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Desempenho de linhas de distribuição devido a

descargas atmosféricas usando ATP-Draw

Roberto J. Cabral, Daniel S. Gazzana, Roberto C. Marcos Telló


Leborgne, Arturo S. Bretas, Guilherme A. D. Dias Companhia Estadual de Energia Elétrica – CEEE – D
Departamento de Engenharia Elétrica Porto Alegre, Brasil
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS marcost@ceee.com.br
Porto Alegre, Brasil
rjcabral@ece.ufrgs.br, dgazzana@ece.ufrgs.br,
rcl@ece.ufrgs.br, abretas@ece.ufrgs.br, gaddias@terra.com.br

Abstract—Este trabalho apresenta um estudo do desempenho de potência (SEP) são fortemente dependentes do valor de pico e
uma linha de distribuição relacionado à ocorrência de surto do tempo de subida da corrente da descarga atmosférica, tendo
atmosférico direto atingindo um determinado ponto do sistema. influência significativa na capacidade de suportabilidade dos
A análise baseia-se no cálculo de flashover e backflashover equipamentos [2].
usando o programa ATP-Draw. Tal software é utilizado para
realizar estudos paramétricos com o intuito de determinar a Uma descarga atmosférica ao atingir um condutor de fase
sensibilidade da ocorrência de flashover e backflashover, levando ou cabo de cobertura pode produzir um flashover ou
em consideração alguns parâmetros da linha de distribuição. backflashover se a sobretensão exceder a tensão crítica do
São apresentados também os modelos elétricos dos componentes isolador (Critical Flashover Overvoltage - CFO) [3]. Durante
do sistema envolvido, os quais baseiam-se na representação do a fase de planejamento e expansão do Sistema Elétrico de
alimentador considerando a dependência da frequência dos seus Potência (SEP), o projeto do Sistema de Proteção Contra
parâmetros eléctricos. Os elementos do sistema como postes, Descargas Atmosféricas (SPDA) mostra ser de fundamental
isoladores, cruzetas e sistema de aterramento são modelados por importância, proporcionando grande confiabilidade para os
um circuito elétrico equivalente. Os resultados obtidos mostram SEP e garantindo melhorias na qualidade e confiabilidade do
que a configuração com blindagem, composta por cabo de fornecimento de energia [4].
cobertura, assegura uma proteção significativamente melhor do
que a topologia existente. Assim, a configuração proposta A simulação computacional mostra ser uma importante
confere melhorias no desempenho do sistema de distribuição ferramenta para estudar o desempenho de SEP com base na
contra as descargas atmosféricas. análise de flashover e backflashover provocado por descargas
atmosféricas [5]. Para tal fim, o programa de transitórios
I. INTRODUÇÃO eletromagnéticos ATP-Draw foi utilizado neste trabalho.
Estudos recentes têm seu foco na análise dos efeitos da
Um dos primeiros trabalhos relacionados à melhoria do variação da resistência impulsiva de aterramento, altura da
desempenho de linhas de transmissão frente às descargas torre, isolamento, distância entre postes da linha e diferentes
atmosféricas foi desenvolvido por um grupo de trabalho do configurações em função do tipo de rede (urbana ou rural)
IEEE [1]. No referido trabalho foi proposto um método além de aspectos técnico econômicos sobre o nível de
simplificado que se baseava na incorporação de informações proteção contra a ocorrência de flashover e backflashover,
sobre as características das descargas atmosféricas verificadas, apontando medidas para melhorar o desempenho do sistema
tomando como referência o desempenho das linhas existentes. de proteção de redes de distribuição [5], [6], [7].
As comparações com o desempenho de linhas de transmissão
reais eram fornecidas juntamente com curvas para a estimativa Dados reais provenientes de uma linha de distribuição do
geral de desempenho. sul do Brasil foram utilizados como um estudo de caso para
ilustrar o potencial do modelo desenvolvido. Deste modo, no
Um dos parâmetros mais importantes utilizados na presente trabalho, são comparados dois cenários diferentes:
especificação dos materiais e dispositivos que compõem as sistema atual com postes sem cabo de cobertura com alta
redes de transmissão e distribuição, no ponto de vista de resistência de aterramento e o sistema proposto, com a
proteção contra descargas atmosféricas é a corrente do surto, presença de cabo de cobertura e baixa resistência de
caracterizada pelo seu valor de pico, forma de onda e pela aterramento.
energia transferida para a rede elétrica ou equipamento
atingido. Os transitórios de tensão no sistema elétrico de
Finalmente, novas configurações são sugeridas a fim de onde P(I) é a probabilidade de que a corrente da descarga
assegurar um nível mais confiável de proteção contra atmosférica seja maior que I, I é a corrente da descarga
flashover e backflashover, tendo o objetivo de melhorar o atmosférica (kA), x é o exponente (2 segundo Popolanski e 2,6
desempenho da rede de distribuição. Os resultados segundo Anderson-Eriksson), I50% é a corrente da descarga
preliminares obtidos com esta abordagem foram apresentados atmosférica cuja probabilidade é de 50% (25 kA segundo
em [4] e [8]. Popolanski e 31 kA segundo Anderson-Eriksson) [2].

