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AsTeoriasSigno SignificacoesLinguistica PDF
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RESUMO: O presente artigo tem como principal objetivo apresentar um painel de resultados
obtidos a partir de estudos feitos sobre o signo e suas diversas significações linguísticas, com
base nas teorias de Saussure, Hjelmslev, Barthes, Borba, Peirce, Guiraud, Greimas, Bakhtin e
Vigotsky, a fim de que seja possível verificar a importância que têm o signo e suas emanações
no estudo e na compreensão da linguagem como elemento implementador das aspirações
linguísticas e sócio-psico-ideológicas do homem.
ABSTRACT: The present article shows a panel of results obtained from sign studies and its
several theoretical linguistic meanings by Saussure, Hjelmslev, Borba, Pierce, Guiraud, Greimas,
Bakhtin and Vigotsky; whereby, it can verify the importance of signs and their emanations
towards researches and understanding language as an enabling element to linguistics
aspirations and human social-psycho-ideological.
Tendo em vista o estudo das diversas teorias do signo e suas significações, faz-se
necessária uma reflexão prévia sobre os fundamentos da Semântica e da Semiótica; bem como
as relações que cada uma delas tem com o tema em questão, o signo linguístico.
1.1. O método semiótico tem por conceito fundamental o estudo do signo que,
conforme Saussure (2001) apresenta um primeiro elemento chamado significante,
caracterizado não por sua natureza material, mas como a imagem acústica, a impressão
1[1]
. O autor é Licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caetité – Campus VI
da Universidade do Estado da Bahia; é especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior e em Língua
Portuguesa pela União das Escolas Superiores de Cacoal. Atualmente é professor de Língua Portuguesa e
Coordenador do Curso de Letras da UNESC – Cacoal – RO. É organizador e Coordenador do Infoletras e da Revista
Literarius (publicações do Departamento de Letras da UNESC), além de pesquisador, escritor e poeta.
psíquica do som, que pode desencadear um outro fenômeno psico-semiológico, o significado, o
segundo elemento constituinte do signo.
Saussure (2001), em seu Cours de Linguistique Générale, diz que a língua é o mais
importante dos sistemas de signos. Ele a considera o mais complexo e o mais utilizado dentre
os chamados sistemas de expressões sígnicas, mesmo sendo a língua, para ele, apenas uma
parte do universo semiológico. Ainda para Saussure, existe uma ciência geral dos signos, da
qual a Linguística poderia ser tão somente uma subdivisão, questão que será por nós elucidada
com o apoio de Roland Barthes.
Para Charles Sanders Peirce (2000), a semiótica é constituída em três níveis: o sintático,
o semântico e o pragmático. O primeiro revela a relação que o signo tem com o seu
interpretante, o segundo diz respeito à relação existente entre o signo e o seu referente
(objeto) e o último se importa com a relação do signo com ele mesmo e com outros signos.
É perfeitamente perceptível que a sociedade atual organiza-se em torno de um grande e
poderoso universo de signos, diga-se de passagem bastante complexo. De igual modo, é
também perceptível o estado absoluto em que se portam a linguagem humana e seus signos de
valor incondicional. Conforme Barthes (1991), nenhum outro sistema com a mesma
complexidade e grandeza foi observado em nosso espaço e tempo.
Dada a complexidade da linguagem humana, seus signos e respectivas significações,
Roland Barthes, além de definir a semiótica como sendo a ciência que se ocupa do estudo de
qualquer sistema de signo, considerando suas substâncias e/ou limites, também refuta
Saussure, quando diz que: “A Linguística não é uma parte, mesmo privilegiada, da ciência dos
signos: a Semiologia é que é uma parte da Linguística; mais precisamente, a parte que se
encarregaria das grandes unidades significantes do discurso” (BARTHES, 1991, p. 13).
Embora acreditando que possa ser muito maior o universo do método semiológico,
tomaremos como suporte os elementos de Roland Barthes, como sendo bastantes, a priori,
para subtraírem da Linguística cada uma das substâncias básicas e necessárias “para permitir a
preparação da pesquisa semiológica” (BARTHES, 1991, p. 13). Os Elementos de Semiologia
foram agrupados por Barthes da seguinte maneira: I. Língua e Fala; II. Significante e Significado;
III. Sintagma e Sistema e IV. Denotação e Conotação.
Assim sendo, torna-se possível perceber que o referido método de análise semiótica é
binário e trabalha com a ideia dicotômica dos elementos que, aparentemente distintos,
completam-se para formar o todo discursivo, dada a natureza dialética existente entre eles.
