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4º Ano – 1º Semestre
Janeiro de 2019
1
Índice
Introdução.................................................................................................. 3
Pirataria: conceito e história ...................................................................... 4
Conjuntura política, social e militar em que se desenvolveu a pirataria no
século XVII .................................................................................................. 7
Os conhecidos feitos e aventuras de Bartolomeu Português ................... 11
Código da Pirataria: Um ensaio da democracia ........................................ 16
Conclusão ................................................................................................. 22
Bibliografia ............................................................................................... 24
Anexos ..................................................................................................... 25
2
Introdução
No âmbito da unidade curricular de O Império Português: Centros e Periferias
(Séculos XV-XVIII), lecionada pela professora Alexandra Pelúcia, foi-nos solicitada a
realização de um Trabalho de Investigação sobre um tema à nossa escolha dentro do
âmbito curricular do Seminário. Devido ao meu grande interesse pelo tema da
Pirataria nas periferias coloniais das potências Europeias da Época Moderna achei por
bem fazer um estudo sobre um pirata Português. Tendo a América Central sido o meu
espaço de eleição, Bartolomeu Português, criador do primeiro código Pirata, um pirata
muitas vezes esquecido pela historiografia em geral, surge como protagonista deste
trabalho.
3
Pirataria: conceito e história
A pirataria consiste no assalto e pilhagem de navios por parte de um grupo de
indivíduos com embarcação própria que atuam por conta própria. Estas embarcações
piratas patrulhavam, assediavam e assaltavam outras embarcações em rotas
marítimas com grande tráfego comercial, sendo os navios mercantis os mais cobiçados
devido à possibilidade de carregarem um maior número de riquezas. Menos comum, a
prática da pirataria podia também estender-se a ataques e pilhagens de povoações
costeiras mais expostas. “Piracy is an offence against the universal law of society, a
pirate being according to Sir Edward Coke, hostis humani generis. As, therefore, he has
renounced all the benefits of society and government, and has reduced himself to the
savage state of nature, by declaring war against all mankind, all mankind must declare
war against him;…”1
4
das embarcações, e abundantes naquilo de que os piratas mais frequentemente
necessitam: provisões”3 (ver anexo 1). Durante estes anos surgiram as maiores e mais
conhecidas figuras piratas da história, tais como Bartholomew Roberts, Edward Teach
(mais conhecido como Barba Negra), Charles Vane e o nosso protagonista, Bartolomeu
Português.
Após a sua insurreição, estes novos piratas tinham que adoptar uma nova
bandeira para marcar a rutura com o poder central que antes representavam. Muitas
são as possíveis origens e variações da tão conhecida bandeira pirata e do seu nome:
“Jolly Roger”. É de consenso geral dos historiadores que o símbolo da caveira
juntamente com os ossos cruzados já era usado por muitas culturas, representando o
perigo de morte, porém são diversas as teorias sobre a sua origem na Europa. Uma das
3
JOHNSON, Charles, op. cit., p. 18
4
PELÚCIA, Alexandra, Corsários e Piratas Portugueses, Aventureiros nos Mares da Ásia, Lisboa, A Esfera
dos Livros, 2010, p. 113
5
Idem, p. 100
5
hipóteses defende que os Templários adoptaram uma bandeira com duas tíbias
cruzadas sobre um fundo avermelhado após terem sido excomungados e
marginalizados pelo Papa Clemente V. Outra é a de que esta bandeira era usada pelos
piratas orientais que se autointitulavam por “Ali Raja”, Reis do mar, e que
eventualmente foi adoptada pelos piratas ocidentais. A terceira afirma que a bandeira
pirata terá resultado de uma transformação da insígnia da ilha de Córsega
protagonizada pelos piratas berberes que actuavam no Mediterrâneo ocidental.
