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Parque D.

Pedro II:
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URBANISMO TRANSPORTE
proposta de revitalização multifocal
ENGENHARIA/2009
595

Maria Rosana Ferreira Navarro*

A proposta de
revitalização multifocal do
Parque D. Pedro II, na
cidade de São Paulo,
apresentada nesta
monografia, atende às
diretrizes de intervenção
relatadas nas cartas
internacionais de interesse
comum da população e do
planeta e nas legislações
nacionais vigentes, tendo
como base a conjunção da
saúde ambiental com a
saúde pública, permeando
as dimensões de âmbito
local, regional, nacional
e mundial

O Parque D. Pedro II, e sua região de abran-


gência, está localizado na capital econômi-
ca do país, São Paulo, evidenciada na sua região
contexto histórico e que atualmente se encontra
abandonado e numa região de abrangência dete-
riorada, em razão de diversos fatores de interven-
por diretrizes integrantes da promoção da saúde
pela capacitação da comunidade para atuar na
melhoria de sua qualidade de vida, fomentando
metropolitana, no Estado de São Paulo, o mais ção urbana, que propiciaram seu estado presente, sua maior participação no controle deste proces-
próspero em desenvolvimento tanto econômico percebemos que os atores sociais ali presentes so para atingir um estado de completo bem-estar
quanto educacional e científico do Brasil. Esse local apresentam-se em condições de saúde precária. O físico, mental e social, na identificação, aspirações,
carrega os maiores e mais importantes momen- meio espacial deteriorado, sua configuração ina- para satisfazer necessidades e modificar favoravel-
tos da história do desenvolvimento econômico, dequada e seu péssimo estado de conservação re- mente o meio ambiente (conforme a Carta de Ot-
da intervenção de melhoramento urbanístico e portam aos seus usuários as características físicas, tawa, 1986, p. 1). Também por demais parâmetros
do movimento sindical da produção industrial do mentais e sociais, como depreciação, depressão e para a revitalização dessa região, como resgatar a
país. Quando nos deparamos com um parque na exclusão. Este trabalho visa propor um projeto ur- autoestima da comunidade e recuperar a salubri-
área central da cidade de São Paulo, inserido neste banístico de recuperação daquela área amparado dade ambiental e social local.

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percursos dos cavaleiros, despertou a possibilidade

