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A Lei de Moisés terminou com a morte de Cristo

Autor: Jesús Mondragón

- Não basta dizer: "Está na Bíblia!" O Antigo Testamento era exclusivo para os
judeus e o Novo Testamento para os cristãos.

Compreender a diferença entre Antigo e Novo Testamento é vital para o estudo


honesta da Bíblia. Muitas das diferenças doutrinárias entre cristãos católicos e
evangélicos são automaticamente resolvidas quando este tema é bem compreendido.

Não basta dizer: "Está na Bíblia!"; o que realmente importa é: em que parte da
Bíblia? No Antigo ou no Novo Testamento? Expliquemos:

Com a queda de Adão e Eva, o gênereo humano, mortalmente ferido pelo pecado, cai em
tal grau de decadência, maldade e erro que Deus se vê obrigado a exterminar a
humanidade pelos excessos a que chegaram:

- "E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a
imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então
arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu
coração. E disse o Senhor: 'Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra,
desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me
arrependo de os haver feito'" (Gênesis 6,5-7).

A fim de brindar a humanidade com um novo e melhor começo, Deus eleva o homem de
seu estado de total miséria, sem leis escritas, onde a idolatria (adoração de
falsos deuses), a degeneração sexual, os assassinatos e um sem fim de depravações
eram o pão cotidiano, sem a lei do mundo pagão, antes e depois do dilúvio
universal.

O ANTIGO TESTAMENTO REPRESENTA A ETAPA INFANTIL DA HUMANIDADE

- "E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: 'Não tornarei
mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do
homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como
fiz'" (Gênesis 8,21).

Deus forma um povo, o povo de Israel, uma nação entre todas as nações, com quem faz
uma "aliança"; a ela dará seus Mandamentos em forma escrita através de Moisés. Mas
não devemos nos confundir: esta Lei ou Aliança era única e exclusiva do povo de
Israel; todos os demais povos e nações ficavam de fora desta Aliança, que hoje
conhecemos como "Antigo Testamento" ou "Lei de Moisés".

- "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha


aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque
toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são
as palavras que falarás aos filhos de Israel" (Êxodo 19,5-6).

- "Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não
fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem" (Salmo
147,19-20).

- "Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados
'incircuncisão' pelos que na carne se chamam 'circuncisão' feita pela mão dos
homens; que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e
estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo"
(Efésios 2,11-12).

CONTUDO, DEUS QUER QUE TODOS OS HOMENS SE SALVEM


- "Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos
os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" (1Timóteo 2,3-4).

Como Deus quer a salvação de todos os homens, a Antiga Aliança ou Testamento


representa uma superação do homem pagão, sem lei, a uma etapa de lei escrita que
busca a elevação da humanidade para chegar em Deus. Porém, o homem é ainda criança
e precisa amadurecer, chegar à plenitude dos tempos e comportar-se com adulto:

- "Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo
dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo
da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos" (Gálatas 4,3-5).

O ANTIGO TESTAMENTO ERA UM TREINAMENTO PARA O NOVO TESTAMENTO

O Antigo Testamento apresenta figuras; o Novo Testamento, a realidade:

- "Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não
havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles
que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura
daquele que havia de vir" (Romanos 5,13-14).

- "E estas coisas [do Antigo Testamento] foram-nos feitas em figura, para que não
cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram" (1Coríntios 10,6).

- "Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés
divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito:
'Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou'" (Hebreus 8,5).

- "Que é uma figura para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios
que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço" (Hebreus
9,9).

- "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de
festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o
corpo é de Cristo" (Colossenses 2,16-17).

O NOVO TESTAMENTO É MELHOR E SUPERA O ANTIGO TESTAMENTO

- "De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o
povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se
levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem
de Arão?
Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.
(...) Porque o precedente mandamento é abrogado por causa da sua fraqueza e
inutilidade (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma
melhor esperança, pela qual chegamos a Deus" (Hebreus 7,11-19).

- "Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas,
nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode
aperfeiçoar os que a eles se chegam" (Hebreus 10,1).

- "Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não
fossem aperfeiçoados" (Hebreus 11,40).

O ANTIGO TESTAMENTO TERMINOU POR OCASIÃO DA MORTE DE CRISTO E ENTÃO INICIA O NOVO
TESTAMENTO
- "A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e
todo o homem emprega força para entrar nele" (Lucas 16,16).

- "Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz" (Efésios
2,15).

- "Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo,
para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que
demos fruto para Deus" (Romanos 7,4).

- "Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê" (Romanos
10,4).

Apesar de tudo o que vimos até aqui, as seitas afirmam que Jesus Cristo não anulou
a lei do Antigo Testamento e tomam por referência o seguinte texto:

- "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.
Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um
til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar
um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado
o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado
grande no reino dos céus" (Mateus 5,17-19).

A LEI RITUAL E A LEI NATURAL OU MORAL

É importante saber que entre as leis que Deus entregou a Moisés existem dois tipos
de leis: a lei cerimonial ou ritual; e a lei natural ou moral.