II. MODELAGEM DOS COMPONENTES DO SEP NO ATP-


DRAW
A estimação de sobretensões devido a surtos atmosféricos
pode ser realizada com uma boa precisão por meio de
simulação digital, considerando modelos matemáticos
rigorosos para todos os componentes envolvidos. O software
ATP-Draw não tem um modelo único de linha de distribuição
adequado para este propósito. No entanto, ele permite aos
usuários desenvolverem seus próprios modelos. Vários
estudos têm sido publicados nos últimos anos em relação à
modelagem de componentes do sistema de energia nas
análises de transitórios eletromagnéticos [9] e [10]. Nas seções
seguintes, serão apresentados alguns modelos implementados
no software ATP-Draw para representar um alimentador de  
distribuição.
Figura 1. Forma de onda da descarga atmosférica gerada pela fonte Heidler
A. Fonte de surto atmosférico [15].

A descarga atmosférica é geralmente representada por uma Na Fig. 2 pode-se observar as variáveis utilizadas para
fonte de corrente impulsiva. Seus parâmetros como o tempo modelar a fonte da descarga atmosférica utilizando o modelo
de subida, a corrente de pico máxima e a duração do surto são de fonte tipo Heidler [16].
determinados por uma abordagem estatística, considerando a
densidade de descargas no solo de um local em particular. O
procedimento de cálculo para estes parâmetros é mostrado em
[11]. A forma de onda e amplitude da corrente da descarga é
influenciada por fatores estocásticos, tais como: localização
geográfica, condições geológicas, climáticas e duração do
evento. O raio pode ser idealizado por um gerador de onda de
corrente tipo Heidler [12] - [14], representado pela equação
(1),

t
Ip ksn 
i(t )  e 2 (1)
 (1  ks )
n

onde IP é o pico da corrente da descarga (kA); η é o fator


de correção da corrente de pico; ks = t/τ, τ1 e τ2 são as
constantes de tempo que definem de subida da frente de onda
e a taxa de queda; e n é o fator de crescimento da corrente.
Figura 2. Parâmetros do Componente Heidler no ATP-Draw [16].
Pode-se observar as características e parâmetros da curva
da descarga atmosférica na Fig. 1 [15]. Esses parâmetros
B. Alimentadores aéreos
podem ser também alterados de forma aleatória, o que
representa o comportamento estocástico de uma descarga O alimentador rural de distribuição é representado
atmosférica. considerando vãos de 80 m entre dois postes consecutivos,
sendo modelado por parâmetros distribuídos dependentes da
A corrente da descarga atmosférica é definida pela sua frequência (modelo tipo JMarti) [16]. As frentes de onda, com
forma e parâmetros característicos. A amplitude da corrente picos de tensão mais elevados, são observadas na proximidade
segue uma lei de probabilidade dada pela probabilidade do ponto de impacto da descarga, porém é necessário
cumulativa da corrente, como mostrado na equação (2) [2], considerar os postes vizinhos ao poste atingido pela descarga
atmosférica. Os alimentadores são representados por três
1 seções de linha dependentes da frequência em cada lado do
P( I )  x
(2)
 I  poste atingido pelo surto. Os dados considerados na sub-rotina
1   (modelo de JMarti) foram: a frequência característica repartida
 I 50%  em 8 décadas com 10 pontos/décadas; a frequência
fundamental igual a frequência industrial de 60 Hz e o valor
de 500 kHz como frequência característica para representar
fenômenos referidos a surtos atmosféricos, levando em
consideração o efeito pelicular “skin effect” [9].

