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O valor do dinheiro
no tempo

Guilherme de Azevedo M. C. Guimarães


8 :: Finanças para novos empreendimentos :: Guilherme de Azevedo M. C. Guimarães

Meta Apresentar os conceitos relativos aos juros simples e


compostos.
Apresentar os termos utilizados no âmbito da administração
financeira, nas calculadoras modernas e planilhas eletrônicas
de computador.
Ensinar como calcular as variáveis da fórmula de juros
compostos, utilizando planilhas eletrônicas.

Objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1. Conhecer e entender os termos utilizados na administração


financeira.

2. Saber calcular as variáveis que envolvem problemas com


juros simples e compostos.

3. Saber usar uma planilha eletrônica para calcular as variáveis


dos problemas com juros compostos.

Guia de Aula 1. Regimes de capitalização

2. Diagramas de fluxo de caixa

3. Planilhas eletrônicas

4. Calculando juros compostos com uso de recursos computacionais

5. Exercícios propostos

Finalizando: Indicações de leitura para o curso


Aula 1 – O valor do dinehrio no tempo :: 9

Apresentação do autor
Uma parte delicada na elaboração do plano de negócios de um empreendimento é a realização do
plano financeiro. É a hora de expressar tudo em valores, isto é, em dinheiro. É preciso fazer as contas
para ver, por exemplo, qual o volume de recursos necessários para viabilizar o negócio.

Mas as perguntas não param por aí... O negócio vale o dinheiro aplicado nele? Será que há melhores
alternativas para a aplicação dos recursos? Como calcular o retorno do empreendimento? Como se
comportarão as receitas e os custos no decorrer do tempo? Quanto tempo levará para recuperar
os recursos investidos? Qual a contribuição de cada unidade vendida para a formação do resultado
da empresa? Haverá um nível mínimo de vendas a partir do qual as receitas superam os custos e as
despesas? Custos e despesas são coisas diferentes, ou melhor, têm conceitos diferentes? Qual o nível
mínimo de vendas a partir do qual as receitas superam os custos? Quais os principais indicadores
econômico-financeiros que devem ser acompanhados? Como calcular o valor dos recursos necessários
para a implantação e a manutenção das atividades da empresa? Qual a importância do capital de giro?

Será preciso responder a essas e outras perguntas semelhantes da melhor maneira possível. Muitas
vezes, será preciso fazer hipóteses de como se comportarão a economia, os fornecedores, os clientes,
a tecnologia, a política etc. E todos nós sabemos o quanto é arriscado tentar prever o desenrolar dos
acontecimentos. Mas é preciso agir de maneira racional, afinal você está aplicando recursos próprios
e de terceiros. Aliás, quem estará disposto a financiar seu empreendimento, se você não for capaz de
responder com objetividade a questões como essas?

Para respondermos tais perguntas de maneira adequada, precisamos enfrentar inicialmente a


seguinte questão: será que o valor do dinheiro muda no tempo? Sim ou não? Provavelmente você
respondeu que sim. Mas, sua resposta continuaria a mesma caso não houvesse inflação? Vamos
começar a entender o que está em jogo, nos familiarizando com uma ferramenta importante: a
matemática financeira.

http://stevanovichcenter.uchicago.edu/images/home.jpg
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Estamos acostumados com a idéia de que o valor do dinheiro muda no tempo. Afinal, sempre
convivemos com alguma inflação. Nesse caso, depois de algum tempo, a quantidade de bens e serviços
que determinada soma em dinheiro pode comprar diminui. Outro exemplo é o caso das viagens
internacionais. Em alguns momentos elas estão mais baratas, em outras, mais caras. Dessa forma,
achamos natural que ao pedir algum dinheiro emprestado teremos que, em algum momento, devolver
a quantia integral acrescida de um determinado valor.

Mas se não houvesse inflação ou variação cambial? Ainda assim ocorreria a mesma coisa. Quem
empresta dinheiro abre mão de algo: poderia consumir no presente ou obter uma renda aplicando o
recurso em algum investimento. Por isso, faz jus a uma compensação. Chamaremos capital o valor que
foi emprestado ou aplicado, e juros a remuneração devida pela utilização do capital. Finalmente, a taxa
de juros é a proporção entre os juros pagos e o capital.

