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br - Informativo de Jurisprudência Nº 85 – Junho/2016

Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Supremo Tribunal Federal IPSEM – Campina Grande.

Selecionados a partir dos informativos 832 a 835 do STF insuficiente, para o reconhecimento da condição de
anistiado, a simples referência a ato normativo editado no
ADMINISTRATIVO contexto de regime de exceção, exigindo-se provas
complementares. Não se trata de inconstitucionalidade da
01. Reclamação. 2. Direito Administrativo. 3. Servidores concessão de anistia, mas de nova interpretação de atos e
públicos. 4. Incorporação da vantagem referente aos fatos aptos ao reconhecimento do efetivo enquadramento
13,23%. Lei 10.698/2003. 5. Ações que visam à defesa do como anistiado político. Assim, houve erro da Administração,
texto constitucional. O julgador não está limitado aos em decorrência de nova interpretação conferida a ato
fundamentos jurídicos indicados pelas partes. Causa emitido em 1964. (RMS-31841/Inf. 833).
petendi aberta. 6. Órgão fracionário afastou a aplicação
do dispositivo legal sem observância do art. 97 da CF 03. Ementa: Ingresso na carreira da magistratura. Art. 93, I,
(reserva de plenário). Interpretação conforme a CRFB. Ec 45/2004. Triênio de atividade jurídica privativa de
Constituição configura claro juízo de controle de bacharel em direito. Requisito de experimentação
constitucionalidade. Violação à Súmula Vinculante n. 10. profissional. Momento da comprovação. Inscrição definitiva.
7. É vedado ao Poder Judiciário conceder reajuste com Constitucionalidade da exigência. ADI 3.460. Reafirmação do
base no princípio da isonomia. Ofensa à Súmula precedente pela suprema corte. Papel da corte de vértice.
Vinculante 37. 8. Reclamação julgada Unidade e estabilidade do direito. Vinculação
procedente. (RCL 14.872-DF/Inf. 832). Inteiro aos seus precedentes. Stare decisis. Princípios
teor do acórdão aqui. da segurança jurídica e da isonomia. Ausência
Prepare-se para o concurso dos requisitos de superação total (overruling)
02. Anulação de anistia e prazo da Advocacia Geral da União do precedente. 1. A exigência de
decadencial. A Primeira Turma deu com comprovação, no momento da
provimento a recurso ordinário em inscrição definitiva (e não na posse),
mandado de segurança para
restabelecer anistia política concedida a
ex-membro das Forças Armadas. Tal
benefício fora declarado por meio de
GEAGU do triênio de atividade jurídica
privativa de bacharel em Direito como
condição de ingresso nas carreiras da
magistratura e do ministério público
Resolução de questões
portaria expedida em 2003, com (arts. 93, I e 129, §3º, CRFB - na redação
fundamento em portaria editada em 1964.
objetivas, peças, pareceres e da Emenda Constitucional n. 45/2004) foi
No caso, em 2012, o Poder Executivo dissertações declarada constitucional pelo STF na
anulara a portaria de 2003 como resultado www.ebeji.com.br ADI 3.460. 2. Mantidas as premissas fáticas
de trabalho revisional iniciado em 2011, e normativas que nortearam aquele julgamento,
provocado por nota emitida pela AGU em 2006. O reafirmam-se as conclusões (ratio decidendi) da
impetrante questionava, em síntese, a constatação de Corte na referida ação declaratória. 3. O papel de Corte
má-fé pela Administração, bem assim sustentava a de Vértice do Supremo Tribunal Federal impõe-lhe dar
ocorrência de decadência, haja vista que a nota emitida pela unidade ao direito e estabilidade aos seus precedentes. 4.
AGU em 2006 não se prestaria a interromper o transcurso Conclusão corroborada pelo Novo Código de Processo Civil,
do prazo quinquenal que a Administração possui para rever especialmente em seu artigo 926, que ratifica a adoção –
seus atos. A Turma acolheu o argumento alusivo à por nosso sistema – da regra do stare decisis, que “densifica
decadência. Anotou que a anistia fora concedida em 2003, e a segurança jurídica e promove a liberdade e a igualdade
sua anulação ocorrera em 2012. A nota emitida pela AGU em uma ordem jurídica que se serve de uma perspectiva
em 2006, cujo efeito é similar ao de um parecer, não tem lógico-argumentativa da interpretação”. (MITIDIERO,
o condão de estancar o fluxo do prazo decadencial. De Daniel. Precedentes: da persuasão à vinculação. São Paulo:
fato, não houvera conduta da Administração capaz de obstar Revista dos Tribunais, 2016). 5. A vinculação vertical e
o prazo decadencial, que se operara. Além disso, não horizontal decorrente do stare decisis relaciona-se
houvera má-fé por parte do anistiado. O Colegiado salientou, umbilicalmente à segurança jurídica, que “impõe
ainda, que o transcurso do prazo decadencial poderia imediatamente a imprescindibilidade de o direito ser
ser excepcionado em hipóteses de flagrante cognoscível, estável, confiável e efetivo, mediante a
inconstitucionalidade, mas não seria a hipótese dos autos. formação e o respeito aos precedentes como meio geral
A Administração promovera intensos debates, de 2003 a para obtenção da tutela dos direitos”. (MITIDIERO,
2011, sobre a natureza das anistias concedidas em razão do Daniel. Cortes superiores e cortes supremas: do controle à
regime militar. Concluíra, posteriormente, que seria interpretação, da jurisprudência ao precedente. São Paulo:

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Revista dos Tribunais, 2013). 6. Igualmente, a regra do contratações sem concurso. Embora recrutamentos dessa
stare decisis ou da vinculação aos precedentes judiciais espécie sejam admissíveis, em tese, mesmo para atividades
“é uma decorrência do próprio princípio da igualdade: permanentes da Administração, fica o legislador sujeito ao
onde existirem as mesmas razões, devem ser proferidas ônus de especificar, em cada caso, os traços de
as mesmas decisões, salvo se houver uma justificativa emergencialidade que justificam a medida atípica. 2. A Lei
para a mudança de orientação, a ser devidamente objeto Complementar 22/2000, do Estado do Ceará, autorizou a
de mais severa fundamentação. Daí se dizer que os contratação temporária de professores nas situações de “a)
precedentes possuem uma força presumida ou licença para tratamento de saúde; b) licença gestante; c)
subsidiária.” (ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre licença por motivo de doença de pessoa da família; d)
permanência, mudança e realização no Direito Tributário. licença para trato de interesses particulares; e ) cursos de
São Paulo: Malheiro, 2011). 7. Nessa perspectiva, a capacitação; e f) e outros afastamentos que repercutam em
superação total de precedente da Suprema Corte carência de natureza temporária”; e para “fins de
depende de demonstração de circunstâncias (fáticas e implementação de projetos educacionais, com vistas à
jurídicas) que indiquem que a continuidade de sua erradicação do analfabetismo, correção do fluxo escolar e
aplicação implicam ou implicarão inconstitucionalidade. qualificação da população cearense” (art. 3º, § único). 3. As
8. A inocorrência desses fatores conduz, inexoravelmente, à hipóteses descritas entre as alíneas “a” e “e” indicam
manutenção do precedente já firmado. 9. Tese reafirmada: ocorrências alheias ao controle da Administração Pública
“é constitucional a regra que exige a comprovação do cuja superveniência pode resultar em desaparelhamento
triênio de atividade jurídica privativa de bacharel em transitório do corpo docente, permitindo reconhecer que a
Direito no momento da inscrição definitiva”. 10. Recurso emergencialidade está suficientemente demonstrada. O
extraordinário desprovido. (RE 655.265/Inf. 833). Inteiro mesmo não se pode dizer, contudo, da hipótese prevista na
teor do acórdão aqui. alínea “f” do art. 3º da lei atacada, que padece de
generalidade manifesta, e cuja declaração de
04. Concurso público: direito subjetivo a nomeação e inconstitucionalidade se impõe. 4. Os projetos educacionais
surgimento de vaga. Em conclusão de julgamento, a previstos no § único do artigo 3º da LC 22/00 correspondem
Primeira Turma, por maioria, negou provimento a recurso a objetivos corriqueiros das políticas públicas de educação
ordinário em mandado de segurança em que se pretendia praticadas no território nacional. Diante da continuada
garantir a nomeação de candidato aprovado em concurso imprescindibilidade de ações desse tipo, não podem elas
público fora das vagas originalmente previstas no edital. O ficar à mercê de projetos de governo casuísticos,
recorrente sustentava haver direito subjetivo à nomeação, implementados por meio de contratos episódicos, sobretudo
em virtude do advento de posto adicional, ainda na vigência quando a lei não tratou de designar qualquer contingência
do concurso. Isso decorreria da existência, durante a especial a ser atendida. 5. Ação julgada parcialmente
validade do certame anterior, de tratativas entre os órgãos procedente para declarar inconstitucionais a alínea “f” e o §
competentes para a deflagração de novo concurso, bem único do art. 3º da Lei Complementar 22/00, do Estado do
como de dotação orçamentária e da necessidade de criação Ceará, com efeitos modulados para surtir um ano após a
de novas vagas. Novo concurso fora realizado apenas dois data da publicação da ata de julgamento. (ADI 3.721/Inf.
meses depois de expirado o prazo do certame pretérito — v. 834). Inteiro teor do acórdão aqui.
Informativo 820. Prevaleceu o voto do Ministro Edson
Fachin. Consignou que o prazo de validade do concurso em 06. Concurso público e restrição à tatuagem. Editais de
que aprovado o recorrente expirara antes da abertura do concurso público não podem estabelecer restrição a
novo certame, a significar que o caso não se amoldaria ao pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais
precedente firmado pelo Plenário no RE 837.311/PI (DJe de em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
18.4.2016). Na ocasião, em sede de repercussão geral, o Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu
Tribunal fixara a tese de que a existência de direito subjetivo provimento a recurso extraordinário em que se discutia a
à nomeação está ligada ao surgimento de nova vaga constitucionalidade de proibição, contida em edital de
durante a validade do certame. A mera existência de concurso público, de ingresso em cargo, emprego ou função
tratativas sobre a inauguração de novo concurso pública para candidatos que possuam tatuagem. No caso, o
permite inferir, apenas, sobre a existência de vaga, mas recorrente fora excluído de concurso público para
não gera direito líquido e certo. O Ministro Roberto provimento de cargo de soldado da polícia militar por possuir
Barroso destacou, ainda, que a suposta vaga decorreria da tatuagem em sua perna esquerda. De início, o Tribunal
aposentadoria de um servidor, mas não houvera reafirmou jurisprudência no sentido de que qualquer
manifestação do órgão competente quanto à disponibilidade restrição para o acesso a cargo público constante em
orçamentária para que o cargo fosse provido, de modo a editais de concurso dependeria da sua específica
não se poder falar em preterição arbitrária. Vencido o menção em lei formal, conforme preceitua o art. 37, I, da
Ministro Marco Aurélio (relator), que dava provimento ao CF (“os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis
recurso. (RMS-31478/Inf. 834). Assista ao vídeo dos aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos
principais julgados da semana. em lei”). Desse modo, revelar-se-ia inconstitucional toda
e qualquer restrição ou requisito estabelecido em
05. Ementa: Constitucional e administrativo. Lei editais, regulamentos, portarias, se não houver lei que
complementar 22/2000, do Estado do Ceará. Contratação disponha sobre a matéria. No caso concreto, não
temporária de professores do ensino básico. Casos de existiria lei no sentido formal e material no ordenamento
licença. Transitoriedade demonstrada. Conformação legal jurídico local que pudesse ser invocada para a
idônea, salvo quanto a duas hipóteses: em quaisquer casos existência da restrição editalícia que motivara a
de afastamento temporário (alínea “f” do art. 3º). Preceito exclusão do recorrente do certame. Sob outro enfoque, a
genérico. Implementação de projetos de erradicação do mera previsão legal do requisito não levaria ao
analfabetismo e outros (§ único do art. 3º). Metas reconhecimento automático de sua juridicidade. O legislador
continuamente exigíveis. 1. O artigo 37, IX, da não poderia escudar-se em pretensa discricionariedade para
Constituição exige complementação normativa criar barreiras arbitrárias para o acesso às funções públicas.
criteriosa quanto aos casos de “necessidade temporária Assim, seriam inadmissíveis e inconstitucionais restrições
de excepcional interesse público” que ensejam ofensivas aos direitos fundamentais, à proporcionalidade ou

