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Cocaína Vermelha

Tradução do livro Red Cocaine do Joseph Douglass

Tradução Incompleta

Última Atualização – 2016/09/05 – 19:46

Daniel Frederico Lins Leite

http://amizadedasnacoes.blogspot.com.br/2011/01/red-cocaine-traduzido-para-portugues.html
Sumário
A Ofensiva Chinesa das Drogas ................................................................................................................... 3
Os Soviéticos decidem competir ................................................................................................................. 6
Construindo a Rede das Drogas da América Latina ................................................................................... 13
Khrushchev Instrui os Países Satélites ...................................................................................................... 23
Organização para "A Amizade das Nações" .............................................................................................. 31
A Ofensiva Chinesa das Drogas

Em 1928, Mao Tse-Tung, o líder comunista Chinês, instruiu um dos seus subordinados de confiança, Tan
Chen-Lin, para começar a cultivar ópio em grande quantidade. Mao tinha dois objetivos: utilizar o ópio
como fonte de troca para suprimentos necessários e “drogar a região branca” onde “branca” possui
sentido ideológico, e não racista. Era assim que Mao se referia à oposição não comunista. A estratégia do
Mao era simples; utilizar as drogas para “aliviar” a área almejada. Após esta região estar capturada e sobre
controle, proibir o uso de todos os narcóticos e impor controle estrito para garantir que a papoila
continuasse exclusivamente como um instrumento do Estado contra seus inimigos.

Mais tarde, Mao falaria do uso do ópio contra os imperialistas apenas como uma fase moderna na
guerra do ópio que começou no século XIX. “Ópio foi uma poderosa arma que foi utilizada pelos
imperialistas contra os Chineses e deve ser utilizada contra eles na segunda Guerra do Ópio”. Foi assim
que Mao explicou para Wang Chen em uma palestra sobre seu plano para plantar ópio, “uma guerra
química por métodos primitivos”. Porém, o fato do ópio ter sido previamente utilizado contra os
Chineses foi apenas uma desculpa, não a verdadeira razão. Mao utilizou o ópio como uma arma política,
pela primeira vez, contra seu próprio povo, os chineses, durante sua caminhada para estabelecer o
regime comunista na China. Seu uso do ópio expandiu simplesmente porque se demonstrou como uma
arma eficiente. Assim que Mao dominou o território da China em 1949, a produção do ópio foi
nacionalizada e o tráfico de narcóticos, contra os estados não comunistas, se tornou a atividade formal
do novo estado comunista, a República Popular da China. A operação do tráfico Chinês se expandiu
rapidamente. Os alvos oficiais foram: Japão, os exércitos americanos no sudeste asiático e o território
americano. As principais organizações envolvidas no início da década de 50 foram o Ministério De
Políticas Externas da China, o Ministério do Comércio e o Serviço de Inteligência.

A Coréia do Norte também estava traficando narcóticos cooperando com a China nesta época, e estava
diretamente conectada com o fluxo de drogas dentro do Japão e nas bases Americanas no sudeste
asiático.

Os problemas domésticos com narcóticos no Japão ficaram sérios em 1946. A Divisão de Investigação
Criminal das Forças Armadas Americanas no Japão, junto das autoridades japonesas, começou a construir
uma rede por todo o Japão para determinar como as drogas estavam entrando no país. Em 1951, os
japoneses oficialmente identificaram os narcóticos que entravam ilegalmente no país e as fontes do
tráfico – eram os governos comunistas da China e da Coréia do Norte. Este tráfico não era limitado ao
ópio e a heroína, mas também incluía o haxixe, a maconha, cocaína e perigosos estimulantes sintéticos
como o hiropon e os aminos butanos. Estes sintéticos são especialmente perigosos e quando analisados
são responsáveis por sérios problemas de saúde que começaram a aparecer no Japão no início da década
de 1950.

A experiência americana foi similar à japonesa. Um novo tráfico foi identificado no final da década de
1940. “US Narcotics” e agentes especializados se uniram para descobrir estas novas fontes e em 1951
começaram a descobrir grandes quantidades de heroína em grandes portos americanos como Nova
Iorque, São Francisco e Seattle. A heroína foi diagnosticada como tendo sido fabricada na China e o tráfico
gerenciado pelos Chineses.

Sincronizado com o aumento do tráfico de narcóticos chineses entre 1949 e 1952, a produção de ópio na
China aumentou rapidamente e atingiu o patamar de 2.000 a 3.000 toneladas por ano. Esta produção
continuou neste patamar entre 1958-1964, quando a produção aumento para incríveis 8.000 toneladas
como parte do “Grande Passo Para Frente”. As datas destes aumentos são cruciais. Como será discutido
no capítulo 11, numa análise do uso de narcóticos nos Estados Unidos, observa-se dois aumentos abruptos
no consumo que se destacam. O uso de narcóticos nos Estados Unidos veio caindo nas décadas de 1930
e 1940. Então começando em 1949-1952, ocorreu uma ascensão abrupta simultaneamente com o
lançamento da operação chinesa de tráfico. Após 1952, o consumo de narcóticos decaiu. No final dos anos
50 e no início dos 60, veio o segundo grande aumento. Este segundo aumento coincide precisamente com
o segundo momento da operação chinesa e com a entrada da União Soviética no tráfico de narcóticos,
como será descrito mais tarde. Esta correlação é um dos indicativos que o aumento do tráfico e consumo
de drogas dentro dos Estados Unidos e pelo mundo afora não é um processo evolucional natural, ou um
fenômeno condicionado pela “demanda”. Ao contrário, existem poderosas forças subversivas
estimulando e expandindo o consumo.

No caso do tráfico chinês, não existe dúvida que foi uma política oficial do estado. Dados sobre o tráfico
Chinês e Norte-Coreano foi obtido pelo serviço de segurança internacional Japonês, Serviço de
Inteligência do Exército Americano e pelo “US Narcotics Bureau” operando com a ajuda de agentes
infiltrados e pelos informantes da CIA na China. Estes dados indicavam claramente as fontes de produção,
estabelecimentos para empacotamento, rede de tráfico e até mesmo as organizações de gerência. Como
será discutida mais tarde, a operação Chinesa de narcóticos estava infiltrada e observada por agentes
soviéticos e tchecos, e estavam unidos aos comunistas da Coréia do Norte, do Vietnã e do Japão.

A operação Chinesa dos narcóticos também foi descrita por vários oficiais Chineses que mais tarde
abandonaram a China e conseguiram asilo político em outros países. Um destes que desertou no fim de
1950 descreveu uma reunião secreta os oficiais do estado em 1952, quando a operação Chinesa foi
reorganizada, e um plano de 20 anos de duração foi adotado. Nesta reunião, foram tomadas decisões
para regular a quantidade de narcóticos, estabeleceram regulações para promoções, fizeram agendas
desenvolvidas para encorajar uma propaganda agressiva, despacharam representantes de vendas,
expandiram a pesquisa e produção e reorganizaram responsabilidades de gerenciamento.

Esta informação também é confirmada por dados coletadas pelos agentes de Inteligência da União
Soviética e Tchecos, como será discutido in maiores detalhes pelos Capítulos 4 e 6.

A organização por detrás da operação Chinesa dos narcóticos foi extensiva e envolveu desde vários
ministérios e agências estatais até os níveis mais locais. Estas organizações supervisionaram a
valorização das terras de produção (Ministério da Agricultura); cultivo e pesquisa para produzir
variedades melhores da papoula (Ministro da Agricultura); desenvolvimento de opiáceos (Comitê para A
Revisão da Austeridade); controle de estoque e preparação para exportação (Ministro do Comércio);
gerenciamento das organizações de comercio exterior (Ministro do Comercio Estrangeiro); controle
estatístico e produção (Quadro de Produção do Governo Central); finanças (Ministério das Finanças);
propaganda atrás de representantes especiais e criação de intrigas políticas (Ministério de Assuntos
Estrangeiros); e segurança e cobertura das operações (Ministério da Segurança Pública).

O portfólio de técnicas do tráfico contava com os do contrabando clássico; transporte utilizando as


empresas de navegação (algumas informadas e outras desinformadas disto); uso de comunistas e
chineses dispersos pelo mundo; colaboração com os sindicatos dos crimes organizados; uso de
mercadorias normais como disfarce; transporte por correio; e falsificação ou empacotamento falso
utilizando marcas conhecidas. Como veremos mais adiante, a estratégia e a tática Soviética utilizaram
técnicas similares, organização, gerenciamento, alvos e motivações – embora num estilo Leninista e
numa escala imensamente maior.

Nas décadas de 1950 e 1960, provavelmente o mais importante oficial operando no dia-a-dia do
controle da operação das drogas na China foi Chou Em-Lai. Como o ideológico chefe Soviético, Mikhail A.
Suslov explicou durante um importante discurso na China em um encontro com o Comitê Central
Soviético em fevereiro de 1964, a estratégia de Chou En-Lai era “desarmar os capitalistas com coisas que
eles adoram provar” [referindo-se as drogas].

Professor J. H. Turnbull foi o chefe do Departamento de Química Aplicada no Colégio Militar-Real de


Ciência em Shrivenham na Inglaterra e especialista em tráfico de narcóticos e suas implicações
estratégicas. Em 1972, seguindo a publicidade focada no maciço uso de narcóticos contra os soldados
Americanos no Sudeste da Ásia (ver Capítulo 16), Turnbull preparou um sucinto relatório da estratégia
do tráfico de narcótico Chinês. O Tráfico Chinês, ele escreveu, era “direcionado aos grandes setores
industriais do Mundo Livre. Em termos comerciais isto oferece alvos óbvios, já que eles proveem tanto
grandes e fluentes mercados”. Estes setores industriais eram particularmente vulneráveis por causa da
natureza aberta de suas sociedades.

A produção e distribuição de drogas, Turnbull enfatizou, foram “uma valiosa fonte de renda nacional e
uma poderosa arma de subversão”. Ele identificou três grandes objetivos básicos das atividades
subversivas da China no emprego das drogas: financiar as atividades subversivas pelo mundo;
corromper e enfraquecer as pessoas do Mundo Livre; e destruir a moral dos combatentes Americanos
no sudeste asiático.

A conclusão do Turnbull foi praticamente igual àquela chegada vinte anos antes pelo Comissário de
Narcóticos dos Estados Unidos, Harry Anslinger - sendo bastante revelador hoje. A disseminação secreta
de narcóticos do ópio, em particular a viciante droga heroína, para objetivos tantos comerciais como
para subversivos, representa uma das maiores ameaças para os serviços armados e para as sociedades
do Mundo Livre. A operação subversiva precisa ser reconhecida como uma forma peculiar de guerra
química, naquela a qual a vítima voluntariamente se expõe ao ataque.
Os Soviéticos decidem competir

Quando a China começou a travar a guerra com drogas e narcóticos no final da década de 1940, sua
estratégia foi rapidamente identificada. Vários carregamentos de drogas foram apreendidos e vários
dados foram coletados que identificaram as fontes como a República Popular da China, junto com suas
rotas de tráfico, técnicas e eventualmente até as principais organizações por trás da produção e
distribuição. No caso da União Soviética, dados sobre a operação não ficaram imediatamente disponíveis,
talvez provando o cuidado dos soviéticos com a segurança e técnicas de cobertura antes mesmo da
ofensiva de Moscou ser lançada. Como será visto, a ofensiva Soviética foi desenvolvida para ser bem mais
abrangente que a operação chinesa, e assim que operando, foi intensificada anualmente.

Enquanto a dúbia fama de iniciar uma guerra política em larga escala utilizando drogas vai para o Chineses,
foram os Soviéticos quem transformaram o tráfico em efetiva arma política e de inteligência – realização
que não levantou praticamente nenhuma desconfiança no Ocidente do envolvimento Soviético. Apenas
em 1968 uma fonte apareceu no Ocidente que possuía conhecimento detalhado sobre a ofensiva
Soviética com as drogas. A história a seguir é a primeira revelação detalhada do conhecimento desta fonte
sobre a guerra das drogas dos Soviéticos.

