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Resumo
Grandes corporações no ramo da mineração vêm, por meio de seus representantes em
distintas esferas de poder no Estado brasileiro, conseguindo fragilizar as leis ambientais
que protegem o patrimônio ambiental comum. Observa-se que o Estado brasileiro não tem
cumprido sua obrigação constitucional de proteger recursos naturais, permitindo elevados
níveis de exploração com consequências desastrosas para o ambiente e a sociedade onde há
atividade mineraria. Este artigo traz uma breve apresentação do quadro conceitual da
análise sociometabólica e de informações sobre danos ambientais e humanos ocorridos no
caso do rompimento da barragem de resíduos de Fundão, em Mariana, MG, que atingiram
a localidade de Barra Longa em novembro de 2015. Neste trabalho, buscamos indicar
alguns dos elementos qualitativos para uma análise sociometabólica a qual, no âmbito de
uma tese de doutorado em desenvolvimento junto ao Programa de Política Científica e
Tecnológica da Unicamp, poderá permitir que se teste a hipótese de um balanço
desequilibrado do metabolismo social no caso de Barra Longa.
Palavras-chave: Conflitos socioambientais; justiça ambiental; Barra Longa
1. Introdução
Grandes corporações vêm, por meio de seus representantes em distintas esferas de poder
no Estado brasileiro, conseguindo influenciar ou fragilizar as leis ambientais e normas
regulatórias que protegem o patrimônio ambiental comum. Essa influência se dá em favor
da apropriação privada, com finalidade de acumulação igualmente privada, dos recursos do
solo e do subsolo, em detrimento do uso de recursos pela sociedade, em particular pelas
comunidades locais, com ameaças à integridade e resiliência dos ecossistemas. As
mineradoras têm figurado como atores dos mais agressivos contra iniciativas e atores
sociais que ousam colocar barreiras a seu avanço em áreas com potencial para a exploração
mineral (PoEMAS, 2015). Neste contexto, o Estado brasileiro não tem cumprido sua
obrigação constitucional de proteger recursos naturais, biodiversidade, água – recursos
chamados “comuns” pela influente literatura institucionalista, conforme tão bem
representada por Ostrom (2009). Pelo contrário, progressivamente tem agido de acordo
com os interesses de corporações nacionais e internacionais que, operando segundo lógicas
alheias à sustentabilidade socioambiental e à resiliência das comunidades e ecossistemas
atingidos por suas atividades, contribuem para a manutenção ou reconfiguração da
2
condição neocolonial de nosso país como exportador de recursos minerais (PoEMAS,
2015).
O Quadrilátero Ferrífero mineiro exemplifica sobremaneira essa realidade.
Localizado na região central do estado de Minas Gerais, Brasil, ocupando uma área de
aproximadamente 7.000 km2, com jazidas estimadas em 30 bilhões de toneladas, é
responsável por cerca de 60% do minério de ferro produzido no Brasil (224 milhões de
toneladas em 2016) (IBRAM2015). Tamanho volume de minério extraído e processado
implica correspondente quantidade de rejeitos. Vários são os fatores que interferem na
escala de rejeitos produzidos pela mineração de ferro, destacando-se, recentemente, a
combinação da expansão do volume da extração com a depreciação dos preços no mercado
internacional, que tem levado em geral a uma utilização de quantidades progressivamente
maiores de minério de baixa concentração.
Esta foi uma razão que gerou a intensificação do volume de subprodutos muitas
vezes tóxicos, nocivos ao meio ambiente e à saúde humana. Na maioria das vezes, esses
rejeitos têm sido acumulados de forma irregular, inadequada e insegura, em barragens
construídas e alteadas sem o devido monitoramento por parte das próprias empresas e dos
órgãos fiscalizadores competentes. Nessa região, estabeleceram-se ao longo do tempo
diversas empresas produtoras de minério de ferro, cuja produção é liderada pela empresa
Vale. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), o estado de Minas Gerais
responde por aproximadamente 44% do valor gerado pela indústria de extração mineral no
Brasil (excetuando-se petróleo e gás natural). Desse total, aproximadamente 80% (ou 194,9
milhões de toneladas) são produzidos pela empresa, que, no final de 2017, ocupava a
posição de quarta maior mineradora do mundo em valor 1.