C. Isoladores
O conjunto isolador-cruzeta foi representado por
interruptores controlados por tensão SWITCHVC disponíveis
na biblioteca de ATP-Draw [16]. Os fenômenos de flashover e
backflashover ocorrem no isolador quando a tensão sobre seus
extremos ultrapassa a tensão crítica chamada de CFO (Critical
Flashover Overvoltage). Portanto, se o CFO foi ultrapassado,
uma falha no sistema irá ocorrer. É importante salientar que a
capacidade dos equipamentos elétricos no que diz respeito a
resistência a sobre-tensão, não é facilmente definida e depende
do tempo de exposição.
O esquema do mecanismo do interruptor controlado por
tensão conectado em paralelo é mostrado na Fig. 3. O
interruptor recebe a ordem de fechar seus contatos do modelo
de flashover ou backflashover implementado com a linguagem
Figura 4. Modelo de poste de madeira do sistema elétrico de distribuição
MODELS do ATP-EMTP [17]. rural existente [4] e [8].

Figura 3. Mecanismo do modelo elétrico do isolador no ATP-Draw [17].

D. Postes de distribuição
Os postes de madeira utilizados nos sistemas de
distribuição são simulados por impedâncias. Cada seção do
poste é representada pelo valor de impedância correspondente
para evitar reflexões da onda, sendo as mesmas conectadas em
Figura 5. Modelo de poste de madeira do sistema elétrico de distribuição
série como ilustrado na Fig. 5 e na Fig. 6. A resistência de rural proposto [4] e [8].
aterramento é também considerada e conectada em série com
as impedâncias do poste. Os postes são modelados usando
parâmetros distribuídos independentes da frequência E. Sistemas de aterramento
utilizando o modelo de linha LINEZT_1 [16]. A impedância Formulações analíticas como as apresentadas na
Zposte é calculada de acordo com a equação (3) [18], ANSI/IEEE Std. 142 [20] e na ANSI/IEEE Std. 80 [21]
podem ser utilizadas para a estimação da resistência de
 H  (3) aterramento. Uma aproximação da impedância de surto
Z Poste  60ln  2 2 c   60 característica pode ser feita em termos da resistência estática
 rc 
de aterramento Rg por meio das equações (4) e (5) onde ρsolo é
onde Hc é a altura média dos postes (m) e rc é o raio da resistividade do solo (Ω.m), l é o comprimento do eléctrodo
base dos postes (m). (m), a é o raio da haste (m). No caso de uma única haste, Rg
pode ser calculada usando a seguinte equação [19]:
Na Fig. 4 e na Fig. 5 são apresentadas as estruturas dos
postes e a disposição geometria dos condutores de distribuição
rurais [4] e [8].
 solo   4l   Neste estudo considera-se que as descargas atmosféricas
Rg  ln  a   1 (4) atingem diretamente um poste em particular. Para cada lado
2 l     deste poste, são representados três vãos de linhas (modelo de
JMarti) dependente da frequência. O restante do SEP é
No caso de varias hastes espaçadas por uma distancia s
representado por duas seções de alimentadores de 3 km de
(m), Rg pode ser determinada de acordo a seguinte equação:
comprimento (modelo LINEZT_3) [22] e [23]. Esta
consideração é feita a fim de reproduzir o efeito de
 solo   4l    solo  l2 2l 4  propagação da onda na linha. Uma das extremidades do
Rg  ln  1  1  
  a   4 s  3s8 5s 4  (5)
4 l       alimentador está conectada à subestação Marmeleiro e a outra
a uma matriz de impedâncias, equivalente a impedância
Uma vez calculado o valor de Rg para cada tipo de característica da linha para impedir a reflexão das ondas de
aterramento, o mesmo pode ser modelado no ATP-Draw por tensão.
meio de uma resistência concentrada, cujo valor médio é A seguir são apresentados os circuitos equivalentes aos
estimado para todos os postes da região. SEP modelados no programa ATP-EMTP, representando a
linha de distribuição existente sem blindagem (Fig. 7) e o
Duas topologias de aterramento costumam ser utilizadas
alimentador protegido (Fig. 8). Estes modelos podem ser
nos postes das linhas em estudo: a primeira delas composta
usados para simular os fenômenos de descarga atmosférica
apenas por uma haste e a segunda constituída por contrapeso e
atingindo o sistema rural de distribuição.
associação de hastes conectadas eletricamente, conforme
ilustra a Fig. 6. III. ESTUDO DE CASO E RESULTADOS
Como exposto anteriormente, as descarga atmosféricas
possuem comportamento aleatório. Deste modo, a fim de
determinar os parâmetros relacionados a este fenômeno
natural com maior influencia na geração de sobretensões em
um alimentador, realizou-se um estudo de sensibilidade. Para
tal análise, considerou-se a variação da amplitude da corrente
e a resistência de aterramento como parâmetros de
investigação.
Para realizar o estudo de sensibilidade entre os dois
  sistemas, sem e com blindagem, considerou-se o valor da
Figura 6. Topologia de aterramento típico de sistemas de distribuição  
amplitude da descarga variando de 0,1 kA até 10 kA.
Para o sistema de distribuição rural sem cabo de cobertura
F. Rede equivalente do sistema (Caso 1), considerou-se a resistência de aterramento igual a
O sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) em 1000 Ω e resistividade do solo de ρ = 100 Ω.m , valor de
estudo possui alimentadores aéreos rurais com tensão de 21,3 resistência media de aterramento referente as dimensões do
kV. O alimentador está ligado ao sistema de subtransmissão diâmetro e comprimento do poste aterrado).
de 138 kV na subestação Marmeleiro-RS. Este sistema é As simulações foram realizadas de acordo com valores
representado por um circuito equivalente modelado no ATP- reais do sistema existente. No sistema aéreo de distribuição,
Draw como uma fonte de tensão ideal tipo ACSOURSE [22] caracterizado pela presença do cabo de cobertura (Caso 2),
ligado em serie a impedância equivalente de Thevenin considerou-se a resistência de aterramento na base do poste
modelada por uma linha tipo PI - RLC3 [22]. igual a 10 Ω, valor recomendado em [9] e [11] para uma e
resistividade do solo de ρ = 100 Ω.m.

