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Êxtase do Renascido

(Rolando Toro Araneda)

Do nada, teremos de extrair a nossa energia.

Da noite sacaremos o sol

Do vazio virá sempre renovado o seu olhar de ternura

O canto da terra em frutos silenciosos

Em horizontes brilhantes

O Verão levantará sua cabeça como um touro.

Quando a morte nos reduz a pó

Continuaremos levantando

Um girassol de pólen e abelhas

Do abismo que separa os amantes

Ainda iremos selar um abraço

Sob a glória do mundo.

Em trapos, perseguidos

Sem pão

Numa terra estrangeira

Dançaremos triunfantes

No pulmão das estrelas

De um milhão de anos.

De repente

O seu sorriso virá.

Da minha terrível solidão

Eu vou conseguir

Ainda

Todo o amor

E beberemos o néctar de todas as frutas

A paixão de todos os beijos.

Penetraremos
Na pupila original

do universo

Transformados em mãe

e transformados em filha.

Tendo sido derrotados

Cairemos rindo

sobre um tapete transparente

na manhã de um novo mês de Abril

Tendo envelhecido

veremos o nosso rosto refletido

De criança

Em netos e bisnetos

Em multidões de doçura e canto.

Renasceremos

Contra a nossa própria vontade de morrer

Renaceremos

contra o nosso desejo de estarmos sozinhos

Estaremos nus

Abraçados

Confusos

Em um redemoinho de carícias.

Mesmo no meio da desolação

Viveremos

No asfalto, rachados,

Explodirão os gerânios

No meio do abandono

Na morte interior, exilados do Paraíso

Ressurgiremos em êxtase

Mesmo entre as bombas,


No violento furacão da estupidez

Renasceremos, lúcidos e amáveis

A nossa esperança está morta, só temos a vida

Viveremos

Apesar de nós mesmos

Com o último gesto de ternura

Renasceremos triunfantes, puro e iluminado.

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