Este artigo apresenta uma análise circunstanciada do quadro conceitual da análise
sociometabólica e de informações sobre danos ambientais e humanos ocorridos no caso do
rompimento da barragem de resíduos de Fundão em Mariana, MG, que atingiram a cidade
de Barra Longa em novembro de 2015.
A intenção, aqui, é sistematizar, à luz da literatura sobre conflitos socioambientais
na mineração e da análise sociometabólica, evidências de que os conflitos observados em
Barra Longa podem ser caracterizados como conflitos ecológicos distributivos.
1
Segundo o portal mining.com., publicação digital que abrange o setor de mineração global. Com 364.000
usuários e aproximadamente um milhão de visualizações (segundo o Google Analytics, julho de 2018),
publica em inglês, espanhol, tem escritórios em Lima, Peru e Belo Horizonte, Brasil.
3
O trabalho apresenta dados e reflexões que estão sendo trabalhados de forma
sistemática e aprofundada no contexto do projeto de doutorado de um dos autores,
desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica, no
Instituto de Geociências da Unicamp, cujo propósito central é elaborar um marco analítico
para aplicação a casos de rompimentos de barragens de resíduos de mineração no Brasil,
tendo nos casos de Mariana, Barra Longa e Brumadinho os testes de aplicação para a
metodologia.
Neste texto, buscamos apontar elementos e qualitativos da análise sociometabólica
que permitirão testar a hipótese de um balanço desequilibrado do metabolismo social
(MARTINEZ-ALIER, WALTER, 2015:74). A análise será contextualizada tendo, como
pano de fundo, a atividade minerária que permeia o rompimento da barragem de Fundão,
na qual se manifestam conflitos socioambientais típicos de injustiça e “desgovernança
ambiental”.
Com vistas a cumprir os objetivos acima descritos, este trabalho será dividido em
quatro seções. Na primeira, faremos uma revisão dos conceitos associados à Ecologia
Política dos quais usufruiremos para descrever os conflitos socioambientais decorrentes
dessa tragédia, quais sejam, o metabolismo social suas implicações com os conflitos
ecológicos distributivos. Na segunda, traremos uma descrição do modo como a Vale, a
empresa diretamente causadora da catástrofe que se abateu sobre Mariana e todo o vale do
Rio Doce, se insere no processo de reprimarização da economia brasileira por meio da
mineração no Quadrilátero Ferrífero mineiro. Com essa descrição, visamos apontar a
elementos que indiquem desequilíbrio no metabolismo social, destacando como o lucro
exorbitante dessa empresa está diretamente associado à hecatombe socioambiental que se
instala nos territórios onde ela atua. Na terceira seção, apresentaremos parte do cenário do
conflito socioambiental na cidade de Barra Longa, o centro urbano mais duramente
atingido pela lama da barragem de Fundão, destacando um dos braços da balança do
metabolismo social, aquele cujos stakeholders são os agentes passivos, que arcam apenas
com os custos dos usos dos recursos comuns nos territórios explorados pelas empresas
Vale e BHP Billiton, controladoras da Samarco, especialmente o minério de ferro e a água.
Na quarta seção, indicam-se elementos devem permitir formular uma hipótese de trabalho:
a de que, exatamente em função das estratégias de captura de valor adotadas pela empresa,
se dão as condições que levam à devastação e aos conflitos socioambientais decorrentes de
sua atividade.
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2. Sobre o marco analítico: abordagem sociometabólica e conflitos na mineração
5
No caso da atividade minerária nos territórios em questão, essas externalidades
negativas se apresentam, antes mesmo dos rompimentos das barragens, como significativos
prejuízos socioambientais, como a perda da paisagem original, expropriação, aumento da
população flutuante sem o respectivo aumento dos serviços públicos de saúde, educação,
segurança etc., racismo ambiental, entre outros.
