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AULA DIA 23-10-2018

Direito de Família 1

9. UNIÃO ESTÁVEL

9.1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS


Somente com a promulgação da CF/88 que foi dado à união estável o seu caráter familiar,
reconhecendo-a como núcleo familiar, nestes termos:
Art. 226, §3º, CF. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento.

A lei nº 8.971/94 (que regula o direito dos companheiros a alimentos e à sucessão) foi a primeira lei
reguladora da união estável no Brasil.
Em seguida, veio a lei nº 9.278/96 ( que regula o artigo 226, §3º, CF), prevendo direitos e deveres
entre os companheiros.
Por fim, com o advento do Código Civil de 2002, a união estável está regulada a partir do artigo
1.723, que assim a conceitua:
Art. 1.723, CC. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família.
Os destaques em negrito são os requisitos para configurar a união estável, salvo a expressão "homem
e mulher"
União estável é sinônimo de concubinato?

Até 1988 a união entre homem e mulher não casados era chamada de concubinato, que poderia ser puro ou impuro.
Seria puro se não existisse impedimento ao casamento entre eles.
Seria impuro se eles não podiam se casar. Era a união de duas pessoas sem casamento, com impedimento. Ex: dois irmãos

Hoje o concubinato puro se tornou a União Estável, e o impuro é chamado simplesmente de concubinato

Art. 1.727, CC. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.
Ex.: irmãos, ex-sogra, para ser concubinato tem que ser algo continuo

9.2 REQUISITOS

9.2.1 Requisitos de ordem subjetiva (animus dos companheiros)


a) Convivência more uxorio:
É convivência plena de vida fundada no afeto, assistência material e moral.

b) Affectio maritalis ou animus familiae (ânimo ou objetivo de constituir família):


Deve existir o firme propósito de constituir uma família. Devem os companheiros se enxergarem como unidade familiar, não basta
morarem juntos para formar a união estável
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NAMORO QUALIFICADO
É o namoro de longa data, diz José Fernando Simão: " Se há um projeto futuro de constituição de familia, estamos
diante de um namoro. Se há uma família já constituida, com ou sem filhos haverá uma união estável."

CONTRATO DE NAMORO

A finalidade é textualizar o animus dos contratantes de que não estão constituindo família. Contudo ainda que
celebrado o contrato, se o casal passar a preencher os requisitos da União Estável, estará caracterizada a entidade
familiar.

Ex.: pessoas que namoram e moram juntas a muito tempo, pode caracterizar a união estável, ainda que não tenha
o Affectio Maritalis.

O Contrato de namoro é um meio de prova para tentar demonstrar que não havia a união estável. Não é absoluto.

9.2.2 Requisitos de ordem objetiva


a) Diversidade de sexos: conforme estabelece o art. 1.723, CC, é reconhecida como entidade familiar a
união estável entre o homem e a mulher. Contudo:
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo
sexo. O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF1 veda
qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém
pode ser diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual.

b) Notoriedade (publicidade):
O casal deve se apresentar como se marido e esposa fossem perante a sociedade. A relação clandestina não gozará de proteção
legal. CONVIVÊNCIA PÚBLICA

c) Estabilidade e durabilidade:
Não caracterizará a união estável o relacionamento transitório. A relação deverá se prolongar no tempo.

 Existe prazo mínimo para se reconhecer a existência de união estável?


Questão Polêmica. Porém a CF e o CC não estabeleceram um prazo determinado, mas sim a presença do animus de constituir
família

Ex. do relacionamento de 12 horas, que não foi dado continuidade por motivo alheio. É possível o reconhecimento de
união estável.

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Art. 3º, CF. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: IV - promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
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d) Continuidade:
É a união sem interrupções, é aquela interrupção com animus definitivo

e) Inexistência de impedimentos matrimoniais: o art. 1.723, §1º, CC, veda a constituição de união estável se
ocorrer os impedimentos do art. 1.521, CC, com a ressalva do inciso VI, que proíbe o casamento das pessoas
casadas. Logo, as pessoas casadas, se estiverem separadas de fato, podem viver em união estável.
Entretanto, não será reconhecida a união estável:

