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Livro 1 - Bereshit

Parashá Nôach - Noah (Noé)

Comentário 1:

Noach constrói a Arca (6:9-22)


O Altíssimo viu que "toda a Terra estava corrompida" e por isso ordena a Noach,
membro da décima geração da humanidade e único justo em sua geração, que
construa uma arca por meio da qual ele, seus familiares mais próximos e
representantes de todo o reino animal, serão salvos de um dilúvio que inundará o
mundo.
O Eterno ordena que a arca contenha compartimentos de madeira de cipreste e que
seja untada por dentro e por fora com betume.
A arca media 300 amót (uma amá ou côvado = cerca de meio metro), 50 amót de
largura e 30 amót de altura.
A estrutura da arca afinava para cima até chegar a uma clarabóia com uma ama
quadrada de perímetro.
A arca era dotada de uma janela com abertura lateral e possuía três andares.
O andar superior era destinado a acomodar pessoas e mantimentos; o
intermediário abrigava os animais; e no inferior ajuntavam-se os dejetos. D'us
ordenou a Noach que suprisse a arca com víveres para uma longa permanência em
clausura.

Construindo e adentrando a Arca (7:1-16)


Levou muito tempo para a arca ser construída: 120 anos.
Isto para permitir que aquela geração pecadora retornasse a D'us - que fizesse
Teshuvá ao se arrepender de seus atos malévolos.
Contudo, os membros daquela geração não deram ouvido às admoestações de
Noach e, além do mais, zombaram da construção daquela grande arca. Sete dias
antes do dilúvio, Noach é interpelado por D'us, que lhe ordena preparar-se para
adentrar a arca.
Com 600 anos de idade, acompanhado da sua esposa, filhos e noras, Noach se
posta diante da arca que construiu e recebe todos os animais que acorrem a ela
milagrosamente.
Seguida a ordem Divina, de cada animal puro (casher) e das aves puras (casher),
Noach toma sete machos e sete fêmeas.
Dos animais impuros (não casher), Noach toma um macho e uma fêmea. No dia 17
de Marcheshvan começa o dilúvio.

O Dilúvio (7:17-8:14)
O dilúvio durou quarenta dias.
A cada dia, a arca se elevava mais e mais sobre as águas que se acumulavam e
cresciam de volume.
Durante os 150 dias seguintes, as águas continuaram a subir, até chegarem à
altura de 15 amót acima do cume mais alto da terra.
Durante este período morreram todos os homens e animais que habitavam o
planeta.
Após este período de 150 dias, as águas começam a baixar.
A arca finalmente estaciona sobre o Monte Ararat.
Passados mais 40 dias, Noach abre a escotilha da arca e envia um corvo para
examinar a possibilidade de saírem dela.
O corvo volta de imediato, recusando a missão.
Sete dias mais tarde, Noach envia uma pomba.
Esta logo retorna por não achar um lugar seco para pousar.
Passados mais sete dias, a pomba é enviada novamente e demora um pouco a
retornar, voltando para a arca somente ao entardecer e carregando em seu bico
uma folha de oliveira.
Noach compreende agora que as águas baixaram por completo.
A pomba é enviada novamente após sete dias e não retorna à arca.
Noach remove a cobertura da arca e comprova com os próprios olhos que toda a
vida na terra havia sido destruída.

Uma nova ordem mundial (8:16-9:17)


O Eterno ordena a Noach que deixe a arca e dela retire todos os animais, para que
pudessem se espalhar pelo planeta, multiplicarem-se e recriar a vida no mundo.
Após emergir da arca, Noach erige um altar para fazer oferendas a D'us com as
espécies de animais puros que haviam entrado com ele na arca para servirem a
esse propósito.
Estas oferendas agradam a D'us e Ele se compromete a não mais destruir o mundo
por completo, mesmo que a humanidade volte a pecar.
O Altíssimo abençoa a Noach e a seus filhos, prometendo que nunca mais haverá
um dilúvio que destruirá o mundo.
Um arco-íris surge como sinal deste pacto. D'us permite comer a carne dos animais
com abate.

Noach se embebeda (9:19-29)


Noach ocupa-se de plantar vinhas; descobre o sabor refinado do vinho e se
embebeda com ele.
Um de seus filhos, Cham, descobre seu pai rolando nu em sua tenda e comete um
terrível ato contra ele.
Os dois outros filhos de Noach, Shem e Yefet, tomam uma capa e, andando de
costas, adentram a tenda para cobrir seu pai.
Ao despertar do sono causado pela bebida, Noach amaldiçoa o filho Cham e
abençoa a Shem e a Yefet.
Noach deixa o mundo aos 950 anos de idade.

O novo mundo (10:1-32)


A Torá relata brevemente, embora com detalhes, as gerações que descenderam de
Noach e de seus filhos.

A geração da divisão (11:1-9)


Aproximadamente um milênio após o dilúvio, os homens haviam se multiplicado,
mas falavam um único idioma e habitavam na mesma região. A geração desta
época teve a ideia de se rebelar contra D'us, de maneira a planejar erguer uma
torre tão alta que, através dela, pudessem eles alcançar os Céus a fim de batalhar
contra o Todo-Poderoso.
Todavia, D'us decide abortar esta tendência à união rebelde.
O Altíssimo divide a humanidade ao causar com que surjam diversos idiomas,
resultando em que houvesse uma falta de comunicação entre as pessoas.
Ele dissemina e dispersa os povos pelas regiões da terra.
Agora, a humanidade não mais conseguiria se unir para lutar contra seu Criador.
É devido a este incidente que aquela geração foi chamada de a "geração da
divisão".
O lugar onde os diversos idiomas foram criados, causando confusão entre os seres
humanos, recebeu o nome de Babilônia (do hebraico Bavel - confusão).

Avraham Avinu (11:10-32)


Após relatar o pecado e o castigo da "geração da divisão", a Torá volta a detalhar a
genealogia humana, centrando-se em Shem, filho de Noach.
A Torá detalha as dez gerações desde Noach até o nascimento do Patriarca
Avraham, que naqueles dias ainda se chamava Avram.
Avram, filho de Terach, se casa com Sarai, que conheceremos mais tarde como a
Matriarca Sará.
A Torá não conta sobre a vida de Avram durante esse período.
Contudo, aprendemos das palavras de nossos Sábios que a infância e juventude de
Avraham foram anos de especulação intelectual e teológica e de busca espiritual,
que culminaram no descobrimento do único e verdadeiro D'us.
Avraham dedicou muitos de seus anos de vida para lutar contra a idolatria e para a
divulgação do Nome do D'us Único pelo mundo.
A Torá conta, no final desta Parashá, que Terach e sua família - e com eles
Avraham e Sara - emigraram de Ur Casdim em direção à terra de Canaã.
O pai de Avrahann, porém, chegou apenas até Charan (na Babilônia), onde faleceu.

Fonte: do livro "Luz da Torá" do Rebe de Lubavitch

Comentário 2:

Proteja-se do Dilúvio da Vida

"Faz para ti uma arca"


Algumas gerações depois da criação do mundo, a Torá nos conta que D'us "viu que
era grande a maldade do homem na terra [...] e Se arrependeu de ter feito o
homem".
D'us quis então destruir tudo que criara.
Contudo, uma única pessoa Lhe agradou — Noach (Noé).
Noach era um homem justo; por isso, D'us decidiu salvá-lo e construir um mundo
novo a partir dele.
Para tanto, ordenou-lhe que fizesse uma arca a fim de proteger-se do dilúvio que
assolaria a terra.
Nela Noé deveria abrigar sua família e todos os animais, de modo que
sobrevivessem às águas.
O dilúvio aconteceu porque as pessoas não tomaram o caminho certo da teshuvá
(retorno, arrependimento) e continuaram praticando o mal, apesar dos avisos de
Noach de que, se não melhorassem seu comportamento, ocorreria o cataclismo.
Sabemos que a Torá não é apenas um livro de história.
Assim, que lição podemos extrair desse episódio?

A arca salvou Noach das águas destruidoras como um navio protege seus
passageiros ou sua carga das turbulências marítimas.
No dia designado para o início das chuvas, D'us mandou Noach entrar na arca,
dizendo-lhe: "Bô el hatevá — Vem à arca."
O Baal Shem Tov explica que a palavra tevá, geralmente traduzida como "arca",
também significa "palavra".
Portanto, D'us estava dizendo a Noach: "Vem à palavra", isto é, às palavras de Torá
e tefilá (oração), e elas te protegerão do dilúvio espiritual que aflige o mundo.
Nossa vida é repleta de "turbilhões" espirituais — obstáculos que dificultam nosso
serviço a D'us, principalmente os resultantes da preocupação em obter o sustento,
que ocupa a maior parte do nosso tempo e atenção.
Esses fatores constituem o "dilúvio" da nossa existência.
Como proteção contra tal cataclismo, a Torá recomenda: "Vem à tevá" — às
palavras de Torá e tefilá — e assim as águas não te atingirão.
A ligação com a Torá e a prática de suas mitzvot são fontes de valores sólidos e
verdadeiros, que facilitam nossa travessia por este mundo e nos habilitam a
enfrentar as dificuldades e desafios que ele nos apresenta a cada dia.

O Homem é responsável pelo Mundo

"E destruiu toda existência que havia sobre a face da terra, do homem até o
quadrúpede, até o réptil e até a ave dos céus; e foram destruídos da terra."

O evento de maior destaque nesta parashá é, sem dúvida, o dilúvio.


Uma vez que a humanidade adotara uma conduta antiética e imoral, D'us decidiu
destruir toda a criação e começar um mundo novo.
Todos morreram no dilúvio, seres humanos e animais foram igualmente castigados.
Compreendemos que a humanidade merecia punição por seu comportamento
inadequado, mas o que fizeram os animais?
Além disso, o homem possui livre-arbítrio e é plenamente responsável por seus
atos, enquanto o animal não tem escolha, é como D'us o fez.
Portanto, por que o mundo inteiro foi extinto, e não apenas o ser humano?
A seguinte parábola nos ajudará a responder à questão:
Certa vez, um rei mandou construir um magnífico salão para a festa de casamento
de seu filho.
Decorou-o com as mais lindas flores, cortinas e demais ornamentos, tudo da mais
alta qualidade e de rara beleza.
Porém, antes do casamento, o príncipe pecou.
Cometeu um erro tão grave, que seu pai condenou-o à morte.
Após a execução da sentença, o rei ordenou a destruição do salão, rasgou as
cortinas, quebrou todos os enfeites.
Perguntaram-lhe por que agia dessa maneira.
Afinal, seu filho pecara e de fato merecia o castigo; porém, que culpa tinham as
paredes do salão, as flores, a decoração, para que também fossem punidas?
O rei respondeu: Tudo havia sido feito para o meu filho. Agora que ele não existe
mais, nada é relevante, as coisas não têm a mínima importância.

Do mesmo modo, o mundo foi criado para o ser humano.


Assim, no momento em que ele foi condenado à morte, o mundo perdeu o valor e
tornou-se dispensável.
Vemos aí a grande responsabilidade do homem e a importância de sua conduta.
A existência do mundo depende de nós.
Consequentemente, com a prática de boas ações e a adoção de uma atitude mais
correta que a da geração do dilúvio, podemos trazer salvação e bênçãos para toda
a humanidade.

Era uma vez...


