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Comentário 1:
O Dilúvio (7:17-8:14)
O dilúvio durou quarenta dias.
A cada dia, a arca se elevava mais e mais sobre as águas que se acumulavam e
cresciam de volume.
Durante os 150 dias seguintes, as águas continuaram a subir, até chegarem à
altura de 15 amót acima do cume mais alto da terra.
Durante este período morreram todos os homens e animais que habitavam o
planeta.
Após este período de 150 dias, as águas começam a baixar.
A arca finalmente estaciona sobre o Monte Ararat.
Passados mais 40 dias, Noach abre a escotilha da arca e envia um corvo para
examinar a possibilidade de saírem dela.
O corvo volta de imediato, recusando a missão.
Sete dias mais tarde, Noach envia uma pomba.
Esta logo retorna por não achar um lugar seco para pousar.
Passados mais sete dias, a pomba é enviada novamente e demora um pouco a
retornar, voltando para a arca somente ao entardecer e carregando em seu bico
uma folha de oliveira.
Noach compreende agora que as águas baixaram por completo.
A pomba é enviada novamente após sete dias e não retorna à arca.
Noach remove a cobertura da arca e comprova com os próprios olhos que toda a
vida na terra havia sido destruída.
Comentário 2:
A arca salvou Noach das águas destruidoras como um navio protege seus
passageiros ou sua carga das turbulências marítimas.
No dia designado para o início das chuvas, D'us mandou Noach entrar na arca,
dizendo-lhe: "Bô el hatevá — Vem à arca."
O Baal Shem Tov explica que a palavra tevá, geralmente traduzida como "arca",
também significa "palavra".
Portanto, D'us estava dizendo a Noach: "Vem à palavra", isto é, às palavras de Torá
e tefilá (oração), e elas te protegerão do dilúvio espiritual que aflige o mundo.
Nossa vida é repleta de "turbilhões" espirituais — obstáculos que dificultam nosso
serviço a D'us, principalmente os resultantes da preocupação em obter o sustento,
que ocupa a maior parte do nosso tempo e atenção.
Esses fatores constituem o "dilúvio" da nossa existência.
Como proteção contra tal cataclismo, a Torá recomenda: "Vem à tevá" — às
palavras de Torá e tefilá — e assim as águas não te atingirão.
A ligação com a Torá e a prática de suas mitzvot são fontes de valores sólidos e
verdadeiros, que facilitam nossa travessia por este mundo e nos habilitam a
enfrentar as dificuldades e desafios que ele nos apresenta a cada dia.
"E destruiu toda existência que havia sobre a face da terra, do homem até o
quadrúpede, até o réptil e até a ave dos céus; e foram destruídos da terra."
Comentário 3:
Comentário 4:
A Parashat Bereshit terminou com a seguinte frase: “Venôach matsá chen beenê Hashem”
(Bereshit 6:8) – E Nôach encontrou graça aos olhos do Todo-Poderoso.
Nossos sábios nos dizem que são muitas as razões pelas quais Nôach encontrou graça aos
olhos do Criador. O Zôhar Hacadosh diz que é porque Nôach era um homem nôach –
sereno. Quem não gostaria de encontrar graça aos olhos do Todo-Poderoso? Com Nôach
aprendemos que ele conseguiu por ser tranqüilo, sereno.
Em princípio, poderíamos pensar, que o termo menuchá refere-se ao descanso físico, porém
nossos sábios entendem que menuchá é o descanso espiritual – o Shabat é um descanso
espiritual. Conforme consta no Seforno (comentarista clássico da Torá) em Parashat Vaychi
(Bereshit 49:15), comentando sobre a bênção que Yaacov Avínu deu a seus filhos: na
berachá que coube a Issachar consta “Vayar menuchá ki tov”
– E viu que o descanso era bom. Seforno nos diz que esta frase se refere ao fato de que
Issachar percebeu que por intermédio do conhecimento das muscalot (sabedoria) atinge-se
o descanso, que é a tranqüilidade e serenidade. Por isso, a tribo de Issachar veio a assumir
no futuro, o estudo da Torá integral-mente, conforme consta: “Vayet shichmô lisbol” –
Prontificou-se a assumir o jugo da Torá.
Como nossos sábios nos dizem que o estudo da Torá enfraquece o corpo, a menuchá que
este estudo nos traz é o descanso espiritual. Por intermédio do conhecimento da Torá, a
alma ganha seu alimento e fica preenchido o vazio interior, proporcionando-nos a
tranqüilidade necessária para enfrentarmos os inúmeros compromissos materiais e
espirituais da vida.
Nôach realmente necessitava de muita serenidade, pois a construção da arca levou 120
anos. Depois disso, houve toda a preocupação de abastecer a arca com provisões para uma
estadia de doze meses dentro dela, a preocupação de selecionar os animais a serem
levados, e posteriormente, durante todo o período dentro da arca, o trabalho de, ele
próprio, alimentá-los.
Todos esses fatores demonstram que o Zôhar Hacadosh, ao dizer que Nôach era um homem
“nôach” (palavra que deriva de menuchá), não era porque ele fosse passivo ou descansasse
muito fisicamente, porque trabalho não lhe faltava. O Zôhar o chamou assim pelo fato de
Nôach possuir a serenidade e a tranqüilidade espirituais que todo indivíduo necessita em
seu dia a dia.
