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1. G erh ard von Rad, T eologia do V elho T estam ento (Old Testament TJwoIogy, New York,
1962), 1: 154 refere-se a G n 3-11 com o “a g ran d e ham artologia doJaw ista”. A inda que von
Rad te n h a visto c o rre ta m e n te a ênfase do desenvolvim ento da linha de Satã, deixou de
n o tar a m an u ten ção p aralela d a linha de “a m u lh e r”.
2. Os co m p ro m etim en to s d e Deus a N oé, pré-diluviano e pós-diluviano, ajustam-se ao
freq ü e n te m o d elo d a m inistração da aliança n a Escritura. N ão é necessário postular duas
alianças com N oé, u m a antes e o u tra depois do dilúvio. E ntendim entos prelim inares
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100 Cristo dos Pactos
para com Noé: “Mas Noé achou graça aos olhos do Senhor” (Gn
6.8). Do m eio de toda a massa da hum anidade depravada, Deus
dirigiu sua graça a íim h o m e m e sua família.
Pode ser que a graça de Deus im pediu Noé de afundar-se no
nível de depravação encontrado entre seus contem porâneos. Mas
nada indica que a posição favorecida de Noé surgiu de qualquer
outra coisa que não a graça do Senhor para com ele. O termo
“graça”, q u e descreve a atitude de Deus para com Noé,
ocasionalm ente se refere a algum a outra coisa que não uma
resposta de m isericórdia a um a situação de pecado (cf. Gn 39.4;
50.4; Nm 32.5; Pv 5.19; 31.30). Porém quando descreve a resposta
de Deus ao hom em decaído, “graça” descreve um a atitude
misericordiosa para com um pecador que não m erece. Nos dias
de Noé, toda form ação inicial dos pensam entos do coração do
hom em ("Q1? rOÜIlQ "K r*??!, Gn 6.5) era só m á continuamente.
Mas Noé achou graça aos olhos do Senhor.7
E m bora Gênesis 6.9 afirm e que Noé era “hom em justo”,
considerações estruturais características do livro de Gênesis
proíbem a conclusão de que Noé recebeu “graça” p o r causa de
um a justiça previam ente existente. A frase “estas são as gerações
de...” que inicia Gênesis 6.9 ocorre 10 vezes em Gênesis. Cada
vez, a frase indica o com eço de o u tra seção principal do livro.8
Esta frase separa decisivam ente a afirmação de que “Noé achou
graça” (Gn 6.8) da afirm ação de que Noé era um “justo” (Gn
6.9). A graça de Deus para com Noé não foi concedida p o r causa
da justiça do hom em , mas p o r causa da particularidade do
program a de redenção de Deus.
O princípio de particularidade tal como é visto no favor de
Deus para com Noé representa um a antiga manifestação de um
tem a que continua através da aliança da redenção. Como
aparece sublinhada pelo apóstolo Paulo, toda a experiência de
11. P ara u m a discussão das duas m aneiras prim árias pelas quais essas frases pod em ser
interp retad as, ver John M m ray, Princípios de C o n d u ta (Prindples ofComlud, G rand Rapids,
1957), pp. 11 lss. M eredilh Kline, “G enesis”, Novo C om entário Revisado da Bíblia (Neto
Bibk Commentary Reviwcl, G ran d Rapids, 1970), p. 90, funde am bos os entendim entos
possíveis d a frase: “Isto (i.e., o fato de o h o m em ter sido feito à im agem de Deus) podia
explicar tan to a e n o rm id ad e do assassínio qu an to a dignidade do h o m em que justificou
atribuir-lhe tão grave responsabilidade judicial.”
12. João Calvino, em C om entários sobre o P rim eiro Livro de Moisés C ham ado Gênesis
( Commentary on the First Book ofMoses Called Genesis, G rand Rapids, 1948), J: 295, ju lg a que
o versículo an tecip a o desenvolvim ento posterior do p o d er do estado, mas tam bém que o
escopo d a declaração inclui mais ainda. P o r u m a variedade de ord en am en to s providen
ciais, D eus velará p ara q u e aquele que d erra m a sangue não íique im pune.