Figura 7. Circuito equivalente do SEP modelado no ATP-Draw sem cabo de cobertura, topologia existente (Caso 1).
Figura 8. Circuito equivalente do SEP modelado no ATP-Draw com cabo de cobertura, topologia proposta (Caso 2).

Para ambos os estudos (Caso 1 e Caso 2) a resistividade do


solo assumiu o valor de ρ = 100 Ω.m. As hastes utilizadas no
aterramento possuem 2,4 m de comprimento e 13 mm de
diâmetro. Os isoladores dos alimentadores de 23,1 kV
possuem um CFO = 180kV. Considerou-se também a
impedância do canal de descarga do surto igual a 400 Ω [24] -
[25].
A descarga atmosférica para a configuração não protegida
(Caso 1) foi aplicada no condutor de fase C (fase mais
comprometida). Na configuração com blindagem (Caso 2), o
surto foi aplicado no cabo de guarda. As tensões sobre o ponto
de injeção do raio e sobre os extremos dos isoladores das fases
foram medidas com referência a terra remota. Como
Figura 10. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das
comentado anteriormente, se a sobretensão produzida sobre os
fases para uma corrente Isurto = 750 A (Caso 1).
extremos do isolador exceder o valor do CFO, o fenômeno de
flashover ou backflashover pode ocorrer. A Fig. 11 mostra a sobretensão produzida pela descarga
atmosférica (Vsurge) para uma corrente de descarga Isurge =
Nas figuras seguintes Vsurge é a tensão de surto no local 1000 A. Esta corrente não causa o fenómeno de flashover
da descarga, VLINEA-VINSUL, VLINEB-VINSUL e sobre os isoladores. Por outro lado, para correntes de descarga
VLINEC-VINSUL são as tensões sobre cada isolador nas acima de Isurge = 2500 A se observa a ocorrência de flashover
respectivas fases dos alimentadores. Na Fig. 9 até a Fig. 14 sobre os isoladores (Fig. 12 até Fig. 14).
podem ser visualizadas as tensões produzidas sobre os
isoladores, considerando diferentes valores de corrente de pico
do surto, variando de 0,5 kA até 4,5 kA para a configuração
do alimentador atual sem blindagem (Caso 1).