A fonte em questão é Jan Sejna, que desertou da Checoslováquia para os Estados Unidos em fevereiro de
1968. O Major General Sejna foi um membro do Comitê Central, da Assembleia Nacional, do Politburo e
do Partido. Ele também foi um membro da Principal Administração Política, da sua mesa política e
membro dos Departamentos Administrativos dos Órgãos. Ele foi Primeiro Secretário do Partido no
Ministério da Defesa, onde foi Chefe do Departamento e membro do Colegiado do Ministério. Sua
principal posição foi Secretário do poderoso Conselho de Defesa, que é quem toma as decisões em
matéria de defesa, inteligência, política exterior e política econômica. Sejna foi um dos principais
tomadores de decisões oficiais do Partido. Ele tinha reuniões regulares com os mais altos oficiais na União
Soviética e dos países Comunistas. Ele esteva presente no início, no planejamento e na aplicação das
operações de tráfico de narcóticos dos Soviéticos.

A ideia Soviética de usar o tráfico de drogas e narcóticos como uma operação estratégica, Sejna explicou,
surgiu durante a Guerra das Coreias. Durante este conflito, os chineses e os norte-coreanos usaram drogas
contra as forças militares americanas tanto para minar a eficiência dos oficiais e dos soldados como para
lucrar com o processo. Os soviéticos estavam também ajudando os norte-coreanos na guerra, embora em
meios não tão óbvios como os chineses.

A guerra propiciou aos soviéticos a oportunidade de estudar a eficiência das forças americanas e seus
equipamentos, com a ajuda da inteligência da Checoslováquia. Como parte dessa missão de inteligência,
a Checoslováquia construiu um hospital na Coreia do Norte. Ostensivamente criado para tratamento das
casualidades da guerra, era na realidade uma instalação para pesquisa, onde doutores checos, soviéticos
e norte-coreanos faziam experimentos em prisioneiros de guerra americanos e sul-coreanos. O oficial
checo encarregado das principais operações na Coreia do Norte foi o Coronel Rudolf Bobka da Zpravdajska
Sprava (Zs), o General-Coronel Professor Doutor Dufek da Administração da Inteligência Militar da
Checoslováquia, um especialista em coração, era o encarregado pelo hospital. Seja soube do hospital e de
suas atividades diretamente pelo Coronel Bobka, através de vários relatórios e de reuniões que
sumarizavam os resultados dos experimentos e usava os resultados em estudos do potencial estratégico
militar do tráfico de drogas.

Os experimentos eram justificados como preparativos para a próxima guerra. Prisioneiros de guerra
americanos e sul-coreanos eram usados como cobaias em: experimentos de guerra química e biológica;
em testes de resistência fisiológicos e psicológicos; e em testes da eficácia de várias drogas para controle
mental, que eram utilizadas para fazerem os americanos renunciarem a América e falar em benefício do
sistema comunista.

Para entender melhor os efeitos biológicos e químicos nos soldados americanos e sul-coreanos, autópsias
foram realizadas em cadáveres capturados e nos prisioneiros de guerra que não sobreviveram a diversos
experimentos. Durante esta atividade, os doutores soviéticos determinaram que um altíssimo percentual
de jovens soldados sofreu prejuízos cardiovasculares, que eles referiam como “pequenos ataques
cardíacos”.

O serviço de inteligência soviético ao mesmo tempo em que estava estudando a operação chinesa de
tráfico de drogas declarou que os jovens soldados americanos eram o grupo mais propício ao uso de
drogas pesadas. Os doutores soviéticos perceberam a correlação e criaram a hipótese que um dos fatores
que provavelmente contribuiu para as doenças do coração foi o abuso de drogas.

Notícias do efeito debilitante das drogas chamaram a atenção do líder Soviético, Nikita Khrushchev. O
tráfico de drogas e de narcóticos, ele imaginou, deveria ser visto como uma operação estratégica para
enfraquecer o inimigo, ao invés de meramente como uma ferramenta financeira e de inteligência. Assim,
ele ordenou uma operação conjunta dos civis com os militares. Um estudo soviético e checo para
examinar o efeito total do tráfico de drogas e narcóticos na sociedade Ocidental; incluindo seus efeitos
no trabalho, na educação, nos militares (o principal alvo na época) e seu uso como apoio as medidas de
inteligência soviética. Esse estudo não foi abordado nem como uma questão tática nem como uma
simples oportunidade que pode ser explorada. O potencial dos narcóticos foi examinado em um contexto
de uma estratégia de longo-prazo. Custo e risco, benefícios e retornos, integração e coordenação com as
operações foram examinadas. Até mesmo o efeito das drogas em várias gerações foi analisado pelos
cientistas da Academia de Ciências Soviética.

As conclusões do estudo foram: o tráfico seria extremamente eficiente; os alvos mais vulneráveis eram os
Estados Unidos, a França e a Alemanha Ocidental; e que os soviéticos deveriam capitalizar com esta
oportunidade. Esse estudo foi aprovado pelo Conselho de Defesa Soviético no final de 1955 e início de
1956. A principal orientação do Conselho de Defesa na aprovação da ação foi direcionar os planejadores
para acelerar o calendário de eventos, que foi possível, pois certa experiência com narcóticos já existia no
serviço de inteligência soviético, mas que era desconhecido para as pessoas que prepararam o estudo.
Esse plano foi formalmente aprovado quando os soviéticos decidiram começar a traficar narcóticos contra
os chamados burgueses, especialmente contra os “capitalistas americanos” – o “principal inimigo”.
Além disso, o estudo apareceu na época mais propícia para os comunistas porque, simultaneamente, os
soviéticos sob o comando de Khruschev estavam trabalhando para modernizar o movimento
revolucionário mundial. Khruschev acreditava que o crescimento tinha estagnado sob Stalin e ele queria
um rejuvenescimento que iria tirar vantagem das novas condições globais.

A estratégia soviética da guerra revolucionária é uma estratégia global. A estratégia soviética dos
narcóticos é apenas uma parte desta estratégia global e é mais bem compreendida neste contexto.
Normalmente se acha que o alvo principal desta atividade é o terceiro mundo, porém este não é o caso.
Tanto as estratégias como as táticas soviéticas foram desenvolvidas para o mundo inteiro, onde os
principais setores eram as nações desenvolvidas e o principal alvo, os Estados Unidos.

A nova estratégia revolucionária tomou forma entre os anos de 1954 e 1956. Como detalhado por Sejna,
existiam 5 principais frentes da estratégia modernizada. Primeiro foi um treinamento melhorado dos
líderes dos movimentos revolucionários – os civis, os militares e os de inteligência. A fundação da
Universidade de Patrice Lumumba em Moscou é um exemplo de uma das primeiras medidas para
modernizar o treinamento dos líderes revolucionários soviéticos.

O segundo passo foi o treinamento dos terroristas. O treinamento para uma rede internacional de
terroristas começou, na verdade, por trás do slogan “Luta por Liberação”, dentro da estratégia de
descolonização do Comintern. O termo “liberação nacional” foi criado para substituir o movimento de
guerra revolucionária por duas fachadas: uma para prover uma capa de nacionalismo para o que era uma
basicamente uma operação de inteligência soviética; e outra para prover um nome que era
semanticamente separado do movimento revolucionário comunista.

O terceiro passo foi o tráfico internacional de drogas e narcóticos. Drogas foram incorporadas a estratégia
para travar a guerra revolucionária tanto como uma arma política e de inteligência contra a “sociedade
burguesa”, tanto como um mecanismo para recrutar agentes de influência por todo o mundo.

O quarto passo foi infiltrar as organizações criminosas e, mais tarde, estabelecer os Blocos Soviéticos que
eram patrocinados e formados por redes dessas organizações criminosas por todo o mundo.

O quinto passo era planejar e preparar a sabotagem em escala mundial. A rede para essa atividade foi
montada em 1972.

Por causa da proximidade do crime organizado e dos traficantes, a entrada dos soviéticos no crime
organizado merece uma atenção especial. As decisões de Moscou para o crime organizado foram feitas
em 1955. Essa foi também uma operação global apontada para todos os países, não somente os Estados
Unidos, apesar de que o crime organizado nos Estados Unidos, além da França, Inglaterra, Alemanha e
Itália foram os principais alvos.

A principal razão para infiltrar o crime organizado foi porque os soviéticos acreditavam que informação
de alta qualidade – informação sobre corrupção policial, dinheiro e negócios, relações internacionais,
tráfico de drogas e contra inteligência – seria facilmente encontrado no crime organizado. Os soviéticos
perceberam que se eles infiltrassem com sucesso o crime organizado, teriam acesso a uma promissora
maneira de controlar muitos políticos e teriam acesso as melhores informações sobre drogas, dinheiro,
armas e diversas categorias de corrupção. Um motivo secundário foi utilizar o crime organizado como
uma cobertura para a distribuição das drogas.

No caso do tráfico de drogas, os soviéticos formaram grupos de estudo para analisar o crime organizado:
identificar os principais criminosos, desenvolver estratégias e táticas para infiltrar nesses grupos,
identificar quais pessoas poderiam ser usadas para promover essa infiltração e para examinar a
possibilidade da utilização de novas frentes criminosas. Na Checoslováquia, esses estudos duraram seis
meses e foram levados a sério; eram operações envolvendo os principais oficiais da inteligência, da contra
inteligência militar e civil e órgãos administrativos do Comitê Central.

O primeiro plano foi posto em prática em 1956. Foi dada a Checoslováquia as direções das operações que
deveriam ser empreendidas como parte do plano de inteligência, que foi revisto e aprovado no final do
outono deste ano. O plano instruía o serviço de inteligência estratégica da Checoslováquia para infiltrar
dezessete grupos do crime organizado, assim como a máfia na França, Itália, Áustria, América Latina e
Alemanha. O partido comunista Italiano foi bastante usado no processo de infiltração. Vinte por cento
dos policiais italianos foram membros do Partido Comunista naquela época. Esses membros ajudaram os
agentes do bloco soviético a infiltrar a Máfia. Criminosos de guerra, por exemplo alguns alemães, foram
coagidos a ajudar os agentes do Bloco Soviético nesse processo, especialmente na América Latina.

A operação Checoslováquia foi bastante bem sucedida e custou uma pechincha. A atividade do crime
organizado se desenvolveu em torno da chantagem e da coleta de informação; era uma operação com
dois lados. Uma vez infiltrados, os agentes permaneciam por um bom tempo passivos; eles apenas
coletavam informações. Então, no momento mais oportuno, essas informações seriam vazadas por
motivos políticos – por exemplo, para provocar mudanças revolucionárias, ou para criar uma situação que
poderia ser aproveitada pelos Socialdemocratas. Por isso a operação foi organizada dentro da unidade de
inteligência estratégica: ela era usada para vantagens estratégicas.

Narcóticos, terrorismo e o crime organizado foram coordenados e usados em conjunto de uma maneira
complementar. Drogas eram usadas para destruir a sociedade. Terrorismo era usado para desestabilizar
o país e preparar o movimento revolucionário. Crime organizado era utilizado para controlar a elite. Todas
essas três linhas eram operações estratégicas de longo prazo e todas as três foram incorporadas no plano
Soviético de 1956.

Porém, antes que o tráfico de narcóticos pudesse ser operado, diversas medidas preparatórias eram
requeridas. As duas mais importantes eram o desenvolvimento de uma estratégia para a propaganda de
disfarce do tráfico de drogas e dos narcóticos e o treinamento das equipes de inteligência. Os soviéticos
queriam esconder suas operações dos chineses e em especial do Ocidente, para evitar conflito com a
corrente da “coexistência pacífica” do Ocidente e a União Soviética. Como a estratégia dos narcóticos era
nova, era preciso a aquisição e o treinamento das habilidades de inteligência. Esse treinamento envolveu,
não apenas os soviéticos, como também os agentes de inteligência do Leste Europeu.

Além disso, durante o fim da década de 1950, um programa de pesquisa foi realizado para obter dados
quantitativos sobre os efeitos reais das diferentes drogas em soldados, o que envolveu a utilização de
soldados soviéticos como cobaias. Como parte desta pesquisa, um programa de espionagem foi iniciado
para penetrar os centros médicos e relacionados do Ocidente, especialmente os de natureza militar, para
determinar o quanto o Ocidente conhecia dos efeitos de drogas nas pessoas – particularmente os efeitos
de uso militar.