A lei cerimonial refere-se às leis que podem ser alteradas (como, p.ex., o
sacrifício de animais) e rituais (como a proibição de se fazer imagens ou o dia de
sábado), que não são necessárias para a salvação. Por isso podem ser alteradas.

A lei natural é a que sempre existiu, mesmo antes de Moisés, ainda que não tenha
sido escrita (como [a proibição do] assassinato, adultério, incesto etc.). Sempre,
em todo tempo e lugar, constitui um pecado; ou seja: a lei natural ou moral refere-
se à conduta humana, indispensável para a salvação e, por isso, não altera nunca.

Jesus fala de não alterar a Lei e os Profetas, mas imediatamente começa a alterar
os Mandamentos da Lei de Moisés:

- "Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não matarás'; mas qualquer que matar será
réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar
contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: 'Raca',
será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: 'Louco', será réu do fogo do
inferno" (Mateus 5,21-22).

E assim continua até o final do capítulo 5 de Mateus, alterando a Lei de Moisés.

Jesus se contradisse? Claro que não! O que ocorre é que no Antigo Testamento a lei
moral ainda é deficiente e deve ser aperfeiçoada, a fim de atualizá-la para o novo
ambiente cultural cristão. Tanto é verdade, que o versículo 20 diz:

- "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus,
de modo nenhum entrareis no reino dos céus" (Mateus 5,20).

Os escribas e fariseus eram escrupulosos cumpridores da Lei de Moisés quanto ao


cerimonial, mas não da lei natural ou moral. O próprio Jesus lançará na cara deles
seu escrupuloso apego à lei ritual e seu total descumprimento da lei moral:
- "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro
e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé;
deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas" (Mateus 23,23).

Outra passagem da Escritura que põe de manifesto a deficiência da Lei de Moisés no


campo moral é esta:

- "Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: 'É lícito ao


homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?' Ele, porém, respondendo, disse-
lhes: 'Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez?' E
disse: 'Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois
numa só carne?' Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
ajuntou não o separe o homem'. Disseram-lhe eles: 'Então, por que mandou Moisés
dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?' Disse-lhes ele: 'Moisés, por causa da
dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio
não foi assim'" (Mateus 19,3-8).

Como vemos, a lei natural ou moral é a mesma desde a criação do mundo. Cristo diz:
"ao princípio não foi assim" - não pode alterar; mas a Lei de Moisés era
imperfeita, como vimos ao longo deste artigo.

Se os protestantes insistem que a Lei de Moisés não foi cancelada por Jesus, por
que eles não a cumprem? A Lei de Moisés estipula numerosos sacrifícios de animais e
prescrições que não são em nada compatíveis com a lei do amor e da misericórdia do
Novo Testamento; p.ex., a Lei de Moisés manda:

- Apedrejar os idólatras, sectários e hereges: Deuteronômio 13,11; 17,5.


- Apedrejar os filhos rebeldes: Deuteronômio 21,21.
- Apedrejar os adúlteros: Deuteronômio 22,21.
- Queimar os fornicadores: Gênesis 38,24; Levítico 21,9.

A lista seria interminável. Ademais, quem cumpre qualquer uma das leis de Moisés
está obrigado a cumprí-la inteira, pois quem falha em um dos mandamentos da Lei
peca contra toda a Lei:

- "Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque
está escrito: 'Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão
escritas no livro da lei, para fazê-las'" (Gálatas 3,10).

- "Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se


culpado de todos. Porque aquele que disse: 'Não cometerás adultério', também disse:
'Não matarás'. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito
transgressor da lei" (Tiago 2,10-11).

Se os protestantes desejam cumprir a Lei do Antigo Testamento de qualquer jeito,


devem cumprí-la por inteiro; mas qualquer pessoa pode ver que eles o dizem, mas não
a cumprem. A contradição é a nota distintiva dos cristãos evangélicos e das demais
seitas. Isto nos faz lembrar uma frase do Apóstolo São Paulo:

- "Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam"
(1Timóteo 1,7).

Tudo isso significa que os católicos desprezam o Antigo Testamento? Absolutamente


não! Ainda que as suas leis rituais já não estejam em vigor, é Palavra de Deus
revelada ao homem e sem o Antigo Testamento não poderíamos compreender o Novo, como
já dizia o grande Santo Agostinho:

- "O Novo Testamento está oculto no Antigo e o Antigo nos é aberto no Novo".
Sem o Antigo Testamento a Bíblia não estaria completa. Cristo cumpriu a Antiga
Aliança ou Testamento e, ao cumprí-lo, começou uma Nova Aliança, já não apenas com
os judeus, mas com toda a humanidade.

Os cristãos católicos não são judeus. São cristãos e não estão sob a Lei de Moisés.

Logo, não basta dizer: "Está na Bíblia"; deve-se ver em qual parte da Bíblia.

Antigo ou Novo Testamento? Novo Testamento!

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