Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Considerações Sobre o Massacre de Corumbiara e Os Novos Conflitos Agrários em
Considerações Sobre o Massacre de Corumbiara e Os Novos Conflitos Agrários em
Considerações Sobre o Massacre de Corumbiara e Os Novos Conflitos Agrários em
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
CLAUDEMIR GILBERTO RAMOS – Sobrevivente do massacre de Corumbiara.
AGOSTINHO FELICIANO NETO – Sobrevivente do massacre de Corumbiara.
JÂNIO BATISTA NASCIMENTO – Representante da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia.
HELENA ANGÉLICA DE MESQUITA – Professora da Universidade Federal de Goiás, do campus
de Catalão.
RAUL RIBEIRO FONSECA FILHO – Advogado da Comissão Pastoral da Terra — CPT.
ERNANDE DA SILVA SEGISMUNDO – Advogado e representante da Comissão Pastoral da
Terra — CPT.
PATRÍCIA GALVÃO FERREIRA – Advogada do Centro pela Justiça e o Direito Internacional —
CEJIL.
JOEL MAURO MAGALHÃES – Representante do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária — INCRA.
GERCINO JOSÉ DA SILVA FILHO – Ouvidor Agrário Nacional.
MARIA ELIANE MENEZES DE FARIAS – Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão.
CELSO ARRUDA FRANÇA – Assessor da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da
Justiça.
OBSERVAÇÕES
Há exibição de imagens.
Há orador não identificado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Declaro abertos os trabalhos da presente reunião de audiência pública, que tem por
Rondônia.
um texto para abrir a presente reunião de audiência pública, mas acho que o vídeo é
mais expressivo que qualquer palavra. Essa é a realidade com que temos de
população são muito grandes. Tão grandes que, passados sete anos, dois
Nosso objetivo hoje não é outro senão discutir como a Comissão de Direitos
Humanos e a sociedade podem contribuir para que a justiça seja feita e haja uma
investigação de fato que atinja os responsáveis pelo massacre e fazer pressão para
contribuir para que fatos como esse não se repitam jamais em nosso País.
de São Paulo; o Sr. Raul Ribeiro Fonseca Filho, advogado da Comissão Pastoral da
1
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
dez minutos a cada expositor. Serei um tanto quanto rígido com todos, porque é
Esta reunião está sendo gravada, para posterior transcrição. Por isso, solicito
Dra. Maria Eliane de Farias, Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão; Sra.
Denise Alves, do MST; Sr. Elmano de Freitas, do MST; Sr. Roberto Lemos dos
Santos Filho, juiz federal da Associação dos Magistrados do Brasil; Sr. Gerson Lima,
da Liga Operária de Minas Gerais; Sr. Jairo Batista, da Liga Operária de Rondônia;
Direitos Humanos do Ministério da Justiça; Sra. Ciléa Santos Lima e Sra. Erilda
Balduíno, ambas da OAB; Sra. Maria Madalena, da OAB e do CONIC; e Sra. Nilda
do Ministério da Justiça.
2
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
muitos, infelizmente. Fui condenado a oito anos e meio de prisão. Meus advogados
mantenha-se a condenação.
Quero dizer, quanto ao que ocorreu em Corumbiara, que seria uma injustiça
isso ser esquecido. Pessoas foram obrigadas a comer miolos de outras, torturadas
por policiais e jagunços fardados, utilizando o uniforme da Polícia Militar. Fui uma
dessas pessoas. Obrigaram-me a comer sangue com terra. Fui torturado e hoje
Talvez, neste País, lutar por dignidade, pela reforma agrária, pela terra, pelos
direitos dos trabalhadores seja crime. É impossível aceitar uma situação dessa.
Acredito que esta audiência vai ser muito importante. Pedimos às autoridades
competentes que olhem não só para Rondônia, mas também para outros Estados do
Cícero, apenas dois soldados foram condenados. Acho que por preconceito, porque
3
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
indenização.
Obrigado.
Claudemir.
massacre de Corumbiara.
de pensão para as famílias, porque todos foram torturados e não têm como fazer
tratamento. Lá, vai-se morrendo aos poucos no trabalho, porque, sendo baixa a
renda, não se tem como ir para a cidade grande fazer tratamento da saúde. E muitos
Agostinho.
Camponeses Pobres de Rondônia, que fará breve relato dos novos conflitos agrários
de Rondônia.
Peço aos representantes deste País que olhem para o povo daquele Estado,
4
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
terra para trabalhar continua. As poucas coisas que os pobres têm são roubadas
policiais as levam para algum lugar, onde delas abusam. Pistoleiros ainda hoje estão
judiam deles.