Em paralelo, os serviços de inteligência soviéticos foram direcionados a descobrir o quanto os serviços de


inteligência do Ocidente conheciam o tráfico de drogas e em quais grupos eles haviam agentes infiltrados.
Uma das mais importantes questões tratadas nesse estudo foi a capacidade dos serviços de inteligência
do Ocidente de monitorar a produção e distribuição das drogas. Muitos anos mais tarde, Sejna descobriu
os resultados desse estudo diretamente do Chefe Agente Geral da União Soviética, Marechal Matvey v.
Zakharov.

Zakharov disse que o serviço soviético concluiu que a inteligência e a contra inteligência dos Estados
Unidos era cega, o que facilitava muito a operação soviética. As operações de inteligência dos Estados
Unidos, juntos dos britânicos, estavam todas concentrada no tráfico de narcóticos vindos da Tailândia e
de Hong Kong, onde existia tanta atividade com drogas e corrupções associadas que nenhuma informação
do tráfico soviético poderia ser coletada. O “ruído” era simplesmente muito grande.

Durante os estudos, o uso de narcóticos e drogas ganhou reconhecimento de uma arma especial na guerra
química. Na Checoslováquia, a pesquisa de drogas e narcóticos foi formalmente adicionada no
planejamento militar, como um braço da pesquisa sobre guerra química. Essa pesquisa incluía testes dos
efeitos das drogas em desempenho militar – por exemplo, no desempenho de pilotos, estudo que foi
realizado no Instituto de Saúde das Forças Aéreas.

Finalmente, o estudo básico sobre o impacto das drogas foi expandido para melhorar a identificação sobre
quais grupos seriam alvos. Este estudo foi responsabilidade do Departamento de Políticas Exteriores do
Comitê Central da CFSU (Partido Comunista da União Soviética). Era, na realidade, uma análise do cenário
político e um estudo de técnicas de propaganda.

Uma das últimas medidas que foram iniciadas antes da operação entrar em prática foi o estabelecimento
de centros de treinamento para traficantes de drogas. No caso da Checoslováquia, esses centros foram
uma operação em parceria da União Soviética com a Checoslováquia. Existiam tantos centros de
treinamento de inteligência civil, que eram administrados tanto por oficiais da KGB (Soviética) e oficiais
Checos da Segunda Administração do Ministério do Interior (a Segunda Administração da Checoslováquia
era a KGB da Checoslováquia); como centros de treinamento militar, administrados pela GRU (Inteligência
Militar Soviética) e seu correspondente Tcheco, a Zs.

Esses planos foram desenvolvidos em 1959, como o General Sejna recorda, e a revisão do Conselho de
Defesa dos planos e a decisão de patrociná-los, segundo as instruções do Conselho de Defesa Soviético,
aconteceu entre 1959 e 1960.

O centro de treinamento da Zs (inteligência militar) ficava localizado em uma base em Petrzalka na


Checoslováquia, no subúrbio da Bratislava, situado perto da fronteira com a Áustria. O centro de
treinamento da Segunda Administração ficava localizada perto de Liberec, perto da fronteira com a
Alemanha Ocidental.

Cada curso consistia de três meses de intensivo treinamento. Enquanto doutrinação Marxista-Leninista
existia, a ênfase era o tráfico de drogas. O curso incluía:

 A natureza do negócio das drogas, tipos e características;


 Meios de produção;
 Organização da distribuição;
 Mercados das drogas e seus consumidores;
 Segurança;
 Infiltração nas redes de produção existentes;
 Como utilizar a experiência das redes de inteligência.
 Comunicação com as organizações crimosas de drogas;
 Como passar informação de inteligência; e,
 Como recrutar fontes de inteligência

Nos centros da Zs, dois diferentes grupos foram escalados para o treinamento. O primeiro grupo foi
recrutado pelos serviços de inteligência militares e civis. Esse grupo foi estritamente para “criminosos“
comuns – os participantes não eram nem comunistas nem tinham motivações ideológicas. “Criminosos”
está entre aspas pois era isso que o curso visava formar. Porém todos os participantes eram escolhidos a
dedo para ter certeza que todos possuíam fichas limpas; ou seja, todos eles não tinham antecedentes
criminosos ou passado corrupto que poderiam torná-los suscetíveis a chantagem por outros partidos.
Normalmente, eram filhos ou filhas de pessoas no poder. Essas pessoas e o seu risco associado eram
normalmente levantadas nas discussões no Conselho de Defesa da Checoslováquia.

O segundo grupo eram pessoas recomendadas pelos Primeiros Secretários dos diversos Partidos
Comunistas ao redor do mundo. Esses eram comunistas considerados leais a causa. Eles também eram
severamente espionados pelo serviço de contra inteligência antes de serem admitidos para o curso. Seu
treinamento era ligeiramente diferente, porque seu tráfico também teria interesse político e porque
operavam e se comunicavam por canais especiais (o Partido ou o Serviço de Inteligência). Seu tráfico e
treinamento eram especialmente orientados para dar suporte ao Primeiro Secretário do Partido
Comunista local; por exemplo, comprometer os líderes da oposição.

Além disso, os instrutores Checos e os Soviéticos normalmente proviam dois instrutores para cada curso
que possuíam experiência prática. Normalmente eram da América Latina ou outros que falavam Espanhol
de maneira fluente. Esses instrutores apresentavam seminários lidando com problemas práticos e
experiências reais.

Como indicado acima, esses cursos duravam em torno de três meses, ou seja, quatro grupos por ano. O
primeiro grupo a fazer o curso da Zs na Checoslováquia foi pequeno – sete futuros traficantes, sendo eles:
quatro da América Latina, dois da Alemanha Ocidental e mais um sendo Italiano ou Francês, como lembra
o Sejna. Em 1964, o tamanho do grupo aumentou para quatorze, e ao final da década de 60, vinte foi
alcançado. Assim um total de trinta estudantes foi treinado apenas no primeiro ano no centro da Zs na
Checoslováquia e por volta de 1968 já eram 80 formados.

O tamanho do centro da Segunda Administração foi similar. Centros similares de treinamento também
existiam na Bulgária, Alemanha Oriental e na União Soviética. E por volta de 1962-1963, a Checoslováquia
foi orientada pela União Soviética para ajudar a Coreia do Norte, o Vietnam do Norte e Cuba para
estabelecer centros de treinamento. Imaginando que todos os centros possuíam o tamanho mínimo e
cada um operando perto de sua capacidade, e que nenhum outro centro existia ou foi adicionado após a
saída do Sejna, o número de formados passou de 25.000.

Esses estudantes que prestaram o curso nos centros da Checoslováquia foram principalmente da América
Latina, Europa Ocidental e partes do Oriente Médio, Canadá e Estados Unidos. O foco da Bulgária era o
Oriente Médio e o Sudeste da Ásia – Turquia, Afeganistão, Paquistão, Líbano e Siria. Alemanha Oriental
focava na Europa Ocidental e nos Países Escandinavos, e todos os países do Oriente.

O curso era de graça, com todas as despesas pagas. Os formados retornavam aos seus respectivos países
e começavam a aplicar suas novas habilidades. Algumas desenvolveram operações independentes e
alguns cooperavam com operações correntes. Os que desviaram e tentaram mudar de lado eram mortos.
Todos eles retornavam um percentual a União Soviética, que repassava o dinheiro aos serviços de
inteligência dos países satélites que faziam os treinamentos. No caso da Checoslováquia, o repasse era de
30% do que União Soviética recebia.

A formação desses centros de treinamento completou a preparação para a estratégia das drogas. Essas
atividades – desenvolvimento estratégico, treinamento, pesquisa, espionagem e análise de mercado –
foram as principais atividades da primeira ofensiva Soviética com as drogas no final da década de 1950.
Onde existiam operações de inteligência envolvendo tráfico real era apenas uma sondagem inicial. O
tráfico real, da perspectiva do Sejna, não começou até o ano de 1960, quando a propaganda estratégica
começou, os agentes de inteligência estratégicos foram treinados e as escolas de treinamento formaram
inúmeros traficantes de drogas.
Construindo a Rede das Drogas da América Latina

O braço tcheco da ofensiva das drogas soviética começou em 1960 em duas frentes: Ásia (Indonésia,
Índia e Burma) e a América Latina (Cuba). Por causa do importante papel de Cuba para o crescimento do
uso de drogas ilegais e de narcóticos nos Estados Unidos, a operação soviética-cubana-tcheca merece
uma atenção especial.

No final do verão de 1960, apenas um ano e meio após Fidel Castro conquistar o poder, seu irmão Raul
Castro visitou a Checoslováquia em procura de ajuda militar e assistência financeira. Naquela época,
Fidel e os soviéticos se odiavam. Por essa razão os cubanos procuraram a Checoslováquia e não a União
Soviética. Sejna foi o responsável por receber a delegação cubana e foi o seu anfitrião durante a visita.
Uma de suas primeiras ações foi arrumar uma visita do Raul à União Soviética para conhecer
Khrushchev. Seguindo essa visita, os soviéticos direcionaram os tchecos para trabalhar com os cubanos
e pavimentar o caminho para uma tomada soviética de Cuba. Os soviéticos queriam que a
Checoslováquia liderasse a tomada, porém escondendo a influência soviética. Eles não queriam que
Fidel Castro ficasse sabendo da operação soviética para infiltrar e tomar cuba e não queriam que os
Estados Unidos ficassem sabendo o que estava acontecendo.

Cuba e a Checoslováquia assinaram um acordo onde a Checoslováquia iria prover ajuda militar a Cuba,
treinar os cubanos em planejamento e operações militares e ajudar organizar a inteligência e a contra
inteligência cubana. Em troca, Cuba aceitou se tornar o centro revolucionário no Ocidente e permitiu
que a Checoslováquia estabelecesse estações de inteligência em Cuba. Dezesseis conselheiros tchecos
foram para cuba para prover treinamento e estabelecer as operações de inteligência e contra
inteligência. Aproximadamente quinze por cento dos conselheiros tchecos eram agentes da inteligência
soviética disfarçados de tchecos. Em três anos, todos os tchecos em posições chaves seriam trocados
por soviéticos. Assim, desde o princípio, a inteligência cubana e suas estruturas militares foram
fortemente influenciadas pelos soviéticos. Em menos de dez anos, os soviéticos estavam em total
controle.

Depois que os primeiros cubanos foram treinados como agentes de inteligência, eles receberam suas
primeiras ordens de Moscou pela Checoslováquia: infiltrar nos Estados Unidos e em todos os países da
América Latina para produzir e distribuir drogas e narcóticos nos Estados Unidos. As instruções do
Conselho de Defesa Soviético foram para o conselho de Defesa Tcheco e depois para Cuba. Conselheiros
Tchecos ajudaram os cubanos a iniciar a produção de drogas e narcóticos como prioridade máxima e
também ajudaram eles a criar as rotas de transporte pelo Canadá e pelo México, onde os Tchecos
tinham boas redes de agentes, para dentro dos Estados Unidos. Rudolph Barak, o Ministro do Interior da
Checoslováquia e logo o chefe da inteligência civil, pessoalmente ajudou os cubanos a estabelecerem a
operação. Desde o princípio, Barak estava constantemente empurrando Soviéticos para cada vez mais
longe. Ele queria acelerar a produção e fazer um melhor uso da rede de agentes Tchecos na América
Latina, Ásia, Áustria e Alemanha Ocidental.
A produção e o tráfico de drogas por Cuba só começaram após as instruções terem sido recebidas do
Conselho de Defesa Soviético para expandir a ofensiva. Em 1961, a Checoslováquia recebeu instruções
do Conselho de Defesa Soviético para a inteligência cubana infiltrar as operações existentes na América
Latina e nos Estados Unidos para preparar a base e recrutar pessoas para essas operações
independentes. A ordem foi apresentada pelo Conselho de Defesa da Checoslováquia e pelos Ministros
da Defesa e Do Interior. Como secretário do Conselho de Defesa da Checoslováquia, Sejna foi
responsável por coordenar e agendar as direções e atribuições subsequentes. O plano tcheco para pôr
em prática a ordem foi coordenado e aprovado pelos Órgãos Administrativos do Comitê Central do
Partido Comunista da União Soviética.