1.2. Para definir o método semântico, necessário se faz antes definir semântica.
Segundo Pierre Guiraud (1980, p. 7), “semântica é o estudo do sentido das palavras”.
Guiraud (1980) apresenta três ordens principais de problemas que a semântica tem que
resolver em relação às análises dos diversos significados: primeiramente, um problema
psicológico – nesse caso ela deve solucionar questões e dar respostas a perguntas que elucidam
o signo e as relações intrínsecas do espírito dos interlocutores de um discurso quando se
comunicam; o segundo problema refere-se à lógica. Aqui, a semântica precisa apresentar
argumentos que dizem respeito à relação entre o signo e o meio no qual ele é empregado.
Deve descrever a situação propícia para um signo ser aplicado e o que ele deve significar
necessariamente quando relacionado com um objeto no tempo e no espaço. Por último, a
semântica deve solucionar os problemas linguísticos concernentes à significação, e estes são
muitos, haja vista a complexidade dos sistemas sígnicos, suas funções e formas.
A Semântica, conforme Guiraud, tem sido instrumento de três ciências distintas: da
psicologia, da lógica e da linguística. O que neste trabalho nos interessa é o fato dela constituir
valioso instrumento para os estudos e análises dos sentidos e das significações no âmbito da
linguagem humana.
Assim sendo, “nossa ciência, assim definida, recobra um campo tão vasto que, mesmo
confinado aos estritos limites da língua, ultrapassa as fronteiras da lógica, da psicologia, da
teoria do conhecimento, da sociologia, da história etc.” (GUIRAUD, 1980, p. 12).
2. O Signo
Um signo é uma coisa que, além da espécie ingerida pelos sentidos, faz
vir ao pensamento, por si mesma, qualquer outra coisa.
Santo Agostinho
É possível dizer que qualquer objeto, som, palavra capaz de representar uma outra coisa
constitui signo. Na vida moderna, todos nós dependemos do signo para vivermos e
interagirmos com o meio no qual estamos inseridos. Para o homem comum, a noção de signo e
suas relações não são importantes do ponto de vista teórico, mas ele os entende de maneira
prática e precisa. A utilidade do signo vai além do que imaginamos: ao dirigirmos, por exemplo,
precisamos constantemente ler e analisar discursos transmitidos pelas placas de trânsito, pelas
luzes do semáforo, pelas reações do veículo ao meio ambiente etc. O homem intelectualizado
não vive sem o signo, precisa dele para entender o mundo, a si mesmo e às pessoas com as
quais mantém relações humanas.
As noções de signo são muito mais amplas e discutíveis do que podemos imaginar;
todavia, no presente trabalho nos limitaremos à análise de algumas considerações referentes
ao signo linguístico que, doravante, constituirá o nosso principal objeto de estudo.
Para Saussure (2001, p. 80-1), “o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas
faces”, é ainda “a combinação do conceito e da imagem acústica”. Para entender melhor
analisemos o gráfico abaixo:
Fig. 01
Fig. 02
O significante é a apresentação física do signo, de forma sonora e/ou imagética. Se
considerarmos o exemplo dado no gráfico acima, diremos que a imagem acústica da palavra
“sapo” é o significante para todos os fins.
O significado é o conceito que permite a formação da imagem na mente de um
indivíduo quando ele entra em contato com o significante; portanto, a representação do sapo
na figura 02 é o que podemos chamar de significado.
Com isto é possível dizer que o signo é o resultado de um conjunto de relações mentais.