Um homem simples e elevado
O Rabino Shmelke de Nikolsburg zt"I era adepto do chassidismo.
Essa linha do judaísmo, fundada pelo Baal Shem Tov, não era bem-vista pelos
habitantes de sua cidade.
Por esse motivo, seu comportamento lhes parecia muito estranho.
Os líderes da comunidade então se reuniram e decidiram que ele não poderia mais
atuar no comitê rabínico local.
Em seguida, chamaram o shamash (secretário) e lhe ordenaram que fosse
transmitir a resolução.
O shamash, um homem simples e de pouca instrução, porém muito íntegro, ao
saber da deliberação, indagou: "Por que tomaram essa decisão?"
Os líderes responderam: "Não é da sua conta, simplesmente faça o que estamos
mandando!"
Contudo, ele tanto insistiu que acabaram lhe revelando a razão pela qual o Rabino
Shmelke seria impedido de exercer suas funções na cidade.
O shamash objetou: "Eu conheço esse rabino, ele é um grande tzadik."
Dado que o shamash era conhecido por sua pureza e sinceridade, perguntaram-lhe:
"Como você sabe disso?"
Ele explicou:
"Temos o costume de bater à porta das casas antes do amanhecer, chamando as
pessoas para a reza. De madrugada, quando eu chegava à residência do Rabino
Shmelke, sempre o encontrava estudando com um indivíduo que eu não conhecia.
Um dia, tomei coragem e perguntei: 'Quem é o sujeito que estuda com o senhor
todas as noites?' Ele respondeu: 'É o profeta Eliahu (Elias), zachur latov (de
abençoada memória).’
Certa vez, por acaso eu me atrasei e, quando me aproximei da casa do rabino,
avistei-o caminhando com duas velas acesas nas mãos, acompanhado de dois
homens — aquele que eu via diariamente e um desconhecido, que portava uma
coroa de ouro na cabeça.
Quando eles se foram, eu indaguei: 'Quem era aquele com a coroa na cabeça?' Ele
me disse: 'Era Menashe ben Chizkiáhu.'
'E o que fazia aqui com o senhor?' O rabino respondeu: 'Ele veio nos consultar
sobre uma questão haláchica (da lei judaica) que nos foi enviada: Um chassid foi às
casas de idolatria de sua cidade e quebrou todas as estátuas, imagens e objetos de
culto. Ele foi preso, condenado à morte, e a sentença foi executada. Na localidade
em que ele residia, há uma instituição de caridade que ajuda viúvas e órfãos
necessitados, de modo que a viúva do chassid recorreu a ela, pedindo assistência.
No entanto, não quiseram auxiliá-la, argumentando que, de acordo com seu
estatuto, a entidade só dava apoio a uma viúva caso o marido houvesse falecido
por causa natural, mas não se tivesse se suicidado. Uma vez que havia sido um ato
provocativo do próprio chassid que o levara à morte, era como se ele tivesse se
matado. A questão foi levada ao rabino da comunidade, que, não sabendo como
resolvê-la, encaminhou-a para Nikolsburg. Aqui, ela foi submetida à análise do
conselho rabínico. As opiniões estavam divididas, não se conseguia chegar a uma
conclusão. Foi nesse momento que me apareceu Menashe ben Chizkiáhu,
informando que sua alma havia reencarnado naquele chassid para corrigir o grande
pecado que cometera de colocar uma imagem de ídolo no Beit Hamicdash.'”
‘Por isso’, concluiu o shamash, ‘ele pedia ao Rabino Shmelke que autorizasse a
concessão do auxílio para a viúva.’
Quando acabava de contar essa história, o Rebe Bunim de Pshischa zt"I dizia:
‘Como são admiráveis a simplicidade e a humildade desse shamash! Toda noite, ele
tinha o mérito de ver Eliahu Hanavi e não sentia nenhum orgulho por isso. Apenas
louvava o rabino que era digno de receber o profeta para estudar com ele’.

Fonte: Livro "Dimensão Mística da Torá" do Rab. Daniel B. Fisch

Comentário 3:

A Torá declara: “Noé andava com o Criador (Bereshit 6:9)”.


Que lição para a vida a Torá está nos ensinando neste versículo?
O que significa que Noé ‘andava’ com D’us?

O rabino Ovadia Sforno, um dos grandes comentaristas da Torá (Bolonha, Itália,


1475-1550 E.C.), explicou que Noé andava nos caminhos de D’us, o que significa
fazer o bem aos outros.
Como?
As pessoas agiam de forma corrompida e Noé tentava ensiná-las como melhorar
seu comportamento.
Existem diferentes níveis ao se ajudar alguém.
Encontramos no livro Mishnê Torá (capítulo sobre Dádivas aos Pobres 10:714) de
autoria do Rambam (Maimônides) (Espanha 1194 EC Egíto
1270), que existem 8 níveis ao se dar tsedaká (a palavra em hebraico usada para
designar ‘caridade’.
Na verdade, tsedaká significa ‘justiça, correção’.
O nível mais elevado é ajudar a pessoa a arrumar um modo de conseguir seu
sustento sozinha.
Por que este é o nível mais elevado?
Quando alguém ajuda uma pessoa a ser autossuficiente, está ajudando a
não apenas uma vez, mas para o resto de sua vida.
Da mesma forma, quando ajudamos alguém a se tornar uma pessoa melhor, não a
estamos ajudando apenas por alguns momentos.
Estamos ajudando-a a conseguir boas realizações para toda sua vida.
Não só irá fazer muito mais boas ações, mas também influenciará positivamente
seus filhos e netos.
Quanto mais elevada a pessoa se tornar, mais compartilhará seus ideais com sua
família.
Assim estaremos ajudando também as futuras gerações desta pessoa! Vamos,
então, nos empenhar e nos esforçar para ajudar os demais a se tornarem melhores
pessoas!

Fonte: Do livro "Crescimento pela Torá" do Rabino Zelig Pliskin

Comentário 4:

Descanso - Tranqüilidade e Serenidade

A Parashat Bereshit terminou com a seguinte frase: “Venôach matsá chen beenê Hashem”
(Bereshit 6:8) – E Nôach encontrou graça aos olhos do Todo-Poderoso.

Nossos sábios nos dizem que são muitas as razões pelas quais Nôach encontrou graça aos
olhos do Criador. O Zôhar Hacadosh diz que é porque Nôach era um homem nôach –
sereno. Quem não gostaria de encontrar graça aos olhos do Todo-Poderoso? Com Nôach
aprendemos que ele conseguiu por ser tranqüilo, sereno.

Analisemos estão o conceito de menuchá – descanso, tranqüilidade, serenidade. No final da


Criação a Torá nos relata: “Vaychulu Hashamáyim vehaárets vechol tsevaam, vaychal
Elokim bayom hashevií...” (Bereshit 2:1-2) – Foram (assim) completados os Céus e a Terra
e todos os seus exércitos (componentes). Com o sétimo dia D’us terminou... O
TodoPoderoso conclui a Criação com o Shabat. O exegeta Rashi nos explica que D’us
percebeu que faltava a menuchá (descanso), que veio com o Shabat.

Em princípio, poderíamos pensar, que o termo menuchá refere-se ao descanso físico, porém
nossos sábios entendem que menuchá é o descanso espiritual – o Shabat é um descanso
espiritual. Conforme consta no Seforno (comentarista clássico da Torá) em Parashat Vaychi
(Bereshit 49:15), comentando sobre a bênção que Yaacov Avínu deu a seus filhos: na
berachá que coube a Issachar consta “Vayar menuchá ki tov”

– E viu que o descanso era bom. Seforno nos diz que esta frase se refere ao fato de que
Issachar percebeu que por intermédio do conhecimento das muscalot (sabedoria) atinge-se
o descanso, que é a tranqüilidade e serenidade. Por isso, a tribo de Issachar veio a assumir
no futuro, o estudo da Torá integral-mente, conforme consta: “Vayet shichmô lisbol” –
Prontificou-se a assumir o jugo da Torá.

Como nossos sábios nos dizem que o estudo da Torá enfraquece o corpo, a menuchá que
este estudo nos traz é o descanso espiritual. Por intermédio do conhecimento da Torá, a
alma ganha seu alimento e fica preenchido o vazio interior, proporcionando-nos a
tranqüilidade necessária para enfrentarmos os inúmeros compromissos materiais e
espirituais da vida.

Nôach realmente necessitava de muita serenidade, pois a construção da arca levou 120
anos. Depois disso, houve toda a preocupação de abastecer a arca com provisões para uma
estadia de doze meses dentro dela, a preocupação de selecionar os animais a serem
levados, e posteriormente, durante todo o período dentro da arca, o trabalho de, ele
próprio, alimentá-los.

Todos esses fatores demonstram que o Zôhar Hacadosh, ao dizer que Nôach era um homem
“nôach” (palavra que deriva de menuchá), não era porque ele fosse passivo ou descansasse
muito fisicamente, porque trabalho não lhe faltava. O Zôhar o chamou assim pelo fato de
Nôach possuir a serenidade e a tranqüilidade espirituais que todo indivíduo necessita em
seu dia a dia.

Esta menuchá pode ser alcançada por intermédio do estudo da Torá, da prática das mitsvot
e do bitachon (fé e segurança no Todo-Poderoso). Como diz o Rei David: “Al mê menuchot
yenahalêni... gam ki elech beguê tsalmávet lô irá rá ki atá imadi” (Tehilim 23) – D’us me
guia com tranqüilidade... e mesmo em momentos de perigo não temo o mal, pois o Todo-
Poderoso me acompanha. A serenidade é, portanto, algo que pertence ao espírito, e quando
lhe são supridas as necessidades, poderá transmitir ao indivíduo a tranqüilidade necessária.

Fonte: Do livro "Hamussar Vehadáat" do Rabino Avraham Yafan

Comentário 5:

Esta Sichá [comentário] engloba duas lições da Sidrá desta semana: a virtude de
Shem e Yefet em cobrir a nudez de seu pai, desviando os seus olhos dele; e o uso
de um extenso eufemismo em lugar da palavra "impuro", que denota a necessidade
do uso de delicadeza na palavra.
Ela então resolve o paradoxo que, por um lado, não devemos notar as faltas e
desvios dos outros, enquanto que, por outro lado, devemos nos preocupar em
tentar corrigir os seus erros.

Pureza de palavra e de visão


No versículo na Sidrá [ordem / parashá] desta semana:
"Dos animais puros, e dos animais que não são puros (dois de cada vieram a
Noach)", o Talmud comenta: "Uma palavra indelicada jamais deve sair dos lábios
do homem, pois a Torá sai de seu caminho e lança mão de oito letras adicionais
para evitar uma palavra desagradável".
Rashi explica que a palavra “Tamê” [Palavra Hebraica que denota a condição
positiva da impureza (em vez da negação da pureza)] teria economizado oito
letras no lugar da frase "que não são puros".
Sendo a Torá sempre a mais concisa possível, a mensagem contida nesta elaborada
frase é que o discurso da pessoa deve estar sempre isenta de expressões
impróprias.
Além das instruções acerca da fala, a Sidrá também traz uma lição sobre a visão.
Shem e Yefet eram tão cuidadosos em não olhar para a nudez de seu pai Noach
que eles "andaram virados para trás, e cobriram a nudez de seu pai". E a
recompensa prometida enfatiza a sua virtude: "Bendito o Eterno, D'us de Shem, e
seja Canaan servo deles. Engrandeça D'us a Yefet, e habite em tendas de Shem".
Porém a história é um tanto quanto enigmática.
A partir do fato de que Shem e Yefet "andaram voltados para trás", fica bastante
claro que eles não viam o estado em que estava o seu pai.
Por que, então, a Torá acrescenta as, aparentemente redundantes, palavras: "não
olhar para a nudez de seu pai"?
O espelho que reflete as falhas
Há um dito do Baal Shem Tov que se uma pessoa vê alguma coisa errada com
alguém, este é um sinal de que ela própria tem uma falha similar àquela.
Ela se vê em um espelho - se o rosto que aparece refletido não estiver limpo, será
o seu próprio rosto que está sujo.
Podemos agora perguntar: Por que a pessoa não consegue enxergar uma falha real
em outrem sem estar ela própria falhando?
A razão é que a Divina Providência está presente em tudo que acontece.
Se enxergamos o mal em alguém, isto também tem um propósito Divino, e serve
para nos mostrar as nossas próprias falhas que devem ser corrigidas. E nós
precisamos que nos sejam mostradas as nossas mazelas de forma indireta, pois "o
amor cobre todas as transgressões", e o amor próprio é sempre forte.
O homem é cego às suas próprias limitações.
Ele deve enxergá-las estampadas em outrem, forçando-o a refletir sobre si mesmo
e ver as suas contrapartidas em sua própria vida.
Porém, a tarefa do judeu não é apenas o auto aperfeiçoamento, mas tam-bém a
melhoria dos outros: "Certamente haverás de repreender o seu amigo, até mesmo
por uma centena de vezes".
Então, certamente, ao enxergar as mazelas de seu amigo, a Providência faz com
que ele ajude aquela pessoa a se corrigir, e não apenas olhar para dentro de suas
próprias fraquezas.
De forma mais categórica, um judeu é um fim em si mesmo, e não apenas um meio
para que outrem usufrua.
Como é possível, então, que nos seja pedido usar um amigo para os nossos
próprios propósitos?
E isto sem qualquer benefício àquele amigo em questão?
Se assim for, talvez a razão para que notemos a falha não seria, pois, apenas para
beneficiar o amigo, e não que nós também tenhamos a falha?

