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Contraste

Aristeu Bulhões

No chão do meu quintal, que rústico era,

Eu, que de sonhos enfeitava a vida,

Numa linda manhã de primavera,

Plantei ramos de uma árvore caída…

E, cheio de ilusão e de quimera,

Abandonei a terra estremecida

Como o viajante que atingir espera

A rósea meta, a que o Ideal convida…

Anos depois voltei…  Na alma cansada

nem mais um sonho, uma ilusão trazia

Porque tudo eu perdera na jornada.

Mas, cada ramo que plantei a esmo,

Era uma árvore imensa que floria

Para arrimo e conforto de mim mesmo


Primavera
Olegário Mariano
Terra florida.  Estação nova.  Tanta
Vida em redor!  Ser folha quem dera!
Cada arbusto que vejo é uma garganta,
Um grito de entusiasmo à Primavera!

Bendito o sol que no alto céu flameja
E desce em fogo pelas serranias…
O sol é um velho sátiro que beija
Sofregamente as árvores esguias.

Anda, toto pelo ar, espanejante,
Um enxame fantástico de abelhas
Que estonteadoramente paira diante
De corolas e pétalas vermelhas.

Vida para o trabalho!  Ouve-se o coro
Dos lavradores e das raparigas…
Ondula ao sol, como um penacho de ouro,
A cabeleira fulva das espigas.

Primavera! No teu aspecto antigo,
Alucinante e triste muitas vezes,
Quando chegas pelo ar trazes contigo
Calma e fartura para os camponeses.

Dá arrepios fortes e desejos…
Teu nome é seiva, é força, é mocidade…
A terra anda a clamar pelos teus beijos
Que são sementes da fecundidade.
A lição das árvores
 

                                                                                    Roquette Pinto

          Se estão contentes, se o prazer estúa no coração e a alegria  canta n’alma, vão os homens
arrancar os ramos e as flores que são as mães delicadas da floresta, para aumentar o gozo; e se estão
tristes, se a dor soluça em cada qual, vão igualmente buscar, entre as plantas, guirlandas que
sublimem as mágoas irremediáveis.

          Assim, continuamente parasitando as árvores, mal se recordam um belo dia , que não lhes dão
o carinho de uma grata e filial assistência, a que todas as plantas têm direito.

          Parecem-se os homens com as crianças irascíveis que destratam a ama de leite e nunca lhe
fazem a esmola de um beijo de ternura e reconhecimento.

          E elas, as árvores humildes ou majestosas, indiferentes à maldade humana, continuam a


derramar, na sombra, o perdão dos seus algozes; continuam a condensar nos frutos o que dá vida e
conforto aos seus tiranos; continuam a salpicar de matizes o céu que cobre o berço dos nossos
filhos…

          As árvores seguem o seu destino, fazendo viver, alegrando e perdoando!


A árvore
Coelho Neto

A árvore não é só o enfeite da terra; ora em flor, ora em fruto,  ela é a purificadora do ar que
respiramos, a garantidora do manancial que jorra para nossa sede e para rega das lavouras.   Movendo
docemente os seus ramos, trabalha como fiandeira do sol:  recebendo na copa os raios ardentíssimos,
desfia-os em brando calor, agasalhando assim os que se chegam à sua sombra.

Ela é medicina e é beleza frondejando à beira da nossa morada, e ainda  é confidente dos nossos
pezares e alegrias, quando, sob seus galhos, recordamos saudades ou edificamos no sonho.

Assim é a árvore viva.

Morta, ela é tudo — o princípio e o fim: berço e esquife, e, entre esses dois polos, tudo é árvore — a
casa e o templo, o leito e o altar, o carro que roda nas terras lavradas, o navio que sulca os mares, o
cabo da enxada, a haste da lança, e tantos outros utensílios da vida.   Matar a árvore é estancar uma
fonte.  Onde se devastam as florestas estende-se o deserto estéril — resseca-se o terreno, os rios
minguam, somem-se os animais.  Assim, a árvore, sendo beleza, é ao mesmo tempo, a fiadora da
vida.
Primavera–
Manoel Pereira Reis Júnior–

Chegou à primavera, a fiandeira,


vestindo policrômica roupagem;
olha como se veste, mãe, a terra inteira,
para a dança festiva da paisagem!

É a festa das cores nos caminhos,


nas alamedas, nos jardins, nos campos,
alma que tange a lírica dos ninhos,
e vive envolta em véus de pirilampos…

É um pássaro de luz que pousou nas ramadas


e parece chegou de paragens distantes,
e partiu como partem as valquírias aladas
em alígeros corcéis de crinas ondulantes!