Esta menuchá pode ser alcançada por intermédio do estudo da Torá, da prática das mitsvot
e do bitachon (fé e segurança no Todo-Poderoso). Como diz o Rei David: “Al mê menuchot
yenahalêni... gam ki elech beguê tsalmávet lô irá rá ki atá imadi” (Tehilim 23) – D’us me
guia com tranqüilidade... e mesmo em momentos de perigo não temo o mal, pois o Todo-
Poderoso me acompanha. A serenidade é, portanto, algo que pertence ao espírito, e quando
lhe são supridas as necessidades, poderá transmitir ao indivíduo a tranqüilidade necessária.
Comentário 5:
Esta Sichá [comentário] engloba duas lições da Sidrá desta semana: a virtude de
Shem e Yefet em cobrir a nudez de seu pai, desviando os seus olhos dele; e o uso
de um extenso eufemismo em lugar da palavra "impuro", que denota a necessidade
do uso de delicadeza na palavra.
Ela então resolve o paradoxo que, por um lado, não devemos notar as faltas e
desvios dos outros, enquanto que, por outro lado, devemos nos preocupar em
tentar corrigir os seus erros.
Notando e corrigindo
Para que possamos entender isto, devemos nos referir à continuação da seguinte
citação que encontramos no Talmud: "Um homem deve sempre falar usando
expressões apropriadas."
O Talmud, depois de responder a uma questão relativamente casual, pergunta:
"Mas não é que podemos encontrar na Torá a expressão `Tamê'?" (que é
exatamente o termo que nos foi instruído evitar).
Isto é estranho.
A palavra "Tamê" pode ser encontrada em mais de cem lugares diferentes na Torá!
Trata-se de uma questão tão óbvia que, certamente, deve ter surgido
imediatamente, e não depois de um ponto de menor relevância.
Nem o tom de surpresa da pergunta parece ser apropriado a uma objeção assim
tão direta.
A explicação é que, em termos legais (haláchicos), a necessidade de clareza e total
ausência de ambiguidade tem mais valor do que os aspectos de propriedade; e é
assim, portanto, que "Tamê" é empregado.
No entanto, em contextos narrativos, a preocupação com expressões delicadas
compensa descrições verbais mais extensas acerca desses eufemismos.
Assim, na Torá o uso de palavras como "Tamê" não contradiz o princípio de que,
sempre que possível, devemos empregar a frase mais delicada.
E o Talmud coloca a sua objeção desta forma porque a palavra "Tamê" somente é
usada raramente nas seções narrativas da Torá.
Na verdade, mesmo nas seções haláchicas, quando a lei não se refere diretamente
à impureza, mas a menciona apenas de passagem, a Torá, ainda assim, prefere
usar o eufemismo.
Isto se aplica não apenas à fala, mas também à visão.
Quando a pessoa vê um judeu fazendo algo errado, a sua primeira preocupação
deve ser a de procurar a "halachá" (i.e., a obrigação) dela esperada - ou seja, que
ela faça uma reprovação a ele e tente, com tato e com delicadeza, corrigir os seus
modos.
Porém, quando a pessoa vê este erro não como algo direcionado a ela mesma (i.e.,
algo que ela deve corrigir), mas sim como um deslize de seu camarada (quando a
sua atitude é crítica, mas sem ser construtiva), isto evidenciará que se trata de um
"espelho", e que é ela mesma quem está em falta.
A história nos transmite a lição moral de que não apenas não devemos falar sobre
as limitações dos outros (tal como fez Cham ao contar aos seus irmãos sobre o seu
pai), mas também nem mesmo pensar sobre elas, exceto no caso de estar em
nossas mãos consertá-las ou corrigi-las.
E todo aquele que observar isto, participa da recompensa, "Abençoado seja o
Eterno, D'us de Shem" e "Queira D'us engrandecer Yefet", e contribui para a união
e o amor fraternal de Israel que trará Mashiach ao mundo.
Comentário 6:
Mas outros intérpretes da Bíblia não se contentam com esta explicação, achando-a
muito vaga e abstrata demais.
E não hesitam em indagar: "Aceitando a tese acima mencionada, resultaria que o
mundo já deveria ter sido destruído várias vezes, e se isto não aconteceu, é
somente graças ao sacrifício de Noé; mas que espécie de sacrifício foi este que
possuiu a força de impedis para sempre uma nova catástrofe mundial? E mais: será
que D'us, como a profecia e a filosofia judaica O concebem, tem prazer em
sacrifícios materiais de qualquer espécie?"
Mas o Midrash também desta vez esclarece-nos de maneira transcendente sobre
essa pergunta, "Não foi o sacrifício de Noé (para os povos primitivos o sacrifício de
um animal era a única maneira concreta de expressar a sua gratidão e
reconhecimento) que agradou a D'us; ELE contemplou a geração de Abraham
Avinu, que pela sua fé em D'us foi atirado em um forno de cal; viu os três heróis
Hananiá, Mishael e Asariá, que pela mesma razão foram lançados em um forno de
cal; Ele ,admirou a geração das Cruzadas, da Inquisição, que pela santificação do
SEU nome se deixaram queimar vivas nas fogueiras."