Juro

Q uando uma quantia é emprestada por determinado período de tempo, o


credor requer, no fim do prazo estabelecido, um acréscimo que compense
o não usufruto do capital. Quem empresta se abstém de consumir no presente,
na expectativa de uma retribuição futura: o juro.

A teoria econômica convencional define os seguintes fatores de produção: terra, trabalho e capital.
Cada um desses fatores, quando aplicado no processo produtivo, percebe remunerações específicas
denominadas, respectivamente: aluguel, salário e juro. Ou seja, nesse contexto, o juro é a remuneração
devida ao fator capital.

Regimes de capitalização
O comportamento do capital no tempo depende do modo como foi aplicado, ou seja, do regime de
capitalização. Podemos classificar os regimes de capitalização da seguinte forma:

Contínua
Capitalização Simples
Descontínua
Composta

As modalidades de capitalização mais comuns são as descontínuas simples e composta. Na primeira,


apenas o capital inicial, também chamado principal, rende juros, independentemente do número de
períodos da aplicação. Na segunda, os juros são capitalizados a cada período e passam a render juros
nos períodos posteriores. Como se diz: juros sobre juros.
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Trocando em miúdos, imagine que você aplicou uma determinada quantia na caderneta de
poupança. O que vai fazer no final do ano? Vai retirar os juros ou mantê-los aplicados? Se retirar os juros
seu dinheiro vai crescer de acordo com o regime de capitalização simples, ou se mantê-los aplicados
haverá capitalização composta.

A Tabela 1.1 mostra a evolução de uma aplicação de $ 1.000,00, por cinco anos, a uma taxa de juro
nominal de 10% ao ano.

Atenção

E m matemática financeira, usamos $ para unidades monetárias genéricas, ou seja,


qualquer valor em dinheiro, sem indicar qualquer moeda especificamente (real,
dólar, euro etc.)

TABELA 1.1 - Evolução de uma aplicação

Juros Simples Juros Compostos


Período Montante Juros Montante Juros
0 1.000,00 1.000,00
1 1.100,00 100,00 1.100,00 100,00
2 1.200,00 200,00 1.210,00 210,00
3 1.300,00 300,00 1.331,00 331,00
4 1.400,00 400,00 1.464,10 464,10

O Gráfico 1.1 mostra com mais clareza o que já sabemos: se não mexermos na aplicação, o capital
cresce mais rápido do que quando retiramos os juros.

$
Composto

Simples

1100

1000

n
1

Conforme podemos observar na tabela e no gráfico, o montante em juros simples cresce linearmente,
de acordo com uma progressão aritmética cuja razão é igual ao valor dos juros, isto é, $ 100,00. Já em
juros compostos, o crescimento é exponencial, obedecendo a uma progressão geométrica de razão
igual a 1 (um) mais a taxa da operação.
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Conforme podemos observar na tabela e no gráfico, o montante em juros simples cresce linearmente,
de acordo com uma progressão aritmética cuja razão é igual ao valor dos juros, isto é, $ 100,00. Já em
juros compostos, o crescimento é exponencial, obedecendo a uma progressão geométrica de razão
igual a 1 (um) mais a taxa da operação.

Atenção

C omo sabemos, 10% é igual a 0,1. Logo, a razão é igual a 1,1.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1033190

Diagramas de fluxo de caixa


O diagrama de fluxo de caixa é uma ferramenta importante para facilitar a compreensão de
elementos da matemática financeira. Usualmente, as transações financeiras são representadas por
diagramas, conforme o seguinte gráfico:

(+)
setas orientadas para cima
indicam entrada de caixa

(-) O eixo horizontal representa o


setas orientadas para baixo tempo ( número de período)
indicam desembolso de caixa
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Utilizando um diagrama de fluxo de caixa, podemos, por exemplo, representar da seguinte maneira
a operação de compra de um bem, no valor de $1.000,00, para pagamento, com juros e sem entrada,
em quatro prestações mensais de $ 300,00:

1000

1 2 3 4 meses
0
300 300 300 300

Planilhas eletrônicas
Atualmente há várias planilhas eletrônicas disponíveis para nos ajudar na solução de problemas
de matemática financeira. A mais utilizada é a Excel® da Microsoft®, mas qualquer uma delas facilita
bastante o trabalho de quem não tem maiores interesses em soluções algébricas, e sim na solução de
seus problemas financeiros do dia-a-dia.