6
Conjuntura política, social e militar em que se desenvolveu a pirataria no século XVII
O início da idade Moderna na Europa foi marcado a nível político pela tentativa
de centralização do poder dos monarcas que nos séculos precedentes leva à formação
das célebres monarquias absolutas. É possível caracterizar esta monarquia absoluta
como uma aproximação das esferas de governação e de todas as suas representações
exteriores com o Estado, possibilitando assim uma total independência com forças
exteriores de ordem imperial, provincial ou territorial. Desta forma o Estado apenas
necessitava de si próprio para governar sem qualquer constrangimento. Todavia, hoje
acredita-se que este Estado não exercia esse poder absoluto sobre os domínios sociais
e privados da sua população. Ao contrário dos Estados totalitários que nos são hoje
conhecidos, a administração absolutista não interferiu de forma implacável nas esferas
familiares e/ou particulares, e tampouco usou a força e modalidades de acção para
controlar opiniões6. Posto isto, era este contexto político e social aliado à distância da
América Central em relação aos grandes centros políticos europeus que abria espaço à
prática da pirataria para os mais aventureiros. O carácter periférico deste espaço
geográfico dificultava o policiamento por parte dos Estados Europeus pois
representava uma enorme despesa para os seus cofres. Desde o século XV que
também em Portugal se sentia uma clara tentativa de centralização de poder por parte
dos monarcas da dinastia de Avis, mas foi apenas no século XVIII que vimos o seu
apogeu com D. João V e D. José I. Foi neste impulso centralizador dos estados
europeus que a pirataria se desenvolveu na América Central, e é neste ambiente
político que Bartolomeu Português opera com a sua companhia.
6
HESPANHA, António Manuel, Poder e instituições na Europa do Antigo Regime, Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1984, pp.182-183
7
centro estratégico para os piratas devido à sua proximidade a colónias espanholas.
“That said, England and the bucanners developed a symbiotic relation. In 1657, the
English protectorate and Jamaica’s buccaneers entered a formal aliance to keep Spain
from recapturing the new English Possession.”. Em 1660 a Inglaterra via a sua
monarquia absoluta ser restaurada por Charles II e com isso o despertar de uma certa
fragilidade na autoridade central em relação às suas possessões territoriais na
América. Muitos eram os conflitos e grande era a tensão colonial entre
ingleses/franceses e espanhóis que se vivia no Novo Mundo. Contudo é importante
referir que muitas das vezes, grande parte dos conflitos na América Central entre
colonos, piratas e militares dos vários reinos europeus não se correlacionavam com os
conflitos a nível europeu.7
7
FERNÁNDEZ, Luis Martínez, Far beyond the Line: Corsairs, Privateers, Buccaneers, and Invading Settlers
in Cuba and the Caribbean (1529-1670), Florida, University of Central Florida, 2015, pp. 30-32
8
HESPANHA, António Manuel, op. cit., p. 371
8
e dez faluas.”9. A derrota perante a marinha inglesa, em 1558, trouxe graves
consequências para a União Ibérica, a hegemonia marítima espanhola caiu perante a
ascensão naval Inglesa. A enfraquecida armada espanhola via ainda mais dificultada o
seu policiamento no império ultramarino e assim os navios mercantis estavam mais
expostos aos ataques de inimigos e às ameaças piratas existentes na América Central.
Além deste claro enfraquecimento da armada portuguesa, Portugal sentiu também
posteriormente a diminuição da qualidade dos seus navios devido ao arrendamento da
fábrica e concerto das naus a privados por Filipe II. A qualidade das suas madeiras e o
modo de construção e reparação destas embarcações levou a um aumento dos
naufrágios nas armadas enviadas para a Índia. “Em 1600, indo para o oriente catorze
naus, galeões e navios, perderam-se quási todos no regresso. Em 1591 e 1592, partindo
da Índia vinte e duas embarcações, chegaram ao Tejo só duas, que, por serem velhas,
não traziam carga.”10
9
Idem, p. 387
10
HESPANHA, António Manuel, op. cit., p. 391
11
Idem, p. 389
9
É nesta conjuntura política, social e militar/naval que nasce Bartolomeu
Português. Não se sabe a data do seu nascimento, contudo é possível inferir
logicamente que, tendo falecido em 1669, o seu nascimento se inclua num espaço
temporal de domínio filipino ou durante os primeiros anos da Guerra da Restauração.