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que se revelassem descabidas para o pleno exercício da preenchidos os requisitos de pertinência temática e de
função pública objeto do certame. Toda lei deveria respeitar legitimidade ativa “ad causam” da Associação Nacional dos
os ditames constitucionais, mormente quando referir-se à Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). Vencido o
tutela ou restrição a direitos fundamentais, pois os Ministro Marco Aurélio, que assentava a ilegitimidade da
obstáculos para o acesso a cargos públicos deveriam estar autora para a propositura da ação por entender ausente o
estritamente relacionados com a natureza e as atribuições interesse direto da categoria congregada. No mérito, o
das funções a serem desempenhadas. Além disso, não Tribunal enfatizou, de início, o papel de relevo da
haveria qualquer ligação objetiva e direta entre o fato de um magistratura do trabalho no cenário da prestação
cidadão possuir tatuagens em seu corpo e uma suposta jurisdicional do País. Assentou que não se estaria a discutir
conduta atentatória à moral, aos bons costumes ou ao o legítimo controle pelo chefe do Poder Executivo quanto à
ordenamento jurídico. A opção pela tatuagem relacionar-se- proposta orçamentária da Justiça do Trabalho, mas a
ia, diretamente, com as liberdades de manifestação do legitimidade da avaliação efetuada pelo Poder Legislativo
pensamento e de expressão (CF, art. 5°, IV e IX). Na federal. Em outras palavras, estar-se-ia a analisar se a
espécie, estaria evidenciada a ausência de razoabilidade da fundamentação constante do relatório final da Comissão
restrição dirigida ao candidato de uma função pública pelo Mista de Planos e Orçamentos Públicos e Fiscalização do
simples fato de possuir tatuagem, já que seria medida Congresso Nacional teria sido elemento suficiente para
flagrantemente discriminatória e carente de qualquer inquinar a validade da redução das dotações orçamentárias
justificativa racional que a amparasse. Assim, o fato de uma destinadas ao segmento judicial trabalhista. Dessa forma,
pessoa possuir tatuagens, visíveis ou não, não poderia ser compreendidas as funções institucionais e constitucionais
tratado pelo Estado como parâmetro discriminatório quando que o princípio da separação funcional dos Poderes
do deferimento de participação em concursos de provas e proporciona ao Estado Democrático de Direito, a atividade
títulos para ingresso em carreira pública. Entretanto, de fixar e definir o orçamento constituiria típica atribuição do
tatuagens que representassem obscenidades, ideologias Poder Legislativo.
terroristas, discriminatórias, que pregassem a violência e a Para a Corte, ainda que o texto constitucional tenha
criminalidade, discriminação de raça, credo, sexo ou origem, reservado a iniciativa do processo legislativo ao Poder
temas inegavelmente contrários às instituições Judiciário, não haveria vedação absoluta, sob o ponto de
democráticas, poderiam obstaculizar o acesso a função vista formal, para que o controle fosse realizado pelo Poder
pública. Eventual restrição nesse sentido não se afiguraria Legislativo. A jurisdição constitucional não deteria
desarrazoada ou desproporcional. Essa hipótese, porém, capacidade institucional e não poderia empreender, no
não seria a do recorrente que teria uma tatuagem tribal, controle abstrato, a tarefa de coordenação entre o
medindo 14 por 13 cm. Vencido o Ministro Marco Aurélio, planejamento plurianual e as leis de diretrizes
que negava provimento ao recurso. Pontuava que o tribunal orçamentárias. Ao reconhecer a possibilidade de o Poder
de justiça local, ao examinar os elementos probatórios, não Legislativo emendar proposições da lei orçamentária (CF,
teria claudicado na arte de proceder. Apontava que o art. 166 e parágrafos), a Constituição teria estabelecido suas
acórdão recorrido não conflitaria com a Constituição. (RE- condicionantes. E o Poder Legislativo deteria titularidade e
898450/Inf. 835). Ouça os áudios (1; 2) do julgamento. legitimidade institucional para debater a proposta
orçamentária consolidada pelo chefe do Poder Executivo,
CIVIL E PROCESSO CIVIL com a especificação de valores e dotações a serem
destinadas às múltiplas atividades estatais. Nesse ponto,
01. Recurso extraordinário – matéria fática e legal. O recurso frisou que o ato complexo de elaboração conjunta
extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, significa que o Poder Judiciário envia sua proposta, o
também não servindo à interpretação de normas Poder Executivo a consolida e o Poder Legislativo a
estritamente legais. Recurso – honorários advocatícios. arbitra. Não haveria, portanto, afronta à separação de
Descabe a fixação de honorários recursais, Poderes. Assinalou que as normas procedimentais quanto
preconizados no artigo 85, § 11 do Código de Processo ao processo legislativo teriam sido atendidas, observada a
Civil de 2015, quando tratar-se de extraordinário iniciativa da proposição com respeito formal à autonomia
formalizado no curso de processo cujo rito os exclua. administrativa e financeira da Justiça do Trabalho. O
(AgR no ARE 948.578/Inf. 833). Inteiro teor do acórdão Plenário rejeitou, ainda, a alegação de suposta ofensa à
aqui. divisão funcional de Poder, uma vez que a autonomia
orçamentária do Poder Judiciário também teria sido
CONSTITUCIONAL respeitada. Reputou que o STF admitiria o controle material
das espécies legislativas orçamentárias, o que
01. ADI: projeto de leis orçamentárias e princípio da corresponderia a uma tendência recente na jurisprudência
separação de Poderes. Salvo em situações graves e da Corte. Destacou que o Colegiado teria acentuado a
excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena possibilidade de controle abstrato de constitucionalidade de
de violação ao princípio da separação de Poderes, normas orçamentárias (ADI 4.048 MC/DF, DJe de
interferir na função do Poder Legislativo de definir 22.8.2008). Enfatizou que, embora a fundamentação
receitas e despesas da Administração Pública, apresentada no relatório final da Comissão Mista de Planos
emendando projetos de leis orçamentárias, quando e Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso
atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, Nacional ostente motivação ideológica enviesada, esse ato,
da Constituição Federal. Com base nessa orientação, o “per si”, não vincularia os parlamentares das Casas
Plenário, por maioria, reputou improcedente pedido Legislativas do parlamento federal.
formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada Segundo o Colegiado, ainda quando se avalia cada um
em face da Lei 13.255/2016 (Lei Orçamentária Anual), na dos subprincípios da proporcionalidade — necessidade,
parte em que prevê o orçamento da Justiça do Trabalho. adequação e proporcionalidade em sentido estrito —, a
Referida norma, ao estimar a receita e fixar a despesa da redução do orçamento público destinado a órgãos e
União para o exercício financeiro de 2016, estabelece corte programas orçamentários em decorrência de contexto de
da ordem de 90% nas despesas de investimento e de 24,9% crise econômica e fiscal não configuraria abuso do poder
nas despesas de custeio daquela justiça especializada. legislativo. Assentou não terem sido demonstrados excessos
Preliminarmente, por maioria, o Colegiado reconheceu quanto às modificações realizadas em matéria de