Há em cada signo uma ideia ou várias ideias, de acordo com o contexto, com a leitura ou com o
leitor e seu estado emocional. O signo, para Saussure, é um elemento binomial, a sua natureza
é dicotômica. O significado e o significante traduzem as pontas da bifurcação do signo, agem
dialeticamente, embora sua relação de reciprocidade seja considerada pelo próprio Saussure
como arbitrária. Não é possível admitir a existência do significante sem o significado e vice-
versa, assim como não é possível estabelecer ou definir um elemento de relação objetiva entre
o conceito e sua imagem acústica. Para explicitar melhor o nosso raciocínio, tomaremos como
elemento de inteligibilidade o exemplo que se segue: o animal classificado como batráquio da
ordem dos anuros que, como a maioria dos anfíbios, desenvolve-se na água, apresentando,
quase sempre, na fase adulta, hábitos terrestres, só procurando a água na época da
reprodução, poderia ter outro conceito diferente daquele atribuído a si: sapo. Qual é a relação
entre a imagem acústica e o conceito? São questionamentos como esses que realçam e
justificam a ideia de arbitrariedade do signo linguístico. Esta questão da arbitrariedade, por sua
complexidade e excelência, merece ser tratada num trabalho posterior a este que se
predestina, tão somente, a estabelecer as diversas visões sobre o signo linguístico e suas
significações.
Com base no exposto, podemos fazer a seguinte análise: a forma verbal “estudássemos”
é um signo menor em relação ao contexto a que pode pertencer, ou seja, quando empregada
na frase, a exemplo: “Se estudássemos mais, passaríamos nos exames”. A frase, nesse caso, é
um signo maior em relação à palavra “estudássemos”, que pode ser entendida como o
contexto de signos menores contidos nela. Veja: em (estud-á-sse-mos), da esquerda para a
direita, podemos classificar os elementos significativos da palavra e apresentar a significação
contida em cada um deles. O primeiro elemento significativo classifica-se como radical e
contém a significação lexical do ato de aplicar a inteligência; o segundo é a vogal temática e
tem como função indicar a que conjugação pertence o verbo; a terceira é a desinência verbal
modo-temporal e tem como função a indicação do tempo pretérito e do modo subjuntivo,
expressando, portanto, uma ação hipotética que poderia ocorrer no passado; finalmente, o
quarta elemento significativo é também uma desinência verbal, cuja função é expressar o
número e a pessoa do discurso.
A ideia da significação fica mais clara quando analisamos um dado signo fora e dentro
do seu contexto. Tomando a palavra manga como corpus, podemos ver que nem sempre é
possível relacionar o signo a sua significação, tendo em vista o seu esvaziamento de sentido, em
virtude do emprego solitário. Manga, em língua portuguesa, é uma palavra que pode ter,
dentro de um dado contexto, significação diferente daquela que teria quando aplicada em
outros contextos. A manga, peça do vestuário é diferente de manga, o fruto que também é
diferente de manga, a terceira pessoa do presente do indicativo do verbo mangar. Outras
incidências significativas do signo manga poderão ser observadas mais adiante quando
trataremos do signo em Borba. Sobre o assunto, Hjelmslev diz que:
É bom ressaltar aqui que os fonemas e as sílabas não podem ser considerados como
elementos significativos, ou seja, como expressões de signos. Hjelmslev (1975) trata-os como
partes das expressões de signos e mais tarde, em sua teoria, denomina-os formas.
Segmentando a palavra meninas em menin-a-s, o “a” e o “s” são fonemas, mas também são
desinências nominais que indicam, respectivamente, o gênero feminino e o número plural do
substantivo. Já na palavra sapo, o /s/ e o /a/ são apenas fonemas, não podendo, portanto, ser
considerados expressões de signos, mas tão somente partes de uma expressão de signo.
Hjelmslev pensa a respeita que:
Por fim, Hjelmslev considera que uma língua, dada a sua natureza significativa muito
mais complexa e subjetiva do que aquilo que se imagina, não deve ser pensada como um
sistema de signos, tendo em vista a sua riqueza em sistemas de figuras que, antes de qualquer
coisa, serviriam para formar signos. Dizer que a linguagem é um sistema de signos é
desconsiderar a sua essência mais profunda, é deixar de mergulhar nas micro significações
desencadeadoras das macro significações contextuais que, ao longo dos tempos,
responsabilizaram-se pelos registros e pelas transformações do homem em sociedade e em si
mesmo.
Fig. 03
2[2]
. Disponível em: <http:// www. Surrealismo.net>. Acesso em 25 de abr. de 2003.