O Brasil, como a maioria dos países da América Latina, vem passando por um
crescente processo de reprimarização da sua economia. Esse fenômeno se caracteriza, entre
outros aspectos, por um grande déficit em sua balança material, ou seja, o balanço entre o
que se exporta de matéria-prima (em unidades de massa) e o que se importa – ainda que
por vezes a balança comercial seja positiva – que revela uma crescente pressão por maiores
taxas de extração de minerais. Isso se deve, por exemplo, ao fato de que o exorbitante
volume de material exportado mal consegue – quando consegue – compensar, em valor, o
volume das importações.
No caso do minério de ferro produzido em Minas Gerais – praticamente todo ele no
Quadrilátero Ferrífero – a produção de minério de ferro bruto, segundo o Anuário Mineral
Brasileiro, saltou de 203 milhões de toneladas em 1997 para 560 milhões de toneladas em
2016, um crescimento de 175% em 19 anos. Tal aumento implica inevitavelmente uma
aceleração do metabolismo social da região, com consequente agravamento dos conflitos
ecológicos distributivos em função da forte assimetria na distribuição de renda e poder e
que, na perspectiva desse trabalho, acontece de maneira explícita no caso em estudo,
conforme se verá adiante. Martinez-Alier e Walter (2015) apontam que acelerações como
essa implicam, também, o que se intitula comércio ecologicamente desigual, ou seja,
“os países pobres exportam a preços que não consideram as externalidades locais ou o
esgotamento dos recursos naturais, em troca da compra de bens e serviços caros de
regiões mais ricas. [...]. A troca ecologicamente desigual surge do fato estrutural de
que as regiões ou países metropolitanos precisam de grandes quantidades de energia e
materiais a preços baixos para seu metabolismo.” (Martinez-Alier e Walter, 2015, p.
78).
A extração de minério de ferro apresenta outras características que agravam o
desequilíbrio no metabolismo social nos territórios de onde ele é retirado. As fases iniciais
de sua produção acarretam elevados custos ambientais em comparação com um baixo valor
agregado2. Esses custos são desconsiderados e se tornam ainda mais caros na medida em
que as plantas encerram suas produções, seja pelo esgotamento das minas, seja pelo
empobrecimento do teor do minério, seja pelas escolhas mercadológicas das empresas.
2
Valendo cerca de US$50 a tonelada, o Brasil precisa vender cerca de dez toneladas de minério de ferro
para comprar um iPhone – se for o “top de linha’, são necessárias trinta toneladas.
6
Além disso, na ausência de uma política de desenvolvimento para a região que se
volte a um planejamento de longo prazo, num cenário que considere a vida social para
além de seu “destino mineral”, a dependência econômica gerada pela atividade minerária é
tamanha que esse passivo socioambiental deixado pela atividade jamais é pago. Enriquez
(2007) destaca que “as fartas rendas provenientes da extração dos recursos minerais
produzem uma espécie de maldição por limitarem a capacidade expansiva de outros setores
produtivos” enquanto “induzem a permanência no poder de uma elite parasitária e atrasada
que não consegue deslanchar políticas para diversificar a economia e deixá-la menos
dependente do setor mineral” (Enriquez 2007 p.25). Lewis muito mais problemas que
vantagens para os países ricos em recursos minerais alcançarem o desenvolvimento
econômico “pois a pujança da mineração acaba dificultando o desempenho de outras
atividades” (Lewis apud Enriquez 2007, p. 111). Além da baixa diversificação econômica,
o autor destaca que
“a mineração gera um mercado de trabalho monopsônico, ou seja, uma única
[atividade e, frequentemente, uma única] grande companhia é a principal responsável
direta e indireta (por meio de suas empresas contratadas) pela absorção de uma força
de trabalho pulverizada e exerce um papel importante, porém servil, de captador de
divisas para financiar o desenvolvimento industrial em outras regiões do mesmo país”.