Por isso, peço aos representantes deste País que olhem por Rondônia e por
todos os demais Estados onde esse tipo de coisa acontece. Todos ficam calados e
ninguém sabe o que está acontecendo. Quem sabe faz vista grossa, não olha para
os companheiros que estão lutando, correndo atrás do seu pedacinho de terra para
sobreviver. A vida na cidade não está fácil para o pobre, ainda mais sem estudo. A
Liga Camponesa dos Pobres do Estado de Rondônia pede aos representantes deste
morrer: Pelé, João Domingos, o advogado Hermoges e mais um, cujo nome não sei,
armados até os dentes, até com fuzil, saindo para Ariquemes, em direção ao
acampamento Lamarca, a fim de fazer outro massacre. Isto não aconteceu ainda
5
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
imediata para indenização das vítimas dos massacres; desapropriação imediata das
companheiros que olhem por aquele povo, que também está sofrendo represálias.
Paulo.
senhores o que foi o massacre de Corumbiara, mesmo sem tê-lo vivido como os Srs.
Minha tese de doutorado foi feita com o maior rigor científico possível que
trabalho dessa natureza exige, mas em momento algum eu quis fazer um trabalho
6
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
contexto, sem povo. O caso de Corumbiara não foge à regra, e a história oficial,
certamente, está nos autos ou em relatórios feitos por várias instituições. Mas os
Brasil.
Corumbiara desde fevereiro de 1996 — não estou aqui impunemente. Fiz mestrado
doutorado, ou seja, quando estava vendo o lado rico da questão agrária no Brasil,
simpatizantes, e me abalei até lá. Era fevereiro de 1996. Havia cerca de cem
Conversando com aquelas pessoas descobri que nada sabia sobre tal história vivida
nele luzes, tirar tudo o que está tampando, encobrindo, escondendo a questão de
Rio Claro. Mudei para a USP, sob orientação do Prof. Ariovaldo Umbelino de
Oliveira, que é hoje uma das maiores autoridades na questão do campo brasileiro.
Daí em diante, foram três anos de pesquisa. A metodologia principal foi trabalhar
7
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
com a fonte oficial, o processo-crime intitulado Caso de Corumbiara, que hoje tem
aumentam ainda mais as dúvidas sobre como as coisas são construídas neste País.
O conflito da Santa Elina tem a mesma gênese histórica de muitos outros que
mas o que eu pretendia, ao eleger esse caso para pesquisa, era buscar uma análise
necessárias a que eu, como geógrafa, pudesse contribuir com uma produção
científica e ao mesmo tempo social e política para a história do Brasil. Não pretendia
estudar o conflito por ele mesmo, nem como algo restrito a um lugar ou a um
momento, mas sobretudo buscar entender todo o processo de luta pela terra no
8
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
locais.
Quero lembrar que visitei todos os assentamentos onde estão vivendo hoje
de julho, era apenas mais um conflito por terra entre mais de 300 que aconteceram
naquele ano.
júri. O trabalho de campo permitiu dar sentido aos dados, aos números e às
informações oficiais, pois mesmo que o conhecimento das fontes primárias não
9
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
dados oficiais que estão nos autos. Mas, naquele momento, o que era considerado
ferido para aquelas autoridades? Comprovei que camponês que estava de braços
hematomas, escoriações não era considerado ferido. E quanto aos policiais, ocorria
Não foi intenção fazer uma investigação policial, ou seja, restringir somente a
Foi necessário definir as metas que desejava advir com o trabalho dessa
mesmo quando elas existiam eram filtradas, higienizadas e a realidade era sempre
mascarada.
10
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
que foram encaminhados à UNICAMP, e esta concluiu que eram ossos de animais.
equipe de Badan Palhares concluiu que eram ossos de suínos. Das amostras
mandadas para Paris pelo bispo, seguramente, duas eram de ossos humanos e uma
era inconclusiva. Conseguimos a cópia dos laudos com o próprio bispo e sua
Palhares, mas de não exigirem que comprovasse o que tinha feito, e exigissem de
afirmação.
Quanto ao caso da menina Vanessa, ela não tinha 7 anos, mas 6 anos, e nos
autos os dados de sua morte são extremamente contraditórios, pois ou existe uma
Uma vítima que não foi identificada, mas tratada como H05, foi durante todo o
júri chamada de sem-terra; porém, seu corpo não foi encontrado junto aos dois
sem-terra que foram executados em uma figueira. Ele foi encontrado a mais de dois
esfacelados e o H05 estava com o rosto intacto; tinha apenas uma perfuração no
11
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
precário, era seu lar. Eles foram atacados de madrugada. O depoimento dos
Depoimento do Major Pachá diz que eles lançaram as primeiras três bombas de gás
morte dos dois policias. Durante a apuração dos fatos, o juiz de Colorado do Oeste
mandou a júri popular os policiais pela morte de três, segundo ele, sem-terra, mas
provavelmente um não se sabe se era sem terra ou não, e o Major Ventura, pela
morte do Sérgio, um posseiro que já estava preso no campo de futebol, foi retirado
e, depois de quinze dias, seu corpo foi encontrado boiando no rio, com sinais
evidentes de tortura. O juiz entendeu que só poderia mandar a júri e imputar pelos
mortes foram sob fogo cruzado. Só que os próprios autos mostram que os policiais
contas, é uma tese com cerca de trezentas e poucas páginas, em três anos de
pesquisa.
