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CABRERA, Renata2
Universidade Estadual de Londrina - PR
Resumo: Como forma de escapar das estruturas rígidas usualmente empregadas na linguagem do jornal
diário, algumas vertentes dessa escola se ocupam em estabelecer alternativas. Neste sentido, este ensaio
analisa a experiência do jornalismo literário em Londrina através do Jornal Paraná Norte. Criado em 28
de junho de 1986 e distribuído pela empresa Folha de Londrina, o impresso surgiu como uma necessidade
local, e apresentava uma linguagem e público, específicos. Para tal, propõe-se uma investigação da
primeira edição da publicação impressa, que continha 352 páginas e 15 cadernos, incluindo reportagens,
ilustrações, fotos, crônicas, ensaios, artigos de opinião e mensagens publicitárias. Neste trabalho
encontra-se um panorama geral que sugere a dimensão e planejamento do veículo, e integra parte do
projeto de pesquisa do Mestrado em Comunicação Visual, que pretende analisar as ilustrações gráficas no
periódico. Aqui, serão tratadas questões como linguagem e narrativa, além de criar um primeiro espaço
para o diálogo do jornal com o contexto onde ele estava inserido.
Figura2: Caderno Especial da 1ª Edição do jornal, em março de 1975 - Jornal Panorama / Fonte: CDPH.
Figura 3: Hamilton Almeida Filho para o „Panorama Aventura‟, edição histórica, em março de 1975 -
Jornal Panorama / Fonte: CDPH
Figura 4: João Antônio, em março de 1975 - Jornal Panorama / Fonte: CDPH
Figuras 6, 7, 8 e 9: ilustrações criadas na redação, em 1986 - Jornal Paraná Norte / Fonte: CDPH
Um dos espaços fixos da publicação, e que perdurou até o fim do PN, era o
espaço reservado ao „Bom Dia, Leitor‟: uma mensagem diária que servia de editorial
aos assuntos tratados naquele exemplar, e que, de maneira descontraída trazia algum
relato vivenciado por um dos repórteres de rua em forma de crônica ou narrativa
comum, sempre com uma linguagem direta, clara e objetiva.
Na primeira edição o Bom Dia foi escrito pelo próprio editor chefe da redação, o
jornalista Walmor Macarini, e é possível identificar algumas expressões características
da publicação na forma como o texto se apresenta. Um dos trechos que mais chama a
atenção nesta edição diz: “Este jornal não quer ser apenas um veículo de comunicação,
mas sobretudo um instrumento que possa fazer as pessoas mais felizes” (fig. 11).
Segundo um dos principais cronistas da época, Apolo Teodoro, o espaço era
disputado pelos jornalistas e quem bradava no fim da tarde “Hoje o bom dia é meu”,
levava a página. Era comum retornar à redação e ao relatar determinado fato que
houvesse ocorrido, um ou outro repórter sugeria que o tema virasse o texto de abertura.
Neste espaço, como era permitido uma narrativa menos formal, os repórteres tinham a
liberdade de escolher a maneira como iriam abordar e se posicionar conforme o assunto.
Figura 11: “Bom dia, leitor”, na primeira edição do Jornal Paraná Norte / Fonte: CDPH
No jornalismo, quando o repórter ainda é cru, recém-saído da universidade e
sem a prática e conhecimento diário, é chamado de foca. E sobre o ponto de vista
inovador do PN, foram contratados muitos focas como o repórter Marco Gomes, Jersey
Gogel Nelson Capucho e Rogério Fisher. Hoje, todos atuantes na imprensa de Londrina.
Um dos chefes de reportagem responsáveis pela produção, o jornalista Edson
Vicente - ou Jerê - como ficou mais conhecido, era famoso pela sua capacidade de
aglutinar os redatores em torno de pautas das mais diversas. Nesta primeira edição,
foram desenvolvidas algumas reportagens especiais que ganharam destaque (fig. 12 e
13).
O Paraná Norte era mais corajoso que a Folha de Londrina. Acreditava-se num
jornalismo parcial e de posicionamento diante das denúncias, muito embora houvesse a
preocupação em não fazer um jornalismo policial de sensacionalismo. Às vezes, de
maneira muito sútil, a denúncia vinha impregnada de metáforas e outras figuras de
linguagem que o jornal permitia para que o leitor criasse identificação com o assunto.
O impresso tinha a pretensão de quebrar com o conservadorismo e circunspecto
da Folha de Londrina, de maneira que o texto dos jornalistas eram revelados na
criatividade e imaginação para com os temas abordados. Em todo caso, um jornal não
sobrevive sem anunciantes, e quebrar com alguns paradigmas era pouco ou quase nada
interessante para os anunciantes mais tradicionais.
Depois de oito meses de Paraná Norte nas bancas, a empresa Folha de Londrina
(principal financiadora do projeto) enfrenta a primeira greve e fecha as portas do PN
demitindo parte dos funcionários. Aos olhos dos empresários, o Paraná Norte não era
uma proposta séria. Ele foi lançado por causa do boato sobre a possibilidade de se
instalar na cidade um segundo jornal que, mais tarde, viria ser o extinto Jornal de
Londrina. As 180 páginas de anúncio da primeira edição praticamente sustentaram o
jornal até o seu fim.
Embora jornais e revistas estejam cada vez mais disputados por avalanches de
elementos fragmentadas, textos mastigados e pílulas de informação em detrimento de
boas leituras que hipnotizam e ficam guardados na vida do leitor, a desconstrução de
ideias que este trabalho tem por objetivo, busca contrapor a realidade. Desta maneira, a
ausência do gesso e a atadura que o jornalismo literário permite, é possível eliminar a
frigidez do jornalismo convencional julgando a importância dos personagens,
comportamento, a visão de mundo e o que isto significa na compreensão do mito Paraná
Norte.
Acredito que os leitores sempre encontrarão tempo para narrativas que
identificam seus destinos com o destino de outras pessoas... (...). O problema
é que simplesmente desapareceram as reportagens hipnotizantes, aquelas que
nos fazem esquecer o pão dentro da torradeira no café da manhã, perder o
ônibus ou dilatar nossa ida ao banheiro durante o horário de trabalho.
(VILAS BOAS, 2003, p. 12).
Referências
MORAES, Letícia Nunes de. Cartas ao Editor: leitura da revista Realidade (1966-
1968). Coleção história social. Série teses. São Paulo: Alameda, 2007
WOLFE, Tom. Radical Chique e o Novo Jornalismo. Tradução José Rubens Siqueira;
posfácio Joaquim Ferreira dos Santos. São Paulo. Companhia das Letras. 2005.