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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR


PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL

Matéria = Direito Público

Agravante: Município de Gravataí

Agravada: Izaltina Florinda Oliveira de Oliveira

Interessados: George Carlos Wilson Oliveira de Oliveira e Estado do Rio Grande do


Sul

EGRÉGIO TRIBUNAL

COLENDA CÂMARA

O MUNICÍPIO DE GRAVATAÍ, pessoa jurídica de direito público interno,


inscrita no CNPJ sob o nº 87.890.992/00015-8, com seu órgão de representação
jurídica, a Procuradoria-Geral do Município - PGM, localizado à Rua Coronel
Sarmento, 1.352, Centro, Gravataí/RS, vem, por seu procurador firmatário, com
fundamento no art. 1015, inc. I, do Código de Processo Civil - CPC,
respeitosamente, interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO contra a decisão do juízo
ad quo que, nos autos da Ação de Internação Compulsória com Pedido de Tutela
de Urgência n° 5001686-37.2020.8.21.0015, da Primeira Vara de Família da
Comarca de Gravataí/RS, concedeu tutela de urgência para que o agravante
providenciasse até 31/03/2020 a institucionalização compulsória de GEORGE
CARLOS WILSON OLIVEIRA DE OLIVEIRA em comunidade terapêutica fechada.

Seguem breve relato, fundamentos e argumentação:


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1 – BREVE RELATO

Trata-se o processo de primeiro grau de Ação de Internação Compulsória com


Pedido de Tutela de Urgência na qual a agravada requereu a imediata internação
psiquiátrica compulsória de seu filho, GEORGE CARLOS WILSON OLIVEIRA DE
OLIVEIRA, sustentando que este era dependente de drogas ilícitas e álcool,
colocando em risco a si próprio e a sua família. Inicialmente, a agravada requeria a
internação psiquiátrica de seu filho em entidade específica.

Posteriormente, em razão da referida entidade não ter condições de receber


seu filho, a agravada direcionou a pretensão contra o Município de Gravataí e o
Estado do Rio Grande do Sul, requerendo que estes providenciassem em caráter de
urgência a internação compulsória.

A medida veio a ser deferida parcialmente, determinando que o agravante


promovesse primeiro a avaliação psiquiátrica do interessado GEORGE para que
após, se necessário, agravante e interessado ESTADO providenciassem sua
internação em estabelecimento adequado.

Mediante petição protocolada em 26/03/2020, a agravada apresentou laudo


médico emitido no âmbito da Clínica Libertad, recomendando que após a alta seu
filho fosse institucionalizado em comunidade terapêutica via CAPS-AD. O laudo
indicava também que GEORGE era resistente ao tratamento. Na petição, a
agravada requereu que seu filho fosse institucionalizado compulsoriamente em
comunidade terapêutica.

O juízo de primeiro grau atendeu o pedido da agravada, determinando que o


Município de Gravataí, ora agravante, pomovesse a institucionalização compulsória
em comunidade terapêutica até 31/03/2020, data em que o interessado GEORGE
receberia alta da Clínica Libertad.

O Município de Gravataí tomou ciência do referido pronunciamento,


correspondente à decisão ora agravada, em 30/03/2020, conforme Ofício nº
10001776777 da Vara de Família da Comarca de Gravataí.

2 – DO CABIMENTO

Considerando que a decisão recorrida versa sobre tutela provisória, o presente


Agravo de Instrumento tem seu cabimento fundamentado no art. 1015, inc. I, do
CPC.

3 – DO MÉRITO
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Embora seja réu no processo de primeiro grau, o interessado GEORGE


CARLOS WILSON OLIVEIRA DE OLIVEIRA sequer foi ouvido até o presente
momento.

Sem dúvida, seria razoável que, tendo o réu-beneficiário recebido alta da


clínica psiquiátrica, o Juízo designasse audiência de mediação com todas as partes.

Na contramão dos deveres de promover a cooperação entre todos os atores


processuais e garantir o contraditório como efetiva participação, o Juízo determinou
que, em ato contínuo à alta da clínica psiquiátrica, o protegido fosse
institucionalizado em comunidade terapêutica compulsoriamente, ou seja,
independentemente de sua vontade.

Aliás, com a alta da clínica psiquiátrica a vontade do protegido deixa de estar


obliterada. Gize-se que o próprio laudo médico recomenda a institucionalização e faz
alusão à resistência do protegido, mas não fala em compulsoriedade. Pelo contrário,
sugere que a institucionalização seja procedida através do CAPS-AD, ou seja,
mediante regular trâmite administrativo no qual prevalece a vontade do usuário.

Ademais, a natureza do tratamento em comunidade terapêutica é incompatível


com a compulsoriedade, conforme item 1.2 do Código de Ética da Federação
Brasileira de Comunidades Terapêuticas (http://febract.org.br/portal/codigo-de-
etica/).

1.2 A permanência na Comunidade Terapêutica deve ser voluntária e


decidida após o acolhido ser informado sobre a orientação a ser seguida e
as normas em vigor.