Ainda que a ausência de fontes sobre a sua origem determine algumas incertezas de
carácter pessoal e individual, é sabido que é esta a conjuntura nacional e internacional
que marca o seu crescimento e a entrada no mundo ilegal da pirataria.
10
Os conhecidos feitos e aventuras de Bartolomeu Português
Bartolomeu Português, tal como o seu “apelido” nos indica, nasceu em Portugal
e, tal como pouco se sabe sobre a sua a origem social e as suas motivações, também
são poucas as referências em que podemos basear o estudo do percurso da sua vida.
(Ver anexo 5). Por essa mesma razão, há também pouca informação sobre as suas
aventuras como pirata nos mares da América central e, por isso, este capítulo apenas
procura fazer uma compilação dos seus feitos conhecidos, aqueles que nos chegaram
até hoje. A ausência de documentos portugueses que retratam a prática da pirataria
portuguesa é também deveras notável. A intensificação e propagação de uma visão
idealista da expansão portuguesa não permitiu o registo ou preservação de
documentos relativos às práticas de corso e pirataria por parte de muitas figuras
portuguesas heroificadas como Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.12 Neste caso, a
inexistência destas fontes portuguesas também se aplica ao protagonista deste
trabalho: Bartolomeu Português.
12
PELÚCIA, Alexandra, op. cit., p. 16
13
MONDFELD, Wolfram Zu, O Grande Livro dos Piratas, Lisboa, Círculo de Leitores, 1979, p. 189
14
GUERREIRO, Luís R., O Grande Livro da Pirataria e do Corso, Lisboa, Temas e Debates, 1997, p. 248
15
OEXMELIN, Alexandre Olivier, Historia de los Aventureros-Filibusteros y Bucaneros de América,
República Dominicana, Editora Montalvo, 1953, p. 79
11
Em 1662, na ilha da Jamaica, uma ilha controlada pelos piratas, Bartolomeu
Português preparou uma pequena embarcação composta por 30 homens e 4 pequenas
peças de canhão, cada um destes canhões disparavam projéteis com o peso de 3
libras. Estando na liderança, a sua embarcação partiu dessa mesma ilha em direção ao
sudoeste da ilha de Cuba, Cabo Corrientes, uma zona de grande tráfego de navios
espanhóis provenientes das cidades de Caracas ou de Cartagena. Navegando por estas
águas não demorou muito a que a sua embarcação avistasse um navio comerciante
espanhol e, após uma breve discussão com a sua tripulação, decidiu perseguir e
abordar o navio. Nessa discussão foram debatidos tópicos como o aparente poderio
militar do navio comerciante e os perigos que daí poderiam advir, contudo a sua
tripulação mostrou-se disposta a correr riscos para meter mão na sua carga.16
O navio espanhol era tripulado por um total de setenta marinheiros, e tal como
era normal nesta zona, estava equipado com um número considerável de canhões.
“Cuando los buques españoles vienen a ese lugar, están sempre preparados, como lo
están los buques que vienen de Europa, que pasan por ele Cabo de San Vicente, a causa
de los turcos que cruzan por allí ordinariamente.”17
16
OEXMELIN, Alexandre Olivier, op. cit., p. 76
17
Ibidem
12
foram capturados. Destes quarenta tripulantes capturados, a maior parte eram
feridos. Os mortos foram atirados ao mar, os capturados foram obrigados a repararem
o navio dos estragos provocados em combate e fizeram a contagem do saque obtido
pelos piratas, tudo isto a comando do português. O saque obtido foi de “…75.000
escudos y 120.libras de cacao, que podían muy bien valer 50.000 escudos” 18
Numa das noites, após ter descoberto que tinha sido sentenciado à forca pelo
governador da cidade, e conduzido pelo sentimento de desespero em relação à sua
sentença, Bartolomeu conseguiu finalmente soltar-se das suas amarras e fugir do
navio. Matou o sentinela que o guardava e prendeu um conjunto de vasos ao seu
corpo de modo a que pudesse flutuar na água e assim nadar até à costa. Ao chegar a
18
OEXMELIN, Alexandre Olivier, op. cit., p. 77
13
terra, rapidamente se escondeu na floresta e durante três dias e três noites subiu um
rio com uma grande densidade de arbustos para que se pudesse esconder. Durante
todo este tempo o português manteve-se dentro de água para que os cães que
auxiliavam as buscas espanholas não o pudessem cheirar. Começou por planear a sua
deslocação até ao Golfo Triste, lugar onde os piratas se reuniam frequentemente, e
durante esta jornada de doze dias foram imensos os perigos que Bartolomeu teve de
ultrapassar. Apenas alimentando-se de caracóis que ia encontrando ao longo da costa,
o português teve de fazer travessias de rios com crocodilos, de águas salgadas com
tubarões e durante meia dúzia de léguas foi obrigado a deslocar-se em cima de
Mangue19.