Notando e corrigindo
Para que possamos entender isto, devemos nos referir à continuação da seguinte
citação que encontramos no Talmud: "Um homem deve sempre falar usando
expressões apropriadas."
O Talmud, depois de responder a uma questão relativamente casual, pergunta:
"Mas não é que podemos encontrar na Torá a expressão `Tamê'?" (que é
exatamente o termo que nos foi instruído evitar).
Isto é estranho.
A palavra "Tamê" pode ser encontrada em mais de cem lugares diferentes na Torá!
Trata-se de uma questão tão óbvia que, certamente, deve ter surgido
imediatamente, e não depois de um ponto de menor relevância.
Nem o tom de surpresa da pergunta parece ser apropriado a uma objeção assim
tão direta.
A explicação é que, em termos legais (haláchicos), a necessidade de clareza e total
ausência de ambiguidade tem mais valor do que os aspectos de propriedade; e é
assim, portanto, que "Tamê" é empregado.
No entanto, em contextos narrativos, a preocupação com expressões delicadas
compensa descrições verbais mais extensas acerca desses eufemismos.
Assim, na Torá o uso de palavras como "Tamê" não contradiz o princípio de que,
sempre que possível, devemos empregar a frase mais delicada.
E o Talmud coloca a sua objeção desta forma porque a palavra "Tamê" somente é
usada raramente nas seções narrativas da Torá.
Na verdade, mesmo nas seções haláchicas, quando a lei não se refere diretamente
à impureza, mas a menciona apenas de passagem, a Torá, ainda assim, prefere
usar o eufemismo.
Isto se aplica não apenas à fala, mas também à visão.
Quando a pessoa vê um judeu fazendo algo errado, a sua primeira preocupação
deve ser a de procurar a "halachá" (i.e., a obrigação) dela esperada - ou seja, que
ela faça uma reprovação a ele e tente, com tato e com delicadeza, corrigir os seus
modos.
Porém, quando a pessoa vê este erro não como algo direcionado a ela mesma (i.e.,
algo que ela deve corrigir), mas sim como um deslize de seu camarada (quando a
sua atitude é crítica, mas sem ser construtiva), isto evidenciará que se trata de um
"espelho", e que é ela mesma quem está em falta.

A virtude de Shem e Yefet


Isto explica porque a Torá, depois de dizer que Shem e Yefet viraram seus rostos
para trás, acrescenta: "e a nudez de seu pai não viram".
Fica, aqui, enfatizado que não apenas eles não o viram (fisicamente); eles, sequer,
estavam conscientes de sua falha como tal - eles estavam preocupados apenas com
aquilo que deve ser feito (que era o ato de cobrir o pai com um manto).
Entretanto, o terceiro irmão, Cham, viu o seu pai e, assim, disfarçou as suas
próprias falhas.

A história nos transmite a lição moral de que não apenas não devemos falar sobre
as limitações dos outros (tal como fez Cham ao contar aos seus irmãos sobre o seu
pai), mas também nem mesmo pensar sobre elas, exceto no caso de estar em
nossas mãos consertá-las ou corrigi-las.
E todo aquele que observar isto, participa da recompensa, "Abençoado seja o
Eterno, D'us de Shem" e "Queira D'us engrandecer Yefet", e contribui para a união
e o amor fraternal de Israel que trará Mashiach ao mundo.

Fonte: Do livro "Lições da Torá" do Rab. Jonathan Sacks

Comentário 6:

A sidrá desta semana relata-nos detalhadamente as causas e conseqüências


daquele acontecimento dramático conhecido por Dilúvio, termo que entrou no
nosso vocabulário, como sinônimo de catástrofes de tremendas proporções.
A Torá descreve que o mundo criado por D'us era maravilhoso, mas que os homens
dessa geração eram ruins, e sua maldade foi a causa da destruição dessa grandiosa
obra Divina.
De nada lhes valeu a inteligência que herdaram de Adão depois deste ter comido da
árvore da sabedoria; de nada lhes ajudaram as descobertas de Tuval-Kain no
campo da técnica e indústria; para nada serviram os aperfeiçoamentos introduzidos
por Iaval no campo da agricultura e economia; também a arte da música,
descoberta por Iuval, em nada os enobreceu; ao contrário, dia a dia aumentava a
sua decadência moral; com o progresso das descobertas e civilização agravaram-se
seu orgulho e sua voluptuosidade; mais eles se aperfeiçoaram na descoberta de
instrumentos mortíferos e destrutivos.
Sendo assim, D'us decidiu destruir a obra das Suas mãos através de um dilúvio, no
qual desaparecessem todos os seres vivos, e a terra fosse inundada.
Um único homem justo, correto e íntegro dessa geração conseguiu salvar a
humanidade inteira de uma ruína completa.
Noé demonstrou que o homem possui forças morais suficientes para conservar a
sua integridade ética em todas as circunstâncias da vida, e não precisa sucumbir às
influências malévolas e prejudiciais do ambiente em que vive.
D'us decidiu salvar Noé do dilúvio, na esperança de que as gerações vindouras
seriam mais retas, mais incorruptíveis.
E assim foi.
Os filhos de Noé começaram a reconstruir um novo mundo, uma nova cultura, uma
nova civilização.
Mas a esperança que a humanidade se tornasse melhor do que aquela que o dilúvio
devastara não se realizou.
Aparece o rei tirano Nimrod que oprime a sua geração; estoura uma revolução
contra D'us; os homens não se contentam mais com o espaço vital da terra, e
querem, através da torre de Babel, conquistar o céu; aparecem os malvados de
Sodoma e Gomorra, que com suas ações ignóbeis se tornaram até hoje o símbolo
da perversidade humana, etc.
E os comentaristas perguntam: "Desde que a própria Torá relata que a geração
depois do dilúvio não melhorou, e não se modificou na sua maneira de viver e de
agir, que não aprendeu nada dessa terrível lição, por que esta geração pôde viver e
a outra não?"
E os mestres respondem: "De fato, a vida moral desta gente não melhorou, mas
aconteceu algo que impediu a repetição da destruição do mundo.
Pois logo que Noé e os seus saíram da arca, ele construiu um altar e ofereceu do
mesmo sacrifícios a D'us. Observando este gesto generoso, D'us fez com Noé e
seus filhos um pacto, prometendo-lhes que nunca mais castigaria o Universo por
causa do miserável comportamento do homem.
E como sinal visível desta aliança, foi posto no céu o arco-íris do qual D'us disse:
'Cada vez que aparecerem na Terra as nuvens escuras da desumanidade, aparecerá
nas nuvens celestes o arco-íris, e eu me lembrarei da aliança, e nunca mais haverá
um diluvio'."

Mas outros intérpretes da Bíblia não se contentam com esta explicação, achando-a
muito vaga e abstrata demais.
E não hesitam em indagar: "Aceitando a tese acima mencionada, resultaria que o
mundo já deveria ter sido destruído várias vezes, e se isto não aconteceu, é
somente graças ao sacrifício de Noé; mas que espécie de sacrifício foi este que
possuiu a força de impedis para sempre uma nova catástrofe mundial? E mais: será
que D'us, como a profecia e a filosofia judaica O concebem, tem prazer em
sacrifícios materiais de qualquer espécie?"
Mas o Midrash também desta vez esclarece-nos de maneira transcendente sobre
essa pergunta, "Não foi o sacrifício de Noé (para os povos primitivos o sacrifício de
um animal era a única maneira concreta de expressar a sua gratidão e
reconhecimento) que agradou a D'us; ELE contemplou a geração de Abraham
Avinu, que pela sua fé em D'us foi atirado em um forno de cal; viu os três heróis
Hananiá, Mishael e Asariá, que pela mesma razão foram lançados em um forno de
cal; Ele ,admirou a geração das Cruzadas, da Inquisição, que pela santificação do
SEU nome se deixaram queimar vivas nas fogueiras."
E para melhor ilustrar as suas palavras, o mesmo Midrash cita um exemplo
alegórico: Um rei quis construir o seu palácio no mar, mas para isso faltavam-lhe
os alicerces necessários. De repente encontrou uma garrafa cheia de perfume, e foi
sobre essa garrafa que ele edificou o seu palácio.
O mundo — continua o Midrash — está em cima de mares.
E como explicar que mesmo assim ele ainda exista?
Isto só acontece graças aos méritos daqueles que em cada geração não deixam e
não deixarão de procurar D'us.
O que é que este belo Midrash nos ensina?
As gerações até Noé eram corruptas.
A sua maior infelicidade consistia no fato de não terem tido em seu meio um único
homem grande e íntegro, capaz de sacrificar-se para elevar a sua geração da
decadência moral.
Para sermos corretos, existia um homem dessa pujança, chamado Hanoch; mas ele
excluiu-se da coletividade e pouco ou nada se importou com a desmoralização que
o rodeava.
Quando Noe saiu da arca, e observou a destruição causada pelo dilúvio, não se
limitou a verificar o fato consumado.
Ele sabia qual fora a causa, e compreendeu a necessidade de fazer sacrifícios para
salvar a sua geração da queda.
Depois de Noé, aparece Abraham Avinu, que não se contenta em ser ele próprio
justo e correto, peregrinando de lugar em lugar, pregando, ensinando, deixando-se
atirar à fogueira; e, com o sacrifício da sua própria vida, ele quis servir de exemplo
vivo, mostrando que para elevar a humanidade a um nível ético não existem
obstáculos de dedicação que sejam grandes demais, ou limites de renúncias caros
demais.
E parece-nos que não precisamos citar mais provas para demonstrar que o exemplo
de Abraham nos serviu de lição; quantas vezes, durante a nossa história milenar, a
nossa fé em D'us, a nossa convicção em ideais elevados, não foram já submetidos
à prova de fogo?
Não é necessário um dilúvio, não é indispensável a destruição do mundo; D'us viu
que há um remédio: Indivíduos são capazes de salvar o mundo.
De fato o mundo está construído sobre um mar bramante de trivialidade e conduta
ignóbil, mas o fundamento deste mundo e o frasco de perfume, o aroma destes
grandes ideais que animam em cada geração a alguns elementos seletos.
E é este o sentido das palavras do Rei Salomão nos Provérbios:
"Vetzadik iessod olam" (o justo é a base do mundo, ou conforme outra tradução, "o
justo tem perpétuo fundamento"). (Provérbios, 10:25).
A ele foi dada a força moral para livrar o mundo de todas as iniqüidades. Várias
vezes acontece que nuvens carregadas obscurecem o firmamento, indicando a
aproximação de um terrível ciclone.
Mas de repente aparece um raio luminoso, um arco-íris que aclara a escuridão.
E foi isto que D'us indicou a Noé e às gerações vindouras.
Cada vez que o mundo e a humanidade se encontrarem à beira do desespero,
engolfados na densa escuridão da imoralidade e desarmonia, aparecerá um arco
luminoso, um homem justo que com a grandeza de seu espírito salvará a sua
geração.
Aprofundando-nos nas palavras dos Mestres, descobrimos todo o segredo da
existência do mundo.
Só verdadeira abnegação e dedicação da parte de grandes individualidades
sustentam o mundo; só verdadeiros sacrifícios no altar de nossos ideais e
convicções éticas, elevam e enobrecem a vida humana.

lsh tsadik tamim haiá bedorotáv (Noé foi um homem justo e integro nas
suas gerações).
O mundo que D'us criou era sob todos os aspectos uma obra-prima, belo e bom:
faltava só uma única coisa, a coisa principal; faltava a essência da Gênesis, o
homem.
O homem foi idealizado para se tornar a razão, o sentido máximo, o propósito
elevado de toda a criação.
Mas aconteceu que esta obra-prima chamada "homem" não prestou; foi um fiasco
que logo nos primórdios de seu aparecimento se desvirtuou, desfigurando e
deformando a imagem Divina à semelhança da qual fora criado.
Mas qual a causa desta falha?
Como explicar a sua corrupção, a sua decadência moral?
Acaso faltaram aos primeiros homens, sabedoria, instrução ou cultura? Acaso
praticaram os seus delitos por ignorância, por atraso mental?
Lendo com atenção o relato da Torá, não encontraremos indícios negativos capazes
de justificar ou de atenuar o seu vil procedimento.
Ao contrário, constata-se além de qualquer dúvida, que já haviam progredido muito
no campo do saber e da civilização.
O relato da Torá menciona muitas descobertas.
Iaval descobriu como aproveitar a criação do gado para as comodidades e para o
sustento do homem e como aplicar o couro para fins de habitação; já se valiam da
pecuária e da agricultura; Tubalcain, o irmão, descobriu a fundição do ferro, a
purificação do cobre, já fabricava instrumentos de lavoura e da indústria pesada.
Mas esta gente primitiva não primou somente por descobertas materiais, industriais
e técnicas; eles se dedicaram a divertimentos artísticos e culturais.
Assim encontraremos Iuval, o descobridor das artes musicais e diversos
instrumentos como a harpa e a flauta; quer dizer que já nesse tempo havia
civilização, ciência e arte.
Acreditando no minucioso relato da Torá, indagamos com maior veemência: por
que veio então o dilúvio?
A era em que vivemos, com as atribulações constantes, faz-nos compreender,
como nunca antes, as interpretações profundas e concretas dos mestres.
A nossa geração, infelizmente, compreende melhor as causas do dilúvio. Devemos
confessar, e confessamos isto sem a intenção de menosprezar a importância dos
progressos técnicos e científicos, que a causa principal da decadência das gerações
anteriores a Noé foram as suas descobertas, seu intelecto aperfeiçoado, o
progresso da sua ciência.
Quanto mais complexas as descobertas, tanto mais perigosas e ameaçadoras elas
se tornaram para a sua existência; inteligência e civilização nem sempre garantem
ou proporcionam o bem-estar da humanidade.
Progresso técnico e descobertas científicas manejadas por homens sem escrúpulos
são uma maldição e não uma bênção.
E o exemplo mais crasso da nossa afirmação foi a Alemanha nazista, onde, perante
os olhos do assim chamado mundo civilizado, este povo de cientistas, filósofos,
poetas e artistas se transformou em bestas ferozes, praticando atrocidades e
crimes bárbaros contra gente inocente, jamais imaginados e cometidos por
qualquer outro povo.
Toda a sua educação e o seu alto nível cultural e científico não os impediu de agir
contra os princípios elementares do humanismo.