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de implantação de um jardim público em 1872, co-
nhecido como Ilha dos Amores. Ele foi aterrado no
intuito de minimizar essas enchentes; contudo, teve
pouca duração. A compactação do solo agravou a
situação, pois diminuiu a permeabilidade do solo
Situação Existente a permanecer: e o escoamento das águas que pertencem às leis
1 - Mercado Municipal da natureza. Assim, partes altas das colinas dessa
2 - Terminal de ônibus região por estarem protegidas das enchentes, eram
3 - Passarelas existentes a permanecer mais valorizadas e foram ocupadas pela classe
4 - Estação do Metrô D. Pedro social mais abastada. Em contrapartida, as terras
baixas e alagadiças eram mais baratas, portanto
5 - Terminal Expresso Tiradentes adquiridas pelos empresários para formação do
6 - Estação Expresso Tiradentes D. Pedro parque industrial paulistano; margeando a ferrovia
e seu entorno propiciou a ocupação habitacional
Situação Existente a demolir: dos operários destas indústrias, dos conhecidos
1 - Viadutos Existentes a demolir bairros do Brás e da Mooca, sendo eles os usuários
2 - Remover esta via da Av. do Estado desse jardim público enquanto este existiu.
para integrar ao parque e implantar O Rio Tamanduateí era navegável e era por
meio dele que a cidade era abastecida, até mesmo
ciclovia
pelo primeiro mercado municipal de São Paulo,
que havia sido construído em 1867, na Rua 25
Propostas de intervenção: de Março. Por volta de 1910, foi feita uma nova
1 - Universidade Pública tentativa de revigorar essa área, anteriormente
2 - Edifício São Vito e os laterais a ocupada pelo jardim público, pelas diretrizes do
serem implodidos e a área transformada arquiteto francês Bouvard, com um parque nos
em praça integrando com o parque moldes franceses; seriam acrescidos equipamen-
tos de esporte e lazer e uma construção suntuosa,
3 - Travessia da Av. Rangel Pestana
o Palácio das Indústrias, destinado para exposi-
em nível ções, frequentada pela elite da época.
4 - Ponto de Táxi Analisando o histórico dessa região, marcada
5 - Baia de carga e descarga pela segregação social influenciada pelo meio, com
(de madrugada) a barreira física do rio, a vulnerabilidade de inunda-
6 - Estação Primária de Tratamento ções da várzea, separou literalmente a população
de Esgoto local em duas classes sociais, com a implantação
do parque, a divisão ficou espacialmente evidente.
7 - Semáforo com faixa de pedestres
Algumas análises remotas concluíram que os
e ciclovias recursos do solo devem estabelecer as limitações
- O Tráfego de veículos estão às quais ele se obriga de acordo com os valores
indicados pelas flechas amarelas, no naturais priorizados e hierarquizados, as questões
entorno do parque econômicas, as necessidades sociológicas e os va-
lores espirituais e que deverão estar em conjunto
integrado, equilibrado, harmonioso, funcional e
saudável, como recomendação do “estatuto do
É importante lembrar que várias iniciativas grama da Prefeitura de São Paulo, denominado solo” (Jeanneret, 1933, questão 85, p. 103 e 104).
têm sido preponderantes nas discussões sobre Ação Centro, desenvolvido em parceria com a No Brasil, em dois artigos da Constituição
essa região, dando origem à Lei 12.346, de 6 de sociedade civil, com o objetivo de reverter o pro- Federal de 1988 e regulamentado pela Lei nº
junho de 1997, conhecida também como Opera- cesso de degradação e desvalorização afetiva do 10.157/2001, denominado Estatuto da Cidade,
ção Urbana Centro. Ela constitui um programa de centro da cidade, coordenado pela Emurb. estabelece o planejamento do desenvolvimento
melhorias para a área central da cidade, criando A essa área da Várzea do Carmo, abrilhantada das cidades a fim ordenar e controlar o uso do
incentivos e meios para sua implantação com a com a presença marcante da passagem do Rio Ta- solo para prevenir e recuperar a deterioração das
participação dos proprietários, moradores, usuá- manduateí, como disse “o rio que atravessa nossas áreas urbanizadas, como também, a poluição e a
rios permanentes e investidores privados, visando vidas” (autor desconhecido), inundando sua região degradação ambiental.
a melhoria e valorização ambiental da área cen- nos períodos de chuvas, como ilustram diversas O crescimento desordenado produz o caos
tral da cidade (São Paulo, 1997, Art. 1º). pinturas e fotos no transcorrer dos tempos, desde urbano e consequentemente, gera a deteriora-
Em 2001, foi implementado mais um pro- sua tímida utilização inicial, mesmo nas paradas dos ção das zonas centrais da cidade, resultado dos

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1 - Palácio das Indústrias (Museu Catavento) 8 - Terminal Expresso Tiradentes
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2 - Anfiteatro [proposta da Lina (a ser implantado)] 9 - Terminal de ônibus Pq. D. Pedro II


3 - Colégio Estadual São Paulo 10 - Estação D. Pedro Expresso Tiradentes
4 - Estação de Metrô D. Pedro II 11 - Casa das Retortas
5 - Mercado Municipal (a ser Museu da Criança)
6 - Quartel do Batalhão da Guarda 12 - Rio Tamanduateí
(proposta: Museu da Reciclagem) 13 - Av. do Estado à permanecer
7 - Estação de Tratamento Primário de Esgoto 14 - Av. do Estado à ser removida
(proposta a ser implantada)