Ceci n’est pas une pipe. E de fato não é um cachimbo. A mente pode trair os que não
lêem os signos como devem ser lidos. O significado da palavra cachimbo não é o objeto
cachimbo, mas a representação gráfica do objeto, sua imagem psíquica. O significado expresso
no quadro de Magritte pode ser lido e segmentado de várias maneiras, conforme as diferenças
culturais de um dado leitor. Com base nisso, tomaremos Barthes novamente quando diz que
“vários corpos de significados podem coexistir num mesmo indivíduo, determinando, em cada
um, leituras mais ou menos ‘profundas’”. (BARTHES, 1991, p. 47).
2.3.2. Para Barthes (1991), o significante pode ser analisado com as mesmas
observações que ele coloca para o significado, apenas com a diferença de ser o significante um
elemento mediador que se comporta como gerador, ou seja, materializador da figura do
objeto, o significado.
2.3.3. Por fim, Barthes (1991, p. 52) diz que “a significação pode ser concebida como um
processo; é o ato que une o significante e o significado, ato cujo produto é o signo”. A
significação, como elo entre o significante e o significado, não constitui uma teoria nova, ou
seja, quando Barthes discute o assunto embasa-se em autores que o discutiram anteriormente,
a exemplo de Hjelmslev e Lacan, retomado por Laplanche e Laclair.
Assim como o significado é o conceito do signo e o significante a sua representação
acústica, a significação é, em tese, o fator psico-sindético entre eles. Todo significante pode ter
o seu significado prognosticado, de modo falso e/ou verdadeiro; todavia, isso não pode
constituir exatidão, pois a perfeita relação entre o significante e o significado só será verificada
em parte pelo contexto, em parte porque outros fatores deverão ser levados em conta, tais
como as relações extralinguísticas espaço/tempo e sintonia entre interlocutores. Para
esclarecer melhor o que estamos demonstrando, daremos o seguinte exemplo: no campo das
metáforas, da homonímia e das polissemias, encontramos férteis modelos. Vejamos:
Segundo Barthes (1991) o signo tem caráter arbitrário e só se realiza por associação nos
atos de fala. Nos três exemplos dados, as palavras cavalo, mente e dobrar isoladamente não
poderiam ser realizadas linguisticamente, mas, quando aplicadas dentro de um dado contexto,
elas ganharam o que estamos aqui chamando de significação, ou seja, o significado e o
significante harmonizaram-se, convergiram.
St ↔ Sd
↑
Sç
Podemos dizer que a significação é o elo entre o significante e o significado, ou que a
significação é a fusão do significante ao significado por meio de um contexto bem definido. E
com isso, concluímos mais um tópico deste trabalho, ao apresentarmos a visão de Barthes a
respeito do signo.
O signo linguístico transmite (ou veicula) uma informação servindo-se de uma parte
material e perceptível associada a uma parte imaterial e inteligível. A parte sensível é
o significante e a parte não sensível é o significado. (BORBA, 1998, p. 19)
Para Peirce (2000, p. 46): “Um signo, ou representamen, é aquilo que, sob
certo aspecto ou modo, representa algo para alguém.”
A teoria do signo em Peirce é uma renovação de tudo o quanto já
foi discutido e teorizado em relação ao assunto. A idéia do signo pelo signo
e do significante que tem um certo significado fica obsoleta quando Peirce analisa o
representamen segundo as suas relações triádicas: o representamen, o objeto e o interpretante.
Conforme Peirce (2000), o representamen é o signo primeiro, pode-se dizer que é o
signo como tal, o objeto é a representação do signo e o interpretante a consciência intérprete
do signo, ou seja, o seu significado. Todo signo gera um outro signo fruto da mente e é isto que
Peirce chama de interpretante.
Walther-Bense (2000, p. 4), ao discorrer sobre a teoria de base de Peirce, no
capítulo “O signo como relação triádica”, em sua obra A Teoria Geral dos
Signos, diz: “Um signo é, portanto, uma tríade de referências, ou uma relação
triádica. Se esse algo não apresenta essas três referências, então não se trata
de um signo completo.”
A fim de criarmos uma representação visual das relações triádicas do signo em Peirce,
tomaremos as fórmulas de Max Bense e a interpretação de Walther-Bense, as quais se seguem
respectivamente em (01) e (02).