O principal objetivo da infiltração foi obter informações sobre indivíduos que foram corrompidos pelas
drogas e pelo tráfico de narcóticos. Os principais alvos identificados eram os militares, policiais,
políticos, religiosos e executivos. Alguns alvos adicionais eram as instituições científicas, indústrias
militares e universidades. Um objetivo secundário era obter inteligência sobre a produção e distribuição
de drogas que já existia, para habilitar os soviéticos a exercer o controle estratégico e ajudar a prevenir
que as várias infiltrações paralelas atrapalhassem umas às outras. Inteligência derivada das infiltrações
no crime organizado também contribuiu para esse objetivo. A primeira reunião para coordenar a
infiltração e a coleta de dados sobre drogas e a corrupção gerado pelos narcóticos que Sejna sabe
ocorreu em 1962 durante a Segunda Conferência de Havana. Uma reunião secreta dos soviéticos e dos
agentes da inteligência treinados pelos soviéticos e de todas as organizações Latinas Americanas. Essa
reunião secreta foi organizada pela inteligência cubana e tcheca. Oficiais tchecos dos serviços de
inteligência militar, Zs, organizaram a reunião. Outros oficiais tchecos que participaram da reunião
foram: o Ministro do Interior, da Segunda Administração (a organização equivalente da KGB na
Checoslováquia) e a contra inteligência militar.

Na coleta de dados sobre indivíduos corrompidos pelo tráfico de drogas, tanto usuários de drogas como
os que estavam lucrando com o tráfico, os soviéticos identificaram um grande número de pessoas que
poderiam ser compradas, que eram suscetíveis à influência e, principalmente, “não estavam
preocupadas com as consequências de suas ações”. As informações do dossiê continham bases
excelentes para recrutamento de “agentes de influência” ou espiões. Essa informação também foi
utilizada para expor e prejudicar a reputação de indivíduos e organizações consideradas hostis aos
interesses soviéticos.

O uso de informação sobre corrupção para chantagear e para recrutar agentes de influência é uma velha
tática do Marxismo-Leninismo que foi utilizada em escala global. A inteligência tcheca dividiu esses
dossiês sobre corrupção em duas categorias: pessoas que já estão em posição de poder e pessoas que
potencialmente chegarão a posições de poder. Em 1967, a inteligência tcheca possuía 2500 dossiês
sobre pessoas do alto escalão. Seus arquivos não permitiam duplicação de dossiês mantidos pelos
outros que estavam ativos na América Latina – os cubanos, alemães orientais, húngaros, búlgaros e
soviéticos – por causa da cooperação desses serviços de inteligência. Assim, no final da década de 1960,
os soviéticos já possuíam dados sobre corrupção de mais de 10.000 pessoas influentes pela América
Latina.
Como um indicativo que esses números não são exagerados, em 1971 um francês chamado Batkoun foi
pego traficando heroína para dentro do Canadá. Ele foi deportado para a França e julgado lá por tráfico
de heroína. Durante o julgamento, Batkoun foi identificado como um membro do Partido Comunista da
França e agente da subseção "Groupement Cinq” da KGB soviética. Valeurs Actuelles reportou que
quando preso, Batkoun tinha em mãos uma lista com mais de dois mil viciados em heroína no Canadá,
dentre eles proeminentes civis, artistas, apresentadores de TV e professores universitários.

Corrupção, claro, não está confinada na América Latina, mas inclui a América do Norte e os países
europeus como França, Suécia, Áustria, Suíça, Itália, Reino Unido e a Alemanha, onde estes dois últimos
foram identificados pelo líder do Departamento Internacional do Partido Comunista da União Soviética,
Boris Ponomarev, como os mais corruptos. Sabendo que as instituições financeiras que lavam esse
dinheiro ilícito fazem parte desta rede de corrupção, o potencial para os soviéticos de praticarem
chantagem e influenciarem em diversas operações é infinito. Aliás, como veremos posteriormente,
parte da estratégia soviética em envolver pessoas com influência no tráfico de drogas, especialmente
pessoas em bancos, intuições financeiras, políticos, militares e executivos industriais, foi precisamente
para abrir uma potencial chance para chantagear e influenciar certas operações.

Conhecimento das operações dos vários traficantes independentes, suas redes de tráfico, seus contatos,
também foram utilizados para o objetivo mencionado anteriormente, para exercer controle estratégico
sobre certas operações. No geral, os soviéticos não queriam ou não precisaram de um controle tático,
das operações do dia-a-dia. Enquanto as drogas e os narcóticos estivessem indo na direção certa, para
as sociedades burguesas, os objetivos soviéticos estão sendo alcançados. O importante para os
soviéticos é prevenir que estas atividades interfiram com outras operações soviéticas e certamente
prevenir que essas operações façam o holofote dos jornalistas apontem na direção errada.

As informações coletadas por esse processo são impressionantes. Em 1963, o General Sejna, o Ministro
da Defesa e chefe da inteligência Militar visitou o centro de treinamento de traficantes de drogas da Zs
na Bratislava. Seu anfitrião e acompanhante foi o Coronel Karel Borsky, o responsável pelos centros de
treinamento. Na época, Sejna ficou impressionado pelo nível de detalhe sobre a rede de tráfico ao redor
do mundo que o curso continha, principalmente pelos detalhes sobre a América Latina. Por exemplo,
uma grande quantidade de informação foi adquirida em inúmeras empresas do México onde a principal
atividade era contrabando de drogas - incluindo fotos dos caminhões e os nomes dos motoristas usados
no transporte da droga para os Estados Unidos.

Armado com o conhecimento de como as operações com drogas funcionam, os soviéticos observam
uma operação e exercem controle somente quando necessário. O potencial para o controle estratégico
é evidente quando se analisa o testemunho dado em 1983 pelo Juan Crump, um advogado colombiano
e traficante de drogas. Respondendo o Senador Dennis DeConcini (Democrata - Arizona) sobre a
importância dos contatos com os oficiais colombianos, Crump respondeu que contatos (suborno) era
essencial para existir e sobreviver. Os soviéticos por esses conhecimentos e pela inteligência sobre suas
atividades ilegais, eles conseguiam exercer controle sobre os traficantes independentes quando
necessário.
Outro mecanismo empregado para lidar com organizações e indivíduos que não cooperam é armar para
serem pegos pelas autoridades. É especulado que isso que tenha habilitado aos EUA ter trazido o super
traficante colombiano Carlos Lehder Rivas para ser julgados nos EUA. As possíveis causas da traição são
fáceis de imaginar. Por exemplo, tantos os soviéticos como os outros membros do Cartel de Medellín
podem ter chegado à conclusão que Lehder estava falando demais, politizado demais. Lehder estava
dando entrevista a rádios e chamando a cocaína da "bomba atômica da América Latina". Cocaína era
uma arma da revolução a ser utilizada contra os imperialistas, ele explicava. O problema com isso é que
estava chamando a atenção de maneira desnecessária para as operações de drogas, especialmente ao
Cartel de Medellín que ele participava, e estava perto demais da verdade das Operações Soviéticas.
Assim qualquer parte pode ter decidido calá-lo. A beleza é que, o entregando as autoridades
americanas, estas tinham suas imagens melhoradas, apesar de estarem agindo como agentes
disciplinadores dos outros traficantes.

Outro exemplo desta prática foi dado por Ramom Milian Rodriguez, um CPA de Miami que administrou
uma boa parte do dinheiro do tráfico ganho pelo Cartel de Medellín da Colômbia. Na tentativa de sair
com $5.3 milhões de dólares dos Estados Unidos em 1983, ele acabou sendo preso e acusado de
estelionato. Rodriguez foi empregado pelo cartel para arrumar pontos seguros para coletar, contar e
empacotar o dinheiro. Ele conseguiu depois arrumar um esquema de envio do dinheiro, um complexo
processo par lavagem do dinheiro utilizando vários bancos. Todos os bancos no Panamá eram utilizados
por Rodriguez neste processo. Eventualmente, ele explicou, grande parte do dinheiro que chegava até
ele era investido em imóveis, ações, títulos de dívida pública para o cartel. Quando Rodriguez criou esta
operação, Manuel Antônio Noriega era um coronel responsável pelo serviço de inteligência do Panamá.
Rodriguez testemunhou para um subcomitê do Senado Americano em 1988 que o Noriega "utilizou
magistralmente as agências de repressão americana para me retirar da operação, deixando esta intacta
e operante". A denúncia para a prisão de Rodriguez foi uma ligação anônima, na teoria enviada por
Noriega, do Panamá para o Esquadrão do Sul da Flórida sobre drogas, alertando para os planos de
Rodriguez. Porém há outras possibilidades a serem consideradas. Rodriguez se declarou ser fortemente
anticomunista. Em 1980 ou 1981, a inteligência cubana, a DGI, tentou recruta-lo para uma operação,
mas ele havia negado. Mais ou menos ao mesmo tempo, havia começado uma guerra entre o Cartel de
Medellín e os revolucionários do M-19 (patrocinados pelos cubanos). Rodriguez disse que aconselhou o
Cartel em como lutar utilizando táticas terroristas e aconselhou a não cooperar com o M-19 assim que a
guerra estivesse resolvida. Ele também avisou ao Cartel sobre as táticas da inteligência cubana que ele
viu sendo tomado para penetrar e controlar o Cartel. Finalmente, ele explicou como era especialmente
cuidadoso nas negociações com Noriega para garantir que "Noriega fosse poderoso o suficiente para
nos servir e nunca poderoso o suficiente para nos controlar". Enquanto a ligação que denunciou
Rodriguez pode ter vindo de Noriega, sobre estas circunstâncias é logico suspeitar que a inteligência
cubana ou soviética esteve por detrás de tudo.

Usando as informações ganhas com a infiltração nas organizações de drogas, os Soviéticos não tinham
nenhuma necessidade em ter controle direto (tático) de todas as operações na América Latina. Na
verdade, seria até melhor manter certa distância e que alguns dos infiltrados nem soubessem que os
Soviéticos exerciam controle quando necessário. Esse princípio operacional pode ser visto em uma
resolução secreta adotada na Conferência Tri-Lateral de Cuba em 1966, que a lista como o sexto
princípio operacional:

"Para resguardar a campanha dos viciados em drogas, devemos defendê-la em nome dos direitos
individuais. Devemos manter o Partido Comunista afastado dos canais do narcótico e do tráfico, para
que as fontes de entrada de dinheiro não possam ser conectadas com as ações revolucionárias do
Partido Comunista. Apesar disto, devemos combinar a fomentação do medo da guerra atômica com o
pacifismo e a desmoralização dos jovens com os agentes alucinógenos."

Seguindo a decisão de possuir agentes de inteligência Cubana infiltrado em todas as operações na


América Latina, o Conselho de Defesa dos Soviéticos deu mais instruções, novamente pelo Conselho de
Defesa da Checoslováquia, desta vez para Cuba estabelecer sua própria produção e pôr em operação em
vários países da América Latina. Cuba se moveu rapidamente para estabelecer suas atividades com
narcóticos no México e na Colômbia. A rede resultante foi operada por Colombianos porém foi dirigida
por Cubanos. A inteligência Tcheca ajudou a estabelecer as operações e os Soviéticos estavam
envolvidos tanto no planejamento como na aprovação das operações. Assim que os novos
empreendimentos começaram a acontecer no México e na Colômbia, os Cubanos, com ajuda dos
Tchecos, expandiram para o Panamá e para a Argentina, e, com a assistência da Alemanha Oriental, para
o Uruguai e Jamaica.

Cuba e a Checoslováquia também desenvolveram uma operação conjunta no Chile. Danislav Lhotsky,
um agente da inteligência Tcheca, estava oficialmente no Chile supostamente para discutir problemas
econômicos. Suas instruções eram para desenvolver, junto dos Cubanos, a produção e distribuição das
redes no Chile e depois expandir esta rede para a Argentina e para o Brasil. Quando Lhotsy retornou
para a Checoslováquia em 1967, ele foi premiado com o prêmio "Ordem da Estrela Vermelha" pelo seu
ótimo trabalho construindo a rede de drogas no Chile.