tem maior repercussão fora do que propriamente neste debate. A contribuição que a
senhora já deu no Caso Corumbiara é grandiosa e, por certo, será o alicerce para
12
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
outras ações que vamos realizar. Vamos lutar para que as pessoas não fiquem
tão exíguo. Sabemos que o trabalho da senhora poderia contribuir muito mais com
Concedo a palavra ao Sr. Raul Ribeiro Fonseca Filho, um dos advogados que
acompanham o caso.
sócio, Dr. Alexandre Lopes de Oliveira, sem a ajuda de quem não teria conseguido
levar adiante esse trabalho, já que minha especialidade não é Direito Criminal.
tenham uma idéia do que foi mais ou menos esse processo. Não vou poder
aprofundar, acho que todos compreendem, mas gostaria de passar alguns dados, de
sorte que os senhores vejam o que foi essa montagem que a Profa. Angélica já
apresentou.
própria Polícia Militar, uniformizados com fardamento da PM. Repito: 194 PMs e
13
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
policiais militares, entre oficiais e praças, foram denunciados pelo Ministério Público
De 20, 13. Correto? Pois bem, dos quatro sem-terra, um se evadiu, um foi
bem o que aconteceu. Dos 13 PMs, sete, portanto, mais da metade, foram
Confesso que não entendi essa lógica. Isso é gastar dinheiro público. Sete
corporal de natureza leve. Foi o caso de um cabo que deu um tiro de metralhadora
verdade? Então, foi desclassificado para lesão corporal. Três PMs condenados pelo
major.
reclusão, o outro, a 15 anos, e o terceiro, absolvido. Desses três, dois tiveram suas
armas positivadas, ou seja, os projéteis das armas desses policiais militares foram
reclusão por homicídio; o segundo, sofreu uma condenação de 18 anos. Não houve
qualquer positivamento em relação à sua arma. O terceiro, que tinha positivado sua
arma como realmente a que contribuiu para a morte de um sem-terra, foi absolvido
14
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
pelo Tribunal do Júri. O júri tem direito a ter seu entendimento. Tem advogado aqui,
que sabe disso, pois é profissional do Direito. Tendo o Ministério Público oferecido
relação a esse julgamento. Entendo que foi manifestamente contra a prova dos
autos. Não houve recurso por parte do Ministério Público em relação a essa
absolvição.
em que houve execução. Foi justamente esse pelotão que atuou nessa fase da
desocupação, digamos assim. Esses sem-terra, para terem uma idéia, resistiram
efetivamente. Houve troca de tiros, mas a morte deles foi causada por disparos na
nuca, salvo engano. Não é incrível que na troca de disparos os dois viraram as
costas e tomaram tiro na nuca? E foram disparos à curta distância. Portanto, houve
Tarcísio Leite de Matos, pediu a absolvição desses dois oficiais da COE. Inclusive,
foi feito um discurso que repercutiu muito mal em todo o Brasil. Saiu na mídia falada,
impressa e televisada que ele sintetizou seu pedido de absolvição numa frase
maravilhosa: “Ou o Brasil acaba com os sem-terra ou eles acabam com o Brasil”.
Apenas em relação a esses dois oficiais o Ministério Público recorreu, sendo que o
mais as absolvições dos soldados Luiz Carlos Fernandes, Moisés de Oliveira Lima e
15
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
mas o júri entendeu que deveria ser absolvido por não ter tido responsabilidade na
morte que lhe fora atribuída, especificamente a de Sérgio Rodrigues Gomes, que foi
que ele teria recebido um Monza do fazendeiro Antenor Duarte. Tendo o Ministério
Público explorado essa situação à exaustão, parece-me que o Júri o condenou não
Então, vejam os senhores que esses dados mostram bem o que aconteceu
com os PMs. Com relação aos sem-terra, dos quatro pronunciados um se evadiu, foi
apartado, tendo sido sua prisão preventiva decretada; os outros três, para o Sr.