106 Cristo dos Pactos
13. ”Se Deus, p o r causa cia inala pecam inosidade do hom em , não mais trouxesse um
julgam ento e x lerm in ad o r sobre a criação terrena, seria necessário que po r m andados e
auto rid ad es Ele erguesse u m a barreira contra a suprem acia do mal, e assim lançasse o
fu n d am en to p ara o desenvolvim ento civil bem orden ad o da hum anidade, de acordo com
as palavras d e b ên ção q u e são repetidas n o versículo 7, m ostrando a intenção e o objetivo
desse novo p erío d o histórico.” C. F. Keil e F. Delitzsch, C om entário Bíblico do Velho
T estam ento: O P en tateu co (Biblical Conunmtcny on the Okl Testament.: The Pcn.tateu.ch, G rand
Rapids, 1949-50, 1: 153.)
Noé: A Aliança da Preservaçao 107
14. V on Rad, op. cit., p. 129, n ão hesita em aíirm ar que estes versículos indicam q u e o
hom em é o ex ecu to r cia p e n a de m orte. Sugere qu e esta responsabilidade com unica o
“tom legal forte que a co m p an h a a graciosa dispensação com N oé”.
15. V er acima, p. 111,
Noé: A Aliança da Preservaçao 109
legislação relativa a co m e r certa espécie d e carne tem o efeito d e lim itar tem poralm enle a
legislação relativa à p e n a capital. Ele com enta: “... não se p o d e sim plesm ente transferir o
versículo 6 p ara o livro d e estatu to a m enos q u e se esteja prep arad o p ara transferir com ele
os versículos 4 e 5.”
Noé: A Aliança da Preservação 111
18. 2 Pe 3.3-10 p arece tam bém estabelecer sua base p ara a proclam ação universal do
evangelho n a aliança co m N oé. Os pecadores p o d em escarnecer da palavra da profecia da
nova aliança co n cern en te ao ju lg am en to final (w. 3, 4). Mas o dilúvio de N oé indica a
certeza das últim as in tenções d e Deus (w. 5, 6). Assim com o “pela palavra de D eus”
( t ô j t o u O e o u Âóyuj) o p rim eiro m u n d o veio a existir, assim tam bém “pela m esm a palavra”
( t w auTÚj Àáyiü) o universo p resen te está reservado p ara o ju lg am en to de fogo (w. 5, 7).
A referên cia à “m esm a palavra” indica, de m aneira am pla, a palavra de D eus qu e se
m an ifesto u tão p o d e ro sa m e n te n a criação. Mas, p a re c e tam b ém referir-se m ais
especificam ente à palavra d a aliança falada a N oé. N a base dessa palavra pós-diluviana, a
terra co n tin u a a ser m an tid a até o presente.
A p aciência d e Deus, q u e n ã o deseja qu e n in g u ém se perca (v. 9), manifesta-se no
contexto desta palavra d a aliança q u e D eus m an terá toda a criação até o ju lg am en to de
fogo (w. 7, 10). N o con tex to cósm ico destes versículos qu e descrevem os propósitos de
Deus com respeito a to d a a criação (w. 6, 7), o “desejo” de D eus de qu e “todos” se
a rre p en d am deve ser in terp retad o universalm ente. O fato de q u e Deus p o d e “desejar” o
que ex plicitam ente n ão “d ec re to u ” deve ser tom ado sim plesm ente com o u m a dessas áreas
dos propósitos d e D eus q u e n ão p o d em ser co m preendidos pela m en te finita. O contexto
não favoreceria a lim itação desse desejo aos “eleitos”, a despeito da possibilidade de q u e “a
paciência p a ra convoscd’ pudesse se r in terp retad o com o significando paciência p ara com os
112 Cristo dos Pactos
20. Cf. D elb eri R. Hillers, em Aliança: a H istória de u m a Idéia Bíblica ( Covmant: The
Ilistory o fa Biblical Idea, Ballim ore, 1969), p. 102, que sugere a presença de autom aldição
11(>falo d e q u e o “arco” está ap o n tad o p ara Deus. Cita o poem a medieval:
M eu arco en tre ti e m im
Estará n o firm am ento.