Inicialmente, iremos trabalhar com as cinco funções apresentadas a seguir:

Função Representando

VP Valor Presente Capital inicial ou principal

VF Valor Futuro Montante

TAXA Taxa Taxa de juros


Número de
NPER Número de períodos de tempo
períodos
PGTO Pagamento Prestação, parcela, pagamento ou recebimento periódico

Atenção

S e você estiver usando uma planilha com versão na língua inglesa, considere as
seguintes funções:
Função
PV Present Value
FV Future Value
Rate Rate
NPER Number of periods
PMT Payment
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OBSERVAÇÃO

Rotineiramente adotamos as seguintes abreviações para representar a periodização das taxas:

a.a. - ao ano,

a.s. - ao semestre,

a.q. - ao quadrimestre,

a.t. - ao trimestre,

a.b. - ao bimestre,

a.m. - ao mês e

a.d. - ao dia.

Calculando juros compostos com uso de recursos computacionais


Que tal exercitarmos os conceitos apresentados até aqui com a ajuda de alguma planilha eletrônica?
O conjunto de exercícios resolvidos a seguir determina o valor de montantes, capitais iniciais, taxas e
número de períodos utilizando, respectivamente, as funções VF, VP, TAXA e NPER.

Exercícios resolvidos
1. Que taxa de juros faz com que um capital inicial de $1.000,00 se transforme em um montante
de $1.464,10 ao final de 4 meses?

RESOLUÇÃO

Importante lembrar!

Todos os problemas de matemática financeira necessitam de pelo menos três valores conhecidos.

Nesse caso nós conhecemos as três informações necessárias: o número de períodos (4 meses), o
valor presente ($1.000,00) e o valor futuro ($1.464,10).

Representando a transação através de um diagrama de fluxo de caixa, temos:

1.464,10

1 2 3 4 meses
1.000
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Utilizando a função TAXA de uma planilha eletrônica, devemos digitar os valores conhecidos
como se segue.

OBSERVAÇÃO

Você pode acessar as funções da planilha através do menu suspenso “Inserir” e selecionar a
opção “Função” ou clicar no botão referente à “inserir função” que está representado ao lado.

IMPORTANTE

Observe que o valor presente foi digitado como um valor negativo. Nas planilhas eletrônicas os
fluxos de caixa devem ser fielmente representados. Qual é a lógica nesse caso: Se eu apliquei $1.000,00
significa uma saída deste valor; quando resgato a aplicação, significa a entrada de um novo valor,
conforme representado no diagrama de fluxo de caixa.

RESPOSTA: Quando você clicar no botão OK, retornará, na planilha, o valor da taxa de juros: 10%.
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2. Quanto tomei emprestado, se, após 5 meses, paguei o montante de $1.500,00, e a taxa
combinada era de 4% a.m.?

RESOLUÇÃO

São três os valores conhecidos: a taxa, o tempo e o valor futuro. O que você procura é o VP, ou seja,
qual o valor que foi emprestado. Veja o problema representado no diagrama abaixo:

VP=?
1 2 3 4 5 meses

1.500,00

Lembre-se de colocar os valores corretos! O empréstimo é representado como uma entrada de


caixa, e seu pagamento como uma saída.

Para determinar o valor do capital inicial, utilizamos a função VP da planilha eletrônica do


seguinte modo:

RESPOSTA: A planilha retorna o valor $1.232,89.


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3. Qual o montante a ser pago por um empréstimo de $1.000,00 que foi contratado por 2 anos à
taxa de 5% a.m.?

RESOLUÇÃO

O diagrama de fluxo de caixa desta transação é assim representado:

1.000
5% a.m. 24 meses

VF=?