Uma das principais contribuições de Cuba na operação de drogas no Chile - identificado pelo relatório da
Administração para Aplicação de Políticas de Drogas - foi o recrutamento do senador marxista Salvador
Allende, que mais tarde se tornaria presidente do Chile. Allende foi também presidente da Conferência
Tri-Lateral. Ele propôs a criação da OLAS - Organização de Solidariedade na América Latina - como uma
"unida frente advogando a revolução armada" e foi eleito como seu primeiro líder. Durante a
presidência do Allende, o tráfico de drogas floresceu no Chile. Em 1973, as autoridades dos EUA
mensuraram que US$309 milhões em cocaína foram produzidas em laboratórios Chilenos.

Na Argentina, as operações de drogas da Checoslováquia foram estabelecidas por um dos seus


principais agentes, Oldrick Limbursky, que estava alocado na Argentina como um representante de uma
companhia de exportação Tcheca. Ele construiu a rede de drogas na Argentina e depois a expandiu para
o Brasil.

Resumindo, os Cubanos foram extremamente eficientes em estabelecerem as operações por toda a


América Latina. Tanto Fidel como o Raul Casto eram entusiastas e se esforçaram para que as atividades
expandissem muito mais rápido do que os Soviéticos achassem prudente. A primeira visita do Fidel
Castro a Checoslováquia foi bastante notável neste aspecto. Sua visita coincidiu com uma posterior
visita a Moscou e logo em seguida com a Crise dos Mísseis em Cuba. Ele estava perturbado, para não
dizer coisa pior, e gastou mais de dez dias reclamando que os principais líderes Soviéticos não o
consultavam para nada. Logo em seguida ele voltou para a Checoslováquia.

As conversas com Fidel eram em sua maioria complicadas, Sejna explica. Fidel achava que podia destruir
o capitalismo de um dia para outro. Ele queria utilizar a rede criminosa para a revolução e usar todo o
conhecimento das pessoas que já estavam corrompidas pelas drogas, que estavam chegando pelas
operações secretas Cubanas, para aumentar a venda das drogas. “As drogas irão nos ajudar”, Sejna
lembra do Fidel gostava de enfatizar, “na nossa defesa, para obtenção de dinheiro e para liquidar o
capitalismo”. Fidel era completamente empenhado. Este episódio, na verdade, era uma das razões que
os soviéticos o tinham mais como um Anarquista do que como um Comunista. Os oficiais checos tiveram
muito trabalho para convencê-lo que ele precisava se preparar para os próximos 20 anos e não somente
para o dia seguinte. Não é possível, eles lembravam, trocar toda a geração mais antiga. Nós podemos
corrompê-los e explorá-los utilizando o crime para obter mais informações e para influenciar as
decisões. Mas o foco para a mudança significativa precisa ser nas gerações mais jovens. Essas são as
pessoas que precisamos trabalhar para mudar o exército, para retardar o desenvolvimento científico e
para influenciar as lideranças governamentais. Por isso, a juventude americana foi selecionada como
principal alvo da ofensiva com as drogas.

Para conseguirem comunicar as estratégias mais importantes e da melhor maneira possível para o Fidel,
os oficiais Checos organizaram um relatório detalhado sobre a estratégia do Khrushchev da
“coexistência pacifica”, a mesma que foi desenvolvida e explicada para os mais importantes oficiais
Checos em 1954; a “coexistência pacífica” não existia para eles virarem amigos dos americanos, mas sim
para leva-los à destruição mais rapidamente. Toda a operação foi feita para que o Fidel conseguisse
entender que deveria utilizar as estratégias das drogas totalmente integrada à estratégia geral, e que
por isso, não fazia sentido isolar as operações com as drogas e tratar o tráfico de drogas como uma
operação independente. O tráfico de drogas foi pensado como uma parte importante na coordenação
da estratégia geral, e era fundamental que o Fidel conseguisse entender a importância desta operação
no longo prazo, que era, na verdade, a sistemática destruição do capitalismo.

Além da produção e do tráfico, Cuba também se envolveu em pesquisa e desenvolvimento de novas


drogas. No inverno de 1963, um substituto do Raul Castro foi para a Checoslováquia para conseguir
ajuda em forma de equipamentos para produzir drogas na Colômbia a para produzir drogas sintéticas
como parte de um experimento em Cuba. O equipamento foi pego por Raul Castro somente em 1964,
quando ele parou em Praga após uma visita a Moscou. Logo após isso, o chefe do Departamento de
Saúde da Checoslováquia, o coronel-general Miroslav Hemalla acompanhado de dois subordinados e
dois técnicos, voou para Cuba para assinar um tratado de cooperação na área Médica (apenas um
disfarce para pesquisas utilizando drogas), para ensinar os Cubanos a operar as máquinas, e para instruir
o Fidel a começar a produção de drogas na República Dominicana. Está tática fazia parte da estratégia
Soviética de sempre produzir as drogas o mais localmente possível, ao invés de transportá-las da União
Soviética e do Leste Europeu. Os Cubanos deviam ser utilizados como os operadores, para manter os
Soviéticos “limpos”.
Seguindo estas e outras medidas para penetrar nas organizações criminosas e para instalar as operações
de Cuba por toda a América Latina, os Soviéticos ordenaram outra operação de backup e outras redes
de distribuição por toda a região – esta organizada diretamente por serviços selecionados do Leste
Europeu. O primeiro alvo da Checoslováquia foi a Colômbia. Para começar as operações, os Soviéticos
recomendaram que os Checos deveriam contratar um dos principais indivíduos da rede Cubana na
Colômbia, um militar aposentado que se apresentava pelo nome de Kovaks. O codinome desta operação
secreta na Colômbia foi “Pirâmide”, que tinha a ideia de confundir as pessoas como se fosse uma
operação do Oriente Médio. O oficial Checo em cargo desta operação foi o primeiro substituto do
gabinete do Ministério do Interior. Logo após esta operação, ele foi nomeado Ministro do Interior. Por
incrível que pareça, muitos do Ocidente nem sequer percebiam que a função do Ministro do Interior não
era tomar conta dos rios e parques, o que acontece na maioria dos países ocidentais, mas sim da
“segurança interna”, ou seja, inteligência civil e operações secretas.

Kovaks viajou à Checoslováquia em abril de 1964 com um plano de uma nova operação que deveria ser
aprovada pela inteligência Checoslováquia. Para disfarçar a sua viagem, ele foi primeiro ao México, onde
na embaixada Checa ele conseguiu um passaporte falso. Do México ele voou para Viena, onde ele
conseguiu um passaporte checo que foi utilizado na Terceira parte da viagem.

O plano final que ele trouxe consigo, que iria iniciar novas operações na Colômbia, foi primeiramente
levado aos Soviéticos para aprovação. Depois disso, o plano, modificado em última hora para incorporar
sugestões soviéticas foi apresentado ao Conselho de Defesa da Checoslováquia. O plano continha várias
diretrizes, além de várias estimativas, onde as mais importantes eram:

1. Com a ajuda para obter os equipamentos necessários, a produção de cocaína começaria em seis
meses;
2. A rede de distribuição estava funcionando em menos de seis meses;
3. A distribuição começaria nos Estados Unidos e no Canadá. Mais tarde, a distribuição poderia ir
para a Europa;
4. A distribuição seria mantida a distância do mercado interno;

Na apresentação do plano conjunto do Ministério da Defesa e do Ministério do Interior, o ministro da


defesa explicou que já haviam sido selecionados doze pessoas para a operação. Dentre esses, oito já
haviam possuído permissão para operar por duas vias; primeiro, pelo Partido Comunista da Colômbia, e
Segundo por um já antigo agente da inteligência Checa que estava alocado como um oficial de alta
patente no Ministério da Segurança da Colômbia. O plano foi unanimemente aceito pelo Conselho de
Defesa da Checoslováquia.

Por causa da operação mais efetiva que estava se desenvolvendo no México, os Soviéticos direcionaram
os Checos para infiltrar e ganhar controle da operação. O codinome secreto desta operação foi “Rhine”,
para que a operação fosse associada a Europa. O agente Checo selecionado para esta iniciativa foi o
Major Jidrich Strnad, que estava operando no México sobre o disfarce de uma empresa de exportação.
Seu chefe da Zs era o Coronel Borsky.
Os Cubanos foram especialistas em recrutar Mexicanos para estabelecer a produção e a rede de
distribuição e utilizar as informações obtidas através da corrupção para chantagear os oficiais
Mexicanos. Os Soviéticos ficavam impressionados, e um dos principais motivos para direcionar a
inteligência Checa para infiltrar as operações Cubanos era para aprender os segredos do sucesso no
México.

Reconhecendo a posição estratégica do México, os soviéticos direcionaram o estabelecimento de uma


segunda operação Checa no México que foi desenvolvida para complementar a iniciativa “Rhine”. O
codinome secreto dessa segunda operação foi “Lua Cheia”. Esta campanha teve dois propósitos. O
primeiro era para desenvolver uma extensa rede para distribuição de droga dentro dos Estados Unidos.
O Segundo era treinar agentes que iriam ser inseridos dentro dos Estados Unidos e Canadá que
possuíam instruções para se infiltrar nas redes de distribuição de drogas. Utilizando os seus contatos
dentro das redes do México, eles deveriam tomar conta gradualmente das redes dos Estados Unidos e
do Canadá. O nome “Lua Cheia” se referre ao fato dos agentes do Bloco Soviético estarem em controle
da maior parte dos grupos dos Estados Unidos e do Canadá. México, é bom destacar, sempre foi um alvo
importante também da ofensiva Chinesa com drogas.

Com ambos Soviéticos (inicialmente utilizando os Cubanos) e Chineses focando no México, não é de se
surpreender que o México é uma das principais rotas do narcotráfico de heroína, cocaína e maconha
para dentro dos Estados Unidos.

A inteligência Checa também se envolveu em operações Cubanas no Panamá, sobre o codinome


“Pablo”. Uma operação Cubana também foi desenvolvida em El Salvador. Em uma reunião sobre como
financiar o Partido Comunista de El Salvador, Sejna lembra que os soviéticos direcionavam os Cubanos
para financiar o Partido utilizando os lucros das operações com drogas no próprio país.

Uma operação a parte foi criada para aumentar os “benefícios” daqueles que regularmente procuravam
as quentes areias e aguas das ilhas caribenhas, especialmente para tirar proveito da expansão do
turismo Caribenho. O segundo secretário do Partido Comunista Francês (um experiente agente da KGB),
junto do primeiro secretário do Partido Comunista do Guadalupe, concebeu esta ideia, de distribuir
drogas nas rotas turísticas do Caribe. Os seus objetivos eram levantar dinheiro e obter informações que
podiam ser utilizadas para chantagear outros membros da burguesia Americana.

Eles ajudaram a estabelecer a operação e proveram recomendações das pessoas aptas a serem
recrutadas para operar. A operação foi, mais tarde, entregue a dois oficiais da inteligência Checa, um da
inteligência militar e outro do Ministério de Interior. Ambos oficiais eram nascidos na França e falavam o
francês fluentemente. Guadalupe era o centro da operação, que servia a ilha de Martinique e
eventualmente as outras ilhas do Caribe. O dinheiro levantado por esta operação foi capaz de financiar
todas as operações da inteligência Comunista em Guadalupe, Martinique, Suriname, Haiti e boa parte da
inteligência Comunista da França.

No início da década de 1960, os soviéticos estavam construindo rapidamente várias organizações pelo
América do Norte, América Central, América do Sul e pelo Caribe. Outros satélites soviéticos
diretamente envolvidos eram a Checoslováquia, Cuba, Hungria, Alemanha Oriental, Bulgária e a Polônia.
A maioria do conhecimento do Sejna era da dimensão da estratégia da parte Checa. As operações dos
outros satélites não são lidadas com detalhes por esta análise, porém todos eles estavam
profundamente envolvidos nas operações com drogas. Romênia e a Albânia não faziam parte
oficialmente da ofensiva Soviética porque os Soviéticos não confiavam na segurança destes dois países.
Albânia chegou a pedir para participar citando a sua força na inteligência na área Báltica e do Oriente
Médio, porém ao invés de trazer a Albânia para a operação, os Soviéticos decidiram dar o dinheiro para
os Albaneses comprarem os equipamentos necessários, para que a Albânia trabalhasse de maneira
“independente”.