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116 Cristo dos Pactos
A INSTITUIÇÃO FORMAL
DA ALIANÇA ABRAÂMICA
U m a perg u n ta que rasga o coração ocasiona o estabe
lecim ento form al da aliança de Deus com Abraão. O patriarca
interroga com preocupação: “Senhor Deus, como saberei que hei
de h e rd a r (a terra prom etida?)” (Gn 15.8). Abraão crê na palavra
de Deus. Mas necessita de um a reforçada certeza.
Deus havia assegurado promessas magnânimas a Abraão. Mas,
agora, o patriarca tomara-se idoso. Sua m ulher perm anecia sem
filho. A cultura dos dias de Abraão fazia sensatamente provisão no
evento de pais estéreis.1 Era possível “adotar” na família um servo
do lar. Este “filho” adotivo tomava-se o herdeiro legal.
Seria este procedim ento legal de adoção a m aneira pela qual
Abraão, sem filho próprio, devia in terpretar a palavra de
prom essa de Deus? Seria inevitável que Eliézer de Damasco se
tornasse seu herdeiro? (w. 2.3).
O Senhor declara, inequivocamente, suas intenções sobe
ranas. N inguém senão um filho saído dos próprios lombos de
Abraão possuiria as promessas de Abraão (v. 4).
Mas, afinal, que garantia podia ser oferecida? Havia algum
m eio pelo qual a palavra da promessa podia ser confirmada?
O S enhor graciosam ente garante ao patriarca m ediante a
ratificação form al de um pacto-aliança. O rd en a a Abraão que
apresente diante dele determ inados animais (v. 9).
O p atriarca não necessitava de instruções posteriores.
Conhecia bem a m aneira de proceder. De acordo com os
costumes dos seus dias, Abraão dividiu em duas metades os
animais, e dispôs os pedaços correspondentes uns defronte dos
outros. M atou as aves, mas não as dividiu.2
A esta altura, a narrativa indica que a cam e simbólica da
m atança atraía as aves de rapina que tentavam devorar a came que
Abraão havia preparado. O patriarca reconhece a necessidade de
intervir e enxotar as criaturas aladas com seu voraz apetite, (v. 11).
Com o Abraão passa para um estado de visão, Deus lhe
com unica o curso cios acontecimentos que devem preceder o
1. Cf. E. A. Speiscr, Gênesis ( Genesis, Garclen City, 1964), p. 112; Derek Kiclner, Gênesis
(Genesis, Chicago, 1967), p. 123.
2. Este tratam en to distintivo das aves acha codificação subseqüente na legislação bíblica
(cf. Lv 1.14-17). N ão é que a legislação mosaica coloriu a narrativa admissivelmcnle antiga
de Gênesis 15; ao invés disto, a mais antiga tradição-penhor de m orte da inauguração da
aliança sob A braão fo rn ec eu o m odelo para o sacrifício de animais sob Moisés.
Abraao: A Aliança da Promessa 117
3. Cf. D. J. M cCarthy, T ratad o e Aliança (Treaiy and Covenant, Rom e, 1963), pp. 52s., que
indica q u e a frase “co rtar u m a aliança” ocorre em textos cuneiform es de Q atna, datados
do século quinze a.C., b em com o em textos hebraicos, aram aicos e fenícios. Cf. tam bém
M eredilh Kline. P ro m etid o Sob Ju ra m e n to ( By Oath Consigned, G rand Rapids, 1968), p. 17;
L eon Morris, A P regação A postólica da C iuz (The Apostolic Preaching of the Cross, L ondon,
1956), p. 64. Estes dois últim os autores citam am bos um tratado da Babilônia do oitavo
século a.C.; “(e ju stam en te com o) este bezerro é cortado em pedaços, assim p o d e M ati’el
ser cortado em pedaços e seus n o bres serem cortados em pedaços.”