impronúncia, tendo o Juiz de Primeiro Grau entendido que ele não deveria ser
levado a Júri. Os dois que foram levados a Júri foram condenados. Em termos
percentuais, é muito fácil verificar como o processo foi conduzido: dos 20 policiais
16
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
forma. Eles não responderam ao Tribunal do Júri por homicídio direto, mas por co-
Claudemir Gilberto Ramos foi condenado a oito anos e seis meses de reclusão, pelo
Leite Neto foi condenado a seis anos, por homicídio. Ora, se os dois foram co-
partícipes, se ambos tiveram a mesma atuação, por que um foi condenado por dois
homicídios e outro por um só. E mais ainda: Claudemir foi condenado a mais dois
meses de detenção, por cárcere privado, enquanto Cícero foi condenado a dois
havendo duas teses conflitantes e tendo o Júri entendido que apenas uma delas
deveria ser agasalhada, não teria como reverter o processo, acatando a decisão,
autônomo e independente.
Estou querendo mostrar aos senhores que o processo foi mais ou menos
exigiu investigação mais profunda. Porque não me parece crível que um simples
4h30min da madrugada, mesmo com ordem judicial. A ordem poderia ser legal, mas
o horário em que ela foi executada tornou-a ilegal. Esse ato não poderia acontecer
17
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
foi condenado por resistência, e Claudemir, por cárcere privado, num acampamento
com mais de quinhentas famílias. É crível que duas ou três pessoas consigam
manter quinhentas famílias sob cárcere privado? Nada disso foi levado em
consideração. Tudo foi mantido como estava pelo tribunal, ou seja, não tivemos êxito
absolutamente nada. Agora, nosso próximo passo é apelar para o Superior Tribunal
de Justiça.
injustiça seja desfeita, pois estamos vivendo, na visão da defesa, flagrante estado de
injustiça. Nós sabemos que o julgamento do STJ é demorado, não deverá sair
agora, por isso, é preciso que haja mobilização, para que as pessoas não se
senhores: nenhuma arma dos sem-terra foi positivada em relação aos projéteis
retirados dos corpos dos dois policiais militares. Os projéteis foram analisados pelo
às armas apreendidas com os sem-terra. Não se tem certeza absoluta de que das
armas dos sem-terra partiram os disparos que mataram os dois PMs. Podem ter sido
os sem-terra, existe essa possibilidade; podem também ter partido dos jagunços
ver, isso é um absurdo. Não se pode condenar ninguém por pressuposição. Tem de
18
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
policial civil, quando não houve acompanhamento sistemático por parte dos
Dr. Ernande, que se arriscou sua integridade física ao comparecer, no dia seguinte,
certeza de que o disparo partiu das armas dos sem-terra. Foram condenados por
pressuposição, repito.
brasileira, a consciência jurídica nacional reveja a questão. Não podemos deixar que
José da Silva Filho, Exmo. Sr. Deputado João Paulo, senhoras e senhores
19
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
por um tribunal em que o juiz e os jurados são israelenses. Qual será o veredicto? O
mesmo poderia se dizer de uma ação perpetrada por ingleses contra irlandeses no
si mesmos.
desde Antônio Conselheiro. É natural que tenha havido esse animus desde o
ver aquela confusão. Não há polícia do mundo com know-how para administrar o
inquérito de uma confusão que envolva quase mil pessoas. Se instruir inquérito para
apurar homicídio ocorrido em boteco já é difícil, imaginem para apurar briga que
envolve mil pessoas. Nesse conflito foram disparados dois mil tiros, fora os das
armas particulares. Como cada policial utiliza, além da arma da corporação, outra
particular, presume-se que pelo menos três a quatro mil tiros foram disparados.
Chegando lá, fui para o ginásio de esportes, que estava cheio de gente.
Estava tudo quebrado. Eu não sabia o que fazer, apesar de ser advogado. A Polícia
não queria deixar eu entrar. Eu disse que era advogado, criei confusão e entrei. Ao
conversar com as pessoas, a primeira coisa que ouvi é que não comiam e não
para arrumar comida e leite. Essa foi a minha primeira preocupação. Conseguimos
20
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
seviciadas, torturadas, como foi mostrado no vídeo. O que os senhores viram não
representa 10% da realidade. A minha luta foi tentar construir provas. Sumi, criei
delito, que não queriam fazer. Foi difícil arrumar médicos para fazer os exames.
Queria ouvir cada uma das vítimas, mas o delegado não permitia. Depois nos
Greenhalgh e de outros.
Instalaram dez bancas para ouvir dez pessoas ao mesmo tempo, mas éramos
só dois advogados. Como a maioria das pessoas era analfabeta, eles registravam o
que bem entendiam nos depoimentos, e tínhamos de assinar sem ouvir as pessoas.
um pouquinho ali. Quando acabou o show no circo, quando a mídia foi embora,
civil e militar. Tive de rodar a região inteira de Toyota, com medo de levar um tiro na
cabeça, mas vasculhamos casa por casa, para checar se havia mais mortos.
em conseqüência do massacre.
