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Alexandre Almeida - Curso de Intrumentista de Orquestra – Análise Musical IV

Prof. Emanuel Frazão – Ano letivo 2019/2020

Resumo da análise harmónica de David Bennett Thomas da canção de


Franz Schubert Der Erlkönig

O poema Der Erlkönig foi a primeira peça publicada de Schubert em 1815, com
apenas 18 anos. O poema descreve um pai a percorrer a cidade cavalo numa noite ventosa,
com o seu filho doente nos braços. O filho vê imagens de um ser sobrenatural que o está
a atacar, o Erlking. Nesta canção, o cantor interpreta 4 personagens: o narrador, o filho,
o pai e o Erlking. Schubert transporta o enredo para a música através da escolha de várias
tonalidades maiores e menores para representar emoções contrastantes. Utiliza também
diferentes estilos de acompanhamento e registos vocais variados para cada personagem.
Os gritos do filho para o pai são sempre transmitidos numa tonalidade menor e
num registo mais agudo, como forma de expressar o seu medo. As canções de tentação
do Erlking estão em tonalidades maiores e utilizam um acompanhamento contrastante.
As suas palavras finais, no entanto, estão numa tonalidade menor, sendo este o momento
em que retira o filho à força. É de realçar o papel do pai, que canta num registo grave e
muda de um tom de segurança numa tonalidade maior, para um nível de preocupação
num misto de tonalidade maior e menor e finalmente para um nível de aceitação pelo
destino do filho em tonlalidade menor.
As modulações utilizadas ao longo da peça têm o intuito de representar as 4
personagens. Acompanhando o aumento da tensão, as entradas do filho e do Erlking estão
em tonalidades cada vez mais agudas e deixam de ser tonalidades próximas para serem
tonalidades afastadas. O aumento progressivo do uso do cromatismo sugere o aumento
da velocidade do galope do cavalo.
A canção inicia com uma breve introdução do piano, estabelecendo a tonalidade
de Sol menor.

No compasso 16 (com anacrusa), o narrador coloca uma questão na dominante


(Ré) que é respondida na tónica em modo maior. O uso do sol bemol no acompanhamento
sugere o uso de harmonia “emprestada” de sí bemol menor, criando uma sensação de
presságio. Esta frase musical termina com cadência em Sol menor.
O pai canta num registo mais grave, numa tonalidade menor para mostrar a
preocupação que sente em relação ao filho.

O filho faz uma questão ao pai, num registo agudo e em dó menor, simulando o
medo que sente.

O pai conforta o filho em Síb maior, num registo mais grave.

Através destas 3 figuras podemos observar aquilo que foi dito no início do
trabalho: Schubert utiliza os diferentes modos e registos como forma de expressividade,
atribuindo certas características musicais a cada personagem e a cada estado de espírito.
No seguimento do trabalho, vão ser referidas várias vezes estas utilizações da escrita
musical para inferir expressão à música, nem sempre sendo ilustradas com figuras.
Aparece então a primeira provocação do Erlking, em Síb maior, com recurso a um
novo acompanhamento num estilo diferente para alterar o espírito, procurando atrair a
criança.

De repente a música retorna a Sol menor, enquanto o filho grita para o pai num
acorde de 9ª baixada sobre ré (primeiro destaque a vermelho). O uso do cromatismo cria
instabilidade, tensão e sugere um aumento de velocidade do galope. Existe uma rápida
modulação para a tonalidade afastada de Sí menor, uma 3ª acima de Sol menor. O pai
conforta novamente o filho, desta vez num misto de tonalidade maior e menor, podendo
sugerir a sua perda de confiança (segundo destaque a vermelho).
A segunda provocação do Erlking, novamente em modo maior, é um tom mais
agudo que a primeira com cromatismo adicionado e recorrendo a um novo
acompanhamento. As tonalidades irão continuar a subir ao longo da canção, com o intuito
de demonstrar a insistência do Erlking.

O filho canta um tom acima da sua intervenção anterior, à semelhança do Erlking,


enfatizando novamente o acorde de 9ª baixada (desta vez sobre mí). Observa-se outro
aumento do cromatismo como forma de aumentar a tensão. Existe novamente uma
modulação para uma 3ª acima, de lá menor para dó# menor; daqui para a frente, todas as
modulações serão para tonalidades distantes (primeiro destaque a vermelho). A 3ª vez
que o pai reconforta o filho, no registo grave, é totalmente em modo menor, podendo
indicar a sua crescente preocupação. É de realçar a modulação de dó# menor para ré
menor, confirmando o uso recorrente de tonalidades afastadas (segundo destaque a
vermelho). As próximas modulações serão por meios tons, outro exemplo de escrita
musical utilizada por Schubert para adicionar expressividade à obra, neste caso como
forma de alimentar a tensão.
A terceira provocação do Erlking, pela terceira vez também em modo maior, em
Míb encontra-se uma terceira acima da última vez que a cantou. Schubert transforma em
tónica a 6ª napolitana de Ré menor (o acorde de Míb maior - ver figura) durante 3
compassos. Após esta breve modulação o Erlking volta a Ré menor, cantando pela
primeira vez em modo menor, podendo indicar a sua certeza de que vai conseguir retirar
o filho com sucesso dos braços do seu pai. O acompanhamento mantém-se altamente
intenso, com acordes sucessivos com função de dominante.
6ª napolitana de Ré
menor,utilizada como tónica

O filho grita novamente no acorde de 9ª baixada, uma 2ª acima do grito anterior.


Enquanto que as canções do Erlking encontram-se em Síb maior, Dó maior e Míb maior
(uma 2ª acima e depois uma 3ª), os gritos do filho encontram-se em Sol menor, Lá menor
e Síb menor (sempre uma segunda acima). Isto pode ser uma indicação da dificuldade do
filho em acompanhar o Erlking, já que não efetua a 3ª modulação. O Erlking foi bem
sucedido, ultrapassando o filho.
O pai não responde, a música retornou à tonalidade original de Sol menor e a peça
acaba com o narrador. O cromatismo sugere novamente o aumento da velocidade do
galope. Para terminar a canção, Schubert tonaliza novamente a 6ª napolitana, mantendo-
se nesta tonalidade até ao último acorde onde retoma à tónica original de Sol menor.

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