E foi levar fulgor às campinas virentes,


às flores dos pauis, aos vales e às estradas,
e passou pela terra espalhando sementes,
anêmonas de luz ao leu, despetaladas. . .

Há cantigas no alto das ermidas,


nas mamoranas, no beiral das casas;
são gorjeios de aves, mas são vidas
na revoada rútila das asas…

E tudo transformou-se, mãe; a natureza


engalanou-se de belezas raras,
do ouro vivo do sol à singeleza
das penas coloridas das araras…
A Flor
Afonso Lopes de Almeida
Que linda flor! – dizeis – porém
reparai bem:
vede que a sábia Natureza
não lhe deu só beleza,
mas fê-la útil também.

Beleza que é só beleza


embora que nada se iguale,
é coisa fútil…
Pois, com franqueza,
ser belo de nada vale,
se não se é útil.

Leis da vida, leis do amor!


Tudo produz, e o produto
novos produtos adiante,
constante, continuamente!
A flor se transforma em fruto,
o fruto faz-se semente,
volta a semente a ser planta,
torna a planta a abrir-se em flor!

Se tudo é útil no mundo,


e produtivo, fecundo,
nós, por nosso próprio bem,
trabalhemos,
estudemos,
sejamos úteis também!
FESTA DAS ÁRVORES
                                                                                                              Arnaldo Barreto

Cavemos a terra, plantemos nossa árvore,

que amiga bondosa ela aqui nos será!

Um dia, ao voltarmos pedindo-lhe abrigo,

ou flores, ou frutos, ou sombras dará!

O céu generoso nos regue esta planta;

o sol de Dezembro lhe dê seu calor;

a terra que é boa, lhe firme as raízes

e tenham as folhas frescura e verdor!

Plantemos nossa árvore, que a árvore é amiga

seus ramos frondosos aqui abrirá.

Um dia, ao voltarmos em busca de flores,

com as flores, bons frutos e sombras dará!


A PRIMAVERA
Olavo Bilac
Coro das quatro estações:
Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !
A Primavera:
Eu sou a Primavera !
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu !
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel:
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a Primavera,
A flor das estações !

Coro das quatro estações:


Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !
PRIMAVERA
Francisca Júlia e Júlio César da Silva

Bem cedo, mal rompe o dia,


já estão gorjeando as aves
os seus pipilos suaves
em desusada alegria.

Vasto, o campo se descobre,


ondula, se estende e perde,
todo verde, todo verde
da nova relva que o cobre.

De toda banda invadidos


e cheios estão os ares
do perfume dos pomares
e dos jardins florescidos.

A ave eriça a pluma,


Varre os ares e os refresca
O sopro da brisa fresca
Que tudo beija e perfuma.

A natureza se esmera
Em galas e enfeites novos;
Ri o sol, brotam renovos…
É a risonha primavera

que bem cedo acorda os ninhos,


as flores perfuma, enfolha
as árvores, folha a folha,
onde cantam os passarinhos.
 
Laranjeira
 
Baltazar de Godoy Moreira
 
Uma linda sementinha
Em meu quintal descobri
Alva!  Macia, limpinha!
— Minha linda sementinha
Que posso fazer de ti?
 
Faze uma covinha rasa
Com boa vontade e amor,
No quintal de tua casa,
Onde haja luz e calor.
Deixa-me lá, por favor.
 
Um dia quando tu fores
Moça, formosa e faceira.
Terei um tronco encorpado,
E uma ramada altaneira.
 
Cheia de frutos e flores
Então, com maior agrado
Darei para o teu noivado,
Os botões de laranjeira!
PLANTAR
                   Baltazar de Godoy Moreira 

–Planta-se uma sementinha,

dá isso muito trabalho?

Nasce em pouco uma plantinha,

um caule, depois um galho,

depois um outro, e a ramagem

abre-se e, após coroada

de verdejante folhagem,

fica uma árvore formada.

Depois chega a primavera.

O Sol tem outros fulgores!

E a planta que já crescera

cobre-se toda de flores!

O outono, após o verão,

traz os seus dias enxutos,

e brilha a árvore, então

toda arreada de frutos!

Muito trabalho dá isso?

Basta plantar a semente!

Em paga desse serviço

a árvore, fartamente,

depois de grande, viçosa,

além de muitos produtos,

dá sempre sombra gostosa,

quando não flores e frutos!

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