Abraão: A Aliança da Prom essa 119
tradição a respeito dos patriarcas... em nossa narrativa sobre fazer aliança tem os um
segm ento original d a mais velha tradição patriarcal. “E nquanto von Rad apóia um a análise
docu m en tária d o capítulo criticam ente orientada, afirm a ele, não obstante: “Os versículos
7-18 são iraclição m uito antig a d o próprio p eríodo patriarcal.”
5. D. R. Hillers, M aldições de T ratado e os Profetas do Velho Testamento ( Trmty-Cnrses
and the Old Testament, Prophets, Rom a, 1964), p. 26, assum e q u e um bezerro era m orto e que
o povo realm en te desfilava e n tre os pedaços.
Abraão: A Aliança da Promessa 121
Hebreus 9.15-20
A apresentação do livramento da maldição da quebra da
aliança, tal com o ocorre no livro aos Hebreus, aparece no
contexto em que se discute a cerim ônia da instituição da aliança
mosaica. Para que o feliz livramento da nova aliança seja
Abraão: A Aliança da Promessa 125
12. Mereclilh Kline, em Traiaclo cio G rande Rei ( Trenty of lhe Great King, G rand Rapids,
1963), p. 41, está certam en te correto em p rocurar o m odelo antigo de íirm ar aliança com o
chave ã com preensão d e H ebreus 9.16, 17. Mas, em vez de focalizar o p e n h o r de m orte,
que é o coração d a instituição d a aliança, volta-se ele às estipulações da sucessão dinástica
dos traLados antigos. Desta m aneira, procura ele base para justificar o jogo de palavras
“testa m e n to /a lian ç a” em diatheke em H ebreus 9. E ntretanto, o tem a em H ebreus 9.15ss.
não é o de cristãos com o sucessores dinásticos de Cristo, ainda que esta “sucessão” seja
m odificada p ara significar “co-regência com o testador vivo”. Em vez disso, o tem a de
H eb reu s 9.15ss. é a celebração d a aliança. O escritor aos H ebreus desenvolve diretam ente
o âm ago d a cerim ônia d e íirm ar aliança, em vez de desenvolver em um a form a até nova
u m aspecto secundário d o antigo m odelo da cerim ônia de firm ar aliança.
Abraão: A Aliança da Promessa 129
13. A m aio r dificuldade com esta interpretação do v. 17b é que ele requer que a
referên cia à m o rte d o a u to r d a aliança .seja in terp retad a com o sím bolo, em vez de m o rie
real. Este p ro b lem a p o d e .ser resolvido m ediante a .sugestão de que o escritor presum iu
um a aliança violada. D ada a situação em que .se violaram estipulações, u m a aliança não se
(orna “fo rte ” e n q u a n to viver o a u to r da aliança. Neste caso, a m o rte prefiguracla seria real,
e n ã o sim bólica. Esta lin h a d e interpretação contém alguns aspectos recom endáveis. Mas
a forte ênfase contextual n a instituição da aliança ap o n ta em direção à m orte simbólica, ao
invés de m o rte real.
130 Cristo dos Pactos
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134 Cristo dos Pactos
O SIGNIFICADO ORIGINAL
DA CIRCUNCISÃO
A CIRCUNCISÃO NA HISTÓRIA DO
VELHO TESTAMENTO E NA
SUA TEOLOGIA
Através da história de Israel, a circuncisão sempre é apresentada
como um rito que tencionava ter dimensão tanto direcionada para
Deus quanto para o hom em . Na sua verdadeira essência, a circun
cisão é um sinal de aliança entre Israel e o seu Deus.
Este fato indica que a circuncisão nunca devia ser considerada
um em blem a puram ente nacional, simbolizando somente um rela
cionam ento físico entre o povo de Israel. Na verdade, a circuncisão
tinha um a significação nacional. Servia para inUoduzir pessoas na
com unidade de Israel, externam ente organizada. Mas, também
tencionava representar o relacionam ento em direção a Deus que
era a essência da aliança.