Figura 11. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das


fases para uma corrente Isurto = 1000 A (Caso 1).

Figura 9. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das


fases para uma corrente Isurto = 500 A (Caso 1).
magnitude positiva. Por outro lado, a diferença das tensões
sobre os isoladores apresenta valores negativos de tensão, fato
este justificado que na ocorrência de backflashover, o poste e a
cruzeta estão na mesma tensão que a descarga do surto
atmosférico. A base do isolador tem um potencial maior do
que os condutores, gerando assim tensões negativas. Quando a
tensão sobre o isolador excede a tensão crítica (CFO), ocorre o
fenômeno de backflashover na fase mais comprometida. Os
isoladores de linhas de distribuição (21,3 kV) apresentam uma
CFO igual a 180 kV. Quando ocorre o backflashover na fase C
(fase mais crítica), a tensão sobre o isolador torna-se zero. Nas
outras fases, a tensão cai devido à indução eletromagnética
provocando também backflashover, este comportamento da
Figura 12. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das tensão pode ser observado na Fig. 18 e Fig. 19.
fases para uma corrente Isurto = 2500 A (Caso 1).

Figura 15. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das


Figura 13. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das fases para uma corrente Isurto = 500 A (Caso 2).
fases para uma corrente Isurto = 4000 A (Caso 1).

Figura 16. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das


Figura 14. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das fases para uma corrente Isurto = 2500 A (Caso 2).
fases para uma corrente Isurto = 4000 A (Caso 1).

A Fig. 15 até Fig. 19 ilustram o comportamento da tensão,


quando a descarga atinge o cabo de cobertura (Caso 2). Pode-
se observar que o sistema com blindagem suporta maiores
valores de sobretensões que no Caso 1 devido à baixa
resistência de aterramento (10 Ω). Deste modo, com a
consideração do uso de cabo de guarda o alimentador está
protegido até uma corrente de surto = 4500 A.
A Fig. 17 mostra a sobretensão produzida pela descarga
atmosférica (Vsurge) para uma corrente de descarga Isurge =
4000 A. Esta corrente não causa o fenómeno de backflashover
sobre os isoladores. Por outro lado, para correntes de descarga
acima de Isurge = 4500 A se observa a ocorrência de
Figura 17. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das
backflashover sobre os isoladores (Fig. 18 - 19). Nestas fases para uma corrente Isurto = 4000 A (Caso 2).
figuras, as sobretensões da descarga atmosférica têm
TABELA II. VALORES DE TENSÃO SOBRE OS ISOLADORES - SEP COM
CABO DE COBERTURA - TOPOLOGIA PROPOSTA (CASO 2).

Isurto Vsurto Visolador fase A V isolador fase B V isolador fase C


[A] [kV] [kV] [kV] [kV]
500 38.95 -14.65 -22.08 -22.56
750 58.42 -24.73 -31.59 -32.63
1000 77.89 -34.79 -41.09 -42.69
2500 194.75 -95.19 -98.13 -103.09
4000 311.60 -155.14 -163.82 -163.44
4500 339.93 -172.11 -170.84 -179.98
5000 339.73 -172.53 -170.77 -179.94

Figura 18. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das


fases para uma corrente Isurto = 4500 A (Caso 2). Com base nos resultados das simulações realizadas em
ATP-Draw, pode-se verificar que as correntes até 2,5 kA
(Caso 1) não causam flashover e correntes de até 4,5 kA não
produzem backflashover para o sistema blindado com cabo de
guarda (Caso 2).