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programação orçamentária, as quais seriam dependentes do se o Congresso Nacional, no desempenho formal dessa
conteúdo socioeconômico do País em dado momento atribuição que a Constituição lhe confere pode ou não
histórico. Afastou, por conseguinte, as alegações de que a formular provimentos legislativos eventualmente deformados
atuação parlamentar relativamente às dotações da justiça do quanto ao seu conteúdo pela eiva do caráter arbitrário de
trabalho teriam seriam discriminatórias, uma vez que o suas disposições. Destacava que a competência legislativa
discrímen legislativo seria compatível com a sistemática não teria caráter absoluto, não poderia ser exercida de modo
constitucional vigente. O Tribunal reputou, ainda, não excessivo, arbitrário ou irresponsável, sob pena de se
merecer acolhida a assertiva de que a norma estaria em subverter os fins a que se dirige a função legislativa.
desconformidade com o plano plurianual (PPA) que, entre Registrava que um dos efeitos perversos do abuso do poder
suas diretrizes preveria a promoção do emprego com de legislar, em especial no plano da legislação orçamentária,
garantia de direitos trabalhistas e o fortalecimento das consistiria em sua projeção negativa e lesiva sobre a
relações de trabalho. Asseverou que, no debate parlamentar integridade dos mecanismos institucionais de proteção
acerca das dotações destinadas à justiça do trabalho teriam jurisdicional, com grave repercussão sobre o exercício de
sido observados os requisitos procedimentais e direitos essenciais e de liberdades fundamentais,
substanciais. Por sua vez, a análise da desconformidade, especialmente no campo delicado dos direitos sociais da
ou não, da LOA 2016 com o plano plurianual não imporia classe trabalhadora. Asseverava que de nada valeriam os
a atuação do STF, considerada a tessitura aberta direitos e as liberdades se os fundamentos em que se
prevista na Constituição (“Art. 166. Os projetos de lei apoiam deixaram de contar com o suporte do Poder
relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao Judiciário, que poderia ficar paralisado pela ausência de
orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados recursos orçamentários necessários ao regular
pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do funcionamento de seus órgãos. Lembrava que, uma vez
regimento comum. ... § 3º As emendas ao projeto de lei do alcançado determinado nível de concretização em tema de
orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente direitos fundamentais de caráter social, o princípio da
podem ser aprovadas caso: I - sejam compatíveis com o proibição do retrocesso impediria que fossem
plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias;”). desconstituídas as conquistas alçadas pelos cidadãos ou, no
A Corte salientou não ter verificado abusividade na contexto em exame, pelos empregados e trabalhadores, que
atuação do Poder Legislativo. Além disso, a função de estariam impossibilitados de transformar em realidade
definir receitas e despesas do aparato estatal seria uma concreta os direitos abstratamente previstos no
das mais tradicionais e relevantes dentre os poderes ordenamento positivo. Assegurava que o retrocesso social
constituídos e deveria ser preservada pelo Poder poderia comprometer o núcleo essencial de valores
Judiciário, sob pena de indevida e ilegítima tentativa de fundamentais, como os direitos sociais da classe
esvaziamento de típica função parlamentar. Ademais, trabalhadora, colocados em situação de evidente lesividade.
não haveria impedimentos a ajustes nas dotações da Justiça A Ministra Rosa Weber corroborava os fundamentos
do Trabalho ainda nesse exercício financeiro, haja vista que expostos pelo Ministro Celso de Mello. (ADI-5468/Inf. 832).
a Constituição também possibilita a autorização de crédito Ouça os áudios (1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9) do julgamento.
suplementar ou especial durante a execução da lei
orçamentária (“Art. 99 ... § 5º. Durante a execução 02. Lei estadual e bloqueadores de sinal de celular. Lei
orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de
despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os celular em presídio invade a competência da União para
limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, legislar sobre telecomunicações. Com base nesse
exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de entendimento, o Plenário, em apreciação conjunta e por
créditos suplementares ou especiais”). Por fim, concluiu que maioria, declarou a inconstitucionalidade da Lei 3.153/2005
o Tribunal deveria estar atento às singularidades do Estado do Mato Grosso do Sul e da Lei 15.829/2012 do
institucionais do aparato estatal brasileiro, que se Estado de Santa Catarina. E, com a conversão de referendo
estruturaria a partir de premissas mínimas de programação de medida cautelar em julgamento de mérito, também por
orçamentária, para permitir que os serviços públicos e as decisão majoritária, reputou inconstitucionais a Lei
funções estatais típicas possam ser desempenhadas com 4.650/2015 do Estado do Mato Grosso do Sul, o art. 1º,
regularidade, continuidade e adequação, sempre em “caput” e parágrafo único, e o art. 2º, “caput” e parágrafo
consonância com as demandas sociais e institucionais único, da Lei 13.189/2014 do Estado da Bahia, e a Lei
submetidas à Corte. 18.293/2014 do Estado do Paraná. A Corte afirmou que,
Vencidos os Ministros Celso de Mello, Ricardo ao determinar às empresas de telefonia a instalação de
Lewandowski (Presidente) e Rosa Weber, que julgavam o equipamentos para interrupção de sinal nas unidades
pedido procedente. O Ministro Presidente entendia haver prisionais, o legislador local instituíra obrigação
vício na motivação que teria levado os parlamentares a diretamente relacionada ao objeto da concessão do
promoverem corte desarrazoado e desproporcional em serviço móvel pessoal. Dessa forma, teria atuado no
relação aos demais Poderes. Realçava que a Justiça do núcleo da regulação da atividade de telecomunicações,
Trabalho estaria sendo discriminada num contexto em que de competência da União, já que a ela caberia disciplinar
se prega a flexibilização dos direitos sociais e a remessa das a transmissão de sinais no campo eletromagnético de
disputas trabalhistas para uma solução privada. O Ministro maneira adequada (CF, art. 21, XI e 175, IV). Além disso, o
Celso de Mello reconhecia que a manipulação do processo STF teria declarado a inconstitucionalidade formal e
de formação, elaboração e execução da Lei Orçamentária suspendido a vigência de normas estaduais e distritais
Anual poderia atuar como instrumento de dominação de que teriam interferido diretamente na prestação da
outros Poderes da República por aquele encarregado da atividade desempenhada pelas concessionárias de
gestão da peça orçamentária. Isso poderia culminar em um serviços de telecomunicação, sob o fundamento de que,
estado de submissão financeira e de subordinação em situações a envolver possível interdisciplinaridade,
orçamentária incompatível com a autonomia que a própria as questões relacionadas ao interesse geral ou nacional
Constituição outorgou. Apontava que não se questiona a deveriam ser tratadas de maneira uniforme no País
exclusividade do poder de iniciativa do chefe do Poder inteiro. A disciplina dos serviços públicos que
Executivo em matéria orçamentária ou a atribuição do Poder funcionariam em todo o território caberia à União. Seria
Legislativo de elaborar a legislação orçamentária, mas sim, com amparo nessa ideia que a doutrina proporia a

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denominada prevalência do interesse como critério para hierárquica do agente político ou do servidor público de
a solução de conflitos, reconhecendo-se a competência referência no processo de seleção para fins de
da União quando a matéria transcender os interesses configuração objetiva de nepotismo na contratação de
locais e regionais. Os procedimentos concernentes à pessoa com relação de parentesco com ocupante de
operação de telefonia celular e ao bloqueio de sinal, em cargo de direção, chefia ou assessoramento no mesmo
determinadas áreas, poderiam afetar diretamente a órgão, salvo ajuste mediante designações recíprocas. 3.
qualidade da prestação do serviço para a população Reclamação julgada improcedente. Cassada a liminar
circundante, tema a demandar tratamento uniforme em todo anteriormente deferida. (Rcl 18.564/Inf. 833). Inteiro teor do
o País, ainda que a finalidade do legislador estadual fosse a acórdão aqui.
segurança pública. Ademais, a legislação estadual não
trataria propriamente de direito penitenciário, mas da relação 04. Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº
dos estabelecimentos penitenciários com um serviço 9.450, de 31 de janeiro de 2011, do Estado do Rio Grande
externo, serviço de telecomunicações. Seria, portanto, do Norte, a qual veda a cobrança, no âmbito daquele
inegável que a questão teria alguma conexão com a Estado, das tarifas de assinatura básica pelas
segurança pública, mas seu grande objetivo seria concessionárias prestadoras de serviços de telefonia fixa e
econômico. Os Estados teriam interesse em transferir os móvel. Competência privativa da União para legislar sobre
custos do bloqueio de sinal para as prestadoras do serviço. telecomunicações. Violação do art. 22, IV, da Constituição
O Tribunal observou que, o fundamento da legislação Federal. Precedentes. Inconstitucionalidade formal.
estadual pouco ou nada teria a ver com peculiaridades Procedência da ação. 1. A Lei nº 9.450/11, do Estado do
locais. A utilização de telefones no interior de Rio Grande do Norte, ao proibir a cobrança de
estabelecimentos prisionais como meio para a prática de assinatura básica dos consumidores e usuários dos
crimes seria uma questão nacional. Nesse campo, serviços de telefonia fixa e móvel, violou o art. 22, inciso
tratamentos diferentes pelas diversas unidades da federação IV, da Lei Maior, o qual dispõe ser da União a
não se justificariam como resposta customizada a realidades competência para legislar sobre telecomunicações.
não semelhantes. Precedentes: ADI nº 2.615/SC, Tribunal Pleno, Relator para
Vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso acórdão o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 18/5/15; ADI nº
e Rosa Weber, que julgavam improcedente os pedidos. 4.369/SP, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Marco Aurélio,
Pontuavam que a distribuição de competência entre os DJe de 3/11/14; ADI nº 3.847/SC, Tribunal Pleno, Relator o
diversos entes federativos, à luz do federalismo cooperativo Ministro Gilmar Mendes, DJe de 9/3/12; ADI nº 4.478/AP,
inaugurado pela Constituição de 1988, não se satisfaria Tribunal Pleno, Relator para acórdão o Ministro Luiz Fux,
somente com o princípio informador da predominância de DJe de 30/11/11). 2. Ação direta julgada procedente. (ADI
interesses. Ponderavam existir espaços de indeterminação, 4.603/Inf. 834). Inteiro teor do acórdão aqui.
nos quais os entes, embora fossem legitimados a agir com
autonomia, poderiam sobrepor-se a áreas de competências 05. Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº
de outros entes. Nessas situações, a regra de circunscrever- 5.934 de 29 de março de 2011, do Estado do Rio de Janeiro.
se à territorialidade não atenderia plenamente o conflito Possibilidade de utilização, no mês subsequente, dos
existente entre elas. minutos da franquia não utilizados no mês anterior.
No caso, não obstante a lei local indiretamente tivesse ponto Telecomunicações. Competência legislativa privativa da
de contato com o tema das telecomunicações, versaria, União. Violação do art. 22, IV, da Constituição Federal.
materialmente, sobre questões afeitas à competência Precedentes. Inconstitucionalidade formal. Procedência da
concorrente dos Estados-membros como direito ação. 1. A Lei nº 5.934/11 do Estado do Rio de Janeiro,
penitenciário, segurança pública e consumo. Inexistiria, ao dispor acerca da possibilidade de acúmulo das
dessa forma, afastamento claro de tal competência franquias de minutos mensais ofertados pelas
legislativa dos Estados-Membros pela legislação federal que operadoras de telefonia, violou o art. 22, inciso IV, da Lei
regeria as telecomunicações. (ADI-3835; ADI-5356; ADI- Maior, que confere à União a competência privativa para
5253; ADI-5327 e ADI-4861/Inf. 833). Assista ao vídeo dos dispor sobre telecomunicações. Precedentes. 2. Ação
principais julgados da semana. Ouça os áudios (1; 2; 3; direta julgada procedente. (ADI 4.649/Inf. 834). Inteiro teor
4) do julgamento. do acórdão aqui.