A autora elenca ainda outros problemas da atividade minerária que, vistos sob a
ótica da ecologia política, amplificam a assimetria do balanço metabólico, como as altas
taxas de lucro do setor mineral, o inflacionamento dos salários, a perda de competitividade
de outros setores para o setor mineral, o que retarda o crescimento desses setores e a
consequente geração de novos investimentos.
O cenário descrito de forma geral para a mineração é típico no caso da exploração
do minério de ferro. Guimarães & Cebada (2016) destacam que o estudo de 346 casos
registrados na base de dados do Atlas de Justiça Ambiental3 do EJOLT (Organizações de
Justiça Ambiental, Responsabilidades e Comércio) revela estreita ligação entre o aumento
do metabolismo social decorrente de todos os eventos relativos à cadeia produtiva
(extração, processamento, transporte e deposição de rejeitos) e os “conflitos mineiros
‘glocais’ na última década”, (Guimarães & Cebada 2016, p. 374 ). Segundo os autores,
“os dados mostram que predominantemente esses conflitos mobilizam vizinhos,
comunidades pré-existentes, organizações locais e internacionais, lavradores, pastores,
pescadores, grupos étnicos discriminados, autoridades locais e cientistas ou
profissionais liberais. [...] Associados a esses conflitos encontramos muito
frequentemente a invocação da aplicação de legislação existente, o reforço da
participação cívica, a indeminização, a criminalização, repressão, a perseguição de
ativistas e as mortes. É elevada, por isso, a associação a atos de violação de direitos
humanos, ex(propriação de terras, perda de qualidade de vida, militarização ou
3
Cf. http://ejatlas.org
7
“securitização” do espaço vivido, aumento da corrupção e perda de identidades
culturais”. (Guimarães & Cebada, 2016, p. 363).
Esse é um padrão que, segundo os autores, indica que os conflitos ecológicos
extrativos ligados à mineração seriam “a pedra angular da injustiça ambiental”, cuja
percepção é compartilhada por diferentes comunidades atingidas pela atividade ao redor do
globo.
4
Para um acompanhamento dessas parcerias entre a Vale do Rio Doce e as mineradoras Samarco e Ferteco,
veja
http://www.vale.com/brasil/PT/aboutvale/news/Documents/historia70anos/Vale_Livro_Nossa_Historia_cap4
.pdf
8
se deu num momento em que a economia brasileira já se direcionava de acordo com o
modelo neoliberal de acumulação capitalista que, desde o governo Collor (1990 – 1992) já
se anunciava como a tendência contemporânea do mundo globalizado e que impunha,
como vem acontecendo até os dias atuais, a reprimarização da economia em toda a
América Latina. À chegada do século XXI viu-se um novo ciclo de valorização das
commodities minerais, puxadas pela economia chinesa enquanto, no Brasil, a Cia Vale do
Rio Doce, agora simplesmente Vale, assumia a liderança no mercado de produção de
minério de ferro no Brasil, tendo adquirido diversas empresas entre elas, a Ferteco, em
abril de 2001 e a Samarco, em 2000, cuja parte da composição acionária já pertencia à
BHP Billinton. Surgia ali a joint venture que controla a empresa até os dias de hoje.
O ciclo de alta das commodities iniciado em 2003 agravou a dependência brasileira
ao setor mineral, tendo a Vale o protagonismo da produção e exportação do minério de
ferro no Brasil. Responsável por quase um quarto do mercado transoceânico e mais de
80% da produção de minério de ferro no país, a Vale é a responsável direta pelos maiores
desastres socioambientais já ocorridos na história: o rompimento das barragens de Fundão,
em Mariana, em 2015, e de Córrego do Feijão, em Brumadinho, em janeiro de 2019. Tais
desastres estão intimamente relacionados ao pico das commodities do início do século.
