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CINEMA
A MORTE
A morte é um elemento muito entranhado na concepção
judaica, daí seu eco no meu cinema. Um exemplo é a
gramática. No hebraico, o presente, muito condensado, é só
uma transição entre o pretérito e o futuro. O judaísmo
sempre olha para o passado, mas também para o que ainda
não foi feito, para o que vem - o Messias, por exemplo- e,
conseqüentemente, para a morte. Tive uma experiência
profunda com morte. Em 1973, no Yom Kippur, eu era
soldado. Meu helicóptero foi bombardeado e quase morri. Eu
fazia arquitetura e fui filmar.
ARQUITETURA
A arquitetura tem muito a ver com o cinema. Ambos
consistem em processos iniciados mentalmente e através do
texto, mas concluídos com a construção de algo, ou com a
transformação em imagens. Documentários, porém, são
arqueologia: você tem de escavar. Às vezes, surge um objeto
imprevisto que muda a pesquisa.
PROJETO ISRAELENSE
Essencialmente, o projeto de Israel é interessante, porque
coloca os judeus ligados à realidade. Os judeus não são mais
"tema" da história, nos extermínios, nas perseguições. Ao
contrário, modelam seu próprio destino, o que implica em
enganos, falhas. Entra-se no domínio das contradições, e a
mais complicada está associada a como como gerir o poder,
do ponto de vista político e militar. E usar o poder contra os
outros é como um veneno, que vai te intoxicar. Os judeus
devem estar prontos para ver criticada a forma de gerência.
Eu exercito, em meus filmes, essa crítica, que é apenas um
reflexo de amor.
UTOPIA
Os meus avós eram russos socialistas, queriam construir a
utopia: os kibutz, o socialismo dos sonhos. Minha mãe, que
nasceu em 1909, não chorava pelas coisas que aconteceram,
mas por aquelas que poderiam ter acontecido. As coisas
escaparam do projeto original israelense. Muito deu errado,
houve a brutalização da utopia. Mas há de se olhar para o
futuro. Ele pode trazer surpresas como reconciliação e
reconstrução.
CINEASTA DA HISTÓRIA
Procuro representar em tela esse enredo histórico chamado
Israel. Me sinto, desde 1973, como uma testemunha.
Fassbinder, Ford, Rossellini, cineastas que eu admiro muito,
estiveram muito ligados a esse tipo de processo.
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