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PROGRAMA DE CURSOS DE FORMAÇÃO RÁPIDA

CURSO DE MANEJO DE FLORESTAS PLANTADAS

MANEJO E INVENTÁRIO
DE FLORESTAS
PLANTADAS
Capítulo 1

MÓDULO I
O INVENTÁRIO

REALIZAÇÃO
INVENTÁRIO E MANEJO DE FLORESTAS PLANTADAS
MÓDULO I – O INVENTÁRIO
CAPÍTULO 1

Introdução aos Inventários Florestais: Importância e Classificação .......................................................................3


1.1. Importância dos Inventários Florestais ..................................................................................................3
1.2. Conceito de Inventário Florestal ............................................................................................................3
1.3. Classificação dos Inventários Florestais................................................................................................4

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Introdução aos Inventários Florestais:
1
Importância e Classificação

Inventários florestais se constituem numa atividade muito importante em vários


aspectos relativos aos recursos naturais. Antes de adentrar em aspectos mais técnicos do
Planejamento e da Execução dos Inventários Florestais, é importante salientar sua importância,
bem como expor as situações em que eles são executados.

Este capítulo é uma introdução ao tema objeto deste livro, mostrando a importância do
inventário florestal, seu conceito e uma classificação dos inventários florestais de acordo com
critérios julgados importantes no momento da concepção e execução do levantamento.

1.1. Importância dos Inventários Florestais

Nas atividades florestais e nas avaliações ambientais relativas aos recursos florestais o
inventário é sempre uma técnica importante, talvez até mesmo imprescindível ao bom
conhecimento do potencial dos recursos existentes em uma determinada área. Esse é o caso
de uma indústria de base florestal que está se instalando ou expandindo suas atividades numa
determinada região ou então um Estudo de Impacto Ambiental – EIA de um empreendimento
potencial ou efetivamente causador de algum tipo de dano ao meio ambiente, onde se
demandam informações a respeito da biomassa lenhosa existente no local desse
empreendimento. Em ambos os casos se requerem informações a respeito dos recursos da
flora, as quais só poderão ser obtidas a partir da realização de inventários florestais.

No estabelecimento, na manutenção ou mesmo na ampliação da produção das


indústrias que utilizam matéria-prima florestal deve-se ter o conhecimento da disponibilidade
dos recursos florestais em termos de sua quantidade e qualidade.

Nesse contexto merecem destaque as estimativas dos estoques de produtos


madeireiros e não madeireiros, seus processos dinâmicos, incluindo o cômputo das taxas de
crescimento, mortalidade e recrutamento (ou ingresso), fundamentais para subsidiar a tomada
de decisões sobre medidas silviculturais, necessidade de reflorestar antigas áreas ou implantar
novas florestas, bem como no tocante à prevenção e controle de incêndios, insetos e doenças,
entre outros.

Os recursos florestais, tanto de florestas plantadas ou naturais, possuem as funções de


produção e proteção, exigindo sempre do tomador de decisões a obtenção e a geração de
informações precisas e fidedignas, com vistas à melhor forma de conservar ou manejar esses
recursos, o que só é possível com a realização de um inventário florestal de qualidade.

Enfim, o inventário florestal é uma atividade de escopo variado e uma atribuição


profissional única para o Engenheiro Florestal, classe que deve estar preparada para conduzir,
da forma mais adequada, esta função e missão, numa sociedade que exige parcimônia no uso
dos recursos naturais e competência na efetivação das práticas de conservação ambiental.
Muitas decisões de grande monta se basearão nos resultados do inventário. Por isso realizar
um trabalho de qualidade é uma exigência do mercado e implica em uma atitude profissional.
Devido à grande importância que os resultados de um inventário possuem é imperativo que o
profissional esteja bem preparado tecnicamente e consciente de suas tarefas, para que cumpra
com os padrões éticos exigidos pela sociedade.

1.2. Conceito de Inventário Florestal

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Conforme definido por PÉLLICO NETTO e BRENA (1997), “inventário florestal é uma
atividade que visa obter informações qualitativas e quantitativas dos recursos florestais
existentes em uma área pré-especificada”. Esse conceito é bastante genérico, pois qualquer
tipo de levantamento florestal poderia ser considerado um inventário. De fato, inventário
florestal pode ser qualquer tipo de levantamento florestal, porém a “marca registrada” de um
inventário é a sua representatividade amostral e sua validade estatística. Existem diversos tipos
de levantamentos florestais que não se valem de técnicas de amostragem (mesmo que se trate
de um censo ou enumeração completa), se constituindo, muitas vezes, em trabalhos
contestáveis e sujeitos às mais diversas críticas.