Os três valores necessários são conhecidos: o valor presente ($1.000,00), a taxa (5% a.m.) e o
tempo (24 meses). O que se procura conhecer é o valor futuro, ou seja, quanto será pago ao final do
empréstimo. Devemos digitar tais informações na função VF da planilha do seguinte modo:

Repare duas coisas:

1º) a taxa e o período devem obedecer ao mesmo intervalo de tempo;

2º) a planilha apresentou um valor negativo para o montante, $3.225,10, obedecendo à orientação
da seta do fluxo de caixa.
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http://www.sxc.hu/photo/1072482

4. Em quanto tempo um capital duplica seu valor se aplicado à taxa de 2% a.m.?

RESOLUÇÃO

Neste problema a incógnita é o número de períodos. Devemos utilizar a função NPER. Embora
não pareça à primeira vista, os três valores necessários à operação estão dados. Basta lançar um Valor
Presente e o dobro deste para o Valor Futuro, como se segue:

Observe que um dos valores deve ser positivo e o outro negativo, pois um deles representa uma
entrada, enquanto o outro uma saída de recursos.

A planilha informa que o tempo necessário para duplicar um capital à taxa de 2% a.m. é de
aproximadamente 35 meses.
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ATIVIDADE

1. Qual o valor do juro correspondente a um empréstimo de R$ 3.200,00, pelo prazo de


18 meses, sabendo que a taxa cobrada é de 3% ao mês, no regime de juros simples?
2. Calcule o juro simples do capital de R$ 36.000,00, aplicado à taxa de 30% a.a., durante
o período de 2 de janeiro de 1990 a 28 de maio do mesmo ano.
3. Qual a taxa de juro cobrada em um empréstimo de R$ 1.500,00, a ser resgatado por R$
2.700,00 no final de 2 anos, no regime de juros simples?
4. A que taxa o capital de R$ 24.000,00 rende R$ 1.080,00 em 6 meses, no regime de
juros simples?
5. Em que prazo um capital de R$ 18.000,00 acumula um montante de R$ 83.743,00 à
taxa efetiva de 15% a.m.?
6. A rentabilidade efetiva de um investimento é de 10% a.a. Se foram ganhos R$
27.473,00 de juros e o capital foi R$ 83.000,00, qual o tempo da aplicação?
7. Um investidor aplicou $1.000,00 numa instituição financeira que remunera seus
depósitos a uma taxa de 5% ao mês, no regime de juros simples. Mostre o crescimento
desse capital ao final de cada mês, a contar da data da aplicação dos recursos, e informe
o montante que poderá ser retirado pelo investidor no final do 6º mês.
8. Um investidor aplicou $1.000,00 numa instituição financeira que remunera seus
depósitos a uma taxa de 5% ao mês, no regime de juros compostos. Mostrar o crescimento
desse capital no final de cada mês, a contar da data da aplicação dos recursos, e informar
o montante que poderá ser retirado pelo investidor no final do 6º mês, após a efetivação
do último depósito.
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RESPOSTAS:
1. R$ 1.728,00
2. R$ 4.380,00
3. 40% a.a.
4. 0,75% a.m.
5. 11 meses.
6. 3 anos.
7.
Mês 0 Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
1.000,00 1.050,00 1.100,00 1.150,00 1.200,00 1.250,00 1.300,00
8.
Mês 0 Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
1.000,00 1.050,00 1.102,50 1.157,62 1.215,51 1.276,28 1.340,09

Finalizando...
Nesta aula você foi apresentado aos conceitos de juro e capital. Agora, já sabe,
também, o que são os regimes de capitalização simples e composto. Aprendeu a elaborar
um diagrama e fluxo de caixa e a resolver problemas de matemática financeira utilizando
recursos computacionais.
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Indicações de leitura para o curso


COELHO, Luiz. Matemática financeira. Rio de Janeiro: Papel Virtual Editora, 2005.

SALIM, C. S. et. al. Construindo planos de negócios. 3. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2005.

SAMSÃO, W.; MATHIAS, W.F. Projetos: planejamento, elaboração e análise. São


Paulo: Atlas, 1. ed, 21. reimpr., 2007.

SILVA, André L. Carvalhal da. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Atlas, 2005.

SOUZA, Antônio de. Gerência financeira para micro e pequenas empresas: um


manual simplificado. Rio de Janeiro: Elsevier: SEBRAE, 2007.

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