E para melhor ilustrar as suas palavras, o mesmo Midrash cita um exemplo
alegórico: Um rei quis construir o seu palácio no mar, mas para isso faltavam-lhe
os alicerces necessários. De repente encontrou uma garrafa cheia de perfume, e foi
sobre essa garrafa que ele edificou o seu palácio.
O mundo — continua o Midrash — está em cima de mares.
E como explicar que mesmo assim ele ainda exista?
Isto só acontece graças aos méritos daqueles que em cada geração não deixam e
não deixarão de procurar D'us.
O que é que este belo Midrash nos ensina?
As gerações até Noé eram corruptas.
A sua maior infelicidade consistia no fato de não terem tido em seu meio um único
homem grande e íntegro, capaz de sacrificar-se para elevar a sua geração da
decadência moral.
Para sermos corretos, existia um homem dessa pujança, chamado Hanoch; mas ele
excluiu-se da coletividade e pouco ou nada se importou com a desmoralização que
o rodeava.
Quando Noe saiu da arca, e observou a destruição causada pelo dilúvio, não se
limitou a verificar o fato consumado.
Ele sabia qual fora a causa, e compreendeu a necessidade de fazer sacrifícios para
salvar a sua geração da queda.
Depois de Noé, aparece Abraham Avinu, que não se contenta em ser ele próprio
justo e correto, peregrinando de lugar em lugar, pregando, ensinando, deixando-se
atirar à fogueira; e, com o sacrifício da sua própria vida, ele quis servir de exemplo
vivo, mostrando que para elevar a humanidade a um nível ético não existem
obstáculos de dedicação que sejam grandes demais, ou limites de renúncias caros
demais.
E parece-nos que não precisamos citar mais provas para demonstrar que o exemplo
de Abraham nos serviu de lição; quantas vezes, durante a nossa história milenar, a
nossa fé em D'us, a nossa convicção em ideais elevados, não foram já submetidos
à prova de fogo?
Não é necessário um dilúvio, não é indispensável a destruição do mundo; D'us viu
que há um remédio: Indivíduos são capazes de salvar o mundo.
De fato o mundo está construído sobre um mar bramante de trivialidade e conduta
ignóbil, mas o fundamento deste mundo e o frasco de perfume, o aroma destes
grandes ideais que animam em cada geração a alguns elementos seletos.
E é este o sentido das palavras do Rei Salomão nos Provérbios:
"Vetzadik iessod olam" (o justo é a base do mundo, ou conforme outra tradução, "o
justo tem perpétuo fundamento"). (Provérbios, 10:25).
A ele foi dada a força moral para livrar o mundo de todas as iniqüidades. Várias
vezes acontece que nuvens carregadas obscurecem o firmamento, indicando a
aproximação de um terrível ciclone.
Mas de repente aparece um raio luminoso, um arco-íris que aclara a escuridão.
E foi isto que D'us indicou a Noé e às gerações vindouras.
Cada vez que o mundo e a humanidade se encontrarem à beira do desespero,
engolfados na densa escuridão da imoralidade e desarmonia, aparecerá um arco
luminoso, um homem justo que com a grandeza de seu espírito salvará a sua
geração.
Aprofundando-nos nas palavras dos Mestres, descobrimos todo o segredo da
existência do mundo.
Só verdadeira abnegação e dedicação da parte de grandes individualidades
sustentam o mundo; só verdadeiros sacrifícios no altar de nossos ideais e
convicções éticas, elevam e enobrecem a vida humana.
lsh tsadik tamim haiá bedorotáv (Noé foi um homem justo e integro nas
suas gerações).
O mundo que D'us criou era sob todos os aspectos uma obra-prima, belo e bom:
faltava só uma única coisa, a coisa principal; faltava a essência da Gênesis, o
homem.
O homem foi idealizado para se tornar a razão, o sentido máximo, o propósito
elevado de toda a criação.
Mas aconteceu que esta obra-prima chamada "homem" não prestou; foi um fiasco
que logo nos primórdios de seu aparecimento se desvirtuou, desfigurando e
deformando a imagem Divina à semelhança da qual fora criado.
Mas qual a causa desta falha?
Como explicar a sua corrupção, a sua decadência moral?
Acaso faltaram aos primeiros homens, sabedoria, instrução ou cultura? Acaso
praticaram os seus delitos por ignorância, por atraso mental?
Lendo com atenção o relato da Torá, não encontraremos indícios negativos capazes
de justificar ou de atenuar o seu vil procedimento.
Ao contrário, constata-se além de qualquer dúvida, que já haviam progredido muito
no campo do saber e da civilização.
O relato da Torá menciona muitas descobertas.
Iaval descobriu como aproveitar a criação do gado para as comodidades e para o
sustento do homem e como aplicar o couro para fins de habitação; já se valiam da
pecuária e da agricultura; Tubalcain, o irmão, descobriu a fundição do ferro, a
purificação do cobre, já fabricava instrumentos de lavoura e da indústria pesada.
Mas esta gente primitiva não primou somente por descobertas materiais, industriais
e técnicas; eles se dedicaram a divertimentos artísticos e culturais.
Assim encontraremos Iuval, o descobridor das artes musicais e diversos
instrumentos como a harpa e a flauta; quer dizer que já nesse tempo havia
civilização, ciência e arte.