A decisão agravada vai de encontro à jurisprudência dominante do TJRS:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À SAÚDE. PLEITO DE


FORNECIMENTO DE INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA EM COMUNIDADE
TERAPÊUTICA. DESCABIMENTO. Conquanto haja prescrição médica
apontando a pertinência do acolhimento da favorecida em comunidade
terapêutica, a pretensão da autora, de internar compulsoriamente a
requerida em local desta natureza, encontra óbice na ausência de
consentimento da favorecida. Diversamente da internação psiquiátrica
compulsória, que, nos termos do art. 6º, inc. III, da Lei n. 10.216/2001, é
aquela determinada pela Justiça com base em laudo médico
circunstanciado, quando a pessoa acometida de transtorno mental não se
submete a qualquer modalidade de tratamento, a permanência em
comunidade terapêutica deve ser voluntária, exigindo o consentimento do
paciente. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento,
Nº 70080672033, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS. Relator:
Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em: 16-05-2019).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À SAÚDE. FORNECIMENTO DE


INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA. A Constituição Federal (art. 196)
preceitua que “saúde é direito de todos e dever do Estado”, aí entendido
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em sentido amplo, contemplando os entes federados União, Estados e


Municípios. Nesse contesto, o Estado do Rio Grande do Sul é responsável
pelo fornecimento de internações compulsórias e atendimentos na área de
saúde mental e drogadição, sendo de conhecimento geral o entendimento
deste Tribunal de Justiça acerca da solidariedade entre os entes federados
relativamente ao dever de disponibilização de tais prestações. Entretanto,
a internação prolongada do favorecido encontra-se inviabilizada, pois não
possuem os entes públicos demandados condições de manter
internamento por tempo indeterminado sem consentimento do beneficiário,
cabendo, após uma nova internação de desintoxicação no hospital local,
prosseguir o tratamento em comunidade terapêutica, desde que seja
manifestado interesse por parte do beneficiário, bem como suficiente
indicação médica. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (agravo de
Instrumento, Nº 70079381570, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em: 28-02-2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA.


INVIABILIDADE, NO CASO CONCRETO. Caso em que o paciente não
demonstrou interesse em manter-se na Comunidade Terapêutica, que é
instituição que apenas mantém pacientes internados voluntariamente.
Ainda, é certo que a saúde é dever do Estado, como previsto no art. 196
da Carta Magna, no entanto, o mais indicado para o caso concreto é o
ajuizamento de nova ação postulando a internação compulsória do
interessado. Agravo desprovido. (Agravo de Instrumento, Nº 70078311164,
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Antônio
Daltoe Cezar, julgado em: 04-10-2018)

Faz-se mister a reforma da decisão recorrida no sentido que seja o agravante


obrigado a providenciar a institucionalização do interessado GEORGE apenas se tal
providência contar com sua livre e espontânea vontade.

4 - DOS DOCUMENTOS QUE INSTRUEM O AGRAVO DE INSTRUMENTO E


OUTRAS INFORMAÇÕES

Considerando a forma eletrônica do processo de origem, o agravante está


dispensado de instruir o presente recurso com a maioria dos documentos previstos
no art. 1.017, inc. I, do CPC, conforme se depreende do § 5°, do mesmo dispositivo.

Tendo em vista que não foi juntada ainda ao processo de origem a procuração
outorgando poderes aos procuradores do agravante, dito documento é acostado
com o presente recurso.

Gize-se que não há, até o momento, contestação no processo de origem nem
petição que deu origem à decisão recorrida.

Atendendo ao que dispõe o CPC, informa o agravante os dados de seu


advogado: Gustavo Weber da Silveira, inscrito na OAB/RS 54.016, procurador
jurídico, com endereço profissional no cabeçalho desta petição.
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Por sua vez, a agravada é patrocinada pelas advogadas MARIA LUIZA


PEREIRA DE ALMEIDA, inscrita na OAB/RS sob o nº 25.661, e ROBERTA
CORRÊA DA SILVEIRA, inscrita na OAB/RS sob o nº 111701, ambas com escritório
profissional à Av. Edu Las Casas, 249 – Bairro Rubem Berta – CEP 91180-550 –
Porto Alegre/RS.
Por sua vez, o interessado Estado do Rio Grande do Sul é representado pela
PROCURADORIA- GERAL DO ESTADO – PGE. O interessado-protegido GEORGE
CARLOS WILSON OLIVEIRA DE OLIVEIRA não é assistido por advogado.

O procurador do agravante, causídico ora firmatário, declara que todas as


cópias acostadas são autênticas.

5 – DOS REQUERIMENTOS

ANTE O EXPOSTO, respeitosamente REQUER a esse ínclito Relator


Desembargador, que defira o efeito suspensivo da decisão ora atacada, com a
suspensão de seus efeitos até a decisão do órgão Colegiado, ou, então, que,
liminarmente, condicione a medida de institucionalização em comunidade
terapêutica à vontade do beneficiário.

Ainda, requer, ao final, o provimento do presente Agravo de Instrumento, pelo


Órgão Colegiado, para que seja reformada a decisão agravada no sentido de
REFORMA DA DECISÃO AGRAVADA, PARA QUE A DETERMINAÇÃO DE
INSTITUCIONALIZAÇÃO EM COMUNIDADE TERAPÊUTICA SEJA
CONDICIONADA A LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE DO INTERESSADO-
PROTEGIDO.

Nestes termos, pede provimento.

Gravataí, 31 de março de 2020.

Gustavo Weber da Silveira


Procurador Jurídico
OAB/RS 54.016

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