Propostas a serem Implantadas


15 - Administração do Parque 20 - Banheiro Público
16 - Restaurante 21 - Ciclovia Arborizada
17 - Lanchonete 22 - Baia de carga de Descarga
18 - Ponto de Táxi 23 - Passarelas - Praça
19 - Bicicletário 24 - Edifícios a serem implodidos e quadra
transformar-se em praça integrada ao Parque
altos índices de empilhamento, insalubridade, as condutas de intervenção. Para fins compara- nio, monóxido de carbono e desfavoráveis para
promiscuidade e, como sequela, a degrada- tivos, foram realizados dois levantamentos: o o ozônio. Recomenda-se a preferência pelo
ção moral e social. A revitalização urbana que primeiro, em 7 de agosto de 2006, às 9 horas transporte coletivo, oferecer carona, e meios al-
transforma essa condição em locais orgânicos da manhã, numa segunda-feira, detectou-se um ternativos de transportes menos poluentes. No
mediante um planejamento estabelece remoção índice de 68. A qualidade refere-se à estação segundo, em 21 de janeiro de 2007, às 10 horas
do empilhamento, dotação de serviços públicos, com índice mais alto na Região Metropolitana de da manhã, num domingo, detectou-se um índi-
parques com utilização adequada, categorização São Paulo (RMSP). Essa qualidade de ar é consi- ce de 25. A qualidade refere-se a uma qualidade
das vias, reorganização do trânsito, reabilitação derada regular, seus efeitos à saúde para pesso- do ar considerada boa, seus efeitos à saúde são
física das construções deterioradas. as com doenças respiratórias podem apresentar desprezíveis e, segundo a previsão meteorológi-
Um dos problemas a serem enfrentados na sintomas como tosse seca e cansaço. Segundo ca diária, é favorável à dispersão dos poluentes:
área é o alto índice de poluição, sobretudo a at- a previsão metereológica diária, é desfavorável dióxido de enxofre, MP10-partículas inaláveis,
mosférica. A referência de estações de medição à dispersão dos poluentes: dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono e
de poluição da área do parque também instruiu MP10-partículas inaláveis, dióxido de nitrogê- favoráveis para o ozônio. Recomenda-se optar

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positados diretamente nos cursos d’água ou nas

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galerias de águas pluviais; finalmente serão des-
pejados nos rios (Painéis Viva o Centro). Então,
para minimizar esta situação, propõe-se implan-
tar no meio da rotatória que interliga o Viaduto
do Glicério com a Avenida do Estado, uma Esta-
ção de Tratamento Primário de Esgoto.
Quanto à drenagem, os principais problemas
são: 1) galerias subdimensionadas ocasionadas
pelos critérios de projeto não adaptados a São
Paulo, além da galerias insuficientes; 2) canali-
zações fechadas dificultando o acesso, omitindo
sua localização e despejo de lixo no sistema de
drenagem (os efeitos são a falta de manutenção
e limpeza das tubulações contribuindo para o as-
soreamento e entupimento do sistema); 3) salo-
pamentos, consequência da poluição das águas
pluviais e da mudança na característica do trá-
fego sobre galerias antigas, ocorrendo corrosão
da estrutura das galerias e rompimento com so-
brecarga; 4) alto custo das obras de recuperação
do sistema ocasionadas pela interferência com
vias arteriais e equipamentos de concessionárias
e também pelo fato de a administração da rede
de drenagem não gerar recursos próprios; 5)
Corte esquemático: com a proposta de intervenção, ilustrando a passarelas-praça integrando o
problemas institucionais, ou seja, muitos órgãos
parque, com todo o aparato inserido e com um mirante
funcionando de maneira autônoma pela falta de
pelo transporte coletivo, oferecer carona e meios agora a implantação da ciclovia, que depende da coordenação em suas ações; 6) falhas urbanísti-
alternativos de transportes menos poluentes, mudança do geométrico para viabilizar mais esta cas como a falta de planejamento adequado e,
como, também, manter o veículo regulado, os empreitada. Lembrando que automóveis e bicicle- portanto, a falta de controle na ocupação desor-
pneus calibrados e não queimar lixo (Cetesb, tas não convivem em harmonia na mesma pista... denada dos vales (Painéis Viva o Centro).
2006 e 2007). E melhorar todos os acessos de pedestres pela re- A potencialidade desta região como um polo
Quanto ao transporte coletivo com a implan- gião, evitando o risco de atropelamentos. atrativo de desenvolvimento e seu revigoramen-
tação do Expresso Tiradentes, segundo alguns A infraestrutura de saneamento foi aborda- to é inexorável, por todos os levantamentos que
estudos, o ganho de tempo de viagem é conside- do através do Projeto Tietê, desenvolvido pela pautam a capacidade na infraestrutura elétrica, de
rável, e o tempo é um dos fatores preponderantes Sabesp, que pretende ampliar os sistemas de co- telefonia, gás, saneamento, drenagem, transportes,
na qualidade de vida. O ganho de tempo de 5 a 34 leta, com o afastamento e tratamento de esgo- acessibilidade, entre outras. No entanto, é neces-
minutos com transporte público, pode favorecer tos da RMSP. O Plano Diretor de Esgotos, em sua sário ousar. Muitas medidas que possam parecer
o descanso mais rápido, a pontualidade tranqui- versão atual, prevê que o sistema de esgotos da radicais, podem ser as soluções mais eficazes.
la e a diminuição do desgaste físico e emocional. RMSP se dará por meio dos interceptores que se- Assim, o Programa de Renovação Urbana
Essas constatações levaram ao aprimoramento rão construídos ao longo dos rios Tietê, Pinheiros para áreas decadentes, como o Parque D. Pedro
desse transporte sob os aspectos: 1) trechos/ex- e Tamanduateí. O sistema funciona da seguinte II e sua região, parte da área central e os bairros
tensão, com a ampliação da ligação para 31,8km; forma: as redes coletoras coletam os esgotos das Brás e Mooca, deve considerar a mudança do
2) tipo de veículo, com tração híbrida, a gás e die- residências e estes seguem, por gravidade, até os desenho urbano. Ela se faz necessária pelos im-
sel (padron e articulado); 3) sistema de condução, fundos de vale; ao longo dos córregos dos fun- pactos conflituosos aos quais está subordinada
sem guiagem; 4) sistema operacional que permite dos de vale estão os coletores-tronco, que de- a Avenida do Estado, que atende a toda a hie-
operação de qualquer tipo de veículo (homolo- sembocam os esgotos nos interceptores que vão rarquização viária, de automóveis, ônibus, mo-
gado SPTrans); 5) acessibilidade, tratamento es- para as ETEs, onde o esgoto é tratado. Na fase tocicleta e bicicleta, inclusive ao tráfego pesado
tendido às quadras lindeiras; 6) ciclovias e bicicle- líquida tratada é descarregado no rio e o lodo, a de caminhões. Somando-se a esses conflitos, os
tários disponíveis nas estações de transferência parte sólida, é decantado, sofre um tratamento cinco viadutos que passam sobre o parque tor-
(Painéis Viva o Centro). especial e, quando não existem possibilidades naram aquela área incompatível com o pedestre.
O sistema de transporte abarca ônibus pelo de escoamento, são construídas estações eleva- Consequentemente impossibilitam usufruir de
Terminal do Parque D. Pedro II, o Terminal do Ex- tórias ou de bombeamento. Quanto ao nível de uma área tão comprometida com o caos urbano;
presso Tiradentes e a Estação do Metrô D. Pedro interferência do esgoto no sistema de drenagem mesmo que fosse suprido com uma vasta vege-
II, todas com espaços para bicicletário, onde o in- de águas pluviais, somente 2/3 são conduzidos tação, seria difícil reverter o quadro.
centivo de bicicletas está sendo enfatizado. Basta para o sistema de tratamento; os demais são de- “Quando o estado de deterioração for tão

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grave que exija demolição, deve-se proceder da. E os comércios que não tiverem condições de Tiradentes, para conexão com o transporte co-
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ao desenvolvimento das áreas afetadas” (Carta ajustes deverão ser remanejados para localização letivo... com o anfiteatro do projeto da Lina Bo
dos Andes, 1958). Assim, este estudo propõe a estratégica, fora do circuito urbano. A reparação Bardi para apresentações ao ar livre. Será mais
demolição de quatro viadutos que transpõem e a conservação deles, para qualidade de vida da um estímulo para a ocupação do parque pela
o parque para reparar o cenário. Torná-lo mais comunidade, requer intervenções que viabilizem comunidade, unindo três momentos neste pro-
salutar e atrativo aos pedestres, com projeto alternativas de transporte menos poluente, res- jeto futuro. E tudo sem copiar, sem falsificar, so-
paisagístico mais atualizado, exceto o viaduto tringindo os veículos automotores particulares mente resgatar alguns elementos marcantes na
do Glicério, que vem da Radial Leste, que deve- nestas áreas com a oferta de ponto de táxi junto composição paisagística do parque.
rá permanecer. Propõe-se que a Avenida Rangel à Estação do Metrô D. Pedro II para dar aos usuá- A Casa das Retortas, espaço que está sendo
Pestana atravesse o parque em nível (calçadas rios do transporte coletivo, a opção de continuar o negociado pela administração direta, como local
largas e arborizadas com bancos), para integrar- trajeto por transporte individual público persona- de exposições culturais, quase em frente ao Palácio
se com o parque e as faixas de pedestres, com lizado – e assim diminuir o congestionamento e as das Indústrias, segundo Pereira (2007), será trans-
instalação de ciclovias em ambos os lados da dificuldades para estacionar. formada no Museu da Criança, e que propiciará a
avenida e semáforos em suas extremidades, nos Também a proposta de remoção de um lado aglutinação de crianças, jovens, adultos e idosos
cruzamentos. A proposta será agregada pela da Avenida do Estado resgatará em parte a in- em atividades diversificadas, em espaços comuns
ação humana, o combate a todas as formas de tegralidade do parque, como outrora fora pro- e salutares. Assim será possível atrair pedestres,
poluição ambiental, inclusive sonora, estimulan- jetado, tanto pelo arquiteto Bouvard como pela ciclistas, usuários de transportes coletivos.
do a passagem de pedestres. Em substituição dos arquiteta Lina Bo Bardi. A integração não será Para o edifício São Vito (já desocupado) e o
viadutos serão projetadas passarelas agradáveis, completa, pela instalação do Expresso Tiraden- prédio ao lado dele, que também poderá ser deso-
“passarelas-praça”, largas e com arborização flo- tes, que ocupa uma pista da Avenida do Estado, cupado (e na outra quadra ao lado, outro edifício,
rida e bancos. E no topo delas existirá um miran- no lado do Terminal de Ônibus, que está dentro que está igualmente desocupado), esta propos-
te, que servirá para contemplação da paisagem de uma faixa do parque. As ruas que circundam ta prevê as implosões dos mesmos. Os seus es-
e circulação entre as passarelas para transpor os o parque deverão ser reformuladas para facilitar paços vazios poderão constituir praças públicas,
obstáculos naturais como o Rio Tamanduateí e o fluxo de veículos, com calçadas largas, arbori- transformando o Centro de São Paulo, quiçá com
os artificiais como a Avenida do Estado, de um zadas, com bancos e flanqueados por ciclovias características semelhantes às de Paris, como pre-
lado, e a Avenida Rangel Pestana. As passarelas em ambos os lados. conizava o arquiteto francês Bouvard.
existentes que atravessam o Rio Tamanduateí O Expresso Tiradentes possui uma pista A proposta deste trabalho, como meio de
deverão permanecer, e ser construídas outras. A próximo ao canal do Tamanduateí no lado do preservação do patrimônio histórico, estende-se à
todas elas, deverá ser acrescentado tratamento Terminal de Ônibus existente. E a proposta deste utilização de galpões para renovadas atividades e
paisagístico para torná-las mais agradáveis. estudo, é de que a área remanescente seja com- o Quartel do Batalhão da Guarda em restaurá-lo e
Para garantir medidas eficazes para proteção, posta com praça arborizada constituída com a transformá-lo no Museu da Reciclagem. Este terá
conservação e valorização do patrimônio cultural coloração das flores alegres: amarelas, cerejas, como finalidade a educação para a saúde ambien-
e natural, é fundamental inseri-las numa função rosas, azuis... para atenuar o impacto. A remoção tal, com exemplos de reciclagem de descarte sele-
social e na vida da coletividade. A integração de dos ambulantes, por sua vez, também propiciará tivo, compondo toda área de revitalização, assim
espaços verdes (parques) com o Rio Tamanduateí um local mais aprazível. Os ambulantes deverão como o próprio parque, com lixeiras de descarte
(e sua várzea) e o patrimônio histórico (galpões in- ser convidados a participar de um projeto, para seletivo e totens explicativos/educativos.
dustriais e vilas operárias), podem compor harmo- serem acomodados em um dos galpões inativos Como o saneamento, também a eletricidade,
niosamente a vida contemporânea. Como a zona da região do Brás, com layout organizado, am- a rede de esgoto e vários equipamentos urbanos
cerealista está neste momento inadequadamente biente com condições sanitárias adequadas, com privados e públicos são contemplados nessa re-
instalada, porém deve permanecer seu conjunto bancas uniformizadas e espaços para concertos gião. Por conseguinte, a proposta deste estudo
arquitetônico histórico, expressando na paisagem musicais, peças de teatro, ambulatório médico. é também a de implementar um equipamento
a origem industrial de sua ocupação na passagem Estas intervenções visam a criação de ambientes educacional público, como uma “Universidade”,
cronológica da cidade. Poderá inclusive, estabele- favoráveis à saúde; desenvolvimento de habili- para propiciar um adensamento familiar e resgate
cer-se sob alguns aspectos culturais, compondo a dades; reforço da ação comunitária (Declaração do entorno do parque. Esta proposta de âncora
multiplicidade da função urbana, mas sem com- de Adelaide, 1988). Aliás, como outrora foi rea- de revitalização do Brás será a escolha de uma
prometer a qualidade de vida da comunidade local lizado com a construção do Mercado Municipal, quadra naquele bairro paulistano, composta por
(deve haver adaptações de horários estabelecidos). que abrigou os ambulantes da época. galpões, que alavancará o desenvolvimento local
Sendo acrescentado, neste estudo, a utilização de O próximo projeto poderá incluir algumas e que instigará a preservação da memória da pro-
baias próximas à Estação D. Pedro II do Metrô e ao formas sinuosas, recuperando aspectos do pai- dução industrial, movimento que originou a sua
lado do Mercado Municipal, podendo ser baias ou sagismo do jardim de Bouvard em sua estrutura ocupação. Esta atrairá investimentos que aten-
terminal – na madrugada para carga e descarga de circulação e composição gradual da vege- dam esse novo público-alvo, como lanchonetes,
de mercadorias – vindas de metrô e trem (Esta- tação para percurso dos pedestres. Até mesmo restaurantes, cinemas, teatros, choperias, livra-
ção Brás), para distribuição ao comércio e serviços implantar alguns lagos para combinar com o Rio rias, lan houses, padarias, academias de esportes
por peruas e vans (veículos de porte menor) e que Tamanduateí, com pistas de Cooper, pista de ci- e artes e até mesmo lojas de vestuários. Com isso
podem ser acomodados e circular sem congestio- clismo, com bicicletário em alguns pontos, inclu- consolidando a renovação urbana, atraindo mo-
nar e poluir essa área, nem mesmo de madruga- sive próximo ao Metrô e ao Terminal do Expresso radias de estudantes e familiares, para encerrar

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definitivamente a barreira física e social que se- A multifocalidade da intervenção denota a res- ção prévia e ampla, abordando todos os impactos

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parou o período original dos dias de hoje. tauração da qualidade de vida da comunidade sem nos diversos níveis e características multifocais.
Enfim, a recuperação do meio ambiente prejudicar a função urbana de acesso e integração As ferramentas legais, filosóficas, históricas e
propício ao desenvolvimento da vida familiar na viária, desde que todas as necessidades sejam aten- documentais estão disponibilizadas para conheci-
coletividade promoverá a readaptação social do didas harmonicamente: a preservação do patrimô- mento e discernimento de todos, a fim de originar
ser humano e sua saúde, amparado por fatores nio cultural, a recuperação da saúde ambiental, o muitas propostas, que possam até mesmo com-
preponderantes como a alimentação, sanea- resgate do convívio social e a extensão da recicla- plementar ou alterar as deste estudo explorató-
mento básico, meio ambiente, trabalho, renda, gem econômica para atingir o desenvolvimento rio, aprimorando e favorecendo a sua aplicação.
educação, transporte, lazer e acesso a bens e sustentável por meio de ações intersetoriais. É uma questão de união, e não de competição,
serviços sociais, que determinam a organização A aceitação por parte da comunidade condicio- porque, na verdade, somos todos peças funda-
social e econômica da comunidade. nará o sucesso de cada empreendimento proposto. mentais neste quebra-cabeça e poderemos ser
Conclui-se que a proposta para revitalização Como a dinâmica espacial interage com a dinâmica beneficiados na totalidade, da saúde ao ambiente,
do Parque D. Pedro II é de suma importância para social, a educação para cidadania terá que unir- do desenvolvimento à sustentabilidade.
a região do centro da cidade de São Paulo, como se com todos os propósitos e projetos que estão
também, para todo o município. Por estar inserido sendo implantados ou os que serão. É importante * Maria Rosana Ferreira Navarro é arquiteta e ur-
em uma área histórica, que faz parte da origem ressaltar que a cidade é mutável e moldável, con- banista, especialista em saúde ambiental pela USP,
da ocupação e formação da cidade de São Paulo, forme as necessidades que vão surgindo, e que não infraestrutura urbana pela Escola Politécnica da USP
e projetos de parcelamento do solo em loteamentos
e por ser de localização estratégica, como polo de existem situações nem planejamentos estáticos. As e conjuntos habitacionais pelo Instituto de Pesquisas
interligação entre várias regiões do próprio muni- adequações de acordo com as necessidades devem Tecnológicas, IPT
cípio, da RMSP e também interestadual. ser avaliadas e readaptadas em nível de planifica- E-mail: rosana_navarro@globo.com

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