Acreditando no minucioso relato da Torá, indagamos com maior veemência: por
que veio então o dilúvio?
A era em que vivemos, com as atribulações constantes, faz-nos compreender,
como nunca antes, as interpretações profundas e concretas dos mestres.
A nossa geração, infelizmente, compreende melhor as causas do dilúvio. Devemos
confessar, e confessamos isto sem a intenção de menosprezar a importância dos
progressos técnicos e científicos, que a causa principal da decadência das gerações
anteriores a Noé foram as suas descobertas, seu intelecto aperfeiçoado, o
progresso da sua ciência.
Quanto mais complexas as descobertas, tanto mais perigosas e ameaçadoras elas
se tornaram para a sua existência; inteligência e civilização nem sempre garantem
ou proporcionam o bem-estar da humanidade.
Progresso técnico e descobertas científicas manejadas por homens sem escrúpulos
são uma maldição e não uma bênção.
E o exemplo mais crasso da nossa afirmação foi a Alemanha nazista, onde, perante
os olhos do assim chamado mundo civilizado, este povo de cientistas, filósofos,
poetas e artistas se transformou em bestas ferozes, praticando atrocidades e
crimes bárbaros contra gente inocente, jamais imaginados e cometidos por
qualquer outro povo.
Toda a sua educação e o seu alto nível cultural e científico não os impediu de agir
contra os princípios elementares do humanismo.
“Ele toldot Nóah, Nóah ish tsadik tamim haiá bedorotav, et Haelokim
hithalékh Nóah” – ‘Estas são as gerações de Noé, Noé foi um homem justo,
perfeito nas suas gerações: com D'us andou Noé.’
Por que — pergunta o Midrash — menciona a Torá, numa única sentença, três
vezes o nome de Noé?
Porque, respondem os Mestres, -.Noé viu três mundos: um mundo habitado, um
destruído, e o terceiro reconstruído após o dilúvio.
Dez gerações passaram desde Adão até Noé.
Dez gerações inteiras, e tudo que a Torá relata a seu respeito, nada mais é do que
vaikhi (viveram), Vaioled banim ubanot vaiamot, tiveram filhos e filhas e
morreram.
Que vida levaram estas dez gerações?
Quais foram suas ações?
O que criaram de importante que os ligasse historicamente às gerações vindouras?
Nada disto está mencionado na Torá.
A história é um painel de luta humana para o desenvolvimento do mundo. Os feitos
de cada geração são as cores com que este quadro é pintado. Cada acontecimento
de uma certa importância para as gerações futuras é anotado, a fim de facilitar o
processo de seu próprio desenvolvimento. "História universal", diz o filósofo
americano Emerson, "é uma crônica na qual são transmitidas as heranças que uma
geração lega à outra".
Aquelas gerações que não contribuem nada para o futuro, o historiador rejeita,
porque a sua vida não é bastante interessante para ser fixada na história.
Só depois que Adão e Eva são expulsos do Gan Éden, e uma "espada ameaçadora"
fica pendurada sobre o ets hakhaim (árvore da vida), de forma que para que se
possa gozar do fruto desta árvore, esta espada tem que ser vencida, só depois
deste processo começa a desfolhar-se o livro da história humana.
Sefer toldot haadam (livro cronológico do homem).
Quão bela e profunda é a observação do Midrash: “Eilu toldot, veein harishonot
toldót” - isto sim é história; o que precedeu é sem importância. Enquanto Adão e
Eva viviam no Gan Éden, gozando à vontade de todas as frutas deste delicioso
jardim, sem labor, sem esforço algum, a sua vida é terrivelmente monótona, vazia
e não tem nada de substancial que pudesse. interessar às gerações vindouras.
Felizes, diz um famoso sociólogo, os que não criam história, aqueles que gozam do
que já está pronto, preparado: só existem, mas não vivem.
O nosso saudoso Mestre, Grão-Rabino de Viena, Prof. Chajes (zikhrono livrakhá),
perguntou-nos quando estudávamos no Seminário Rabínico sobre a narração das
duas árvores do Paraíso: a árvore do saber (ets hadaat) e a da vida (ets ha-khaim).
"Será, perguntou o Mestre, que D'us prefere gente ignorante? Porque assim como
foi evitado que Adão e Eva comessem da árvore da vida, poderia também ter sido
obstruído o gozo da árvore do saber; não foi contra a vontade Divina; então, qual é
a razão da expulsão do Gan Éden?"
E Rav Chajes responde: "O pecado consistia em terem comido de uma fruta
madura que eles não plantaram, para a qual não contribuíram em nada, nem
esforço e tampouco cuidado."
E continuando na sua bela exposição de idéias, Chajes diz: "Cada ser humano deve
aspirar à aquisição de sabedoria, mas ela tem que ser obtida por esforço próprio,
pois somente o pensamento independente do homem, o reconhecimento pessoal, o
aprofunda-mento individual no estudo, tem valor e prevalece".
“Vaiar Elokim ki tov — ze gan-eden, vehine tov meod ze gueihinam” – ‘D'us
reconhece que o Paraíso é bom, mas que o gueihinam é muito bom.’
Este midrash é muito difícil de compreender e tem servido na boca dos ignorantes
como argumento claro de que a volúpia (sinonimizada por gueihinam) é muito
preferível ao gan-eden (Paraíso, lugar reservado no mundo do além para os justos
e corretos).