1.3. Classificação dos Inventários Florestais

Para PÉLLICO NETTO e BRENA (1997), os inventários florestais são classificados em


função dos objetivos, da abrangência, da maneira com que os dados são obtidos, da
abordagem da população no tempo e do grau de detalhamento dos resultados.

Quanto aos objetivos, podem ser inventários de cunho tático, realizados para atender
demandas técnicas específicas, e de cunho estratégico, com finalidade de instruir o
planejamento de políticas de desenvolvimento e conservação no setor público, ou privado,
realizados para planejamentos de longo prazo e instalação de novos empreendimentos.

Um exemplo de inventário estratégico é aquele realizado por um estado ou município,


onde o poder público deseja proceder ao zoneamento ou ordenamento territorial e quer saber a
situação de seus recursos florestais. Esse é o caso do 1o Inventário Florestal Nacional,
conduzido pelo antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF, no início da
década de 1980, e o Inventário Florestal Contínuo do Rio Grande do Sul realizado nos últimos
anos pelo Governo Gaúcho e executado sob a coordenação da Universidade Federal de Santa
Maria, entre outros inventários com o mesmo caráter geral. Outro caso a ser citado é o
Diagnóstico da Base Florestal do Município de Otacílio Costa, contratado pela Prefeitura
Municipal e executado pelo Laboratório de Inventário Florestal da Universidade Federal do
Paraná, por intermédio de Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná - FUPEF.

Já os inventários táticos se constituem na maioria dos levantamentos demandados por


empresas e clientes particulares ou ainda entidades interessadas em retratar a condição de
certa área florestal. Um caso é o inventário realizado por uma determinada empresa de
consultoria para uma companhia do setor madeireiro, cujo propósito é, por exemplo, avaliar os
ativos da referida madeireira para fins de sua venda a um investidor estrangeiro. Outro caso é
aquele inventário realizado por um perito judicial nomeado por um juiz para avaliar o corte ilegal
de madeira em uma área com conflito de posse. Vários outros exemplos poderiam ser
imaginados e citados, mas o importante a lembrar é o caráter específico do trabalho, com
objetivo claramente estruturado e finalidade bem definida.

Quanto à abrangência, os inventários podem ser classificados como de caráter


nacional, regional e de áreas restritas. Os dois primeiros casos se caracterizam por se tratarem
de levantamentos geralmente realizados pelo poder público, enquanto o terceiro – em geral de
cunho tático – é realizado por empresas privadas em florestas menores e/ou específicas.

Nos inventários nacionais, de caráter contínuo, a preocupação do poder público


consiste em obter informações de cunho estratégico sobre os recursos florestais do país e
estruturar as estatísticas básicas do setor. Vários países possuem sistemas de inventários
contínuos, entre os quais o México, a Finlândia, a Austrália, o Canadá, os Estados Unidos,
apenas para citar alguns. O Brasil teve apenas um inventário de caráter nacional – conforme já
referido – executado na década de1980, sob a tutela do extinto IBDF – Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal. O inventário realizado pelo governo brasileiro à época foi parcial,
pois não contemplou todos os recursos florestais do país, e teve como enfoque a avaliação dos
recursos madeireiros. Agora o governo atual, através do PNF – Programa Nacional de
Florestas, do MMA – Ministério de Meio Ambiente, mais diretamente sob os auspícios do
recém-criado Serviço Florestal Brasileiro, trabalha arduamente na concepção e execução de
um “Novo Inventário Florestal Nacional”.

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Vários inventários de grande abrangência já foram realizados no Brasil, entre os quais
o Inventário Florestal do Pinheiro no Sul do Brasil, executado pela Universidade Federal do
Paraná - UFPR na década de 1970. Outro exemplo é o próprio Inventário Florestal Contínuo do
Rio Grande do Sul citado previamente. Esses inventários têm o caráter estratégico e abarcam
regiões geográficas expressivas alvo de um determinado interesse em termos dos seus
recursos florestais. Muitos inventários assim foram realizados também em regiões da Amazônia
e do Centro-Oeste nas últimas décadas, com o intuito de promover o desenvolvimento sócio-
econômico ou até mesmo identificar áreas prioritárias para conservação.

