesquisa ao lado do Data Popular, um texto para este blog: Pesquisa nacional Data
Popular, realizada em parceria com o Instituto Patrícia Galvão, revela que 67% dos
entrevistados gostariam de ver mais morenas nas propagandas na TV, 51% querem ver
mais mulheres negras e 56% não acreditam que os anúncios mostrem a mulher da vida
real. Entre os homens e mulheres entrevistados, 78% veem mais mulheres jovens nas
propagandas e a maioria gostaria de ver mais mulheres maduras.
Ao analisar os dados desse estudo é possível dizer que as mulheres não apenas
não se identificam com as propagandas, mas se veem também com diferentes
capacidades, projetos e sonhos, que vão para além de um corpo sexualizado. Do total
de entrevistados, 84% concordam que o corpo da mulher é usado como chamariz para
promover a venda de produtos e 60% consideram que as mulheres ficam frustradas
quando não têm o padrão de beleza das propagandas na TV.
Esses dados nos levam a concluir que há um descompasso, ou pior, um curto-
circuito entre anunciantes/publicitários e as consumidoras. Embora um profissional do
ramo vá provavelmente dizer que não há nada de errado com a percepção da população
captada pela pesquisa, pois a publicidade opera na lógica do “aspiracional”, isto é, do
sonho, do idealizado, o que obviamente se contrapõe ao real, por outro lado parece
óbvio que as brasileiras, que são, por exemplo, em sua maioria negras e morenas, não
aspiram se tornar brancas e loiras e, por conseqüência, não se identificam com as
mensagens publicitárias da TV brasileira.
A publicidade na contramão dos avanços da sociedade brasileira - A pesquisa
revela também que 80% dos entrevistados consideram que as propagandas na TV
mostram mais mulheres brancas, e 51% gostariam de ver mais mulheres negras. A
publicidade brasileira, por preconceito de classe e de raça/cor, costuma operar com
estereótipos e modelos únicos, antigos, ultrapassados e distantes do lugar das mulheres
na sociedade, do seu protagonismo, e mais distante ainda do biótipo das brasileiras.
A população, segundo a pesquisa, tem a expectativa de que a representação da
mulher na publicidade seja diversa em termos de idade, tipo de cabelo, cor de pele,
enfim, que a propaganda não trabalhe com uma representação única. E aqui é preciso
focalizar a baixa presença de mulheres negras nos anúncios veiculados na TV. Será que
na cabeça de anunciantes e publicitários, a cor negra ainda remete à pobreza? Será que
eles ainda operam com a ideia de que os negros no país têm baixo poder de compra e
por isso não interessam como alvo de suas estratégias? Ou estamos mesmo diante de
uma manifestação de preconceito racial e ignorância, uma vez que há mais de uma
década dados econômicos vêm mostrando exatamente o oposto, que os negros, que hoje
representam 52% da população brasileira, têm significativo e crescente poder aquisitivo
e movimentam R$ 720 bilhões em consumo por ano.
A elite que faz e aprova os anúncios ainda segue o padrão europeu, porque ela
própria é branca, machista e ainda carrega forte preconceito racial. E não é capaz de
entender que a população negra não aspira se tornar branca, ao contrário, tem orgulho
de ser negra e cotidianamente constrói suas próprias referências.
No campo publicitário, como em outras áreas da comunicação, é praxe dizer que
a publicidade apenas reflete comportamentos, costumes e tendências da sociedade. No
entanto, a pesquisa Data Popular/Instituto Patrícia Galvão sugere que a propaganda na
TV está longe de compreender o significado e impacto da representação da mulher em
sua diversidade de cor. A publicidade está distante dos sonhos e ideais em circulação
nos diferentes espaços e segmentos sociais. Em outras palavras, se a mulher não se vê
na propaganda, não vai se identificar nem com o anúncio e nem com o produto.
Sabe-se que a publicidade procura estabelecer padrões, mas age como se assim
não fosse, como se os anúncios não reforçassem estereótipos. E é preciso destacar que
essas representações revelam uma concepção unicamente comercial, desvinculada de
qualquer responsabilidade sobre o papel social da mídia. É inegável que a expressão do
padrão estético disseminado pela mídia em geral, e pela publicidade em especial,
oferece um modelo de beleza feminina de difícil acesso, o que torna a mulher brasileira
uma presa fácil de todo tipo de produto estético, em especial os que prometem milagres.
E a pesquisa toca nesse aspecto e revela a percepção crítica da população: para 65% o
padrão de beleza nas propagandas está muito distante da realidade das brasileiras. E,
como não poderia deixar de ser, 60% consideram que as mulheres ficam frustradas
quando não atingem este padrão. Resultado: a frustração feminina com a própria
imagem e a consequente busca por uma aparência mais próxima dos padrões repetidos à
exaustão pela mídia alimentam as poderosas indústrias da beleza.
58% entendem que as propagandas na TV mostram a mulher como objeto sexual
- Há muito os movimentos de mulheres denunciam peças publicitárias que ofendem a
dignidade e a imagem das mulheres, e que oferecem para as futuras gerações imagens
que reforçam preconceitos. É imperativo atentar para as sérias consequências das
mensagens discriminatórias que são bombardeadas em nosso cotidiano, especialmente
através da TV. Ao reforçar estereótipos negativos da figura feminina – a representação
que opera no plano de uma “mulher símbolo sexual”, de uma “mulher ideal”, de uma
“mulher ilusão”, de uma “mulher perfeita”, sem vontade, sem autonomia e a serviço dos
desejos masculinos –, a publicidade promove efeitos pedagógicos altamente negativos
sobre as futuras gerações de garotos e garotas.
A pesquisa Data Popular e Instituto Patrícia Galvão tem também o objetivo de
alimentar e animar um debate consequente sobre a atual concepção do órgão de
autorregulação da publicidade no país, o Conar, um espaço controlado por dirigentes de
agências e emissoras de TV. Também acreditamos que os dados dessa pesquisa devem
estimular na sociedade o debate sobre regulação e um código de ética da publicidade
brasileira.

Texto III: Texto IV:

“Beleza fácil” – Zélia Duncan “Salão de beleza” – Zeca Baleiro (fragmento)

O mundo Vem você me dizer que vai a um salão de beleza


É gentil com a beleza Fazer permanente massagem rinsagem
Põe a mesa, arruma a sala Reflexos e outras coisas más
Exala a compreensão Baby você não precisa de um salão de beleza
Tudo se faz possível Há menos beleza num salão de beleza
A beleza pode esconder A sua beleza é bem maior do que qualquer salão
O mau, o sujo, o desprezível de beleza
Que ainda assim, só por ser belo Mundo velho e decadente mundo ainda não
Faz parecer incrível aprendeu a admirar a beleza
E o mundo gosta da beleza fácil A verdadeira beleza a beleza que põe mesa
Do que é superprático E que deita na cama
Banalidade rara, superfície clara A beleza de quem come e que deita na cama (...)
Do que se vê logo de cara
E nunca se enxerga

Texto V:

Texto VI:
Tendo em vista os textos acima e os conhecimentos adquiridos ao longo de sua
formação, redija um texto argumentativo-dissertativo sobre o tema:
Os efeitos da padronização da beleza na sociedade contemporânea

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