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Todos possuem uma certa importância, principalmente aqueles que contam e fazem
parte da história de Kane. O diretor trabalha o conhecimento de vida de Kane a
partir da fala e lembrança de outros. E aí, inicia-se o uso do flashback. Por conta da
narrativa não ser linear, e sim, construída por fatos relatados por diferentes
perspectivas sem a necessidade de um narrador fixo, o filme enfatiza a idéia de uma
trama investigativa e é recebido com um ar de grande diferenciação a coisas feitas
nesta época.
A partir dos personagens para além, podemos enfatizar a direção de arte do filme.
Os figurinos e maquiagem desse filme são muito bem planejados para demonstrar
grande passagem de tempo para os personagens, a ponto de tornar o espectador
duvidoso sobre ser o mesmo ator.
Fotografia e Iluminação:
Nesse filme, Orson Welles inova porque resolveu trazer de forma experimental um
misto de ambos, tendo um resultado excelente que tornou-se referência para o
futuro do cinema.
A partir disso, temos mais um elemento que diferencia sua direção de todas as
outras: a escolha do uso da grande profundidade de campo. As ações ao longo das
cenas se fazem em primeiro e segundo plano, tanto de forma rasa com elementos
desfocados ao fundo, quanto grande profundidade com elementos de dois ou mais
planos, todos muito bem focados.
Os planos também são longos, com poucos cortes. Assim, os acontecimentos são
vistos simultaneamente na cena. Como por exemplo, a cena em que Kane brinca na
neve, e paralelamente sua mãe assina documentos para mandá-lo para a adoção.
O uso desse tipo de profundidade de campo faz com que o expectador se depare
com diversos acontecimentos na cena, e ele acaba tendo a liberdade de escolher
para onde olhar, o que notar, sem o direcionamento do diretor a partir do corte e
mudança de planos. Isso faz com que o espectador faça a varredura na cena da
maneira com que achar melhor, prestando atenção entre um ou outro, gerando
diferentes leituras, convidando-os a uma posição mais ativa durante o filme.
Por exemplo, nessa cena citada acima, podemos olhar tanto para o menino que
brinca na neve, completamente inerte ao que se passa dentro da casa. E também
podemos olhar a mãe assinando, uma postura inversa ao filho. A linha tênue da
futura separação implícita aos diferentes ambientes em que se encontram.
Contudo, vale lembrar que Welles não é o inventor da profundidade de campo. Essa
técnica já aparecia em filmes anteriores, e até mesmo em outros estilos como o
neoclássico italiano. Mas a ideia de trazer o espectador ativo é desenvolvida acerca
dessa técnica é o que fez se destacar em seu filme.
Montagem:
Populariza-se a partir desse filme, o uso de transições de fade in/ fade out mais
rápidas ou mais lentas. Além disso, muitas delas se ajustavam as cenas que viriam
a frente, se interligando. Frequente também, o uso de elipse de elementos que
davam entrada a novas cenas, trazendo uma sensação subjetiva ao filme que
possuía uma fotografia mais realista, no sentido do olhar.
Conclusão:
Por fim, vale lembrar que Orson Welles ousou e inovou em seu filme, tornando-o
para época, quase que um filme experimental. Os filmes devem sempre ser
analisados de acordo com seu tempo. E Orson Welles para aquela época, foi muito
a frente de seu tempo. Por isso como diretor ele teve espaço e uma equipe
consciente de suas ideias inovadoras e diferentes para a época. Coube a ele dirigir,
propor e experimentar tudo isso. Por isso hoje, suas referências cinematográficas
propostas em Cidadão Kane tornaram-se um marco para a história do cinema.