19
Ecossistema costeiro característico da transição entre os ambientes terrestres e marinhos de regiões
tropicas e subtropicais.
20
OEXMELIN, Alexandre Olivier, op. cit., p. 79
14
“…regressou a Campeche, assaltando pela segunda vez o seu antigo barco-presa, ainda
surto no porto.”21 e após capturarem-no navegaram de volta ao Golfo Triste para se
reencontrarem com os antigos companheiros. Já a caminho da Jamaica, na costa
meridional de Cuba, e com o intuito de armar o seu navio com algumas peças de
canhão, o navio do português foi apanhado numa tempestade que os levou para uma
área de recifes e devido à força da natureza acabou por naufragar. Para a empresa de
Bartolomeu Português foi um desastre, houve um grande prejuízo material pois
perdeu-se uma grande quantidade de cacau, a que se juntou um desgaste moral
enorme. Os tripulantes do navio e Bartolomeu foram capazes de fugir da tempestade
através de um bote e de chegar à Jamaica sãos e salvos, contudo isto marcou o fim
desta empresa, e partir daí cada um seguiu o seu rumo e procurou fazer a sua
fortuna.22 O pirata, já sem meios para continuar a sua aventura, acabou por adoecer e
dedicar-se à mendicidade nesta ilha, acabando assim a viver na “…miséria como é
normal ao português de excepção."23.
21
MONDFELD, Wolfram Zu, op. cit., p. 190
22
OEXMELIN, Alexandre Olivier, op. cit., p. 79
23
BIDARRA, Pedro, “O Partido Bartolomeu Português”, in Diário de Notícias, consultado a 13/11/1018
em https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/pedro-bidarra/interior/o-partido-bartolomeu-portugues-
4763667.html
15
Código da Pirataria: Um ensaio da democracia
A origem desta sociedade pirata, também conhecida por Boucanniers
(Bucanneers em inglês), na América Central remonta à instalação de colonos franceses
na ilha do Haiti, na altura controlada pelos espanhóis. Estes colonos, além de serem
caçadores exímios, ficaram conhecidos como Boucanniers devido ao domínio da
técnica de defumação de carne “Boucan”. A sua expulsão e marginalização pelas
autoridades espanholas desta ilha fez com que estes fossem obrigados a procurar
outros modos de subsistência. Foi através do ataque a outros navios e a saques de
colónias espanholas que estes piratas encontraram a sua forma de sobrevivência,
tendo como base de operações a ilha da Jamaica e de Tortuga.24 (Ver anexo 6)
24
MONDFELD, Wolfram Zu, op. cit., p. 184
25
Idem, p. 185
16
coordination and direction, and so it was inevitable that some kind of command
structure should exist to provide them.”26.
Assim, “…the articles were drawn up not to establish order, but because the
system of maintaining order which had already been in place was becoming, or
believed to be becoming, progressively less stable.”27. Desta forma, o Código da
Pirataria veio complementar e reforçar a cada vez mais questionada autoridade do
capitão. Variando de navio para navio, estas regras podiam ser escritas pelo capitão,
por um grupo de marinheiros ou até mesmo pela totalidade dos tripulantes. Após o
juramento feito por todos, este documento surgia como fonte de direito corporizando
as leis dos respetivos navios.