03. Constitucional e Administrativo. Súmula Vinculante nº 06. Contas de prefeito e competência para julgar. Para os
13. Ausência de configuração objetiva de fins do art. 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar
nepotismo. Reclamação julgada improcedente. Liminar 64, de 18 de maio de 1990, alterado pela Lei
anteriormente deferida cassada. 1. Com a edição da Complementar 135, de 4 de junho de 2010, a apreciação
Súmula Vinculante nº 13, embora não se tenha das contas de prefeitos, tanto as de governo quanto as
pretendido esgotar todas as possibilidades de de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com
configuração de nepotismo na Administração Pública, o auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo
foram erigidos critérios objetivos de conformação, a parecer prévio somente deixará de prevalecer por
saber: i) ajuste mediante designações recíprocas, decisão de 2/3 dos vereadores. Essa a tese fixada por
quando inexistente a relação de parentesco entre a decisão majoritária do Plenário em conclusão de julgamento
autoridade nomeante e o ocupante do cargo de de recurso extraordinário no qual se discutia a definição do
provimento em comissão ou função comissionada; ii) órgão competente para julgar as contas do chefe do Poder
relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a Executivo que age na qualidade de ordenador de despesas
autoridade nomeante; iii) relação de parentesco entre a — v. Informativos 833 e 834. Vencidos os Ministros Luiz Fux
pessoa nomeada e o ocupante de cargo de direção, e Rosa Weber. O parecer técnico elaborado pelo Tribunal de
chefia ou assessoramento a quem estiver subordinada e Contas tem natureza meramente opinativa, competindo
iv) relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das
autoridade que exerce ascendência hierárquica ou contas anuais do Chefe do Poder Executivo local, sendo
funcional sobre a autoridade nomeante. 2. Em sede incabível o julgamento ficto das contas por decurso de
reclamatória, com fundamento na SV nº 13, é prazo. Essa a tese fixada por decisão majoritária do Plenário
imprescindível a perquirição de projeção funcional ou em conclusão de julgamento de recurso extraordinário no

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qual se discutia a competência exclusiva da câmara regressão de regime. O Colegiado aduziu que a prática de
municipal para o julgamento das contas de prefeito e, por fato definido como crime doloso no curso da execução penal
consequência, a natureza jurídica do parecer prévio do acarreta a regressão de regime. Vencido o Ministro Marco
tribunal de contas — v. Informativos 833 e 834. Vencidos os Aurélio, que provia o agravo. Reputava que o processo-
Ministros Roberto Barroso, Edson Fachin e Rosa Weber, crime ainda estaria em curso na justiça comum, sem poder
que acresciam à tese a seguinte expressão: “É repercutir, portanto, no cumprimento de pena já formalizada.
inconstitucional a prática dos órgãos legislativos de não No segundo caso, a progressão de regime da sentenciada
julgar essas contas em prazo razoável, quando sobre elas já fora condicionada ao adimplemento da pena de multa. Para
tenha sido emitido o parecer do Tribunal de Contas”. obter esse direito, a agravante realizara acordo de
Vencido, também, o Ministro Luiz Fux ao fundamento de parcelamento do valor, razão pela qual progredira.
que, diante da omissão da câmara municipal, prevaleceria o Posteriormente, deixara de pagar as parcelas, a implicar a
parecer prévio do tribunal de contas. (RE-729744/Inf. 835). regressão. O Tribunal entendeu que o inadimplemento
Ouça os áudios (1; 2) do julgamento. injustificado das parcelas da pena de multa autoriza a
regressão no regime prisional. Vencido o Ministro Marco
07. PGR e conflito de atribuição entre órgãos do ministério Aurélio, que provia o agravo, ao fundamento de que o
público. Cabe ao Procurador-Geral da República a descumprimento de pena de multa não implicaria a sua
apreciação de conflitos de atribuição entre órgãos do transformação em reprimenda restritiva de liberdade. (EP-8
ministério público. Com base nesse entendimento, o e EP-16/Inf. 832). Ouça o áudio do julgamento.
Plenário, por maioria, resolveu questão de ordem no sentido
do não conhecimento da ação e remeteu os autos ao 03. Ementa: Habeas corpus. Processo penal. Homicídio
Procurador-Geral da República. No caso, instaurara-se duplamente qualificado. Defensoria pública. Julgamento da
conflito negativo de atribuições entre ministério público apelação. Falta de intimação pessoal. Nulidade processual.
estadual e ministério público federal, para apuração de crime Matéria não arguida oportunamente. Ordem denegada. 1. À
contra o mercado de capitais previsto no art. 27-E da Lei Defensoria Pública, instituição permanente e essencial à
6.385/1976. O Tribunal consignou que a competência para a função jurisdicional do Estado, compete promover a
apreciação de conflitos de atribuição entre membros do assistência jurídica judicial e extrajudicial aos necessitados
ministério público, por não se inserir nas competências (art. 134 da Constituição Federal), sendo-lhe asseguradas
originárias do STF (CF, art. 102, I), seria constitucionalmente determinadas prerrogativas para o efetivo exercício de sua
atribuída ao Procurador-Geral da República, como órgão missão constitucional. 2. A intimação pessoal dos atos
nacional do ministério público. Vencidos os Ministros Marco processuais constitui prerrogativa da Defensoria
Aurélio e Celso de Mello, que conheciam da ação. Pública, de quem se exige, caso se considere
Pontuavam que a competência seria do STF e que prejudicada em seu direito, suscitar sua irresignação na
conclusão diversa culminaria por nulificar, de modo absoluto, primeira oportunidade a falar nos autos. No caso, não
a autonomia institucional dos ministérios públicos estaduais. obstante tenha oposto embargos de declaração, a defesa
(ACO-1567/Inf. 835). Assista ao vídeo dos principais veiculou tal insurgência somente quando da interposição do
julgados da semana. Ouça o áudio do julgamento. Recurso Especial. Matéria preclusa. Precedentes. 3. Ordem
denegada. (HC 133.476-AM/Inf. 832). Inteiro teor do
PENAL E PROCESSO PENAL acórdão aqui.

01. PSV: regime de cumprimento de pena e vaga em 04. Ementa: Processo penal. Questão de ordem. Acusados
estabelecimento penal (Enunciado 56 da Súmula representados por advogados distintos. Prazo em dobro
Vinculante). O Plenário, em conclusão de julgamento e por para resposta. Limites da aplicação subsidiária do art.
maioria, acolheu proposta de edição de enunciado de 229 do Código de Processo Civil. 1. Não cabe a aplicação
súmula vinculante com o seguinte teor: “A falta de subsidiária do art. 229, caput, do CPC/2015 em
estabelecimento penal adequado não autoriza a inquéritos e ações penais originárias em que os atos
manutenção do condenado em regime prisional mais processuais das partes são praticados por via eletrônica
gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os e todos os interessados - advogados e membros do
parâmetros fixados no RE 641.320/RS” — v. Informativo Ministério Público - têm acesso amplo e simultâneo ao
777. O Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente) reajustou inteiro teor dos autos. 2. Pedido indeferido. (Q.O. no Inq.
voto proferido em assentada anterior, acatando, assim, 3.980-DF/Inf. 832). Inteiro teor do acórdão aqui.
proposta redacional sugerida pelo Ministro Roberto Barroso. 05. Ementa: Direito Processual Penal. Inquérito. Prova
Vencido o Ministro Marco Aurélio, que aprovava a proposta emprestada. 1. É assente na jurisprudência desta Corte a
originalmente apresentada pelo Defensor Público-Geral admissibilidade, em procedimentos administrativos ou
Federal (“O princípio constitucional da individualização da civis, de prova emprestada produzida em processo
pena impõe seja esta cumprida pelo condenado, em regime penal, mesmo que sigilosos os procedimentos
mais benéfico, aberto ou domiciliar, inexistindo vaga em criminais. 2. Agravo regimental provido. (AgR no Inq. 3.305-
estabelecimento adequado, no local da execução”). (PSV- RS/Inf. 832). Inteiro teor do acórdão aqui.
57/Inf. 832). Assista ao vídeo dos principais julgados da
semana. Ouça o áudio do julgamento. 06. Habeas corpus. Penal e processual penal militar. Posse
de substância entorpecente em local sujeito à administração
02. Regressão de regime: inadimplemento de pena de multa militar (CPM, art. 290). Crime praticado por militares em
e cometimento de novo crime. O Plenário, em julgamento situação de atividade em lugar sujeito à administração militar.
conjunto e por maioria, negou provimento a agravos Competência da Justiça Castrense configurada (CF, art. 124
regimentais em execuções penais referentes a condenados c/c CPM, art. 9º, I, b). Pacientes que não integram mais as
nos autos da AP 470/MG (DJe de 22.4.2013). No primeiro fileiras das Forças Armadas. Irrelevância para fins de fixação
caso, o agravante, durante o cumprimento da pena em da competência. Interrogatório. Realização ao final da
regime semiaberto, fora condenado pela justiça comum em instrução (art. 400, CPP). Obrigatoriedade. Aplicação às
outro processo, tendo em conta crimes praticados ações penais em trâmite na Justiça Militar dessa alteração
concomitantemente ao cumprimento da reprimenda. introduzida pela Lei nº 11.719/08, em detrimento do art. 302
Insurgia-se, então, contra a decisão que determinara a do Decreto-Lei nº 1.002/69. Precedentes. Adequação do