(01) S = R (M, O, I)
(02) RS = [(M ==> O) ==> I] ou então
RS = (M ==> O. ==> I)3[3]
Na representação (01) de Max Bense, a fórmula deve ser lida da seguinte maneira: o
signo (S) é igual às relações do signo em si mesmo (M), em seu objeto (O) e em seu
interpretante (I). Já para Walther-Bense, a fórmula deve ser lida: A relação sígnica (RS) é igual a
(M), o signo como tal, que gera (O), a “referência ao objeto”, que gera (I), o interpretante.
Para justificar as relações anteriormente expostas e a máxima obediência à ordem
seqüencial das fórmulas, Walther-Bense afirma:
Com essa escrita fica de pronto evidente que a relação sígnica deve ser
concebida como uma “tríade ordenada” e que esse ordenamento não
deve ser transgredido. Por outro lado, fica evidente que a referência ao
meio representa uma primaridade, a referência ao objeto uma
secundaridade, a referência ao interpretante uma terciaridade. Com
base nisso também podemos dessumir: nenhum signo é independente
3[3]
apud. WALTHER-BENSE, Elisabeth, 2000, p. 5.
de um interpretante, isto é de um intérprete, ou melhor, apenas um
intérprete pode introduzir, propor uma signo ou explicar algo como
signo. (2000, p.5)
Peirce divide o estudo dos signos em ramos diferentes para fins de análise: a primeira
tricotomia trata do signo em si mesmo, a segunda refere-se às relações que o signo tem com o
seu objeto e a terceira apresenta as relações entre o signo e o seu interpretante.
A primeira tricotomia é aquela em que o signo funciona com referência ao meio e está
dividida sequencialmente em três partes chamadas por Peirce de quali-signo, sin-signo e legi-
signo.5[5]
2.5.2.1. O quali-signo (qualidade), segundo Peirce (2000), refere-se aos aspetos
qualitativos do signo. Cada estado material do signo ou cada fenômeno, que nele tem a função
de apresentar um caráter, é um quali-signo. Quando mudamos a dimensão, a cor, o volume de
um dado signo, o quali-signo nunca é o mesmo, o que podemos deduzir: com a mudança de um
quali-signo, o signo sofre alterações e passa a ser um signo novo, ou seja, semelhante ao
primeiro e não ele mesmo. Para clarear, tomemos como exemplo as cores: o preto, na maioria
das culturas ocidentais, indica luto, assim como o branco representa a paz. O quali-signo possui
aspetos sensoriais, pois pode ser percebido gustativa, olfativa, tátil, auditiva e visualmente.
Vejamos um outro exemplo: uma maçã vermelha e aparentemente cheia de viço é um fruto
próprio para o consumo; já a mesma maçã murcha e de tonalidade escurecida não deixa de ser
maçã, mas é uma maçã podre e imprópria para o consumo. Este fenômeno pode ser percebido
olfativa e visualmente.
2.5.2.2. O sin-signo (singularidade) está, conforme Peirce (2000), relacionado com a
permanência do signo no espaço e no tempo. Todo signo é particular, é autônomo, porque
goza de leis próprias para a sua organização e potencial de significação. Veja o que afirma
Walther-Bense:
4[4]
Divisão de um tema em três partes lógicas, para efeito de estudos.
5[5]
Segundo PEIRCE, Semiótica, 2000, p. 52.
determinada de uma determinada página de um determinado livro é um
sin-signo, ainda que existam 10.000 exemplares desse livro no qual ela
apareça. (2000, p. 12)
2.5.3.1. O ícone segundo Peirce (2000, p. 52) “é um signo que se refere ao objeto que
denota apenas em virtude de seus caracteres próprios, caracteres que ele igualmente possui
quer um tal objeto realmente exista ou não”. A palavra ícone vem do grego e quer dizer
imagem, por isso, quando representamos algo por meio de uma imagem (desenho), estamos
utilizando um ícone. Como exemplo, podemos tomar certas placas de trânsito icônicas, ou seja,
aquelas que representam travessia de pedestres (um homem estilizado dando um passo a
frete), linha férrea (imagem dos dormentes cruzados por duas linhas paralelas). Conforme
Walther-Bense (2000, p. 15), “são signos icônicos, por exemplo, os retratos, os padrões, as
estruturas, os modelos, os esquemas, os diagramas, as metáforas, as comparações, as figuras,
as formas (lógicas, poéticas etc.)”.