Países em que o Sejna teve conhecimento direto das organizações que foram estabelecidas na década
de 1960 incluem Canadá, México, Panamá, Argentina, Chile, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Uruguai,
Paraguai, Peru, Guadalupe, El Salvador, República Dominicana, Jamaica e obviamente os Estados Unidos.
Para esta lista deveriam ser adicionados os países onde o crime organizado foi crítico para o
narcotráfico. Um exemplo destes países é a Venezuela, país que os Soviéticos decidiram em 1960-61
que seria o centro da organização da máfia, das operações e da lavagem de dinheiro do hemisfério
Ocidental

As drogas inicialmente escolhidas foram o ópio, heroína, morfina, maconha e os sintéticos como o LSD.
Enquanto a cocaína não era proeminente na época, em 1961, os Soviéticos, analisando o cenário das
drogas, concluíram que a cocaína era, para utilizar umas das frases favoritas deles “a onda do futuro”.
Esta revelação veio ao Sejna numa reunião em Moscou em 1964 que foi armada para a discussão e a
coordenação de um plano de disfarce. Estavam na reunião, da Checoslováquia, o chefe da
Administração Política Principal, o chefe da Zs (inteligência militar) e a principal cabeça da inteligência
estratégica, além, é claro, do Jan Sejna. Os soviéticos presentes era o chefe da Administração Política
Principal, o chefe da GRU (Inteligência Militar Soviética) e o chefe da inteligência estratégica, e o General
Boris Shevchenko, o chefe do Departamento de Propaganda Especial, quem coordenou a reunião.

Foi nesta reunião que Shevchenko introduziu o termo “Epidemia Rosa”. Discutindo o future, ele
reforçou o potencial da cocaína. Ela é preferida à heroína, ele explicou, porque ela é de produção mais
fácil além de poder ser distribuída para muito mais pessoas do que a heroína. Os Soviéticos estavam tão
impressionados com o potencial da cocaína, que, de fato, eles falavam numa epidemia, numa “epidemia
branca”. Para “servir e expandir” esta epidemia, Shevchenko explicava, uma produção e distribuição
separada era necessária, iniciando imediatamente.

Esta nova operação utilizando a cocaína foi referida e chamada pelo codinome de “Epidemia Rosa”. No
início os países que lideraram a produção e distribuição foram a União Soviética, Checoslováquia e Cuba.
A Checoslováquia começou imediatamente um programa tecnológica especial para desenvolver a as
técnicas necessárias. Esta operação foi operada pela inteligência militar e pelo Departamento de Saúde
sob o comando da contra inteligência militar.

As necessárias experiências na produção foram conduzidas num centro de pesquisa ultrassecreto em


Milovice. A operação foi facilitada pelos Cubanos, que aprenderam algumas técnicas rudimentares que
eram utilizadas na América do Sul e passaram todas as informações para a inteligência Checa. Os
cientistas Checos aprenderam e depois evoluíram as técnicas para um modelo de produção em massa
de modo mais profissional.

Assim, entre 1960 e 1965, os serviços da inteligência Soviética, diretamente de Moscou, estabeleceram
a produção, distribuição de drogas, além de operações de lavagem de dinheiro por todo o Sul, Centro o
Norte do continente Americano. Somente as pessoas que passavam por um pesado processo de
investigação local podiam fazer parte das operações, que eram discretamente gerenciadas pelo Bloco
Soviético ou pelos agentes da Inteligência Cubana, que, na maioria das vezes, eram treinados na União
Soviética. Os futuros narcotraficantes de todo o mundo eram treinados em narcotráfico nos centros do
Leste Europeu e na União Soviética. Alguns centros adicionais existiam na Coréia do Norte, no Vietnã do
Norte e em Cuba. Os graduados viravam agentes do narcotráfico Soviético. Inicialmente o narcotráfico
era de heroína, maconha e sintéticos. Porém, com o efeito que começou em 1964, uma rede especial foi
criada para servir e expandir a futura epidemia de cocaína.
Khrushchev Instrui os Países Satélites

Em 1962, Khrushchev formalmente entendeu as operações Soviéticas com narcóticos para os satélites do
Leste Europeu. Os líderes estratégicos (Alto Escalão do Secretariado, Primeiros Ministros, Ministros de
Defesa, Chefes de Gabinete e assistente especiais) dos principais satélites foram convocados para
participar de uma reunião secreta em Moscou para discutir a recessão econômica das economias
socialistas. Romênia, Albânia e a Iugoslávia não se apresentaram. Sejna era um dos oficiais que estavam
presentes. Os oficiais Soviéticos do mais alto nível hierárquico participaram da reunião incluindo o Nikita
Khrushchev, Leonid Brezhnev, Mikhail Suslov e Andrei Kirilenko. Foi nesta reunião que Khrushchev
formalmente apresentou a estratégia Soviética: “Mao Tse-tung e os Chineses são muito espertos”, ele
começou, se referindo aos negócios com as drogas, “eles são muito criativos e muito eficientes também.
Porque devemos deixar os Chineses trabalharem sozinhos neste mercado mundial”, ele perguntou, e
rapidamente respondeu a sua própria pergunta; “Os Chineses são bons, mas o serviço de inteligência do
Bloco Soviético possui um nível de organização muito maior e deve se mover o mais rápido possível para
usar tanto as drogas como os narcóticos tanto para rachar a sociedade capitalista como para financiar as
atividades revolucionárias”.

Khrushchev então começou uma discussão dos vários benefícios que podiam derivar deste negócio.
Proveria uma ótima renda e ainda poderia servir como fonte para o muito-desejado câmbio financeiro
para financiar as operações de inteligência. Além disso, serviria para sabotar tanto a saúde como a moral
dos trabalhadores Americanos. Como pessoas viciadas em drogas não são confiáveis em crises e
emergências, todo esse negócio com as drogas “enfraqueceria o fator humano numa situação de defesa”.

Khrushchev também levou em consideração o impacto na educação no longo prazo. As escolas


Americanas sempre eram um dos alvos de mais alta prioridade, porque eram nestes lugares que os futuros
líderes na burguesia poderiam ser encontrados. Um outro alvo de maior importância para o Khrushchev
era a ética trabalhista dos Americanos. Assim como o orgulho e a lealdade, todos estes seriam sabotados
pelo uso das drogas. Finalmente, as drogas e os narcóticos levariam a uma queda na influência da religião
e, ele adicionou, poderia até mesmo criar o caos.

“Quando nós discutimos esta estratégia”, Khrushchev conclui, “alguns ficaram preocupados que essa
operação poderia ser considerada imoral. Porém devemos declarar categoricamente”, ele enfatizou,
“tudo aquilo que acelerar a destruição do capitalismo é moral” 1.

Somente algumas poucas perguntas foram feitas pelos presentes durante a reunião. Janos Kadar, o
Primeiro Secretário da Hungria, expressou sua preocupação que as operações com as drogas não deveria
interferir no progresso conseguido durante a coexistência pacífica. Ele estava se referindo a assistência
econômica e tecnológica que começou a fluir do Oeste. Após isso, ele sugeriu que os países do Terceiro
Mundo que não eram tidos como suspeitos pelos Estados Unidos fossem utilizados para pôr a operação
em prática.

1
Citação de Lenin (Não encontrei essa citação do Lenin no www.marxists.org)
Essa tática, na verdade, já estava sendo utilizada para manter uma distância segura entre os países do
Bloco Soviético e de fato os que estavam trabalhando nas operações com narcóticos. Por toda a América
Latina, por exemplo, enquanto agentes da inteligência do Bloco Soviético exerciam um certo controle e
davam as direções de maneiras gerais, as pessoas nativas destes países estavam pegando no pesado de
fato das operações. Está técnica também pode ser vista sendo utilizada em respeito as operações do Bloco
Soviético quanto a Europa Ocidental. Por exemplo, a Agência Americana Contra Drogas preparou um
relatório sobre o papel da Bulgária no tráfico internacional de drogas num Congresso em 1984. Várias
fontes, todas consistentes, foram referenciadas no relatório, que cobria as operações entre 1970 e 1984.

Uma das organizações que foram destacadas neste relatório foi a KINTEX, uma firma Búlgara de
importação e exportação que foi fundada em 1968. KINTEX foi gerenciada pela polícia secreta Búlgara e
agia “sobre ordens secretas de Moscou”. KINTEX foi estabelecida, segundos as fontes do relatório,
principalmente para prover um mecanismo para utilizar estrangeiros dentro da Bulgária para fabricar e
enviar narcóticos para a Europa Ocidental e munição para o Oriente Médio. Os estrangeiros eram Turcos,
Sírios e Jordanianos. As reuniões de coordenação incluíam traficantes da Grécia, Itália, Iraque e Irã.
Enquanto a Bulgária foi identificada no início da década de 1970 num estudo secreto da CIA como “o novo
centro para distribuição do tráfico de narcóticos e de armas”, todos os dados do relatório da DEA (Agência
Americana Contra Drogas) na verdade se refere a estrangeiros trabalhando dentro da Bulgária. A resposta
do governo Búlgaro para as reclamações Americanas era sempre negar qualquer envolvimento: a
presença de estrangeiros dentro do solo Búlgaro não constituía nenhum crime e nenhum Búlgaro tanto
dentro do solo Búlgaro quando fora, fora incriminado.

Outro líder que discursou na reunião em Moscou foi Walter Ulbricht, o Primeiro Secretário da República
Democrática da Alemanha. Ele aproveitou a oportunidade para fazer pressão por um envolvimento maior
da Alemanha. Naquela época, os Alemães não possuíam permissão para conduzir suas próprias
estratégias de inteligência e por isso, Ulbricht enfatizava, a Alemanha necessitava de ajuda para explorar
seus recursos na África, no Oriente Médio e na América Latina. Inteligência Estratégica, ou seja,
sabotagem, terrorismo, trapaça e espionagem, foi exatamente onde a ofensiva com os narcóticos
começou e onde ela se sentia em casa. Em 1964, a Alemanha Oriental recebeu a permissão de começar
as suas próprias operações de Inteligência Estratégica.

Mais tarde, neste mesmo dia, já sob efeito de alguns drinques, Khrushchev cutucou o cotovelo do Sejna
de maneira brincalhona, e com brilho em seus olhos, ele revelou o nome secreto de toda a operação
Soviética com tráfico de drogas, “Druzhba Narodov”, o quê, numa simples tradução, significa “A Amizade
das Nações”. Esconder a real intenção das operações com um trocadilho era puro Khrushchev.

Esta reunião em Moscou foi única. A estratégica Soviética foi considerada extremamente sensível e foi
associada a ela o mais alto nível de classificação de segurança. Pessoas sem a absoluta necessidade de
saber detalhes da operação, não deveriam saber absolutamente nada sobre a operação. Seguindo a
reunião, que foi o início oficial da operação, com pouquíssimas exceções, todas as coordenações e
cooperações foram tratadas de maneira bilateral apenas.
Os líderes dos satélites retornaram aos seus respectivos países a procederam com os seus respectivos
planos individuais no meio do maior esquema de segredo possível. Sejna descreveu a maneira como os
planos da Checoslováquia foram desenvolvidos, resumido para o Conselho de Defesa, aprovado e depois
implementado. Esta descrição provê uma visão muito interessante de como os planos operacionais
contendo informações altamente sensíveis eram desenvolvidos, controlados e mantidos em segredo. A
tarefa de desenvolver o plano era designada para cinco pessoas, cada um do Departamento de Órgãos
Administrativos, inteligência civil, inteligência militar, do Departamento de Assuntos Estrangeiros e da
Administração de Saúde Militar. Sejna era o encarregado da Secretaria do Conselho de Defesa. As cinco
pessoas, mais um cozinheiro do secretariado do Sejna, foram isolados numa vila em Rusveltova Nº 1, que
por acaso foi onde Fidel Castro ficou enquanto estava visitando a cidade de Praga. O trabalho deles foi
monitorado pelo Chefe dos Conselheiro Soviéticos da Zs e pelo Jiri Rudolf e pelo Vaclav Havranek, que
eram os oficiais do Departamento de Órgãos Administrativos responsáveis pela inteligência e a contra
inteligência militar. Apenas outros cinco oficiais Checos tinham acesso a Vila: o Ministro do Interior, o
Ministro da Defesa, o Chefe do Gabinete, o Chefe da Segunda Administração (inteligência civil) e Sejna.
Depois que este grupo conseguiu finalizar o plano geral, as únicas pessoas que tiveram acesso a este plano
foram os sete membros do Conselho de Defesa.