21
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Muitas das histórias incríveis que foram contadas fazem parte da imaginação.
pulou fora não foi confirmada. A história de que deceparam o pênis de um senhor
também não foi confirmada. São várias histórias criadas naquela loucura, naquela
natureza. O Governo do Estado não dava a mínima para o caso. Conversei com o
Governador Raupp por várias vezes, tentando obter a ninharia de 5 a 10 mil reais,
porque não havia dinheiro para fotocopiar o inquérito. O delegado que ia presidir os
inquéritos não tinha mais crédito na cidade para comprar fiado gasolina e papel. O
Ministério Público contra mim era muito forte, porque ele queria tudo, menos minha
e do Movimento Sem Terra. De forma que a tensão entre mim e o Ministério Público
cresceu muito. Até meus clientes foram convencidos pelos magistrados a revogar os
mandados que me haviam outorgado. E acabei fora do processo, para evitar o que
citou o Dr. Raul há pouco: o recurso de decisões absurdas. Havia provas cabais
CPT nacional e a de Rondônia têm esperança no processo que corre na OEA. Foi
formalizada uma denúncia àquele órgão. Estamos jogando nossa força nesse
22
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
muito mais dolorida, muito mais profunda, muito mais atroz é cometida: a criminosa
Aqui estão colegas do INCRA, com os quais trabalhamos quase todos os dias
político que garanta uma propriedade, mesmo na Amazônia, de 10, 15, 20, 30 mil
hectares. E isso existe lá. O INCRA sabe disso. Tenho em mão cópia da decisão do
O fato é que lutamos. Para os senhores terem uma idéia, ontem à noite
estão acuadas. Tentei negociar com o Juiz, porque além das famílias, eles querem
tirar da área a igreja, a escola, a garagem e o balcão. Até brinquei com eles,
dizendo: “Ao policial que vier aqui vocês vão dizer que, se tocar na igreja, vai para o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Faço um parêntese aqui para
agindo de forma delinqüente, porque obstruiu a estrada, não deixa entrar nem sair
23
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
tratava a escravidão, ou seja, com muita insensibilidade. Acho que existe também
fundamento na Constituição Federal, haveria muita mais justiça nesse casos. Mas o
condições técnicas para o Judiciário reverter essas áreas para a União Federal,
24
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Corumbiara.
lugar, agradeço, de forma muito especial, aos Deputados Orlando Fantazzini e João
Paulo. Sabemos como é difícil realizar uma audiência pública como esta na véspera
das eleições. É a prova cabal do compromisso real desses dois Parlamentares com
campo.
agosto deste ano e foi apresentado menos de dois meses depois, é claro que a
25
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
regra básica do esgotamento dos recursos internos poderia ser alegada pelo Estado.
Mas depois de ouvir os integrantes da Mesa, fica claro porque a denúncia foi
técnicas e práticas das autoridades do Estado para fazerem inquérito eficiente que
séria e eficaz. Infelizmente, nem a pressão externa, nem a pressão interna foram
suficientes.
não contestou os fatos — nem poderia, depois do que ouvimos aqui —, mas usou
que aqueles recursos, que já duravam alguns anos, não estavam sendo conduzidos
de forma eficaz, séria e estavam demorando muito. Dessa forma, admitiu o caso,
qual eu e o Pe. Léo comparecemos. O Estado novamente alegou que ainda existiam
26
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
deverá tomar a decisão, porque o prazo para apresentação das alegações finais
regulamento, que determina que todas as recomendações finais que não forem
para evitar novos casos —, o caso poderá ser enviado à Corte Interamericana de
ouvimos aqui e tendo em vista que as vítimas de Corumbiara esperam há sete anos
sem que nada tenha sido feito em seu favor, que outros tantos casos continuam
27
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
—, que os relatórios anuais da CPT não nos deixam esquecer do alto índice de
opressão contra os trabalhadores rurais que lutam pela reforma agrária, seja com
neste caso de Corumbiara, e esperamos que essa denúncia internacional nos ajude
a mobilizar esforços no âmbito interno para que possamos modificar essa situação.
Muito obrigada.
28
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
por uma pessoa que vai fazer uma pequena palestra, muito rápida, a respeito do
Magalhães.
salvo engano, é um dos primeiros do País a ter sua superfície territorial levantada e
vocação, aptidão e oferta ambiental. Estava previsto que dez anos depois seriam
Com a edição da Medida Provisória 2.166, havia uma contradição entre o que
naturais.
