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Filhos e drogas, filhos e celulares, filhos que não se comunicam, angustiados, depressivos, agressivos
etc. Recebemos muitas mensagens ligadas à formação dos filhos, e aqui usamos a palavra formação
para diferenciar da educação conteudística, que foca no ensino de informações, deixando de lado
virtudes como a ética, a sabedoria, a coragem de se expressar, de se buscar e de se tornar
verdadeiro.
Para encontrar um centro em meio ao turbilhão caótico do nosso cotidiano, muitas pessoas têm
buscado retornos a culturas milenares, mergulhando em práticas orientais que nos levam a um
sentimento de acolhimento, de pertença em nossa própria história. Estas práticas buscam o silêncio
interno e o reencontro com a grande Natureza dentro de todos nós.
Porém, um jovem sedento pela aventura da existência pode encontrar dificuldade em calar todos os
anseios que ainda não teve a oportunidade de conhecer ou de silenciar desejos que ainda sequer
compreende.
A história de Sidarta, de Herman Hesse, tem muito a nos dizer sobre isso. A narrativa do rapaz
indiano, filho de brâmanes, que sai de casa para conquistar o mundo, nos ensina: antes de
contemplar o rio da vida, é preciso desbravá-la. Antes de fundir o ego no todo, de silenciar o eu, é
preciso saber-se, conhecer a individualidade, os conflitos e temores que constituem nossas sombras.
Felizmente, temos outra cultura milenar que pode nos ajudar nesta tarefa: a nossa. O ocidente, com
sua busca por um Conhecimento maiúsculo, não formou apenas nossa civilização, mas também
nossas interrogações mais profundas, nossos Deuses e Demônios, compreendeu nossa caverna e
nossa luz.
A Formação do ser humano por aqui buscava instigar o questionamento contínuo, a coragem de se
criar constantemente – elementos que hoje representam grande pressão e confusão para os jovens.
Esta imensa angústia interna pode acabar isolando nossos filhos em uma falsa sensação de culpa ou
de medo individual, quando a Educação nos ensinaria que este questionamento é universal e
atemporal. Ou seja, em vez de isolar, a jornada por respostas deveria acolher, gerar pertença e
convidar ao prosseguimento da Grande Aventura da vida.
Um ótimo exemplo é o mito da Esfinge, quando compreendemos que vencer o seu desafio, o
“Decifra-me ou te devoro”, era na verdade decifrar o próprio o sentido da existência. Por isso é que
a esfinge, na sua metáfora, sufoca e asfixia quando não concebemos responder questões como:
Quem sou eu e que faço aqui? De onde venho? Para onde vou?
O Prof. Dr. Viktor D. Salis, grego radicado em São Paulo, considerado um dos maiores mitólogos do
país, nos explica melhor:
“A Esfinge sufoca e asfixia quando sentimos que nada sabemos de nós, quando o tempo nos
angustia e passa cada vez mais depressa e não compreendemos o nosso passado que tanto nos
prende não sabendo como ir em direção ao futuro.
Na verdade, seus enigmas poderiam ser resumidos nestas perguntas: Quem sou eu e que faço aqui?
De onde venho? Para onde vou? Eis, pois, a chave do enigma da esfinge: Conhece-te a ti mesmo,
depois aos outros, e finalmente, busque conhecer o mundo – e assim te tornarás um homem de
verdade”.
O desafio da existência, tão bem retratado pela Esfinge, parece perfeito para o mundo
contemporâneo, para o hoje ou, mais ainda, para cada um de nós. Entender que tais angústias não
são minhas ou suas, mas sim pertencem à humanidade e que todos nós temos estas mesmas
questões é uma chave crucial para religar filhos, pais, avós em uma grande comunidade humana.
Em tempos de tanta separação, as novas gerações, em virtude das velozes mudanças tecnológicas
das últimas décadas, parecem falar outra língua e habitar noutro universo. Mas, não. Quando
mergulhamos mais profundamente, ultrapassando as diferenças da superfície, vemos como a
Grande Aventura da existência humana assombra, abraça e ensina a todos nós: ela mais nos liga
do que nos separa.
Acabamos perdendo este profundo mergulho na corrida cotidiana. É a este mundo simbólico e
subjetivo que precisamos retornar juntos, tirando nossos filhos da esfera do objeto e mostrando a
eles o caminho do sujeito, do ser, da vida e do amor.