Essa dim ensão em direção a Deus da circuncisão/selo
m anifestou sua presença em todas as épocas mais im portantes da
história do Velho Testam ento. Com eçando na época da institui
ção e estendendo-se através da história de Israel, a circuncisão
indicava o status de um hom em em relação a Deus tanto quanto
seu status em relação à nação de Israel.
A im portância teológica do selo de circuncisão no tempo da
sua instituição já tem sido discutida. Esse aspecto do rito achou
reforço nos dias de Moisés. Moisés adm oestou Israel nas planícies
de Moabe para circuncidar o prepúcio dos seus corações, e não
serem mais endurecidos contra Deus (Dt 10.16). Em outro lugar,
Moisés indicou que Deus circuncidaria o coração de Israel e dos
seus descendentes, e assim eles amariam o Senhor com todo o
coração (Dt 30.6). O sinal externo de purificação simbolizava a
purificação interior necessária à vida de obediência e am or a Deus.
Esses textos claram ente se fundam entavam em um simbo
lismo de purificação inerente ao rito da circuncisão. Falando de
purificação de coração, Moisés não introduz conceito novo que
O Selo da Aliança Abraâmica 139
O CUMPRIMENTO NEOTESTAMENTÁRIO
DO SÍMBOLO VETEROTESTAMENTÁRIO
Com o com todos os elem entos essenciais da revelação do
Velho Testam ento, o selo da aliança abraâm ica encontra sua
verdade-em-símbolo cum prida no Novo Testam ento. Diversas
passagens no Novo Testam ento com entam explicitam ente a
consum ação da realidade do selo do Velho Testam ento. O utras
porções da Escritura do Novo Testam ento relacionam-se mais
indiretam ente à questão da perm an en te significação desse selo.
Em qualquer caso, o Novo T estam ento fornece base adequada
p a ra se c o m p re e n d e r o p ap el d a realidade do sím bolo-
circuncisão na vida do crente da nova aliança.
O fato da circuncisão de Jesus Cristo é de im pressionante
im portância n a apreciação do significado desse rito. Q uando as
glórias da nova aliança estão sendo introduzidas, as “coisas da
velha aliança não são precipitadam ente descartadas”.7 Para
redim ir hom ens que estavam sob a lei, Deus enviou seu Filho,
nascido de m ulher, nascido sob a lei (G14.4) .Jesus foi concebido
pelo Espírito Santo e não conheceu pecado. Todavia, “para
cum prir toda justiça” Ele se subm eteu aos ritos prescritos de
purificação (cf. Mt 3.15). Com o um sinal de que ele volunta
riam ente estava tom ando sobre si m esm o as obrigações do seu
povo, Jesus submeteu-se, prim eiro, à circuncisão e, depois, ao
batismo de João.
O fato de que Jesus form alm ente recebeu seu nom e em
conjunção com o rito da circuncisão zyuda a ilum inar o
significado do ato p ara Cristo. Seu nom e é “Jesus”, “Jeová Salva”
(Lc 2.21). Sua purificação não é p o r sua própria causa, mas p o r
causa do povo p e c ad o r que Ele salva.
A clara indicação do alívio decisivo do processo externo da
circuncisão sob a nova aliança aparece na narrativa concernente
à difusão do evangelho entre os gentios, no livro de Atos. O
Espírito Santo p u rific a d o r passa a residir em gentios
incircuncisos para assom bro dos crentes judeus circuncidados
(At 10.44-48). Se a realidade da aliança de “Eu serei o vosso Deus”
pode acontecer separadam ente do rito externo da iniciação,
13. O parlicípio em p reg ad o pelo apóstolo ( o u v t o k |> £ v t £ ç ) está no caso nom inativo,
plural em n ú m ero , e assim m odifica o (subentendido) sujeito do verbo “vós fostes
circu n cid ad o s”, n o prin cíp io d o versículo onze. A palavra auvÕáriToj o corre som ente aqui
e em R o m an o s 6.4, em o N ovo T estam en to . Em am bos os casos refere-se ao
“sep u llam en lo " figurativo d o batismo.