Quando o plano de operação com os narcóticos estava finalizado, ele foi considerado mais sensível até
mesmo do que os planos anuais da inteligência. Nove cópias foram feitas e envelopadas e depois enviados
para o Conselho de Defesa, onde eles foram abertos e examinados antes da votação para sua aprovação.
O Ministro da Defesa e o Ministro de Assuntos Interiores apresentaram conjuntamente o plano para o
Conselho de Defesa. O plano levava em conta pesquisa, desenvolvimento, a influência das drogas nos
seres humanos, testes, produção, distribuição, como o dinheiro seria lidado no projeto, como os lucros
seria utilizado e os indivíduos que teriam as responsabilidades particulares. Durante a apresentação, o
Ministro de Assuntos Interiores, Rudolph Barak explicou que “Este projeto não serviria apenas para
destruir a sociedade Ocidental, mas este projeto vai fazer a sociedade Ocidental ainda por cima nos pagar
por isso”. Antonin Novotny, Primeiro Secretário e Presidente do Conselho de Defesa perguntou o “quanto
ganharíamos com isso?”, e Barak respondeu: “O suficiente para financiar completamente o serviço de
inteligência da Checoslováquia”.

Assim que a discussão terminou, nem mesmo esperando o fim da reunião, como normalmente era feito,
Sejna recolheu todas as cópias e fechou todos os envelopes. Todas, menos três cópias, foram totalmente
destruídas. Estas três cópias foram enviadas para a inteligência militar (Zs), para a Segunda Administração
do Ministério de Assuntos Interiores e para os arquivos do Conselho de Defesa, que era onde o Sejna fazia
parte do secretariado. Nenhuma instrução por escrito para pôr o plano em operação foi gerada. As
principais pessoas de cada departamento, de cada agência que possuía alguma tarefa específica nesta
fase do projeto ia a um dos três escritórios que possuíam as cópias do projeto e podiam ler apenas o
mínimo necessário. Por exemplo, para o desenvolvimento científico e produção, os chefes do Rear
Services2 e da Administração Médica vieram de maneira independente ao escritório do Sejna para ler as
suas partes pertinentes do plano. O trabalho do Sejna era garantir que cada oficial entendeu

2
http://en.wikipedia.org/wiki/Rear_services
perfeitamente a sua responsabilidade. O oficial era então obrigado a assinar um termo de
responsabilidade que entendeu perfeitamente a ordem, e depois disso o oficial ia embora.

Esse processo foi aplicado até mesmo ao Ministro de Defesa. Todas as ordens eram verbais. Relatórios
com o progresso deviam ser enviados ao Sejna em até seis meses. Sejna em pessoa agregava todos os
relatórios e apresentava os resultados para o Conselho de Defesa.

Um ano depois, em 1963, Khrushchev, descontente com a velocidade da operação, direcionou o Major
General Nikolai Savinkin, o chefe-substituto do Departamento de Órgãos Administrativos do Comitê
Central do Partido Comunista da União Soviética (ele viria a se tornar o Chefe em 1964 depois da morte
do General Mironov num acidente de avião), para visitar cada um dos países satélites e Cuba
pessoalmente para preparar um plano detalhado de como poderia acelerar e coordenar a operação com
narcóticos. O Departamento de Órgãos Administrativos é um dos dois ou três principais departamentos
do Comitê Central. Ele controla o Ministério da Defesa, o Ministério de Assuntos Interiores (KGB) e o
Ministério da Justiça. Era exatamente este o departamento que direcionava a operação “Druzhba
Naradov”. Outras organizações que participaram serão descritas no próximo capítulo.

O plano de Savinkin foi aprovado pelo Conselho Soviético de Defesa e as diretivas foram enviados aos
países satélites. Estas diretivas, que chegaram através do Sejna como o Secretário do Conselho Checo de
Defesa e o Chefe do Gabinete do Ministério da Defesa, cobria uma larga variedade de ações: pesquisa,
produção, organização do transporte, organização das cooperações através dos países satélites em várias
regiões do mundo, a necessidade da cooperação em ajudar Cuba a infiltrar todas as operações da América
Latina e como esta cooperação deveria ser feita, nomeava as pessoas que deveriam, em diversos países,
ajudar na distribuição, na propaganda e na desinformação. Também foram recebidas instruções de como
e quais instituições financeiras deveriam participar das transferências e lavagem de dinheiro. No caso
específico da Checoslováquia, pelo menos quinze bancos diferentes em nove países (incluindo Singapura,
Viena, Argentina e Holanda) foram identificados. O banco Soviético em Londres foi se tornando cada vez
mais envolvido nas transferências dos lucros do tráfico.

As instruções de propaganda e desinformação eram especificamente interessantes. Propaganda,


desinformação e trapaça são desenvolvidas para ajudar o plano de trapaça geral. Nas operações com
drogas e narcóticos, a essência da propaganda e da desinformação era que a culpa do tráfico e do uso de
drogas deveria cair sobre a “sociedade”. Adicionalmente, e suportando a essência básica do plano, as
provas de corrupção deveriam ser liberadas para desmerecer certos indivíduos e organizações
consideradas hostis para os interesses Soviéticos. Haviam duas principais campanhas de propaganda –
uma direcionada contra a juventude e outra direcionada contra a população como um todo. Estas
campanhas envolveram o Departamento de Propagandas Especiais, o Departamento de propaganda e o
Departamento de Assuntos Internacionais, com uma coordenação central dentro do Departamento de
Órgãos Administrativos.

A estratégia básica para a propaganda e a trapaça foi desenvolvida primeiramente em 1961 ou 1962 pelo
General Soviético Kalashnik, o Chefe-Substituto do Principal Administração Política, o guardião ideológico
de todo o estabelecimento militar Soviético. Kalashnik era o chefe ideológico da Secretaria Principal de
Administração Política. Sejna relembrou as simples instruções do Kalashnik: “Nossa propaganda deve ser
sempre direcionada para os nossos inimigos, não para os nossos amigos”. A palavra “amigo” significava,
na verdade drogas e narcóticos. Propaganda e trapaça deveriam ser utilizadas para tirar o foco da atenção
das drogas e dos narcóticos, especialmente em relação as classes média e alta, que eram um dos alvos da
propaganda, e mudar o foco da atenção das pessoas para os problemas da guerra nuclear, a guerra do
Vietnã e o Antiamericanismo.

Estas instruções de propaganda foram estendidas em 1964 numa carta assinada pelo Leonid Brezhnev
que foi muito discutida numa reunião no Conselho de Defesa da Checoslováquia. A carta mandava que os
dados referentes ao tráfico de drogas e narcóticos dos Chineses deveriam ser divulgados ao público, para
assim anunciar ao mundo o papel da China como a fonte de todo o tráfico ilegal e assim desviar a atenção
das operações Soviéticas. (Um dos principais artigos escritos com este propósito apareceu no Pravda no
dia 13 de Setembro de 1964. Foi escrito pelo V. Ovchinnikov e foi intitulado “Os Traficantes”).

Em setembro de 1963 os principais líderes (Primeiros Secretários, Primeiros Ministros, Ministros da


Defesa, Ministros de Assuntos Interiores e uma equipe selecionada de cada um destes, num total de 15
pessoas de cada país, exceto Romênia, Albânia e Iugoslávia, que não se apresentaram) se encontraram
em Moscou para a conferência anual sobre o plano e as táticas que deveriam ser postas em prática no
ano vindouro. A diplomacia, a inteligência e as partes envolvidas – ou seja, o processo integrado – para o
próximo ano, era revista pelos líderes Soviéticos.

O principal palestrante era o Mikhail Suslov, o chefe ideológico do Partido Comunista e um dos principais
oficiais no desenvolvimento dos planos estratégicos. Na discussão sobre as drogas, Suslov começou
apontando que a decisão que foi tomada sobre o uso do tráfico de drogas e narcóticos foi a melhor decisão
que podia ter sido tomada. Como os Soviéticos tinham levantado, na década de 1950, que a América
Latina era extremamente dependente da burguesia, especialmente dos Estados Unidos, os Soviéticos
perceberam que com o uso das drogas isso poderia mudar: os países da América Latina poderiam todos
depender da União Soviética. O principal instrumento para isso deveria ser tanto as drogas como outros
modos de corrupção, prática que os Soviéticos concluíram que já estava espalhado por todas as Américas.

Os Soviéticos se referiam a este movimento revolucionário na América Latina como a Segunda Libertação.
A Primeira Libertação foi a libertação tanto de Portugal como da Espanha. A Segunda Libertação seria a
libertação dos Estados Unidos e da burguesia. A Terceira Libertação seria a transição para o Comunismo.

Suslov explicou que era necessário desarmar os anticomunistas e todos os amigos dos Estados Unidos
antes da Segunda Libertação acontecer. Os Soviéticos acreditavam que a burguesia corrompida já tinha
aceita a ideia da revolução, o que na verdade era pura trapaça induzida pelos Soviéticos. A estratégia
utilizada para encorajar a aceitação da ideia de revolução foi de argumentar que os países Latinos
Americanos estavam destinados a passar por uma série de estágios revolucionários, em que as mudanças
que ocorreriam seriam benéficas. Nos primeiros estágios, não haveria, pelo controle dos Soviéticos,
nenhuma menção ao socialismo ou sequer utilização de frases socialistas – para não assustar as pessoas
com o conceito da revolução.
Os Soviéticos listaram os cinco fatores que se mostraram mais efetivos para acelerar o processo
revolucionário na América Latina:

1. A igualdade militar entre Estados Unidos e a União Soviética: A União Soviética deveria ser forte
o suficiente para impedir a interferência dos Estados Unidos antes que a revolução possa iniciar.
2. A bancarrota do colonialismo: Enfraquecer e por último romper os laços da América Latina com
os Estados Unidos através da propaganda de como a exploração e a impropriedade das políticas
colonialistas, além protecionismo, que andava junto do colonialismo, atrasavam a América Latina.
3. Organização Ideológica e de suprimentos para as forças de liberação: Uma melhor organização e
uma ofensiva ideológica unificada eram requisitos para as forças de liberação. O movimento
acabou por se separar demais na época de Stalin. Unidade ideológica era uma necessidade e a
assistência de suprimentos – dinheiro, armas, treinamento, organização - precisava melhorar e
muito na América latina.
4. A derrota dos Estados Unidos no Vietnã: Era necessário separar os Estados Unidos dentro de casa
e tornar extremamente difícil para os Estados Unidos se envolverem em guerras fora de seu
território novamente. Também era fundamental que as forças nacionalistas (pró-Estados Unidos)
reconheçam que os Estados Unidos não podem mais ser confiados como aliados contra o processo
revolucionário.
5. A desmoralização dos Estados Unidos e de seus vizinhos tanto ao sul como ao norte: As drogas
eram o principal instrumento para trazer esta desmoralização – a desmoralização pelas drogas
deveria ser referida como a “Epidemia Rosa”. Os Soviéticos acreditavam que quando a “Epidemia
Rosa” cobrisse toda a América do Norte e do Sul, a situação estaria altamente satisfatória para a
revolução.

Suslov reviu a situação da América Latina, utilizando os dados recolhidos pela inteligência Soviética, pelos
partidos Comunistas locais, por Cuba e pelos agentes da inteligência do Pacto de Warsaw que já tinham
penetrado nas operações com drogas na América Latina. Fazendo especiais referências ao Paraguai,
Jamaica, El Salvador, Guatemala, Honduras e México, Suslov declarou que 70% dos burocratas da América
Latina já estavam ligados com (ou seja, corrompidos pelas) operações com drogas. “No México”, ele disse,
“80% dos burocratas estavam ligados com as drogas e envolvidos em algum nível de corrupção. Na
América Latina, 65% dos padres católicos usavam drogas”, ele disse. Padres Católicos eram alvos de
primeira linha na estratégia Soviética na América Latina.