Estado foi dividida em três grandes zonas, com algumas subzonas. Por exemplo:
uma grande zona é a Zona 1. O que é a Zona 1? Essa é uma zona onde pode se ter
29
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Numa outra escala estaria uma segunda porção de terras chamada de Zona
florestal não apenas da madeira, mas de tudo aquilo que a floresta pode produzir
econômica e ecologicamente.
A terceira zona compreende todas aquelas áreas que, por lei — Código
implicava que determinadas áreas poderiam ser utilizadas para determinados fins e
outras não, a não ser para fins de turismo, visitação, pesquisa, estudos, não para
Isso acarreta uma situação peculiar para a reforma agrária. Sabe-se que o
Federal de Rondônia, e, como tal, toda sua superfície territorial era gerida pela
União Federal, por meio do INCRA. O Estado, unidade federada, não tem terras sob
30
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
sua gestão político-fundiária, e o INCRA, gestor das terras públicas federais, ficou
com função de empreender a reforma agrária, que foi, digamos assim, dificultada,
do manejo agrícola.
poderia ir contra a lei, sobretudo durante o período em que vigeu, de 1998 até agora.
Com o decreto que regulamentou a Medida Provisória 2.166, tínhamos de ter 80%
de área sob reserva legal. Antes era de acordo com o Código Florestal, art. 44, ou
seja, 50%. Com essa Medida Provisória, esse índice subiu para 80%.
— que tivesse menos de 20% de sua superfície antropizada não seria objeto de
intervenção da União para reforma agrária. Nessas condições, ficaria, sim, difícil
fazer a reforma agrária, porque aquelas áreas cujos 80% fossem recobertos de
trabalhador florestal existe mais áreas do que a demanda hoje existente para
manejo florestal.
poder proceder à reforma agrária. Com isso, fica difícil atender ao contingente de
pessoas que demandam o acesso à terra para produzir alimentos, sobretudo grãos.
passaram a ser geridas pelo INCRA a partir dos anos 70, criou uma situação
31
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
setor rural. Com isso, as áreas de alguns setores do Estado foram vendidas em
outros não.
passível de desapropriação.
Pode ser que algumas áreas objeto de licitação estejam enquadradas como
reforma agrária.
saber como desapropriar áreas que não têm mais do que 20% de área antropizada.
Depois foi editada portaria do INCRA, e a própria legislação que dizia: áreas que
porque existe gente vivendo ali. Para conter o avanço do processo de invasão de
32
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
desapropriação, não podem ser objeto de vistoria para desapropriação, por estarem
ocupadas.
quanto agrária.
própria Região Norte, que, embora tenha uma estrutura fundiária com grandes
seringais, não resta a menor dúvida, é das mais justas comparativamente. Rondônia
teve 76 mil famílias assentadas pelo processo da reforma agrária ao longo dos
últimos trinta anos; 5 milhões e 500 mil hectares de terras reformadas. Isso dá um
agrária.
uma carta que mostra a fitofisionomia do Estado, mas infelizmente não trouxe um
programa de computador para mostrá-la. Mas o INCRA não pode agir à margem da
33
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
componentes da Mesa, senhoras e senhores, volto a esta Casa com grande alegria
esta, por exemplo, de um homem com as duas pernas, os dois braços e o pênis
serrados.
mais de trinta anos de prisão no Acre, juntamente com quarenta capangas. Ainda
não foi julgado pelos crimes mais violentos que cometeu. Houve uma verdadeira
limpeza no Estado.
na polícia, mas o episódio fez com que a Ouvidoria Agrária Nacional, órgão que
34
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
35
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
cumprimento da ordem, deve comunicar o fato ao juiz, a fim de que faça uma
PM para ele fazer uma fiscalização no local e verificar que a ordem corre grande
a Polícia Militar deve apenas resguardar a segurança física dos oficiais de justiça e
não substituí-los; a Polícia Militar não pode dar guarida a qualquer ação que não
bens dos sem-terra, queime suas lonas, queime seus bens, inclusive sua bandeira e
fornecidas de maneira clara; os policiais militares devem estar cientes de que a ação
36
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
também, com apoio das autoridades supramencionadas, prédios para a guarda dos
37
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Isso tudo visa a evitar fatos como os que ocorreram em Corumbiara e os que
posse eram cumpridos durante a noite. Quem sabia o local da ordem judicial a ser
as seguintes providências:
assassinados.
prendê-las.