“Ki mala haarets khamas” – ‘porque a terra se encheu de roubo.’


O termo khamás é também interpretado como sendo violência, idolatria, incesto e
homicídio.
Quão baixo deve ter caído esta geração de Noé, para que o Criador do Universo,
depois de ter proclamado vehiné tov meod, (eis que tudo é muito bom) exclamasse
ki nikhamti ki assitim (porque me arrependi de os haver criado)!
Cada um de nós, ao queixar-se da realidade cruel em que vivemos, sabe que a
condição essencial para transformar a realidade é enfrentá-la, o que significa, da
mesma forma, reconhece-la.
Enfrentando a era em que vivemos com coração quente mas com raciocínio frio,
ousamos perguntar: Acaso a humanidade não se encontra perante um dilúvio,
dilúvio não de água, desencadeado pela força da chuva, mas sim um dilúvio da
bomba atômica solta por homicidas loucos, por modernos idólatras que adoram a
brutalidade e a força física e que negam a existência de D'us?
Só essa interpretação dos mestres seria uma belíssima lição.
Mas a parashá desta semana vai ainda mais além, e esclarece que aquele que teve
influência educadora na sua geração, bem como nas gerações vindouras, não foi
um Führer, um "homem forte" de um partido político-totalitário, que se considerava
onipotente e perante quem os seus lacaios se curvavam e obedeciam cegamente.
O protagonista do relato da parashá é um tsadik tamirn, um homem justo, correto,
íntegro, não um racionalista, mas sim um homem ético.
Aquela ética que deve operar em todas as circunstâncias, que é capaz de dominar
os instintos baixos da natureza humana.
O homem não é escravo da natureza, ele não se deve deixar subjugar pelo instinto
abominável; foi-lhe outorgado o livre-arbítrio, que o torna responsável pelos seus
atos.
O progresso científico sem ética, sem justiça absoluta, não aliviará o mundo das
constantes calamidades que nos apoquentam.
Só o predomínio da moral e da ética são garantias de que não haverá mais dilúvios
de qualquer espécie.

“Ele toldot Nóah, Nóah ish tsadik tamim haiá bedorotav, et Haelokim
hithalékh Nóah” – ‘Estas são as gerações de Noé, Noé foi um homem justo,
perfeito nas suas gerações: com D'us andou Noé.’
Por que — pergunta o Midrash — menciona a Torá, numa única sentença, três
vezes o nome de Noé?
Porque, respondem os Mestres, -.Noé viu três mundos: um mundo habitado, um
destruído, e o terceiro reconstruído após o dilúvio.
Dez gerações passaram desde Adão até Noé.
Dez gerações inteiras, e tudo que a Torá relata a seu respeito, nada mais é do que
vaikhi (viveram), Vaioled banim ubanot vaiamot, tiveram filhos e filhas e
morreram.
Que vida levaram estas dez gerações?
Quais foram suas ações?
O que criaram de importante que os ligasse historicamente às gerações vindouras?
Nada disto está mencionado na Torá.
A história é um painel de luta humana para o desenvolvimento do mundo. Os feitos
de cada geração são as cores com que este quadro é pintado. Cada acontecimento
de uma certa importância para as gerações futuras é anotado, a fim de facilitar o
processo de seu próprio desenvolvimento. "História universal", diz o filósofo
americano Emerson, "é uma crônica na qual são transmitidas as heranças que uma
geração lega à outra".
Aquelas gerações que não contribuem nada para o futuro, o historiador rejeita,
porque a sua vida não é bastante interessante para ser fixada na história.
Só depois que Adão e Eva são expulsos do Gan Éden, e uma "espada ameaçadora"
fica pendurada sobre o ets hakhaim (árvore da vida), de forma que para que se
possa gozar do fruto desta árvore, esta espada tem que ser vencida, só depois
deste processo começa a desfolhar-se o livro da história humana.
Sefer toldot haadam (livro cronológico do homem).
Quão bela e profunda é a observação do Midrash: “Eilu toldot, veein harishonot
toldót” - isto sim é história; o que precedeu é sem importância. Enquanto Adão e
Eva viviam no Gan Éden, gozando à vontade de todas as frutas deste delicioso
jardim, sem labor, sem esforço algum, a sua vida é terrivelmente monótona, vazia
e não tem nada de substancial que pudesse. interessar às gerações vindouras.
Felizes, diz um famoso sociólogo, os que não criam história, aqueles que gozam do
que já está pronto, preparado: só existem, mas não vivem.
O nosso saudoso Mestre, Grão-Rabino de Viena, Prof. Chajes (zikhrono livrakhá),
perguntou-nos quando estudávamos no Seminário Rabínico sobre a narração das
duas árvores do Paraíso: a árvore do saber (ets hadaat) e a da vida (ets ha-khaim).
"Será, perguntou o Mestre, que D'us prefere gente ignorante? Porque assim como
foi evitado que Adão e Eva comessem da árvore da vida, poderia também ter sido
obstruído o gozo da árvore do saber; não foi contra a vontade Divina; então, qual é
a razão da expulsão do Gan Éden?"
E Rav Chajes responde: "O pecado consistia em terem comido de uma fruta
madura que eles não plantaram, para a qual não contribuíram em nada, nem
esforço e tampouco cuidado."
E continuando na sua bela exposição de idéias, Chajes diz: "Cada ser humano deve
aspirar à aquisição de sabedoria, mas ela tem que ser obtida por esforço próprio,
pois somente o pensamento independente do homem, o reconhecimento pessoal, o
aprofunda-mento individual no estudo, tem valor e prevalece".
“Vaiar Elokim ki tov — ze gan-eden, vehine tov meod ze gueihinam” – ‘D'us
reconhece que o Paraíso é bom, mas que o gueihinam é muito bom.’
Este midrash é muito difícil de compreender e tem servido na boca dos ignorantes
como argumento claro de que a volúpia (sinonimizada por gueihinam) é muito
preferível ao gan-eden (Paraíso, lugar reservado no mundo do além para os justos
e corretos).
Tentaremos explicar o verdadeiro sentido deste midrash.
Para o indivíduo, pessoalmente, a vida no Paraíso é sem dúvida muito boa, muito
agradável.
Acaso poderá haver coisa melhor do que ter tudo que o coração almeja, e tudo isto
obtido sem preocupações, sem desgaste de energias, e gastar à vontade aquilo que
outros nos deixaram?
Mas para a humanidade na sua totalidade, para as gerações vindouras, o
gueihinam, as dificuldades e os obstáculos que a vida cotidiana cria, são melhores,
mais benéficos, por serem mais produtivos.
Lutar pelo sustento, ambicionar vencer os obstáculos que a vida e as circunstâncias
colocam no nosso caminho, o esforço físico e psíquico para nos tornarmos
elementos úteis ao meio ambiente que nos rodeia, isto é sucesso, isto é triunfo, isto
são vitórias que as gerações vindouras registram e que a história relata.
A vida feliz e despreocupada que as dez gerações de Adão até Noé gozaram não
valia a pena ser anotada; e aquilo que a Torá fixa deste período, não é nada
lisonjeiro, nada animador.
Ao contrário, é uma página bem triste.
Esta opulência, essa grande fartura, todo este bem-estar físico desviou-os do
caminho direito, ao ponto de a terra tornar-se ‘khamas’, desmoralizada, corrupta,
tornando-se um foco de roubo e de injustiça.
E o inevitável castigo, a conseqüência lógica foi o dilúvio.
Este acontecimento a história anotou como exemplo para as futuras gerações.
Circunstâncias — ensina-nos a Psicologia — causam profundas e radicais
impressões no caráter humano.
O rei Salomão pediu de D'us: Não me dês nem pobreza mas tampouco riqueza
demais. Ambas são capazes de desviar o homem do caminho direito.
Como autêntico homem íntegro, Tsadik tamim, só pode ser considerado aquele
que, em todas as circunstâncias da vida, conserva a estabilidade, o equilíbrio da
sua dignidade; que não se deixa abalar pela miséria e não envaidece pela riqueza.
Em todas essas circunstâncias e cambiantes radicais, Noé permaneceu o mesmo
tamim, reto e íntegro; a corrupção da "geração do dilúvio" não abalou a sua fé em
D'us; a ruína que lhe foi dado testemunhar não prejudicou a sua coragem e a sua
sinceridade.
E mal o mundo começou a restabelecer-se da fatalidade ocorrida, ele foi o primeiro
a trazer uma oferta de agradecimento, e a contribuir para erguer uma era nova.
Sabemos que há sempre uma conexão entre a parashá e a haftará.
E em relação com este Shabat encontramos no comentário do saudoso Grão-Rabino
Dr. Hertz, uma magnífica explicação, que não podemos deixar de citar. "D'us fez
uma aliança (b'rit) com Noé, de que nunca mais haverá um dilúvio, e como sinal
deste pacto foi estabelecido o arco-íris, o qual, ao ser observado, nos lembra o que
aconteceria se não existisse essa aliança. Esse pacto — escreve Rav Hertz — não
foi feito somente com Noé e a sua geração, mas sim com toda a humanidade, para
todo o sempre."
E é isso que o profeta Isaías sublinha na haftará desta semana.
O D'us de Noé é D'us do Cosmo.
Ele não está interessado na destruição daquilo que Suas mãos criaram com tanto
carinho; essa obra grandiosa e maravilhosa chamada "mundo", que lhes foi
entregue, só perdurará se vocês, criaturas humanas, não minarem os seus
alicerces.
O pacto que EU fiz com Noé é conhecido por b'rit Shalom pacto de paz, e Shalom
tem a sua origem etimológica no termo shalem, que significa "completo,
harmonioso, coerente".
A paz só pode ser obtida através da divulgação da sabedoria, do intercâmbio
cultural e científico entre os povos; e assim, dentro deste espírito, podemos melhor
compreender a exortação do profeta quando exclama: ‘se todos os teus filhos
forem versados nos ensinamentos do Eterno, então será grande e perpétua a paz
entre eles’.

Fonte: Do livro "Sermões" do Rab. Menahem Diesendruck

Comentário 7:

D’us instrui Nôach – o único homem justo num mundo consumido pela violência e
corrupção, a construir uma grande arca de madeira revestida por dentro e por fora
com breu. “Um grande dilúvio, diz D’us, varrerá toda a vida da face da terra; porém
a arca flutuará sobre a água, abrigando Nôach e sua família, além de dois membros
(macho e fêmea) de cada espécie animal.”
A chuva durou 40 dias e 40 noites, e as águas se agitaram por mais 150 dias antes
de se acalmarem e começarem a abaixar. A arca pousou sobre o Monte Ararat e de
sua janela, Nôach despachou um corvo, e depois uma série de pombos, “para ver
se as águas abaixaram da face da terra.” Quando o solo secou completamente – a
exatos 365 dias do início do Dilúvio – D’us ordenou a Nôach que saísse da teivá
(arca) para repovoar a terra.
Nôach construiu um altar e ofereceu sacrifícios a D’us, que prometeu jamais
destruir novamente a humanidade por causa de suas ações, e enviou o arco-íris
como testemunha de Seu novo pacto com o homem. D’us também ordenou a
Nôach para considerar a vida sagrada: o assassinato é considerado uma ofensa
capital, e também embora o homem tenha permissão de comer carne dos animais,
está proibido de comer carne ou sangue tirado de um animal vivo ou causar-lhe
qualquer tipo de sofrimento.
Nôach plantou uma vinha e ficou embriagado ao consumir o fruto de sua produção.
Dois de seus filhos, Shem e Jafet, são abençoados por cobrir a nudez do pai, ao
passo que seu terceiro filho, Ham, é amaldiçoado por tirar vantagem de sua
degradação.
Os descendentes de Nôach permaneceram um único povo, com uma só língua e
cultura, durante dez gerações. Então desafiaram o Criador, construindo uma grande
torre para simbolizar a própria invencibilidade; D’us confunde sua linguagem para
que “um não compreenda a língua do outro,” fazendo com que abandonem seu
projeto e se dispersem pela face da terra, dividindo-se em setenta nações.
A Parashah conclui com uma cronologia das dez gerações de Nôach a Abrão (mais
tarde Avraham), e a jornada desde o seu local de nascimento, Ur Casdim, para
Haran, a caminho da Terra de Canaã.