Quatro anos depois, numa reunião em 1967, Boris Ponomarev explicou para os oficiais da Checoslováquia
que segundo as estimativas Soviéticas, 80% dos padres Da América latina eram antiamericanos, e um
pouco mais do que 60% estavam inclinados à esquerda. Esta estatística, particularmente, era bastante
influenciada pelos padres mais novos, o que os Soviéticos acreditavam que teriam grande influência em
mais ou menos 20 anos. Boris Ponomarev avançou com três razões para trabalhar com os padres mais
novos: eles ajudariam a revolução a avançar, eles usariam a igreja para distribuir as drogas, e eles seriam
utilizados para ganhar mais informações sobre as redes locais de distribuição de drogas.

Porém, voltando a 1963; depois de rever as estatísticas do negócio de drogas, Suslov discutiu dois grupos
especiais os quais as drogas deveriam ser usadas contra: o primeiro eram os líderes da burguesia; o
segundo era o grupo referido como o “lumpen proletariado” – os desempregados que ou se tornavam
prostitutas ou marginais para sobreviver. Um outro termo utilizado para descrever este grupo é
“downtrodden proletariat”. Como Mikhail Suslov explicou, “este grupo é particularmente suscetível a ser
seduzido pelas drogas. Isso tudo era pelo bem, pois iria ajudar a guerra revolucionária a destruir este
grupo, pois não passavam de inúteis e um peso a ser carregado. Seus membros não querem trabalhar.
Eles são os principais consumidores de drogas e devem ser destruídos. A principal tática revolucionária é
preparar a elite revolucionária e estes proletários não fazem parte desta elite”.

Para avançar o negócio das drogas, Mikhail Suslov também enfatizou quatro pontos:

1. Utilizar Cuba para ajudar na distribuição das drogas;


2. Possuir total certeza que pessoal escolhido está totalmente limpo quanto a segurança antes de
envolve-los nas operações de tráfico de drogas;
3. Nos Partidos Comunistas locais, somente o Primeiro Secretário deveria estar ao par das operações
envolvendo drogas. Os Partidos Comunistas deveriam ser mantidos a uma distância segura das
operações com drogas por dois motivos: primeiro, era acreditado que os Partidos Comunistas
possuíam agentes estrangeiros infiltrados. De acordo com as ordens, o conhecimento sobre as
operações com drogas deveria ser mantido a distância dos partidos e o pessoal do partido deveria
ser muito cuidadosamente inspecionado antes de ser envolvido em qualquer atividade com as
drogas; Segundo, as operações com drogas geravam muito dinheiro e isso poderia levar os
partidos à independência financeira. Por isso, as operações deveriam ser mantidas fora das mãos
dos partidos para assim mantê-los dependentes de Moscou. O dinheiro das drogas deveria ser,
primeiro enviado a Moscou, e depois aos partidos segundo as suas necessidades.
4. Era muito importante induzir que as inteligências Latinas Americana, a contra inteligência e as
forças militares locais a se envolverem nas drogas (as anticomunistas). Estas organizações eram
fontes de sentimentos pró-Estados Unidos, e a corrupção causada pelas drogas deveriam ser
utilizadas para neutralizar as atitudes pró-Estados Unidos.

O estilo do Khrushchev era ficar sentado e ir interrompendo o palestrante para ir adicionando pontos
quando ele considerava que era pertinente. Ele interrompeu Suslov para enfatizar a necessidade de
cautela. “O Camarada Suslov”, ele disse, “é particularmente cuidadoso. Eu tentei força-lo a acelerar o
processo com as drogas – para fazer a burguesia pagar pelo processo revolucionário – mas eu concordo
com ele. Não podemos nos arriscar ainda mais.” Num outro ponto Khrushchev interrompeu e explicou:
“Algumas pessoas tentam igualar drogas e álcool, porém álcool não é parecidos com as drogas. Nós damos
vodca para os soldados soviéticos e estamos indo de sucesso em sucesso!”.

Suslov também apontou a necessidade de começar a fazer uma reserva para as forças revolucionárias da
América Latina, para que as suas necessidades fossem satisfeitas quando elas estiverem prontas para sair
do subterrâneo. Pelo o acordo, todos dos países do Pacto Warsaw deveriam começar a contribuir para
formar a reserva da América latina.
O discurso de Suslov não deixou dúvidas nenhuma. A operação “Druzhba Narodov” deveria ser global. A
burguesia de todos os países eram os alvos. Drogas e narcóticos deveriam ser as principais armas na
ofensiva revolucionária.

Enquanto a estratégia Soviética chamada “Druzhba Narodov” ia tomando forma em 1962-1964,


provavelmente a melhor, a mais sucinta descrição da filosofia por detrás da operação foi disponibilizada
pelo líder da Checoslováquia em 1964 numa visita a Bulgária. Todor Zhivkov, Primeiro Secretário do
Partido Comunista da Bulgária, explicou para a delegação visitante da Checoslováquia que os Estados
Unidos eram o principal alvo da ofensiva com drogas do Bloco Soviético porque era o principal inimigo,
por que era simples mover drogas para dentro dos Estados Unidos e porque existia lá algo como uma
fonte infinita de dinheiro.
Organização para "A Amizade das Nações"

No Ocidente, quando as pessoas falam sobre operações de inteligência, o que eles normalmente têm
em mente são operações secretas planejadas por serviços de inteligência, que nem CIA, KGB e a GRU.
Este conceito presta um incrível desserviço as operações de inteligência Comunista, que envolve vários
agentes, não apenas da KGB e da GRU, e que não são direcionados pelos serviços de inteligência, mas
sim pela Conselho de Defesa, pelo Departamento de Órgãos Administrativos ou por outra organização
do Partido que seja mais apropriada para a operação. Ou seja, as operações de inteligência são as
operações do Partido Comunista designadas para servir aos interesses do Estado, estes que somente o
Partido pode estabelecer. O serviço de inteligência não passa de um instrumento estratégico do Partido,
novamente em total contraste com os Estados Unidos, que não possuem nada similar. A operação
conhecida como "Druzhba Narodov", o capcioso plano do Khrushchev chamado a "Amizade das Nações"
é especialmente interessante por conta da visão que nos dá das operações de inteligência dos
Soviéticos.

Até mesmo em seu início, na segunda metade da década de 1950, a operação com drogas e narcóticos
envolvia muito mais do que agentes da inteligência. Médicos e pessoas relacionadas à medicina também
estavam fortemente envolvidas na análise, pesquisa e teste de drogas. A principal força motivadora
deste esquema vinha do Nikita Khrushchev, o primeiro Secretário (e mais tarde, Geral) do Partido
Comunista da União Soviética (CPSU). O plano inicial foi conduzido por uma força conjunta de
militares/civis da Tchecoslováquia citada anteriormente. A incorporação da estratégia de traficar drogas
dentro da estratégia de segurança nacional foi gerenciada por um comitê especial sobre a direção de
Leonid Brezhnev. Este comitê, que existiu entre o outono 1956 e a primavera de 1957, foi o responsável
por evoluir a estratégia Soviética e trazê-la para a era nuclear. O escolhido para ser o substituto do
Brezhnev foi o Mikhail Syslov, um dos cabeças da ideologia Soviética. Os líderes do Subcomitê foram o
Marshal V. D. Sokolovskiy (militar), Dimitryi Ustinov (indústria militar), Boris Ponomarev (assuntos
exteriores) e o General Nikolai Mironov (inteligência).

Duas revisões foram feitas na estratégia Soviética de utilizar drogas e narcóticos durante esta reunião. A
primeira envolvia o reconhecimento que as drogas poderiam ser uma arma muito eficaz para
enfraquecer as forças militares inimigas. A segunda é que as drogas poderiam ser utilizadas para
influenciar os líderes burgueses do Terceiro Mundo e os partidos de Social Democracia, porém ninguém
estava previamente excluído.

A responsabilidade por analisar o mercado e quem seriam os alvos foi delegada para o Departamento
Internacional do CPSU. O Departamento Internacional também estava envolvido na coleta de
informação sobre corrupção dos líderes estrangeiros e no seu uso nas operações de chantagem,
intimidação e exposição. O departamento também estava fortemente envolvido na propaganda e
planejamento, e muito provavelmente foi o responsável pela liberação da informação do tráfico de
drogas pelos Chineses.

A Administração Principal Política do Exército e da Marinha, o departamento que mantém um olhar


ideológico sobre os militares, também estava envolvido nesta operação de tráfico de drogas desde o
início. Já em 1956, o líder da Tchecoslováquia foi informado pelo general Soviético Kalashnik, o ideólogo
da Administração Principal Política, sobre uma nova visão de como as drogas e os produtos químicos
eram capazes de alterar a mente e o comportamento de milhões de pessoas. Esta era uma das cinco
novas armas que eram capazes "destruir o inimigo antes que ele possa nos destruir". As outras armas
consistiam em: ofensiva ideológica, que significa propaganda e enganação, política de borda feita sobre
medida para separar o Ocidente, isolamento dos EUA, e por último, caos social e econômico. Era
totalmente essencial, General Kalashnik explicou, “que os militares deveriam o mais rápido possível
entender que existem armar muito mais efetivas do que as convencionais, incluindo as bombas
nucleares”.

Uma explicação foi dada por Khrushchev no início do verão de 1963 em Moscou. Durante uma discussão
informal, Khrushchev tinha acabado de criticar Marshal Rodion Ya Malinovsky por querer
desesperadamente colocar os seus tanques no Ocidente. Depois Khrushchev explicou que os Soviéticos
estavam operando estrategicamente simultaneamente em dois níveis, para engajar o Ocidente numa
guerra. No primeiro nível estavam a trapaça, a desinformação e a propaganda. No segundo nível estava
a destruição do Capitalismo utilizando o seu próprio dinheiro através das drogas. Assim que estes dois
níveis tiverem obtido sucesso, Khrushchev enfatizava, "aí sim, você poderá utilizar o terceiro nível,
Camarada Malinosvky, os nossos tanques".

Assim que ofensiva Soviética das drogas cresceu e foi ganhando maturidade, a sua organização foi
ficando mais complexa - porém a sua direção e o seu segredo continuavam sobre controle estrito. Este
era outra característica das operações Soviéticas: apenas por que uma operação expandia, não significa
que o seu controle seria perdido. O Conselho de Defesa é um bom exemplo. O conselho continuou
pequeno exatamente para não correr o risco de perder a sua direção e nem a sua segurança. Neste
ramo das drogas, apesar de várias pessoas estarem envolvidas, apenas umas poucas sabiam a real razão
da operação, ou até mesmo o maciço envolvimento dos Soviéticos.

As principais organizações da Tchecoslováquia que participaram neste negócio com as drogas estão
listadas na tabela abaixo. A estrutura organizacional aplicada na Tchecoslováquia equipara-se a
estrutura que era utilizada na União Soviética. Algumas organizações possuem nomes diferentes, por
exemplo: a versão Tcheca do Departamento Internacional Soviético era o Departamento Estrangeiro; o
Secretário Geral Soviético era o Primeiro Secretário; e a KGB Soviética era a Segunda Administração que
estava sob as ordens do Ministério do Interior. Existiam centros de pesquisa diferentes na União
Soviética, e as organizações Soviéticas eram maiores e mais variadas, porém em sua essência as duas
estruturas organizacionais eram iguais.

A principal diferença era que as organizações Soviéticas tomavam as decisões estratégicas em escala
global, eram maiores, e eram responsáveis pelos outros Partidos Comunistas que não haviam
correspondentes na Tchecoslováquia. Esta última distinção é particularmente importante. Por exemplo,
importantes ajudas para o desenvolvimento do tráfico de droga na América latina foram fornecidas
pelos Partidos Comunistas locais, que se encontravam todos os anos em Moscou e apresentavam os
progressos das operações com droga, dando recomendações de novas técnicas, mercados e táticas.

[Continua]!!

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