2.5.3.2. O índice, conforme Peirce (2000, p. 52), “é um signo que se refere ao objeto que
denota em virtude de ser realmente afetado por esse objeto”. O índice é, portanto, um signo
de referência a um dado objeto e/ou objetivo. Um bom exemplo disso é o dedo indicador da
mão que é usado para fazer uma referência direta a alguém ou a alguma coisa. Trata-se da
6[6]
. Segundo PEIRCE, 2000, 52. Semiótica.
indicação de um caminho no espaço e no tempo. O marcador de páginas de um livro é o
indicativo da página em que você parou de ler ou marcou para encontrar algo importante, isto
é um índice. Podemos ainda mencionar as placas de trânsito de indicação viária (setas), o pisca-
pisca dos automóveis que são usados como indicativo do movimento escolhido pelo motorista
para virar, se para a direita ou para a esquerda. O índice de uma dada obra é o indicativo dos
conteúdos e as páginas em que estão. No tempo, como índices referenciais, podemos fazer
menção à importância que têm as datas em relação aos acontecimentos: 22 de abril de 1500 é
um índice em relação ao descobrimento do Brasil pelos portugueses.
2.5.3.3. O símbolo para Peirce (2000, p. 52) “é um signo que se refere ao objeto que
denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de ideias gerais que opera no
sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele objeto”. Vezes
e vezes, o objeto não parece com sua representação; a associação do signo ao objeto
geralmente é instituída ao longo do tempo, por meio de uma assimilação cultural. Numa
rodovia, o motorista, ao ler uma placa de indicação viária, está fazendo a leitura de um índice,
mas se ao lado da placa for vista por ele uma cruz, estará fazendo a leitura de um símbolo. A
cruz está simbolicamente relacionada à morte. O motorista poderá entender que naquele lugar
ocorreu uma morte.
A terceira tricotomia de Peirce diz respeito ao interpretante. Todo signo está para um
objeto, assim como todo objeto está interpretante para um intérprete. A última das três
tricotomias está em Peirce dividida da seguinte forma: rema, dicente e argumento.7[7]
2.5.4.1. Em Peirce (2000, p. 43), um “rema (signo singular) é um signo que, para seu
interpretante, é um signo de possibilidade qualitativa, ou seja, é entendido como
representando esta e aquela espécie de objeto possível”. Como elemento clareador do rema,
podemos dizer que na frase As rosas são vermelhas, o predicativo – são vermelhas – é um
rema, pois trata-se da interpretação que o intérprete faz de uma qualidade singular do signo.
2.5.4.2. Ainda para Peirce (2000, p. 52), “um signo dicente8[8] é um signo que, para seu
interpretante, é um signo de existência real”. Para esclarecer melhor a ideia do signo dicente,
tomaremos as palavras de Walther-Bense (2000, p. 52): “Na arquitetura, a fachada de um
7[7]
Conforme PEIRCE. Semiótica, 2000, p. 53.
8[8]
Dicente vem do latim dicere – dizer.
prédio, que representa efetivamente uma unidade fechada e como tal pode ser julgada ou
afirmada, é um dicente”. O dicente é uma proposição, trata-se de um signo que provoca e
desperta uma reação crítica no intérprete. Por fim, pode-se dizer que é a interpretação
particular do leitor de um signo, seja ela negativa, seja positiva. Com base nas afirmações
anteriores, ainda podemos dizer que uma cerca é um signo dicente, pois ela indica que o
transeunte não pode passar daquele ponto. Já uma porta aberta pode ser um convite, ou não –
quiçá uma armadilha.
