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PÓS-HISTÓRIA
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
lSBN 978-85-391-0297-6
CDU 77
CDD 770
Pós—história
Vinte instântancos e um modo de usar
Projeto e Produção
Coletivo Gráfico Annablume
Revisão
lvan Atunes
Capa
Carlos Clémen
Conselho Editorial
Eduardo Penuela Cahizal
Norval Baitellojunior
Maria Odila Leite da Silva Dias
Celia Maria Marinho de Azevedo
Gustavo Bernardo Krause
Maria de Lourdes Sekeff (in memoriam)
Pedro Roberto Jacobi
Lucrécia D'Alessio Ferrara
© Edith Flusser
Prefácio 07
1. Modo de usar 17
2. O chão que pisamos 19
3. Nosso céu 29
4Nosso programa 37
5. Nosso trabalho 47
6. Nosso saber 55
7. Nossa saúde 63
8,_'_Nossa comunicação 71
9. Nosso ritmo 81
10. Nossa morada 89
l 1. Nosso encolhimento 97
12. Nossa roupa 105
13. Nossas imagens 113
© Nosso jogo
15. Nosso divertimento
121
129
16. Nossa espera 137
17. Nosso receio 145
18. Nossa embriaguez 153
19. Nossa escola 163
20. Nosso relacionamento 173
(211. Retorno 183
Prefácio
5 Cf. Vile'm Flusser, A história do diabo, São Paulo, Annablume, 2005, p. 155.
10 Pós—história
16 Ibidem, p.l9l.
17 Gõttingen, European Photography, 1983.
18 Essa primeira publicação ocorreu sob o titulo: Naebgesebiebten. Essays, Vor-
trr'ige, Glossen (Dusseldorf, Stefan Bollmann Verlag, 1990). Data de 1993
uma nova publicação da versão alemã do texto correlativo ao publicado pela
VILÉM FLUSSER 15
passado.
O inaudito em Auschwitz não é o assassinato em
massa, não e' o crime. E a reifícaçáo derradeira de pesso-
as em objetos informes, em cinza. A tendência ocidental
rumo à objetivação foi finalmente realizada, e o foi em
forma de aparelbof'Os SS eram funcionários de um apa-
relho de extermínio, e suas vítimas funcionaram em fun-
ção do seu próprio aniquilamento. O programa do cam—
po de extermínio, uma vez posto em funcionamento, se
foi desenvolvendo de maneira automática, autônoma de
decisões dos programadores iniciais, até se, como efetiva-
mente o fez, contribuiu para a derrota dos programado-
res. Os SS e os judeus funcionavam uns em função dos
outros em engrenagem. Os modelos de tal funcionamen-
to provinham dos valores mais elevados do Ocidente: os
SS se comportavam em “heróis”, os judeus em “mártires”.
Trata-se de aparelho que funciona em situação de limite:
objetiva até além da morte.
O que acaba de ser dito é intolerável. Não pode-
mos aceitá—lo, e mobilizamos argumentos contra. Bons
argumentos. Os SS se comportavam como criminosos:
recolhiam os dentes de ouro dos cadáveres. Os judeus
se comportavam como vítimas: levantaram-se no ghetto
de Varsóvia. Tais argumentos são verdadeiros, mas não
VILÉM FLUSSER 23
extermínio.
#Em toda parte podemos observar, desde já, o apare—
cimento de variações sobre o tema “Auschwitz”. Em toda
parte os aparelhos brotam, como cogumelos depois da
chuva nazista, do chão que se tornou podre. Por certo:
tais aparelhos novos não se assemelham, externamente,
aos campos de extermínio nazista. Outros são seus rótu-
los, e outras as ideologias que pretensamente os inspiram.
Até os aparelhos que visam admitidamente o extermínio;
como os Gulags, os da futura guerra nuclear, ou os que
funcionaram em Vietnam, proclamam que--são diferen—
tes de Auschwitz. Outros se dizem “amigos do homem”,
como os aparelhos científicos, técnicos e administrativos.
Mas tais rótulos e tais ideologias são enganadores e ser-
vem apenas para encobrir a essência dos aparelhos. São,
todos, tal qual Auschwitz, caixas pretas que funcionam
com engrenagens complexas para realizarem um progra—
ma'fªFuncionam, todos, segundo a inércia que lhes e' ine—
rente, e tal funcionamento escapa, a partir de um dado
momento, ao controle dos seus programadores iniciais.
Em última análise tais aparelhos funcionam, todos, no
sentido de aniquilarem seus funcionários, inclusive seus
programadores. Necessariamente, porque objetivam, des-
humanizam o homem.
A cultura ocidental, como um todo, se revela des-
tarte como projeto que visa transformar—se em apare—
26 ' Pós-história
soc1al e politologia ,, .
e o o
176 Pós-história