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Na história da humanidade existem inúmeros exemplos de projetos que acabaram em verdadeiros

desastres devido a eventos que poderiam ter sido evitados com planos de contenção (que diminuem a
probabilidade de um projeto vir a ser prejudicado por eventos) e contingência (que diminuem o impacto
de eventos sobre o projeto quando sua realização se torna inevitável)
Dentre estes projetos o mais famoso é, provavelmente, o Titanic, o transatlântico que afundou em 1912,
a meio caminho de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Outros projetos deste tipo são: o lançamento da nave espacial americana Challenge, em 1986, no qual
uma explosão matou os 7 astronautas a bordo; a viagem de agosto de 2000 do submarino russo Kursk, na
qual uma explosão seguida de incêndio matou todos os 118 tripulantes; a construção do edifício Palace II,
no Rio de Janeiro que desabou em 1998.
O texto abaixo foi extraído do livro: Análise de Risco em gerência de Projetos / Antônio Juarez
Alencar, Eber Assis Schmits. Rio de Janeiro: Brasport: 2005, p14-17
A Saga do Titanic
Vamos usar de exemplo um dos mais famosos desastres navais de toda a história, o naufrágio do
transatlântico TITANIC. Na manhã de 10 de Abril de 1912, o TITANIC parte do porto de Southampton, no
sul da Grã-Bretanha, com 1.833 pessoas a bordo, com destino à cidade de Nova York, na costa leste dos
Estados Unidos
Antes de começar a travessia do atlântico, o TITANIC fez uma escala em Cherbourg, no norte da França,
onde recolhe outros 274 passageiros, e em Queenstown (hoje Cobh), no sul da Irlanda, onde recolhe mais
120 passageiros. Total de pessoas a bordo: 2.227 pessoas, entre tripulantes e passageiros.
A despeito do céu claro e do mar extremamente tranqüilo em que navegava, em 14 de Abril, pouco antes
da meia-noite, o Titanic atinge um iceberg a estibordo, próximo à proa. Às 2h20min, do dia seguinte, o
Titanic afundava, ceifando a vida de 1.522 pessoas.
O naufrágio do Titanic chocou o mundo civilizado. O transatlântico, de 46.362 toneladas, era o maior
objeto móvel que o homem já havia produzido até então. Com uma extensão total de 277,7m.,
equivalente a 3 campos de futebol, o Titanic era considerado inaufragável pelos jornais da época.
O que aconteceu com o Titanic? Essa é a pergunta que se recusa a calar, mesmo decorridos quase 100
anos da data do acidente. Embora não exista uma resposta única e definitiva para a questão, existem
amplas evidências de que o navio e seus passageiros foram expostos, sucessivamente, a riscos cada vez
maiores, que acabaram por se concretizar em um desastre de grandes proporções.
A todo vapor rumo à Nova York
Em geral, antes que um navio de porte seja colocado em operação, ele passa por rigoroso período de
testes, onde os equipamentos, os motores, a estrutura e a navegabilidade da embarcação são postos à
prova.
Durante esta fase, costuma-se conceder à primeira tripulação da embarcação um período de tempo
específico, para que ela se habitue a operação do navio. Não é incomum, portanto, que o período de
testes de um transatlântico se estenda por várias semanas e, em muitos casos, por alguns meses.
Por mais incrível que possa parecer, o Titanic, praticamente, saiu do estaleiro Harland & Wolff, em
Belfast, na Irlanda do Norte, para sua viagem inaugural. O período de testes a que a embarcação foi
submetida foi de apenas meio dia, durante o qual, somente uma única vez se testou quanto tempo o
navio levaria para parar completamente, uma vez que fosse colocado em velocidade cruzeiro.
A 18nós, ou seja, 33.3Km/h, navio levou 3min 15seg. para parar, com ambos motores em reverso, tendo
percorrido uma distância total de 3000pés, ou 914,4m.
No decorrer da viagem inaugural, o Titanic manteve uma velocidade de cruzeiro de 20nós, ou
37,12km/hr, mesmo durante a noite. A esta velocidade, se o Titanic tivesse que sofrer uma parada de
emergência, ele teria que percorrer uma distância superior a 1Km até que viesse a parar completamente!
Vale lembrar que os navios daquela época não possuíam radar, uma invenção que só se tornaria
operacional 23anos mais tarde.
Especula-se que a principal razão para que o Titanic mantivesse uma velocidade de cruzeiro tão alta, para
os padrões da época, era a tentativa de se estabelecer um novo recorde mundial para o percurso. Para a
White Star Line, empresa dona do navio, isso representava uma oportunidade única para manter o
navionas primeiras páginas dos principais jornais de ambos os lados do Atlântico.
Já que o radar ainda não estava disponível, os mecanismos existentes para garantir a segurança do navio
e de seus passageiros eram bastante limitados. Além das luzes de navegação, os transatlânticos da época
contavam apenas com o olhar atento de pelo um marinheiro no alto do cesto da gávea.
Normalmente este marinheiro deveria estar equipado com binóculos de longa distância, que permitem a
identificação de possíveis perigos a uma distância segura. Inexplicavelmente, na noite do acidente, tal
equipamento, embora disponível no navio, não foi colocado à disposição dos marinheiros que estavam de
plantão.
Icebergs à Frente
No dia 12 de Abril, o Titanic recebeu o primeiro aviso de que icebergs estavam presentes nas águas
geladas do Atlântico Norte que se deslocavam à sua frente. Esta mensagem foi transmitida nas primeiras
horas da parte da tarde pelo transatlântico francês La Touraine. No dia 13, o Titanic recebeu um outro
aviso, desta vez do transatlântico britânico Rappahannock, que navegava no sentido oposto, advertindo
sobre a existência de blocos de gelo à frente. No dia 14, o Titanic recebeu um total de 6 mensagens sobre
a presença de gelo à frente. Apesar de todos estes avisos, o Titanic não reduziu sua velocidade,
mantendo-se a 21.5nós.
Cadê meu bote salva-vidas?
No Titanic, o número de botes salva-vidas era insuficiente, uma vez que eles eram capas de acomodar
apenas 1.178 pessoas (53% do total a bordo). Soma-se a isso o fato de nem a tripulação, nem os
passageiros, praticaram durante a viagem procedimentos de emergência para desastres, embora isso
fosse rotina na época. Muitos tripulantes e passageiros, por exemplo, não sabiam para onde deveriam se
dirigir em caso de emergência, nem como deveriam se comportar.

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