14. A inda q u e o parlicípio aorislo possa d e n o ta r ação a n te rio r ao verbo principal, esta
n oção d o tem p o passado relativo “n ão é de m o d o n e n h u m necessariam ente in eren te ao
parlicípio aorislo”. (R obert W. Funk, U m a G ram ática G rega do Novo T estam ento e O utra
Primitiva L iteratura Cristã - A Greek Grammar o f the. New Testament and OtherEarly Chmtian
Literature, C hicago, 3961), p. 175. Se a força tem poral do particípio aorislo devesse colocar
sua ação antes d o verbo q u e m odifica, a im plicação seria q u e a “circuncisão” do cristão
seguir-se-ia ao seu balisnio.
E n tretan to , n ão é necessário p ô r a ação do parlicípio aorislo tem porariam ente antes do
verbo principal. De aco rd o com a tradução de F unk e a revisão da G ram ática G rega de F.
Blass e A. D e b m n n e r, “o elem ento do tem po passado está ausente do parlicípio aorislo
especialm en te se a sua ação é idêntica à de um verbo finito aorislo” (ibid., p. 175).
150 Cristo dos Pactos
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152 Cristo dos Pactos
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA
DA ALIANÇA MOSAICA
Este tratam ento sum ário do relacionam ento possível de
porções do Pentateuco com os tratados de aliança hitita fornece
um a base natural para a discussão da im portância teológica da
aliança mosaica. A dispensação mosaica descansa diretam ente
sobre um relacionam ento de aliança, em vez de relacionam ento
legal. A inda que a lei desem penhe papel extrem am ente im por
tante, tanto nas form as de tratado internacional quanto na era
mosaica, a aliança sem pre suplanta a lei.
O rec o n h e c im e n to do co n texto histórico em que as
estipulações legais funcionaram era essencial na form a de tratado
hitita. O prólogo histórico dos docum entos coloca a relação
com um do senhor conquistador com o vassalo conquistado à luz
de intercâm bios passados.5
N ada podia ser mais básico à com preensão própria da era
mosaica. O im portante não é a lei, mas a aliança. Q ualquer que
seja o conceito de lei que se possa apresentar, deverá ela perm a
necer sem pre subserviente ao conceito mais am plo da aliança.
Esta característica toma-se mais óbvia pelo reconhecim ento
do contexto histórico em que foi revelada a aliança da lei.
H istoricam ente, a nação de Israel já estava em relação de aliança
com o S enhor através de Abraão. A narrativa do Êxodo começa
5. A sugestão d e G erh ard von Rad e M artin N oth d e que a tradição sinaitica de Israel
deve ser sep arad a das narrativas da conquista do Êxodo encontra forle oposição nos
estudos q u e co m p aram a form a de tratado hitita com o Decálogo. E m cada exem plo, a lei
e n c o n tra sua significação n u m contexto mais am plo da estrutura histórica da aliança. Para
um tratam en to d o assunto, e u m a resposta à argum entação de von Rad e N oth, ver J o h n
Bright, A History of Israel (Philadelphia, 1959), p. 115; A rth u r W eiser, The Old Testament: Its
Formation andDevelopment (NewYork, 1961), pp. 82-90.
Moisés: A Aliança da Lei 155
creu nele.7 Por esta razão, a aliança da lei, tal como revelada no
Sinai, ficaria m elhor divorciada da term inologia de “aliança de
obras”. A “aliança de obras” refere-se a exigências legais feitas ao
hom em no tem po da inocência na criação. A “aliança da lei”
refere-se a um novo estágio no processo da revelação por parte
de Deus das riquezas da aliança da redenção. Como tal, a lei que
veio p o r interm édio de Moisés de m odo algum ab-rogou ou
suspendeu a aliança da promessa.