2.5.4.3. Por fim, Peirce (2000, p. 53) apresenta e define o último elemento de sua
terceira tricotomia: “Argumento é um signo que, para seu interpretante é signo de lei”. O
argumento é o juízo verdadeiro que o interpretante faz do signo, portanto se dissermos que um
elemento “R” é igual a soma de um elemento “X” mais um elemento “Y”, ou seja, (R = X + Y),
estamos construindo um signo argumento, porque podemos dizer que a soma de X mais Y é
igual a R, ou seja, (X.+ Y = R). Com isso, é possível perceber que o argumento que expressa
verdades, ou juízos verdadeiros. É possível construir o seguinte exemplo: Pedro está com uma
doença “A”; Pedro morrerá porque a doença é mortal e não possui cura. De posse destas
informações, podemos deduzir que todas as pessoas com a mesma doença “A” morrerão,
porque ela é mortal. Peirce (2000, p. 57) ainda diz: “Um argumento é um signo cujo
interpretante representa seu objeto como sendo um signo ulterior através de uma lei, a saber,
a lei segundo a qual a passagem dessas premissas para essas conclusões tende a ser
verdadeira”.
Poderíamos escrever muito mais sobre a teoria triádica de Peirce; contudo, aprofundar
os estudos das teorias peircianas não é o nosso objetivo neste trabalho. Muito mais poderia ter
sido dito, exemplificado e esclarecido, mas para isso seria necessário um trabalho de muito
maior fôlego e amplitude que o proposto por nós ao elaborarmos o nosso plano de ação.
Por último, Guiraud não apresenta uma palavra para conceituar a relação entre o
significante e o significado, todavia não descarta a existência de tal elemento gerador de uma
associação recíproca entre os elementos da significação linguística. Veja o que ele escreveu
sobre o assunto em questão: “É o estado da língua que determina os valores da palavra, valores
que são exatamente as possibilidades de relação que definem um campo de emprego no
discurso”. (GUIRAUD, 1980, p. 26)
Em Greimas (1973), o signo não é definido como tal, ou seja, ele não apresenta
nenhuma terminologia que possa representar o conjunto das significações,
como fizeram Saussure, Hjelmslev, Peirce, Borba, Bakhtin entre outros. Mesmo
não apresentando um rótulo para designar um ponto no qual residem o
significante e o significado, Greimas coloca as duas terminologias dentro de um conjunto
abstrato, quando pressupõe a inexistência de um sem o outro e do outro sem o um. Se o
significado não é possível sem o significante, então eles se inter-relacionam, completam-se,
referem-se e, por natureza semântica, devem ser semas de um semema. É lógico que o nosso
objetivo aqui não é questionar por que Greimas deixou de lado a nomenclatura signo e firmou-
se apenas nas significações: o significante e o significado, criados por Saussure e aperfeiçoados
pelos semioticistas ulteriores a ele. Assim sendo, nesta parte do nosso trabalho, centraremos
então na definição de significante, significado e significação.
2.7.1. Para Greimas (1973, p. 17), significantes são “os elementos ou grupos de
elementos que possibilitam a aparição da significação ao nível da percepção”, e significados são
o conjunto das “significações que são recobertas pelo significante e manifestadas graças à sua
existência”.
Greimas (1973), além de definir, apresentou uma classificação para os significantes,
conforme a ordem sensorial pela qual eles podem se apresentar. As classificações podem ser
de ordem:
Visual – É possível determinar algo por meio de um sinal indicado, como o polegar
direito, um muxoxo produzido com leve ou brusca torção da face, por meio da própria língua
escrita e seus padrões etc.
Auditiva – A língua oral é, talvez, o exemplo mais indicado; todavia, outros
significantes significativos podem ser aludidos, tais como: a música, as buzinas, sirenes etc.
Tátil – O braile9[9] é o melhor dos exemplos do significante tátil-sensitivo; por outro
lado, as carícias constituem também exemplos de fácil compreensão.
Olfativa – Qualquer indivíduo em seu estado natural e sem quaisquer problemas no
sistema olfativo pode diferenciar as rosas das angélicas sem vê-las.
Gustativa – Neste caso, podemos citar os degustadores que ganham a vida
experimentando e classificando alimentos com o auxílio do paladar apurado que têm. O gosto
de uma maçã, por exemplo, é diferente do gosto de um morango.
Como ressaltamos anteriormente, Greimas não admite a classificação de nenhum
significado sem um significante e, para clarear seu ponto de vista, ele apresenta um conjunto
de três relações que abaixo interpretamos:
2.7.1.1. Significantes de uma mesma ordem sensorial – podem constituir um outro
significante autônomo, ou seja, podem ser pequenos semas que compõem conjuntos de
sememas que podem significar estruturas ((mais) ou menos) complexas e diferentes. Por
exemplo: cada nota musical é um sema, o conjunto das notas forma um semema, o semema
organizado forma o sistema de uma música, e a música, pelos elementos de um dado discurso,
pode ser reconhecida e diferenciada de outra música, exatamente pelo conjunto de semas que
a compõem.