Tentaremos explicar o verdadeiro sentido deste midrash.
Para o indivíduo, pessoalmente, a vida no Paraíso é sem dúvida muito boa, muito
agradável.
Acaso poderá haver coisa melhor do que ter tudo que o coração almeja, e tudo isto
obtido sem preocupações, sem desgaste de energias, e gastar à vontade aquilo que
outros nos deixaram?
Mas para a humanidade na sua totalidade, para as gerações vindouras, o
gueihinam, as dificuldades e os obstáculos que a vida cotidiana cria, são melhores,
mais benéficos, por serem mais produtivos.
Lutar pelo sustento, ambicionar vencer os obstáculos que a vida e as circunstâncias
colocam no nosso caminho, o esforço físico e psíquico para nos tornarmos
elementos úteis ao meio ambiente que nos rodeia, isto é sucesso, isto é triunfo, isto
são vitórias que as gerações vindouras registram e que a história relata.
A vida feliz e despreocupada que as dez gerações de Adão até Noé gozaram não
valia a pena ser anotada; e aquilo que a Torá fixa deste período, não é nada
lisonjeiro, nada animador.
Ao contrário, é uma página bem triste.
Esta opulência, essa grande fartura, todo este bem-estar físico desviou-os do
caminho direito, ao ponto de a terra tornar-se ‘khamas’, desmoralizada, corrupta,
tornando-se um foco de roubo e de injustiça.
E o inevitável castigo, a conseqüência lógica foi o dilúvio.
Este acontecimento a história anotou como exemplo para as futuras gerações.
Circunstâncias — ensina-nos a Psicologia — causam profundas e radicais
impressões no caráter humano.
O rei Salomão pediu de D'us: Não me dês nem pobreza mas tampouco riqueza
demais. Ambas são capazes de desviar o homem do caminho direito.
Como autêntico homem íntegro, Tsadik tamim, só pode ser considerado aquele
que, em todas as circunstâncias da vida, conserva a estabilidade, o equilíbrio da
sua dignidade; que não se deixa abalar pela miséria e não envaidece pela riqueza.
Em todas essas circunstâncias e cambiantes radicais, Noé permaneceu o mesmo
tamim, reto e íntegro; a corrupção da "geração do dilúvio" não abalou a sua fé em
D'us; a ruína que lhe foi dado testemunhar não prejudicou a sua coragem e a sua
sinceridade.
E mal o mundo começou a restabelecer-se da fatalidade ocorrida, ele foi o primeiro
a trazer uma oferta de agradecimento, e a contribuir para erguer uma era nova.
Sabemos que há sempre uma conexão entre a parashá e a haftará.
E em relação com este Shabat encontramos no comentário do saudoso Grão-Rabino
Dr. Hertz, uma magnífica explicação, que não podemos deixar de citar. "D'us fez
uma aliança (b'rit) com Noé, de que nunca mais haverá um dilúvio, e como sinal
deste pacto foi estabelecido o arco-íris, o qual, ao ser observado, nos lembra o que
aconteceria se não existisse essa aliança. Esse pacto — escreve Rav Hertz — não
foi feito somente com Noé e a sua geração, mas sim com toda a humanidade, para
todo o sempre."
E é isso que o profeta Isaías sublinha na haftará desta semana.
O D'us de Noé é D'us do Cosmo.
Ele não está interessado na destruição daquilo que Suas mãos criaram com tanto
carinho; essa obra grandiosa e maravilhosa chamada "mundo", que lhes foi
entregue, só perdurará se vocês, criaturas humanas, não minarem os seus
alicerces.
O pacto que EU fiz com Noé é conhecido por b'rit Shalom pacto de paz, e Shalom
tem a sua origem etimológica no termo shalem, que significa "completo,
harmonioso, coerente".
A paz só pode ser obtida através da divulgação da sabedoria, do intercâmbio
cultural e científico entre os povos; e assim, dentro deste espírito, podemos melhor
compreender a exortação do profeta quando exclama: ‘se todos os teus filhos
forem versados nos ensinamentos do Eterno, então será grande e perpétua a paz
entre eles’.
Comentário 7:
D’us instrui Nôach – o único homem justo num mundo consumido pela violência e
corrupção, a construir uma grande arca de madeira revestida por dentro e por fora
com breu. “Um grande dilúvio, diz D’us, varrerá toda a vida da face da terra; porém
a arca flutuará sobre a água, abrigando Nôach e sua família, além de dois membros
(macho e fêmea) de cada espécie animal.”
A chuva durou 40 dias e 40 noites, e as águas se agitaram por mais 150 dias antes
de se acalmarem e começarem a abaixar. A arca pousou sobre o Monte Ararat e de
sua janela, Nôach despachou um corvo, e depois uma série de pombos, “para ver
se as águas abaixaram da face da terra.” Quando o solo secou completamente – a
exatos 365 dias do início do Dilúvio – D’us ordenou a Nôach que saísse da teivá
(arca) para repovoar a terra.