Não que as pessoas não saibam quem praticou o crime. O Sr. Nascimento, aqui
esquadrão da morte no Acre e ninguém fazia nada, isso acontecia porque ninguém
38
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
dava segurança a essas pessoas. A partir do momento em que eu, como Presidente
colher depoimentos e mandá-las para fora do Estado, elas começaram a dizer quem
incentivo.
negros que ocupam uma área denominada Mata Cavalo. O parecer relativo à área
dá a posse aos descendentes negros, mas o juiz deu reintegração de posse a favor
mandado de reintegração.
produtivas. Não estamos apenas do lado dos sem-terra, mas também do lado dos
fazendeiros, desde que estejam de acordo com a lei. Se a área é produtiva e está
cumprindo sua função social, é justo que seja feita a reintegração de posse a essas
39
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
pessoas, e é dever do INCRA arranjar área para assentar quem está em áreas
produtivas.
- Combate à impunidade.
- Incentivo ao PROVITA.
lugar, e diminuir os conflitos agrários. Quando não é possível, pelo menos tentamos
resolvê-los de maneira respeitosa aos direitos humanos e sociais, para evitar que
a defesa dos direitos das pessoas e do seu empenho para que não haja, em
Obviamente, muitas vezes as coisas fogem ao controle. Digo isso porque fui
parte na questão da Fazenda de Buritis e sabemos que foi grande o seu empenho
40
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
proceder, mas que as pessoas dos movimentos sociais também saibam qual é a
respeito de Corumbiara, uma vez que houve violações aos direitos humanos, e a Lei
nossos convidados, queria saudar a todos e dizer que é muito importante esta
41
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
tem o seu debate reduzido. Depois de uma conversa com o companheiro Orlando
o fizemos correndo o risco de, por ser agosto um mês de baixíssima presença e
debate na Casa, não vê-la tão concorrida como o seria numa situação de
normalidade, mas fizemos questão de realizá-la agora para não deixar passar este
acontecimento. No mês de agosto, todos sabemos, faz sete anos que ocorreu
uma iniciativa imediata. Lembro muito bem que o Deputado Padre Roque esteve in
relatório a esta Casa e subsidiou outras personalidades que quiseram ir até o local.
Enfim, S.Exa. acabou dando uma contribuição enorme para que pudéssemos
ressaltar o quão forte tinha sido aquela ação de policiais e de jagunços, a mando do
Queremos deixar isso muito forte na nossa memória, inclusive por conta das
em particular a que condenou duas pessoas vivas mas atormentadas, porque não é
fácil — todos nós sabemos como funciona a nossa cabeça — conviver com as
cenas a que pudemos assistir. E se o vídeo passado mostra somente 10% dos fatos,
42
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
reinserir na sociedade e na vida cotidiana após ter passado por aquela tormenta e
Desde aquela ocasião, o Parlamento e a sociedade como um todo sabiam que, caso
contaminado por outros critérios que não o da lei. De algum tempo para cá,
que seja reparado esse dano perante as pessoas injustamente condenadas e as que
obrigação de fazer isso. Afinal, foi ele que provocou essa situação.
morrem diariamente na luta pela terra. Impressiona-me, por exemplo, ouvir o Dr.
Gercino dizer que, dos vinte marcados para morrer, dez já foram mortos. É
para a morte.
43
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Estado esses depoimentos de pessoas isentas, que lá viveram e não querem nada
remeter esse debate a todos os órgãos. A Câmara dos Deputados, por intermédio
no julgamento feito em Rondônia, para que pessoas como Claudemir — que vive
pelo menos, com acompanhamento psicológico para si próprio e para sua família.
necessitam.
Comissão de Direitos Humanos, quer que se faça justiça. Vamos potencializar este
debate ao máximo, para que mais pessoas saibam que estamos empenhados nisso.
O Parlamento brasileiro quer que esse caso, passados sete anos, não caia no
plenário não esteve lotado, mas os participantes podem ter certeza de que seus
depoimentos serão divulgados. Dessa forma, a Câmara dos Deputados ratifica sua
44
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
solidariedade à luta pela reforma agrária e à busca por justiça, para reparar o erro
Obrigado.
época, a Presidência cabia ao Deputado Nilmário Miranda, que não mediu esforços
porque o tempo está passando, e não vemos ações adequadas. Vimos apenas a
continuam transitando livremente pelo Estado de Rondônia e, pelo que nos consta,
com a conivência das autoridades. Isso é lamentável. Por outro lado, o Estado
Deputado João Paulo, tenha certeza de que, com o apoio de V.Exa., vamos
45
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
discussões sobre esse e outros casos. Tenho a honra de ter sido um dos fundadores
do movimento dos sem-terra, não como Deputado, mas como pequeno agricultor e
sindicalista.
luta pela terra, e ajudei nesse movimento. Hoje, vemos com muito entusiasmo o
1.490 Municípios. Quando dei início a esse movimento, nossas reuniões ocorriam
cidadania.