26
FOX, Edward Theophilus, Piratical Schemes and Contracts: Pirate Articles and their Society, 1660-1730,
Exeter, University of Exeter, 2013, p. 102
27
Idem, p. 54
28
Idem, p. 73
17
destas ideias socialmente revolucionárias que seriam apenas impostas no mundo
europeu mais de cem anos depois. Este Código surgiu como um contrato de aprovação
geral, os seus artigos, património e interesses dos despojos estavam regulamentados.
Todos os seus assinantes juravam solenemente o respeito deste código, e o seu
desrespeito era procedido de punição previamente estipulada.29
Não se sabe o ano em que Bartolomeu o redigiu, mas a sua criação é tão
importante para o bom funcionamento destes negócios que, com variações possíveis,
passou a ser parte integrante de todas as companhias piratas daí em diante.
Infelizmente, o Código do nosso pirata português não chegou aos dias de hoje: na
iminência de uma possível captura pela parte das autoridades europeias, os piratas
queimavam tudo o que pudesse servir de prova contra si, incluindo livros de regras
como este. Hoje, um dos códigos mais conhecidos é de Bartholomew Roberts, e
acreditamos que este será muito semelhante e baseado no primeiro código pirata.
Dito isto, podemos observar que são 11 as leis que constituem este documento:
29
MONDFELD, Wolfram Zu, op. cit., p. 186
18
6 - Nenhum rapaz ou mulher será admitido entre a companhia. Qualquer
homem, descoberto no acto de seduzir algum elemento do sexo fraco e intentar levá-
la para o mar disfarçado, sofrerá pena de morte;
9 - Homem algum falará em desfazer esta forma de vida até que cada um tenha
adquirido 1000 libras. Se, na execução deste objetivo, algum homem perder um
membro ou estropiar-se ao serviço da companhia, receberá 800 dólares do espólio
comum, ou uma indemnização proporcional em caso de ferimento menor;
30
Não tendo tido a possibilidade de trabalhar com a própria fonte, este Código de Bartholomew Roberts
sobreviveu através do livro História Geral dos Piratas, de Charles Johnson que serviu de base para a
enunciação das leis referidas.
19
contramestre e pessoas de outros ofícios importantes receberiam, respectivamente,
duas partes do espólio e uma parte e um quarto. Observamos também a importância
da honra e do compromisso entre os piratas para com esta empresa quando o código
afirma não serem aceites abandonos de postos em situações de combate, sendo
mesmo punível com morte, e que apenas um homem se poderá desfazer e “reformar”
do resto da tripulação quando tiver conseguido adquirir 1000 libras. Também é
valorizada a ordem e o bem-estar ao ser definido que problemas e disputas entre
membros da tripulação apenas serão resolvidos em terra, acompanhados pelo
contramestre. Também a proibição de jogos com dados e cartas envolvendo dinheiro
entram para esta equação, isto porque provavelmente estas actividades poderiam
acabar em discussão ou em conflito de interesses. As regras 4 e 5 estabelecem normas
para segurança do navio: obrigatoriedade em apagar todas as luzes às oito da noite,
que significava uma maior segurança para a embarcação pois aumentava a dificuldade
do seu avistamento perante outros navios; e o indispensável estado de prontidão de
todas as armas para combate. Na sexta lei observamos a não admissão de rapazes e
mulheres nestas tripulações. Para isso podemos apontar motivos de ordem
fisionómica, já que mulheres e rapazes podiam possuir uma força menor. Além disso, a
presença de alguém do sexo feminino num navio poderia causar distracções, má sorte
e futuros conflitos. Não esquecer que apesar de este documento ser em certos
aspectos uma inovação, os homens são produtos do seu tempo e isso pressupõe que
certas tradições e dogmas se mantenham: a inferiorização da mulher nos diversos
aspectos sociais. Mas como tudo no mundo existem excepções e como exemplo disso
temos várias mulheres piratas que se distinguiram e marcaram a Idade de Ouro da
Pirataria tais como Anne Bonny, Mary Read e Anne Dieu-Le-Veut. Por último, há uma
regra que estabelece os horários dos músicos a bordo do navio. Os músicos eram
importantes para animar o espírito dos marinheiros e tocar em rituais religiosos.