Tios e sobrinhos não podem se casar, I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
mas existe um decreto da década 40 II - os afins em linha reta;
que excepcionalmente é admitido, aos III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do
olhos da jurisprudência essa decreto
ainda estaria em vigor. adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau
inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte.
Obs.: duas pessoas casadas podem viver em união estável, desde que não impedidos e separados de fato.

e) Relação monogâmica: o vínculo entre os companheiros deve ser único. Logo, não se admite que pessoa
casada, não separada de fato, venha a constituir união estável, nem que aquela que convive com um
companheiro venha a constituir outra união estável.
Muito se discute se a monogamia é um requisito para caracterização da união estável ou apenas um
princípio/dever entre os conviventes.
 União estável putativa (companheiro de boa-fé que imaginava estar vivendo em união estável
com outra pessoa impedida):
Parte da jurisprudência entende que se um dos conviventes estava de boa fé, ignorando que o outro vivia uma casamento
ou uniões estáveis simultâneas deve ser reconhecida a existência de união estável em favor do companheiro de boa fé.

COABITAÇÃO É REQUISITO?
Súmula 382 STF, coabitação (morar junto) não é requisito de União estável.

9.3 RECONHECIMENTO
Diferentemente do casamento, a união estável, além de poder ser regulamentada por contrato,
também pode ser um fato jurídico-social não solene.
Muitas vezes, sua existência é anterior ao seu reconhecimento.
O seu reconhecimento poderá ser:
a) Judicial: nesse caso, geralmente busca-se o reconhecimento da união que já terminou. Pode ser consensual
ou litigioso. “Ação de reconhecimento e dissolução de união estável”.
b) Extrajudicial: os conviventes podem celebrar contrato de convivência, regulando questões patrimoniais na
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forma que lhes aprouver. Não há sequer a necessidade de que o contrato seja averbado no registro civil e no
registro imobiliário, podendo ser feito por escritura particular (STJ, 2016).
Não é preciso fazer o contrato por escritura pública.

9.4 LEALDADE VERSUS FIDELIDADE


Compare os seguintes deveres da união estável e do casamento:
UNIÃO ESTÁVEL - DEVER CASAMENTO - DEVER
Art. 1.724, CC. As relações pessoais entre os Art. 1.566, I, CC. São deveres de ambos os cônjuges:
companheiros obedecerão aos deveres de I – Fidelidade recíproca.
lealdade[...]

É possível que alguém seja leal sem ser fiel?


Sim. Imagine-se um contrato de união estável em que os conviventes pactuam a possibilidade de traição. Estariam sendo leais, porém
infiéis.

AULA DIA 30/10/2018

9.5 REGIME DE BENS


Art. 1.725, CC. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-
se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.
Para poder escolher o regime de bens que não seja a comunhão parcial, é necessário Contrato de convivência ou de União estável,

Aplicam-se as regras do art. 1.641, CC, à união estável? (Regras de imposição do regime da separação
absoluta de bens)
A jurisprudência diz, STJ, que aplicam também às cláusulas do artigo 1641 a união estável.
O fundamento é que se a união estável não obedecesse esse artigo, seria muito melhor e mais vantajoso do que o casamento.

9.6 PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS ENTRE OS COMPANHEIROS


Tanto os companheiros, quanto os cônjuges e os parentes têm o direito de pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem (art. 1.694, CC).
É necessário discutir culpa pelo término da união estável como causa de pedir da ação de alimentos
envolvendo os companheiros?
São 3 classes que podem pedir a pensão alimentícia: companheiros, parentes e cônjuge.

Não é necessário provar culpa, para pedir alimentos.


Primeiro se prova a existência da união estável, depois a necessidade.

ATENÇÃO:
a) Se há um contrato de convivência celebrado extrajudicialmente:
Vai pedir através da Ação de Alimentos, Lei 5.478/68. Ação de procedimento rápida.
Alimentos Provisórios, fixados no início da instrução, e pode ser fixada de ofício pelo juiz, salvo se a parte declarar que não precisa.

Quando se tem uma prova pré constituída de conjugalidade, companheirismo e parentesco


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b) Se a existência de união estável depende de reconhecimento judicial:


1º Ação de reconhecimento de união estável cumulada com Alimentos.
Através da Tutela Provisória o juiz fixa os Alimentos Provisionais, os requisitos a serem demonstrados são a probabilidade do
direito e o risco na demora

9.7 ALTERAÇÃO DO NOME


Sabe-se que no casamento, tanto o homem quanto a mulher pode acrescer o patronímico do outro ao
seu.
A alteração do nome é possível na união estável?
Sim, art. 57 § 2º da Lei 6.015/73. Nessa lei diz que a mulher pode acrescer o sobrenome do companheiro, vigorando o princípio
da igualdade o companheiro também pode pegar o sobrenome da companheira.