Nôach construiu um altar e ofereceu sacrifícios a D’us, que prometeu jamais
destruir novamente a humanidade por causa de suas ações, e enviou o arco-íris
como testemunha de Seu novo pacto com o homem. D’us também ordenou a
Nôach para considerar a vida sagrada: o assassinato é considerado uma ofensa
capital, e também embora o homem tenha permissão de comer carne dos animais,
está proibido de comer carne ou sangue tirado de um animal vivo ou causar-lhe
qualquer tipo de sofrimento.
Nôach plantou uma vinha e ficou embriagado ao consumir o fruto de sua produção.
Dois de seus filhos, Shem e Jafet, são abençoados por cobrir a nudez do pai, ao
passo que seu terceiro filho, Ham, é amaldiçoado por tirar vantagem de sua
degradação.
Os descendentes de Nôach permaneceram um único povo, com uma só língua e
cultura, durante dez gerações. Então desafiaram o Criador, construindo uma grande
torre para simbolizar a própria invencibilidade; D’us confunde sua linguagem para
que “um não compreenda a língua do outro,” fazendo com que abandonem seu
projeto e se dispersem pela face da terra, dividindo-se em setenta nações.
A Parashah conclui com uma cronologia das dez gerações de Nôach a Abrão (mais
tarde Avraham), e a jornada desde o seu local de nascimento, Ur Casdim, para
Haran, a caminho da Terra de Canaã.
Toda linguagem [idiomas falado pelas nações], é baseada no hebraico, mas tem
efeitos menos potentes no mundo espiritual. Portanto, a oração é eficaz em outras
línguas além do hebraico, mas passa por canais inferiores. É por isso que
deveríamos verdadeiramente apreciar o privilégio de poder orar a D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, na língua mais poderosa e eficaz de todas, o hebraico.
Como dizemos em nossas orações: “Nós Te agradecemos, ó D’us, que nos escolheu
os judeus dentre todas as nações e elevou-nos acima de todas as línguas.” Agora
devemos perceber que nossas orações realizam grandes coisas no universo, ainda
que, devido à necessidade de manter um equilíbrio de livre escolha no mundo, os
resultados de nossas orações são geralmente invisíveis aos nossos olhos. Portanto,
não devemos desperdiçar uma oportunidade tão preciosa conversando durante as
nossas orações.
O sagrado Ari, diz que o povo judeu que serviu como escravos no Egito eram
reencarnações do povo que construiu a torre de Babel.
A fim de corrigir o pecado da construção da torre de Babel, D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, permitiu que os egípcios obrigassem os judeus a trabalhar com
tijolos e argamassa. Assim, eles poderiam libertar as centelhas sagradas dos tijolos
e purificar a brancura de seus cérebros, que tinham se danificado em sua
encarnação anterior.
Faraó tinha as mesmas intenções daqueles que construíram a torre de Babel, ele
queria poluir as “letras” do mundo para que então pudesse se rebelar contra D’us, o
Sagrado Abençoado Seja, exatamente da mesma forma como foi descrito acima. É
por isso que ele forçou os judeus a trabalhar com tijolos. Porém, vendo Faraó que
os judeus estavam à beira de serem resgatados, ele não deu aos judeus palha para
fazer os tijolos. Ele insistiu que a palha deveria vir do trabalho dobrado dos judeus.
Assim, o poder da santidade que estava sobre os judeus, se tornaria em
[reclamações], más palavras e os manteriam presos ao mal, impedindo os judeus
de serem resgatados. Mal sabia Faraó que quanto mais os judeus trabalhavam,
mais rapidamente eles traziam a redenção, pois quanto mais rápido fosse retificado
os pecados cometidos na encarnação anterior, mais rápido viria o livramento.
Portanto, podemos entender que os problemas que os judeus sofreram
especialmente nos últimos tempos, são apenas uma forma de apressar a redenção
final. Amém!
(Likutei Halachot: Choshen Mishpat: Hilchos Mekach U’Memk)
A história a seguir demonstra como cada palavra pode ser poderosa e importante.
Cada palavra de louvor a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, não importa o quão
simples seja a palavra, ela é muito preciosa aos olhos de HashÉm.
O Baal Shem Tov conta que uma vez, em seu aniversário, no dia dezoito do mês
hebraico de Elul, ele estava hospedado em uma pequena cidade em uma pousada
judaica. O gerente da pousada, um homem simples, mal sabia rezar e era incapaz
de entender o significado das palavras nas orações. No entanto, ele era um homem
dedicado e temente a D’us, o Sagrado Abençoado Seja.
Então, tudo que ele continuamente dizia era: “Bendito seja Ele *D’us, para
sempre!” Sua esposa, igualmente simples e piedosa, dizia: “Bendito seja o Seu
Santo Nome!” Neste dia particular, o Baal Shem Tov saiu para os campos para
meditar e para dizer Salmos. [Uma prática de todos os chassidim quando fazem
aniversário]. O Baal Shem recitava os Salmos e se concentrava nas combinações
dos santos nomes de D’us, o Sagrado Abençoado Seja, quando subitamente ficou
tão absorto em seus pensamentos que nem percebeu que o profeta Elias estava em
pé diante dele.