Fundão, cujo rompimento ceifou 19 vidas e resultou num prejuízo sócio ambiental
incalculável entrou em operação em 2008, em meio ao boom do minério de ferro no
cenário internacional; como se vê nesse mercado, sob a ótica do lucro máximo, quando os
preços sobem, aumenta a pressão por aumento da produção e consequente aumento dos
lucros; quando os preços caem (como ocorreu a partir de 2011), a pressão passa a ser
exercida sobre os gastos com segurança e prevenção de acidentes. Essa combinação,
associada a uma capacidade tecnológica de construção de minas gigantes, de onde se retira
minérios de concentrações cada vez mais pobres exige a construção de cada vez mais
barragens, cada vez maiores. Assim, “é razoável considerar que, se a volatilidade dos
preços é uma característica intrínseca ao mercado de minérios, assim também seria o
rompimento das barragens.” (PoEMAS, 2009, p.16).
É exatamente nesse contexto que se dá o desastre de Fundão. O relatório da
investigação do Ministério Público Federal para o caso de Mariana 5 destaca elementos que
5 IPL n.º 1843/2015 SRPF/MG; Autos n.º 38.65.2016.4.01.3822 (Busca e apreensão); Autos n.º 3078-
89.2015.4.01.3822 (Medida Cautelar); IPL Polícia Civil - MG 1271-34-2016.4.01.3822; IPL Polícia Civil -
MG 1250-24.2016.4.01.3822; Procedimento Investigatório Criminal (PIC) - MPF n.º 1.22.000.003490/2015-
78; Procedimento Investigatório Criminal (PIC) MPF n.º 1.22.000.000003/2016-04.
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revelam o total negligenciamento de normas básicas tanto para o alteamento da barragem
quanto para a prevenção de danos ou salvamento das pessoas em caso de rompimento:
“As vítimas já foram identificadas. Todos aqueles que perderam suas vidas não
imaginavam que estavam no caminho da lama e dos rejeitos após rompimento de uma
barragem cujos erros técnicos de implementação e manutenção foram
conscientemente manipulados para reduzir custos e aumentar dividendos. Sequer foi
dada a chance de defesa aos que perderam suas vidas. Não houve aviso. Sequer se
pode dizer que havia um plano emergencial, nada além de um esboço para cumprir
tabela – e por tabela – a lei. E no decorrer dos anos em que se sucederam inúmeras
ações humanas por parte das empresas envolvidas, de seus dirigentes e de seu corpo
técnico (todos com ciência do sinistro iminente), referidas ações se limitaram a
maquiar a realidade, buscando ganhar tempo com medidas de intervenção ambiental
tecnicamente duvidosas sob o ponto de vista do conhecimento acadêmico mais
elementar”. (MPF 2016).
6
http://ftp.medicina.ufmg.br/osat/relatorios/2016/SAMARCOMINERACAORELATORIOROMPIMENTOB
ARRAGEM20160502_09_05_2016.pdf
10
o salário médio mensal era de 1,7 salários mínimos, sendo que 42,3% dos domicílios têm
rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa (IBGE 2019).
Barra Longa é o município com área urbana mais duramente atingido pela lama da
barragem de Fundão. Em Mariana, o primeiro município alcançado pela lama, a área
urbana da cidade histórica não foi atingida, apesar da destruição de cerca de 350 unidades
habitacionais no subdistrito de Bento Rodrigues e nas localidades rurais de Paracatu de
Baixo, Pedras, Ponte do Gama e Campina (MPF 2016). Em Barra Longa, além das nove
casas e uma igreja destruídas pela lama no distrito de Gesteira, foram contabilizados danos
em 133 unidades habitacionais, 3 escolas, 4 pontes (MPF 2016), além da total destruição
da praça da cidade, local muito frequentado pelos moradores, que ficava às margens do Rio
do Carmo.