7. A linguagem cie M eredith Kline é enganosa neste ponto. Seu desejo de m anter a
ênfase distintiva da aliança d a lei pode ser apreciada. Mas pode-se facilm ente entender a
sua afirm ação d e m an eira legalista. Ele in terp reta Paulo com o dizendo que a aliança
sinaitica “fez a heran ça ser pela lei, não pela prom essa - não pela fé, mas pelas obras” (liy
Oath Consigned, p. 23).
O caráter distintivo d a aliança mosaica reside em sua form a exteriorizada de ministração
d a lei. Mas a lei sob Moisés não p ode ser en ten d id a com o abrindo um novo cam inho para
se alcançar a salvação p ara o povo de Deus. Israel deve m an ter a lei, não a fim de entrar na
condição favorecida d a aliança de redenção, mas a fim de continuar nas bênçãos do
relacio n am en to da aliança, depois de ter sido habilitado para fazer isto através da unidade
d e aliança com Deus alcançada exclusivam ente pela graça m ediante a fé. T anto sob a
aliança abraâm ica com o sob a mosaica o h o m em alcançou salvação pela graça p o r meio da
fé n a o b ra d e Cristo q u e devia viver e m orrer em lugar dos pecadores.
Moisés: A Aliança da Lei 159
10. Cf. com Leon Morris, The BihlicalDoctrire ofJadgmeM (Granel Rapicls, 1960), pp. 66s.
168 Cristo dos Pactos
12. Giuido cm H. N. Ridderbos, VV7um the TimeHadFully Come (G rand Rapids, 1957), p. 63.
170 Cristo dos Pactos
14. Seria p u ra conversa desconexa eq u acio n ar o sujeito de “retirado” com o véu, desde
que o véu é o sujeito d e “p erm a n e c e r” na cláusula im ediatam ente p recedente. Paulo
estaria e n tã o d izendo q u e o véu da cegueira deles ainda p erm anece, u m a vez que o véu da
cegueira deles foi retirado.
176 Cristo dos Pactos
15. A separação cia caracterização adjetiva da glória de Moisés do substantivo que ela
m odifica enfatiza o caráter desvanescente da glória. Cf. com F. Blass e A. D ebrunner, A
G reek G ram m ar o f the New T estam en t (Chicago, 1961), n (J 473.
16. O texlo realm ente diz que a pele d a face de Moisés ficou “provida de chifre”. O uso
do term o "Qj? em hebraico, refletido na Vulgata Latina, oferece, evidentem ente, a origem
das representações artísticas posteriores de um Moisés com chifres projetados de sua cabeça.
Moisés: A Aliança da Lei 177
17. P ara u m a discussão com pleta do sentido da construção hebraica com o m ostrando
que Moisés co m p leto u sua com unicação da lei antes de p ô r o seu véu, ver U m berto
Cassuio, A Commentaiy on the Book of Exodus (Jerusalém, 1067), p. 450 e sua extensa
discussão d a força d e “e ele te rm in o u ” (bo'.D em A Commentary on the Book ofGenesis, Part I
(Jerusalém , 1961), pp. 61s.
A LXX é bastante incisiva: Kai è íra ò ri KaTÉTTaoae ÀaÀwv irpòç ccutoúç, £TT£0r)K£v zm
t ò TTpòawrrov auTou KáAujj|aa.
18. N o tar a ênfase co rre sp o n d en te de Paulo com respeito à m aneira habitual de Moisés
p ô r o seu véu. Moisés “estava p o n d o ” ( £TÍ0£i) um véu sobre sua face, para que os filhos
d e Israel n ão pudessem ver o íim daquilo que se estava desvanecendo (2 Co 3.13).
19. Os rabinos realm en te concluíram que a glória da face de Moisés nu n ca se desvaneceu,
mas p erm an eceu com ele até a m orte, e m esm o depois da m orte, em sua sepultura. Cf. com
I Ie n n a n n L. Strack e Paul Billerbeck, em Kominentar Zum Neuen Testament Aus Talmud and,
Midrasch (M ünchen, 1926), 3: 515.
20. Philip E dgcum be H ughes, em P auis SecondEjnsile to the Corinthians (G rand Rapids,
1962), p. 109, sugere que o cobrir com um véu a desvanecente glória de Moisés envolveria
subterfúgio q u e seria in digno d o apóstolo.