Os inventários de áreas restritas se constituem na maior parte dos trabalhos a serem


realizados pelo Engenheiro Florestal, seja ele um consultor autônomo, um funcionário de uma
empresa, de uma ONG ou de uma entidade oficial. Existe uma variada gama de inventários de
áreas específicas, cada qual com seus objetivos e demandas. Um exemplo de inventário assim
é aquele requerido para a elaboração de Plano de Corte a ser submetido ao IBAMA ou ao
órgão estadual responsável pela execução da política florestal. Outro caso é o inventário
florístico-fitossociológico realizado numa área alvo de recuperação ambiental ao longo, por
exemplo, de uma estrada recém-construída, ou de uma área minerada (objeto de um plano de
recuperação de área degradada).

Os inventários florestais também podem ser classificados quanto à maneira de


obtenção dos dados. Pode-se realizar um inventário medindo-se todos os indivíduos da
população, ou seja, efetuando-se um “Censo” ou “Enumeração Completa”. Nesse caso obtêm-
se os valores reais ou “Parâmetros” da população inventariada. Existem algumas razões para
realizar um Censo: a exigência legal (como no caso de Planos de Manejo Florestal na Floresta
Amazônica, para estelecer o Plano Operacional Anual - POA), o valor econômico, científico ou
cultural muito elevado de uma floresta ou no caso de uma área de dimensões diminutas onde
se torna difícil a aplicação das técnicas de amostragem.

Alternativamente – mas com muito maior freqüência – empregam-se técnicas de


amostragem na população florestal alvo do inventário, medindo-se parte da mesma, ou seja,
uma “Amostra” que a represente de forma adequada e livre de viés. Através da Amostra são
obtidas “Estimativas” dos Parâmetros da população calculados via inferência estatística. Os
procedimentos de Amostragem são aplicados à maioria dos inventários florestais, dado que as
populações geralmente são extensas e de difícil acesso e as atividades de campo são tediosas
e com riscos. Outra forte razão para empregar amostragem é a redução do tempo de execução
do inventário e a minimização dos seus custos.

Existem ainda outras formas para obtenção de dados para realizar um inventário
florestal, como, por exemplo, através da consulta às tabelas de produção, de onde se extraem
informações sobre o comportamento de determinada espécie ao longo do tempo, em um
determinado sítio, em função de um regime de manejo anteriormente definido. Outras fontes
secundárias de dados podem também servir para obter informações sobre os recursos
florestais de uma área que se deseja avaliar sem ter que recorrer ao trabalho direto em campo.

Existe ainda uma maneira de classificar os inventários florestais segundo a abordagem


da população no tempo. Nesse caso os levantamentos podem ser de uma ocasião ou
temporários, ou ainda em múltiplas ocasiões / contínuos. Nos inventários temporários a
finalidade é simplesmente obter um retrato momentâneo da floresta, sem se preocupar com
sua dinâmica ou mudança ao longo do tempo. Inventários de uma área que terá a vegetação
nativa suprimida para construção de uma obra de utilidade pública – como uma estrada – ou
uma área de corte raso numa plantação florestal de Pinus à idade de rotação – podem ser
casos que espelham bem a demanda por um inventário de uma única ocasião.

Por outro lado, os inventários florestais de múltiplas ocasiões ou contínuos são


requeridos quando se necessita ou se deseja avaliar as modificações temporais que ocorrem
na floresta. A floresta muda com o tempo, as árvores crescem, morrem, ingressam / recrutam
(passam a ser incluídas na medição) ou são exploradas/colhidas (cortadas) para
aproveitamento. Se tais mudanças precisam ser monitoradas é fundamental que seja

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executado um inventário florestal em distintos momentos temporais. Existem várias
modalidades de inventários em múltiplas ocasiões, entre as quais as mais conhecidas são:

• Amostragens Independentes: se constituem de amostras diferentes e temporárias


em duas ou mais ocasiões. Essa é uma forma barata, porém menos precisa de se
obter informações sobre mudanças na floresta;

• Amostragem com Repetição Total: são instaladas parcelas permanentes que são
100% remedidas nas ocasiões subseqüentes. É a forma mais precisa de se obter
informações sobre mudanças, porém, geralmente, é mais cara. Apresenta maior
rigidez técnica que as demais amostragens, pois as mesmas parcelas são
remedidas;