Figura 1: Vista de satélite das barragens antes (E) e depois do rompimento (D). (Fonte: Google imagens)
7
Entre os dezenove mortos, 12 eram funcionários terceirizados da Samarco, um era um prestador de serviço
que viera de São Paulo e outro era empregado da empresa (seu corpo nunca foi encontrado), que trabalhavam
na barragem no momento do rompimento; em Bento Rodrigues, cinco pessoas morreram, sendo quatro
moradores (duas crianças e dois idosos) e uma turista que passava férias no distrito.
11
Figura 2: à esquerda, Praça de Barra Longa atingida pelo tsunami de lama da barragem de Fundão. (Fonte:
jornal o Tempo); à direita, igreja do distrito de Gesteira (fonte: google imagens).
A onda de lama devastadora seguiu o curso do Rio Gualaxo do Norte levando
consigo tudo o que havia pela frente. Além de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, o mar
de lama ainda passou destruindo parcialmente quatro povoados: Paracatu de Cima,
Campina, Borba e Pedra da Bica antes de chegar a Gesteira, já no município de Barra
Longa, próximo ao encontro com o Ribeirão do Carmo. O estreitamento na curva onde os
dois rios se encontram fez com que parte da lama subisse, contra a correnteza, o Ribeirão
do Carmo. Por um espaço de 6 km a onda retrógrada destruiu tudo o que havia pela frente
– no caso, toda a área urbana da parte baixa da cidade de Barra Longa.
Ao desaguar no Rio Piranga que, alguns quilômetros à frente passa a se chamar Rio
Doce, o Ribeirão do Carmo despejou toda a carga de lama que, 22 dias depois chegou à
foz, em Regência, no Espírito Santo.
Além das mortes humanas, desalojamento e devastação das localidades, a lama
arrasou pastos e plantações, destruiu enormes áreas de preservação permanente, matou
milhares de animais, milhões de peixes, aniquilou habitats e alterou definitivamente
ecossistemas inteiros. De acordo com o laudo técnico preliminar do IBAMA (IBAMA,
2015), a lama de Fundão arrasou cerca de 1600 ha de matas ciliares, vegetação nativa e de
reflorestamento, inclusive áreas de preservação nativas. Em alguns pontos, a lama avançou
por até 50 metros para além das margens dos rios por onde passou.
De imediato, comunidades inteiras foram afetadas pela falta de energia elétrica com
a interrupção da geração nas usinas de Candonga, Aimorés e Mascarenhas e do
fornecimento de água ao longo de toda a extensão do Rio Doce. No mar, a pluma de lama
se espalhou por uma área de dezenas de km2, sabendo-se hoje, que os rejeitos interferem
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até no ecossistema do Arquipélago de Abrolhos8. Importa ressaltar que no o EIA da
barragem de Fundão se previa que, em caso de rompimento, a lama da barragem chegaria
no máximo ao distrito de Bento Rodrigues.
Atualmente em Barra Longa há uma extensa lista de conflitos e manifestações de
injustiça ambiental, consequências da passagem do tsunami da lama de Fundão pela
cidade. Vormittag et al apontam que, em 2017, várias manifestações de agravamento de
doenças ainda se manifestavam graças à presença da lama e da poeira por ela causada ou
dos transtornos causados pela tragédia, direta ou indiretamente. De acordo com o estudo,
cerca de 35% dos 507 entrevistados (quase 10% da população) declararam que sua saúde
piorou desde o desastre, e que 43% afirmaram que tiveram algum problema de saúde desde
novembro de 2015. As principais manifestações foram de problemas respiratórios (40%,
sendo 60% para crianças entre 0 e 13 anos), problemas de pele (16%) e transtornos mentais
e comportamentais (11%). Os resultados do estudo confirmam vários apontamentos
semelhantes. Em 2016, a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal revela que
“identificou-se que houve o aumento de 1000% na procura por atendimento médico,
havendo constantes reclamações da poeira local decorrente da secagem do rejeito
depositado na região e até hoje não retirado” (MPF 2016, p. 18). Esses resultados se
alinham fortemente com estudo semelhante realizado com atingidos de Mariana, que
aponta piora em sintomas de doenças cardiovasculares (54%), dores de cabeça (53%),
tonteiras (63%), além de 32% de manifestação de transtornos de ansiedade, número três
vezes maior que a média mundial (PRISMMA 2018).