9[9]
Sistema de escrita e impressão para cegos, criado pelo francês Louis Braille.
2.7.1.2. Significantes de natureza sensorial diferentes – podem referir e indicar uma
mesma significação. É o caso da língua oral e da língua escrita. Veja: O significante oral /meza/ e
o significante gráfico “mesa”, este percebido pelo sistema sensorial visual e aquele pelo sentido
auditivo dentro de um dado contexto, podem possuir a mesma significação.
2.7.1.3. Significantes de várias procedências sensoriais – podem ser interferentes num
dado processo de construção de significações discursivas. Como exemplo, podemos tomar a
comunicação humana que, geralmente, é constituída de significantes orais, escritos e
demonstrações gestuais. Pode-se assim dizer que esta incidência é a habilidade humana em
certificar-se da perfeita interpretação da mensagem pelo interlocutor-receptor.
Com o conteúdo acima exposto, procuramos apresentar a visão de Greimas sobre as
significações e as relações que elas têm ao interagirem na formação dos significados
discursivos. Estudar Greimas não é apenas apresentar a sua visão de significações, mas
mergulhar nas suas profundas definições semântico-analíticas, propósito que deverá constituir
um novo projeto de estudos. Por enquanto, ficaremos apenas nas considerações que
apresentamos, isto porque o nosso propósito era realmente apresentar de modo sucinto a
visão de significações do autor em contraste com outras visões emanadas de autores diferentes
e que comportam pontos de vista outros.
Assim como a molécula representa um microcosmo para a água, a célula para a análise
biológica, o significado da palavra é o microcosmo em relação ao pensamento verbal, que deve
ser, por sua natureza, o macrocosmo.
Por último, Vigotsky (1998) considera que o significado é um ato desencadeado pelo
pensamento e que uma palavra sem o seu devido significado é algo vazio que quase nada, ou
nada importa como elemento de fala.
O signo para Bakhtin é um elemento de natureza ideológica. Ele chega a afirmar que
todo signo é ideológico por natureza. “Tudo que é ideológico possui um significado
e remete a algo situado fora de si mesmo, [...], tudo que é ideológico é signo. Sem
signos não existe ideologia”. (BAKHTIN, 2002, 31). Desta forma é viável dizer que o
signo é carregado de significações ideológicas. Se tomarmos as expressões sígnicas
de Hjelmslev e suas significações contextuais para construirmos um signo perfeito, inevitavelmente
chegaríamos ao signo ideológico de Bakhtin. Nenhum signo isolado possui valor em si mesmo. Todo
signo deve ser contextualizado para ganhar significação. Se um elemento sígnico não contiver em si
uma carga de pura ideologia emanada pelo contexto a que pertença, não poderá ser considerado
um signo perfeito. Assim sendo, Bakhtin (2002, p. 33) ressalta:
Todas as teorias estudadas neste trabalho possuem uma propriedade em comum: referem-
se às significações que podem emanar de todas as coisas naturais, artificiais e sobrenaturais –
signos naturais, signos não-naturais e signos artificiais. Porém, vale ressaltar que foi dada
importância maior ao signo linguístico em detrimento dos demais, tendo em vista a sua meta-
natureza, fato que o torna mais valoroso em relação a outros. Todo signo não-linguístico só pode
ser traduzido por um signo linguístico, nunca por si mesmo. Diz Lopes (2000, p. 45):
BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: HUCITEC, 2002.
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 1972.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1998.
GREIMAS, Algirdas Julien. São Paulo: Cultrix, 1973.
GUIRAUD, Pierre. A semântica. 3.ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 1980.
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975.
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 2000.
PEIRCE, Charles S. Semiótica. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.
PEIRCE, Charles S. Semiótica e Filosofia. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 30. ed. São Paulo: Cultrix. 2001.
VIGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins fontes, 1998.
WALTHER-BENSE, Elisabeth. A teoria geral dos signos. São Paulo: Perspectiva, 2000.