Normalmente, os piratas eram pessoas muito religiosas e dedicavam uma parte
significativa do seu tempo à realização de missas. “No início de cada viagem,
mandavam celebrar uma missa e todos os domingos, em pleno mar, o capitão ia
buscar a Bíblia ao cofre de bordo e lia um ou outro versículo…”31
31
MONDFELD, Wolfram Zu, op. Cit., p. 187
20
Encontramos neste documento um espírito quase que democrático que,
embora com algumas diferenças óbvias, promove a igualdade entre todos. As
liberdades pessoais e a igualdade promovida por estas regras funcionavam como um
factor fundamental de atração de marinheiros à prática da pirataria.
32
MONDFELD, Wolfram Zu, op. cit., pp. 186-187
33
Idem, p. 185
21
Conclusão
A Pirataria na América Central, conhecida como a Idade de Ouro da Pirataria,
surge como um acontecimento histórico importante no que toca à evolução de
poderes e influências das nações europeias neste território. A conjetura política e
militar/naval na Europa têm repercussões no desenvolvimento desta prática. Além do
combate com outras nações, os colonos e aparelhos militares/navais europeus vêm-se
na necessidade de combater este novo inimigo em crescimento, que muitas vezes é
difícil. Estes piratas chegam a ter tanta influência que, em situações de exceção,
chegam a ser alvo de tentativas de aliança por parte de poderes europeus. No século
XVII, a pirataria nas Caraíbas estava “na moda” e era praticada por muita gente,
contudo era um negócio que trazia muitos riscos.
Além dos seus feitos, Bartolomeu surge como um pirata inovador quanto à
materialização das condutas e regras piratas, o tão famoso Código Pirata. Neste código
de regas verificamos alguns princípios que são à frente do seu tempo. Apesar de serem
aplicadas em casos específicos e situações a bordo de um navio, não deixam de
22
promover princípios democráticos, princípios que apenas seriam instaurados na
Europa um século depois com o desencadear da Revolução Francesa.
23
Bibliografia Geral
ELLMS, Charles, The Pirates own book: Authentic Narratives of the Most
Celebrated Sea Robbers, North Chelmsford, Courier Corporation, 1993
GILBERT, John, Piratas e Corsários, Lisboa, Editorial Verbo, 1976
GUERREIRO, Luís R., O Grande Livro da Pirataria e do Corso, Lisboa, Temas e
Debates, 1997
HESPANHA, António Manuel, Poder e instituições na Europa do Antigo Regime,
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984
MONDFELD, Wolfram Zu, O Grande Livro dos Piratas, Lisboa, Circulo de
Leitores, 1979
SALMORAL, Manuel Lucena, Piratas, Bucaneros, Filibusteros Y Corsarios en
AméricaI: Perros, mendigos y otros malditos del mar, Espanha, MAPFRE, 1994
PELÚCIA, Alexandra, Corsários e Piratas Portugueses, Aventureiros nos Mares
da Ásia, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2010
Estudos
Fontes Impressas
JOHNSON, Charles, História geral dos roubos e assassínios dos mais notáveis
Piratas, Lisboa, Cavalo de Ferro Editores, 2005
OEXMELIN, Alexandre Olivier, Historia de los Aventureros-Filibusteros y
Bucaneros de América, República Dominicana, Editora Montalvo, 1953
24
Anexos
25
Anexo 1 - Mapa de Joannes Janssonius de 1636 - Geografia e aspectos coloniais da América Central.
Disponível em: http://www.islandmapstore.com/product_details.php?pid=42&catid=4
26
Anexo 3 - Bandeira adaptada do navio de Henry Avery, de origem inglesa. Disponível em:
https://bistury.wordpress.com/tag/henry-avery/
Anexo 4 - Bandeira do navio pirata de Stede Bonnet, nascido em Bridgetown, Barbados. Disponível
em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jolly_Roger#/media/File:Pirate_Flag_of_Stede_Bonnet.svg
27
Anexo 5 - Imagem de Bartolomeu Português. "Trade Card" da Série (N19) "Pirates of the Spanish Main" de
1888 da empresa de cigarros Allen & Ginter. Disponível em:
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/408899
28