Elias, O Profeta, repreendeu o Baal Shem Tov como se segue:
“Aqui trabalham arduamente para se concentrar nos santos nomes de D’us, que
estão escondidos nos versos do livro de Salmos, enquanto Aharon Shlomo, o
gerente da estalagem, e Rivka Zlate, sua esposa, sabem sequer o significado dos
nomes místicos formado pelos versos que estão constantemente a recitar: ‘Bendito
seja Ele para sempre.’, e ‘Bendito seja o Seu Santo Nome. Porém, suas preciosas
palavras de louvor agitam o núcleo dos reinos celestiais, com mais impacto do que
pronunciamentos dos grandes homens. Elias passou a descrever o prazer no céu
que resulta quando homens, mulheres e crianças louvam a D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, especialmente quando o louvor é repetido muitas vezes e vem de
pessoas simples. Com suas palavras simples de louvor vindo de pura fé e um
coração completo e comprometido com D’us, o Sagrado Abençoado Seja.
Quando o Baal Shem Tov ouviu isso, ele decidiu adotar uma maneira especial de
servir a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, instando todos os judeus – homens,
mulheres e crianças – a dizerem os louvores a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, em
sua própria maneira, de forma simples. Ele sempre fez um esforço especial para
pedir às pessoas sobre sua saúde, seus filhos e seus meios de subsistência,
levando-os a responder com louvores a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, cada um
à sua maneira. (Sifrei Chabad)
Comentário 8:
Mudança de Característica
Certa vez, um jovem, que há pouco ingressara na yeshivá, pediu uma audiência ao
rabino. O jovem havia participado de uma palestra do rabino, na qual ouviu algo que
era justamente o contrário do que o psicólogo havia lhe recomendado: O psicólogo
lhe instruíra que agisse de forma natural. “Seja você mesmo”, disse ele várias
vezes. Hoje, porém, tinha ouvido que deveria mudar seu comportamento. Deveria
modificar sua natureza.
Muitas pessoas comportam-se como o recomendado pelo psicólogo, mas este modo
passivo de encarar os fatos não condiz com o ponto de vista da Torá. Esta nos
recomenda mudar nossas características negativas e adquirir qualidades positivas.
O Talmud e os livros sagrados dedicam uma atenção especial a respeito de nossas
características. As características negativas, como o nervosismo, o orgulho e a
inveja são repudiadas de forma absoluta. A hu- mildade, a tranqüilidade e outras
qualidades positivas são louvadas. Por que, então, a Torá não incluiu tais
características entre as 613 mitsvot? Por que não indica, neste âmbito, o que é
proibido e o que é permitido?
O Rabino Chayim Vital zt"l, em seu livro “Shaarê Kedushá”, explica por que a Torá
não escreve sobre as características do ser humano: é que tais características
positivas (midot tovot) são uma introdução às mitsvot. A pessoa que as possui tem
maior potencial para cumprir as mitsvot e maior probabilidade de desempenhá-las a
contento.
Apesar de a Torá não ter ordenado explicitamente a respeito das boas
atitudes, em várias passagens observamos indicações de que as pessoas devem
trabalhar seu interior, alterando sua natureza, para adquirir boas qualidades.
Quando D’us aceitou o sacrifício de Hêvel e rejeitou o de Cayin, consta a seguinte
passagem (Bereshit 4:6-7) “Lama chará lach velama nafelu fane- cha?” – Por que
ficaste nervoso e por que teu semblante mudou? “Halô im tetiv seêt veim lô tetiv
lapêtach chatat rovets, veelecha teshucatô veatá timshol bô” – Se melhorares tuas
atitudes, tu te elevarás, e senão, o mau instinto estará na tua porta, aspirando
fazer com que peques. E tu, sabe dominá-lo.
Este episódio nos é explicado pelo Rabino Natan Meir Wachtfoigel Shlita, em seu
livro “Côvets Sichot” vol. I. Há dois tipos de inveja: a primei- ra, positiva, é
mencionada por nossos sábios como (Baba Batra 21a): “Kinat sofrim tarbê
chochmá” – a inveja dos sábios acrescenta sabedoria. Aoutra é a inveja negativa. Se
a inveja provoca tristeza e mudança de semblante, esta inveja é negativa. Porém,
se provocar acréscimo de sabedoria, mais estudo de Torá, esta inveja é positiva.
O Rabino Yechezkel Levinstein zt"l escreve em seu livro “Or Ye- chezkel” que a
inveja pelos estudiosos aumenta o grau de conhecimento quando provém da
exclamação: “Por que me falta sabedoria?!” Porém, se provir da indagação: “Por
que ele tem mais sabedoria do que eu?!” será negativa. Este tipo de pensamento
poderá levá-lo a uma inveja cada vez maior. Segue dizendo que a inveja não é uma
força com origem negativa, mas uma força espiritual que o corpo desvia de sua
principal função. Cabe ao ser humano preservar esta força em seu modo positivo
original.
Esta é a idéia que D’us estava transmitindo a Cayin. Uma vez que sua inveja lhe
causara tristeza, era de origem negativa. D’us lhe disse ainda que, apesar de ser
negativa, Cayin tinha condições de recuperar-se e não mais tropeçar – “Im tetiv,
seêt” – Se tu melhorares, elevar-te-ás. D’us estava lhe dizendo que tinha condições
de erguer-se dessa situação. O Ramban explica que, com isso, D’us mostrou-lhe o
caminho da teshuvá.
Este é, portanto, um exemplo onde o próprio Todo-Poderoso diz que a pessoa pode
mudar seu comportamento (Cayin no caso), e não como poderia se pensar, que se
deve agir conforme a natureza da pessoa.