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sistema acusatório democrático aos preceitos constitucionais penal. Nulidade processual. Sustentação oral. Ausência de
da Carta de República de 1988. Máxima efetividade dos intimação da defesa para a sessão de julgamento.
princípios do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, inciso Inocorrência. Writ sucedâneo de recurso ou revisão criminal.
LV). Incidência da norma inscrita no art. 400 do Código de Inviabilidade. 1. O Superior Tribunal de Justiça observou, por
Processo Penal comum aos processos penais militares cuja analogia, os precedentes da Primeira Turma desta Suprema
instrução não se tenha encerrado, o que não é o caso. Ordem Corte quanto à não admissão do habeas corpus em
denegada. Fixada orientação quanto a incidência da norma substituição ao recurso ordinário constitucional, não
inscrita no art. 400 do Código de Processo Penal comum a conhecendo do writ porque substitutivo do recurso especial.
partir da publicação da ata do presente julgamento, aos 2. A sustentação oral, compreendida no direito à ampla
processos penais militares, aos processos penais eleitorais e defesa protegido constitucionalmente (art. 5º, LV, da
a todos os procedimentos penais regidos por legislação Constituição Federal), configura sem dúvida importante
especial, incidindo somente naquelas ações penais cuja instrumento para seu exercício, ainda que não reconhecida
instrução não se tenha encerrado. 1. Os pacientes, quando pela jurisprudência do STF como ato essencial à defesa. 3.
soldados da ativa, foram surpreendidos na posse de A intimação para a sessão de julgamento da apelação
substância entorpecente (CPM, art. 290) no interior do 1º em nome de advogado regularmente constituído, com
Batalhão de Infantaria da Selva em Manaus/AM. Cuida-se, poderes para tanto, diante de requerimento para que
portanto, de crime praticado por militares em situação de todos os patronos dela constassem, notadamente o
atividade em lugar sujeito à administração militar, o que atrai causídico não incluído, não conduz à decretação de
a competência da Justiça Castrense para processá-los e nulidade do feito, ausente pedido de sustentação oral e
julgá-los (CF, art. 124 c/c CPM, art. 9º, I, b). 2. O fato de os não arguido vício seja nos embargos de declaração, seja
pacientes não mais integrarem as fileiras das Forças nos recursos especial e extraordinário manejados na
Armadas em nada repercute na esfera de competência ação penal. Precedentes. 4. Inviável a utilização do habeas
da Justiça especializada, já que, no tempo do crime, eles corpus como sucedâneo de recurso ou revisão criminal.
eram soldados da ativa. 3. Nulidade do interrogatório dos Precedente. 5. Recurso ordinário em habeas corpus a que
pacientes como primeiro ato da instrução processual se nega provimento. (RHC 130.270/Inf. 834). Inteiro teor do
(CPPM, art. 302). 4. A Lei nº 11.719/08 adequou o sistema acórdão aqui.
acusatório democrático, integrando-o de forma mais
harmoniosa aos preceitos constitucionais da Carta de TRIBUTÁRIO
República de 1988, assegurando-se maior efetividade a
seus princípios, notadamente, os do contraditório e da ampla 01. Imposto sobre produtos industrializados – importação de
defesa (art. 5º, inciso LV). 5. Por ser mais benéfica (lex bens para uso próprio – consumidor final. Incide, na
mitior) e harmoniosa com a Constituição Federal, há de importação de bens para uso próprio, o Imposto sobre
preponderar, no processo penal militar (Decreto-Lei nº Produtos Industrializados, sendo neutro o fato de tratar-
1.002/69), a regra do art. 400 do Código de Processo se de consumidor final. (RE 723.651/Inf. 833). Inteiro teor
Penal. 6. De modo a não comprometer o princípio da do acórdão aqui.
segurança jurídica (CF, art. 5º, XXXVI) nos feitos já
sentenciados, essa orientação deve ser aplicada somente 02. Recurso extraordinário. Repercussão geral. Direito
aos processos penais militares cuja instrução não se tenha tributário. Direito previdenciário. Contribuição previdenciária.
encerrado, o que não é o caso dos autos, já que há Folha de salário. Instituições financeiras e assemelhadas.
sentença condenatória proferida em desfavor dos pacientes Diferenciação de alíquotas. Contribuição adicional de 2,5%.
desde 29/7/14. 7. Ordem denegada, com a fixação da Art. 22, §1º, da lei 8.212/91. Constitucionalidade. 1. A
seguinte orientação: a norma inscrita no art. 400 do Código jurisprudência do STF é firme no sentido de que a lei
de Processo Penal comum aplica-se, a partir da complementar para instituição de contribuição social é
publicação da ata do presente julgamento, aos processos exigida para aqueles tributos não descritos no altiplano
penais militares, aos processos penais eleitorais e a constitucional, conforme disposto no § 4º do artigo 195
todos os procedimentos penais regidos por legislação da Constituição da República. A contribuição incidente
especial incidindo somente naquelas ações penais cuja sobre a folha de salários esteve expressamente prevista
instrução não se tenha encerrado. (HC 127.900/Inf. 833). no texto constitucional no art. 195, I, desde a redação
Inteiro teor do acórdão aqui. original. O artigo 22, § 1º, da Lei 8.212/91 não prevê nova
contribuição ou fonte de custeio, mas mera
07. Ementa: Estatuto da Criança e do Adolescente. Habeas diferenciação de alíquotas, sendo, portanto,
Corpus Incidência da Súmula 691/STF. Ato infracional formalmente constitucional. 2. Quanto à
análogo ao tráfico de drogas. Medida de Internação. Ordem constitucionalidade material, a redação do art. 22, § 1º, da
concedida de ofício. 1. Não compete ao Supremo Tribunal Lei 8.212 antecipa a densificação constitucional do princípio
Federal examinar questão de direito não apreciada da igualdade que, no Direito Tributário, é consubstanciado
definitivamente pelo Superior Tribunal de Justiça nos subprincípios da capacidade contributiva, aplicável a
(Súmula 691/STF). 2. A conduta praticada pelo paciente todos os tributos, e da equidade no custeio da seguridade
não envolveu violência ou grave ameaça à pessoa. social. Esses princípios destinam-se preponderantemente ao
Ademais, não se comprovou o cometimento de outras legislador, pois nos termos do art. 5º, caput, da CRFB,
infrações graves ou mesmo o descumprimento de medida apenas a lei pode criar distinções entre os cidadãos. Assim,
anteriormente imposta. Interpretação do art. 122 do Estatuto a escolha legislativa em onerar as instituições
da Criança e do Adolescente. 3. Habeas corpus não financeiras e entidades equiparáveis com a alíquota
conhecido. Ordem concedida de ofício, exclusivamente com diferenciada, para fins de custeio da seguridade social,
relação ao paciente, para que seja fixada medida revela-se compatível com a Constituição. 3. Fixação da
socioeducativa diversa da internação. (HC 125.016/Inf. 833). tese jurídica ao Tema 204 da sistemática da repercussão
Inteiro teor do acórdão aqui. geral: “É constitucional a previsão legal de diferenciação
de alíquotas em relação às contribuições
08. Ementa: Recurso ordinário em habeas corpus. Processo previdenciárias incidentes sobre a folha de salários de
penal. Impetração não conhecida no Superior Tribunal de instituições financeiras ou de entidades a elas
Justiça por inadequação da via eleita. Apelação na ação legalmente equiparáveis, após a edição da EC 20/98.” 4.

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Recurso extraordinário a que se nega provimento. (RE
598.572/Inf. 833). Inteiro teor do acórdão aqui.