Além do adoecimento, há uma série de outros fatores que apontam para a gravidade
da injustiça ambiental em Barra Longa. Ao contrário do que veicula na grande mídia e
pelos canais da Samarco e Vale, a Fundação Renova criada pela Samarco para gerir as
verbas de indenizações e reparações aos atingidos pelo rompimento, insiste em manter
práticas em que claramente são desrespeitados os direitos fundamentais da população em
Barra Longa. As nove famílias que moravam em Gesteira Velha seguem vivendo às custas
de aluguel pago pela empresa, enquanto aguardam o arraste das obras de construção das
novas moradias (A SIRENE, 2019).
A sequência interminável de obras de “reconstrução” na cidade também é motivo
de problemas para a população. Desde a chegada da lama, homens e máquinas transitam
8
https://www.uerj.br/noticia/pesquisa-da-uerj-comprova-contaminacao-de-abrolhos-por-residuos-da-samarco/
e
http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/Rio_Doce/nota_tecnica_23_2017_Tamar_ICMBio_monitora
mento_pluma.pdf
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diariamente pelas ruas do município. Em Janeiro de 2018, mais de dois anos após o
desastre, um grupo de atingidos entregou à Samarco uma pauta de reivindicações em que
se revelam uma série de arbitrariedades e injustiças nos processos de reparação e
indenização. Estruturada em seis eixos (1) Direito à moradia digna e infraestrutura; 2)
Direito ao trabalho digno, geração de renda e desenvolvimento socioeconômico; 3) Direito
a participação, poder de decisão e acesso à informação; 4)Direito à saúde, à qualidade de
vida e à convivência familiar e comunitária; 5) Direito ao ambiente saudável; 6) Direito a
indenização justa ) (MAB 2018), a pauta revela que a assimetria de poder ainda é um dos
principais elementos de desequilíbrio no balanço sociometabólico em Barra Longa. Em sua
edição de Abril de 2019, o Jornal A Sirene denuncia como a Fundação Renova segue
lançando mão de artifícios que, ao que parece visam, em última instância, dificultar o
acesso dos atingidos às devidas indenizações:
“O propósito da Fundação está totalmente distorcido, porque ela fala em metodologia,
mas usa estratégia. O propósito deveria ser de indenização e reparação justas, a justiça
pelos mortos, a preservação da história. A Renova foi construída para garantir direitos,
mas, nesse caso, os direitos das empresas e não dos atingidos. Tanto é que a existência
dela é pelos recursos das empresas e o propósito da mineradora é o lucro. Em uma
situação dessa que aconteceu com a Samarco, e agora com a Vale, o foco passa a ser
minimizar prejuízos”. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues (A SIRENE, 2019)
“A Fundação trabalha para individualizar os atendimentos às famílias e apresentar
propostas de reparação também individualizadas, inclusive com tratamentos muito
diferentes para casos semelhantes. Desmotivam a organização das comunidades e
desgastam os espaços coletivos para que as pessoas associem reunião à enrolação. Ou
seja, ao invés de encaminhar e resolver as solicitações de reparação levadas pelas
pessoas atingidas, a Renova adia soluções alegando, muitas vezes, “inviabilidade
técnica”. Caromi Oseas, Assessoria Técnica da Cáritas (A SIRENE, 2019).