9.8 UNIÃO ESTÁVEL E O CONCUBINATO IMPURO (ART. 1.727, CC)


Como vimos, o concubinato impuro (ou simplesmente concubinato) se caracteriza pelas relações não
O direito dos concubinos impuros é discutido na vara cível, por ser uma
eventuais entre duas pessoas impedidas de casar. sociedade de fato .
A relação entre as pessoas impedidas de casar forma uma sociedade de fato, não reconhecida como
entidade familiar.
Súmula 380, STF. Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos,
é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo
esforço comum. Isso é pedido na Vara Cível Comum. Não é na vara de família, por essa relação
não ser considerada como família.
Para a doutrina e jurisprudência dominantes, o concubino não tem direito a alimentos, sucessórios ou
meação.
STF: COEXISTÊNCIA DE CASAMENTO DE FATO E UNIÃO ESTÁVEL PARALELA
A doutrina tem denominado esse fenômeno como família simultânea ou paralela.
No ano de 2008, ao julgar o RE 397.762-8/BA, o STF não reconheceu a formação da família paralela, deixando
de reconhecer validade jurídica à união estável, uma vez que um dos conviventes era casado e convivia
normalmente com sua esposa. Porém, houve divergência por parte do Ministro Carlos Ayres Brito, que
reconheceu a proteção à união estável naquele julgamento.
STJ (2015): reconheceu o direito da concubina de receber alimentos do concubino.

9.9 SUCESSÃO ENTRE OS COMPANHEIROS


O STF decidiu, nos Recursos Extraordinários 646721 e 878694, ambos em regime de repercussão geral,
equiparar cônjuges e companheiros para fins de sucessão, um do outro, inclusive em uniões homoafetivas.
Na redação do art. 1.790 do CC, declarada inconstitucional pelo STF, a companheira ou companheiro
participava da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável,
segundo concorresse, ou não, com filhos comuns ou descendentes apenas do autor da herança.
A partir de agora, com essa decisão do STF, a sucessão, inclusive em relação homoafetiva, se dará
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conforme as mesmas regras previstas no art. 1.829 do CC, para a sucessão legítima, isto é, primeiramente aos
descendentes, em concorrência com o cônjuge ou companheiro(a) - a depender do regime de bens do
casamento ou união, em segundo lugar aos ascendentes em concorrência com o cônjuge ou companheiro(a),
em terceiro lugar exclusivamente ao cônjuge ou companheiro(a) - se não existirem nem ascendentes nem
descendentes. Não existindo nenhum destes (nem descendentes, nem ascendentes, nem cônjuge,
companheiro ou companheira), a sucessão legítima se defere aos colaterais.

9.10 QUESTÕES PRÁTICAS


 Quem é réu na ação de reconhecimento de união estável post mortem?
É possível o reconhecimento de união estável post mortem. Os réus serão os herdeiros do suposto companheiro falecido,
inclusive o filho comum, se houver.

 Sendo o filho comum incapaz, como fica sua legitimidade e sua representação processual na ação de
reconhecimento de união estável post mortem?2
Art. 72 CPC. O curador será nomeado enquanto durar o conflito de interesse.
Ex.: da mãe que entra com a ação de reconhecimento de união estável após a morte de seu companheiro, em face do filho
do casal de 2 anos, sendo que ela seria a representante do menor e autora da ação, compondo o polo ativo e passivo ao
mesmo tempo, gerando assim um conflito de interesse, nesse caso o juiz nomeia um curador para o menor .

 Pode haver fixação de alimentos provisionais na ação de reconhecimento de união estável?


Sim, em sede de tutela provisória de urgência, demonstrados os requisitos probabilidade do direito e risco na demora.

 Quem é competente para julgar a ação de reconhecimento de união estável?


O Juiz da Vara de Família.

2
Art. 72, CPC. O juiz nomeará curador especial ao: I – incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses
deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade.

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