03. Cooperativas de trabalho, terceiros e contribuição ao


PIS/Pasep. A receita auferida pelas cooperativas de
trabalho decorrente dos atos (negócios jurídicos)
firmados com terceiros se insere na materialidade da
contribuição ao PIS/Pasep. Com base nessa orientação, o
Plenário acolheu embargos de declaração para prestar
esclarecimentos, sem efeitos infringentes. Na espécie, a
embargante — cooperativa prestadora de serviço com
terceiros tomadores de serviço — apontou que o recurso
extraordinário teria tratado apenas de ato externo das
cooperativas de trabalho (v. Informativo 766). Portanto,
quando realizassem atos com terceiros, deveriam ser
tributadas pelo PIS. O Plenário reafirmou que a norma do
art. 146, III, “c”, da Constituição, que assegura o adequado
tratamento tributário do ato cooperativo, seria dirigida,
objetivamente, ao ato cooperativo, e não, subjetivamente, à
cooperativa. Elucidou que a questão da incidência da
contribuição ao PIS não deveria levar em consideração
se o ato do qual a receita ou o faturamento se origina
seria qualificado como cooperativo ou não. Mas sim, se
a sociedade tributada teria praticado o fato gerador
dessa exação, se teria auferido receita ou faturamento,
tendo em conta suas atividades econômicas e seus
objetos sociais. Assim, a partir da exegese constitucional
do que seja o “adequado tratamento tributário do ato
cooperativo”, a Corte, para o caso concreto, firmou o
entendimento de que a receita ou o faturamento auferidos
pelas cooperativas de trabalho decorrentes dos negócios
jurídicos praticados com terceiros se inseririam na
materialidade da contribuição ao PIS/Pasep. Por fim,
registrou que o tema do adequado tratamento tributário do
ato cooperativo será retomado pelo Plenário para dirimir
controvérsia acerca da cobrança de contribuições sociais
destinadas à seguridade social incidentes, também, sobre
outras materialidades, como o lucro, por ocasião do
julgamento do RE 672.215/CE, de relatoria do Ministro
Roberto Barroso, com repercussão geral reconhecida. (RE-
599362/Inf. 835). Ouça o áudio do julgamento.

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Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Superior Tribunal de Justiça IPSEM – Campina Grande.

Selecionados a partir dos informativos 583 e 584 do STJ respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do
lote) (RE 422.349-RS, Tribunal Pleno, DJe 5/8/2015). (REsp
ADMINISTRATIVO 1.360.017-RJ/Inf. 584). Inteiro teor do acórdão aqui.

01. Direito administrativo. Possibilidade de dupla CONSUMIDOR


condenação ao ressarcimento ao erário pelo mesmo fato.
Não configura bis in idem a coexistência de título 01. Súmula n. 572. O Banco do Brasil, na condição de
executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem
condenatória em ação civil pública de improbidade Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar
administrativa que determinam o ressarcimento ao previamente o devedor acerca da sua inscrição no
erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para
observada a dedução do valor da obrigação que as ações de reparação de danos fundadas na ausência
primeiramente foi executada no momento da execução de prévia comunicação. Segunda Seção, julgado em
do título remanescente. Conforme sedimentada 11/5/2016, DJe 16/5/2016.
jurisprudência do STJ, nos casos em que fica
demonstrada a existência de prejuízo ao erário, a 02. Direito do consumidor. Hipótese em que a inscrição
sanção de ressarcimento, prevista no art. 12 da Lei n. indevida em cadastro de inadimplentes não enseja
8.429/92, é imperiosa, constituindo consequência indenização por dano moral. Recurso repetitivo (art. 543-c
necessária do reconhecimento da improbidade do CPC/1973 e Res. STJ n. 8/2008). Tema 922. A inscrição
administrativa (AgRg no AREsp 606.352-SP, Segunda indevida comandada pelo credor em cadastro de
Turma, DJe 10/2/2016; REsp 1.376.481-RN, Segunda proteção ao crédito, quando preexistente legítima
Turma, DJe 22/10/2015). Ademais, as instâncias judicial e inscrição, não enseja indenização por dano moral,
administrativa não se confundem, razão pela qual a ressalvado o direito ao cancelamento. A Súmula n. 385
fiscalização do TCU não inibe a propositura da ação civil do STJ prevê que "Da anotação irregular em cadastro de
pública. Assim, é possível a formação de dois títulos proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral,
executivos, devendo ser observada a devida dedução do quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito
valor da obrigação que primeiramente foi ao cancelamento". O fundamento dos precedentes
executada no momento da execução do título da referida súmula - "quem já é registrado
remanescente. Precedente citado do STJ: como mau pagador não pode se sentir
REsp 1.135.858-TO, Segunda Turma, DJe Prepare-se para os concursos moralmente ofendido por mais uma
5/10/2009. Precedente citado do STF: MS da Advocacia-Geral da União inscrição do nome como inadimplente
26.969-DF, Primeira Turma, DJe com em cadastros de proteção ao crédito"
12/12/2014. (REsp 1.413.674-SE/Inf. 584). (REsp 1.002.985-RS, Segunda Seção,

GEAGU
Inteiro teor do acórdão aqui. DJe 27/8/2008) -, embora extraídos de
ações voltadas contra cadastros
CIVIL E PROCESSO CIVIL restritivos, aplica-se também às ações
dirigidas contra supostos credores que
01. Direito civil e urbanístico. Usucapião Resolução de questões efetivaram inscrições irregulares.
especial urbana e área de imóvel inferior objetivas, peças, pareceres e Ressalte-se, todavia, que isso não
ao "módulo urbano". Não obsta o pedido dissertações quer dizer que o credor não possa
declaratório de usucapião especial urbana www.ebeji.com.br responder por algum outro tipo de
o fato de a área do imóvel ser inferior à excesso. A anotação irregular, já
correspondente ao "módulo urbano" (a área havendo outras inscrições legítimas
mínima a ser observada no parcelamento de solo contemporâneas, não enseja, por si só, dano
urbano por determinação infraconstitucional). Isso moral. Mas o dano moral pode ter por causa de pedir
porque o STF, após reconhecer a existência de outras atitudes do suposto credor, independentemente
repercussão geral da questão constitucional suscitada, da coexistência de anotações regulares, como a
fixou a tese de que, preenchidos os requisitos do artigo insistência em uma cobrança eventualmente vexatória e
183 da CF, cuja norma está reproduzida no art. 1.240 do indevida, ou o desleixo de cancelar, assim que ciente do
CC, o reconhecimento do direito à usucapião especial erro, a anotação indevida. Portanto, na linha do
urbana não pode ser obstado por legislação entendimento consagrado na Súmula n. 385, o mero
infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na equívoco em uma das diversas inscrições não gera

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dano moral indenizável, mas apenas o dever de suprimir Lei n. 9.492/1997 - segundo o qual o "Protesto é o ato formal
a inscrição indevida. (REsp 1.386.424-MG,/Inf. 583). e solene pelo qual se prova a inadimplência e o
Inteiro teor do acórdão aqui. descumprimento de obrigação originada em títulos e outros
documentos de dívida" - é a de que o termo "dívida" exprime
EMPRESARIAL débito, consistente em obrigação pecuniária, líquida, certa e
que é ou se tornou exigível. Realmente, o art. 48 da Lei do
01. Direito empresarial. Cheque pré-datado e o seu prazo de Cheque dispõe que "O protesto ou as declarações do artigo
apresentação para pagamento. Recurso repetitivo. Tema anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do
945. A pactuação da pós-datação de cheque, para que domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de
seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à apresentação". Todavia, este artigo, ao remeter ao art. 47 do
instituição financeira sacada, deve espelhar a data de mesmo Diploma, limita-se à questão da possibilidade de
emissão estampada no campo específico da cártula. cobrança dos eventuais devedores indiretos (coobrigados),
Sendo o cheque ordem de pagamento à vista imposta ao mas não do devedor principal (emitente). Nesse contexto, a
sacado (a instituição bancária ou instituição financeira que Terceira Turma do STJ já asseverou que "A exigência de
lhe seja equiparada) - imposição que não admite aceite, realização do protesto antes de expirado o prazo de
diferentemente do que ocorre, por exemplo, com a letra de apresentação do cheque é dirigida apenas ao protesto
câmbio -, o seu pagamento, pelo sacado, deverá ser obrigatório à propositura da execução do título, nos termos
obrigatoriamente efetuado (verificada a existência de fundos dos arts. 47 e 48 da Lei n. 7.357/85" (REsp 1.297.797-MG,
disponíveis), ainda que a cártula tenha sido apresentada DJe 27/2/2015). Por sua vez, "O protesto do cheque [com
"antes do dia indicado como data de emissão" (art. 32, apontamento do nome do devedor principal: o emitente] é
parágrafo único, Lei n. 7.357/1985 - Lei do Cheque). No facultativo e, como o título tem por característica intrínseca a
tocante à apresentação realizada após a data constante do inafastável relação entre o emitente e a instituição financeira
campo referente à data de emissão da cártula, convém sacada, é indispensável a prévia apresentação da cártula,
pontuar que "O cheque deve ser apresentado para não só para que se possa proceder à execução do título,
pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 mas também para cogitar do protesto (art. 47 da Lei do
(trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser Cheque). Evidentemente, é também vedado o apontamento
pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro de cheques quando tiverem sido devolvidos pelo banco
lugar do País ou no exterior" (art. 33, caput). Nesse sacado por motivo de furto, roubo ou extravio das folhas ou
contexto, não se pode ignorar o costume relativo à emissão talonários - contanto que não tenham circulado por meio de
de cheque pós-datado. O mencionado parágrafo único do endosso, nem estejam garantidos por aval, pois nessas
art. 32, inclusive, ressalva a possibilidade de o banco hipóteses far-se-á o protesto sem fazer constar os dados do
sacado pagar o cheque "antes do dia indicado como data de emitente da cártula. (...) Tomadas essas cautelas,
emissão", caso seja apresentado. É dizer: admite caracterizando o cheque levado a protesto título
plenamente a hipótese de o cheque conter data de emissão executivo extrajudicial, dotado de inequívoca certeza e
posterior àquela em que foi, efetivamente, emitido. Nessa exigibilidade, não se concebe possam os credores de
conjuntura, o ordenamento jurídico confere segurança e boa-fé verem-se tolhidos quanto ao seu lídimo direito de
eficácia à pós-datação regular (efetivada no campo referente resguardarem-se quanto à prescrição, tanto no que
à data de emissão). Por sua vez, mesmo a pós-datação tange ao devedor principal quanto a coobrigados; visto
extracartular (isto é, a pós-datação ocorrida em campo que, conforme disposto no art. 202, III, do Código Civil
diverso do campo específico, referente à data de de 2002, o protesto cambial interrompe o prazo
emissão, como ocorre, por exemplo, com a cláusula prescricional para ajuizamento de ação cambial de
"bom para") tem existência jurídica, na medida em que a execução, ficando, com a vigência do novel Diploma,
Lei não nega validade a essa pactuação, que, inclusive, superada a Súmula 153/STF [a qual afirmada que o
terá consequência de natureza obrigacional para os protesto cambiário não interrompia a prescrição]" (REsp
pactuantes (tanto é assim que a Súmula n. 370 do STJ 1.124.709-TO, Quarta Turma, DJe 1º/7/2013). Ante o
orienta que enseja dano moral a apresentação exposto, caracterizado o cheque levado a protesto
antecipada de cheque). Contudo, esta pactuação verdadeiro título executivo extrajudicial, dotado de
extracartular, que ocorre fora do campo da data de inequívoca certeza e exigibilidade, será possível o
emissão, é ineficaz em relação à contagem do prazo de protesto cambiário com indicação, no apontamento,
apresentação e, por conseguinte, não tem o condão de apenas do devedor principal (emitente), ainda que após
operar o efeito de ampliar o prazo de apresentação do o prazo de apresentação, mas dentro do período para
cheque. Daí a conclusão de que somente a pós-datação ajuizamento de ação cambial de execução. Precedente
regular, efetuada no campo da data de emissão do citado: REsp 1.231.856-PR, Quarta Turma, DJe 8/3/2016.
cheque, é hábil a ampliar o prazo de apresentação da (REsp 1.423.464-SC/Inf. 584). Inteiro teor do acórdão
cártula a que se refere o art. 33, caput, da Lei do aqui.
Cheque. (REsp 1.423.464-SC/Inf. 584). Inteiro teor do
acórdão aqui. PENAL E PROCESSO PENAL