14
industrial, Barra Longa tinha sua economia praticamente integralmente baseada no
recebimento de recursos externos, em especial do fundo de participação dos municípios
(FPM) do governo federal. Dizemos assim, que o metabolismo social em Barra Longa era
de baixa intensidade, com seus cerca de seis mil habitantes vivendo rotinas simples,
comuns em cidades pequenas no território brasileiro. Porém, com o a chegada da lama de
fundão observa-se uma forte aceleração no metabolismo social: um forte aumento na
população temporária com trabalhadores que atuam na construção da cidade, aumento dos
índices de doenças físicas e mentais; aumento da violência urbana. Observa-se ainda uma
nova configuração econômica, com o município, agora, passando a depender de um novo
fluxo de dinheiro sem que se garanta qualquer estabilidade de uma nova atividade
econômica local. Passos et al indicam que [...] Com os desastres, as tensões se acirram; a
dependência que a atividade impõe ao município, característica desse modelo
neoextrativista, agrava o quadro social com o aumento do desemprego e a diminuição da
arrecadação” (Passos et al, 2007, p.270).
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Figura 3: Valores pagos pela Fundação Renova em indenizações
Fonte: Jornal O Estado de Minas.
Nas palavras dos moradores de Barra Longa reproduzidas pela edição de 11 de
janeiro de 2019 no jornal A Sirene, encontramos uma síntese final do modo como a
chegada da lama promove, em um só tempo, o aumento do metabolismo social enquanto
apresenta um forte desequilíbrio metabólico em detrimento daqueles que se encontram no
lado mais frágil da balança:
“para os(as) moradores(as) das comunidades atingidas, o rompimento foi só o início
do que viria pela frente. Hoje, além de lutar por uma reparação justa, eles(as) lidam
de forma constante com o desmerecimento da fundação renova em relação às
moradias que eles(as) mesmos haviam construído, já que as empresas afirmam que
as casas foram, na verdade, malfeitas. Com essa alegação, a renova tenta se
esquivar, a todo momento, da responsabilidade pelos desdobramentos do crime
quando se trata das casas trincadas por causa do intenso tráfego de caminhões nas
cidades após o desastre e, sobretudo, não é capaz de entender que, mesmo diante de
uma reconstrução ou de uma nova construção nos reassentamentos, os modos de
vida desses moradores já foram alterados.” (A Sirene, 2019)
Considerações Finais
Este artigo tem como objetivo principal caracterizar os conflitos socioambientais
que se observam ainda hoje em Barra Longa, desde a chegada da lama da
Samarco/Vale/BHP, como conflitos ecológicos distributivos, ou seja, conflitos oriundos de
um desequilíbrio na balança sociometabólica do município, ou seja, e a entrada de
benefícios advindos da atividade minerária não compensa os custos decorrentes dessa
atividade. Por se tratar de uma cidade não produtora, Barra Longa apresenta característica
16
peculiar nesse desequilíbrio, pois não conta com receita (entrada) dos royalties da
mineração. Assim, o que se observa na cidade, com a chegada do rejeito em novembro de
2015 é uma abrupta aceleração do metabolismo social, com forte desequilíbrio de forças
entre a empresa, representada pela Fundação Renova, e os demais stakeholders envolvidos
no conflito.
Acreditamos que, à medida que for aperfeiçoada, a metodologia aqui esboçada
possa que dispor de uma forma de sistematizar, analisar e apresentar os dados quantitativos
e informações qualitativas, numa forma não convencional, que vá além das usuais
contabilidades monetizadas, e que permita colocar em perspectiva um balanço de ganhos e
perdas, identificando como diversos segmentos da sociedade são beneficiados ou
penalizados, representando vantagens relevantes. Do ponto de vista acadêmico, pode
oferecer um avanço em termos de construção metodológica sobre um corpo de
conhecimento já bastante consolidado, o da Ecologia Política, em diálogo com a Economia
Política e com a Economia Ecológica. Do ponto de vista do debate público, pode tornar
mais efetiva a comunicação sobre os benefícios e os ônus da mineração, num momento
muito sensível em razão do grande número de barragens de resíduos que se encontram em
situação de grave risco de ruptura. E, finalmente, e não menos importante, poderá
disponibilizar a tomadores de decisão pública, como é os casos de legisladores, gestores
locais e Ministério Público, uma ferramenta de apoio e informação às suas atuações.
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