O poder das palavras e pensamentos


“A terra inteira tinha uma língua com palavras uniformes. Eles disseram: Vem,
edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume deverá alcançar o céu.”
(Gênesis 11:1,4)
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, criou o universo inteiro com sua palavra como o
verso diz: “Estas são as gerações dos céus e da terra, quando foram criados”
(Gênesis 2:4) A frase neste versículo, “eles foram criados” em hebraico é
“Bi’he’baram “, que pode ser dividido em duas palavras; Bi ‘ he Baram ‘ – o
significado oculto deste texto é que, no [hebraico] a letra “he”, indica que, Ele,
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, criou [o céu e a terra].
Segundo o exegeta, na Torah, esta letra “he” é escrita intencionalmente com uma
letra pequena, para chamar a atenção e apontar para essa interpretação (Rashi).
Rabi Nachman ensinou, que cada item físico no universo contém letras hebraicas
em sua natureza. A essência espiritual contida nestas letras que está associada a
cada item físico, é o que permite sua existência, vide: (Lekutei Moharan 18:6).
Isso funciona de forma muito parecida com os dígitos contidos em um computador
que permite ao computador realizar a sua programação.
D’us, o Sagrado abençoado Seja, criou este mundo, para que o homem, usando seu
livre arbítrio, pudesse aprender sobre D’us, o Sagrado abençoado Seja. Portanto,
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, deu ao homem, muito dos poderes que Ele
mesmo possui, mas em menor grau, especialmente o poder da fala, como diz o
verso diz:
“E D’us criou o homem à Sua própria imagem.” (Gênesis 1:27)
O poder da palavra que D’us, o Sagrado abençoado Seja, deu ao homem é tão
grande que assim como o próprio D’us, o Sagrado abençoado Seja, através da fala,
tem a capacidade de mudar o curso do universo, o homem também tem, como é
indicado pelos seguintes versos: “E ele [Josué] disse diante dos olhos dos israelitas:
Sol fique parado em cima de Givon; e você lua, no vale de Ayalon. E o sol se
deteve, e a lua parou até que o povo [os hebreus] se vingou de seus inimigos.”
(Josué 10:12-13)
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, nos deu este poder extraordinário para que
possamos experimentar e compreender um pouco mais sobre como Ele opera.
Através do poder da fala, todas as letras hebraicas que estão contidas em cada
item físico no universo podem ser manipuladas afetando assim o estado de cada
item físico, como já dissemos, funciona como um programa de computador.
O Ba’al HaTania ensina: “as palavras hebraicas contém sua força vital para cada
item no universo. Por exemplo, a palavra hebraica para pedra, ehven, contém a
força vital de cada pedra do mundo. O mesmo princípio pode ser aplicado a tudo na
criação.”
O sagrado Ari ensinou que as palavras podem ser comparadas às mãos. Assim
como as mãos são os mensageiros do coração, assim também as palavras são uma
extensão dos desejos da mente. Através da fala, somos capazes de revelar nossos
pensamentos a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, em oração [embora D'us saiba
cada pensamento que temos, Ele não reconhece até que verbalizamos em oração].
Funciona da mesma maneira como em nossas relações humanas, só recebemos
alguma coisa de alguém se pedindo o que queremos. Assim, através de uma
palavra somos capazes de expressar e satisfazer os desejos da mente, tal como as
mãos são capazes de levar fisicamente o que o coração deseja. O verso diz:
“Enquanto Moisés mantinha as mãos para cima [na oração - aqui as mãos são
sinônimos das palavras da oração pronunciadas por Moisés], Israel vencia [a
batalha contra Amaleque; porque as palavras das orações de Moisés agiam como
mãos que atraem o poder espiritual para baixo, para Israel desde o céu]. mas
assim que ele deixou suas mão abaixarem-se, devido a fadiga, a batalha favorecia
Amaleque “. (Êxodo 17:11)
A eficácia, o impacto, o resultados da fala humana são dependentes das intenções e
condições espirituais da pessoa – que pronunciou as palavras. O Tzadik (Justo) que
purificou sua mente, seus pensamentos, ações e discurso, unifica sua mente com
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, (que é chamado Tikun HaBris- retificação da
aliança que une o homem a D’us, o Sagrado Abençoado Seja) e pode, portanto, ter
acesso ao poder de D’us, o Sagrado abençoado Seja, permitindo-lhe, através de
suas palavras [discurso], realizar milagres e trazer as pessoas para mais perto de
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, (seu discurso é uma extensão da sua mente
santa). (2 Lekutai MoHaran 05:09)
Já um homem extremamente perverso, tem um grande poder em suas palavras
também, mas do lado negativo. Ao cometer grandes pecados [especialmente os
pecados sexuais], poluindo os seus pensamentos, ações e fala, um homem mau
conecta-se às forças do mal e pode acessar seus poderes para executar o mesmo
tipo de milagres, tal como o homem santo. Além disso, suas palavras têm o poder
de colocar dúvida na mente das pessoas, conduzido-as para longe de D’us, o
Sagrado abençoado Seja.
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, permite isso a fim de manter o equilíbrio de livre
escolha. Se os justos fossem os únicos capazes de realizar milagres, não teríamos
nenhuma escolha, em escolher o caminho certo. Portanto, D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, também deu esse poder para os ímpios, para obscurecer a
verdade, obrigando-nos a viver no mundo da livre escolha.
As palavras de uma pessoa mediana, não são tão poderosas e eficazes como a dos
justos ou dos ímpios. No entanto, as palavras da pessoa mediana ainda são muito
poderosas e têm um impacto profundo no mundo. Por exemplo, Rabeinu Nachman,
ensinou que o “lashon hará” [má fala], tais como calúnia, fofoca, linguagem chula
[palavrões, palavras obscenas], mentiras etc, que são proferidas em qualquer lugar
do mundo, provocam poluição espiritual para a atmosfera, que autoriza as forças
do outro lado, atrapalharem, tornando difícil para as pessoas se concentrarem em
assuntos sagrados. Porém; graças a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, “o oposto
ocorre quando uma pessoa profere palavras sagradas, como as palavras da Torah,
oração e louvor a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, e Seus caminhos”. (Lekutei
Moharan 63)
Sempre que uma pessoa fala, suas palavras tornam-se ligadas e transportadas por
uma parte de sua alma, que se destaca do corpo principal da alma e transmite as
palavras faladas através da atmosfera. Sendo assim, uma vez que a alma faz parte
do próprio D’us, o Sagrado Abençoado Seja, as palavras faladas são parte da
própria natureza Divina. É por isso que a fala é tão poderosa [e por que a Torah e
todos os sábios nos exortam a termos muito cuidado com cada palavra que
falamos]. (Lekutei Moharan 173) Rabeinu Nachman ensinou que as palavras não
afetam apenas os outros e o mundo inteiro, mas influencia a própria pessoa.
(Lekutei Moharan 51)
Como mencionado acima, a fala é transmitida por fragmentos da alma e, portanto,
parte integrante da alma. Então, quando alguém profere uma mentira, ela na
verdade danifica a sua própria alma. A alma também está fortemente ligada ao
sangue, como indicado no verso: “O sangue é a alma.” (Dt 12:23) e, portanto, está
envolvido na manutenção da saúde do corpo.
Quando a alma se torna danificada por meio da fala impura, o sangue é afetado
também e torna-se espiritualmente contaminado, possivelmente afetando a saúde
de uma forma adversa. Além disso, quando o sangue torna-se poluído, torna-se
difícil ser capaz de falar a verdade, é necessário purificar o sangue, fazendo
penitência e focando falar em santidade. (Lekutei Moharan 51)
Além disso, Rabeinu Nachman ensina que o corpo de uma pessoa pode ser
danificado por meio da fala imprópria se a pessoa reza sem sentimento, fazendo
com que sua alma se separe parcialmente de suas raízes, que vem de D’us, o
Sagrado Abençoado Seja. Essa separação parcial de D’us, o Sagrado Abençoado
Seja, torna sua alma e seu corpo cansado e exausto, cortando o seu entusiasmo,
fazendo com que seu serviço a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, se torne robótico.
É por isso que conversar durante a oração, pode realmente diminuir a capacidade
de uma pessoa servir completamente a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, com
grande devoção e com todo seu potencial. (Lekutei Moharan 67:9)
O Maguid de Mezeritch (principal discípulo O Baal Shem Tov) acrescenta; que todas
as palavras que falamos consomem energia espiritual da câmara celestial das
palavras. Da mesma forma, os pensamentos são retirados da câmara celestial dos
pensamentos.
Por exemplo, quando falamos em pureza, damos os nossos pensamentos para a
câmara celestial de palavras. Dessa forma, unimos a câmara de expressões com a
câmara de pensamentos, trazendo o bem para o mundo. Por outro lado, quando
falamos mal, trazemos toda sorte de malefícios ao mundo. Porque está escrito:
“Escolha a palavra inteligente.” (Jó 15:5) Este versículo vem nos ensinar que
devemos nos acostumar a ter bons pensamentos e falar boas palavras que nos
conectem ao reino celestial de amor e compaixão de D’us, o Sagrado Abençoado
Seja, tornando nossa vida mais agradável.
Aquele que tem maus pensamentos e má fala conecta-se ao mundo da aspereza,
atraindo para si mesmo as energias duras das decisões de D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, tornando sua vida dura e difícil. (Maguid D’varav Le Yaakov
42:29)
Rabeinu Nachman nos ensina que jamais devemos deixar uma palavra má sair dos
nossos lábios, nem de brincadeira. As próprias palavras podem causar grandes
danos e podem depois obrigar-nos a cumpri-las, mesmo se elas foram proferidas
em tom de brincadeira.
Está escrito que o rei Jeú disse: “Acabe serviu a Baal (o nome de um ídolo) um
pouco, mas Jeú vai servi-lo muito.” (2 Reis 10:18) Ele fez esta declaração apenas
para enganar os adoradores de Baal, como é explicitamente mencionado no
versículo seguinte – ele não tinha absolutamente nenhuma intenção de cometer
idolatria. No entanto, as palavras que ele proferiu foram sua queda – mais tarde ele
realmente cometeu idolatria.
A partir deste episódio, o Talmud deriva a lição de que, “A aliança é feita com os
lábios.” (Talmud: Sanhedrin 102, Moed Katan 18-A)