Vejamos outro exemplo, do Talmud (Bavá Metsiá 32b), que nos transmite esta
mesma idéia de renunciar a um impulso de nossa natureza.
Quando alguém encontra um inimigo necessitando de ajuda para descarregar um
animal que está arriado sob a sua carga, é mitsvá ajudá-lo, conforme consta
(Shemot 23:5): “Ki tirê chamor sonaachá rovets táchat massaô, vechadaltá meazov
lô, azov taazov imô” – Quando vires o asno do teu inimigo prostrado debaixo de sua
carga, não te recusarás a ajudá-lo; auxiliá-lo-ás a descarregar o peso. E assim
também quando uma pessoa encontra alguém necessitando ajuda para carregar
um animal, é mitsvá ajudá-lo, conforme consta (Devarim 22:4): “Lô tirê et chamor
achicha o shorô nofelim badêrech, vehitalamtá mehem, hakem takim imô” – Vendo
o jumento de teu irmão, ou seu boi, caídos no caminho, não farás de modo como se
não os visses, mas ajudarás a carregá-los.
Portanto, é mitsvá ajudar a carregar um animal, mas descarregar um animal
arriado é mais importante, pois existe também uma proibição de “tsáar baalê
chayim” – não causar sofrimento a animais.
Analisemos a seguinte situação: temos a oportunidade de cumprir duas mitsvot:
ajudar um amigo a descarregar um animal prostrado debaixo de sua carga (a mitsvá
maior) e ajudar um inimigo a carregar um animal (a mitsvá menor). Nossa
tendência natural seria ajudar primeiramente o amigo, já que a mitsvá de
descarregar um animal arriado é mais importante. Mas, neste caso, devemos dar
prioridade ao inimigo: ajudar a carregar seu animal, mesmo sendo um inimigo. Com
isso, a Torá quer que vençamos nossa tendência natural, para que aprendamos a
controlar nosso yêtser hará – o instinto negativo – e, conforme explica o Rabênu
Chananel, façamos o “shalom”.
O Chazon Ish zt"l, em suas cartas (carta nº 3) escreve que toda a pessoa que
quebra seus vícios ganha a vida, pois a quebra dos vícios é o estran- gulamento de
uma vida superficial.
Ainda neste sentido, o Rabino Shelomô Wolbê Shlita, em seu livro “Alê Shur” (vol.
II) nos diz que as boas qualidades devem fazer parte integral dos indivíduos, a ponto
de transformá-los em outra pessoa.
Comentário 9:
Baú da Felicidade?
Esta semana nós convivemos com o episódio da Arca de Noé e o dilúvio (Teivat
Noach e o Mabul).
Curiosamente esta parashá da Torá tem muitos pontos em comum com a anterior,
Bereshit, que trata da Criação do Mundo.
Em Bereshit o mundo foi criado do nada e mantido por D-us; em Noach, D-us
"recria" o mundo após o dilúvio, prometendo "mantê-lo" em existência. Em Bereshit
vemos a obra de D-us; em Noach D-us dá existênica a tudo, graças a obra do
Tsadic, o justo Noach.
Nesta parte da Torá vemos a importância da ação positiva do homem mantendo o
mundo inteiro! Que privilégio e que responsabilidade! Outro aspecto interessante:
Após o dilúvio D-us precisou ordenar a Noach e a todos na Teiva (arca), para que
saíssem. Por que? Será que após doze meses enjaulados eles não queriam voltar a
ver a natureza? E qual foi a primeira ordem que D-us lhes deu ao sair? "Procriem-
se, multipliquem-se e preencham a terra!" - Por quê?
No Mabul, que durou cerca de um ano e pouco, a vida na Arca era um verdadeiro
"baú ela felicidade". O cordeiro podia viver com o lobo e a paz reinava em toda a
Arca.
Era um mundo surrealista, utópico, como na época de Mashiach. Com esta paz
milagrosa permeada da Futurística Luz Divina, quem ia querer sair e voltar ao velho
mundo, um mundo destruído e desolado? Só que D-us queria mais. Queria que
todos saíssem e transformassem este mundo desolado numa moradia perfeita para
D-us. Num sentido espiritual, o relato do Dilúvio representa a luta do ser humano
pela espiritualidade dentro de um turbulento mundo material. Teiva (arca), também
significa ''palavra". Há momentos em que deve-se refugiar das águas turbulentas
do dia a dia dentro das sublimes palavras de Torá e da Tefilá (oração) - porém o
objetivo maior é sair da Arca e transformar o mundo, preenchendo-o de vida.
Conta-se que quando a esposa de certo Rabino deu a luz ao seu nono filho, as
enfermeiras do hospital lhe perguntaram: "Quando você vai parar? Nove já não é o
suficiente? Qual é o número que lhe satisfará?" E ela disse: "Seis milhões..." Nossa
missão é preencher a tarefa que muitos de nossos ancestrais não conseguiram
cumprir, fazendo cada vez mais mitsvot e trazendo mais vida e mais Divindade a
este mundo sem fazer cálculos pretensamente "humanistas" pois nossa tarefa
Divina inclue trazer para este mundo todas as mitsvot e almas que precisam
descer, apressando assim a vinda e revelação de Mashiachl
Comentário 10: