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Brasil ocorre em 1933, em São Paulo.

A peça de
CENTRO DE ENSINO MÉDIO 02 DO GAMA
Flávio de Carvalho, denominada O Bailado do Deus
MODERNISMO Morto, sem enredo tradicional, apresenta as
2ª FASE (1930 - 1945) novidades surrealistas e expressionistas no palco.
Mas a verdadeira revolução cênica viria em
1. Contexto históriCo 1941, com a encenação de Vestido de Noiva, de
Toda a década de 30 e os primeiros anos de Nélson Rodrigues.
40 caracterizam-se por profundas modificações no Ainda, em 1930, o cinema apresenta o
cenário nacional. lendário filme Limite, de Mário Peixoto, e em 1933 o
Alguns fatos importantes da época convêm não menos famoso Ganga Bruta, de Humberto
lembrar: Mauro. O primeiro, de teor surrealista; o outro, uma
- Getúlio Vargas lidera manifestações con- abordagem do meio social em que ocorre a ação.
trárias ao governo de Washington Luís que acaba
por ser deposto.
- Promulgação da Nova Constituinte e eleição 3. literatura
de Getúlio Vargas para Presidente. O governo é
conturbado por greves, aprovação da lei de A primeira fase do Modernismo, iconoclasta e
Segurança Nacional, prisões de intelectuais e experimental, preparou o caminho para este
militantes políticos (como Graciliano Ramos e Luís segundo momento. A nova maneira de expressão, o
Carlos Prestes do Partido Comunista). Houve novo código literário, ganhava equilíbrio, de maneira
diversas tentativas de deposição de Getúlio Vargas que, ao começar a nova década, já era aceito pelo
até que, em 1945, as Forças Armadas o fazem, público, ficando definitivamente incorporado à arte
pondo fim ao Estado Novo. brasileira.
- O início da Segunda Guerra Mundial em Mário de Andrade, ao fazer o balanço da
1939, com a participação do Brasil em 1942. Semana, já afirmara que a herança do movimento
de 22 tinha sido “a conquista do direito permanente
à pesquisa estética; a atualização da inteligência
2. maniFestaçÕes artístiCas artística brasileira; e a estabilização de uma
consciência criadora nacional”.
Na pintura, os membros da Semana
agregavam-se em torno de uma sociedade que tinha PROSA
por objetivo manter e divulgar as conquistas moder- Passada a fase de tentativas feitas no sentido
nistas. Em 1933, esse grupo levou a efeito sua de encontrar um romance tecnicamente brasileiro, a
Primeira Exposição de Arte Moderna. geração de 30 encontrou, no regionalismo, a melhor
O grupo Santa Helena, de São Paulo, começa fórmula para esse romance. É de 30 - 45, etapa
a retratar a paisagem urbana da cidade, mostrando áurea da ficção modernista, que lhe emprestou uma
o operariado do subúrbio. feição bem definida, colocando-a entre as mais altas
Na escultura, destaca-se a obra de Bruno expressões da literatura das Américas. Foi
Giorgi. especialmente a prosa regionalista que conquistou
A nomeação de Lúcio Costa para diretor da o público, não somente nacional como também
Escola Nacional de Belas-Artes marca a renovação estrangeiro.
do ensino da arquitetura. Oscar Niemeyer forma-se A novidade maior desta fase esteve a cargo
em 1934. da ficção. O aparecimento de grande número de ro-
A música registra a procura de uma linguagem mances é o traço mais característico desse período.
nacional, principalmente na obra de Camargo Podemos distinguir três traços fundamentais na
Guarnieri, Guerra Peixe e Radamés Gnatalli. prosa da segunda fase modernista:
Em 1930, Heitor Villa-Lobos começa a compor
as Bachianas Brasileiras. a) Prosa Regionalista
A primeira encenação do teatro moderno no Assim como tinha acontecido nas demais

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artes, também a literatura busca recuperar as Observação:
origens da realidade brasileira. Tem início o Ao fim dessa apresentação, é importantíssimo
desvendamento da nossa sociedade, mas agora que você tenha em mente que se trata de uma
com um novo enfoque: o regionalismo. Muitas das esquematização com objetivos didáticos, não
conquistas modernistas da primeira fase ajudaram podendo ser compreendida de maneira rígida. As
na tarefa dos ficcionistas deste segundo período: a tendências apresentadas tão nitidamente separadas,
aproximação da linguagem literária à fala brasileira e na verdade, mesclam-se umas às outras.
a incorporação dos neologismos e regionalismos são
duas delas.
A primeira novidade neste sentido é o PRINCIPAIS PROSADORES DA 2ª FASE
romance A bagaceira (1928), de José Américo de
Almeida. Seguem-se O quinze, de Rachel de
Queiroz (1930); O país do carnaval, de Jorge Amado 1. GRACILlANO RAMOS
(1931); Menino de Engenho, de José Lins do Rego (1892 - 1953)
(1932); Caetés, de Graciliano Ramos (1933), entre A obra de Graciliano Ramos inclui-se entre as
outros. de cunho regionalista, conciliada com o romance
Mergulhando nas raízes do passado, psicológico, tendo como pano de fundo o Nordeste.
enfocando a seca, o sertão, o cangaço, o ciclo da Sua linguagem é clara, exata, correta
cana-de-açúcar, do cacau, do café, a prosa gramaticalmente, reduzida ao essencial pelo uso
regionalista forneceu a safra mais importante do apropriado de nomes e poupança de adjetivos. Nisto,
romance modernista. Por resgatar valores já consa- não se enquadra na atitude de alguns modernistas.
grados no Realismo, é tida como Neorrealista. Tanto os combatentes de primeira fase do
Alguns autores chegam ao Neonaturalismo, ao usar Modernismo (Mário de Andrade), quanto os regiona-
a ficção como veículo de propagação de ideias listas da segunda fase (José Lins do Rego, Jorge
políticas, transformando o romance em instrumento Amado) mantêm uma atitude agressiva à velha
de ação revolucionária (cite-se parte da obra de Gramática, ou pelo menos, um à-vontade gramatical.
Jorge Amado). Justamente o contrário preocupa Graciliano: a
exatidão, a concisão.
b) Prosa Urbana Seus romances são de tensão ou ação crítica.
Documentário de cunho realista, preocupado Graciliano é o mestre perfeito do romance em que o
sobretudo com a realidade simples, a observação de protagonista é um herói sempre em conflito com o
problemas e costumes da vida urbana da classe meio físico e social.
média; enfoca a vida nas cidades, seus costumes e
tipos. OBRAS:
Nessa linha, escreveram: Érico Veríssimo, a) Em São Bernardo, o tema é o problema
Amando Fontes, Dyonélio Machado, Alcântara agrário do Nordeste. Tudo acontece na fazenda São
Machado, Orígenes Lessa, entre outros. Bernardo, sendo Paulo Honório e Madalena as
personagens centrais. Paulo, como poderoso senhor
c) Prosa Intimista de um império econômico da região, está em
A primeira fase do Modernismo tinha permanente conflito com tudo e todos, para manter
introduzido na moderna cultura brasileira elementos uma posição superior, com direitos sobre a vida de
da teoria psicanalítica de Freud. Utilizando todos. Madalena, sua esposa, é a consciência dos
sugestões dessa maneira de abordar a criatura problemas sociais, da exploração dos trabalhadores
humana, com seus conflitos e angústias, aparecem procurando amenizar a ação agressiva e possessiva
os escritores que produziram a chamada prosa de a que Paulo se habituara para conquistar um lugar
sondagem psicológica. ao sol. Daí, além do conflito sócioeconômico, já
Nessa linha, destacam-se: Lúcio Cardoso, citado, o conflito psicológico entre o mundo do ter
Dyonélio Machado, Otávio de Faria. (Paulo) e o mundo do ser (Madalena), resulta no
suicídio desta. Propondo um protagonista extre-

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mamente agressivo perante o ambiente social aqueles sujeitos acocorados em torno do fogo? Que
(exploração do trabalho), e perante o ser humano dizia aquele bêbedo que se esgoelava como um
(tentativa de subordinar também Madalena), doido, gastando fôlego à toa? Sentiu vontade de
Graciliano consegue levar os leitores à consciência gritar, de anunciar muito alto que eles não prestavam
e à crítica do mundo. para nada. Ouviu uma voz fina. Alguém no xadrez
das mulheres chorava e arrenegava as pulgas.
b) Em Angústia, o tema está relacionado à Rapariga da vida, certamente, de porta aberta. Essa
vida da cidade, na qual Luís da Silva vive de pensão também não prestava para nada. Fabiano queria
em pensão. O painel humano destas pensõezinhas berrar para a cidade inteira, afirmar ao doutor Juiz
de província é mesquinho, de recalque e safadeza, de Direito, ao delegado, a seu vigário e aos
de uma sufocante degradação. O protagonista Luís cobradores da prefeitura que ali dentro ninguém
da Silva, não podendo livrar-se desta situação, reage prestava para nada. Ele, os homens acocorados, o
pela solidão, pelo isolamento e pela análise da bêbedo, a mulher das pulgas, tudo era uma lástima,
decadência moral de seu ambiente. O arrastar de só servia para aguentar facão. Era o que ele queria
uma existência assim o leva à náusea total, cuja dizer.
única solução, pela qual optou o autor, é o crime e, E havia também aquele fogo-corredor que ia e
depois, o suicídio. Embora mais deslocado para a vinha no espírito dele. Sim, havia aquilo. Como era?
margem de análise psicológica, porém sem prejuízo Precisava descansar. Estava com a testa doendo,
do social, esta obra é genuinamente existencialista. provavelmente em consequência de uma pancada
de cabo de facão. E doía-Ihe a cabeça toda, parecia-
c) Na sua prosa autobiográfica (Infância e lhe que tinha fogo por dentro, parecia-lhe que tinha
Memórias do Cárcere) subsiste o mesmo clima de nos miolos uma panela fervendo.”
tensão crítica permanente, sendo o escritor o próprio
protagonista em eterno conflito com a realidade
social e psicológica do mundo em que vive. 2. JORGE AMADO
(1912 - 2001)
d) Vidas Secas é o relato de várias situações A obra de Jorge Amado pode ser estudada
vividas por uma família nômade de sertanejos: sob três aspectos:
Fabiano, Sinhá Vitória, dois meninos, um cachorro,
um papagaio. Entre duas secas, fixa um quadro duro a) Primeira fase:
e comovente das condições adversas com que se País do carnaval;
defronta o camponês nordestino, e sua capacidade Cacau;
de resistir a elas, mesmo que passivamente. Suor;
Fabiano - personagem central - sofre agres- Jubiabá;
sividade em todos os níveis: massacrado pela seca, Mar morto;
explorado pelos patrões e subjugado pela polícia. Capitães da areia;
Fabiano e sua família são reduzidos à miséria física, Seara Vermelha;
econômica e mental. Subterrâneos da liberdade.

Romances de cunho ideológico (denúncia dos


VIDAS SECAS (fragmento) dramas do proletariado).

“Fabiano também não sabia falar. Às vezes b) Segunda fase:


largava nomes arrevesados, por embromação. Via Terras do sem fim;
perfeitamente que tudo era besteira. Não podia São Jorge dos Ilhéus;
arrumar o que tinha no interior. Se pudesse ... Ah! Se Gabriela cravo e canela.
pudesse, atacaria os soldados amarelos que
espancam as criaturas inofensivas. Conflitos em torno da posse das terras
Bateu na cabeça, apertou-a. Que faziam cacaueiras.

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c) Terceira fase: com Gabriela, cozinheira, mulata, sem família, sem
Os velhos marinheiros; cabaço, encontrada no ‘mercado dos escravos’?
Pastores da noite; Casamento era com senhorita prendada, de família
Dona Flor e seus dois maridos; conhecida, de enxoval preparado, de boa educação,
Tenda dos milagres; de recatada virgindade. Que diria seu tio, sua tia tão
Teresa Batista cansada de guerra; metida a sebo, sua irmã, seu cunhado engenheiro-
Tieta do Agreste. agrônomo de boa família? Que diriam os Aschar,
seus parentes ricos, senhores de terra, mandando
Enfoca os costumes provincianos. É a fase em Itabuna? Seus amigos do bar. Mundinho Falcão,
satírica: o autor debocha da sociedade. Amâncio Leal, Melk Tavares, o Doutor, o Capitão,
doutor Maurício, doutor Ezequiel? Que diria a ci-
O cenário é quase sempre a Bahia. Sua obra dade? Impossível sequer pensar nisso, um absurdo.
fixa temática político-social e preocupação com a No entanto, pensava.
opressão contra os fracos e oprimidos, com o Apareceu no bar um roceiro vendendo
procedimento, crenças e lendas dos humildes, pássaros. Numa gaiola, um sofrê partia num canto
negros e trabalhadores. triste e mavioso. Belo e inquieto, em negro e
Embora várias obras sustentem teses amarelo, não parava um instante. Seu trinado
políticas de crítica da realidade, geralmente os crescia, era doce de ouvir. Chico Moleza e Bico-Fino
protagonistas criticados ou exaltados são mais extasiavam-se.
caricaturas do que pessoas, que vivem o drama do Uma coisa era certa, ia fazer. Acabar com as
isolamento, da incomunicabilidade, da condição vindas da Gabriela, ao meio-dia! Prejuízo pro bar?
humana sem perspectivas. No fim, fica mais o Paciência... perdia dinheiro, pior seria perdê-la. Era
colorido do voluptuoso, do folclórico, do pitoresco, uma tentação diária para os homens, presença
que uma sondagem profunda da condição humana e embriagadora. Como não querê-Ia, não desejá-Ia,
social. não suspirar por ela depois de vê-Ia? Nacib a sentia
É modernista em seu regionalismo, em sua na ponta dos dedos, nos bigodes caídos, na pele das
militância política, em sua linguagem, em sua es- coxas, na planta dos pés. O sofrê parecia cantar
colha e carinho por personagens bem populares: para ele, tão triste era o canto. Por que não o levaria
homens do cais do porto, menores abandonados, para Gabriela? Agora proibida de vir ao bar,
pais de santo, prostitutas, mascates, malandros, necessitava de distrações.
roceiros, coronéis, cangaceiros, etc. Comprou o sofrê. Já não podia de tanto
pensar, já não podia de tanto penar.”
GABRIELA, CRAVO E CANELA
(fragmento)
3. JOSÉ LINS DO REGO
“Dos sentimentos de Gabriela, ele não (1901 - 1957)
duvidava. Não resistia ela, como se em nada lhe A ficção de José Lins do Rego é de fundo
importassem, a todas as propostas, a todas as memorialista. Reconstrói o mundo em que nasceu e
ofertas? Ria para eles, não se zangava quando um se criou, as histórias que ouviu na infância e a
mais ousado lhe tocava a mão, pegava-lhe no tradição de que foi testemunha.
queixo. Não devolvia os bilhetes, não era grosseira,
agradecia as palavras de gabo. Mas a ninguém dava O próprio autor divide sua obra assim:

trela, jamais se queixava, nunca lhe pedira nada, a) Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de
recebia os presentes batendo as mãos, numa engenho, Doidinho, Banguê, Fogo morto e
alegria. E não morria ela, cada noite em seus braços, Usina.
ardente, insaciável, renovada, a chamá-Io ‘seu moço É o ciclo de maior interesse e importância,
bonito, minha perdição’? pois aí estão as obras mais significativas:
‘Se eu fosse você era o que eu faria’... Fácil fixa o esplendor e a decadência do
de dizer quando se trata dos outros. Mas como casar engenho de açúcar.

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b) Ciclo do Cangaço, misticismo e seca: carregados de lã para a estação. Enchiam a tarde de
Pedra Bonita e Cangaceiros. uma cantoria de doer nos ouvidos. Vinte juntas de
bois, dez carreiros, cinquenta sacas de lã. Era o
c) Obras pertencentes aos dois ciclos: O Santa Rosa na riqueza que fazia mal ao seleiro. Lá
moleque Ricardo, Pureza e Riacho doce. na casa-grande do Santa Fé estava escrito uma
data: 1852. Ainda do tempo do Capitão Tomás.
d) Obras de tendências intimistas: Água-Mãe Seu Lula já estava velho. D. Amélia era aquela
e Eurídice. criatura sumida, mas sempre com seu ar de dona,
Neném uma moça que não se casava, D. Olívia
As frustações da infância e da adolescência e falando, falando as mesmas coisas. Esta era a casa-
os componentes nostálgicos são constantes na obra grande do Santa Fé.
de José Lins do Rego, bem como os problemas do A carruagem rompia as estradas com o povo
Nordeste, a paisagem da zona açucareira, a forma mais triste da várzea indo para a missa do Pilar, para
desumana como são tratados os menos favorecidos, as novenas, arrastada por cavalos que não eram
a posse de terras. O autor mescla a realidade e a mais nem a sombra dos dois ruços do Capitão
ficção, evidenciando a deformação de uma Tomás. A barba de Seu Lula era toda branca, e as
sociedade em ruína, seja pela deformação dos safras de açúcar e de algodão minguavam de ano
padrões morais, seja pela decomposição da para ano. As várzeas cobriam-se de grama, de mata-
estrutura social e econômica baseada na força do pasto, os altos cresciam em capoeira. Seu Lula,
trabalho escravocrata como parte de um sistema porém, não devia, não tomava dinheiro emprestado.
patriarcal. Todas as aparências de senhor de engenho eram
Nos exemplos a seguir, retirados do romance mantidas com dignidade. Diziam que todos os anos
Fogo Morto, apresenta-se a questão da decadência ia ele ao Recife trocar as moedas de ouro que o
dos engenhos de cana-de-açúcar. Há toda uma velho Tomás deixara enterradas. A cozinha da casa-
visão saudosista do passado em contraste com o grande só tinha uma negra para cozinhar. E
presente degradado: enquanto na várzea não havia mais engenho de
“Chegou a abolição e os negros do Santa Fé bestas, o Santa Fé continuava com as suas
se foram para os outros engenhos. Ficara somente almanjarras. Não botava máquina a vapor. Nos dias
com Seu Lula o boleeiro Macário, que tinha paixão de moagem, nos poucos dias do ano em que as
pelo ofício. Até as negras da cozinha ganharam o moendas de Seu Lula esmagavam cana, a vida dos
mundo. E o Santa Fé ficou com os partidos no mato, tempos antigos voltava com ar animado, a encher
com o negro Deodato sem gosto para o eito, para a tudo de cheiro de mel, de ruído alegre. Tudo era
moagem que se aproximava. Só a muito custo como se fosse uma imitação da realidade. Tudo
apareceram trabalhadores para os serviços do passava. Na casa de purgar ficavam os cinquenta
campo. Onde encontrar mestre de açúcar, pães de açúcar, ali onde, mais de uma vez, o
caldeireiros, purgador? O Santa Rosa acudiu o Capitão Tomás guardara os seus dois mil pães, em
Santa Fé nas dificuldades, e Seu Lula pôde tirar a caixões.
sua safra pequena. O povo cercava os negros Agora viam o bueiro do Santa Fé. Um galho
libertos para ouvir histórias de torturas. de jitirana subia por ele. Flores azuis cobriam-lhe a
E foi-se. O mestre Amaro parou um pouco boca suja.
junto ao paredão do engenho, e reparou nos - E o Santa Fé quando bota, Passarinho?
estragos que a chuva fizera nos tijolos descobertos. - Capitão, não bota mais, está de fogo
Pareciam feridas vermelhas. O bueiro baixo, e a morto.”
boca da fornalha escancarada, um barco sujo.
Lembrou-se dos tempos do Capitão Tomás de quem
o seu pai lhe contava tanta coisa, das safras do 4. ÉRICO VERÍSSIMO
capitão, da botada com festas, das pejadas, com a (1905 - 1975)
casa de purgar cheia de açúcar. Pela estrada iam É um dos autores mais lidos e mais populares
passando os dez carros do Coronel José Paulino do Modernismo.

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Sua obra ficcionista apresenta três direções: Rodrigo deu os ombros.
- Pra não deixar a coisa esfriar.
a) Romance Urbano: o autor faz um - Olhe aqui. Vou lhe dar uma ideia. Antes de
levantamento da sociedade rio-grandense começar o assalto, por que vosmecê não me deixa ir
mostrando a dissolução do patriarcado e a ascensão ao casarão ver se o Cel. Amaral consente em se
da burguesia em Porto Alegre. Destacam-se os render, pra evitar uma carnificina?
romances: Clarissa, Olhai os lírios do campo, O resto - Não, padre. Não faças aos outros aquilo que
é silêncio, Caminhos cruzados. não queres que te façam a ti. Não é assim que diz
nas escrituras? Se alguém me convidasse pra eu me
b) Romance Histórico: o autor recria render, eu ficava ofendido. Um homem não se
artisticamente aspectos da história do Rio Grande do entrega.
Sul, traçando um painel da sociedade gaúcha. É - Mas não há nenhum desdouro. Isto é uma
dessa fase a obra O tempo e o vento, composta de guerra entre irmãos.
três volumes: O continente, O retrato, O arquipélago. - São as mais brabas, padre, são as mais
brabas.
c) Romance Político: os problemas da política De cima do cavalo, Rodrigo ouvia a respiração
nacional e internacional se cruzam com análises do chiante e dificultosa do sacerdote.
relacionamento humano. O repúdio à guerra e à Lembrou-se das muitas conversas que
violência aparecem em Senhor embaixador e O tiveram noutros tempos.
prisioneiro; também pertence a esta fase Incidente - Vosmecê é um homem impossível... - disse
em Antares, seu último livro de ficção. o padre, desolado.
- Acho que esta noite vou dormir na cama do
velho Ricardo. - Sorriu. - Mas sem a mulher dele,
UM CERTO CAPITÃO RODRIGO naturalmente... E amanhã de manhã quero mandar
(fragmento) um próprio levar ao chefe a notícia de que Santa Fé
é nossa. A província toda está nas nossas mãos.
Extraído de O continente, o trecho escolhido Desta vez os legalistas se borraram! Até logo, padre.
mostra o momento que precede a morte do capitão Apertaram-se as mãos.
Rodrigo, em luta com a família AmaraI. - Tome cuidado, capitão. Vosmecê se arrisca
“Antes de começar o ataque ao casarão, demais.
Rodrigo foi à casa do vigário. - Ainda não fabricaram a bala que há de me
- Padre! gritou, sem apear. Esperou um matar! - gritou Rodrigo, dando de rédea.
instante. - A gente nunca sabe - retrucou o padre.
Depois: - E é melhor que não saiba, não é?
- Padre! A porta da meia água abriu-se e o - Deus guie vosmecê!
vigário apareceu. - Amém! - replicou Rodrigo, por puro hábito,
- Capitão! - exclamou ele, aproximando-se do pois aprendera a responder assim desde menino.
amigo e erguendo a mão, que Rodrigo apertou com O padre viu o capitão dirigir-se para o ponto
força. onde um grupo de seus soldados o esperava. A noite
- Foi só pra saber se vosmecê estava aqui ou estava calma. Galos de quando em quando
lá dentro do casarão. Eu não queria lastimar o cantavam nos terreiros. Os galos não sabem de
amigo... nada - refletiu o padre. Sempre achara triste e
- Muito obrigado, Rodrigo, muito obrigado. - O agourento o canto dos galos. Era qualquer coisa que
Padre Lara sacudiu a cabeça, desalentado. - o lembrava da morte.
Vosmecê vai perder muita gente, capitão. Os Voltou para casa, fechou a porta, deitou-se na
Amarais são cabeçudos e têm muita munição. cama com o breviário na mão, mas não pôde orar.
- Eu também sou cabeçudo e tenho muita Ficou de ouvido atento, tomado duma curiosa
munição. espécie de medo. Não era medo de ser atingido por
- Por que não espera o amanhecer? uma bala perdida. Não era medo de morrer. Não era

208 * Literatura Brasileira


nem medo de sofrer na carne algum ferimento. Era compreende, poesias, crônicas, contos e ensaios.
medo do que estava para vir, medo de ver os outros Sua linguagem poética é inconfundível: seca,
sofrerem. No fim de contas - se esmiuçasse bem - o precisa, direta. Os temas são: o amor, a solidão, a
que ele tinha mesmo era medo de viver, não de presença do passado pessoal, entre outros, tirados
morrer.” do cotidiano e, embora vistos com afetividade e
ternura, são envoltos em antilirismo irônico e
Os autores que indicamos como represen- descobre-se neles o desencanto em relação à vida.
tativos de cada uma das tendências da prosa de 30 De modo geral, o poeta é pessimista: a vida não
- 45 não se limitaram a escrever obras numa ou presta, nem a humanidade; denuncia a falta de
noutra linha. Podem apresentar, e geralmente sentido da existência, ou de solução para o destino
apresentam, trabalhos com traços que incorporam do poeta. Preocupa-o a banalidade com que o dia a
características de outras tendências. Daí, a dia recobre as coisas.
necessidade de estudá-Ios individualmente.

CIDADEZINHA QUALQUER
POESIA
“Casas entre bananeiras
A poesia da 2ª fase do Modernismo mostra mulheres entre laranjeiras
dois aspectos: pomar amor cantar.
a) Amadurecimento da trajetória poética de
autores que vieram da primeira fase modernista. Em Um homem vai devagar
1930 - 31, surgem obras de importância capital: Um cachorro vai devagar
Remate de males (Mário de Andrade), Libertinagem Um burro vai devagar
(Manuel Bandeira), Cobra Norato (Raul Bopp).
Devagar... as janelas olham.
b) Surge o primeiro livro de poemas de Carlos
Drummond de Andrade (Alguma poesia) em que Eta vida besta, meu Deus.”
aparecem versos compostos à moda de Oswald de
Andrade ao lado de poemas surrealistas. O lirismo
ganha a dimensão religiosa na obra de Jorge de SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA
Lima, Murilo Mendes e do estreante Vinícius de
Moraes. “Perdi o bonde e a esperança.
Todos esses autores publicam obras com Volto pálido para casa.
temas que se diversificam, alguns voltando-se para A rua é inútil e nenhum auto
a poesia de comprometimento social e político passaria sobre meu corpo.
(Vinícius e Drummond); outros, incorporando uma
visão metafísica do homem (Murilo Mendes, Jorge Vou subir a ladeira lenta
de Lima, Cecília Meireles). em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

POETAS E OBRAS DA Não sei se estou sofrendo


2ª FASE DO MODERNISMO ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

1. CARLOS DRUMMOND DE com um insolúvel flautim.


ANDRADE (1902 - 1987) Entretanto há muito tempo
Um dos maiores poetas brasileiros e da nós gritamos: sim! ao eterno.”
literatura ocidental do século XX. Sua obra é vasta e

Literatura Brasileira * 209


CERâMICA São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
“Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara. como o javali.
Sem uso, Não me julgo louco.
ela nos espia do aparador.” Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
Sentimento do mundo (1940), Poesias (1942) apareço e tento
e Rosa do povo (1945) são livros publicados durante apanhar algumas
a guerra. Expressam um certo desejo de para meu sustento
solidariedade humana diante da dor e uma missão num dia de vida.
de reconstruir um futuro, através do trabalho no Deixam-se enlaçar,
presente, o qual, como está, deve ser condenado tontas à carícia
pelo que tem de mecânico, desumano. A temática é e súbito fogem
social. É a fase da poesia participante, engajada. e não há ameaça
e nem há sevícia
MÃOS DADAS que as traga de novo
ao centro da praça.
“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro. Insisto, solerte.
Estou preso à vida e olho meus companheiros. Busco persuadi-las.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Ser-lhes-ei escravo
Entre eles, considero a enorme realidade. de rara humildade.
O presente é tão grande, não nos afastemos. Guardarei sigilo
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, de zanga ou desgosto.
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista Sem me ouvir deslizam,
[da janela, perpassam levíssimas
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, e viram-me o rosto.
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por Lutar com palavras
[serafins. parece sem fruto.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os Não têm carne e sangue...
[homens presentes, Entretanto, luto.
a vida presente.”
Palavra, palavra
(digo exasperado),
Toda sua produção é fruto de constante busca se me desafias,
pelo modo exato de comunicar-se. O poeta através aceito o combate.
da metalinguagem, confessa sua luta com as Quisera possuir-te
palavras: neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
O LUTADOR nessa pele clara.
Preferes o amor
“Lutar com palavras de uma posse impura
é a luta mais vã. e que venha o gozo
Entanto lutamos da maior tortura.
mal rompe a manhã.

210 * Literatura Brasileira


Luto corpo a corpo, para captar os mais tênues apelos da poesia:
luto todo o tempo,
sem maior proveito “ Na noite lenta e morna, morna noite sem ruído,
que o da caça ao vento. [um menino chora”
Não encontro vestes,
não seguro formas, “E no entanto se ouve até o rumor da gota de
é fluido inimigo [remédio caindo na colher.”
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja. INFâNCIA
A Abgar Renault

Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega “Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
se consumará. Minha mãe ficava sentada cosendo.
Já vejo palavras Meu irmão pequeno dormia.
em coro submisso, Eu sozinho menino entre mangueiras
esta me ofertando lia a história de Robinson Crusoé,
seu velho calor, comprida história que não acaba mais.
outra sua glória
feita de mistério, No meio-dia branco de luz uma voz que
outra seu desdém, [aprendeu
outra seu ciúme, a ninar nos longes da senzala – e nunca se
e um sapiente amor [esqueceu
me ensina a fruir chamava para o café.

de cada palavra Café preto que nem a preta velha


café gostoso
a essência captada,
café bom.
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante Minha mãe ficava sentada cosendo
de entreabrir os olhos: olhando para mim:
entre beijo e boca, - Psiu... Não acorde o menino.
tudo se evapora. Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
O ciclo do dia
ora se consuma Lá longe meu pai campeava
e o inútil duelo no mato sem fim da fazenda.
jamais se resolve. E eu não sabia que minha história
O teu rosto belo, era mais bonita que a de Robinson Crusoé.”
ó palavra, esplende
na curva da noite O poema “Quadrilha” aborda um tema caro à
que toda me envolve. tradição poética: o amor e o relacionamento
Tamanha paixão amoroso. A originalidade do poema está na forma
e nenhum pecúlio. como o tema é tratado.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.” QUADRILHA

Procura transmitir o essencial em linguagem “João amava Teresa que amava Raimundo
concisa, sem enfáticas expressões, isento de que amava Maria que amava Joaquim
sentimentalismos. Sua sensibilidade está acordada [que amava Lili

Literatura Brasileira * 211


que não amava ninguém. sua gula e jejum,
João foi para os Estados Unidos, sua biblioteca,
[Teresa para o convento, sua lavra de ouro,
Raimundo morreu de desastre, seu terno de vidro,
[Maria ficou para tia, sua incoerência,
Joaquim suicidou-se e seu ódio - e agora?
[Lili casou-se com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.” Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
Sua composição mais famosa, “José”, apre- quer morrer no mar,
senta a solidão, a desunião, a impossibilidade de mas o mar secou;
retorno: o homem encurralado, sem perspectivas. quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
JOSÉ
Se você gritasse,
“E agora, José? se você gemesse,
A festa acabou, se você tocasse
a luz apagou, a valsa vienense,
o povo sumiu, se você dormisse,
a noite esfriou, se você cansasse,
e agora, José? se você morresse...
e agora, você? Mas você não morre,
você que é sem nome, você é duro, José!
que zomba dos outros,
você que faz versos, Sozinho no escuro
que ama, protesta? qual bicho do mato,
e agora, José? sem teogonia*,
sem parede nua
Está sem mulher, para se encostar,
está sem discurso, sem cavalo preto
está sem carinho, que fuja a galope,
já não pode beber, você marcha, José!
já não pode fumar, José, para onde?”
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio, *utopia = projeto irrealizável, quimera,
o bonde não veio, fantasia.
o riso não veio, *teogonia = doutrina mística relativa ao
não veio a utopia* nascimento dos deuses e que, frequentemente, se
e tudo acabou relaciona à formação do mundo.
e tudo fugiu
e tudo mofou, Como todo grande poeta, Drummond
e agora, José? considera “a verdadeira poesia como aquela que
expressa as angústias da alma humana diante do
E agora, José? seu destino”. Reconhecida pelo público e pela crítica,
Sua doce palavra, a obra de Drummond ocupa, sem dúvida alguma,
seu instante de febre, lugar de destaque nacional e internacional.

212 * Literatura Brasileira


Outros exemplos: COTA ZERO

NO MEIO DO CAMINHO “Stop.


A vida parou
“No meio do caminho tinha uma pedra ou foi o automóvel?”
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra. POLÍTICA LITERÁRIA
A Manuel Bandeira
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas. “O poeta municipal
Nunca me esquecerei que no meio do caminho discute com o poeta estadual
tinha uma pedra qual deles é capaz de bater o poeta federal.
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.” Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.”

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO

“Alguns anos vivi em Itabira. 2. CECÍLIA MEIRELES


Principalmente nasci em Itabira. (1901 - 1964)
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. A poesia de Cecília Meireles é de um lirismo
Noventa por cento de ferro nas calçadas. profundo: expressão do mundo interior da artista, o
Oitenta por cento de ferro nas almas. que torna predominantemente subjetiva sua obra.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e São comuns, em seus poemas, temas que se
[comunicação. referem a espaço, oceano e solidão. Sua visão de
mundo revela, principalmente:
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, - preocupação com a fugacidade do tempo e
vem de Itabira, de suas noites brancas, com a precariedade das coisas e dos seres, de cuja
[sem mulheres e sem horizontes. constatação decorre a melancolia;
- ênfase à condição solitária do ser humano;
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, - fuga para o sonho;
é doce herança itabirana. - preocupação com a falta de sentido da exis-
tência;
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te - plasticidade imaginística.
[ofereço: Utiliza formas tradicionais do verso ou o verso
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; livre, em que predomina o descritivismo, a
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; musicalidade, o ritmo ligeiro.
este couro de anta, estendido no sofá da sala de A dimensão social também foi objeto de suas
[visitas; preocupações poéticas em Romanceiro da Incon-
este orgulho, esta cabeça baixa... fidência (recriação poética da luta de Tiradentes).

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Eis um fragmento do Romance XXXI ou
Hoje sou funcionário público. De mais tropeiros
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!” “ Por aqui passava um homem
- e como o povo se ria! -
que reformava este mundo
de cima da montaria.

Literatura Brasileira * 213


Tinha um machinho rosilho. Viagem;
Tinha um machinho castanho. Vaga música;
Dizia: ‘Não se conhece Mar absoluto;
país tamanho!’ Retrato natural;
Romanceiro da Inconfidência.
‘Do Caeté a Vila Rica,
tudo ouro e cobre! Nos textos, abaixo, destacamos algumas
O que é nosso vão levando. . . características da obra de Cecília Meireles:
E o povo aqui sempre pobre!’
MOTIVO
Por aqui passava um homem
- e como o povo se ria! - “Eu canto porque o instante existe
que não passava de Alferes e a minha vida está completa.
de cavalaria! Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
‘Quando eu voltar, - afirmava -
outro haverá que comande. Irmão das coisas fugidias,
Tudo isto vai levar volta, não sinto gozo nem tormento.
e eu serei grande!’ Atravesso noites e dias
no vento.
‘Faremos a mesma coisa
que fez a América Inglesa!’ Se desmorono ou se edifico,
E bradava: ‘Há de ser nossa Se permaneço ou me desfaço,
tanta riqueza!’ - não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Por aqui passava um homem
- e como o povo se ria! - Sei que canto. E a canção é tudo.
‘Liberdade ainda que tarde’ Tem sangue eterno a asa ritmada.
nos prometia. E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.”
E cavalgava o machinho.
E a marcha era tão segura • Musicalidade
que uns diziam: ‘Que coragem!’ • Efemeridade das coisas
E outros: ‘Que loucura!’

Lá se foi por esses montes, EPIGRAMA Nº 8


o homem de olhos espantados,
a derramar esperanças “Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente
por todos os lados. [onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha
Por aqui passava um homem. . . [vida em ti.
- e como o povo se ria! - Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu
Ele, na frente, falava, [destino frágil,
e, atrás, a sorte corria...” fiquei sem poder chorar, quando caí.”

OBRAS: • Preocupação com a fragilidade das coisas


Espectros; • Ênfase na condição solitária do homem
Nunca mais ... e poema dos poemas;
Baladas para EI-rei; “O tempo seca a beleza,

214 * Literatura Brasileira


seca o amor, seca as palavras. Minhas mãos ainda estão molhadas
Deixa tudo solto, leve, do azul das ondas entreabertas,
desunido para sempre e a cor que escorre de meus dedos
como as areias nas águas” colore as areias desertas.

• Fugacidade das coisas O vento vem vindo de longe,


a noite se curva de frio;
INSCRIÇÃO NA AREIA debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
“O Meu Amor não tem
importância nenhuma. Chorarei quanto for preciso,
Não tem o peso nem para fazer com que o mar cresça,
de uma rosa de espuma! e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma? Depois, tudo estará perfeito:
O meu amor não tem praia lisa, águas ordenadas.
importância nenhuma.” meus olhos secos como pedras
e minhas duas mãos quebradas.”

• Falta de sentido do amor


RETRATO
“(Mas, neste espelho, no fundo
desta fria luz marinha, “Eu não tinha este rosto de hoje,
como dois baços peixes, assim calmo, assim triste, assim magro,
nadam meus olhos à minha procura...)” nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
“Balada
das dez bailarinas do cassino Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
Dez bailarinas deslizam
eu não tinha este coração
por um chão de espelho.
que nem se mostra.
Têm corpos egípcios com placas douradas,
Pálpebras azuis e dedos vermelhos.
Eu não dei por esta mudança,
Levantam véus brancos, de ingênuos aromas,
tão simples, tão certa, tão fácil:
e dobram amarelos joelhos.”
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?”
• Plasticidade imaginística

Em Vaga música, a autora revela-nos suas


REINVENÇÃO
influências simbolistas. Um clima etéreo, a musica-
lidade de seus versos, a referência ao mar e à água
“A vida só é possível
são constantes, como atesta o poema que segue.
reinventada.

CANÇÃO Anda o sol pelas campinas


e passeia a mão dourada
“Pus meu sonho num navio pelas águas, pelas folhas...
e o navio em cima do mar; Ah! tudo bolhas
– depois, abri o mar com as mãos, que vêm de fundas piscinas
para meu sonho naufragar. de ilusionismo... – mais nada.

Literatura Brasileira * 215


Mas a vida, a vida, a vida, Eu, Senhor, pobre massa sem seiva
a vida só é possível Eu caminhei.
reinventada. Nem senti a derrota tremenda
Do que era mau em mim.
Vem a lua, vem, retira A luz cresceu, cresceu interiormente
as algemas dos meus braços. E toda me envolveu.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura. A ti, Senhor, gritei que estava puro
Tudo mentira! Mentira E na natureza ouvi a tua voz.
da lua, na noite escura. Pássaros cantaram no céu
Eu olhei para o céu e cantei e cantei.
Não te encontro, não te alcanço... Senti a alegria da vida
Só - no tempo equilibrada, Que vivia nas flores pequenas
desprendo-me do balanço Senti a beleza da vida
que além do tempo me leva. Que morava na luz e morava no céu
Só - na treva, E cantei e cantei.
fico: recebida e dada.
A minha voz subiu até ti, Senhor
Porque a vida, a vida, a vida, E tu me deste a paz.
a vida só é possível Eu te peço, Senhor
reinventada.” Guarda meu coração no teu coração
Que ele é puro e simples.
Guarda a minha alma na tua alma
3. VINÍCIUS DE MORAES Que ela é bela, Senhor.
(1913 - 1980) Guarda o meu espírito no teu espírito
É um dos poetas mais lidos e sua popu- Porque ele é a minha luz
laridade deve-se, em parte, às suas composições E porque só a ti ele exalta e ama.”
musicais (foi um dos responsáveis pela Bossa
Nova). Sua obra está dividida em duas fases: 2ª fase: Cinco elegias marca uma transição
1ª fase: caracterizada pela angústia religiosa. para a fase em que o poeta incorpora o cotidiano e
O poeta debate-se entre os apelos do espírito e da processa-se a superação da angústia metafísica. A
carne, escrevendo uma poesia dramática e, muitas mulher passa a constituir a base de sua temática.
vezes, impregnada de misticismo. A linguagem Nesta fase, Vinícius recupera uma das formas
desses primeiros versos é marcada pela elaboração clássicas de expressão poética: o soneto, do qual foi
formal intensa. É o tipo de visão de mundo, um dos grandes cultivadores. Sua linguagem, em
predominante em O caminho para a distância e consequência da mudança temática, passa a ser
Forma e exegese. mais coloquial com versos concisos, incorporando
por vezes o humor e a ironia.
Essa linha continuará pelos livros posteriores,
Purificação acentuando cada vez mais seu lirismo confessional,
a plenitude dos sentidos, a visão familiar do mundo.
“Senhor, logo que eu vi a natureza
As lágrimas secaram. SONETO DE FIDELIDADE
Os meus olhos pousados na contemplação
Viveram o milagre de luz que explodia no céu. “De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Eu caminhei, Senhor. Que mesmo em face do maior encanto
Com as mãos espalmadas eu caminhei para a Dele se encante mais meu pensamento.
[massa de seiva

216 * Literatura Brasileira


Quero vivê-lo em cada vão momento Teus pelos leves são relva boa
E em seu louvor hei de espalhar meu canto Fresca e macia.
E rir meu riso e derramar meu pranto Teus belos braços são cisnes mansos
Ao seu pesar ou seu contentamento. Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!”


E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive Os poemas que seguem revelam a preocu-
Quem sabe a solidão, fim de quem ama. pação do eu lírico com seu momento histórico,
contendo uma reflexão política.
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
Mas que seja infinito enquanto dure.”
“E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num
momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe
o Diabo: – Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a
SONETO DA SEPARAÇÃO mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu
me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu
“De repente do riso fez-se o pranto Deus e só a Ele servirás.” (Lucas, cap. V, versículos 5-8)

Silencioso e branco como a bruma


“Era ele que erguia casas
E das bocas unidas fez-se a espuma
Onde antes só havia chão.
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
De repente da calma fez-se o vento Que lhe brotavam da mão.
que dos olhos desfez a última chama Mas tudo desconhecia
E da paixão fez-se o pressentimento De sua grande missão:
E do momento imóvel fez-se o drama. Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
De repente, não mais que de repente, Um templo sem religião
Fez-se de triste o que se fez amante Como tampouco sabia
E de sozinho o que se fez contente. Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Fez-se do amigo próximo o distante, Era a sua escravidão.
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.” De fato, como podia
Um operário em construção
A seguir, temos um poema cujo tema principal Compreender por que um tijolo
é o elemento feminino seduzindo o eu lírico. Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
A MULHER QUE PASSA Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
“Meu Deus, eu quero a mulher que passa. Mas fosse comer tijolo!
Seu dorso frio é um campo de lírios E assim o operário ia
Tem sete cores nos seus cabelos Com suor e com cimento
Sete esperanças na boca fresca! Erguendo uma casa aqui
Oh! como és linda, mulher que passas Adiante um apartamento
Que me sacias e suplicias Além uma igreja, à frente
Dentro das noites, dentro dos dias! Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Teus sentimentos são poesia Não fosse, eventualmente
Teus sofrimentos, melancolia. Um operário em construção.

Literatura Brasileira * 217


Mas ele desconhecia Pois além do que sabia
Esse fato extraordinário: – Exercer a profissão –
Que o operário faz a coisa O operário adquiriu
E a coisa faz o operário. Uma nova dimensão:
De forma que, certo dia A dimensão da poesia.
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado E um fato novo se viu
De uma súbita emoção Que a todos admirava:
Ao constatar assombrado O que o operário dizia
Que tudo naquela mesa Outro operário escutava.
– Garrafa, prato, facão – E foi assim que o operário
Era ele quem os fazia Do edifício em construção
Ele, um humilde operário, Que sempre dizia sim
Um operário em construção. Começou a dizer não.
Olhou em torno: gamela E aprendeu a notar coisas
Banco, enxerga, caldeirão A que não dava atenção:
Vidro, parede, janela Notou que sua marmita
Casa, cidade, nação! Era o prato do patrão
Tudo, tudo o que existia Que sua cerveja preta
Era ele quem o fazia Era o uísque do patrão
Ele, um humilde operário, Que seu macacão de zuarte
Um operário que sabia Era o terno do patrão
Exercer a profissão. Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Ah, homens de pensamento Que seus dois pés andarilhos
Não sabereis nunca o quanto Eram as rodas do patrão
Aquele humilde operário Que a dureza do seu dia
Soube naquele momento! Era a noite do patrão
Naquela casa vazia Que sua imensa fadiga
Que ele mesmo levantara Era amiga do patrão.
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava. E o operário disse: Não!
O operário emocionado E o operário fez-se forte
Olhou sua própria mão Na sua resolução.
Sua rude mão de operário Como era de se esperar
De operário em construção As bocas da delação
E olhando bem para ela Começaram a dizer coisas
Teve um segundo a impressão Aos ouvidos do patrão.
De que não havia no mundo Mas o patrão não queria
Coisa que fosse mais bela. Nenhuma preocupação
– ‘Convençam-no’ do contrário –
Foi dentro da compreensão Disse ele sobre o operário
Desse instante solitário E ao dizer isso sorria.
Que, tal sua construção,
Cresceu também o operário Dia seguinte, o operário
Cresceu em alto e profundo Ao sair da construção
Em largo e no coração Viu-se súbito cercado
E como tudo que cresce Dos homens da delação
Ele não cresceu em vão E sofreu, por destinado,

218 * Literatura Brasileira


Sua primeira agressão. E o operário disse: Não!
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado – Loucura! – gritou o patrão
Mas quando foi perguntado Não vês o que te dou eu?
O operário disse: Não! – Mentira! – disse o operário
Em vão sofrera o operário Não podes dar-me o que é meu.
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram E um grande silêncio fez-se
Muitas outras seguirão. Dentro do seu coração
Porém, por imprescindível Um silêncio de martírios
Ao edifício em construção Um silêncio de prisão
Seu trabalho prosseguia Um silêncio povoado
E todo o seu sofrimento De pedidos de perdão
Misturava-se ao cimento Um silêncio apavorado
Da construção que crescia. Como o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
Sentindo que a violência E gritos de maldição
Não dobraria o operário Um silêncio de fraturas
Um dia tentou o patrão A se arrastarem no chão.
Dobrá-lo de modo vário. E o operário ouviu a voz
De sorte que o foi levando De todos os seus irmãos
Ao alto da construção Os seus irmãos que morreram
E num momento de tempo Por outros que viverão.
Mostrou-lhe toda a região Uma esperança sincera
E apontando-a ao operário Cresceu no seu coração
Fez-lhe esta declaração: E dentro da tarde mansa
– Dar-te-ei todo esse poder Agigantou-se a razão
E a sua satisfação De um homem pobre e esquecido
Porque a mim me foi entregue Razão porém que fizera
E dou-o a quem bem quiser. Em operário construído
Dou-te tempo de lazer O operário em construção.”
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares A ROSA DE HIROXIMA
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não. “Pensem nas crianças
Disse, e fitou o operário Mudas telepáticas
Que olhava e que refletia Pensem nas meninas
Mas o que via o operário Cegas inexatas
O patrão nunca veria. Pensem nas mulheres
O operário via as casas Rotas alteradas
E dentro das estruturas Pensem nas feridas
Via coisas, objetos Como rosas cálidas
Produtos, manufaturas. Mas oh não se esqueçam
Via tudo o que fazia Da rosa da rosa
O lucro do seu patrão Da rosa de Hiroshima
E em cada coisa que via A rosa hereditária
Misteriosamente havia A rosa radioativa
A marca de sua mão. Estúpida e inválida

Literatura Brasileira * 219


A rosa com cirrose Para eu poder te fixar,
A antirrosa atômica Deus ocluso na tua cruz,
Sem cor sem perfume Entre mim e ti, ó Deus,
Sem rosa sem nada.” Quantas vezes dou a volta,
Quantos olhares, angústias,
No soneto a seguir temos a dimensão lúdica, Súplicas mudas, silêncios,
em que a forma soneto serve para enformar um Falta de jeito e aridez,
conteúdo jocoso: Crucifixo fixo, fixo,
Cristo roxo da paixão,
“Não comerei da alface a verde pétala Transpassado, transfixado,
Nem da cenoura as hóstias desbotadas Chagado, esbofeteado,
Deixarei as pastagens às manadas Escarrado; abandonado
E a quem mais aprouver fazer dieta. Pelo Pai de compaixão,
Crucifixo fixo, fixo,
Cajus hei de chupar, mangas-espadas Deus fixado por amor,
Talvez pouco elegantes para um poeta Deus humano, Deus divino,
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta Deus ocluso na tua cruz,
Que acredita no cromo das saladas Crucifixo fixo, fixo,
Nosso irmão Cristo Jesus.”
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor, nasci SOLIDARIEDADE
Omnívoro, deem-me feijão com arroz
“Sou ligado pela herança do espírito e do sangue
Ao mártir, ao assassino, ao anarquista,
E um bife, e um queijo forte, e parati Sou ligado
E eu morrerei, feliz, do coração Aos casais na terra e no ar,
por ter vivido sem comer em vão.” Ao vendeiro da esquina,
Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,
Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,
4. MURILO MENDES Ao santo e ao demônio,
(1901 – 1975) Construídos à minha imagem e semelhança.”
Rejeitando as modas literárias, foi sempre fiel
ao seu espírito inquieto, preocupando-se com o POEMA ESPIRITUAL
destino do homem, tanto do ponto de vista material “Eu me sinto um fragmento de Deus
como espiritual. Procurando incorporar uma visão Como sou um resto de raiz
global do ser humano na sua poesia, caminhou por Um pouco de água dos mares
rumos diversos, explorando as potencialidades O braço desgarrado de uma constelação.
linguísticas e exigindo do leitor uma participação
A matéria pensa por ordem de Deus.
ativa na decifração de seus textos. Transforma-se e evolui por ordem de Deus.
Obras principais: Poemas (1930); Histórias do A matéria variada e bela
Brasil (1932); Tempo e eternidade (1935), em É uma das formas visíveis do invisível.
parceria com Jorge de Lima; A poesia em pânico Cristo, dos filhos do homem és o perfeito.
(1938); O visionário (1941); As metamorfoses
Na igreja há pernas, seios, ventres e cabelos
(1941); Mundo enigma (1945); Poesia liberdade
Em toda parte, até nos altares.
(1947); Contemplação de Ouro Preto (1954); Tempo Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar
espanhol (1959); Convergência (1970). Que se entrelaçam e se casam reproduzindo
Mil versões dos pensamentos divinos
CRUCIFIXO DE OURO PRETO A matéria é forte e absoluta
“Crucifixo, fixo fixo Sem ela não há poesia.”
Crucifixo, Deus parado

220 * Literatura Brasileira


CANÇÃO DO EXÍLIO Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
“Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza. Tanta gente também nos outros insinua
Os poetas da minha terra Crenças, religiões, amor, felicidade,
são pretos que vivem em torres de ametista, Como este acendedor de lampiões da rua!”
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir MULHER PROLETÁRIA
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a
“Mulher proletária - única fábrica
[Gioconda.
que o operário tem, (fabrica filhos)
Eu morro sufocado
tu
em terra estrangeira.
na tua superprodução de máquina humana
Nossas flores são mais bonitas
forneces anjos para o Senhor Jesus,
nossas frutas mais gostosas
forneces braços para o senhor burguês.
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade Mulher proletária,


e ouvir um sabiá com certidão de idade!” o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
5. JORGE DE LIMA a tua superprodução,
(1895 – 1953) ao contrário das máquinas burguesas
Seu livro de estreia, XIV alexandrinos (1914), salvar o teu proprietário.”
ainda reflete características parnasianas, que ele
depois abandonou em favor de uma poesia
coloquial, plena de reminiscências da infância. Em ESSA NEGRA FULô
1935, enveredou pela temática religiosa, publicando,
em parceria com Murilo Mendes, o livro Tempo e “Ora, se deu que chegou
eternidade, prosseguindo depois, sozinho, com A (isso já faz muito tempo)
túnica inconsútil (1938) e Anunciação e encontro de no banguê dum meu avô
Mira-Celi (1950). Sua última obra, Invenção de Orfeu uma negra bonitinha,
(1952), é um longo poema de reflexão sobre a vida chamada negra Fulô.
humana, a arte e o universo.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
Ó Fulô! Ó Fulô!
“Lá vem o acendedor de lampiões da rua! (Era a fala da Sinhá)
Este mesmo que vem infatigavelmente, — Vai forrar a minha cama,
Parodiar o sol e associar-se à lua pentear os meus cabelos,
Quando a sombra da noite enegrece o poente! vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente, Essa negra Fulô!
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente. Essa negrinha Fulô
ficou logo pra mucama
Triste ironia atroz que o senso humano irrita: – para vigiar a Sinhá,

Literatura Brasileira * 221


pra engomar pro Sinhô! O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
Essa negra Fulô!
A negra tirou a roupa.
Essa negra Fulô!
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
Ó Fulô! Ó Fulô! que nem a negra Fulô.)
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô, Essa negra Fulô!
vem abanar o meu corpo Essa negra Fulô!
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira, Ó Fulô? Ó Fulô?
vem me catar cafuné, Cadê meu lenço de rendas,
vem balançar minha rede, Cadê meu cinto, meu broche,
vem me contar uma história, Cadê meu terço de ouro
que eu estou com sono, Fulô! que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Essa negra Fulô! Ah! foi você que roubou!

‘Era um dia uma princesa


que vivia num castelo Essa negra Fulô!
que possuía um vestido Essa negra Fulô!
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato O Sinhô foi açoitar
saiu na perna dum pinto sozinho a negra Fulô.
o Rei-Sinhô me mandou A negra tirou a saia
que vos contasse mais cinco.’ e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
Essa negra Fulô! nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô? Essa negra Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
‘minha mãe me penteou
Cadê, cadê teu Sinhô
minha madrasta me enterrou
que Nosso Senhor me mandou?
pelos figos da figueira
Ah! foi você que roubou,
que o Sabiá beliscou.’
foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!”
Essa negra Fulô!

Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a negra Fulô). 6. MÁRIO QUINTANA
Cadê meu frasco de cheiro (1906 – 1994)
que teu Sinhô me mandou? Nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul,
- Ah! foi você que roubou! foi jornalista e tradutor e, em 1940, lançou seu
Ah! foi você que roubou! primeiro livro, A rua dos cata-ventos.
Com raízes no neossimbolismo, o lirismo de
Essa negra Fulô! Quintana concilia o humor com temas do cotidiano:
Essa negra Fulô! a infância, a vida, a morte, o amor.

222 * Literatura Brasileira


É autor de várias obras, entre elas algumas de Ai de ti, ó velho mar profundo,
literatura infantil. Destacam-se: Aprendiz de feiticeiro Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!”
(1950), Pé de pilão (1975), Quintanares (1976), Lili
inventa o mundo (1983), Nariz de vidro (1984). A manunteção de uma lírica tradicional é
contrabalançada por uma linguagem de absoluta
CANÇÃO PARA UMA VALSA LENTA simplicidade, como se em Mário Quintana houvesse
a fusão do subjetivismo crepuscular – de inspiração
“Minha vida não foi um romance... simbolista - com o estilo coloquial da poesia
Nunca tive até hoje um segredo. moderna.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance, OS POEMAS EM PROSA


Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjas, que vivo Contudo, Sapato florido abre uma
Esperando um amor para amar. experiência que culmina com Do caderno H, que
reúne poemas curtos em prosa. Lembram
Minha vida não foi um romance...
epigramas, pois são apresentados em prosa, mas
Pobre vida... passou sem enredo...
com dimensão e densidade poéticas e por isso
Glória a ti que me enches a vida
necessariamente curtos e geralmente irônicos. Uma
De surpresa, de encanto, de medo!
ironia estabelecida sobre o cotidiano. O poeta agora
Minha vida não foi um romance... parece mergulhar na vida prosaica, surpreendendo-
Ai de mim... Já se ia acabar! lhe os aspectos risíveis, insólitos ou até mesmo
Pobre vida que toda depende trágicos. No entanto, o humor predomina sempre.
De um sorriso... de um gesto... um olhar...” Humor que não esconde a ternura de Quintana para
com o “bicho-homem”.

A ideia da morte perpassa todo o discurso Eis alguns exemplos, retirados de Sapato
poético: florido:

“Da primeira vez em que me assassinaram Horror


Perdi um jeito de sorrir que eu tinha... “Com seus OO de espanto, seus RR guturais, seu
Depois, de cada vez que me mataram, hirto H, HORROR é uma palavra de cabelos em pé,
Foram levando qualquer coisa minha...” assustada da própria significação.”

O espião
O universo pessoal parece condenado à “Bem o conheço, num espelho de bar, numa
tristeza eterna: vitrina, ao acaso do footing, em qualquer vidraça por aí,
trocamos às vezes um súbito e inquietante olhar. Não, isto
“Hoje encontrei dentro de um livro uma velha não pode continuar assim. Que tens tu de espionar-me?
[carta amarelecida. Que me censuras, fantasma? Que tens a ver com os meus
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de bares, com meus cigarros, com os meus delírios
[quem seria... ambulatórios, com tudo o que não faço na vida?”
Eu tenho um medo horrível
A essas marés montantes do passado, Em Do caderno H o poeta acentua a sua
Com suas quilhas afundadas, com veia irônica:
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos
[mastros e gáveas... Cartaz para uma Feira do Livro
“Os verdadeiros analfabetos são os que apren-
Ai de mim deram a ler e não leem.”

Literatura Brasileira * 223


O Assunto _________________________________________________
“E nunca me perguntes o assunto de um poema: _________________________________________________
um poema sempre fala de outra coisa.” _________________________________________________

_________________________________________________
O Poema
“O poema essa estranha máscara mais verdadeira _________________________________________________
do que a própria face.” _________________________________________________

_________________________________________________
Refinamentos
_________________________________________________
“Escrever o palavrão pelo palavrão é a modalidade
atual da antiga arte pela arte.”
2ª fase Modernista
Sinônimos
_________________________________________________
“Esses que pensam que existem sinônimos,
desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças _________________________________________________

de uma cor.” _________________________________________________

_________________________________________________
Cuidado
_________________________________________________
“A poesia não se entrega a quem a define.”
_________________________________________________

Das Escolas _________________________________________________


“Pertencer a uma escola poética é o mesmo que _________________________________________________
ser condenado à prisão perpétua.”
Conclusões:
Destino Atroz
_________________________________________________
“Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele
os sente, depois quando ele os escreve e, por último, _________________________________________________
quando declamam os seus versos.” _________________________________________________

_________________________________________________
Dos Livros
“Há duas espécies de livros: uns que os leitores _________________________________________________
esgotam, outros que esgotam os leitores.” _________________________________________________

_________________________________________________
Dupla Delícia
_________________________________________________
“O livro traz a vantagem de a gente poder estar
só e ao mesmo tempo acompanhado.”
3. POESIA (características):

a) amadurecimento de autores da 1ª fase:


EXERCÍCIOS _________________________________________________

_________________________________________________
Elabore agora um quadro esquemático das principais ideias da
2ª fase Modernista. _________________________________________________

_________________________________________________
1. Manifestações artísticas:

_________________________________________________ b) surgimento de novos poetas:


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_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
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_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
4. PROSA
_________________________________________________
a) regionalista
_________________________________________________
_________________________________________________
2. Comparando características:
_________________________________________________
1ª fase Modernista _________________________________________________

224 * Literatura Brasileira


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_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________
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c) intimista
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_________________________________________________ _________________________________________________

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b) urbana
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_________________________________________________ _________________________________________________
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Poetas Características Obras

1. Drummond

2. Cecília Meireles

3. Vinícius de Moraes

4. Murilo Mendes

5. Jorge de Lima

6. Mário Quintana

Literatura Brasileira * 225


Prosadores Características Obras

1. Graciliano Ramos

2. Jorge Amado

3. José Lins do Rego

4. Érico Veríssimo

EXERCÍCIOS existência do homem.


a) Só a proposição I é correta.
b) Só a proposição II é correta.
1. A obra de Jorge Amado, na sua fase inicial, aborda o c) Só a proposição III é correta.
problema da: d) São corretas as proposições I e II.
a) seca periódica que devasta a região da pecuária no Piauí. e) São corretas as proposições II e III.
b) decadência da aristocracia da cana-de-açúcar diante do
aparecimento das usinas. 4. (FCC - SP) O romance regionalista nordestino que surge e se
c) luta pela posse de terras na região cacaueira de Ilhéus. desenvolve a partir de 1930, aproximadamente, pode ser cha-
d) exploração da classe trabalhadora, os dramas do mado “neorrealista”. Isso se deve a que esse romance:
proletariado. a) retoma o filão da temática regionalista, descoberto e
e) aristocracia cafeeira, que se vê à beira da falência com a explorado inicialmente pelos realistas do século XIX.
crise de 1929. b) apresenta, através do discurso narrativo, uma visão
realista e crítica das relações entre as classes que
2. O chamado “romance de 30” engloba um grupo de estruturam a sociedade do Nordeste.
romancistas surgidos na década de 1930, tendo como c) tenta explicar o comportamento do homem nordestino,
características comuns a regionalização e a preocupação de com base numa postura estritamente científica, pelos
documentar e criticar a realidade social brasileira das fatores raça, meio e momento.
diferentes regiões. Pertencem a este grupo: d) abandona de todo os pressupostos teóricos do Realismo
a) José Américo de Almeida que, com o romance A do século passado, buscando as causas do comporta-
bagaceira, de certa forma, abre os rumos para todo o mento humano mais no individual que no social.
romance de 1930. e) procura fazer do romance a anotação fiel e minuciosa da
b) José Lins do Rego que, com seus romances do “ciclo da nova realidade urbana do Nordeste.
cana-de-açúcar” e do “ciclo do cangaço”, mostra o
problema social das secas do Nordeste Brasileiro. 5. (PUC - PR) Numere a segunda coluna pela primeira:
c) Graciliano Ramos que, em Vidas secas, mostra o
problema social das secas do Nordeste. 1. 1ª fase Modernista
d) Todos os romancistas anteriormente citados. 2. 2ª fase Modernista
( ) época da destruição
3. Após ler as afirmações abaixo, assinale a alternativa correta. ( ) primitivismo
I - Moderno e versátil, Vinícius de Moraes compõe, com ( ) época de estabilização
maestria, tanto letras para canções populares como ( ) irreverência
poemas dentro dos mais estritos padrões clássicos. ( ) Oswald de Andrade
II - Cecília Meireles caracterizou sua poesia pela constante ( ) Jorge Amado
sugestão de sombra, identificação e ausência; mas soube a) 2, 2, 1, 2, 2, 1;
também incorporar a matéria histórica, em uma de suas b) 1, 2, 1, 2, 2, 1;
mais importantes obras, Romanceiro da Inconfidência. c) 1, 1, 1, 2, 1, 2;
III - Jorge Amado destaca-se na literatura brasileira por d) 1, 1, 2, 1, 1, 2;
apresentar uma prosa intimista, preocupada com a e) 2, 1, 1, 2, 2, 1.

226 * Literatura Brasileira


6. (FCC - SP) Relacionando o período literário que se inicia em a) São Bernardo;
1930 ao período imediatamente anterior, podemos dizer que: b) Angústia;
a) a década de 30 é a continuação natural do movimento de c) Vidas secas;
22, acrescentando-Ihe o tom anárquico e a atitude d) Caetés;
aventureira. e) Infância.
b) o segundo momento do Modernismo abandonou a atitude
destruidora, buscando uma recomposição de valores e a 13. A 2ª fase do Modernismo vai de 1930 a 1945. Não é
configuração de nova ordem estética. característica dessa fase:
c) a década de 20 representa uma desagregação das ideias a) Equilíbrio na forma e na linguagem;
e dos temas tradicionais; a de 30 destrói as formas b) Preocupação pelo homem;
ortodoxas de expressão. c) Valorização de algumas formas fixas;
d) as propostas literárias da década de 20 só se veriam d) Predomínio da poesia sobre a prosa;
postas em prática no decênio seguinte. e) Regionalismo.
e) o segundo momento do Modernismo assumiu como
armas de combate o deboche, a piada, o escândalo e a 14. (CESCEM) Poeta que fala com humor e ironia da mediocri-
agitação. dade, da “vida besta” que preside o cotidiano, e cuja obra (A
rosa do povo, Claro enigma) é marcada por vigoroso espírito
7. (PUC - RS) de síntese e pelo sentido trágico da existência. Trata-se de:
“Minhas mãos ainda estão molhadas a) Vinícius de Moraes;
do azul das ondas entreabertas b) Carlos D. de Andrade;
e a cor que escorre dos meus dedos c) Olavo Bilac;
colore as areias desertas.” d) Mário de Andrade;
e) Cecília Meireles.
A estrofe acima revela um dos tópicos dominantes da poesia
de Cecília Meireles, que é a percepção do mundo: 15. (FDC) Para responder à pergunta, siga o código:
a) sentimental; a) só a proposição I é correta.
b) racional; b) só a proposição II é correta.
c) emotiva; c) só a proposição III é correta.
d) sensorial; d) são corretas as proposições I e II.
e) onírica. e) são corretas as proposições II e III.
I - Jorge Amado prefere retratar as classes humildes às
8. Assinale a afirmação correta sobre Graciliano Ramos: altas.
a) Possuía um estilo rebuscado, penetrado pelos ideais II - Jorge Amado é lírico e realista ao mesmo tempo. Sua
românticos. obra é pontilhada de toques humorísticos, elemento
b) Escreveu romances indianistas, de cunho regionalista. condizente ao tipo de literatura que o autor se propôs a
c) É autor de São Bernardo, Vidas secas e Martim Cererê. fazer.
d) Fez romance regionalista, especialmente nordestino; sua III - Na vasta bagagem literária de Jorge Amado, constam,
preocupação constante foi a de fixar a panorâmica interior entre outros, os livros Jubiabá, Terras do sem fim e Fogo
de cada um dos personagens. morto .
e) Personificou a cachorra Baleia na sua obra-prima Fogo
Morto. 16. Nessa obra, que relata a luta de uma família nordestina pela
sobrevivência, há uma acentuada animalização dos seres
9. Em 1928, a publicação de uma obra de José Américo de humanos, embrutecidos pelo meio. Por outro lado, o animal,
Almeida abre caminho para o romance regionalista, que o principalmente através da cachorra Baleia, “humaniza-se”.
Modernismo iria desenvolver largamente. Trata-se de: Trata-se do romance:
a) A bagaceira; a) Caetés, de Graciliano Ramos;
b) Luzia-Homem; b) Vidas secas, de Graciliano Ramos;
c) Vidas secas; c) Seara vermelha, de Jorge Amado;
d) Cangaceiros; d) Terras do sem fim, de Jorge Amado;
e) Caetés. e) O quinze, de Raquel de Queiroz.

10. A versatilidade da Carlos D. de Andrade manifesta-se: 17. O veio é memorialista, formalizando o ciclo da cana-de-açúcar,
a) em sua poesia, ligada aos valores eternos do homem, mas no romance predomina um misto de regionalismo e
porém isenta do sentimento cotidiano. análise psicológica das personagens. Fala-se do escritor:
b) na crônica, com que estreou na vida literária, mas a) Jorge Amado;
abandonada em favor da poesia de temática urbana. b) Érico Veríssimo;
c) em seus contos, descrição minuciosa da zona rural c) José Lins do Rego;
mineira, filiados à corrente regionalista moderna. d) Graciliano Ramos;
d) em sua obra teatral, que retoma temas ligados ao Barroco e) Mário de Andrade.
Mineiro.
e) em sua poesia, marcada pela valorização do humano e
por um traço constante de humor. 18. Análise de texto:

11. Romancista regionalista, procurou nas suas obras, falar da


decadência dos engenhos de cana-de-açúcar e da posição POEMA DE SETE FACES
dos senhores feudais nordestinos:
a) Graciliano Ramos; “Quando nasci, um anjo torto
b) Jorge Amado; desses que vivem na sombra
c) José Lins do Rego; disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
d) Guimarães Rosa;
e) José de Alencar. As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
12. História de uma família de retirantes que vive em pleno A tarde talvez fosse azul,
agreste os sofrimentos da estiagem. Essa é a síntese de um não houvesse tantos desejos.
romance de Graciliano Ramos:

Literatura Brasileira * 227


O bonde passa cheio de pernas: 4. Há metalinguagem? Explique-a.
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, _________________________________________________
pergunta meu coração. _________________________________________________
Porém meus olhos
não perguntam nada. _________________________________________________

O homem atrás do bigode _________________________________________________


é sério, simples e forte. _________________________________________________
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos _________________________________________________
o homem atrás dos óculos e do bigode.
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Meu Deus, por que me abandonaste _________________________________________________
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
5. Analise a forma do poema (linguagem, vocabulário,
Mundo mundo vasto mundo, figuras de linguagem, repetições, etc)
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução. _________________________________________________
Mundo mundo ... vasto mundo,
mais ... vasto é meu coração. _________________________________________________

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Eu não devia te dizer
mas essa lua _________________________________________________
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.” _________________________________________________

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_________________________________________________
1. Explique o título.
_________________________________________________
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________________________________________________ 6. O poema passa uma visão masculina da realidade?


_________________________________________________ Quando, mais explicitamente?

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_________________________________________________ _________________________________________________
_________________________________________________ _________________________________________________
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2. O texto é autorreferencial? Comprove.
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3. Há intertextualidade no texto? Comente.

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228 * Literatura Brasileira

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