Como homens mortais acharam que poderiam derrotar o D’us Todo


Poderoso?
Agora que temos alguma compreensão do poder do pensamento e das palavras no
universo, podemos derivar algumas dicas sobre a rebelião pela geração das pessoas
que construíram a torre de Babel.
Baseados nos ensinamentos de Rabeinu Nachman e seu discípulo Rav Natan,
vamos explicar como essa geração de mera carne e sangue [homens mortais]
poderiam ter pensado em conquistar e derrotar o todo-poderoso D’us, o Sagrado
Abençoado Seja.
A forma, cor e textura de cada item físico no mundo reflete suas propriedades e
poder espiritual. O cérebro, que é quase todo branco, é o órgão através do qual
podemos mesclar e unir as nossas almas com D’us, o Sagrado Abençoado Seja, ou
nos distanciarmos d’Ele. Ora, a cor do cérebro indica que ele tem potencial para
purificar a alma, tornando-a “branca como a neve”, permitindo-lhe ser unificada a
D’us, o Sagrado Abençoado Seja.
A geração que morreu no dilúvio se rebelou contra D’us, o Sagrado Abençoado
Seja, por meio de imoralidade sexual flagrante. Rabeinu Nachman ensina, que o
sêmen, tem a cor do cérebro que é branco, indicando que cada gota de sêmen,
contém parte dos aspectos físicos e espirituais do cérebro. Portanto, por ter
relações sexuais ilícitas, tais como as relações homossexuais, adúlteras,
bestialidade, etc, o povo da inundação foi punido. O motivo foi porque seus
cérebros tornaram-se ligados às forças do mal. Isto permitiu-lhes aproveitar das
forças do mal e correr pelo mundo como quisessem, com a exclusão dos desejos de
D’us, o Sagrado Abençoado Seja, resultando em danos físicos e espirituais
tremendos para o mundo. O versículo diz: “Toda a carne havia corrompido o seu
caminho sobre a terra.” (Gen. 6:12) Este versículo se refere às relações sexuais
pervertidas de todas as espécies que foram perpetradas pela geração do dilúvio e
que as levou a romper seus laços com D’us, o Sagrado Abençoado Seja, e com a
própria vida, resultando na destruição global causado pela enchente.
Várias gerações depois do dilúvio, quando o mundo tinha se tornado repovoado, o
homem se rebelou contra D’us, o Sagrado Abençoado Seja, mais uma vez. As
pessoas pensavam que poderiam invocar o poder espiritual diante de D’us, o
Sagrado Abençoado Seja, porém conectando-se às forças do mal e alimentando
essas forças, que lhes dariam os poderes semelhantes aos poderes de D’us, o
Sagrado abençoado Seja, permitindo-lhes viver independentes dEle.
A geração do dilúvio tentou fazer isso através do poder espiritual contido na mente,
através do pecado sexual.
Mas a geração que construiu a torre de Babel tentou isso através de um meio físico
diferente – através de poluentes da sua fala, usando os blocos de construção de
toda a criação. Eles falaram com palavras arrogantes e blasfemaram contra D’us, o
Sagrado Abençoado Seja. É muito difícil para nós, vivendo nestes tempos, conceber
a ideia de pessoas que viam e sabiam como manipular a própria essência espiritual
dos atos físicos, tais como sexualidade e fala. É importante entender que as
pessoas dos tempos bíblicos eram todos cabalistas do mais alto nível. Eles
mesclavam a santidade e o mal, unindo o poder do pensamento e da fala. isto é
expressado, através de indícios de auta-tecnologia em tempos remotos.
As pessoas mais comuns percebiam o cosmos em um nível, que mesmo as pessoas
mais avançadas espiritualmente em nossos tempos não são capazes de entender.
Os cientistas e religiosos modernos interpretam estas ações e percepções como
loucura ou mera superstição. A sua zombaria, no entanto, é na realidade uma
demonstração de ignorância e visão nublada da realidade. Aquilo que nós rotulamos
como “antiga superstição” foi baseado em um conhecimento dos poderes espirituais
enraizados na mesma inteligência avançada que produziu proezas tecnológicas que
ainda não podem ser igualadas por nossa sociedade ai-tech.

O que foi a torre de Babel, afinal?


Para reforçar a sua rebelião, eles construíram a famosa torre composta de milhares
de tijolos. Até este episódio na história, cada pessoa só falava hebraico. A palavra
para tijolo em hebraico é “lavain”, que é derivada da mesma raiz da palavra
hebraica para o branco, “lavan”. Através de suas intenções, eles estavam tentando
injetar o mal nas letras que continham a essência espiritual dos tijolos, lavain. O
mal, então, infiltrou-se na essência espiritual da cor branca [lavan], através de
suas letras. Até que tudo no universo físico, ligado à cor branca ficou poluído,
especialmente o branco do cérebro de cada pessoa.
Ora, o intento era realmente maligno, pois quando os cérebros de todos, ficassem
poluídos, as energias espirituais de D’us, o Sagrado Abençoado Seja, teria que
alimentá-las, então, o poder Divino seria transferido para capacitar as forças do
mal. Assim, as pessoas teriam acesso a um lado corrompido do poder de D’us, o
Sagrado abençoado Seja, capacitando-os a viver independentes de D’us, o Sagrado
abençoado Seja.
Cada massa geográfica da terra é ligada a uma parte diferente do céu e ressoa com
a sua vibração única espiritual. A terra de Babel foi escolhida como o local para a
torre, porque as energias espirituais desta terra são uma mistura de bem e mal e
estão ligadas à mesma área do céu com a Árvore do Conhecimento do Bem e do
Mal. O povo queria usar as boas energias emitidas por esta terra para nutrir as
suas energias maléficas.
Precisamos entender que o mal não tem existência independente, sua existência
depende do que ela pode roubar do lado da santidade. Como tal, a natureza
espiritual de Babel era o ideal para eles, a fim de realizar seus objetivos.
Como explicamos acima, eles planejaram conectar as energias espirituais contidas
nos “tijolos”, para atrair as forças do mal. Isso permitiria que as forças do mal
tivessem um fluxo contínuo de nutrição extraída do lado do bem, dando ao mal a
resistência e a força máxima necessária para se rebelar contra D’us, o Sagrado
Abençoado Seja.
Uma vez que D’us, o Sagrado Abençoado Seja, criou o universo e o controlou
através da manipulação das letras hebraicas, eles tentaram poluir Suas palavras
[as palavras de D’us, o Sagrado Abençoado Seja], usando o hebraico com o
objetivo de permitir que as forças do mal tivessem acesso ao poder dessas letras. A
partir do momento que esses “tijolos”, que é o hebraico, ficassem sob o controle
das forças do mal, eles acreditavam que seriam capazes de privar D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, de Sua base de poder, e por fim, derrubá-Lo, causando-Lhe a
perda do Seu domínio sobre o mundo.
No entanto, eles não perceberam que D’us, o Sagrado Abençoado Seja, tem total
controle sobre todo o mundo, incluindo as forças do mal. Ele é mais poderoso do
que as palavras, pois Ele é a fonte de tudo. Para evitar mais danos, poluentes para
as raízes espirituais do mundo, D’us, o Sagrado Abençoado Seja, criou desunião
entre as pessoas, separando-os em setenta nações, dando a cada uma a sua
própria linguagem única, que não era o hebraico, logicamente.
Já que o hebraico é a língua com a qual o mundo foi criado, ele tem maior
capacidade do que qualquer outra língua a ser usada para manipular o universo
físico e espiritual. Assim, ao extrair da humanidade o conhecimento do hebraico,
impediria todas as pessoas que estão do lado do mal, de nunca mais se unificar em
uma tentativa de poluir espiritualmente o universo ou se rebelar contra D’us, o
Sagrado Abençoado Seja.

Toda linguagem [idiomas falado pelas nações], é baseada no hebraico, mas tem
efeitos menos potentes no mundo espiritual. Portanto, a oração é eficaz em outras
línguas além do hebraico, mas passa por canais inferiores. É por isso que
deveríamos verdadeiramente apreciar o privilégio de poder orar a D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, na língua mais poderosa e eficaz de todas, o hebraico.
Como dizemos em nossas orações: “Nós Te agradecemos, ó D’us, que nos escolheu
os judeus dentre todas as nações e elevou-nos acima de todas as línguas.” Agora
devemos perceber que nossas orações realizam grandes coisas no universo, ainda
que, devido à necessidade de manter um equilíbrio de livre escolha no mundo, os
resultados de nossas orações são geralmente invisíveis aos nossos olhos. Portanto,
não devemos desperdiçar uma oportunidade tão preciosa conversando durante as
nossas orações.
O sagrado Ari, diz que o povo judeu que serviu como escravos no Egito eram
reencarnações do povo que construiu a torre de Babel.
A fim de corrigir o pecado da construção da torre de Babel, D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, permitiu que os egípcios obrigassem os judeus a trabalhar com
tijolos e argamassa. Assim, eles poderiam libertar as centelhas sagradas dos tijolos
e purificar a brancura de seus cérebros, que tinham se danificado em sua
encarnação anterior.
Faraó tinha as mesmas intenções daqueles que construíram a torre de Babel, ele
queria poluir as “letras” do mundo para que então pudesse se rebelar contra D’us, o
Sagrado Abençoado Seja, exatamente da mesma forma como foi descrito acima. É
por isso que ele forçou os judeus a trabalhar com tijolos. Porém, vendo Faraó que
os judeus estavam à beira de serem resgatados, ele não deu aos judeus palha para
fazer os tijolos. Ele insistiu que a palha deveria vir do trabalho dobrado dos judeus.
Assim, o poder da santidade que estava sobre os judeus, se tornaria em
[reclamações], más palavras e os manteriam presos ao mal, impedindo os judeus
de serem resgatados. Mal sabia Faraó que quanto mais os judeus trabalhavam,
mais rapidamente eles traziam a redenção, pois quanto mais rápido fosse retificado
os pecados cometidos na encarnação anterior, mais rápido viria o livramento.
Portanto, podemos entender que os problemas que os judeus sofreram
especialmente nos últimos tempos, são apenas uma forma de apressar a redenção
final. Amém!
(Likutei Halachot: Choshen Mishpat: Hilchos Mekach U’Memk)
A história a seguir demonstra como cada palavra pode ser poderosa e importante.
Cada palavra de louvor a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, não importa o quão
simples seja a palavra, ela é muito preciosa aos olhos de HashÉm.
O Baal Shem Tov conta que uma vez, em seu aniversário, no dia dezoito do mês
hebraico de Elul, ele estava hospedado em uma pequena cidade em uma pousada
judaica. O gerente da pousada, um homem simples, mal sabia rezar e era incapaz
de entender o significado das palavras nas orações. No entanto, ele era um homem
dedicado e temente a D’us, o Sagrado Abençoado Seja.
Então, tudo que ele continuamente dizia era: “Bendito seja Ele *D’us, para
sempre!” Sua esposa, igualmente simples e piedosa, dizia: “Bendito seja o Seu
Santo Nome!” Neste dia particular, o Baal Shem Tov saiu para os campos para
meditar e para dizer Salmos. [Uma prática de todos os chassidim quando fazem
aniversário]. O Baal Shem recitava os Salmos e se concentrava nas combinações
dos santos nomes de D’us, o Sagrado Abençoado Seja, quando subitamente ficou
tão absorto em seus pensamentos que nem percebeu que o profeta Elias estava em
pé diante dele.
Elias, O Profeta, repreendeu o Baal Shem Tov como se segue:
“Aqui trabalham arduamente para se concentrar nos santos nomes de D’us, que
estão escondidos nos versos do livro de Salmos, enquanto Aharon Shlomo, o
gerente da estalagem, e Rivka Zlate, sua esposa, sabem sequer o significado dos
nomes místicos formado pelos versos que estão constantemente a recitar: ‘Bendito
seja Ele para sempre.’, e ‘Bendito seja o Seu Santo Nome. Porém, suas preciosas
palavras de louvor agitam o núcleo dos reinos celestiais, com mais impacto do que
pronunciamentos dos grandes homens. Elias passou a descrever o prazer no céu
que resulta quando homens, mulheres e crianças louvam a D’us, o Sagrado
Abençoado Seja, especialmente quando o louvor é repetido muitas vezes e vem de
pessoas simples. Com suas palavras simples de louvor vindo de pura fé e um
coração completo e comprometido com D’us, o Sagrado Abençoado Seja.
Quando o Baal Shem Tov ouviu isso, ele decidiu adotar uma maneira especial de
servir a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, instando todos os judeus – homens,
mulheres e crianças – a dizerem os louvores a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, em
sua própria maneira, de forma simples. Ele sempre fez um esforço especial para
pedir às pessoas sobre sua saúde, seus filhos e seus meios de subsistência,
levando-os a responder com louvores a D’us, o Sagrado Abençoado Seja, cada um
à sua maneira. (Sifrei Chabad)

Fonte: Site Breslev [Pesquisa, tradução e adaptação: Yashar David – Moré]

Comentário 8:

Mudança de Característica

Certa vez, um jovem, que há pouco ingressara na yeshivá, pediu uma audiência ao
rabino. O jovem havia participado de uma palestra do rabino, na qual ouviu algo que
era justamente o contrário do que o psicólogo havia lhe recomendado: O psicólogo
lhe instruíra que agisse de forma natural. “Seja você mesmo”, disse ele várias
vezes. Hoje, porém, tinha ouvido que deveria mudar seu comportamento. Deveria
modificar sua natureza.
Muitas pessoas comportam-se como o recomendado pelo psicólogo, mas este modo
passivo de encarar os fatos não condiz com o ponto de vista da Torá. Esta nos
recomenda mudar nossas características negativas e adquirir qualidades positivas.
O Talmud e os livros sagrados dedicam uma atenção especial a respeito de nossas
características. As características negativas, como o nervosismo, o orgulho e a
inveja são repudiadas de forma absoluta. A hu- mildade, a tranqüilidade e outras
qualidades positivas são louvadas. Por que, então, a Torá não incluiu tais
características entre as 613 mitsvot? Por que não indica, neste âmbito, o que é
proibido e o que é permitido?
O Rabino Chayim Vital zt"l, em seu livro “Shaarê Kedushá”, explica por que a Torá
não escreve sobre as características do ser humano: é que tais características
positivas (midot tovot) são uma introdução às mitsvot. A pessoa que as possui tem
maior potencial para cumprir as mitsvot e maior probabilidade de desempenhá-las a
contento.
Apesar de a Torá não ter ordenado explicitamente a respeito das boas
atitudes, em várias passagens observamos indicações de que as pessoas devem
trabalhar seu interior, alterando sua natureza, para adquirir boas qualidades.
Quando D’us aceitou o sacrifício de Hêvel e rejeitou o de Cayin, consta a seguinte
passagem (Bereshit 4:6-7) “Lama chará lach velama nafelu fane- cha?” – Por que
ficaste nervoso e por que teu semblante mudou? “Halô im tetiv seêt veim lô tetiv
lapêtach chatat rovets, veelecha teshucatô veatá timshol bô” – Se melhorares tuas
atitudes, tu te elevarás, e senão, o mau instinto estará na tua porta, aspirando
fazer com que peques. E tu, sabe dominá-lo.
Este episódio nos é explicado pelo Rabino Natan Meir Wachtfoigel Shlita, em seu
livro “Côvets Sichot” vol. I. Há dois tipos de inveja: a primei- ra, positiva, é
mencionada por nossos sábios como (Baba Batra 21a): “Kinat sofrim tarbê
chochmá” – a inveja dos sábios acrescenta sabedoria. Aoutra é a inveja negativa. Se
a inveja provoca tristeza e mudança de semblante, esta inveja é negativa. Porém,
se provocar acréscimo de sabedoria, mais estudo de Torá, esta inveja é positiva.
O Rabino Yechezkel Levinstein zt"l escreve em seu livro “Or Ye- chezkel” que a
inveja pelos estudiosos aumenta o grau de conhecimento quando provém da
exclamação: “Por que me falta sabedoria?!” Porém, se provir da indagação: “Por
que ele tem mais sabedoria do que eu?!” será negativa. Este tipo de pensamento
poderá levá-lo a uma inveja cada vez maior. Segue dizendo que a inveja não é uma
força com origem negativa, mas uma força espiritual que o corpo desvia de sua
principal função. Cabe ao ser humano preservar esta força em seu modo positivo
original.
Esta é a idéia que D’us estava transmitindo a Cayin. Uma vez que sua inveja lhe
causara tristeza, era de origem negativa. D’us lhe disse ainda que, apesar de ser
negativa, Cayin tinha condições de recuperar-se e não mais tropeçar – “Im tetiv,
seêt” – Se tu melhorares, elevar-te-ás. D’us estava lhe dizendo que tinha condições
de erguer-se dessa situação. O Ramban explica que, com isso, D’us mostrou-lhe o
caminho da teshuvá.
Este é, portanto, um exemplo onde o próprio Todo-Poderoso diz que a pessoa pode
mudar seu comportamento (Cayin no caso), e não como poderia se pensar, que se
deve agir conforme a natureza da pessoa.
Vejamos outro exemplo, do Talmud (Bavá Metsiá 32b), que nos transmite esta
mesma idéia de renunciar a um impulso de nossa natureza.
Quando alguém encontra um inimigo necessitando de ajuda para descarregar um
animal que está arriado sob a sua carga, é mitsvá ajudá-lo, conforme consta
(Shemot 23:5): “Ki tirê chamor sonaachá rovets táchat massaô, vechadaltá meazov
lô, azov taazov imô” – Quando vires o asno do teu inimigo prostrado debaixo de sua
carga, não te recusarás a ajudá-lo; auxiliá-lo-ás a descarregar o peso. E assim
também quando uma pessoa encontra alguém necessitando ajuda para carregar
um animal, é mitsvá ajudá-lo, conforme consta (Devarim 22:4): “Lô tirê et chamor
achicha o shorô nofelim badêrech, vehitalamtá mehem, hakem takim imô” – Vendo
o jumento de teu irmão, ou seu boi, caídos no caminho, não farás de modo como se
não os visses, mas ajudarás a carregá-los.
Portanto, é mitsvá ajudar a carregar um animal, mas descarregar um animal
arriado é mais importante, pois existe também uma proibição de “tsáar baalê
chayim” – não causar sofrimento a animais.
Analisemos a seguinte situação: temos a oportunidade de cumprir duas mitsvot:
ajudar um amigo a descarregar um animal prostrado debaixo de sua carga (a mitsvá
maior) e ajudar um inimigo a carregar um animal (a mitsvá menor). Nossa
tendência natural seria ajudar primeiramente o amigo, já que a mitsvá de
descarregar um animal arriado é mais importante. Mas, neste caso, devemos dar
prioridade ao inimigo: ajudar a carregar seu animal, mesmo sendo um inimigo. Com
isso, a Torá quer que vençamos nossa tendência natural, para que aprendamos a
controlar nosso yêtser hará – o instinto negativo – e, conforme explica o Rabênu
Chananel, façamos o “shalom”.
O Chazon Ish zt"l, em suas cartas (carta nº 3) escreve que toda a pessoa que
quebra seus vícios ganha a vida, pois a quebra dos vícios é o estran- gulamento de
uma vida superficial.
Ainda neste sentido, o Rabino Shelomô Wolbê Shlita, em seu livro “Alê Shur” (vol.
II) nos diz que as boas qualidades devem fazer parte integral dos indivíduos, a ponto
de transformá-los em outra pessoa.

Fonte: Do livro "Nos Caminhos da Eternidade" do Rabino Isaac Dichi

Comentário 9:

Baú da Felicidade?

Esta semana nós convivemos com o episódio da Arca de Noé e o dilúvio (Teivat
Noach e o Mabul).
Curiosamente esta parashá da Torá tem muitos pontos em comum com a anterior,
Bereshit, que trata da Criação do Mundo.
Em Bereshit o mundo foi criado do nada e mantido por D-us; em Noach, D-us
"recria" o mundo após o dilúvio, prometendo "mantê-lo" em existência. Em Bereshit
vemos a obra de D-us; em Noach D-us dá existênica a tudo, graças a obra do
Tsadic, o justo Noach.
Nesta parte da Torá vemos a importância da ação positiva do homem mantendo o
mundo inteiro! Que privilégio e que responsabilidade! Outro aspecto interessante:
Após o dilúvio D-us precisou ordenar a Noach e a todos na Teiva (arca), para que
saíssem. Por que? Será que após doze meses enjaulados eles não queriam voltar a
ver a natureza? E qual foi a primeira ordem que D-us lhes deu ao sair? "Procriem-
se, multipliquem-se e preencham a terra!" - Por quê?
No Mabul, que durou cerca de um ano e pouco, a vida na Arca era um verdadeiro
"baú ela felicidade". O cordeiro podia viver com o lobo e a paz reinava em toda a
Arca.
Era um mundo surrealista, utópico, como na época de Mashiach. Com esta paz
milagrosa permeada da Futurística Luz Divina, quem ia querer sair e voltar ao velho
mundo, um mundo destruído e desolado? Só que D-us queria mais. Queria que
todos saíssem e transformassem este mundo desolado numa moradia perfeita para
D-us. Num sentido espiritual, o relato do Dilúvio representa a luta do ser humano
pela espiritualidade dentro de um turbulento mundo material. Teiva (arca), também
significa ''palavra". Há momentos em que deve-se refugiar das águas turbulentas
do dia a dia dentro das sublimes palavras de Torá e da Tefilá (oração) - porém o
objetivo maior é sair da Arca e transformar o mundo, preenchendo-o de vida.
Conta-se que quando a esposa de certo Rabino deu a luz ao seu nono filho, as
enfermeiras do hospital lhe perguntaram: "Quando você vai parar? Nove já não é o
suficiente? Qual é o número que lhe satisfará?" E ela disse: "Seis milhões..." Nossa
missão é preencher a tarefa que muitos de nossos ancestrais não conseguiram
cumprir, fazendo cada vez mais mitsvot e trazendo mais vida e mais Divindade a
este mundo sem fazer cálculos pretensamente "humanistas" pois nossa tarefa
Divina inclue trazer para este mundo todas as mitsvot e almas que precisam
descer, apressando assim a vinda e revelação de Mashiachl

Fonte: Do livro "Pensamentos Semanais" do Rebe de Lubavitch

Comentário 10:

A Lição Moral Aprendida da Geração do Dilúvio

Retificação do Pecado da Geração do Dilúvio


As pessoas da geração do Dilúvio pecaram e se rebelaram contra D’us a ponto de
causarem a destruição de todo o mundo.
O Criador provocou um dilúvio que destruiu tudo o que havia.
A meta era construir, por cima dessas ruínas, um mundo novo, no qual não haveria
uma devassidão tão grande.
O Malbim explica que, nas palavras do passuc “Faz para ti uma arca de madeira de
cipreste” (Bereshit 6:14) está indicado o tema desse novo mundo.
“De acordo com o rêmez (o plano de entendimento que busca as alusões contidas
nos versículos da Torá), essa arca continha um modelo do novo mundo, que surgiria
após o Dilúvio.
Este será o mundo que dominará, então, sobre a superfície das águas que
destruíram o mundo antigo, no qual a matéria e a parte poeirenta subjugaram o
espiritual e a parte aérea (elevada)”.
“O novo mundo será construído de “madeira de cipreste”, que é leve e flutua sobre
a água, uma vez que possui em sua composição mais da parte de ar que da parte
de matéria espessa.
Isso indica que, no novo mundo, se reduzirá o poder do pó e a matéria espiritual
dominará ainda mais”.
O sentido dessas palavras é que o ser humano, “a Coroa da Criação”, influencia
todo o mundo com seus atos.
Quando esses são bons, o mundo eleva-se com ele e, quando ele peca, o mundo se
torna pior, em conseqüência disso.
Em um mundo bom, fortalecem-se os elementos que anseiam em direção às alturas
e, em um mundo mau, intensificam-se aqueles que tendem a pesar e levar para
baixo.
Isso é indicado pelo mundo ter afundado, por seu peso, sob as águas do Dilúvio,
enquanto o novo mundo, que é leve, tende a subir e, conseqüentemente, bóia sobre
as águas.
Esta é a esperança do novo mundo; que a humanidade alcance, após o pecado, a
sua retificação.

O Pecado Afeta a Base da Manutenção do Mundo


O Todo-Poderoso ordenou a Noach que construísse uma arca, na qual entrariam ele,
sua mulher, seus filhos e as respectivas esposas e os animais que Ele queria salvar
do Dilúvio.
A salvação se daria por eles se isolarem do mundo externo, ao qual foi decretado o
extermínio.
Mesmo o ar externo, corrompido, não entraria na arca.
Todos os seus integrantes estariam desligados da corrupção que penetrou, tão
profundamente, no mundo exterior.
O Keli Yacar, sobre o versículo “300 cúbitos será o cumprimento da arca” (Bereshit
6:15), comenta detalhadamente o estrago que o pecado causou e a salvação, que
foi milagrosa:
“A escritura detalhou as medidas do comprimento, da largura e da altura (da arca)
por dois motivos. O primeiro é para mostrar a grandiosidade do milagre – como tão
pouco conteve tanto, pois havia lá criaturas enormes, elefantes e antílopes. O
segundo é para nos transmitir que o principal (motivo) das águas do Dilúvio foi a
promiscuidade e o adultério, conforme está escrito: ‘E viram, os filhos de D’us, as
filhas do homem...” (Bereshit 6:2) – e interpretam nossos sábios: ‘com a (linguagem
de) ‘rabá’ (grandes proporções) eles estragaram e com a (linguagem de) ‘rabá’ eles
foram julgados’ (San’hedrin 108a).
O motivo disso é que, por meio da promiscuidade, eles profanaram a santidade do
nome Yod-Hê, que intermedeia entre o homem e a mulher e, separando-se deles o
Yod- Hê, sobra “êsh” e “êsh” (fogo e fogo), como está escrito: ‘pois fogo é Ele, até a
aniquilação consumirá’” (Iyov 31:12).
Encontramos, portanto, que esse pecado de arayot (adultério) atinge os alicerces do
mundo e retira o fundamento sobre o qual se apóia toda a humanidade.
Esse fundamento é o nome de D’us, que se une ao homem e à mulher e os ajuda a
montar seu lar.
Quando se peca, D’us nos livre, com adultério, retira-se o Nome do Criador e,
removendo-se a base, cai toda a construção.
O Keli Yacar continua a explicar como o pecado atinge o mundo e tudo o que nele
está contido:
“Assim também encontramos em relação ao Rei Chizkiyá, que foi primeiramente
castigado por não ter se ocupado em procriar, como consta no Tratado de Berachot.
Falou a ele o profeta: ‘ordene sua casa, pois morto está você e não viverá’
(Yesha’yáhu 38:1). Nossos sábios aprenderam daqui: ‘pois morto está você’ – neste
mundo; ‘e não viverá’ – no Mundo Vindouro’. Por que há aqui tanta fúria, para que ele
seja castigado neste mundo e no Vindouro?”
“Já que está escrito (Yesha’yáhu 26:4): ‘pois em Yod-Hê, D’us, está o Criador dos
mundos’. Disso se aprende que esse mundo foi criado com a letra hê e o vindouro
com yod. Uma vez que ele não se empenhou em procriar, causou que o Nome Yod-
Hê se afastas- se do homem e da mulher. Logo, é como se tivesse destruído os dois
mundos, cuja existência depende do Nome Yod-Hê – posto que (este) Nome se
afastará de todas as criaturas e ascenderá aos Céus. Assim, sua sentença foi ser
apartado dos dois mundos”.
“Assim, também, aconteceu com a geração do Dilúvio: uma vez que ela profanou o
Nome Yod-Hê, foi selado seu veredicto: serem apartados deste mundo e do Mundo
Vindouro, conforme consta no “Pêrek Chêlek” (San’hedrin 107b): ‘a geração do
Dilúvio não possui uma porção no Mundo Vindouro’”.