02. Direito empresarial. Protesto cambiário de cheque após 01. Direito da criança e do adolescente. Cumprimento
o prazo de apresentação com a indicação apenas do imediato de medida socioeducativa independente de
emitente no apontamento. Recurso repetitivo. Tema 945. internação provisória. Mesmo diante da interposição de
Sempre será possível, no prazo para a execução recurso de apelação, é possível o imediato cumprimento
cambial, o protesto cambiário de cheque com a de sentença que impõe medida socioeducativa de
indicação do emitente como devedor. De fato, a Segunda internação, ainda que não tenha sido imposta anterior
Seção do STJ, em recurso especial representativo da internação provisória ao adolescente. Cuidando-se de
controvérsia (REsp 1.340.236-SP, DJe 26/10/2015), definiu medida socioeducativa, a intervenção do Poder Judiciário
que "A legislação de regência estabelece que o documento tem como missão precípua não a punição pura e simples do
hábil a protesto extrajudicial é aquele que caracteriza prova adolescente em conflito com a lei, mas, principalmente, a
escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e exigível". ressocialização e a proteção do jovem infrator. Deveras, as
Nesse sentido, a interpretação mais adequada do art. 1º da medidas previstas nos arts. 112 a 125 da Lei n.

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8.069/1990 não são penas e possuem o objetivo poderá o juiz impor ao adolescente o cumprimento imediato
primordial de proteção dos direitos do adolescente, de da medida socioeducativa de internação fixada na sentença
modo a afastá-lo da conduta infracional e de uma se já estiver provisoriamente internado, haverá uma
situação de risco. Por esse motivo, deve o juiz orientar- predisposição maior, pela autoridade processante, de valer-
se pelos princípios da proteção integral e da prioridade se dessa medida cautelar antes da conclusão do processo.
absoluta, definidos no art. 227 da CF e nos arts. 3° e 4° Em suma, há de se conferir à hipótese em análise uma
do ECA. Desse modo, postergar o início de interpretação sistêmica, compatível com a doutrina de
cumprimento da medida socioeducativa imposta na proteção integral do adolescente, com os objetivos a
sentença que encerra o processo por ato infracional que se destinam as medidas socioeducativas e com a
importa em "perda de sua atualidade quanto ao objetivo própria utilidade da jurisdição juvenil, que não pode
ressocializador da resposta estatal, permitindo a reger-se por normas isoladamente consideradas. (HC
manutenção dos adolescentes em situação de risco, 346.380-SP/Inf. 583). Inteiro teor do acórdão aqui.
com a exposição aos mesmos condicionantes que o 02. Direito penal. Incompatibilidade entre dolo eventual e a
conduziram à prática infracional". Observe-se que não se qualificadora de motivo fútil. É incompatível com o dolo
cogita equiparar o adolescente que pratica ato infracional ao eventual a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2°, II,
adulto imputável autor de crime, pois, de acordo com o art. do CP). Conforme entendimento externado pelo Min.
228 da CF, os menores de dezoito anos são penalmente Jorge Mussi, ao tempo que ainda era Desembargador,
inimputáveis e estão sujeitos às normas da legislação "os motivos de um crime se determinam em face das
especial. Por esse motivo e considerando que a medida condicionantes do impulso criminógeno que influem
socieducativa não representa punição, mas mecanismo para formar a intenção de cometer o delito, intenção
de proteção ao adolescente e à sociedade, de natureza que, frise-se, não se compatibiliza com o dolo eventual
pedagógica e ressocializadora, não calharia a alegação ou indireto, onde não há o elemento volitivo" (TJSC, HC
de ofensa ao princípio da não culpabilidade, previsto no 1998.016445-1, Dj 15/12/1998). Ademais, segundo doutrina,
art. 5°, LVII, da CF, sua imediata execução. Nessa linha "Não são expressões sinônimas - intenção criminosa e
intelectiva, ainda que o adolescente infrator tenha voluntariedade. A vontade do homem aplicada à ação ou
respondido ao processo de apuração de prática de ato inação constitutivas da infração penal é a voluntariedade; a
infracional em liberdade, a prolação de sentença vontade do agente aplicada às conseqüências lesivas do
impondo medida socioeducativa de internação autoriza direito é intenção criminosa. Em todas as infrações penais
o cumprimento imediato da medida imposta, tendo em encontram-se voluntariedade. Em todos, porém, não se
vista os princípios que regem a legislação menorista, vislumbra a intenção criminosa. Os crimes em que não se
um dos quais, é o princípio da intervenção precoce na encontra a intenção criminosa são os culposos e os
vida do adolescente, positivado no parágrafo único, VI, praticados com dolo indireto, não obstante a voluntariedade
do art. 100 do ECA. Frise-se que condicionar o da ação nas duas modalidades". Destaque-se que, em
cumprimento da medida socioeducativa ao trânsito em situações semelhantes, já decidiu desse modo tanto o STJ
julgado da sentença que acolhe a representação - (REsp 1.277.036-SP, Quinta Turma, DJe 10/10/2014)
apenas porque não se encontrava o adolescente já quanto o STF (HC 111.442-RS, Segunda Turma, DJe
segregado anteriormente à sentença - constitui 17/9/2012; e HC 95.136, Segunda Turma, DJe 30/3/2011),
verdadeiro obstáculo ao escopo ressocializador da sendo que a única diferença foi a qualificadora excluída: no
intervenção estatal, além de permitir que o adolescente caso em análise, a do inciso II, § 2º, do art. 121, já nos
permaneça em situação de risco, exposto aos mesmos referidos precedentes, a do inciso IV do mesmo parágrafo e
fatores que o levaram à prática infracional. Ademais, a artigo. (HC 307.617-SP/Inf. 583). Inteiro teor do acórdão
despeito de haver a Lei n. 12.010/2009 revogado o inciso VI aqui.
do art. 198 do referido Estatuto, que conferia apenas o efeito
devolutivo ao recebimento dos recursos - e não obstante a PREVIDENCIÁRIO
nova redação conferida ao caput do art. 198 pela Lei n.
12.594/2012 - é importante ressaltar que continua a viger o 01. Direito previdenciário e processual civil. Devolução de
disposto no art. 215 do ECA, o qual prevê que "O juiz poderá valores recebidos a título de antecipação de tutela
conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano posteriormente revogada. Se a antecipação da tutela
irreparável à parte". Ainda que referente a capítulo diverso, anteriormente concedida a assistido de plano de
não há impedimento a que, supletivamente, se invoque tal previdência complementar fechada houver sido
dispositivo para entender que os recursos serão recebidos, revogada em decorrência de sentença de improcedência
salvo decisão em contrário, apenas no efeito devolutivo, ao do seu pedido, independentemente de culpa ou má-fé,
menos em relação aos recursos contra sentença que acolhe será possível à entidade previdenciária - administradora
representação do Ministério Público e impõe medida do plano de benefícios que tenha suportado os
socioeducativa ao adolescente infrator, sob pena, repita-se, prejuízos da tutela antecipada - efetuar descontos
de frustração da principiologia e dos objetivos a que se mensais no percentual de 10% sobre o montante total de
destina a legislação menorista. Pondere-se, ainda, ser de cada prestação do benefício suplementar que vier a ser
fundamental importância divisar que, ante as características recebida pelo assistido, até que ocorra a integral
singulares do processo por ato infracional - sobretudo a que compensação, com atualização monetária, da verba que
determina não poder o processo, em caso de internação fora antecipada, ainda que não tenha havido prévio
provisória, perdurar por mais de 45 dias (art. 183 do ECA) - pedido ou reconhecimento judicial da restituição. De
não é de se estranhar que os magistrados evitem impor fato, a sistemática adotada pelos dispositivos da legislação
medidas cautelares privativas de liberdade, preferindo, processual civil que visam combater o dano processual -
eventualmente, reservar para o momento final do processo - relacionados à tutela antecipada, à tutela cautelar e à
quando, aliás, disporá de elementos cognitivos mais seguros execução provisória - inspira-se, conforme entendimento
e confiáveis para uma decisão de tamanha importância - a doutrinário, em princípios diversos daqueles que norteiam as
escolha quanto à medida socioeducativa que se mostre mais demais disposições processuais, as quais buscam reprimir
adequada e útil aos propósitos ressocializadores de tal as condutas maliciosas e temerárias das partes no trato com
providência. Sob outra angulação, não seria desarrazoado o processo, o chamado improbus litigator. Cuida-se de
supor que, a prevalecer o entendimento de que somente responsabilidade processual objetiva, bastando a existência

