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Grandes pensadores sobre inovação em educação

O desenvolvimento e a presença cada vez maior da tecnologia na sociedade têm


provocado algumas mudanças nas práticas pedagógicas e no processo de ensino e
aprendizagem em todo mundo. Mas não é de hoje que o tema permeia as discussões
de especialistas, educadores e organizações sociais preocupadas com o futuro da
educação.
Um dos primeiros pensadores a reconhecer o impacto transformador da tecnologia no
modo como as pessoas aprendem, trabalham ou se divertem foi Seymour Papert.  O
matemático, que nasceu em Pretória, África do Sul, em 1928, foi um pioneiro ao
considerar o uso do computador como uma ferramenta educacional.
Contemporâneo e estudioso do psicólogo suíço Jean Piaget, Papert também
estabeleceu fortes diálogos com o educador brasileiro Paulo Freire e foi inspiração
para muitos modelos de aprendizagem que existem atualmente, como o ensino
de programação para crianças e jovens e a visão do aluno como um indivíduo capaz de
construir conhecimento.
Pensadores sobre inovação
De acordo com o Movimento de Inovação na Educação (MIE), inovar na educação é
pensar novos conceitos, estruturas e metodologias para o ensino-aprendizagem,
buscar diminuir as desigualdades sociais, desenvolver os alunos de forma integral,
pensar o processo educativo de forma coletiva e dialógica e, acima de tudo, oferecer
educação de qualidade.
Além de Seymour Papert, pensadores de diversas áreas do conhecimento se
dedicaram a pensar modelos educacionais mais alinhados com as rápidas mudanças da
sociedade.  O trabalho deles, materializado em livros e artigos científicos, inspirou
aquilo que até hoje é pensado como inovação em educação.
Veja a seguir algumas das maiores referências no assunto e que podem estimular,
provocar e fazer refletir sobre como é possível desenvolver práticas
pedagógicas inovadoras dentro e fora da sala de aula.
John Dewey
O filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859-1952) foi o inspirador
do Escola Nova, um movimento pela renovação do ensino que alcançou países
na Europa, América do Norte e no Brasil – neste caso, liderado pelo educador Anísio
Teixeira.
Algumas das ideias mais inspiradoras de Dewey foi o modelo de ensino-aprendizagem,
que percebe o aluno como protagonista de seu processo de educação, além de sua
proposta de desenvolvimento integral do indivíduo, levando em consideração
aspectos físicos, emocionais e intelectuais. Para o pedagogo, tão importantes quanto
atividades cognitivas, era o desenvolvimento de habilidades manuais e criativas.
Dewey também tinha como preocupação a relação indissociável entre teoria e prática
e acreditava que o conhecimento era construído de forma coletiva, por meio do
compartilhamento de experiências. Para saber mais, nas obras: A escola e a
sociedade (1899) e Democracia e educação (1916)
Maria Montessori
As teorias, práticas e materiais didáticos desenvolvidos pela pedagoga, educadora
e primeira mulher a se formar em medicina na Itália, Maria Montessori (1870-1952),
ficaram conhecidos como Método Montessori e inspiram as metodologias de muitas
escolas no Brasil e no mundo.
A metodologia é baseada em seis pilares: autoeducação, educação como
ciência, educação cósmica, ambiente preparado, adulto preparado e criança
equilibrada. Busca o desenvolvimento da criança levando em consideração as
diferentes épocas de sua vida e quais são as necessidades e comportamentos
específicos de cada fase.
Para Montessori, a formação escolar transcendia o acúmulo de informações: era
necessário formar integralmente os jovens, oferecendo uma educação para a vida. A
pedagoga também apostava na individualidade e liberdade do aluno, pensando nele
como sujeito e objeto do ensino, simultaneamente.  Para saber mais: A descoberta da
criança: pedagogia científica: a (1909) e Formação do homem (1949).
Célestin Freinet
O pedagogo francês Célestin Freinet (1896-1966) foi um dos fundadores da Escola
Moderna, um movimento de renovação na educação que surgiu nas primeiras décadas
do século XX na França.
Em sua visão, as escolas tradicionais eram fechadas, tinham uma postura enciclopédica
e não davam atenção aos interesses e prazeres fundamentais das crianças. Sua
proposta, então, era do papel da escola como um importante elemento
de transformação social, como um espaço democrático, livre de contradições sociais e
que não marginalize crianças pela classe social.
Freinet é autor das propostas das aulas-passeio (estudos de campo), dos cantinhos
pedagógicos (uma forma de estimular o aprendizado por meio de brincadeiras) e
da troca de correspondências entre as escolas(socialização de informações e
conhecimentos entre os alunos).  Para saber mais: Pedagogia do bom senso (1946)
e As técnicas Freinet da escola moderna (1964)
Jean Piaget
A gênese do conhecimento, sua evolução até a adolescência humana, passando
pelo desenvolvimento cognitivo e as formas como os indivíduos apreendem o mundo,
foram os principais temas de pesquisa de Jean Piaget (1896-1980).