Aprendemos, das palavras do Keli Yacar, que há pecados passíveis de danificar as


bases da emuná e da ligação entre D’us e Seu Povo, Yisrael, ou entre Ele e o
conjunto de suas criaturas.
Daqui advém a enorme gravidade dessas iniqüidades.
As pessoas da geração do Dilúvio, com seus pecados relativos ao adultério,
atingiram o nome de D’us e, com isso, perderam sua parte no Mundo Vindouro.
Assim também acontece a cada geração na qual esses pecados são cometidos de um
modo mais grave.

Três Perspectivas no Cumprimento do Shabat


O livro Netivot Shalom explica que a Arca de Noach alude a três assuntos
espirituais essenciais: o Shabat, a Torá e a união dos Filhos de Yisrael.
Assim como a Arca de Noach salvou a ele e a seus filhos em uma das horas mais
difíceis da humanidade, o Shabat também protege, nas situações mais terríveis,
aqueles que o cumprem.
Já disseram nossos sábios que, por intermédio do cumprimento do Shabat, a
teshuvá sobre idolatria será aceita (Shabat 118b): “todo aquele que cumprir o
Shabat conforme os seus preceitos, ainda que tenha adorado idolatria como a
geração de Enosh, perdoá-lo-ão”.
A santidade do Shabat é tão grande que, quem o cumpre como se deve, tem o
mérito de ser envolvido por ela.
Mesmo quando chega a uma situação equivalente à da geração do Dilúvio, ele
ainda tem esperança.
O cumprimento do Shabat se dá em três campos principais.
O primeiro é o prático, no qual o homem cuida de não transgredir qualquer proibição
relacionada ao Shabat e de não profaná-lo com algum trabalho que não pode ser
feito.
O segundo é a lembrança do Shabat com a fala, conforme dizem nossos sábios:
“que sua fala no Shabat não seja como o dos outros dias da semana” (Shabat
113b) – não se fala, então, sobre fazer trabalhos proibidos, etc.
O terceiro campo é o do pensamento.
No Shabat, não se medita sobre assuntos mundanos que atormentam o indivíduo –
que deve considerar como se tudo o que tem a fazer já estivesse feito.
O Ben Ish Chay (Shaná Sheniyá, Parashat Vayishlach, §19) diz o seguinte: “mesmo
que, em princípio, se (alguém) senta em algum lugar e medita sobre seus negócios,
isso seja permitido – mesmo assim, por ôneg shabat, é uma mitsvá que ele não
pense neles de modo algum e considere como se todo seu trabalho já estivesse
realizado.
(Ele deve) desocupar seu coração de todo assunto mundano, pois essa é uma
necessidade desse momento – que ligue seu pensamento em seu Criador, para
despertar amor e reverência (a Ele) com enorme alegria. Quanto mais isso é
verdade quando é possível que, a partir da ponderação sobre seus negócios, o
indivíduo fique aflito ou mesmo um pouco preocupado. Não é preciso que ele tenha
isso no Shabat, pois é necessário que o Shabat seja um descanso de paz...”.
O resguardo do pensamento no Shabat, de todas as ponderações e preocupações
dos outros dias da semana, é o que confere ao indivíduo o verdadeiro descanso do
Shabat: “descanso, paz, tranqüilidade e confiança” (Oração de Minchá de Shabat);
um descanso pleno que D’us deseja.
Os três andares da Arca aludem a essas três partes do Shabat.
Bem-aventurado aquele que consegue guardá-lo em todos os seus sublimes níveis e
habitar a morada superior, destinada ao ser hu- mano pleno.

A Arca de Noach como uma Alusão à Qualidade Intrínseca da Torá


A Arca de Noach alude também ao estudo de nossa sagrada Torá, de modo que
podemos aprender dela uma lição moral importante.
Assim como ela protegeu seus ocupantes das águas do Dilúvio, isolando-os do mundo
exterior, a Torá também é capaz de resguardar o indivíduo do Yêtser Hará (mau
instinto).
Assim falaram nossos sábios: “Criei o Yêtser Hará; criei a Torá como antídoto”
(Kidushin 30b).
Isso significa que o estudo da Torá tem o poder de nos proteger contra as investidas
do mau instinto.
Acrescentemos que o estudo da Torá deve ser feito do mesmo modo que é feito o
pecado. Assim como o pecado da geração do Dilúvio foi cometido com paixão –
sendo na verdade a completa destruição de tudo o que é positivo – o estudo, que o
retifica, também deve ser efetuado com empolgação e entusiasmo sagrados.
Um estudo assim exaltado protegerá o indivíduo e o manterá santificado e limpo de
qualquer pecado e iniqüidade.
Mais que isso: na Arca de Noach havia três andares: “inferior, segundo e terceiro”.
Esses andares aludem a três fases na vida do indivíduo: os anos da juventude, a
meia idade e os anos da velhice. Assim como a arca envolvia esses três andares, o
homem deve atravessar todas as fases de sua vida com sucesso, em uma
perspectiva espiritual.
Cada uma dessas fases é completamente distinta das outras.
Na juventude, é muito forte o Yêtser Hará ligado aos desejos – e o trabalho
espiritual deve ser empreendido de acordo. Na meia idade, o indivíduo se encontra
cercado em duas frentes: agem sobre ele tanto os desejos, quanto variados tipos
de preocupações, que atrapalham o serviço Divino.
Na velhice, fortalecem-se instintos como o da busca por honrarias e afins.
A pessoa deve ajustar seu trabalho espiritual de acordo com suas inclinações e com
as crises que a ela se interpõem, esforçando-se por vencer o mau instinto, que está
em seu encalço, em todas as situações e em todas as frentes.
De um modo geral, o caminho para vencer todas as artimanhas do Yêtser Hará é o
estudo da Torá.
A Torá tem o poder de salvar o indivíduo das ciladas do Yêtser Hará e fazê-lo
ascender a degraus espirituais altíssimos.
A Torá é relevante em todos os períodos e situações da vida.
Quando ela está vinculada ao coração do indivíduo, quando no âmago de seu
coração há um recanto sagrado reservado apenas às palavras de Torá, esse cantinho
pode ajudá-lo a superar todas as dificuldades e direcionar seu caminho a D’us, tal
qual a Arca de Noach em relação ao Dilúvio.
Em todas as gerações, houve gente que manteve sua moralidade, apesar das
investidas do mau instinto.
“A Torá protege e salva”.
Ela tem o poder de preservar o coração do indivíduo para que não lhe aconteça
nada de mau e para que continue sempre puro, amando a D’us e a Seus
mandamentos.

A União do Povo de Israel


A terceira lição que podemos aprender da arca de Noach diz respeito à união e à
ligação daqueles que são tementes a D’us. Essa união tem o poder de preservar o
judeu de qualquer coisa ruim e salvá-lo do declínio, mesmo nas situações mais
difíceis.
No livro Netivot Shalom, esse assunto é explicado tomando-se como base as
palavras de Rabênu Nissim, em suas prédicas sobre Dor Hapelagá (a geração da
Torre de Bavel). De acordo com ele, quando pessoas que possuem um bom caráter
se ajun- tam, bons frutos provêm dessa união, mesmo que eles ainda não estejam
agindo, pois a união traz o bem.
Em contraposição a isso, a união de pessoas perversas traz conseqüências ruins
para o mundo.
Também aqui, a própria união já provoca o mal, muito antes de ações serem
efetuadas.
Na geração da Torre de Bavel, D’us – que conhece todos os segredos –viu que
havia uma união de pessoas iníquas e de mau caráter.
Uma vez que disso adviria uma grande destruição para todo o mundo, eles foram
espalhados, eliminando essa união e fazendo passar o perigo a ela relacionado.
Na arca de Noach ocorreu o inverso.
Todos os justos que viviam na época foram reunidos em um só lugar.
A força dessa união os protegeu e os salvou.
Não só isso: o novo mundo, construído sobre as ruínas do antigo, foi baseado nessa
união dos tsadikim.
Daqui provém a garantia de o mundo não ser destruído e a força que o sustenta,
até a redenção completa.
É importante acrescentar que, quando algo grande está prestes a vir ao mundo, as
forças da “Sitrá Acherá” (“Outro Lado”) se fortalecem.
As forças do mal tentam impedir seu surgimento de todos os modos possíveis.
Podemos ver que sempre que há alguma tentativa de unir os tementes a D’us e os
que se importam com Seu nome, aparecem todos os tipos de empecilhos, tanto por
parte daqueles que estão “dentro” quanto daqueles que estão “fora”.
Em prol da paz e da união, é necessário agir com todas as forças, não esmorecer e
não desistir em conseqüência dos grandes obstáculos e dificuldades.
Aquele que conseguir levar essa tarefa a cabo terá, também, o mérito de alcançar a
plenitude do sucesso espiritual, uma vez que a união é responsável por uma
profusão de bênçãos e de sucesso.
Consta no midrash, que Avraham Avínu se encontrou com Shem, filho de Noach, e
perguntou a ele como eles conseguiram se salvar da grande fúria do Dilúvio.
Shem respondeu que isso se deu pelo mérito da bondade que eles fizeram, na arca,
com as criaturas do Todo-Poderoso.
Pela pergunta de Avraham vemos que essa salvação é considerada como um
milagre, considerando a enorme fúria que era então dirigida contra o mundo.
Embora Noach fosse um grande justo, a “Midat Hadin” (o Atributo de Justiça), que
então governava o mundo, era capaz de prejudicá-lo.
Shem respondeu que eles foram salvos pelo mérito da bondade que fizeram.
Isso se refere à união, amor e companheirismo que tiveram entre si, aliada ao fato
de sustentarem e alimentarem as criaturas de D’us por um ano. Esse agrupamento
de tsadikim (justos), que se expressa na bondade para com os outros, na preo-
cupação com seu bem-estar e na verdadeira amizade dentro do coração, foi o que
os fez passar pela grande fúria que se estendia em relação ao mundo todo, naquela
época.

A Importância da Organização Interna, no Homem e em Toda a Criação.


O Netivot Shalom acrescenta um pensamento extraordinário, que esclarece como
esses mandamentos auxiliam o indivíduo a se livrar de qualquer infortúnio. Segundo
suas palavras, o castigo das águas do Dilúvio veio pela confusão que existia
naquela geração.
Toda a ordem da Criação foi distorcida por esses graves pecados.
D’us criou o mundo com uma organização exemplar – e tais iniqüidades a destroem.
A Arca de Noach, na qual prevaleci- am o companheirismo e a bondade, salvou
seus ocupantes da confusão que havia fora dela.
Também o Shabat e o estudo da Torá estão ligados à organização interna do
indivíduo e seu bom senso.
Nossos sábios dizem que “uma pessoa não peca a não ser que tenha entrado nela
um espírito de tolice” (Massêchet Sotá 3a) – ou seja, que sua consciência e seu
modo de pensar foram deturpados.
A retificação disso provém do bom senso.
O Shabat o proporciona, com sua santidade e com o fato de desligar a pessoa do
mundo material que enlouquece, confunde a consciência e atra- palha a
organização da vida.
Também nossa sagrada Torá é baseada no bom senso.
Consta em Massêchet Shabat (88a): “uma condição D’us impôs a tudo o que foi
criado: se Israel aceitar a Torá, ótimo; senão, Eu faço todo o mundo retornar ao
caos e à desordem”.
Aprendemos daqui que a Torá é o que mantém o mundo e o que guarda sua
organização.
É mais que óbvio que, assim como essas mitsvot têm a característica de proteger o
Povo de Israel e todo o mundo, elas também tem a capacidade de influenciar para
o bem cada Filho de Israel em particular.
Bendito é aquele que se mantém firme em relação a esses mandamentos, que
cuida deles e é detalhista em seu cumprimento.
Por mérito disso, ele se salvará sempre de qualquer infortúnio, material ou
espiritual.

Fonte: Do livro "Fonte da Vida" do Rabino Isaac Dichi

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