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do dano decorrente da pretensão deduzida em juízo para direito deverá ser promovida; b) liquidado e incontroverso o
que sejam aplicados os arts. 273, § 3º, 475-O, I e II, e 811 crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha
do CPC/1973 (correspondentes aos arts. 297, parágrafo de até 10% da remuneração dos benefícios previdenciários
único, 520, I e II, e 302 do CPC/2015). Desse modo, os em manutenção até a satisfação do crédito, adotado, por
danos causados a partir da execução de tutela antecipada simetria, o percentual aplicado aos servidores públicos (art.
(assim também a tutela cautelar e a execução provisória) 46, § 1º, da Lei n. 8.112/1990). Este entendimento, ademais,
são disciplinados pelo sistema processual vigente à revelia consolidou-se no julgamento do REsp Repetitivo 1.401.560-
de indagação acerca da culpa da parte ou de MT (Primeira Seção, DJe 13/10/2015). Dessa forma, a par
questionamento sobre a existência ou não de má-fé. Nesse de ser solução equitativa, a evitar o enriquecimento sem
contexto, em linha de princípio, a obrigação de indenizar o causa, cuida-se também, no caso aqui analisado, de
dano causado pela execução de tutela antecipada aplicação de analogia em vista do disposto no art. 46, § 1º,
posteriormente revogada é consequência natural da da Lei n. 8.112/1990, aplicável aos servidores públicos.
improcedência do pedido, decorrência ex lege da Além disso, não bastasse a similitude das hipóteses
sentença. Por isso, independe de pronunciamento (devolução dos valores recebidos, a título de antecipação de
judicial, dispensando também, por lógica, pedido da tutela, por servidor público e/ou segurado do INSS) - a bem
parte interessada. Com mais razão, essa obrigação justificar a manifesta conveniência da aplicação da analogia
também independe de pedido reconvencional ou de -, enquanto a previdência oficial é regime que opera com
ação própria para o acertamento da responsabilidade da verba do orçamento da União para garantir sua solvência (a
parte acerca do dano causado pela execução da medida. teor do art. 195, caput, da CF, a seguridade social será
Aliás, o art. 302, parágrafo único, do CPC/2015 estabelece financiada por toda a sociedade) os planos de benefícios de
que, independentemente da reparação por dano processual, previdência complementar, por disposições contidas nos
a parte responde pelo prejuízo que a tutela de urgência arts. 20, 21 e 48 da LC n. 109/2001, podem, até mesmo, vir
causar à parte adversa, devendo a indenização ser a ser liquidados extrajudicialmente, em caso de insolvência,
"liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, e eventual resultado deficitário ou superavitário dos planos
sempre que possível". Realmente, toda sentença é apta a é, respectivamente, suportado ou revertido em proveito dos
produzir efeitos principais (condenar, declarar, constituir, por participantes e assistidos. Ora, não se pode perder de vista
exemplo), que decorrem da demanda e da pretensão que as entidades fechadas de previdência complementar,
apresentada pelo autor, e, também, efeitos secundários, que por força de lei, são organizadas sob a forma de fundação
independem da vontade das partes ou do próprio juízo. ou sociedade civil, sem fins lucrativos, havendo um claro
Nessa conjuntura, a sentença de improcedência, quando mutualismo com a coletividade integrante dos planos de
revoga tutela antecipadamente concedida, constitui, benefícios administrados por essas entidades, de modo que
como efeito secundário, título de certeza da obrigação todo eventual excedente é revertido em favor dos
de o autor indenizar o réu pelos danos eventualmente participantes e assistidos do plano. O art. 34, I, da LC n.
experimentados, cujo valor exato será posteriormente 109/2001 deixa límpido que as entidades fechadas de
apurado em liquidação nos próprios autos. Com efeito, a previdência privada "apenas" administram os planos
responsabilidade objetiva pelo dano processual (inclusive, portanto, o fundo formado, que não lhes
causado por tutela antecipada posteriormente revogada pertence). Nesse contexto, o entendimento firmado aqui - de
decorre da inexistência do direito anteriormente que pode ser observado o aludido percentual de 10% para a
acautelado, responsabilidade que independe de devolução, por assistido de plano de previdência
reconhecimento judicial prévio ou de pedido do lesado. complementar, de valores recebidos a título de antecipação
Além do mais, o CC positivou princípio de sobredireito de tutela posteriormente revogada - já foi adotado pela
regente das relações jurídicas privadas, qual seja, a boa-fé Terceira Turma do STJ (REsp 1.555.853-RS, DJe
objetiva (art. 422), o qual constitui cláusula geral, dirigida 16/11/2015). (REsp 1.548.749-RS/Inf. 584). Inteiro teor do
precipuamente ao julgador, afigurando-se como acórdão aqui.
instrumentalizadora do sistema, a emprestar a este um
aspecto móbil apto a mitigar a rigidez da norma posta, TRIBUTÁRIO
legalmente ou contratualmente. Quanto à possibilidade de a
entidade previdenciária - administradora do plano de 01. Direito tributário. Base de cálculo do IPI nas vendas a
benefícios que tenha suportado os prejuízos da tutela prazo. A base de cálculo do IPI na venda a prazo é o
antecipada - efetuar descontos mensais no percentual de preço "normal" da mercadoria (preço de venda à vista)
10% sobre o montante total de cada prestação suplementar, mais os eventuais acréscimos decorrentes do
considerando não haver norma que trate especificamente do parcelamento. A base de cálculo do IPI nas operações
caso, deve-se, por analogia, buscar, no ordenamento, uma internas vem estabelecida no art. 47, II, do CTN e
norma que diga respeito à situação assemelhada. Embora corresponde ao valor da operação: "Art. 47. A base de
as previdências privada e pública submetam-se a regimes cálculo do imposto é: (...) II - no caso do inciso II do artigo
jurídicos diversos, com regramentos específicos, tanto de anterior: a) o valor da operação de que decorrer a saída da
nível constitucional, quanto infraconstitucional, o regramento mercadoria; b) na falta do valor a que se refere a alínea
da previdência estatutária, eventualmente, pode servir como anterior, o preço corrente da mercadoria, ou sua similar, no
instrumento de auxílio à resolução de questões relativas à mercado atacadista da praça do remetente;" A lei não trata
previdência privada complementar (REsp 814.465-MS, de como foi formado o valor da operação, de raciocínios que
Quarta Turma, DJe 24/5/2011). No tocante à previdência seriam até mesmo impossíveis de serem concretizados na
oficial, a Primeira Seção do STJ (REsp 1.384.418-SC, DJe prática como cogitar de que "x" por cento do preço
30/8/2013) entendeu que, conquanto o recebimento de corresponde aos custos de produção, "y" por cento
valores por meio de antecipação dos efeitos da tutela não corresponde ao lucro, "z" por cento corresponde aos
caracterize, do ponto de vista subjetivo, má-fé por parte do impostos, etc. O que importa é o custo total da operação,
beneficiário da decisão, quanto ao aspecto objetivo, é sendo irrelevante de que forma o vendedor chegou ao valor
inviável falar que pode o titular do direito precário pressupor que cobrou pelo produto por ele comercializado. Coisa
a incorporação irreversível da verba ao seu patrimônio, inteiramente diversa aconteceria se o comprador, não tendo
cabendo ser observados os seguintes parâmetros para o como pagar à vista, contratasse um financiamento para a
ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do compra. Nessa hipótese, se o preço da operação fosse R$

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1.000,00 a base de cálculo do IPI seria esse exato valor,
ainda que para poder pagá-lo o comprador acabasse por
pagar à financeira os R$ 1.000,00 mais R$ 200,00 de juros.
Não haveria de se pensar em incidência de IPI sobre esses
R$ 200,00, pois estes não comporiam o preço da operação,
constituindo remuneração pelo capital obtido em empréstimo
para pagar a compra. O imposto que incidiria sobre esses
R$ 200,00 seria apenas o IOF, que é o imposto incidente
sobre juros de financiamento. Além do mais, não é possível
extrair do fato de que o preço à vista é normalmente menor
que o preço a prazo a conclusão de que a diferença entre
eles corresponde aos juros. Ademais, como se sabe, o IPI e
o ICMS são dois impostos extremamente semelhantes.
Assim, problemas muito semelhantes surgem nos dois
impostos e, a menos que exista explicação derivada de
algum tratamento legislativo específico diferente, a lógica é
que a solução adotada seja a mesma. Ora, no âmbito do
ICMS, a tese de que na venda a prazo existem juros como
na venda financiada e estes não deveriam compor a base de
cálculo do imposto já foi definitivamente dirimida pela
Primeira Seção, em julgamento realizado sob a sistemática
dos recursos repetitivos (REsp 1.106.462-SP, DJe
13/10/2009): "A base de cálculo do ICMS sobre a venda a
prazo, sem intermediação de instituição financeira, é o
valor total da operação". (REsp 1.586.158-SP/Inf. 584).
Inteiro teor do acórdão aqui.

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