46
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
várzea, tomamos uma cerveja com os agricultores. Eu tinha de sair logo para uma
reunião, mas um dos agricultores me puxou pela camisa e disse: “Deputado, deixe
aqui uns trocos, para tomarmos uma cerveja”. Vi que alguém imediatamente o
pegou pelo braço e o arrastou para o lado. Fiz de conta que não vi, mas fiquei
jeito mesmo! Tu não tá vendo que agora nós somos assentado? Nós, agora, semo
cidadania, liberdade e integração à sociedade. É por esse motivo que existe essa
produzir mais alimento. Não dá para entender por que fazem assim com quem quer
trabalhar. Temos de compreender exatamente isto: o modelo atual não quer que os
democracia; o outro é o que está aí, que quer que os ricos fiquem cada vez mais
47
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Quanto ao que aconteceu em Corumbiara, como bem disse nosso Líder João
Paulo, o fato mais recente anula o anterior. Podemos começar pelo Rio Grande do
Sul. Também foi notícia nacional um conflito na Praça da Matriz, em que agricultores
foram violentamente espancados pela Polícia. A pancadaria foi tão violenta que
atingiu até quem se parecia com colono. Um motorista da empresa Sadia, que fazia
simplesmente por ter sido confundido com um agricultor. Um policial foi assassinado,
quando a Constituição diz que ninguém pode ficar preso por mais de oitenta dias
sem julgamento. Depois deste, foram libertados por falta de provas. Criaram outro
para que o crime acontecesse. Por isso, eles foram condenados a seis, sete ou oito
anos de cadeia.
para que também fôssemos presos, já que, de alguma forma, também tínhamos
contribuído com o que ocorreu, porque defendemos a reforma agrária. Então, quem
Carajás. Recentemente — não foi comentado, porque não houve vítima —, um fato
Mais de cem famílias haviam sido despejadas às dez horas da noite, tiradas a
48
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
nenhum estava são. Todos tinham marcas de laço; alguns, costela ou braço
quebrado. As crianças choravam. Todos tinham sede, pois não tomaram água desde
líder do movimento.
que eles teriam de pagar uma fiança de 300 reais. Achamos que era muito, era
desleal. O delegado pediu que fôssemos falar com o juiz da Comarca. Este, que era
jovem, nos disse que realmente os agricultores teriam de pagar. Argumentei que,
além de ser injusto, os agricultores não possuíam aquele dinheiro. Ele respondeu:
“Não, o delegado me informou que ele revistou os agricultores e todos têm mais de
Perguntei a ele se era legal ter criança encarcerada. Ele disse que não tinha.
Eu disse: “Como não? Estão sem tomar água, inclusive!” Ele respondeu: “Isso serve
para os agricultores sem-terra aprenderem que, quando vão fazer essas ações, não
agora. É bom termos presente que essa não é uma disputa pela terra, mas pela
soberania e pela liberdade de um povo que, por ser pobre, é tratado como escravo.
49
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
Ouvi todos os relatos com muita atenção. Como produzi o relatório do último
Cidadão, porque 90% das causas para as quais somos acionados contêm um
Há mais ou menos dez dias, estive em Nova Mutum, Mato Grosso, para
do INCRA, hoje restam cinqüenta, porque a Justiça Estadual deu liminar em favor
50
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
esse tipo de questão que vem se repetindo amiúde e tem como base o conflito
fundiário.
Nesse sentido, peço a todos que participaram da Mesa — vou deixar meu
terra no Brasil é político —, nos mostra que ele não quer resolvê-los. Sendo assim, a
organização e o estudo desses casos nos darão subsídios para, pelo menos,
procurar uma solução para essas situações que vêm ocorrendo com freqüência.
Justiça no sentido de que sejam reabertas as discussões sobre como e por que o
Obrigada.
51
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
ordem.
regimentalmente, só posso ceder a palavra aos Deputados, mas vou abrir uma
exceção.
Paulo Sérgio Pinheiro, Secretário de Direitos Humanos, que tem especial interesse
vítimas.
Por isso, estamos buscando uma solução junto ao CEJIL, que talvez não seja
propriamente amistosa. Antes disso, a Comissão poderá elaborar relatório com base
no art. 50, mas esperamos, como em outros casos, dar assistência às vítimas dessa
culpados.
52
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Nome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0770/02 Data: 28/08/02
registro.
Lamento muito que o Estado brasileiro espere a situação chegar a tal ponto,
tiver vontade política para determiná-la, ela não ocorrerá. Nesse caso, teremos de
Humanos.
Nacional.
Corumbiara, que não permite que as pessoas de São Paulo esqueçam o que ali
ocorreu. É preciso que se mantenha vivo, na mente de todos, mais esse crime
53