O biólogo e psicólogo suíço debruçou seus estudos principalmente sobre a forma como
as crianças constroem o conhecimento, levando em consideração aspectos cognitivos,
morais, sociais, afetivos e linguísticos da aprendizagem, fundando aquilo que chamou
de epistemologia genética.
Suas descobertas evidenciaram que a transmissão de conhecimentos, no sentido
professor-aluno, é limitada e, por isso, educar seria estimular as crianças a procurar o
conhecimento, favorecendo sua atividade mental. Para saber mais: Nascimento da
inteligência na criança (1970) e Para onde vai a educação? (1971)
Lev Vigotski
Outro psicólogo que é referência nos estudos de inovação em educação é o bielo-
russo Lev Vigotski (1896-1934). Apesar de sua vida curta, faleceu aos 37 anos vítima de
tuberculose, teve uma importante contribuição para a reflexão sobre o
desenvolvimento intelectual de crianças, associando-o às interações sociais e
condições de vida dos indivíduos.
De acordo com Vigotski, para que o aprendizado ocorra, sempre existe algo que faz a
mediação da relação do sujeito com o mundo, o que ele chamou de aprendizagem
mediada. Atuam como elementos mediadores os instrumentos que podem ser
objetos, por exemplo, e o signo, que é humano. O educador é um exemplo de
intermediário entre o aluno e o conhecimento.
Vigotski, inclusive, foi leitor da obra de Piaget e escreveu um prefácio em um dos
livros dele, estabelecendo pontos de convergência e divergência com o psicólogo
suíço. Para saber mais: Pensamento e linguagem (1934) e Imaginação e criação na
infância (1930)
Carl Rogers
O psicólogo nasceu nos Estados Unidos e marcou oposição às visões e práticas
dominantes nos consultórios e escolas da época. Carl Rogers foi fundador da terapia
não-diretiva, que é centrada no indivíduo e, por isso, preferia pensar que tinha
clientes no lugar de pacientes, pois cabia a quem era atendido no consultório o
sucesso do tratamento.
Suas contribuições ultrapassaram seu campo de formação e influenciaram também a
educação. Era dessa mesma forma que ele entendia a relação entre professor e aluno:
ao educador cabia a tarefa de facilitar o aprendizado, que é conduzido pelo estudante
de forma própria.
Para que essa relação se estabeleça, três qualidades são
demandadas: congruência (ser autêntico com o aluno), empatia (compreender seus
sentimentos) e respeito. Para saber mais: Terapia Centrada no Cliente (1951) e Tornar-
se Pessoa (1961)
Paulo Freire
Por meio da Lei 12.261/2012, Paulo Freire (1921-1997) é considerado o patrono da
educação brasileira e é o terceiro pensador mais citado em trabalhos acadêmicos em
todo o mundo, segundo levantamento do Google Scholar.
O educador desenvolveu uma metodologia de alfabetização de adultos que ficou
conhecida como Método Paulo Freire, alfabetizando cerca de 300 cortadores de cana
de Angicos (RN) durante 45 dias. Assim, na perspectiva de Freire, a educação tem
como missão conscientizar o aluno, fazendo com que indivíduos entendam sua
situação dentro da sociedade e atuem para conquistar sua libertação.
O educador era crítico daquilo que chamava de “educação bancária”, que ocorre
quando o professor e aluno estabelecem uma relação vertical, em que um deposita no
outro o conhecimento, respectivamente. Para saber mais: Pedagogia do
oprimido (1968) e Educação como prática de liberdade (1967)
O diálogo com os pensadores clássicos: educação e tecnologia
As contribuições de John Dewey, Maria Montessori, Célestin Freinet, Jean Piaget, Lev
Vigotski, Carl Rogers e Paulo Freire continuam inspirando quem pensa e produz
conhecimento sobre o campo da inovação em educação. Eles são importantes
referências para pensadores contemporâneos que acrescentaram mais um elemento
às propostas de inovação em educação: a tecnologia.
Além de Saymour Papert, conheça pensadores de diferentes áreas que auxiliam no
embasamento da produção teórica e prática de inovação em educação mediada pela
tecnologia:
Manuel Castells
O espanhol é considerado um dos principais pensadores da era da informação e das
sociedades conectadas em rede. Doutor em sociologia pela Universidade de Paris, é
professor e autor de dezenas de livros, com destaque para a trilogia A era da
informação, composta por A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de
milênio.
Pierre Lévy
Mestre em História da Ciência e Ph.D. em Comunicação e Sociologia e Ciências da
Informação, Pierre Lévy é um dos mais importantes defensores do uso do computador,
em especial da internet, para a ampliação e a democratização do conhecimento
humano. Suas pesquisas concentraram-se especialmente na área da cibernética e da
inteligência artificial.
Michel Reznick
Criador da linguagem de programação Scratch, é professor de Pesquisas Educacionais
do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Lá,
desenvolve novas tecnologias e atividades para envolver principalmente crianças nas
suas experiências criativas. Além disso, ele é responsável pelo programa Lifelong
Kindergarten, em tradução livre: Vida longa ao Jardim de Infância.

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