E n tretan to , é possível e n te n d e r o desvanecim enio da glória q u e se extinguia com o
len d o significação sim bólica, em vez de rep re sen tar subterfúgio. N ão é necessário postular
que os israelitas n ão tin h am n e n h u m a consciência do caráter desvanecente da glória de
178 Cristo dos Pactos
Moisés. Viram Moisés em sua glória. Viram -no sem a sua glória (exceto se, com os rabinos,
m antém -se que a glória d e Moisés jamais se desvaneceu). O que eles não viram foi o
processo desvanecente em transição. Foi o véu que im pediu os israelitas de verem esse
desvanecim ento, e este fato p o d ia ter sido deduzido pelos contem porâneos de Moisés. Eles
viram sua glória não velada d u ra n te longo espaço de tem po, enquanto ele en treg ara as
várias prestações da lei. P or que, então, devia Moisés p ô r o véu? Não porque os israelitas
fossem pecadores cuja visão d a glória de Moisés devesse ser interrom pida p o r causa da sua
indignidade. E m vez disto, Moisés pôs o véu p ara qu e os israelitas não vissem a term inação
da glória da sua face. Esse ato de p ô r o véu simbolizava sua cegueira ao caráter tem porário
da legislação mosaica.
Moisés: A Aliança da Lei 179
Para ser este fim, Cristo cum priu toda a justiça. Observou
perfeitam ente toda a lei, enquanto, ao m esm o tem po, levou
sobre si m esm o as maldições da lei. De todas as perspectivas, a
aliança da lei se consum a em Cristo.
11
Excurso
Alianças ou Dispensações:
Qual Destas Estrutura a
Bíblia?
As i n i c i a t i v a s de Deus no estabelecim ento dos relacionam entos
de aliança estruturam a história da redenção. Suas soberanas
intervenções provêem a estrutura essencial para a com preensão
das grandes épocas bíblicas. Tal perspectiva tem caracterizado de
m aneira com pleta o presente tratam ento dos materiais bíblicos.
U m a alternativa im portante para se analisar a estrutura da
história bíblica é oferecida po r um a escola de pensam ento evangé
lico mais popularm ente conhecida como “dispensacionalismo”.1
O dispensacionalismo tem-se colocado em oposição à teologia da
aliança com o m eio de com preender a estrutura arquitetônica da
revelação bíblica.
N a m edida em que a perspecdva dispensacionalista estiver
sendo avaliada, não se deve esquecer que os teólogos da aliança
e os dispensacionalistas colocam-se lado a lado na afirmação dos
181
182 Cristo dos Pactos
A ALIANÇA DA CRIAÇÃO
A teologia da aliança entende o relacionam ento de Deus com
o hom em na criação em perspectiva de aliança. A responsabilidade
do hom em como ser criado à imagem de Deus no sentido de
3. A esta altura, u m equívoco potencial deve ser desfeito, o qual p o d e surgir com o
resultado d o arranjo dos materiais n a presente sinopse de opiniões. Não se deve su p o r que
a “velha” Bíblia Scoíield (1909) co n tin h a só u m a série de notas tratando das dispensaçoes,
e n a d a com respeito às alianças. N em se deve su p o r que a “nova” Bíblia Scoíield (1967)
c o n tin h a so m en te notas acerca das alianças, e n ão tinha n a d a a dizer a respeito das
dispensaçoes. E apenas p o r causa d e um desejo de contrastar o tratam ento das
dispensaçoes e das alianças n a teologia dispensacional enq u an to , ao m esm o tem po,
ind ican d o algo d a progressão d o p ensam ento no dispensacionalism o, que os com entários
foram lim itados prim ariam ente às notas acerca das “dispensaçoes” n a “velha” Bíblia
Scoíield, e às notas acerca das “alianças” n a “nova” Bíblia Scoíield.
184 Cristo dos Pactos
A ALIANÇA DA REDENÇÃO