• Amostragem Dupla: são instaladas duas amostras na primeira ocasião, sendo uma
de caráter permanente e outra temporária. Na segunda ocasião é remedida a
amostra permanente, a qual serve para estimar a parte temporária medida apenas
na primeira ocasião. É uma forma mista de amostragem permanente com
temporária que visa, principalmente, dar agilidade e diminuir os custos do inventário,
porém poderá haver perda de precisão em comparação à Amostragem com
Repetição Total;

• Amostragem com Repetição Parcial: são instaladas duas amostras na primeira


ocasião, uma de caráter permanente e outra temporária. Na segunda ocasião é
remedida a amostra permanente, a qual serve para fazer estimativas dos valores da
parte temporária medida apenas na primeira ocasião projetando-a para a segunda e
também obter estimativas dos valores da parte temporária da segunda ocasião
retrocedendo-a para a primeira ocasião. Este tipo de amostragem também visa dar
mais agilidade ao inventário, aos moldes da Amostragem Dupla. Sua realização
também se caracteriza por sensível diminuição dos custos e maior flexibilidade ao
inventário, devido à instalação de novas unidades amostrais temporárias a cada
ocasião, que podem cobrir áreas não amostradas em ocasiões prévias.

Finalmente, no tocante ao nível de detalhamento dos resultados, os inventários


florestais podem ser classificados em Exploratórios, de Reconhecimento e Detalhados.

Os Inventários Exploratórios possuem como objetivos avaliar a cobertura florestal de


determinada região, localização e extensão, e caracterizar os tipos florestais existentes dentro
de uma visão estratégica e panorâmica, sem adentrar em detalhes e rigor em termos de
precisão. Esse tipo de inventário se vale muito das técnicas de mapeamento e classificação da
vegetação e se apóiam em poucos dados coletados diretamente no campo. Esse é o caso, por
exemplo, do Programa de Monitoramento da Cobertura Florestal da Amazônia. Outros
objetivos desse tipo de inventário são a caracterização de tipos florestais e da composição de
espécies, a quantificação dos estoques volumétricos sem controle estrito da precisão, para fins
de definir unidades de manejo e o potencial madeireiro de uma determinada região, a
realização de estudos de viabilidade de empreendimentos florestais, ou ainda, para definir
áreas prioritárias para proteção ambiental numa determinada região. PÉLLICO NETTO e
BRENA (1997) citam, ainda, o Projeto Radam-Brasil, como exemplo de Inventários
Exploratórios. Geralmente, devido ao tipo de informação resultante desse inventário, o poder
público tem sido o maior utilizador desse instrumento, até mesmo para formular políticas
públicas para o uso adequado dos recursos florestais.

Por sua vez, os Inventários Detalhados, geralmente executados em áreas menores,


contemplam dados e informações bastante específicas e particularizadas sobre a realidade
florestal de uma área. Na realização desses inventários, a coleta de dados e a geração de
informações podem prever definições da quantidade, qualidade, produtividade e potencial de
determinada área florestal com objetivo de fornecer informações sobre o volume e os
sortimentos de madeira, seu incremento, tipo florestal, distribuição das árvores por classes de
diâmetro, classes de qualidade de fuste e copa, danos causados por agentes diversos, entre

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outros. Geralmente, esse tipo de inventário atende às demandas específicas do setor
empresarial, que são sempre mais detalhadas e particularizadas.

Os Inventários de Reconhecimento são intermediários entre os Exploratórios e os


Detalhados e, geralmente, estes são realizados em áreas de porte médio, cujo objetivo é uma
prospecção de caráter estratégico-tático. Exigem menores preocupações com detalhamento e
controle de precisão, mas devem fornecer uma base confiável de informações, satisfazendo às
necessidades do planejamento e da tomada de decisões.

As técnicas de inventário florestal, bem como os procedimentos a serem adotados na


coleta de dados e análise dos resultados, variam de região para região, considerando as
diferentes tipologias florestais e as necessidades que cada levantamento requer. Os resultados
destes devem constituir na base de informações para utilizar racionalmente e conservar os
recursos florestais. Por isso é importante – antes de tudo – saber que categoria de inventário é
a mais apropriada para atender aos objetivos e potenciais do recurso florestal existente em
uma determinada área. A classificação sugerida por PÉLLICO NETTO e BRENA (1997), e
comentada e exemplificada neste capítulo, pode subsidiar o profissional nessa decisão.

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