IV. CONCLUÇÕES
Este artigo apresentou um estudo sobre o desempenho de
duas configurações de alimentadores de distribuição rurais
frente às descargas atmosféricas usando o software ATP-
Draw. A primeira configuração refere-se a um sistema não
blindado (sem cabo de cobertura), onde seu desempenho é
comparado com uma segunda configuração com alimentador
com cabo de cobertura. De acordo com as simulações
realizadas, pode-se concluir que o sistema com cabo de
Figura 19. Tensão da descarga atmosférica e tensões sobre os isoladores das
fases para uma corrente Isurto = 5000 A (Caso 2). cobertura melhora o desempenho de alimentadores contra a
ocorrência de descargas atmosféricas.
Por razões de espaço apenas alguns resultados são
apresentados neste trabalho. A Tabela I e a Tabela II, Pode-se também confirmar que o tipo de aterramento, a
sumarizam valores importantes relacionados a ocorrência de configuração dos condutores das fases (com e sem cabo de
falhas. Os números em negrito indicam as magnitudes de guarda) e a topologia do poste podem afetar
sobretensão, as quais os isoladores estão submetidos, significativamente a ocorrência de flashover e backflashover
produzindo assim a ruptura do dielétrico do ar ocasionando os nos sistemas de distribuição rurais.
fenômenos de flahsover e blackflashover no SEP. Estas A utilização de cabo de guarda no SDEE não uma prática
tabelas apresentam as tensões de surto e as tensões aplicadas usual. Via de regra, os SDEE urbanos possuem alimentadores
sobre os isoladores para diferentes correntes de surto, quando curtos, ramificados, onde a proteção é realizada por para-raios,
o mesmo atinge o condutor de fase ou o cabo de cobertura seccionadoras, entre outros componentes isolando a região
respectivamente. Onde Isurto é a corrente da descarga com falha.
atmosférica (A), Vsurto é a tensão da descarga atmosférica (kV)
e Visolador fase A, Visolador fase B e Visolador fase C são as tensões sobre os Além disso, SDEE urbanos são protegidos por edificações,
extremos do isolador das respectivas fases (kV). prédios de grande porte, arvores, linhas subterrâneas, etc. A
utilização de cabo de cobertura é justificada somente para
TABELA I. VALORES DE TENSÃO SOBRE OS ISOLADORES - SEP SEM casos especiais onde os consumidores tem prioridade no
CABO DE COBERTURA - TOPOLOGIA EXISTENTE (CASO 1). fornecimento de energia, como é o caso de hospitais e
indústrias de grande porte.
Isurto Vsurto Visolador fase A V isolador fase B V isolador fase C
[A] [kV] [kV] [kV] [kV] No caso de SDEE rurais a utilização de cabo de cobertura
é justificada para regiões com alto índice ceráunico e em casos
500 68.119 28.016 29.104 68.119 onde o fornecimento de energia para consumidores industriais
750 103.59 39.288 45.203 103.59 e produtores agrícolas é de suma importância.
1000 139.31 50.555 61.299 139.31
2500 179.53 63.866 81.162 179.53 Os índices de qualidade da energia elétrica (QEE) são
4000 177.63 62.809 79.930 177.63 afetados pela saída de serviço do SEP devido aos fenômenos
4500 177,34 62.632 79.729 177.34 eletromagnéticos produzidos pelas descargas atmosféricas.
5000 176.91 62.105 79.012 176.91
Por fim, vale ressaltar que este trabalho apresenta uma
possível solução a ser adotada por concessionárias de
distribuição de energia elétrica, as quais podem estar sofrendo
interrupções frequentes devido à fraca proteção dos seus
alimentadores contra este tipo de fenômeno natural. O [11] CIGRE WG 33-01, Guide to procedures for estimating the lightning
desligamento inesperado de um determinado circuito atingido performance of transmission lines, CIGRE Working Group 33-01
(Lightning) of study Committee 33 (Overvoltage and Insulation
por um surto atmosférico, afeta diretamente aos usuários, Coordination), CIGRE Brochure 63, 1991.
ocasionado perdas financeiras devido ao baixo desempenho do [12] P. Handl. “The dependence of the expectable number of transmission
sistema além das consequentes penalidades aplicadas pelo line faults on the degree of the compactness”. Proceedings IEEE Power
órgão regulador devido aos inapropriados índices de QEE. Tech Conference, Bologna, Italy, vol. 2, 2003.
[13] F. Heidler, M. Cvetic and B. V. Stanic. “Calculation of lightning
current parameters”, IEEE Trans. on Power Delivery, vol. 14, no 2, pp.
AGRADECIMENTOS 399-404. April 1999.
Os autores agradecem a CAPES, CNPq e CEEE-D pelo [14] J. A. Martinez Velazco, F. Castro Aranda, O. P. Hevia. “Generación
apoio financeiro durante o desenvolvimento deste trabalho. aleatoria de los parámetros del rayo en el cálculo de sobretensiones
atmosféricas”. ALTAE 2003. San Jose, Costa Rica. Aug. 18-23, 2003.
[15] J. A. Martinez Velazco, F. Castro Aranda. “Modeling of Overhead
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